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Laboratório da Aprovação - Método para Concursos

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CONHEÇA O TARIK CORDEIRO 
 
Tarik Cordeiro é especialista em Concursos Públicos com mais de 6 anos de experiência. Começou a 
estudar aos 17 anos e antes dos seus 22 anos já havia sido aprovado em 4 concursos públicos federais 
utilizando-se de um método de estudos que desenvolveu com o objetivo de simplificar a preparação e 
maximizar o êxito na aprovação em Concursos Públicos. 
 
 
 
SOBRE O LABORATÓRIO DA APROVAÇÃO 
 
O Laboratório da Aprovação é um treinamento teórico/prático de 6 semanas que ensina o passo a passo 
como ser aprovado em Concursos Públicos com alta performance e até 4 vezes mais rápido que utilizando-
se dos métodos tradicionais. A metodologia adotada para o treinamento permite que o aluno obtenha 
conhecimento teórico e prático acompanhado através de vídeos que demonstram passo a passo, em 
sequência, o que o aluno deve fazer para alcançar altos níveis de memorização e altas notas em provas, 
assim, alcançando a sonhada aprovação. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
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SUMÁRIO 
Conheça o Tarik Cordeiro........................................................................................................................ 2 
Sobre o Laboratório da Aprovação .......................................................................................................... 2 
CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA FEDERATIVA DO BRASIL: PODER CONSTITUINTE ....................................... 9 
Titularidade e exercício ................................................................................................................... 9 
Poder constituinte decorrente ........................................................................................................ 9 
Poder constituinte revisionante ...................................................................................................... 9 
Poder constituinte originário ......................................................................................................... 10 
Poder constituinte derivado .......................................................................................................... 10 
Limitações impostas pelo poder constituinte originário ao poder constituinte derivado .................... 10 
Limitações formais ou procedimentais .......................................................................................... 10 
Limitações circunstanciais ............................................................................................................. 12 
Limitações temporais .................................................................................................................... 12 
Limitações materiais ..................................................................................................................... 12 
Estado federal .................................................................................................................................. 13 
Voto direto, secreto, universal e periódico ........................................................................................ 13 
Separação dos Poderes ..................................................................................................................... 13 
Direitos e garantias individuais ......................................................................................................... 13 
DOS PRINCÍPIOS FUNDAMENTAIS ......................................................................................................... 14 
Fundamentos da República ........................................................................................................... 14 
Soberania ..................................................................................................................................... 15 
Cidadania ...................................................................................................................................... 16 
Dignidade da pessoa humana ........................................................................................................ 17 
Valores sociais do trabalho e da livre iniciativa ............................................................................... 18 
Pluralismo político ........................................................................................................................ 19 
Separação dos Poderes ..................................................................................................................... 20 
Objetivos fundamentais .................................................................................................................... 21 
Construir uma sociedade livre, justa e solidária ............................................................................. 21 
Garantir o desenvolvimento nacional ............................................................................................ 22 
Erradicar a pobreza e a marginalização e reduzir as desigualdades sociais e regionais .................... 22 
Promover o bem de todos, sem preconceitos de origem, raça, sexo, cor, idade e quaisquer outras 
formas de discriminação ............................................................................................................... 22 
 
 
 
4 
 
 
Princípios de relações internacionais (artigo 4º) ................................................................................ 23 
Independência nacional ................................................................................................................ 23 
Prevalência dos direitos humanos ................................................................................................. 24 
Autodeterminação dos povos ........................................................................................................ 24 
Não-intervenção ........................................................................................................................... 24 
Igualdade entre os Estados ........................................................................................................... 24 
Defesa da paz................................................................................................................................ 25 
Solução pacífica dos conflitos ........................................................................................................ 25 
Repúdio ao terrorismo e ao racismo .............................................................................................. 26 
Cooperação entre os povos para o progresso da humanidade ......................................................... 26 
Concessão de asilo político ............................................................................................................ 26 
DOS DIREITOS E GARANTIAS FUNDAMENTAIS. ...................................................................................... 27 
DOS DIREITOS E DEVERES INDIVIDUAIS E COLETIVOS. ........................................................................ 28 
Brasileiros e estrangeiros .............................................................................................................. 28 
Relação direitos-deveres ............................................................................................................... 28 
Direitos e garantias ....................................................................................................................... 29 
Direitos e garantias em espécie ..................................................................................................... 29 
Direito à igualdadeAbrangência .................................................................................................... 30 
Ações afirmativas .......................................................................................................................... 31 
Direito à vida Abrangência ............................................................................................................ 31 
Vedação à tortura ......................................................................................................................... 32 
Direito à liberdade ........................................................................................................................ 33 
Liberdade e legalidade .................................................................................................................. 34 
Liberdade de pensamento e de expressão ..................................................................................... 34 
Liberdade de crença/religiosa ....................................................................................................... 35 
Liberdade de informação .............................................................................................................. 36 
Liberdade de locomoção ............................................................................................................... 38 
Liberdade de trabalho ................................................................................................................... 39 
Liberdade de reunião .................................................................................................................... 39 
Liberdade de associação ............................................................................................................... 40 
Direitos à privacidade e à personalidade ............................................................................................... 41 
Inviolabilidade de domicílio e sigilo de correspondência ................................................................ 42 
Personalidade jurídica e gratuidade de registro ............................................................................. 42 
 
 
 
5 
 
 
Direito à indenização e direito de resposta .................................................................................... 43 
Direito à segurança ....................................................................................................................... 44 
Direito à propriedade .................................................................................................................... 45 
Uso temporário............................................................................................................................. 46 
Direito sucessório ......................................................................................................................... 46 
Direito do consumidor .................................................................................................................. 46 
Propriedade intelectual ................................................................................................................. 47 
Direitos de acesso à justiça ........................................................................................................... 48 
Direitos constitucionais-penais ............................................................................................................. 50 
Juiz natural e vedação ao juízo ou tribunal de exceção .................................................................. 50 
Tribunal do júri ................................................................................................................................. 51 
Anterioridade e irretroatividade da lei .............................................................................................. 52 
Menções específicas a crimes ........................................................................................................ 52 
Individualização da pena ............................................................................................................... 54 
Vedação de determinadas penas ................................................................................................... 55 
Respeito à integridade do preso .................................................................................................... 56 
Devido processo legal, contraditório e ampla defesa ..................................................................... 57 
Vedação de provas ilícitas ............................................................................................................. 57 
Presunção de inocência................................................................................................................. 58 
Ação penal privada subsidiária da pública ..................................................................................... 58 
Prisão e liberdade ............................................................................................................................. 58 
Indenização por erro judiciário ...................................................................................................... 59 
Direitos fundamentais implícitos ................................................................................................... 60 
Tratados internacionais de direitos humanos ................................................................................ 60 
Tribunal Penal Internacional .............................................................................................................. 62 
Remédios constitucionais .............................................................................................................. 62 
Habeas corpus .............................................................................................................................. 62 
Habeas data .................................................................................................................................. 64 
Mandado de segurança individual ................................................................................................. 64 
Mandado de segurança coletivo .................................................................................................... 65 
Mandado de injunção ................................................................................................................... 67 
Ação popular ................................................................................................................................ 68 
DA NACIONALIDADE ............................................................................................................................. 68 
 
 
 
6 
 
 
Nacionalidade como direito humano fundamental ........................................................................ 69 
Naturalidade e naturalização......................................................................................................... 70 
Brasileiros natos ........................................................................................................................... 70 
natos ............................................................................................................................................ 70 
Brasileiros naturalizados ............................................................................................................... 71 
Tratamento diferenciado .............................................................................................................. 72 
Quase-nacionalidade: caso dos portugueses.................................................................................. 73 
Perda da nacionalidade .................................................................................................................73 
Deportação, expulsão e entrega .................................................................................................... 74 
Extradição ..................................................................................................................................... 75 
Idioma e símbolos ......................................................................................................................... 80 
DOS DIREITOS POLÍTICOS. ..................................................................................................................... 81 
Sufrágio universal ......................................................................................................................... 81 
Democracia direta e indireta ......................................................................................................... 81 
Obrigatoriedade do alistamento eleitoral e do voto ...................................................................... 82 
Elegibilidade ..................................................................................................................................... 83 
Inelegibilidade .................................................................................................................................. 84 
Impugnação de mandato .................................................................................................................. 94 
Perda e suspensão de direitos políticos ......................................................................................... 95 
Anterioridade anual da lei eleitoral ............................................................................................... 96 
DA ORGANIZAÇÃO DO ESTADO. ............................................................................................................ 96 
DA ORGANIZAÇÃO POLÍTICOADMINISTRATIVA. .................................................................................. 96 
DA UNIÃO ......................................................................................................................................... 98 
Repartição de competências e bens. ............................................................................................. 98 
Competência organizacional-administrativa exclusiva da União ................................................... 101 
Competência legislativa privativa da União .................................................................................. 105 
Competência organizacional-administrativa compartilhada ......................................................... 106 
Competência legislativa compartilhada ....................................................................................... 107 
DOS ESTADOS FEDERADOS. ............................................................................................................. 109 
Limitações e regras mínimas aplicáveis à competência organizacional-administrativa autônoma dos 
Estados-membros ....................................................................................................................... 109 
DO DISTRITO FEDERAL E DOS TERRITÓRIOS. .................................................................................... 111 
Peculiaridades da competência organizacional-administrativa do Distrito Federal e Territórios ... 111 
DA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA......................................................................................................... 113 
 
 
 
7 
 
 
DISPOSIÇÕES GERAIS................................................................................................................... 113 
Regras mínimas sobre direitos e deveres dos servidores .............................................................. 117 
Atos de improbidade administrativa ............................................................................................ 130 
Responsabilidade civil do Estado e de seus servidores ................................................................. 134 
Exercício de mandato eletivo por servidores públicos .................................................................. 138 
DOS SERVIDORES PÚBLICOS. ............................................................................................................... 139 
Regime de remuneração e previdência dos servidores públicos....................................................... 139 
Estágio probatório e perda do cargo ............................................................................................... 144 
DOS MILITARES DOS ESTADOS, DO DISTRITO FEDERAL E DOS TERRITÓRIOS. ..................................... 147 
DA SEGURANÇA PÚBLICA. ............................................................................................................... 147 
CONSTITUIÇÃO DO ESTADO DA BAHIA ................................................................................................ 150 
DOS SERVIDORES PÚBLICOS MILITARES ........................................................................................... 150 
SEÇÃO VII DOS SERVIDORES PÚBLICOS MILITARES ....................................................................... 150 
DA ORGANIZAÇÃO DOS PODERES. ...................................................................................................... 153 
DO PODER LEGISLATIVO. DA ASSEMBLEIA LEGISLATIVA. DAS COMPETÊNCIAS DA ASSEMBLEIA 
LEGISLATIVA. .................................................................................................................................. 153 
TÍTULO IV DA ORGANIZAÇÃO DOS PODERES CAPÍTULO I DO PODER LEGISLATIVO SEÇÃO I DA 
ASSEMBLEIA LEGISLATIVA ........................................................................................................... 153 
SEÇÃO II DAS COMPETÊNCIAS DA ASSEMBLÉIA ............................................................................... 155 
LEGISLATIVA ............................................................................................................................... 155 
DO PODER EXECUTIVO. DAS DISPOSIÇÕES GERAIS. DAS ATRIBUIÇÕES DO GOVERNADOR DO ESTADO
....................................................................................................................................................... 159 
PODER EXECUTIVO SEÇÃO I DAS DISPOSIÇÕES GERAIS ................................................................ 159 
DO PODER JUDICIÁRIO. DAS DISPOSIÇÕES GERAIS. DA JUSTIÇA MILITAR. ............................................. 163 
CAPÍTULO III DO PODER JUDICIÁRIO SEÇÃO I DAS DISPOSIÇÕES GERAIS .......................................... 163 
DA JUSTIÇA MILITAR ....................................................................................................................... 167 
DO MINISTÉRIO PÚBLICO ................................................................................................................ 168 
DAS FUNÇÕES ESSENCIAIS À JUSTIÇA E DA SEGURANÇA PÚBLICA ................................................ 168 
preceitos:.................................................................................................................................... 169 
AS PROCURADORIAS ........................................................................................................................... 173 
SEÇÃO II DAS PROCURADORIAS ................................................................................................... 173 
DA DEFENSORIA PÚBLICA................................................................................................................ 174 
SEÇÃO III DA DEFENSORIA PÚBLICA ............................................................................................. 174 
DA SEGURANÇA PÚBLICA. ............................................................................................................... 1758 
 
 
defesa civil;..................................................................................................................................... 177 
EXERCÍCIOS ........................................................................................................................................ 177 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
9 
 
 
 
CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA FEDERATIVA DO BRASIL: PODER CONSTITUINTE 
 
TITULARIDADE E EXERCÍCIO 
A Constituição Federal, em seu artigo 1º, parágrafo único, estabelece que “todo o poder emana do 
povo, que o exerce por meio de representantes eleitos ou diretamente, nos termos desta Constituição”. 
Sendo assim, o texto constitucional já fala desde logo de um poder maior, exercido pelo povo (titular) por 
meio de seus representantes (exercentes). O exercente do poder é um órgão colegiado composto por 
representantes eleitos pelos titulares do poder, os que fazem parte do povo. 
O poder constituinte é o poder de normatizar a estrutura do Estado e os limites à sua atuação 
mediante criação, modificação, revisão ou revogação de normas da Constituição Federal conferido pelo 
povo aos seus representantes. 
PODER CONSTITUINTE DECORRENTE 
Ainda é possível falar no poder constituinte decorrente, que consiste no poder dos Estados-membros 
elaborarem sua própria Constituição por suas Assembleias Legislativas (artigo 25, CF). Para parte da 
doutrina, há poder constituinte decorrente também quanto aos municípios, que a partir da Constituição 
de 1988 adquiriram poder para elaborar suas próprias leis orgânicas (artigo 29, CF), o que antes era feito 
no âmbito estadual. A lei orgânica do Distrito Federal é a única que, sem dúvidas, tem caráter de 
Constituição, pois aceita o controle de constitucionalidade em face dela. 
PODER CONSTITUINTE REVISIONANTE 
Tem-se, ainda, o poder constituinte revisionante, previsto no artigo 3º do Ato das Disposições 
Constitucionais Transitórias: “a revisão constitucional será realizada após cinco anos, contados da 
promulgação da Constituição, pelo voto da maioria absoluta dos membros do Congresso Nacional, em 
sessão unicameral”. 
Neste sentido, foram aprovadas 6 emendas constitucionais de revisão anômala. O destaque vai para 
o fato de não se exigir nestas emendas revisionantes o quórum de 3/5 + 2 turnos das emendas 
constitucionais comuns, bastando o voto da maioria absoluta numa única sessão. 
 
 
 
 
10 
 
 
PODER CONSTITUINTE ORIGINÁRIO 
O poder constituinte originário, também conhecido como genuíno ou de primeiro grau, autoriza a 
edição da Constituição Federal, a primeira depois da independência e as demais ab-rogando-a. Depois 
de finda esta missão, institui outro poder, dele derivado. 
O poder constituinte originário é inicial, autônomo e incondicionado. É inicial porque é o poder de 
fato, que emana do povo e por si só se funda, não decorrendo de outro poder. É autônomo e 
incondicionado porque não tem limites materiais de exercício, notadamente cláusulas pétreas, daí se 
dizer que é soberano. Não significa que seja ilimitado, pois certas limitações se impõem por um 
limitativo lógico, de acordo com uma perspectiva jusnaturalista de direitos inatos ao homem. 
PODER CONSTITUINTE DERIVADO 
O poder constituinte derivado, também denominado instituído ou de 2º grau, é o que está apto a 
efetuar reformas à Constituição. Ele é exercido pelo Congresso Nacional, na forma e nos limites 
estabelecidos pelo poder constituinte originário. 
O poder constituinte derivado é derivado, subordinado e condicionado. Por derivar do poder 
constituinte originário, se sujeita a limitações por ele impostas, denominadas limitações ao poder de 
reforma. Sendo assim, este poder poderá reformar a redação constitucional conferida pelo poder 
constituinte originário, mas dentro dos limites por este estabelecidos. 
Por isso mesmo, é possível que uma emenda constitucional fruto do poder constituinte decorrente 
seja inconstitucional, desde que desrespeite os limites impostos pelo poder constituinte originário. É 
correta a afirmação de que existe norma constitucional inconstitucional, mas desde que se refira a 
norma constitucional fruto do poder constituinte derivado. Não existe norma originária da Constituição 
Federal que seja inconstitucional porque o poder constituinte originário é inicial e autônomo. 
 
LIMITAÇÕES IMPOSTAS PELO PODER CONSTITUINTE ORIGINÁRIO AO PODER 
CONSTITUINTE DERIVADO 
LIMITAÇÕES FORMAIS OU PROCEDIMENTAIS 
Quando o poder constituinte originário delibera, não há procedimento pré-estabelecido. Isto não 
ocorre com relação ao poder constituinte derivado, que deve respeitar as normas procedimentais 
instituídas pelo poder constituinte originário. 
 
 
 
11 
 
 
SUBJETIVAS – QUANTO À INICIATIVA 
Refere-se ao poder de iniciativa individual de propor leis ou alterações nelas, sendo conferido a: 
Presidente da República, Deputado Federal, Senador, Deputado Estadual. Exceto no caso do Senador, 
as propostas serão enviadas à Câmara dos Deputados, não ao Senado Federal. Sendo assim, a Câmara 
dos Deputados faz a deliberação principal, em regra, restando ao Senado a deliberação revisional. 
Contudo, para as propostas de emendas constitucionais é exigida, em regra, iniciativa coletiva. O 
único que pode fazer uma proposta desta natureza sozinho é o Presidente da República. Um deputado 
federal precisa do apoio de ao menos 1/3 dos membros da Câmara dos Deputados, enquanto que um 
senador precisa do suporte de ao menos 1/3 dos membros do Senado Federal. Da mesma forma, um 
deputado estadual não pode propor sozinho uma emenda, poder conferido às Assembleias Legislativas 
estaduais, em conjunto, exigindo-se mais da metade delas (são 27, incluído o Distrito Federal, 
necessárias 14). 
O cidadão brasileiro, sozinho, não pode propor um projeto de lei para alterar o ordenamento jurídico 
brasileiro, prevendo-se que “a iniciativa popular pode ser exercida pela apresentação à Câmara dos 
Deputados de projeto de lei subscrito por, no mínimo, um por cento do eleitorado nacional, distribuído 
pelo menos por cinco Estados, com não menos de três décimos por cento dos eleitores de cada um deles” 
(artigo 61, §2º, CF). 
A dúvida resta ao se perguntar se a iniciativa popu lar abrange a possibilidade de se apresentar 
proposta de emenda constitucional, havendo duas posições: a primeira, minoritária, diz que porque a 
regra da iniciativa está num parágrafo ela não poderia ter alcance maior que o caput do artigo, logo, o 
alcance é restrito à propostas de projetos de lei; a segunda, majoritária, com a qual se concorda, prevê 
que sim, afinal, o parágrafo único do artigo 1º da CF diz que todo poder emana do povo (inclusive o 
constituinte) e o artigo 14 da CF ao trazer a iniciativa popular não estabelece qualquer limitação. 
OBJETIVAS – QUANTO À VOTAÇÃO E À PROMULGAÇÃO 
Toda proposta de emenda constitucional, antes de ser votada no plenário, passa primeiro pela 
Comissão de Constituição e Justiça e, depois, por comissões específicas do tema. 
No plenário, é necessário obter aprovação de 3/5 dos membros (308 votos na Câmara dos Deputados 
e 49 votos no Senado Federal), em votação em dois turnos (vota na casa numa semana e repete a votação 
na semana seguinte), nas duas Casas (primeiro vota em 2 turnos na que faz a deliberação principal e 
depois em 2 turnos na que faz a deliberação revisional) (artigo 60, §2º). 
 
 
 
12 
 
 
Depois, “a emenda à Constituição será promulgada pelas Mesas da Câmara dos Deputados e do 
Senado Federal, com o respectivo número de ordem” (artigo 60, §3º, CF). Não é o Presidente da Repúblicaque promulga, logo, não sanciona nem veta, a emenda constitucional porque o poder constituinte é 
exclusivo do Congresso Nacional. 
LIMITAÇÕES CIRCUNSTANCIAIS 
Nos termos do artigo 60, §1º, CF, “a Constituição não poderá ser emendada na vigência de 
intervenção federal, de estado de defesa ou de estado de sítio”. Presentes estas circunstâncias que 
indicam instabilidade no cenário nacional, não é possível emendar a constituição. 
LIMITAÇÕES TEMPORAIS 
Limitação temporal é aquela que impede que a decisão sobre a reforma seja tomada num 
determinado período de tempo. Não existe na Constituição Federal de 1988 uma limitação puramente 
temporal. No entanto, há uma limitação de ordem temporal-material prevista no §5º do artigo 60 da CF: 
“a matéria constante de proposta de emenda rejeitada ou havida por prejudicada não pode ser objeto 
de nova proposta na mesma sessão legislativa”. Logo, impede-se a deliberação de uma matéria já votada 
na mesma sessão legislativa e rejeitada, isto é, no mesmo ano civil. O mesmo vale se a proposta foi havida 
por prejudicada, ou seja, se era semelhante a uma proposta feita anteriormente e que foi rejeitada. A 
rejeição na Comissão de Constituição e Justiça é terminativa e a proposta é considerada rejeitada, somente 
podendo ser votada de novo no período seguinte. 
LIMITAÇÕES MATERIAIS 
Determinadas matérias não podem ser objeto de emenda constitucional, dividindo-se em 
limitações materiais implícitas, que decorrem da lógica do sistema constitucional, e limitações 
materiais explícitas, conhecidas como cláusulas pétreas, previstas no artigo 60, §4º, CF. 
Classicamente, são limitações materiais implícitas: a titularidade do poder constituinte (povo), o 
exercente do poder de reforma (Congresso Nacional), o procedimento para aprovação da emenda 
constitucional, afinal, estaria alterando a essência do poder constituinte e a principal limitação 
procedimental que é o quórum especial de aprovação. Se incluem nas limitações materiais implícitas a 
forma de governo (República) e o regime de governo (Presidencialismo), eis que a questão foi votada 
em plebiscito no ano de 1993. 
Quanto às limitações materiais expressas na forma de cláusulas pétreas, prevê o artigo 60, § 4º, 
CF, “não será objeto de deliberação a proposta de emenda tendente a abolir: I – a forma federativa de 
 
 
 
13 
 
 
Estado; II – o voto direto, secreto, universal e periódico; III – a separação dos Poderes; IV – os direitos e 
garantias individuais”. 
Primeiro, atenta-se à redação do caput: propostas que tenham por objeto as cláusulas pétreas não 
poderão nem ser deliberadas, nem ser levadas à votação; e a contrariedade à cláusula pétrea não 
precisa ser expressa e evidente, bastando que a proposta tenha a tendência à abolição, atingindo 
qualquer elemento essencial ao conceito da cláusula. Por exemplo, não precisa excluir a separação dos 
Poderes, mas atingir seriamente a divisão de competências. 
ESTADO FEDERAL 
O modelo federativo de Estado é inalterável. Ou seja, é preciso respeitar a autonomia de cada uma 
das unidades federativas, quais sejam, segundo a Constituição Federal, União, Estados-membros, 
Distrito Federal e Municípios (considerado federalismo atípico pela inclusão dos Municípios no pacto 
federativo). 
VOTO DIRETO, SECRETO, UNIVERSAL E PERIÓDICO 
O voto deve ser direto, cada um deve dar seu próprio voto, não será um órgão que elegerá o 
governante; secreto, sigiloso, dado em cabine indevassável alheia a quaisquer capacidades sensoriais; 
universal, neste sentido, sufrágio universal significa que a capacidade eleitoral ativa, de votar, é 
acessível a todos os nacionais; periódico, impedindo que um mandato governamental seja vitalício 
(todos os agentes políticos são investidos por 4 anos, à exceção dos Senadores, eleitos por 8 anos). 
Obs.: o voto obrigatório não é cláusula pétrea e pode ser objeto de emenda constitucional. 
Nota-se que parte dos direitos políticos (capítulo IV do Título II) é cláusula pétrea em razão desta 
disposição. 
SEPARAÇÃO DOS PODERES 
A divisão entre Poder Executivo, Legislativo e Judiciário, cada qual com suas funções típicas e atípicas, 
idealizada no Iluminismo, notadamente na obra de Montesquieu, é cláusula pétrea e não pode ser 
alterada. Não é necessário que a proposta extinga um dos Poderes, bastando que atinja de forma 
relevante em suas competências. 
DIREITOS E GARANTIAS INDIVIDUAIS 
O Título II da Constituição Federal abrange os direitos e garantias fundamentais, expressão que 
abrange os direitos delimitados em seus capítulos, direitos e deveres individuais e coletivos (capítulo I), 
 
 
 
14 
 
 
direitos sociais (capítulo II), e direitos políticos – que só existem com nacionalidade (capítulos III e IV). 
Sendo assim, direitos fundamentais é uma expressão que abrange diversas naturezas de direitos, entre 
eles os direitos individuais. Conclui-se que não é o Título II por completo protegido pela cláusula pétrea, 
mas apenas o Capítulo I. 
Se o Capítulo I fala em direitos individuais e coletivos, não significa que somente parte deles será 
protegida. Com mais razão, se um direito individual é protegido, o coletivo deve ser. Ex.: O mandado de 
segurança individual é cláusula pétrea e, com mais sentido, o mandado de segurança coletivo também é. 
Então, a cláusula pétrea abrange exclusivamente o capítulo I do Título II, ou seja, todo o artigo 5º da 
Constituição Federal. Atenção: a vedação é da alteração dos dispositivos e da restrição de direitos, nada 
impedindo que a proteção seja ampliada. Logo, emenda constitucional pode criar novo direito individual 
(aliás, já o fez, a Emenda Constitucional nº 45/2004 incluiu no artigo 5º o inciso LXXVIII e os parágrafos 3º 
e 4º). 
Considerado este raciocínio, seria possível alterar o capítulo II, que trata dos direitos sociais, 
diminuindo estes direitos. Para a corrente que se atém a esta posição, é natural conferir maior 
flexibilidade aos diretos sociais porque situações sociais mudam, notadamente no campo do direito 
trabalhista. Para outra corrente, é preciso preservar a proibição do retrocesso, não voltando o cenário 
protetivo a um estágio anterior. 
 
DOS PRINCÍPIOS FUNDAMENTAIS 
 
FUNDAMENTOS DA REPÚBLICA 
O título I da Constituição Federal trata dos princípios fundamentais do Estado brasileiro e começa, 
em seu artigo 1º, trabalhando com os fundamentos da República Federativa brasileira, ou seja, com as 
bases estruturantes do Estado nacional. 
Neste sentido, disciplina: 
Art. 1º A República Federativa do Brasil, formada pela união indissolúvel dos Estados e Municípios e do 
Distrito Federal, constitui-se em Estado Democrático de Direito e tem como fundamentos: 
I. a soberania; 
 
 
 
15 
 
 
II. a cidadania; 
III. a dignidade da pessoa humana; 
IV. os valores sociais do trabalho e da livre iniciativa; 
V. o pluralismo político. 
Parágrafo único. Todo o poder emana do povo, que o exerce por meio de representantes eleitos ou 
diretamente, nos termos desta Constituição. 
Vale estudar o significado e a abrangência de cada qual destes fundamentos. 
SOBERANIA 
Soberania significa o poder supremo que cada nação possui de se autogovernar e se 
autodeterminar. Este conceito surgiu no Estado Moderno, com a ascensão do absolutismo, colocando 
o reina posição de soberano. Sendo assim, poderia governar como bem entendesse, pois seu poder era 
exclusivo, inabalável, ilimitado, atemporal e divino, ou seja, absoluto. 
Neste sentido, Thomas Hobbes1, na obra Leviatã, defende que quando os homens abrem mão do 
estado natural, deixa de predominar a lei do mais forte, mas para a consolidação deste tipo de 
sociedade é necessária a presença de uma autoridade à qual todosos membros devem render o 
suficiente da sua liberdade natural, permitindo que esta autoridade possa assegurar a paz interna e a 
defesa comum. Este soberano, que à época da escrita da obra de Hobbes se consolidava no monarca, 
deveria ser o Leviatã, uma autoridade inquestionável. 
No mesmo direcionamento se encontra a obra de Maquiavel, que rejeitou a concepção de um 
soberano que deveria ser justo e ético para com o seu povo, desde que sempre tivesse em vista a 
finalidade primordial de manter o Estado íntegro: “na conduta dos homens, especialmente dos 
príncipes, contra a qual não há recurso, os fins justificam os meios. Portanto, se um príncipe pretende 
conquistar e manter o poder, os meios que empregue serão sempre tidos como honrosos, e elogiados 
por todos, pois o vulgo atenta sempre para as aparências e os resultados”. A concepção de soberania 
inerente ao monarca se quebrou numa fase posterior, notadamente com a ascensão do ideário 
iluminista. Com efeito, passou-se a enxergar a soberania como um poder que repousa no povo. Logo, 
a autoridade absoluta da qual emana o poder é o povo e a legitimidade do exercício do poder no Estado 
emana deste povo. 
Com efeito, no Estado Democrático se garante a soberania popular, que pode ser conceituada como 
“a qualidade máxima do poder extraída da soma dos atributos de cada membro da sociedade estatal, 
 
 
 
16 
 
 
encarregado de escolher os seus representantes no governo por meio do sufrágio universal e do voto 
direto, secreto e igualitário”. 
Neste sentido, liga-se diretamente ao parágrafo único do artigo 1º, CF, que prevê que “todo o poder 
emana do povo, que o exerce por meio de representantes eleitos ou diretamente, nos termos desta 
Constituição”. O povo é soberano em suas decisões e as autoridades eleitas que decidem em nome dele, 
representando-o, devem estar devidamente legitimadas para tanto, o que acontece pelo exercício do 
sufrágio universal. 
Por seu turno, a soberania nacional é princípio geral da atividade econômica (artigo 170, I, CF), 
restando demonstrado que não somente é guia da atuação política do Estado, mas também de sua 
atuação econômica. Neste sentido, deve-se preservar e incentivar a indústria e a economia nacionais. 
CIDADANIA 
Quando se afirma no caput do artigo 1º que a República Federativa do Brasil é um Estado 
Democrático de Direito, remete-se à ideia de que o Brasil adota a democracia como regime político. 
Historicamente, nota-se que por volta de 800 a.C. as comunidades de aldeias começaram a ceder 
lugar para unidades políticas maiores, surgindo as chamadas cidades-estado ou polis, como Tebas, Esparta 
e Atenas. Inicialmente eram monarquias, transformaram-se em oligarquias e, por volta dos séculos V e VI 
a.C., tornaram-se democracias. Com efeito, as origens da chamada democracia se encontram na Grécia 
antiga, sendo permitida a participação direta daqueles poucos que eram considerados cidadãos, por meio 
da discussão na polis. 
Democracia (do grego, demo+kratos) é um regime político em que o poder de tomar decisões políticas 
está com os cidadãos, de forma direta (quando um cidadão se reúne com os demais e, juntos, eles tomam 
a decisão política) ou indireta (quando ao cidadão é dado o poder de eleger um representante). 
Portanto, o conceito de democracia está diretamente ligado ao de cidadania, notadamente porque 
apenas quem possui cidadania está apto a participar das decisões políticas a serem tomadas pelo Estado. 
Cidadão é o nacional, isto é, aquele que possui o vínculo político-jurídico da nacionalidade com o 
Estado, que goza de direitos políticos, ou seja, que pode votar e ser votado (sufrágio universal). 
Destacam-se os seguintes conceitos correlatos: 
 
 
 
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a) Nacionalidade: é o vínculo jurídico-político que liga um indivíduo a determinado Estado, fazendo 
com que ele passe a integrar o povo daquele Estado, desfrutando assim de direitos e obrigações. 
b) Povo: conjunto de pessoas que compõem o Estado, unidas pelo vínculo da nacionalidade. 
c) População: conjunto de pessoas residentes no Estado, nacionais ou não. 
Depreende-se que a cidadania é um atributo conferido aos nacionais titulares de direitos políticos, 
permitindo a consolidação do sistema democrático. 
DIGNIDADE DA PESSOA HUMANA 
A dignidade da pessoa humana é o valor-base de interpretação de qualquer sistema jurídico, 
internacional ou nacional, que possa se considerar compatível com os valores éticos, notadamente da 
moral, da justiça e da democracia. 
Pensar em dignidade da pessoa humana significa, acima de tudo, colocar a pessoa humana como 
centro e norte para qualquer processo de interpretação jurídico, seja na elaboração da norma, seja na 
sua aplicação. 
Sem pretender estabelecer uma definição fechada ou plena, é possível conceituar dignidade da 
pessoa humana como o principal valor do ordenamento ético e, por consequência, jurídico que 
pretende colocar a pessoa humana como um sujeito pleno de direitos e obrigações na ordem 
internacional e nacional, cujo desrespeito acarreta a própria exclusão de sua personalidade. 
Aponta Barroso: “o princípio da dignidade da pessoa humana identifica um espaço de integridade 
moral a ser assegurado a todas as pessoas por sua só existência no mundo. É um respeito à criação, 
independente da crença que se professe quanto à sua origem. A dignidade relaciona-se tanto com a 
liberdade e valores do espírito como com as condições materiais de subsistência”. 
O Ministro Alberto Luiz Bresciani de Fontan Pereira, do Tribunal Superior do Trabalho, trouxe 
interessante conceito numa das decisões que relatou: “a dignidade consiste na percepção intrínseca 
de cada ser humano a respeito dos direitos e obrigações, de modo a assegurar, sob o foco de condições 
existenciais mínimas, a participação saudável e ativa nos destinos escolhidos, sem que isso importe 
destilação dos valores soberanos da democracia e das liberdades individuais. O processo de valorização 
do indivíduo articula a promoção de escolhas, posturas e sonhos, sem olvidar que o espectro de 
abrangência das liberdades individuais encontra limitação em outros direitos fundamentais, tais como 
a honra, a vida privada, a intimidade, a imagem. Sobreleva registrar que essas garantias, associadas ao 
 
 
 
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princípio da dignidade da pessoa humana, subsistem como conquista da humanidade, razão pela qual 
auferiram proteção especial consistente em indenização por dano moral decorrente de sua violação”. 
Para Reale, a evolução histórica demonstra o domínio de um valor sobre o outro, ou seja, a 
existência de uma ordem gradativa entre os valores; mas existem os valores fundamentais e os 
secundários, sendo que o valor fonte é o da pessoa humana. Nesse sentido, são os dizeres de Reale: 
“partimos dessa ideia, a nosso ver básica, de que a pessoa humana é o valor-fonte de todos os valores. 
O homem, como ser natural biopsíquico, é apenas um indivíduo entre outros indivíduos, um ente 
animal entre os demais da mesma espécie. O homem, considerado na sua objetividade espiritual, 
enquanto ser que só realiza no sentido de seu dever ser, é o que chamamos de pessoa. Só o homem 
possui a dignidade originária de ser enquanto deve ser, pondo-se essencialmente como razão 
determinante do processo histórico”. 
Quando a Constituição Federal assegura a dignidade da pessoa humana como um dos fundamentos 
da República, faz emergir uma nova concepção de proteção de cada membro do seu povo. Tal ideologia 
de forte fulcro humanista guia a afirmação de todos os direitos fundamentais e confere a eles posição 
hierárquica superior às normas organizacionais do Estado, de modo que é o Estado que está para o povo, 
devendo garantir a dignidade de seus membros,e não o inverso. 
VALORES SOCIAIS DO TRABALHO E DA LIVRE INICIATIVA 
Quando o constituinte coloca os valores sociais do trabalho em paridade com a livre iniciativa fica clara 
a percepção de necessário equilíbrio entre estas duas concepções. De um lado, é necessário garantir 
direitos aos trabalhadores, notadamente consolidados nos direitos sociais enumerados no artigo 7º da 
Constituição; por outro lado, estes direitos não devem ser óbice ao exercício da livre iniciativa, mas sim 
vetores que reforcem o exercício desta liberdade dentro dos limites da justiça social, evitando o 
predomínio do mais forte sobre o mais fraco. 
Por livre iniciativa entenda-se a liberdade de iniciar a exploração de atividades econômicas no 
território brasileiro, coibindo-se práticas de truste (ex.: monopólio). O constituinte não tem a intenção 
de impedir a livre iniciativa, até mesmo porque o Estado nacional necessita dela para crescer 
economicamente e adequar sua estrutura ao atendimento crescente das necessidades de todos os que 
nele vivem. Sem crescimento econômico, nem ao menos é possível garantir os direitos econômicos, 
sociais e culturais afirmados na Constituição Federal como direitos fundamentais. 
No entanto, a exploração da livre iniciativa deve se dar de maneira racional, tendo em vista os direitos 
inerentes aos trabalhadores, no que se consolida a expressão “valores sociais do trabalho”. A pessoa que 
 
 
 
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trabalha para aquele que explora a livre iniciativa deve ter a sua dignidade respeitada em todas as suas 
dimensões, não somente no que tange aos direitos sociais, mas em relação a todos os direitos 
fundamentais afirmados pelo constituinte. 
A questão resta melhor delimitada no título VI do texto constitucional, que aborda a ordem 
econômica e financeira: “Art. 170. A ordem econômica, fundada na valorização do trabalho humano e 
na livre iniciativa, tem por fim assegurar a todos existência digna, conforme os ditames da justiça social, 
observados os seguintes princípios [...]”. Nota-se no caput a repetição do fundamento republicano dos 
valores sociais do trabalho e da livre iniciativa. 
Por sua vez, são princípios instrumentais para a efetivação deste fundamento, conforme previsão do 
artigo 1º e do artigo 170, ambos da Constituição, o princípio da livre concorrência (artigo 170, IV, CF), o 
princípio da busca do pleno emprego (artigo 170, VIII, CF) e o princípio do tratamento favorecido para as 
empresas de pequeno porte constituídas sob as leis brasileiras e que tenham sua sede e administração 
no País (artigo 170, IX, CF). Ainda, assegurando a livre iniciativa no exercício de atividades econômicas, o 
parágrafo único do artigo 170 prevê: “é assegurado a todos o livre exercício de qualquer atividade 
econômica, independentemente de autorização de órgãos públicos, salvo nos casos previstos em lei”. 
PLURALISMO POLÍTICO 
A expressão pluralismo remete ao reconhecimento da multiplicidade de ideologias culturais, 
religiosas, econômicas e sociais no âmbito de uma nação. Quando se fala em pluralismo político, 
afirma-se que mais do que incorporar esta multiplicidade de ideologias cabe ao Estado nacional 
fornecer espaço para a manifestação política delas. 
Sendo assim, pluralismo político significa não só respeitar a multiplicidade de opiniões e ideias, 
mas acima de tudo garantir a existência dela, permitindo que os vários grupos que compõem os mais 
diversos setores sociais possam se fazer ouvir mediante a liberdade de expressão, manifestação e 
opinião, bem como possam exigir do Estado substrato para se fazerem subsistir na sociedade. 
Pluralismo político vai além do pluripartidarismo ou multipartidarismo, que é apenas uma de suas 
consequências e garante que mesmo os partidos menores e com poucos representantes sejam ouvidos 
na tomada de decisões políticas, porque abrange uma verdadeira concepção de multiculturalidade no 
âmbito interno. 
 
 
 
 
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SEPARAÇÃO DOS PODERES 
A separação de Poderes é inerente ao modelo do Estado Democrático de Direito, impedindo a 
monopolização do poder e, por conseguinte, a tirania e a opressão. Resta garantida no artigo 2º da 
Constituição Federal com o seguinte teor: 
Art. 2º São Poderes da União, independentes e harmônicos entre si, o Legislativo, o Executivo e o 
Judiciário. 
A separação de Poderes é inerente ao modelo do Estado Democrático de Direito, impedindo a 
monopolização do poder e, por conseguinte, a tirania e a opressão. Resta garantida no artigo 2º da 
Constituição Federal com o seguinte teor: “Art. 2º São Poderes da União, independentes e harmônicos 
entre si, o Legislativo, o Executivo e o Judiciário”. Se, por um lado, o Estado é uno, até mesmo por se 
legitimar na soberania popular; por outro lado, é necessária a divisão de funções das atividades estatais 
de maneira equilibrada, o que se faz pela divisão de Poderes. 
O constituinte afirma que estes poderes são independentes e harmônicos entre si. Independência 
significa que cada qual possui poder para se autogerir, notadamente pela capacidade de organização 
estrutural (criação de cargos e subdivisões) e orçamentária (divisão de seus recursos conforme 
legislação por eles mesmos elaborada). Harmonia significa que cada Poder deve respeitar os limites de 
competência do outro e não se imiscuir indevidamente em suas atividades típicas. 
A noção de separação de Poderes começou a tomar forma com o ideário iluminista. Neste viés, o 
Iluminismo lançou base para os dois principais eventos que ocorreram no início da Idade 
Contemporânea, quais sejam as Revoluções Francesa e Industrial. Entre os pensadores que lançaram 
as ideias que vieram a ser utilizadas no ideário das Revoluções Francesa e Americana se destacam 
Locke, Montesquieu e Rousseau, sendo que Montesquieu foi o que mais trabalhou com a concepção 
de separação dos Poderes. 
Montesquieu (1689 – 1755) avançou nos estudos de Locke, que também entendia necessária a 
separação dos Poderes, e na obra O Espírito das Leis estabeleceu em definitivo a clássica divisão de 
poderes: Executivo, Legislativo e Judiciário. O pensador viveu na França, numa época em que o 
absolutismo estava cada vez mais forte. 
O objeto central da principal obra de Montesquieu não é a lei regida nas relações entre os homens, 
mas as leis e instituições criadas pelos homens para reger as relações entre os homens. Segundo 
 
 
 
21 
 
 
Montesquieu, as leis criam costumes que regem o comportamento humano, sendo influenciadas por 
diversos fatores, não apenas pela razão. 
Quanto à fonte do poder, diferencia-se, segundo Montesquieu, do modo como se dará o seu exercício, 
uma vez que o poder emana do povo, apto a escolher mas inapto a governar, sendo necessário que seu 
interesse seja representado conforme sua vontade. 
Montesquieu estabeleceu como condição do Estado de Direito a separação dos Poderes em 
Legislativo, Judiciário e Executivo – que devem se equilibrar –, servindo o primeiro para a elaboração, a 
correção e a ab-rogação de leis, o segundo para a promoção da paz e da guerra e a garantia de segurança, 
e o terceiro para julgar (mesmo os próprios Poderes). 
Ao modelo de repartição do exercício de poder por intermédio de órgãos ou funções distintas e 
independentes de forma que um desses não possa agir sozinho sem ser limitado pelos outros confere-se 
o nome de sistema de freios e contrapesos (no inglês, checks and balances). 
OBJETIVOS FUNDAMENTAIS 
O constituinte trabalha no artigo 3º da Constituição Federal com os objetivos da República Federativa 
do Brasil, nos seguintes termos: 
Art. 3º Constituem objetivos fundamentais da República Federativa do Brasil: 
I construir uma sociedade livre, justa e solidária; 
II garantir o desenvolvimentonacional; 
III erradicar a pobreza e a marginalização e reduzir as desigualdades sociais e regionais; 
IV promover o bem de todos, sem preconceitos de origem, raça, sexo, cor, idade e quaisquer outras 
formas de discriminação. 
CONSTRUIR UMA SOCIEDADE LIVRE, JUSTA E SOLIDÁRIA 
O inciso I do artigo 3º merece destaque ao trazer a expressão “livre, justa e solidária”, que 
corresponde à tríade liberdade, igualdade e fraternidade. Esta tríade consolida as três dimensões de 
direitos humanos: a primeira dimensão, voltada à pessoa como indivíduo, refere-se aos direitos civis e 
políticos; a segunda dimensão, focada na promoção da igualdade material, remete aos direitos 
 
 
 
22 
 
 
econômicos, sociais e culturais; e a terceira dimensão se concentra numa perspectiva difusa e coletiva 
dos direitos fundamentais. 
Sendo assim, a República brasileira pretende garantir a preservação de direitos fundamentais inatos à 
pessoa humana em todas as suas dimensões, indissociáveis e interconectadas. Daí o texto 
constitucional guardar espaço de destaque para cada uma destas perspectivas. 
GARANTIR O DESENVOLVIMENTO NACIONAL 
Para que o governo possa prover todas as condições necessárias à implementação de todos os 
direitos fundamentais da pessoa humana mostra-se essencial que o país se desenvolva, cresça 
economicamente, de modo que cada indivíduo passe a ter condições de perseguir suas metas. 
ERRADICAR A POBREZA E A MARGINALIZAÇÃO E REDUZIR AS DESIGUALDADES SOCIAIS E 
REGIONAIS 
Garantir o desenvolvimento econômico não basta para a construção de uma sociedade justa e 
solidária. É necessário ir além e nunca perder de vista a perspectiva da igualdade material. Logo, a 
injeção econômica deve permitir o investimento nos setores menos favorecidos, diminuindo as 
desigualdades sociais e regionais e paulatinamente erradicando a pobreza. 
O impacto econômico deste objetivo fundamental é tão relevante que o artigo 170 da Constituição 
prevê em seu inciso VII a “redução das desigualdades regionais e sociais” como um princípio que deve 
reger a atividade econômica. A menção deste princípio implica em afirmar que as políticas públicas 
econômico-financeiras deverão se guiar pela busca da redução das desigualdades, fornecendo 
incentivos específicos para a exploração da atividade econômica em zonas economicamente 
marginalizadas. 
PROMOVER O BEM DE TODOS, SEM PRECONCEITOS DE ORIGEM, RAÇA, SEXO, COR, IDADE E 
QUAISQUER OUTRAS FORMAS DE DISCRIMINAÇÃO 
Ainda no ideário de justiça social, coloca-se o princípio da igualdade como objetivo a ser alcançado 
pela República brasileira. Sendo assim, a república deve promover o princípio da igualdade e consolidar 
o bem comum. Em verdade, a promoção do bem comum pressupõe a prevalência do princípio da 
igualdade. 
Sobre o bem de todos, isto é, o bem comum, o filósofo Jacques Maritain12 ressaltou que o fim da 
sociedade é o seu bem comum, mas esse bem comum é o das pessoas humanas, que compõem a 
 
 
 
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sociedade. Com base neste ideário, apontou as características essenciais do bem comum: 
redistribuição, pela qual o bem comum deve ser redistribuído às pessoas e colaborar para o 
desenvolvimento delas; respeito à autoridade na sociedade, pois a autoridade é necessária para 
conduzir a comunidade de pessoas humanas para o bem comum; moralidade, que constitui a retidão 
de vida, sendo a justiça e a retidão moral elementos essenciais do bem comum. 
 
PRINCÍPIOS DE RELAÇÕES INTERNACIONAIS (ARTIGO 4º) 
O último artigo do título I trabalha com os princípios que regem as relações internacionais da 
República brasileira:Art. 4º A República Federativa do Brasil rege-se nas suas relações internacionais 
pelos seguintes princípios: 
I. independência nacional; 
II. prevalência dos direitos humanos; 
III.autodeterminação dos povos; 
IV.não-intervenção; 
V.igualdade entre os Estados; VI defesa da 
paz; 
VI.solução pacífica dos conflitos; 
VII.repúdio ao terrorismo e ao racismo; 
VIII. cooperação entre os povos para o progresso da humanidade; 
IX.concessão de asilo político. 
Parágrafo único. A República Federativa do Brasil buscará a integração 
econômica, política, social e cultural dos povos da América Latina, visando 
à formação de uma comunidade latino-americana de nações. 
De maneira geral, percebe-se na Constituição Federal a compreensão de que a soberania do Estado 
nacional brasileiro não permite a sobreposição em relação à soberania dos demais Estados, bem como de 
que é necessário respeitar determinadas práticas inerentes ao direito internacional dos direitos humanos. 
INDEPENDÊNCIA NACIONAL 
A formação de uma comunidade internacional não significa a eliminação da soberania dos países, mas 
apenas uma relativização, limitando as atitudes por ele tomadas em prol da preservação do bem comum 
e da paz mundial. Na verdade, o próprio compromisso de respeito aos direitos humanos traduz a limitação 
 
 
 
24 
 
 
das ações estatais, que sempre devem se guiar por eles. Logo, o Brasil é um país independente, que não 
responde a nenhum outro, mas que como qualquer outro possui um dever para com a humanidade e os 
direitos inatos a cada um de seus membros. 
PREVALÊNCIA DOS DIREITOS HUMANOS 
O Estado existe para o homem e não o inverso. Portanto, toda normativa existe para a sua proteção 
como pessoa humana e o Estado tem o dever de servir a este fim de preservação. A única forma de fazer 
isso é adotando a pessoa humana como valor-fonte de todo o ordenamento, o que somente é possível 
com a compreensão de que os direitos humanos possuem uma posição prioritária no ordenamento 
jurídico-constitucional. 
Conceituar direitos humanos é uma tarefa complicada, mas, em síntese, pode-se afirmar que direitos 
humanos são aqueles inerentes ao homem enquanto condição para sua dignidade que usualmente são 
descritos em documentos internacionais para que sejam mais seguramente garantidos. A conquista de 
direitos da pessoa humana é, na verdade, uma busca da dignidade da pessoa humana. 
AUTODETERMINAÇÃO DOS POVOS 
A premissa dos direitos políticos é a autodeterminação dos povos. Neste sentido, embora cada Estado 
tenha obrigações de direito internacional que deve respeitar para a adequada consecução dos fins da 
comunidade internacional, também tem o direito de se autodeterminar, sendo que tal autodeterminação 
é feita pelo seu povo. 
Se autodeterminar significa garantir a liberdade do povo na tomada das decisões políticas, logo, o 
direito à autodeterminação pressupõe a exclusão do colonialismo. Não se aceita a ideia de que um Estado 
domine o outro, tirando a sua autodeterminação. 
NÃO-INTERVENÇÃO 
Por não-intervenção entenda-se que o Estado brasileiro irá respeitar a soberania dos demais 
Estados nacionais. Sendo assim, adotará práticas diplomáticas e respeitará as decisões políticas 
tomadas no âmbito de cada Estado, eis que são paritários na ordem internacional. 
IGUALDADE ENTRE OS ESTADOS 
Por este princípio se reconhece uma posição de paridade, ou seja, de igualdade hierárquica, na 
ordem internacional entre todos os Estados. Em razão disso, cada Estado possuirá direito de voz e voto 
 
 
 
25 
 
 
na tomada de decisões políticas na ordem internacional em cada organização da qual faça parte e 
deverá ter sua opinião respeitada. 
DEFESA DA PAZ 
O direito à paz vai muito além do direito de viver num mundo sem guerras, atingindo o direito de 
ter paz social, de ver seus direitos respeitados em sociedade. Os direitos e liberdades garantidos 
internacionalmente não podem ser destruídos com fundamento nas normas que surgiram para 
protegê-los, o que seria controverso. Em termos de relações internacionais, depreende-se que deve sersempre priorizada a solução amistosa de conflitos. 
SOLUÇÃO PACÍFICA DOS CONFLITOS 
Decorrendo da defesa da paz, este princípio remete à necessidade de diplomacia nas relações 
internacionais. Caso surjam conflitos entre Estados nacionais, estes deverão ser dirimidos de forma 
amistosa. 
Negociação diplomática, serviços amistosos, bons ofícios, mediação, sistema de consultas, 
conciliação e inquérito são os meios diplomáticos de solução de controvérsias internacionais, não 
havendo hierarquia entre eles. Somente o inquérito é um procedimento preliminar e facultativo à 
apuração da materialidade dos fatos, podendo servir de base para qualquer meio de solução de 
conflito13. Conceitua Neves14: 
- “Negociação diplomática é a forma de autocomposição em que os Estados oponentes 
buscam resolver suas divergências de forma direta, por via diplomática”; 
- “Serviços amistosos é um meio de solução pacífica de conflito, sem aspecto oficial, em que o 
governo designa um diplomada para sua conclusão”; 
- “Bons ofícios constituem o meio diplomático de solução pacífica de controvérsia 
internacional, em que um Estado, uma organização internacional ou até mesmo um chefe de Estado 
apresenta-se como moderador entre os litigantes”; 
- “Mediação define-se como instituto por meio do qual uma terceira pessoa estranha à contenda, 
mas aceita pelos litigantes, de forma voluntária ou em razão de estipulação anterior, toma 
conhecimento da divergência e dos argumentos sustentados pelas partes, e propõe uma solução 
pacífica sujeita à aceitação destas”; 
- “Sistema de Consultas constitui-se em meio diplomático de solução de litígios em que os 
Estados ou organizações internacionais sujeitam-se, sem qualquer interferência pessoal externa, a 
encontros periódicos com o objetivo de compor suas divergências”. 
 
 
 
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REPÚDIO AO TERRORISMO E AO RACISMO 
Terrorismo é o uso de violência através de ataques localizados a elementos ou instalações de um 
governo ou da população civil, de modo a incutir medo, terror, e assim obter efeitos psicológicos que 
ultrapassem largamente o círculo das vítimas, incluindo, antes, o resto da população do território. 
Racismo é a prática de atos discriminatórios baseados em diferenças étnico-raciais, que podem 
consistir em violência física ou psicológica direcionada a uma pessoa ou a um grupo de pessoas pela 
simples questão biológica herdada por sua raça ou etnia. 
Sendo o Brasil um país que prega o pacifismo e que é assumidamente pluralista, ambas práticas são 
consideradas vis e devem ser repudiadas pelo Estado nacional. 
COOPERAÇÃO ENTRE OS POVOS PARA O PROGRESSO DA HUMANIDADE 
A cooperação internacional deve ser especialmente econômica e técnica, a fim de conseguir 
progressivamente a plena efetividade dos direitos humanos fundamentais internacionalmente 
reconhecidos. 
Os países devem colaborar uns com os outros, o que é possível mediante a integração no âmbito de 
organizações internacionais específicas, regionais ou globais. 
Em relação a este princípio, o artigo 4º se aprofunda em seu parágrafo único, destacando a 
importância da cooperação brasileira no âmbito regional: “A República Federativa do Brasil buscará a 
integração econômica, política, social e cultural dos povos da América Latina, visando à formação de uma 
comunidade latino-americana de nações”. Neste sentido, o papel desempenhado no MERCOSUL. 
CONCESSÃO DE ASILO POLÍTICO 
Direito de asilo é o direito de buscar abrigo em outro país quando naquele do qual for nacional estiver 
sofrendo alguma perseguição. Tal perseguição não pode ter motivos legítimos, como a prática de crimes 
comuns ou de atos atentatórios aos princípios das Nações Unidas, o que subverteria a própria finalidade 
desta proteção. Em suma, o que se pretende com o direito de asilo é evitar a consolidação de ameaças a 
direitos humanos de uma pessoa por parte daqueles que deveriam protegê-los – isto é, os governantes e 
os entes sociais como um todo –, e não proteger pessoas que justamente cometeram tais violações. 
“Sendo direito humano da pessoa refugiada, é obrigação do Estado asilante conceder o asilo. 
Entretanto, prevalece o entendimento que o Estado não tem esta obrigação, nem de fundamentar a 
 
 
 
27 
 
 
recusa. A segunda parte deste artigo permite a interpretação no sentido de que é o Estado asilante que 
subjetivamente enquadra o refugiado como asilado político ou criminoso comum”. 
 
DOS DIREITOS E GARANTIAS FUNDAMENTAIS. 
O título II da Constituição Federal é intitulado “Direitos e Garantias fundamentais”, gênero que 
abrange as seguintes espécies de direitos fundamentais: direitos individuais e coletivos (art. 5º, CF), 
direitos sociais (genericamente previstos no art. 6º, CF), direitos da nacionalidade (artigos 12 e 13, CF) e 
direitos políticos (artigos 14 a 17, CF). 
Em termos comparativos à clássica divisão tridimensional dos direitos humanos, os direitos 
individuais (maior parte do artigo 5º, CF), os direitos da nacionalidade e os direitos políticos se 
encaixam na primeira dimensão (direitos civis e políticos); os direitos sociais se enquadram na segunda 
dimensão (direitos econômicos, sociais e culturais) e os direitos coletivos na terceira dimensão. 
Contudo, a enumeração de direitos humanos na Constituição vai além dos direitos que expressamente 
constam no título II do texto constitucional. 
Os direitos fundamentais possuem as seguintes características principais: 
a) Historicidade: os direitos fundamentais possuem antecedentes históricos relevantes e, 
através dos tempos, adquirem novas perspectivas. Nesta característica se enquadra a noção de 
dimensões de direitos. 
b) Universalidade: os direitos fundamentais pertencem a todos, tanto que apesar da expressão 
restritiva do caput do artigo 5º aos brasileiros e estrangeiros residentes no país tem se entendido pela 
extensão destes direitos, na perspectiva de prevalência dos direitos humanos. 
c) Inalienabilidade: os direitos fundamentais não possuem conteúdo econômico-patrimonial, 
logo, são intransferíveis, inegociáveis e indisponíveis, estando fora do comércio, o que evidencia uma 
limitação do princípio da autonomia privada. 
d) Irrenunciabilidade: direitos fundamentais não podem ser renunciados pelo seu titular devido 
à fundamentalidade material destes direitos para a dignidade da pessoa humana. 
e) Inviolabilidade: direitos fundamentais não podem deixar de ser observados por disposições 
infraconstitucionais ou por atos das autoridades públicas, sob pena de nulidades. 
f) Indivisibilidade: os direitos fundamentais compõem um único conjunto de direitos porque não 
podem ser analisados de maneira isolada, separada. 
 
 
 
28 
 
 
g) Imprescritibilidade: os direitos fundamentais não se perdem com o tempo, não prescrevem, uma 
vez que são sempre exercíveis e exercidos, não deixando de existir pela falta de uso (prescrição). 
h) Relatividade: os direitos fundamentais não podem ser utilizados como um escudo para práticas 
ilícitas ou como argumento para afastamento ou diminuição da responsabilidade por atos ilícitos, assim 
estes direitos não são ilimitados e encontram seus limites nos demais direitos igualmente consagrados 
como humanos. 
DOS DIREITOS E DEVERES INDIVIDUAIS E COLETIVOS. 
O capítulo I do título II é intitulado “direitos e deveres individuais e coletivos”. Da própria 
nomenclatura do capítulo já se extrai que a proteção vai além dos direitos do indivíduo e também abrange 
direitos da coletividade. A maior parte dos direitos enumerados no artigo 5º do texto constitucional é de 
direitos individuais, mas são incluídos alguns direitos coletivos e mesmo remédios constitucionais próprios 
para a tutela destes direitos coletivos (ex.: mandado de segurança coletivo).BRASILEIROS E ESTRANGEIROS 
O caput do artigo 5º aparenta restringir a proteção conferida pelo dispositivo a algumas pessoas, 
notadamente, “aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País”. No entanto, tal restrição é apenas 
aparente e tem sido interpretada no sentido de que os direitos estarão protegidos com relação a todas as 
pessoas nos limites da soberania do país. Em razão disso, por exemplo, um estrangeiro pode ingressar 
com habeas corpus ou mandado de segurança, ou então intentar ação reivindicatória com relação a 
imóvel seu 
localizado no Brasil (ainda que não resida no país). 
Somente alguns direitos não são estendidos a todas as pessoas. A exemplo, o direito de intentar ação 
popular exige a condição de cidadão, que só é possuída por nacionais titulares de direitos políticos. 
RELAÇÃO DIREITOS-DEVERES 
O capítulo em estudo é denominado “direitos e garantias deveres e coletivos”, remetendo à necessária 
relação direitos-deveres entre os titulares dos direitos fundamentais. Acima de tudo, o que se deve ter 
em vista é a premissa reconhecida nos direitos fundamentais de que não há direito que seja absoluto, 
correspondendo-se para cada direito um dever. Logo, o exercício de direitos fundamentais é limitado pelo 
igual direito de mesmo exercício por parte de outrem, não sendo nunca absolutos, mas sempre relativos. 
 
 
 
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Explica Canotilho16 quanto aos direitos fundamentais: “a ideia de deveres fundamentais é suscetível 
de ser entendida como o ‘outro lado’ dos direitos fundamentais. Como ao titular de um direito 
fundamental corresponde um dever por parte de um outro titular, poder-se-ia dizer que o particular está 
vinculado aos direitos fundamentais como destinatário de um dever fundamental. Neste sentido, um 
direito fundamental, enquanto protegido, pressuporia um dever correspondente”. Com efeito, a um 
direito fundamental conferido à pessoa corresponde o dever de respeito ao arcabouço de direitos 
conferidos às outras pessoas. 
DIREITOS E GARANTIAS 
A Constituição vai além da proteção dos direitos e estabelece garantias em prol da preservação 
destes, bem como remédios constitucionais a serem utilizados caso estes direitos e garantias não sejam 
preservados. Neste sentido, dividem-se em direitos e garantias as previsões do artigo 5º: os direitos são 
as disposições declaratórias e as garantias são as disposições assecuratórias. 
O legislador muitas vezes reúne no mesmo dispositivo o direito e a garantia, como no caso do artigo 
5º, IX: “é livre a expressão da atividade intelectual, artística, científica e de comunicação, 
independentemente de censura ou licença” 
– o direito é o de liberdade de expressão e a garantia é a vedação de censura ou exigência de 
licença. Em outros casos, o legislador traz o direito num dispositivo e a garantia em outro: a liberdade 
de locomoção, direito, é colocada no artigo 5º, XV, ao passo que o dever de relaxamento da prisão 
ilegal de ofício pelo juiz, garantia, se encontra no artigo 5º, LXV17. 
Em caso de ineficácia da garantia, implicando em violação de direito, cabe a utilização dos 
remédios constitucionais. 
Atenção para o fato de o constituinte chamar os remédios constitucionais de garantias, e todas as 
suas fórmulas de direitos e garantias propriamente ditas apenas de direitos. 
DIREITOS E GARANTIAS EM ESPÉCIE 
Preconiza o artigo 5º da Constituição Federal em seu caput: 
Artigo 5º, caput, CF. Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-
se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à 
igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes [...]. 
 
 
 
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O caput do artigo 5º, que pode ser considerado um dos principais (senão o principal) artigos da 
Constituição Federal, consagra o princípio da igualdade e delimita as cinco esferas de direitos individuais 
e coletivos que merecem proteção, isto é, vida, liberdade, igualdade, segurança e propriedade. Os 
incisos deste artigos delimitam vários direitos e garantias que se enquadram em alguma destas esferas 
de proteção, podendo se falar em duas esferas específicas que ganham também destaque no texto 
constitucional, quais sejam, direitos de acesso à justiça e direitos constitucionais-penais. 
DIREITO À IGUALDADE ABRANGÊNCIA 
Observa-se, pelo teor do caput do artigo 5º, CF, que o constituinte afirmou por duas vezes o 
princípio da igualdade: 
Artigo 5º, caput, CF. Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-
se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à 
igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes [...]. 
Não obstante, reforça este princípio em seu primeiro inciso: 
Artigo 5º, I, CF. Homens e mulheres são iguais em direitos e obrigações, nos termos desta Constituição. 
Este inciso é especificamente voltado à necessidade de igualdade de gênero, afirmando que não deve 
haver nenhuma distinção sexo feminino e o masculino, de modo que o homem e a mulher possuem os 
mesmos direitos e obrigações. 
Entretanto, o princípio da isonomia abrange muito mais do que a igualdade de gêneros, envolve uma 
perspectiva mais ampla. 
O direito à igualdade é um dos direitos norteadores de interpretação de qualquer sistema jurídico. O 
primeiro enfoque que foi dado a este direito foi o de direito civil, enquadrando-o na primeira dimensão, 
no sentido de que a todas as pessoas deveriam ser garantidos os mesmos direitos e deveres. 
Trata-se de um aspecto relacionado à igualdade enquanto liberdade, tirando o homem do arbítrio dos 
demais por meio da equiparação. Basicamente, estaria se falando na igualdade perante a lei. 
No entanto, com o passar dos tempos, se percebeu que não bastava igualar todos os homens em 
direitos e deveres para torná-los iguais, pois nem todos possuem as mesmas condições de exercer estes 
direitos e deveres. Logo, não é suficiente garantir um direito à igualdade formal, mas é preciso buscar 
progressivamente a igualdade material. No sentido de igualdade material que aparece o direito à 
 
 
 
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igualdade num segundo momento, pretendendo-se do Estado, tanto no momento de legislar quanto no 
de aplicar e executar a lei, uma postura de promoção de políticas governamentais voltadas a grupos 
vulneráveis. 
Assim, o direito à igualdade possui dois sentidos notáveis: o de igualdade perante a lei, referindo-se 
à aplicação uniforme da lei a todas as pessoas que vivem em sociedade; e o de igualdade material, 
correspondendo à necessidade de discriminações positivas com relação a grupos vulneráveis da 
sociedade, em contraponto à igualdade formal. 
AÇÕES AFIRMATIVAS 
Neste sentido, desponta a temática das ações afirmativas, que são políticas públicas ou programas 
privados criados temporariamente e desenvolvidos com a finalidade de reduzir as desigualdades 
decorrentes de discriminações ou de uma hipossuficiência econômica ou física, por meio da concessão 
de algum tipo de vantagem compensatória de tais condições. 
Quem é contra as ações afirmativas argumenta que, em uma sociedade pluralista, a condição de 
membro de um grupo específico não pode ser usada como critério de inclusão ou exclusão de benefícios. 
Ademais, afirma-se que elas desprivilegiam o critério republicano do mérito (segundo o qual o indivíduo 
deve alcançar determinado cargo público pela sua capacidade e esforço, e não por pertencer a 
determinada categoria); fomentariam o racismo e o ódio; bem como ferem o princípio da isonomia por 
causar uma discriminação reversa. 
Por outro lado, quem é favorável às ações afirmativas defende que elas representam o ideal de 
justiça compensatória

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