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Livro - Introducao do Direito Fundamentos, Legislacao Social, Trabalhista, Comercial e Tributaria


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Introdução ao 
Direito: 
Fundamentos, 
Legislação Social, 
Trabalhista, 
Comercial e 
 Tributária
Janes Sandra Dinon Ortigara
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ci
al
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 T
rib
ut
ár
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2ª Edição
Curitiba
2018
Introdução 
ao Direito: 
Fundamentos, 
Legislação 
Social, 
Trabalhista, 
Comercial e 
Tributária
Janes Sandra Dinon Ortigara
Ficha Catalográfica elaborada pela Fael. Bibliotecária – Cassiana Souza CRB9/1501
Ortigara, Janes Sandra Dinon
Introdução ao direito: fundamentos, legislação social, trabalhista, 
comercial e tributária / Janes Sandra Dinon Ortigara. – 2. ed. – Curitiba: 
Fael, 2018.
186 p.: il.
ISBN 978-85-5337-021-4
1. Direito - Introdução 2. Direito do trabalho 3.Direito empresarial 4. 
Direito tributário I.Título
CDD 340
Direitos desta edição reservados à Fael.
É proibida a reprodução total ou parcial desta obra sem autorização expressa da Fael.
FAEL
Direção Acadêmica Francisco Carlos Sardo
Coordenação Editorial Raquel Andrade Lorenz
Revisão Claudia Helena Carvalho Wigert
Projeto Gráfico Sandro Niemicz
Imagem da Capa Shutterstock.com/Sebastian Duda
Arte-Final Evelyn Caroline dos Santos Betim
Sumário
 Introdução | 5
1. Introdução ao Estudo do Direito | 7
2. Aspectos Relevantes do Direito do Trabalho | 59
3. Aspectos Relevantes do Direito Tributário | 105
4. Aspectos Relevantes do Direito Empresarial | 145
 Referências | 173
Introdução
Este livro trata de questões fundamentais do Direito e de 
alguns ramos específicos, como o Direito do Trabalho, Tributário 
e Empresarial, ou Comercial, e está dividido em quatro capítulos.
O primeiro capítulo é uma introdução ao estudo do Direito, 
no qual veremos conceitos introdutórios e teorias jurídicas, que são 
uma espécie de fundamento ao Direito em geral. Esse fundamento 
que sustenta o campo jurídico e seus conceitos em geral advém prin-
cipalmente da Filosofia do Direito e da Lógica Jurídica. O estudo 
desses conceitos e teorias é essencial para que posteriormente o 
estudo nas diversas áreas do Direito tenha concretude. Todo campo 
jurídico se ampara nesses conceitos e teorias como o próprio termo 
Direito, o conceito de Norma Jurídica, a Teoria da Norma Funda-
mental, a Teoria das Lacunas, as fontes do Direito, os princípios do 
Direito em geral e outros termos e teorias.
O segundo capítulo tratará sobre os aspectos essenciais do 
Direito do Trabalho, que são considerados pilares para esta área jurí-
– 6 –
Introdução ao Direito: Fundamentos, Legislação Social, Trabalhista, Comercial e Tributária
dica, e a legislação trabalhista, que determina os direitos e as obrigações dos 
empregados e dos empregadores. As bases da área jurídica do trabalho são, em 
primeiro lugar, a própria definição do que vem a ser o Direito do Trabalho 
como limites de aplicação e regulamentação desta área jurídica. Em segundo 
lugar, podemos dizer que estão presentes questões como as fontes do Direito 
do Trabalho e os princípios específicos e, também, os gerais da área jurídica.
O terceiro capítulo analisará os aspectos relevantes do Direito Tribu-
tário. Este, por sua vez, tem como finalidade a regulamentação dos tributos 
cobrados pelo Estado com o intuito de gerar receita. Estudaremos neste capí-
tulo a Legislação Tributária, as normas gerais desta área jurídica, os princípios 
jurídicos que regem o Direito Tributário e os diferentes tipos de tributação, 
como as taxas e os impostos.
Por fim, o quarto, e último, capítulo tratará dos aspectos relevantes do 
Direito Empresarial, ou Comercial. Este ramo jurídico é caracterizado como 
âmbito privado do Direito. Como veremos, ele disciplina o conjunto de 
regras jurídicas relativas à atividade comercial, ou empresarial. Desta forma, 
estudaremos as fontes que regem o Direito Empresarial, os diferentes tipos de 
sociedades empresárias.
Este livro tem como objetivo introduzir o aluno no âmbito jurídico de 
forma que ele adquira conhecimentos em relação aos fundamentos jurídicos 
que fazem parte da Teoria do Direito, e que também adquira conhecimentos 
na parte mais técnica do Direito, estabelecida por meio da legislação de cada 
ramo jurídico.
1
Introdução ao 
Estudo do Direito
Neste capítulo, estudaremos conceitos introdutórios que 
são necessários e fundamentais ao estudo do Direito em geral. Ini-
cialmente faremos uma síntese da história do surgimento do Direito 
no Brasil; explicaremos noções essenciais do Direito como o próprio 
conceito de Direito, de Norma Jurídica e de ordenamento jurídico. 
Apresentaremos o que são as fontes do Direito, os princípios gerais, 
além de mostrarmos os seus diferentes ramos. Ao final do capítulo, 
faremos uma espécie de resumo do que seriam as funções do Direito.
1.1 Breve história do Direito no Brasil
Não podemos dizer com precisão quando o Direito surgiu, 
mas sua existência está diretamente ligada ao desenvolvimento da 
civilização humana. Podemos dizer que, no Egito Antigo e na Gré-
cia Antiga, o Direito já existia, não como o entendemos hoje, mas 
como regras básicas da conduta humana. 
– 8 –
Introdução ao Direito: Fundamentos, Legislação Social, Trabalhista, Comercial e Tributária
O Direito, no Brasil iniciou-se com a chegada e instalação dos portugue-
ses no País, fazendo do Brasil a colônia de Portugal. Desta forma, nessa época, 
a história do Direito brasileiro confunde-se com a história do Direito por-
tuguês, ou com parte deste. A partir daí, a história jurídica, de certa forma, 
passa a ser comum aos dois povos, como ressalta Simões (2007, p. 1):
Como o Brasil ficou vinculado, em determinado momento histó-
rico, aos ditames de Portugal, todos os costumes e tradições portu-
guesas passaram a fazer parte da sociedade e do cotidiano brasileiro, 
incluindo, por consequência, seu sistema de normas e imposições. 
Como toda história é feita por nós, seres humanos, ela não é totalmente 
objetiva e imparcial, como uma fórmula matemática. Desta maneira, Bóris 
Fausto (2002) lembra-nos que “[...] a história é uma ciência humana. Isso quer 
dizer que ela tem uma certa relatividade dependendo muito da visão do histo-
riador. A história tem um lógica, tem normas, tem um processo, portanto, tem 
uma objetividade” 1. Logo, podemos analisar dois pontos de vista diferentes em 
relação a este mesmo fato histórico do Direito no Brasil, como veremos a seguir.
Para analisarmos um ponto de vista, podemos citar Justo (2002, p. 3), 
que comenta sobre a herança do Direito português ao Brasil. O Direito pode 
ser entendido a partir de:
Quando, em 22 de Abril de 1500, a armada comandada por Pedro 
Álvares Cabral chegou à Terra de Vera Cruz, o Direito Português 
estendeu a sua vigência a um território mais, com sensibilidade às 
condições específicas da grande Nação de que todos (Brasileiros e Por-
tugueses) nos orgulhamos. Vigoravam, então, em Portugal, as Orde-
nações Afonsinas e diversa legislação extravagante que rapidamente 
iriam também aplicar-se ao Brasil.
Assim, as Ordenações Afonsinas, vigentes em Portugal no momento da 
descoberta das terras brasileiras, passaram a ser também aplicadas no Brasil. 
Como explanava o jurista Moncada ([19--]): “As Ordenações do Reino são o 
mais considerável monumento legislativo da nossa história jurídica (ius lusitanae) 
desde os séculos XIII-XIV e o factor primacial da unidade política da Nação.
Outro ponto de vista sobre este fato histórico mostra-nos que a legisla-
ção do Brasil-Colônia foi o reflexo da imposição e da vontade do colonizador 
1 Série publicada pelo historiador Bóris Fausto na TV Escola (MEC), 2002. Disponí-
vel em: <http://tvescola.mec.gov.br>. 
– 9 –
Introdução ao Estudo do Direito
português, da mesma forma que o modelo judiciário implantado seguiu os 
moldes do modelo de Portugal, representando os interesses da sua burguesia. 
O QUE SÃO ORDENAÇÕES?
Ordenações signi�cam ordens, decisões
ou normas jurídicas avulsasou agrupadas
que comungam de mesmos preceitos de
elaboração. Peças fundamentais da
história do Direito em Portugal e por
correspondência no Brasil. É onde estão
o�cialmente registradas as normas
jurídicas �xadas nos diversos reinados.
Sistema de normas do reino português
em sua história, aconteceu na seguinte
ordem: Ordenações Afonsivas,
Ordenações Manuelinas e Ordenações
Filipinas, conhecidas assim pelos seus
mandantes.
Após as Ordenações Afonsinas, as Ordenações Manuelinas vigoraram 
de forma definitiva, a partir do ano 1521, no tempo em que Dom Manuel 
assumiu seu reinado. Segundo Silva (1991, p. 269):
[...] a reforma definitiva das Ordenações Manuelinas (1521) teve 
como fator impulsionador a promulgação de legislação extravagante, 
destacando-se em importância o Regimento dos Contadores das 
Comarcas (1514) e o Regimento e Ordenações da Fazenda (1516) 
[...]. 
Para não ocasionar divergência entre as edições anteriores das Orde-
nações, Dom Manuel, através de Carta datada em 15 de março de 
1521, determinou que aqueles que tivessem as Ordenações antigas 
deveriam se desfazer delas, sob pena de, se assim não se procedesse 
em três meses, pagar uma taxa, bem como, nesse mesmo período, os 
conselhos deveriam adquirir as novas Ordenações.
– 10 –
Introdução ao Direito: Fundamentos, Legislação Social, Trabalhista, Comercial e Tributária
De acordo com Faoro (1998, p. 64):
O estatuto da organização político-administrativa do reino, com a 
minudente especificação das atribuições dos delegados do reino, não 
apenas daqueles devotados à justiça, senão dos ligados à corte e à 
estrutura municipal. Elas respiram, em todos os poros, a intervenção 
do Estado na economia, nos negócios, no comércio marítimo, nas 
compras e vendas internas, no tabelamento de preços, no embargo de 
exportações aos países mouros e à Índia. A codificação expressa, além 
do predomínio incontestável e absoluto do soberano, a centralização 
política e administrativa.
André (2007, p. 2) contribui com muita clareza:
As Ordenações levaram o nome de seus mandantes régios e três foram 
essas compilações: a Afonsina de 1447, ordenada por Afonso IV pos-
suía cinco livros que versavam sobre Direito Administrativo (Livro I), 
Direito Constitucional (Livro II), Processo Civil (Livro III), Direito 
Civil (Livro IV), e Direito e processo Criminal (Livro V); as Orde-
nações Manuelinas datam de 1521 e foram elaboradas no reinado 
de D. Manuel, mantendo a mesma sistematização das Ordenações 
Afonsinas; e, finalmente as Ordenações Filipina, que apesar de sua 
vigência ter iniciado em 1603, no reinado de Filipe II, sua elaboração 
iniciou-se em 1583, sob a égide de Filipe I. Sua sistematização de 
assuntos é a mesma das Ordenações anteriores, 13 onde encontramos 
cinco livros, subdivididos em títulos e parágrafos.
Na percepção de Silva (1991), um dos maiores defeitos das Ordenações 
Filipinas teve origem justamente do respeito pelas ordenações anteriores, ou 
seja, da sua falta de clareza e da obscuridade de muitas disposições.
Em um pequeno quadro, podemos resumir a diferença entre as Ordena-
ções Afonsinas (1446), Manuelinas (1521) e Filipinas (1603):
Ord. Afonsivas - 1446 Ord. Manuelinas - 1521 Ord. Filipinas - 1603
Sofreu várias influ-
ências do Direito 
Romano e Canônico.
Sem praticamente muitas 
mudanças com relação à 
Afonsiva. Tem como pri-
meira inovação a supressão 
das normas revogadas.
Objetivaram a atualiza-
ção das inúmeras regras 
esparsas editadas no 
período de 1521 a 1600.
– 11 –
Introdução ao Estudo do Direito
Ord. Afonsivas - 1446 Ord. Manuelinas - 1521 Ord. Filipinas - 1603
A segunda inovação foi o 
fato de o documento estar 
redigido de maneira mais 
concisa e decretória.
Consagrou-se como 
fonte do direito nacional, 
realizando uma unifor-
mização das leis para 
todo o país. Isso impediu 
que os abusos praticados 
pela nobreza, no que diz 
respeito à sua interpreta-
ção. Além de permitir a 
amplificação da política 
centralizadora do Rei.
E finalmente a terceira 
inovação foi o estabele-
cimento de normativas 
específicas para as questões 
da expansão marítima.
Destacar também que 
as penas previstas nas 
Ordenações Filipinas 
eram consideradas severas 
e bastante variadas.
Fonte: SILVA, 2011.
O Direito vigente nesse período caracterizou-se pela junção de leis e 
costumes dessas três Ordenações. Em muitos casos, a discordância com a 
realidade encontrada provocava a revisão da legislação, conforme esclarece 
Wolkmer (2002, p. 48):
[...] a legislação privada comum, fundada nessas Ordenações do 
Reino, era aplicada sem qualquer alteração em todo o território 
nacional. Concomitantemente, a inadequação, no Brasil, de certas 
normas e preceitos de Direito Público que vigoravam em Portugal 
determinava a elaboração de uma legislação especial que regulasse a 
organização administrativa da Colônia.
Tendo em vista tal contexto, ainda segundo Wolkmer (2002, p. 48), 
“[...] a insuficiência das Ordenações para resolver todas as necessidades da 
Colônia tornava obrigatória a promulgação avulsa e independente de várias 
‘Leis Extravagantes’, versando, sobretudo, sobre matérias comerciais”.
Em 1769, ocorreu uma grande modificação na matéria legislativa. 
Trata-se da criação da Lei da Boa Razão, que definia regras centralizadoras 
– 12 –
Introdução ao Direito: Fundamentos, Legislação Social, Trabalhista, Comercial e Tributária
e uniformes para interpretação e aplicação das leis no caso de omissão, 
imprecisão ou lacuna. Essas mudanças foram decorrentes da Reforma 
Pombalina. Conforme apresenta Wolkmer (2002), a Lei da Boa Razão foi 
responsável por minimizar a autoridade do Direito Romano, da glosa e dos 
arestos, dando preferência e dignidade às leis pátrias e só recorrendo àquele 
direito, subsidiariamente, se estivesse de acordo com o direito natural e as leis 
das Nações Cristãs iluminadas e polidas, se em boa razão fossem fundadas.
Neste contexto, é importante saber um pouco mais sobre a Lei da Boa 
Razão. Ela foi publicada em 18 de agosto de 1769 pelo rei D. José I, tendo 
como principais objetivos a reformulação das matérias concernentes às fontes 
do Direito em Portugal e o fornecimento de um critério seguro e objetivo 
sobre o que seria a boa razão – sobre a qual se referiram as Ordenações Filipi-
nas quando a estabeleceu como critério à aplicação do Direito romano. Seu 
caráter instrumental é notório. Foi uma lei cuja finalidade era tratar de outras 
leis ou, mais precisamente, aplicá-las do modo mais adequado. Mais que uma 
simples norma sobre aplicação, a Lei da Boa Razão trazia, além do modo 
de utilização das leis, o que poderia ser aplicado; era uma meta-norma, um 
instrumento legal indicador do que era Direito de Portugal do século XVIII.
De acordo com o comentário de Telles (1824, p. 5), em 1769:
As mudanças trazidas pela Lei da Boa Razão ao Direito Português 
foram profundas. Apesar de serem muitas delas apenas a consolida-
ção e o reforço de algumas posturas já há algum tempo tomadas pela 
Coroa, a publicação de uma lei reguladora do Direito foi importante 
para dar a segurança almejada principalmente pelo Estado. As incer-
tezas sobre as matérias jurídicas eram prejudiciais e só atrapalhavam 
as tendências centralizadoras de D. José I e do Marquês de Pombal.
Em todo este processo, não se tem dúvida de que os portugueses man-
tinham total domínio dos assuntos governamental e jurídico. É indiscutível, 
portanto, reconhecer que, no Brasil-Colônia, a administração da justiça atuou 
sempre como instrumento de dominação colonial. Neste sentido, Wolkmer 
(2002, p. 13) esclarece:
A monarquia portuguesa tinha bem em conta a necessária e impe-
riosa identificação entre o aparato governamental e o poder judicial. 
Frisa-se, deste modo, que a organização judicial estava diretamente 
vinculada aos níveis mais elevados da administração real, de tal 
forma que se tornava difícil distinguir em certos lugares da colônia, 
– 13 –
Introdução ao Estudo do Direito
a representação de poder das instituiçõesuma da outra, pois ambas 
se confundiam.
1.2 Conceitos jurídicos fundamentais
Estudaremos, nesta sessão, alguns conceitos fundamentais para a área 
jurídica em geral, como o conceito de Direito, de norma, a classificação das 
normas jurídicas, a validade, vigência e eficácia da norma, a teoria da Norma 
Fundamental e a teoria da antinomia. 
1.2.1 O que é Direito
A palavra Direito possui definição complexa, com diversos significados. 
Muitas vezes, o Direito é confundido com a própria lei. Embora sejam intrin-
secamente relacionados, distinguem-se entre si, pois a diferença entre Direito 
e lei pertence ao âmbito ideológico do Estado. Da mesma forma, Direito e 
Justiça diferenciam-se quanto a significados, mas sua relação tão próxima faz 
com que os conceitos se confundam também por uma questão ideológica.
Podemos dizer que Direito, em sentido amplo, vai além do Direito Posi-
tivo, pois abrange uma realidade social na qual o Direito Positivo está em 
permanente transformação.
O Direito Positivo nasce ao mesmo tempo e por conta do Estado 
Moderno. Por consequência desta relação, entendemos o Direito Positivo 
como um conjunto de normas jurídicas que busca regular a ordem da socie-
dade. Essas normas podem ser escritas e não escritas; sua vigência se altera 
com o tempo, com o território ou com o povo em questão, opondo-se, neste 
sentido, ao Direito Natural.
Podemos entender o Direito Natural como uma doutrina cuja tese 
sustenta a ideia de que há um ordenamento mais elevado, válido e justo 
universalmente, proveniente da natureza, da razão ou da vontade de Deus. 
Desta forma, segundo a doutrina do Direito Natural, o Direito tem validade 
universal e imutável e é superior ao Estado, supostamente vinculado a prin-
cípios fundamentais.
Como indaga o professor João Chaves: “Qual a origem do Direito? Ele 
nasceria em árvores? Por algum processo de esporulação, como se originam 
– 14 –
Introdução ao Direito: Fundamentos, Legislação Social, Trabalhista, Comercial e Tributária
as samambaias?”2. É perceptível que a resposta é negativa. Segundo lições que 
remontam aos antigos romanos, ubi societas ibi ius, o que significa dizer que 
onde há sociedade, há direito.
Desta forma, Reale (1995) lembra-nos que:
No caso das ciências humanas, talvez o caminho mais aconselhável 
seja aceitar, a título provisório, ou para princípio de conversa, uma 
noção corrente consagrada pelo uso. Ora, aos olhos do homem 
comum o direito é lei e ordem, isto é, um conjunto de regras obri-
gatórias que garantem a convivência social graças ao estabelecimento 
de limites à ação de cada um de seus membros. Assim sendo, quem 
age de conformidade com essas regras comporta-se direito; quem não 
o faz, age torto.
Mas o que Reale (1995) entende realmente por Direito em sentido 
lato é o fato de este ser um fenômeno social, só existindo na medida em que 
existe uma sociedade, não podendo ser concebido fora dela. Desta forma, 
na sua concepção, para a realidade jurídica, há uma qualidade de ser social. 
Partindo deste pressuposto, o autor fundamenta sua Teoria Tridimensional 
do Direito. Brevemente podemos dizer que essa teoria é uma concepção 
que leva em conta três aspectos que fundamentam o Direito. O primeiro 
aspecto é o normativo, no qual a Norma Jurídica é um dos fundamen-
tos. O segundo aspecto é o fático, no qual a relevância social e histórica é 
outro fundamento em que o Direito está alicerçado. E, em terceiro lugar, o 
aspecto axiológico ou de valores buscados pela sociedade é o último funda-
mento para o Direito.
Já para Ferraz Jr. (2001):
[...] o direito é muito difícil de ser definido com rigor. De uma 
parte, consiste em grande número de símbolos e ideais recipro-
camente incompatíveis, o que o homem comum percebe quando 
se vê envolvido num processo judicial: por mais que ele esteja 
seguro de seus direitos, a presença do outro, contestando o, cria lhe 
certa angústia que desorganiza sua tranquilidade. De outra parte, 
não deixa de ser um dos mais importantes fatores de estabilidade 
social, posto que admit um cenário comum em que as mais diver-
sas aspirações podem encontrar uma aprovação e uma ordem.
2 Pergunta proferida em aula pelo professor João Chaves, ministrante da disciplina 
Introdução ao Estudo do Direito 2 da Unicap. 
– 15 –
Introdução ao Estudo do Direito
O que Ferraz Jr. (2001) aponta é de extrema importância para enten-
dermos que o Direito nem sempre corresponde diretamente ao sinônimo de 
justiça. Muitas vezes, quando há justiça para um, não há para o outro sobre 
o mesmo fato, pois a Justiça para um nem sempre corresponde à justiça para 
o outro. Podemos dizer que a justiça dá sentido ao Direito ou que ela é um 
princípio que o regula. A justiça tem uma relação direta com o tipo de con-
duta e ação humana. 
Tentando definir um princípio que regulasse de forma perfeita a ação 
humana, o filósofo Imanuel Kant definiu o seu Imperativo Categórico como 
uma máxima da ação justa, pois, para ele, justa é a ação cuja consequência não 
interfira na liberdade do outro de forma universal. Mas na prática isso não 
acontece de forma espontânea por parte de todos: se todas as pessoas agissem 
segundo a máxima do Imperativo Categórico kantiano, não haveria motivo 
para estabelecer regras jurídicas. Desta forma, o Direito regula determinados 
tipos de conduta humana para que as pessoas ajam em conformidade com a 
lei, afim de promover a ordem e a paz em sociedade. 
Dessa máxima kantiana – Imperativo Categórico –, implica o conceito 
de Liberdade. Este, por sua vez, passa a ser definido pelo Estado como uma 
liberdade delimitada, pois o Estado, com seu poder de polícia, é o único 
agente que possui o direito de tirar a liberdade do indivíduo, ao mesmo 
tempo em que é o único agente que regula as condutas por meio das leis. 
Podemos dizer, deste modo, que o Direito delimita a liberdade do indivíduo 
acerca do seu convívio em sociedade.
Também podemos nos referir ao conceito de Justiça de forma mais 
universal que nas relações entre indivíduos, de tal forma que uma premissa 
valha para toda a humanidade. A Declaração dos Direito Humanos baseia-se 
nestes moldes do conceito de Justiça, na qual traça direitos universais, 
essenciais e valorativos. 
Podemos falar em Justiça no mesmo sentido de direito, quando quere-
mos dizer que “não é direito viver na miséria” e que “não é direito roubar”, pois 
queremos dizer que “não é justo viver na miséria” e que “não é justo roubar”; já 
quando dizemos que “pagamento é direito do credor” ou “educação é direito 
das crianças”, temos em mente o sentido de que os bens “pagamento” e “edu-
cação” são devidos, por justiça, às pessoas mencionadas (MONTORO, 2005).
– 16 –
Introdução ao Direito: Fundamentos, Legislação Social, Trabalhista, Comercial e Tributária
Nas palavras de Pedro (2006, p. 13), Direito é:
Destaco que o direito não é apenas um conjunto de regras. É muito 
mais do que isso. As regras, escritas (leis), são um dos instrumentos de 
aplicação e atuação do direito, que se vale de outros componentes em 
sua configuração. Temos assim, ao lado das leis, a doutrina, a jurispru-
dência, os costumes, os princípios gerais, que, somados, compõem o 
conceito de Direito. E esses elementos, em conjunto, aplicados, bus-
cam atingir o ideal supremo, que é a obtenção da justiça.
Desta forma, podemos entender que o Direito é mais um instrumento 
que procura regular e ordenar as relações da vida humana que apenas um con-
junto estático de regras. No entanto, regula determinados tipos de relações 
humanas: as que podem ser consideradas como vínculos jurídicos. Como 
observa Reale (1995), quando os romanos ensinavam que a Justiça é funda-
mentum regni, estavam, por certo, concebendo uma ideia de Direito como 
condição de vida, visando a realização de fins não jurídicos. Talvez a grandeza 
da Justiça consista exatamente no fato de ser o fundamento para o desenvol-
vimento das demais virtudes. Para Reale (1995, p. 59):
Todas as regras sociais ordenam a conduta, tanto asmorais como as 
jurídicas e as convencionais ou de trato social. A maneira, porém, 
dessa ordenação difere de uma para outra. É próprio do Direito orde-
nar a conduta de maneira bilateral e atributiva, ou seja, estabelecendo 
relações de exigibilidade segundo uma proporção objetiva. O Direito, 
porém, não visa a ordenar as relações dos indivíduos entre si para 
satisfação apenas dos indivíduos, mas, ao contrário, para realizar uma 
convivência ordenada, o que se traduz na expressão: “bem comum”. 
O bem comum não é a soma dos bens individuais, nem a média do 
bem de todos; o bem comum, a rigor, é a ordenação daquilo que cada 
homem pode realizar sem prejuízo do bem alheio, uma composição 
harmônica do bem de cada um com o bem de todos. 
Portanto, podemos entender que o objetivo maior do Estado é visar e 
manter o interesse do bem público. Esta finalidade do Estado faz com que ele 
seja o detentor do monopólio estatal do uso da força como pessoa jurídica de 
direito interno, o que significa dizer que tem personalidade legal e jurídica 
por determinação de lei. Daí advém o Direito Positivo, que nasce juntamente 
com a ideia de Estado Moderno, no qual o poder estatal regula determinadas 
condutas dos indivíduos. Lembremos que o teórico que primeiro conceituou 
o Estado Moderno foi Nicolau Maquiavel, diferenciando o Estado Moderno 
do estado de natureza. Enquanto no estado de natureza o homem vive sem 
– 17 –
Introdução ao Estudo do Direito
regras – em um estado animalesco, porque age conforme seus sentimentos 
e impulsos –, no Estado Moderno, o homem vive conforme regras que o 
mantém civilizado. Esse Estado Moderno detém a soberania estatal e a força.
Podemos entender o Direito como um conceito mais amplo que 
o Direito Positivo, como analisa Castro (2007, p. 2), ao considerar que o 
homem não existe sem o Direito e o Direito não existe sem o homem:
Entende-se, em sentido comum, o Direito como sendo o conjunto 
de normas para a aplicação da justiça e a minimização de conflitos de 
uma dada sociedade. Estas normas, estas regras, esta sociedade não 
são possíveis sem o Homem, porque é o Ser Humano quem faz o 
Direito e é para ele que o Direito é feito.
Assim, Ráo (1991, p. 31) entende por Direito:
É o direito um sistema de disciplina social fundado na natureza 
humana que, estabelecendo nas relações entre os homens uma pro-
porção de reciprocidade nos poderes e deveres que lhes atribui, 
regula as condições existenciais dos indivíduos e dos grupos sociais 
e, em conseqüência, da sociedade, mediante normas coercitivamente 
impostas pelo poder público. 
Embora haja um grande número de definições sobre o que entendemos 
hoje por Direito, não podemos deixar de lado os fatos históricos e sociais. 
Desta forma, Venosa (2005, p. 32) lembra-nos que: 
[...] o direito é uma realidade histórica, é um dado contínuo, provém 
da experiência. Só há uma história e só pode haver uma acumula-
ção de experiência valorativa na sociedade. Não existe Direito fora 
da sociedade. (ubi societas, ibi ius, onde existe a sociedade, existe o 
direito). Daí dizer-se que no Direito existe o fenômeno da alteridade, 
isto é, da relação jurídica. Só pode haver direito onde o homem, além 
de viver, convive. Um homem que vive só, em uma ilha deserta, não é 
alcançado, em princípio, pelo Direito, embora esse aspecto moderna-
mente também possa ser colocado em dúvida. Há, portanto, particu-
laridades que distinguem a ciência do Direito das demais.
Já Kelsen (2006, p. 33) acrescenta o entendimento de sistema para defi-
nir o que é Direito:
[...] o direito é uma ordem da conduta humana. Uma “ordem” é um 
sistema de regras. O Direito não é, como às vezes se diz, uma regra. É 
um conjunto de regras que possui o tipo de unidade que entende-
mos por sistema. É impossível conhecermos a natureza do Direito 
– 18 –
Introdução ao Direito: Fundamentos, Legislação Social, Trabalhista, Comercial e Tributária
se restringirmos nossa atenção a uma regra isolada. As relações que 
concatenam as regras específicas de uma ordem jurídica também são 
essenciais à natureza do Direito. Apenas com base numa compreensão 
clara das relações que constituem a ordem jurídica é que a natureza do 
Direito pode ser plenamente entendida.
Desta maneira, percebemos que a definição de Direito é bastante com-
plexa e, por isso mesmo, há uma grande diversidade de descrições, pelos 
autores, do seu significado. Montoro (2005) traz uma divisão do conceito de 
Direito segundo o seu entendimento, analisando as diferentes concepções da 
palavra Direito segundo cinco expressões:
1. “o direito não permite o duelo”; consequentemente, podemos 
entender esta expressão como norma: neste caso, o Direito é a lei, a 
regra social obrigatória. Assim, quando dissemos “o direito nos per-
mite contratar”, estamos relacionando uma norma, uma sentença 
que nos permite, ou não, praticar determinado ato.
2. “o Estado tem o direito de legislar”; esta expressão nos remete ao 
conceito de Direito como faculdade – estamos revelando a facul-
dade, a liberdade que o Estado possui de criar leis a fim de organizar 
a convivência em sociedade. Como exemplo, podemos observar, na 
Constituição Federal brasileira de 1988, em seu Art. 22:
Compete privativamente à União legislar sobre:
I - direito civil, comercial, penal, processual, eleitoral, agrário, marí-
timo, aeronáutico, espacial e do trabalho;
II - desapropriação;
III - requisições civis e militares, em caso de iminente perigo e em 
tempo de guerra;
[...]
3. “a educação é direito da criança”; esta expressão nos revela o sentido 
de Direito como sinônimo de justo, ou por Justiça. Também na 
Constituição Federal de 1988, em seu art. 5o, caput, é afirmado que,
[...] todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, 
garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a 
inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança 
e à propriedade [...].
– 19 –
Introdução ao Estudo do Direito
4. “cabe ao direito estudar a criminalidade”. No caso desta expressão, 
o conceito de Direito refere-se ao Direito como Ciência do Direito, 
pois propõe estudar, com metodologia e rigor cientifico, os aspectos 
e fenômenos sociais que dão origem ao surgimento do direito como 
norma e da regulamentação das relações sociais. Assim, o direito 
como ciência tem a finalidade de estudar o “dever-ser” jurídico, ou 
seja, investigar e estudar as normas jurídicas, situando-as no tempo e 
no espaço. Venosa (2005, p. 34) contribui afirmando que: “Direito 
é ciência do ‘deve ser’ que se projeta necessariamente no plano da 
experiência. Para cada um receber o que é seu, o Direito é coercível, 
isto é, imposto à sociedade por meio de normas de conduta”.
5. “o direito constitui um setor da vida social”, nesta última expressão 
de Montoro, Direito significa fato social: o Direito é um fenômeno 
da vida coletiva, já que é um dos setores da vida social, ao lado dos 
fatos econômicos, sociais, culturais, entre outros. Este aspecto do 
Direito sempre existiu, uma vez que nas relações humanas sempre 
existiram regras de conduta, ainda que primitivas.
Os significados exibidos aqui são apenas uma parte das possibilidades 
de definições do “Direito”. Em outras áreas do saber, a palavra indica reta 
(segmento direito), perfeição aritmética (cálculo direito), perfeição moral 
(homem direito) ou, simplesmente, um dos lados de qualquer coisa (lado 
direito, oposto ao esquerdo) (BETIOLI, 2013).
Mas por que estudar Direito?
Porque a vida em sociedade é regida por
regras sociais e de DIREITO.
Porque é uma ciência que se entrelaça com
todos os demais ramos do conhecimento.
Porque o DIREITO tem a
função de garantir a
paz e o equilíbrio da
sociedade.
Porque os negócios
empresariais na atualidade
são fortemente regidos
pelo DIREITO.
– 20 –
Introdução ao Direito: Fundamentos, Legislação Social, Trabalhista, Comercial e Tributária
1.2.2 O que é Norma
Podemos dizer que a Norma Jurídica é a estrutura fundamental doDireito, na qual estão estampados preceitos e valores que construirão à ordem 
jurídica. Ela é o elemento responsável por regular o comportamento do 
homem, ao mesmo tempo em que consolida enunciados, determinando em 
grande medida a organização da sociedade e do Estado. Como caracterizou 
Dal Vecchio (1953), a Norma Jurídica é a “coluna vertebral” do corpo social. 
A Norma Jurídica, além de ordenar, expressa um valor que é estabelecido 
previamente por meio da própria norma.
Nem toda norma é jurídica: há as normas não jurídicas que são ape-
nas morais, de costume ou de conduta, por exemplo. Quando falamos em 
normas não jurídicas, nos referimos à norma no sentido de regra em geral; 
quando falamos em normas jurídicas, nos referimos à norma em sentido 
de regra em um âmbito estatal, da qual decorre uma imposição por parte do 
Estado, que implica, no mais das vezes, em uma sanção.
Geralmente, a Norma Jurídica acarreta como consequência uma sanção, 
aplicada quando há o não cumprimento de seu enunciado. Essa sanção é 
decorrente, por sua vez, de uma coação externa, porque advém do Estado 
por meio do ordenamento jurídico. enquanto as normas puramente morais 
podem acarretar algum tipo de coação – mas esta é de caráter interno, do 
próprio indivíduo, advém da consciência desse indivíduo.
Há teóricos do Direito que argumentam que a sanção é o elemento 
intrínseco e constituidor da Norma Jurídica. Isso significa dizer que em toda 
Norma Jurídica implicaria uma sanção ou que o ordenamento jurídico estaria 
fundado na ideia de sanção. Mas para outros teóricos do Direito, pode haver 
Norma Jurídica sem implicar em uma sanção como defende o teórico Hans 
Kelsen. Ele esclarece muito bem que a existência de normas jurídicas que não 
acarretam sanção é um fato que não pode ser ignorado. Desta forma, pode-
mos dar exemplos destas, como a parte que diz respeito à organização dos 
poderes do Estado na Constituição, no caso específico da nossa Constituição 
Federal de 1988 – esta parte encontra-se em seu Título III.
Diniz (2010, p. 387) ressalta que: “Todas as normas são imperativas 
porque fixam as diretrizes da conduta humana [...]”, pois tanto a Norma Jurí-
dica quanto a norma moral constituem norma de comportamento. Porém, 
– 21 –
Introdução ao Estudo do Direito
somente a Norma Jurídica tem a característica autorizante, o que significa 
dizer que ela tem o poder de autorizar o cumprimento do dever. Desta 
forma, podemos dizer que essa característica autorizante dá à Norma Jurí-
dica o poder de obrigatoriedade. A autora conceitua a Norma Jurídica como 
sendo bilateral.
A norma jurídica é, por conseguinte, bilateral, porque se dirige a duas 
pessoas. De um lado, como imperativo, impõe dever a determinada 
pessoa, dizendo o que ela deve fazer; de outro lado, autoriza o lesado 
pela sua violação a exigir o dever. É bilateral por ser imperativa e auto-
rizante, exemplificativamente: se alguém paga sua dívida e o credor se 
recusa a dar-lhe quitação, estará ele violando uma norma do Código 
Civil (art. 319). Em consequência, o lesado tem a autorização de exi-
gir dele, por meio do poder público, o cumprimento dessa norma e a 
quitação negada. (DINIZ, 2010, p. 387).
Desta definição de Diniz, podemos dizer que a Norma Jurídica dá ao 
indivíduo o poder de exigir o cumprimento do dever no momento em que a 
outra parte não o cumpre ou o desobedece. Seria como se a Norma Jurídica 
“emprestasse” o poder momentaneamente ao indivíduo, e esse poder, que é 
do Estado, estende-se provisoriamente ao indivíduo por meio do Direito.
Podemos confundir norma, regra e lei. Isto acontece porque, em pri-
meiro lugar, no sentido comum, nós acabamos utilizando como sinônimos 
no cotidiano; e, em segundo lugar, porque na própria doutrina jurídica os 
autores divergem quanto a algumas diferenças e semelhanças desses conceitos 
– em certa medida, esses termos se equivalem.
Para Venosa (2003, p. 37): “Lei é uma regra geral de direito, abstrata 
e permanente, dotada de sanção, expressa pela vontade de uma autoridade 
competente, de cunho obrigatório e deforma escrita”. 
Machado (2000, p. 72) enfatiza a diferença entre norma e lei quando 
diz que: “[...] a diferença entre norma e lei fica bem clara quando se constata 
que a norma é um conceito de teoria Geral do Direito, ou de Lógica Jurídica, 
enquanto lei é um conceito de Direito Positivo”.
Podemos dizer que toda lei, em sentido amplo, tem como característica 
ser uma regra que implica na necessidade. Há duas espécies de leis: as leis 
naturais e as leis jurídicas. Não podemos dizer que toda lei é uma norma, 
porque a norma é um tipo de regra que se refere apenas às ações humanas. 
– 22 –
Introdução ao Direito: Fundamentos, Legislação Social, Trabalhista, Comercial e Tributária
Desta forma, não podemos dizer que as leis da Física são normas, pois, além 
de não se referirem às ações humanas, elas dizem respeito ao “o que é”, não ao 
“que deve ser”. As leis jurídicas determinam o que deve ser, por este motivo, 
ela é uma norma prescritiva, ela prescreve a conduta.
A fim de encerrar nossa análise sobre o conceito de Norma Jurídica, 
citaremos mais algumas definições de teóricos do Direito para complementar 
e cercar suas características. Montoro (2005, p. 361) define que: “A norma 
jurídica é, em primeiro lugar, uma regra de conduta social. Seu objetivo é 
regular a atividade dos homens em relações sociais”.
Machado (2004, p. 88) complementa que as normas jurídicas:
[...] são prescrições jurídicas de caráter hipotético e eficácia repetitiva. 
Elas prescrevem comportamentos para situações descritas em caráter 
hipotético. Em outras palavras, elas fazem a previsão de condutas a 
serem adotadas nas situações que descrevem hipoteticamente.
Para Ferraz Jr. (1996, p. 115), a Norma Jurídica é um fenômeno complexo
[...] de expectativas contrafáticas, que se expressam por meio de 
proposições de dever-ser (deve, é obrigatório, é proibido, é permi-
tido, é facultado), estabelecendo-se entre os comunicadores sociais 
relações complementares institucionalizadas em alto grau (relação 
meta-complementar de autoridade/sujeito), cujos conteúdos tem um 
sentido generalizável conforme núcleos significativos mais ou me- 
nos abstratos.
A definição de Reale (2001, p. 88) sobre as Normas Jurídicas é:
O que efetivamente caracteriza uma norma jurídica, de qualquer espé-
cie, é o fato de ser uma estrutura proposicional enunciativa de uma 
forma de organização ou de conduta, que deve ser seguida de maneira 
objetiva e obrigatória. [...] Dizemos que a norma jurídica é uma 
estrutura proposicional porque o seu conteúdo pode ser enunciado 
mediante uma ou mais proposições entre si correlacionadas, sendo 
certo que o significado pleno de uma regra jurídica só é dado pela 
integração lógico-complementar das proposições que nela se contêm.
Destacamos também a definição de Diniz (2010, p. 342), ao dizer que: 
O fundamento das normas está na exigência da natureza humana 
de viver em sociedade, dispondo sobre o comportamento dos seus 
membros. As normas são fenômenos necessários para a estruturação 
ôntica do homem. E como a vida do grupo social está intimamente 
– 23 –
Introdução ao Estudo do Direito
ligada à disciplina das vidas individuais, elas fundam-se também na 
necessidade de organização na sociedade, exatamente porque não há 
sociedade sem normas de direito, que têm por objetivo uma ação 
humana, obrigando-a, permitindo-a ou proibindo-a.
Para alguns teóricos do Direito, uma norma, para ser considerada jurídica, 
ou seja, ser uma regra jurídica, precisa obedecer a três critérios: ser válida, ter 
vigência e ser eficaz. Para outros teóricos do Direito, como Kelsen e Bobbio, 
a Norma Jurídica deve ter correspondência com o que se entende por justiça, 
deve ter validade e deve ser eficaz. Veremos essas características da Norma 
Jurídica com mais detalhes posteriormente. Segundo Vasconcelos (1993, 
p. 163), para classificar as normas é necessário considerar os seguintes critérios:
[...]quanto à destinação (normas de Direito e normas de Sobredi-
reito), quanto ao modo de existência (normas explícitas e normas 
implícitas), quanto à fonte (teorias de Kelsen e Savigny, apontando 
como formas de expressão do Direito ou normas jurídicas, a lei, o cos-
tume, a jurisprudência, a doutrina e os princípios gerais do direito), 
quanto à matéria (normas de Direito Público, normas de Direito Pri-
vado e normas de Direito Social).
1.2.2.1 Classificação das Normas Jurídicas
Classificar as normas jurídicas não é um trabalho fácil, pois na doutrina 
do Direito há vários tipos e modos de classificações. Desta forma, mostra-
remos a classificação que Diniz faz em relação às normas jurídicas, pois esta 
teórica do Direito tem relevância na doutrina jurídica e sua classificação é 
muito completa.
Para Diniz (2010), as Normas Jurídicas são classificadas em sete catego-
rias e cada uma delas apresenta suas especificidades. Veja a seguir, de forma 
resumida, como a autora faz esta classificação.
I. Quanto à “imperatividade”:
1. imperatividade absoluta, ou impositiva – são de ordem 
pública, pois tutelam interesses fundamentais, ligados ao bem 
comum; ordenam ou proíbem de modo absoluto, podendo ser 
de ordem positiva ou negativa; 
2. imperatividade relativa, ou dispositiva – não ordenam nem 
proíbem de modo absoluto, podendo ser permissivas por 
– 24 –
Introdução ao Direito: Fundamentos, Legislação Social, Trabalhista, Comercial e Tributária
consentir ação ou abstenção; podem também ser supletivas, 
quando suprem a falta de manifestação de vontade das 
partes, e pode tornar-se impositiva em razão da doutrina e 
da jurisprudência.
II. Quanto ao autorizamento:
1. mais que perfeitas – autorizam a nulidade do ato praticado 
ou o restabelecimento da situação anterior e também a aplica-
ção de uma pena ao violador;
2. perfeitas – autoriza a declaração da nulidade do ato ou a pos-
sibilidade de anulação do praticado contra sua disposição, e 
não a aplicação de pena ao violador;
3. menos que perfeitas – as que autorizam a aplicação de pena 
ao violador, mas não a nulidade ou anulação do ato que as 
violou;
4. imperfeitas – aquelas cuja violação não acarreta qualquer con-
sequência jurídica.
III. Quanto à hierarquia:
1. normas constitucionais;
2. leis complementares;
3. leis ordinárias, leis delegadas, medidas provisórias, decretos 
legislativos e resoluções;
4. decretos regulamentares;
5. normas internas (despachos, estatutos, regimentos etc.);
6. normas individuais (contratos, testamentos, sentenças etc.).
IV. Quanto à natureza de suas disposições:
1. substantivas – regulam relações jurídicas ou criam direitos e 
impõem deveres;
2. adjetivas – as que regulam o modo ou o processo de efetivar as 
relações jurídicas.
– 25 –
Introdução ao Estudo do Direito
V. Quanto à aplicação:
1. de eficácia absoluta – contém força paralisante total;
2. de eficácia plena – disciplinam as relações jurídicas;
3. de eficácia relativa restringível – tem seu alcance reduzido pela 
atividade legislativa, sendo que a possibilidade de produzir 
efeitos é imediata;
4. de eficácia relativamente complementável – se a possibilidade 
de produzir efeitos é mediata, dependendo de norma posterior 
que lhe devolva a eficácia.
VI. Quanto ao poder de autonomia legislativa:
1. nacionais e locais;
2. federais, estaduais e municipais.
VII. Quanto à sistematização:
1. esparsas ou extravagantes (lei do inquilinato, do salário-família 
etc.);
2. codificadas (Código Tributário Nacional, Código Civil, 
Código Penal etc.);
3. consolidadas (Consolidação das Leis do Trabalho etc.).
Para percebermos com mais clareza que a classificação das normas jurí-
dicas difere na doutrina jurídica entre os teóricos do Direito, mostraremos a 
classificação de Máynez apontada por Nader (2012), como você pode ver no 
quadro a seguir:
Classificação das Normas Jurídicas quanto...
ao sistema a que per-
tencem.
Podem ser nacionais, estrangeiras e de Direito uniforme.
à fonte.
Podem ser legislativas, consuetudinárias e 
jurisprudenciais.
– 26 –
Introdução ao Direito: Fundamentos, Legislação Social, Trabalhista, Comercial e Tributária
Classificação das Normas Jurídicas quanto...
aos diversos âmbitos 
de validez.
Âmbito espacial de validez: gerais e locais. Âmbito 
temporal de validez: de vigência por prazo indeterminado 
e de vigência por prazo determinado. Âmbito material de 
validez: normas de Direito Público e de Direito Privado. 
Âmbito pessoal de validez: genéricas e individualizadas.
à hierarquia.
Dividem-se em: constitucionais, complementares, 
ordinárias, regulamentares e individualizadas.
à sanção.
Dividem-se em: leges perfectae, leges plus quam per-
fectae, leges minus quam perfectae, leges imperfectae.
à qualidade.
Podem ser: positivas (ou permissi-
vas) e negativas (ou proibitivas).
às relações de com-
plementação.
Primárias e secundárias. As secundárias são das 
espécies: a) de iniciação, duração e extinção da 
vigência; b) declarativas ou explicativas; c) per-
missivas; d) interpretativas; e) sancionadoras.
à vontade das partes. Dividem-se em taxativas e dispositivas.
Fonte: Adaptado de NADER, 2012.
No entendimento de Reale (2001, p. 89) sobre a classificação das nor-
mas, podemos relatar que:
[...] há regras de direito cujo objetivo imediato é disciplinar o com-
portamento dos indivíduos, ou as atividades dos grupos e entidades 
sociais em geral; enquanto que outras possuem um caráter instrumen-
tal, visando à estrutura e funcionamento de órgãos, ou à disciplina de 
processos técnicos de identificação e aplicação de normas, a fim de 
assegurar uma convivência juridicamente ordenada. Surge, desse fato, 
a tendência natural a considerar primárias as normas que enunciam 
as formas de ação ou comportamento lícitos ou ilícitos; e secundárias 
as normas de natureza instrumental.
Ao analisarmos a diferença existente entre a classificação das normas 
jurídicas, podemos dizer que não há um padrão estabelecido pela doutrina 
em relação à unificação dessa classificação. Quanto à desigualdade nos termos 
classificatórios, Vasconcelos (1993, p. 163) afirma que:
– 27 –
Introdução ao Estudo do Direito
[...] tal diversidade classificatória não decorre de meras razões pessoais 
de ordem doutrinária e que, mesmo restritas ao meio acadêmico tais 
classificações não perdem sua importância, já que se tornam indispen-
sáveis do ponto de vista da prática jurídica, por motivos metodológi-
cos de ordenação dos conhecimentos.
As classificações aqui apresentadas, de Diniz e de Máynez, abrangem 
apenas duas perspectivas acerca das diferentes maneiras de classificar uma 
Norma Jurídica. Desta forma, não esgotam o assunto; pelo contrário, nos 
mostra que o tema é muito amplo, com muitas discussões.
1.2.2.2 Validade, vigência e eficácia da Norma Jurídica
Em relação à validade da Norma Jurídica, podemos dizer que esta é uma 
qualidade própria. Para se caracterizar assim, é necessário que essa norma seja 
válida de acordo com o ordenamento jurídico em que se insere. Por meio desta 
perspectiva, Ferraz Jr. (2008, p. 71) define a validade da Norma Jurídica:
Validade é uma qualidade da norma que designa sua pertinência 
ao ordenamento, por terem sido obedecidas as condições formais e 
materiais de sua produção e consequente integração no sistema. Por 
sua vez, a vigência seria “uma qualidade da norma que diz respeito 
ao tempo de validade, ao período que vai do momento em que ela 
entra em vigor (passa a ter força vinculante) até o momento em que 
é revogada/extinta.
Quando falamos que a norma tem força vinculante, queremos dizer que 
ela foi aprovada juridicamente, contendo força de lei, e que essa “força” se 
estende aos terceiros, que são todos os cidadãos de determinado território 
cujo ordenamento está em vigor. Portanto, a qualidade de ser válida é essen-
cial para que a norma se torne uma norma efetivamente jurídica e que seja 
“absorvida” pelo ordenamento jurídico. Essa força vinculante depende do 
cumprimento detodas as etapas legais, como ressalta Venosa (2007, p. 103): 
“[...] para sua validade, é necessário que todas as etapas legais de sua elabora-
ção tenham sido obedecidas”.
Para Vasconcelos (1993, p. 225-226), a validade da Norma Jurídica é 
uma categoria cuja análise e aprovação é uma questão formal.
Na categoria da validade, examinam-se as condições existenciais da 
norma jurídica, o que requer apenas o emprego de critérios técnicos, 
sendo tal abordagem, portanto, eminentemente formal. Pretende-se 
– 28 –
Introdução ao Direito: Fundamentos, Legislação Social, Trabalhista, Comercial e Tributária
apurar se a norma, de que se trata, é formalmente boa, a saber, se 
admite as provas de aferição relativas à juridicidade, à positividade, 
à vigência e à eficácia. Da norma que resistir a tal análise, só se pode 
afirmar, ainda, que existe validamente como norma jurídica.
A aprovação formal desta norma – o que corresponde a sua validade 
– torna-lhe uma regra jurídica ou, como vimos, torna-lhe uma norma com 
força vinculante. Em relação a esta formalização e objetivação, por assim 
dizer, da Norma Jurídica, Bobbio (2005, p. 46-47) expressa muito bem a 
diferença entre uma análise formal e uma moral.
Enquanto para julgar a justiça de uma norma, é preciso compará-la 
a um valor ideal, para julgar a sua validade é preciso realizar investi-
gações do tipo empírico-racional, que se realizam quando se trata de 
estabelecer a entidade e a dimensão de um evento.
Já o professor e desembargador Rizzatto Nunes (2001, p. 5) atribui à 
validade da norma tanto ao aspecto técnico-jurídico, ou formal, quanto ao 
aspecto da legitimidade, conforme exposto:
No primeiro caso, fala-se de a norma jurídica ser válida quando criada 
segundo os critérios já estabelecidos no sistema jurídico [...] No 
outro, fala-se do fundamento axiológico, cuja incidência ética seria a 
condição que daria legitimidade à norma jurídica, tornando-a válida.
Para Diniz (2010), a validade da Norma Jurídica obedece a três requisi-
tos necessários. Em primeiro lugar, a validade jurídica tem caráter formal, ou 
técnico-jurídica, por conta da vigência; em segundo, a validade tem caráter 
fático, por conta da eficácia; e em terceiro, a validade da Norma Jurídica tem 
caráter ético, por conta do fundamento axiológico. Montoro (1973, p. 146) 
segue esta mesma posição de Diniz quando afirma que a validade da Norma 
Jurídica também se relaciona com o caráter ético, ao dizer que: “Toda norma 
jurídica tem, assim, um âmbito temporal, espacial, material e pessoal, dentro 
dos quais ela tem vigência ou validade”.
Porém, é importante ressaltar que, na visão de Diniz, a validade pode 
ser entendida como um gênero da Norma Jurídica e que a justiça, a eficácia 
e a vigência são espécies deste gênero. A validade como gênero conteria, de 
certa forma, os elementos vigência, eficácia e justiça. Já para outros teóricos 
do Direito, a validade, a justiça e a eficácia estariam no mesmo nível de clas-
sificação referentes à Norma Jurídica e seriam critérios de valoração, como 
entendem Kelsen (2000) e Bobbio (1997). 
– 29 –
Introdução ao Estudo do Direito
Para Kelsen (2000), estes três elementos são independentes entre si, pois 
uma norma, segundo ele, pode ser justa sem ser válida, pode também ser 
válida sem ser justa, pode ser válida sem ser eficaz, pode ser eficaz sem ser 
válida, pode ser justa sem ser eficaz e pode ser eficaz sem ser justa. Na visão de 
Bobbio (1997), ao tratar da solução dos conflitos gerados pela antinomia de 
duas normas válidas, a existência de quatro âmbitos distintos de validade da 
Norma Jurídica são apontados: temporal, espacial, pessoal e material.
A questão da validade jurídica das normas e do ordenamento jurídi-
cos é uma questão zetética, portanto uma questão aberta. Do ângulo 
dogmático, a questão é fechada. Por isso, sua formulação é diferente. 
Em vez de se perguntar que é validade e como se define validade jurí-
dica, pergunta-se pela identificação da validade das normas de dado 
ordenamento O problema dogmático da validade das normas é, pois, 
questão de identificá-las no ordenamento brasileiro, alemão, francês, 
americano etc. A questão é tecnológica. Nesse sentido, a validade das 
normas do ordenamento  brasileiro não é  definida,  mas assinalada: 
cumpre ao dogmático mostrá-la e, se necessário, demonstrá-la. (FER-
RAZ JR., 1994, p. 196).
Como vimos, para Diniz (2006, p. 393-394), a vigência é um aspecto 
da validade formal. Desta forma, são elencados três aspectos fundamentais, os 
quais são primeiramente classificados por Reale, para que a vigência se efetue:
1o) elaboração por um órgão competente, que é legítimo por 
ter sido constituído para tal fim;
2o) competência ratione materiae do órgão, isto é, a matéria objeto da 
norma deve estar contida na competência do órgão;
3o) observância dos processos ou procedimentos estabelecidos em lei 
para sua produção. (DINIZ, 2006, p. 394).
É interessante acrescentarmos como o jurista e filósofo Hans Kelsen 
(2000, p. 11) define vigência:
Com a palavra “vigência” designamos a existência específica de uma 
norma. Quando descrevemos o sentido ou o significado de um ato 
normativo dizemos que, com o ato em questão, uma qualquer con-
duta humana é preceituada, ordenada, prescrita, exigida, proibida; ou 
então consentida, permitida ou facultada. Se, como acima propusemos, 
empregarmos a palavra “dever ser” num sentido que abranja todas estas 
significações, podemos exprimir a vigência (validade) de uma norma 
dizendo que certa coisa deve ou não deve ser, deve ou não ser feita.
– 30 –
Introdução ao Direito: Fundamentos, Legislação Social, Trabalhista, Comercial e Tributária
Quando Kelsen (2000) se refere à existência da norma, ele quer dizer 
que a sua vigência está diretamente relacionada com a sua duração no tempo, 
pois podemos dizer que a norma tem um início, assim como tem um fim. Da 
mesma forma que a vigência confere à norma caráter de validade, o “dever 
ser” da norma também configura validade a esta, desde que este “dever ser” 
tenha uma consequência vinculante entre o conteúdo da norma e a Norma 
Fundamental, e que estejam ligadas a um ordenamento válido. Sobre o con-
ceito de Norma Fundamental, estudaremos mais adiante.
Podemos citar mais um teórico do Direito a fim de encerrarmos nossa aná-
lise acerca do conceito de “vigência”. Carvalho (1999, p. 82), por sua vez, explica:
Viger é ter força para disciplinar, para reger, cumprindo a 
norma seus objetivos finais. A vigência é propriedade das 
regras jurídicas que estão prontas para propagar efeitos, tão 
logo aconteçam, no mundo fático, os eventos que elas des-
crevem. Há normas que existem e que, por conseguinte, são 
válidas no sistema, mas não dispõem dessa aptidão. A despeito 
de ocorrerem os fatos previstos em sua hipótese, não se desen-
cadeiam as consequências estipuladas no mandamento. Dizemos 
que tais regras não têm vigor, seja porque já o perderam, seja porque 
ainda não o adquiriram.
O que Carvalho quer dizer com vigor, podemos entender como eficácia. 
Bobbio (2005, p. 47) bem explica que: “[...] o problema da eficácia da norma 
é o problema de ser ou não ser seguida pelas pessoas a quem é dirigida [...]”, 
pois há normas que podem ser vigentes mas, ao mesmo tempo, não serem 
eficazes, por exemplo, algumas leis ambientais e algumas normas do antigo 
Código Penal brasileiro.
Podemos dizer também que há graus diferentes de eficácia. Quando, 
por exemplo, uma norma é seguida espontaneamente e de maneira universal, 
falamos que ela é mais eficaz; quando as normas estão munidas de coação 
e só por esta razão são seguidas, dizemos que elas são apenas eficazes; mas 
quando uma norma não é obedecida nem quando impõem sansão, falamos 
que esta norma é ineficaz.
Diniz (2010, p. 396-397) classifica a eficácia em quatro tipos: a eficácia 
absoluta, que são as insuscetíveis de emenda (p. ex.: CF, arts. 1o, 2o, 5o, I, a 
LXXVII, e 14); a eficácia plena, que disciplina as relações jurídicas (p. ex.:– 31 –
Introdução ao Estudo do Direito
arts. 14, , 69, 155 e 156 da Constituição Federal); a eficácia relativa restrin-
gível, que tem seu alcance reduzível pela atividade legislativa (p. ex.: CF, arts. 
5o, XII e LXVI, 139 e 170); a eficácia relativa complementável, na qual sua 
possibilidade de produzir efeitos é mediata (p. ex.: arts. 205 e 218 da CF).
Ao analisarmos a eficácia da norma, devemos considerar dois segmentos, 
que são a eficácia social e a jurídica. Assim elucida Ferraz Jr. (2008):
Eficácia é uma qualidade da norma que se refere à possibilidade de 
produção concreta de efeitos, porque estão presentes as condições 
fáticas exigíveis para sua observância, espontânea ou imposta, ou para 
satisfação de objetivos visados (efetividade ou eficácia social), ou por-
que estão presentes as condições técnico-normativas exigíveis para sua 
aplicação (eficácia técnica).
De forma muito clara, Diniz (2010, p. 407) define, ao explicar eficácia 
social: “A eficácia social seria a efetiva correspondência da norma ao querer 
coletivo, ou dos comportamentos sociais ao seu conteúdo”.
Segundo Silva (1999, p. 65), a eficácia social:
[...] designa uma efetiva conduta acorde com a prevista pela 
norma; refere-se ao fato de que a norma é realmente obedecida 
e aplicada; nesse sentido, a eficácia da norma diz respeito, como 
diz Kelsen, ao “fato real de que ela é efetivamente aplicada e 
seguida, da circunstância de uma conduta humana conforme à 
norma se verificar na ordem dos fatos”. É o que tecnicamente 
se chama efetividade da norma. Eficácia é a capacidade de atin-
gir objetivos previamente fixados como metas.
Ainda Silva (1999, p. 66), referindo-se à eficácia jurídica, afirma que:
[...] se diz que a eficácia jurídica da norma designa a qualidade de 
produzir em maior ou menor grau, efeitos jurídicos, ao regular, desde 
logo, as situações, relações e comportamentos de que cogita; nesse 
sentido, a eficácia diz respeito à aplicabilidade, exigibilidade ou exe-
cutoriedade da norma, como possibilidade de sua aplicação jurídica.
Diniz (1995) nos apresenta a interação entre vigência, validade e eficá-
cia. Como se vê, a eficácia é condição da validade na sua teoria, pois a eficácia 
é a validade fática; a eficácia seria uma espécie de validade.
A eficácia de uma norma consiste em que esta é, em geral, efetiva-
mente cumprida e, se não cumprida, é aplicada. A validade consiste 
– 32 –
Introdução ao Direito: Fundamentos, Legislação Social, Trabalhista, Comercial e Tributária
em que a norma deve ser cumprida, ou, se não o for, deve ser apli-
cada. Assim, se uma norma proíbe matar animal de uma certa espécie, 
ao ligar a tal matar uma pena como sanção, perderia sua validade se 
aquela espécie de animal desaparecesse e, por conseguinte, não fosse 
possível nem o cumprimento nem a aplicação da norma jurídica. 
(DINIZ, 1995, p. 47).
Bobbio (1997, p. 47) nos explica que:
Não é nossa tarefa aqui indagar quais possam ser as razões para que 
uma norma seja mais ou menos seguida. Limitamo-nos a consta-
tar que há de existir normas que são seguidas universalmente de 
modo espontâneo (e são as mais eficazes), outras que são seguidas na 
generalidade dos casos somente quando estão providas de coação, e 
outras, enfim, que são violadas sem que nem sequer seja aplicada 
a coação (e são as mais ineficazes). A investigação para averiguar a 
eficácia ou a ineficácia de uma norma é de caráter histórico-socio-
lógico, se volta para o estudo do comportamento dos membros de 
um determinado grupo social e se diferencia, seja da investigação 
tipicamente filosófica em torno da justiça, seja da tipicamente jurí-
dica em torno da validade. Aqui também, para usar a terminologia 
douta, se bem que em sentido diverso do habitual pode se dizer que 
o problema da eficácia das regras jurídicas é o problema fenomeno-
lógico do direito.
Porém, como há os teóricos que aceitam que há Norma Jurídica mesmo 
com graus diferentes de eficácia e que uma Norma Jurídica pode ser dita 
ineficaz, como visto anteriormente em Bobbio (1995), há outros teóri-
cos, como Reale (1998), que denominam como Norma Jurídica apenas 
se nela contiver um mínimo de eficácia; se ela for ineficaz, já por defini-
ção, não será uma Norma Jurídica. No entendimento de Reale (1998, p. 
112), “A eficácia se refere, pois, à aplicação ou execução da norma jurí-
dica, ou por outras palavras, é a regra jurídica enquanto momento da 
conduta humana”.
Nas palavras de Reale (1998, p. 112):
O certo é, porém, que não há norma jurídica sem um mínimo de 
eficácia, de execução ou aplicação no seio do grupo.
O Direito autêntico não é apenas declarado, mas reconhecido, é 
vivido pela sociedade, como algo que se incorpora e se integra na sua 
maneira de conduzir- se. A regra de direito deve, por conseguinte, ser 
formalmente válida e socialmente eficaz. 
– 33 –
Introdução ao Estudo do Direito
Desta forma, para este autor, a Norma Jurídica caracteriza-se como 
tal somente a partir da existência destes dois fatores: validade e eficácia, 
pois, para ele, estes elementos seriam inseparáveis, ao se tratar de Nor- 
ma Jurídica.
Para Diniz, além da eficácia e da vigência, a justiça é outro elemento ou 
uma espécie de validade da Norma Jurídica. Para a autora, a justiça corres-
ponde à validade ética e ao fundamento axiológico da Norma Jurídica.
Quanto a isso, esperamos ter exposto os principais critérios de classifi-
cação das normas jurídicas. Existem diversos critérios e várias outras inter-
pelações que podem ser analisáveis, pois a doutrina jurídica, assim como a 
ciência do Direito, procura, como prioridade, solucionar conflitos e definir 
conceitos jurídicos.
1.2.3 Teoria da Norma Fundamental
A teoria da Norma Fundamental foi criada por Kelsen e trata-se da ideia de 
uma norma que serve como fundamento ou base para todas as outras normas do 
mesmo ordenamento. Conforme apresentado por Kelsen (1998, p. 136):
A norma fundamental é a fonte comum da validade de todas as nor-
mas pertencentes a uma e mesma ordem normativa, o seu funda-
mento de validade comum. O fato de uma norma pertencer a uma 
determinada ordem normativa baseia-se em que o seu último funda-
mento de validade é a norma fundamental desta ordem. É a norma 
fundamental que constitui a unidade de uma pluralidade de normas 
enquanto representa o fundamento da validade de todas as normas 
pertencentes a essa ordem normativa.
Segundo Bobbio (1995), existe uma Norma Fundamental para cada 
ordenamento, e essa norma é responsável por dar unidade a todas as demais 
normas que se encontram espalhadas e que possuem variadas origens.
As normas respeitam critérios de hierarquia dentro do ordenamento 
jurídico, conforme nos mostra Bobbio (1995, p. 49):
Há normas superiores e normas inferiores. As inferiores dependem 
das superiores. Subindo das normas inferiores àquelas que se encon-
tram mais acima, chegamos a uma norma suprema, que não depende 
de nenhuma outra norma superior, e sobre a qual repousa a unidade 
do ordenamento. Essa norma suprema é a norma fundamental.
– 34 –
Introdução ao Direito: Fundamentos, Legislação Social, Trabalhista, Comercial e Tributária
A princípio, Kelsen formula sua teoria da Norma Fundamental argumen-
tando que ela seria uma hipótese no ordenamento jurídico. Porém, em seu 
livro “Teoria Geral das Normas”, reconceitua essa teoria entendendo que ela 
não seria uma hipótese, mas uma ficção. Primeiramente precisamos entender 
o que é a Norma Fundamental para depois explicá-la como sendo uma ficção.
A Norma Fundamental fundamenta a validade de um ordenamento 
jurídico, ou seja, ela é a norma primária, originária, na qual todas as outras 
normas (ditas como secundárias) estariam em conformidade com ela. 
Em outras palavras, a Norma Fundamental, ou primária, é aquela que 
descreve uma conduta, enquanto a norma secundária prescreve uma sanção. 
É interessante analisarmos as próprias palavras de Kelsen (1986, p. 9):
Admite-se que a distinção de uma norma que descreve uma certa con-
dutae de uma norma que prescreve uma sanção para o fato de viola-
ção da primeira é essencial para o Direito, então precisa-se qualificar a 
primeira como norma primária e a segunda, como norma secundária 
– e não ao contrário, como o foi por mim anteriormente formulado. 
[...] Costuma-se diferenciar entre normas jurídicas que impõem uma 
conduta fixada e normas jurídicas que ligam uma sanção à conduta 
contra essas normas, para distinguir entre normas jurídicas primárias 
e secundárias, como, porventura: Não se deve furtar; se alguém furta 
deve ser punido. Mas a formulação da primeira de ambas as normas 
é supérflua, visto que o não-dever-furtar juridicamente só existe no 
dever-ser-punido ligado à condição do furto.
Portanto, a Norma Fundamental valida todas as outras normas: se outra 
norma a legitimasse, ela não seria a fundamental. Então, ela não precisa, em 
uma definição lógica, ser validada; precisa ser presumida pelo pensamento.
Para se compreender a forma como as normas jurídicas se estruturam e 
se correlacionam, deve-se ter em mente que nenhuma norma tem existência 
isolada, independente, solitária. Ao contrário, as normas jurídicas convivem 
umas com as outras, entrelaçam-se, complementam-se, ajustam-se reciproca-
mente, conjugando-se de forma harmoniosa (KELSEN, 1986).
1.3 Ordenamento jurídico
O ordenamento jurídico é um conjunto de normas jurídicas organizadas 
que precisam ser coerentes e válidas entre si.
– 35 –
Introdução ao Estudo do Direito
O ensinamento a partir do ordenamento jurídico é complexo, pois 
estes, em geral, têm um número muito grande de normas que não devem 
ser contraditórias entre si. As normas de um ordenamento jurídico devem 
obedecer à validade correspondente entre elas e devem ser coerentes entre 
si. Ao falarmos em ordenamento jurídico, não podemos deixar de citar a 
teoria da hierarquia das normas de Kelsen, conhecida também como teo-
ria da pirâmide das normas jurídicas, pois esta teoria, além de clássica no 
Direito, é seguida pela doutrina jurídica em geral como a teoria fundamen-
tal do ordenamento jurídico.
A teoria da pirâmide das normas aceita o pressuposto de que o ordena-
mento jurídico corresponde a um conjunto de normas que se estabelecem 
de forma organizada e que seguem uma hierarquia. Esta obedece à seguinte 
ordem: em primeiro lugar, está a norma constitucional como a principal e 
mais elevada Norma Jurídica; em segundo lugar, estão as normas gerais; e, em 
último lugar, estão as normas individualizadas. Por normas gerais, entende-
mos as leis, os costumes, os decretos e a jurisprudência. Por normas individu-
alizadas, entendemos as decisões judiciais e os negócios jurídicos.
Então, podemos elencar em ordem hierárquica as normas jurídicas 
segundo a teoria da hierarquia das normas de Kelsen:
1. constituição;
2. emendas constitucionais;
3. leis complementares;
4. leis ordinárias;
5. leis delegadas;
6. medidas provisórias;
7. decretos;
8. resoluções;
9. instruções normativas;
10. portarias;
11. contratos e sentenças.
– 36 –
Introdução ao Direito: Fundamentos, Legislação Social, Trabalhista, Comercial e Tributária
1. A Constituição Federal é a norma hierarquicamente mais ele-
vada, sendo que todas as normas abaixo dela precisam obri-
gatoriamente estabelecer uma relação de coerência com esta.
2. A emenda constitucional modifica algumas partes do texto 
constitucional originário, sem a necessidade de este ser substi-
tuído totalmente.
3. A lei complementar se diferencia da lei ordinária por exigir um 
quorum de aprovação referente a sua formação. Este quorum 
é de maioria absoluta. A finalidade da lei complementar é de 
complementar o texto constitucional.
4. A lei ordinária exige um quorum de votação de maioria sim-
ples para ser criada. Sua finalidade é de criar normas gerais 
e abstratas.
5. De acordo com o art. 68 da CF/88, “As leis delegadas serão 
elaboradas pelo presidente da República, que deverá solicitar a 
delegação ao Congresso Nacional”.
6. A medida provisória é executada pelo presidente da República; 
em casos de urgência e relevância, tem força de lei. 
7. Os decretos são ordens que podem ser provenientes de autori-
dade superior ou órgãos. São atos administrativos.
8. As resoluções são provenientes do Poder Legislativo. Vide arts. 
155, VI, 51, 52, 59,VII, 68§§ 2o e 3o da CF/88.
9. Instruções normativas são atos normativos.
10. A portaria se caracteriza por ser um documento derivado de 
um ato normativo.
11. O contrato é um negócio jurídico que estipula vínculo jurí-
dico entre, pelo menos, dois sujeitos de direito.
Bobbio (1995) menciona que os ordenamentos jurídicos são com-
postos por uma quantidade incontável de normas que não podem deixar 
de ser criadas, pois precisam satisfazer as variadas necessidades da socie-
dade. Essas necessidades tornam-se cada vez maiores com o desenvolvi-
– 37 –
Introdução ao Estudo do Direito
mento das sociedades, consequentemente há a regulamentação de novas 
normas jurídicas.
Estas necessidades fazem com que os ordenamentos jurídicos se tor-
nem complexos, pois, como as necessidades mudam com o tempo, há o 
surgimento de novas necessidades e há também a necessidade da extin-
ção de algumas normas. Mas o ponto crucial de um ordenamento jurí-
dico é a questão da validade da norma. Esta não pode ser contraditória 
com o restante do ordenamento, a começar pela Constituição. De acordo 
com Dantas (2005, p. 9), “A complexidade de um ordenamento jurídico 
advém do fato de que a necessidade de regras de conduta, seja qual for 
a sociedade, é tamanha que não há poder ou órgão capaz de satisfazê- 
las sozinho”.
Por definição, um ordenamento jurídico deve ter, pelo menos, duas nor-
mas, pois se tiver apenas uma norma não será considerado um ordenamento 
jurídico. Na prática, no entanto, os ordenamentos jurídicos são um conjunto 
com um número quase incontável de normas. Para cada estado, há um orde-
namento jurídico diferente, constituído a partir das necessidades de regulação 
das condutas de cada nação. 
Bobbio (1995, p. 34) menciona que: “[...] se um ordenamento jurídico 
é composto de mais de uma norma, disso advêm que os principais problemas 
mais conexos com a existência de um ordenamento são os que nascem das 
relações das diversas normas entre si”.
De acordo com a teoria de Kelsen sobre a validade das normas de um 
ordenamento jurídico, o fundamento de validade de toda norma deve estar 
amparada na Norma Fundamental. Como vimos no tópico anterior, a Norma 
Fundamental valida todas as outras normas do ordenamento. A princípio, 
Kelsen chama a Norma Fundamental de hipotética, mas em seus últimos 
trabalhos, Kelsen a denomina não mais como hipotética, mas como ficcional. 
Por conta da teoria da Norma Fundamental é que podemos dizer que o orde-
namento jurídico é um sistema porque todas as normas são válidas de acordo 
com a Norma Fundamental.
Podemos dizer que o ordenamento jurídico não aceita normas contrá-
rias entre si: se houver contradição, há antinomia. Por antinomia jurídica, 
entende-se a contradição existente entre normas jurídicas, e essa contradição 
– 38 –
Introdução ao Direito: Fundamentos, Legislação Social, Trabalhista, Comercial e Tributária
pode ser real ou aparente. De acordo com Bobbio (1995), a antinomia das 
normas é uma das maiores dificuldades que os juristas encontram.
Com base na Teoria Geral do Direito, apontamos a origem do grego 
Anti = oposição + nomos = norma, conceituando antinomia como “Conflito 
entre duas normas jurídicas, cuja solução não se acha prevista na ordem jurí-
dica” (AQUAVIVA, 2003).
Bobbio (1995, p. 49) menciona também que:
Devido à tendência de cada ordenamento jurídico se constituir em 
sistema, a presença de antinomias em sentido próprio é um defeito 
que o intérprete tende a eliminar. Como antinomia significa o encon-
tro de duas preposições incompatíveis, que não podem ser ambas ver-
dadeiras, e, com referência a um sistema normativo, o encontro de 
duas normas que não podem ser ambas aplicadas,a eliminação do 
inconveniente não poderá consistir em outra coisa senão a eliminação 
de uma das duas normas (no caso de normas contrárias também a 
eliminação das duas).
Só existirá antinomia real se, depois da análise acertada das duas normas, 
a divergência entre elas permanecer. E por isso é conhecida como a diver-
gência entre duas normas contraditórias, proveniente de poderes eficazes em 
uma mesma esfera normativa, a qual coloca o sujeito responsável por aplicar 
o Direito, em um ponto injustificável de seleção, não podendo escolher por 
uma delas sem ferir a outra.
Como ressalta Raz (1974, p. 94-95), “A funcionalidade, portanto, de 
uma norma (hipotética) fundamental é estabelecer a nota da unidade de um 
ordenamento jurídico, pois, o ordenamento jurídico não é um conjunto de 
normas escolhidas ao acaso”.
Para Ferraz Jr. (2008, p. 171-173), o ordenamento jurídico,
Em termos mais elaborados, consolida um sistema dinâmico, aberto, 
coeso, heterogêneo e circular, composto de elementos normativos e 
não normativos, associados a regras estruturais, norteado pelas ideo-
logias (de origem interna ou externa) em voga naquele corpo coletivo.
Ferraz Jr. (2008, p. 172-173) conceitua o ordenamento jurídico como 
um sistema:
O ordenamento jurídico se caracteriza como sistema, conjunto de 
contornos identificáveis (sabe-se o que está dentro e o que está fora), 
– 39 –
Introdução ao Estudo do Direito
formado por repertório (feixe de elementos normativos e não norma-
tivos interligados) e estrutura (somatório de regras estruturais e das 
relações por elas estabelecidas). 
Os ordenamentos jurídicos, para Bobbio (1995), podem ser simples ou 
complexos, dependendo das normas que os compõem. Ordenamentos deri-
vados de juristas e historiadores são caracterizados como complexos.
Segundo Bobbio (1995, p. 38), “a complexidade de um ordenamento 
jurídico deriva do fato de que a necessidade de regras de conduta numa socie-
dade é tão grande que não existe nenhum poder (ou órgão) em condições de 
satisfazê-la sozinho”.
Muitas são as definições dadas pelos autores aqui citados sobre o 
ordenamento jurídico. Podemos, então, dizer que o ordenamento é um 
conjunto de normas jurídicas com uma configuração ordenada ou categorizada; 
há estágios distintos, com as normas mais resistentes, e estágios secundários, 
com as normas mais inferiores. Em resumo, no estágio superior, ficam as 
normas constitucionais; posteriormente, as normas legais; seguidamente, as 
normas julgadas; e, por último, as normas contratuais.
1.3.1 Teoria das lacunas
Em um ordenamento jurídico no qual há ausência de determinadas nor-
mas, estas são chamadas de lacunas. Já em um ordenamento jurídico em que 
não há lacunas, chama-se de ordenamento completo.
Para Bobbio (1995, p. 49):
Por “completude” entende-se a propriedade pela qual um ordenamento 
jurídico tem uma norma para regular qualquer caso. Uma vez que a falta 
de uma norma se chama geralmente “lacuna” (num dos sentidos do termo 
“lacuna”), “completude” significa “falta de lacunas”. Em outras palavras, 
um ordenamento é completo quando o juiz pode encontrar nele uma 
norma para regular qualquer caso que se lhe apresente, ou melhor, não 
há caso que não possa ser regulado com uma norma tirada do sistema.
Segundo Lemke (2005), lacuna da lei é a ausência da norma legal para 
determinado caso concreto. O referido autor cita Larenz e expõe que lacuna 
“[...] significa a ausência de uma regra determinada, que seria de se esperar no 
contexto global daquele sistema jurídico” (LARENZ apud LEMKE, 2005, 
p. 10-11).
– 40 –
Introdução ao Direito: Fundamentos, Legislação Social, Trabalhista, Comercial e Tributária
Segundo Kelsen (1998, p. 172), a teoria das lacunas no ordenamento 
jurídico é errônea, pois, para ele:
Esta teoria é errônea, pois funda-se na ignorância do fato de que, 
quando a ordem jurídica não estatui qualquer dever de um indivíduo 
de realizar determinada conduta, permite esta conduta. A aplicação 
da ordem jurídica vigente não é, no caso em que a teoria tradicional 
admite a existência de uma lacuna, logicamente impossível. Na ver-
dade, não é possível, neste caso, a aplicação de uma norma jurídica 
singular. Mas é possível a aplicação da ordem jurídica - e isso também 
é aplicação do Direito.
Por sua vez, Diniz (2002, p. 70) conceitua as lacunas dizendo que elas 
são “[...] faltas ou falhas de conteúdos de regulamentação jurídico-positiva 
para determinadas situações fáticas, que admitem sua remoção por uma deci-
são judicial jurídico-integradora”.
São muitas as classificações das lacunas, com relações bastante diferentes 
e com perspectivas distintas. A fim de preservar que o tema fique monótono, 
relacionamos as principais a respeito das lacunas. 
A mais antiga das classificações se deve a Zitelmann, segundo o qual 
as lacunas se dividem em autênticas e não autênticas. Aquelas serão obser-
vadas quando a lei não dispor de resposta para determinado caso concreto, 
enquanto estas serão vislumbradas quando a lei apresentar uma solução inde-
sejável para determinado fato-tipo. Neste ínterim, considera-se que a solução 
prevista pela lei é insatisfatória. A autora observa que apenas a lacuna autên-
tica é uma lacuna jurídica, considerada propriamente dita, pois a não autên-
tica é apenas uma lacuna política ou crítica (DINIZ, 2002).
Bobbio (1995), de outro turno, estabelece a existência de lacunas reais 
(iure conditio) e lacunas ideológicas, ou impróprias (iure condendo). Nesta 
classificação, as lacunas reais são lacunas propriamente ditas, enquanto as 
lacunas ideológicas surgem a partir de uma confrontação entre o que é um 
sistema real e um sistema ideal, significando a ausência de Norma Justa.
Diniz (2002) lembra que a doutrina alemã distinguiu as lacunas em 
primárias, ou originárias, e secundárias, posteriores ou derivadas. As pri-
meiras existem desde o surgimento da norma, e as segundas são as que 
aparecem posteriormente, decorrendo de modificações nos valores ou das 
situações de fato.
– 41 –
Introdução ao Estudo do Direito
Lemke (2005, p. 11), por sua vez, expõe a distinção entre as lacunas 
normativas e as axiológicas. As primeiras referem-se à ausência de solução 
no sistema, e, quando se trata das últimas, não há ausência de regra, mas sim 
uma regra insatisfatória ou injusta na opinião do aplicador da decisão: “[...] as 
normativas levam a uma interpretação praeter legem, enquanto as axiológicas 
produzem uma interpretação contra legem”.
Perelman (2004, p. 67) destaca a classificação das lacunas em intra 
legem, praeter ou contra legem. A lacuna intra legem resulta da omissão do 
legislador. As praeter legem “[...] são criadas pelos intérpretes que, por uma 
ou outra razão, pretendem que certa área deveria ser regida por uma dis-
posição normativa, quando não o é expressamente [...]”. Já a lacuna contra 
legem pode ser dita como o “[...] encontro às disposições expressas da lei, é 
também criada pelos intérpretes, que, desejando evitar a aplicação da lei, em 
dada espécie, restringem-lhe o alcance introduzindo um princípio geral que a 
limita.” (PERELMAN, 2004, p. 66-67).
Para finalizar, Diniz (2002, p 95) menciona que:
[...] ante a consideração dinâmica do direito e a concepção multifária 
do sistema jurídico, que abrange um subsistema de normas, de fatos 
e de valores, [...] três são as principais espécies de lacunas: 1ª) nor-
mativa, quando se tiver ausência de norma sobre determinado caso; 
2ª) ontológica, se houver norma, mas ela não corresponder aos fatos 
sociais, (por exemplo, o grande desenvolvimento das relações sociais e 
o progresso técnico acarretarem o ancilosamento da norma positiva); 
e 3ª) axiológica, no caso de ausência de norma justa, ou seja, quando 
existe um preceito normativo, mas, se for aplicado, sua solução será 
insatisfatória ou injusta.
De acordo com o que foi exposto, existem muitas outras categorizações. 
Contudo, as apresentadas aqui são consideradas as mais relevantes para o 
entendimento do tema.
1.4

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