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SOLDAGEM E CONFORMAÇÃO AULA 2 Prof. Pablo Deivid Valle 2 CONVERSA INICIAL Segundo Helman e Cetlin (2005), o forjamento é o processo de conformação no qual se obtém a forma desejada por martelamento ou aplicação gradativa de uma pressão. Em geral, o forjamento é feito a quente, e pode se dar por impacto – martelos – ou por compressão a baixa velocidade – prensas – e pode ser em matriz aberta ou fechada. Figura 1 – Matriz aberta ou livre Fonte: Ellwood Group, s.d. Figura 2 – Matriz fechada Fonte: Schuler, s.d. Tipicamente, o processo segue as etapas de: corte, aquecimento, forjamento livre ou forjamento em matriz (uma etapa ou mais), rebarbação e tratamento térmico. Além de dar forma, a deformação plástica presente no 3 forjamento melhora as propriedades mecânicas da peça obtida. São metais típicos em operações de forjamento: aços-carbono, aços ligados, aços para ferramentas, aços inoxidáveis, ligas de alumínio, cobre e titânio. A matéria-prima advém dos processos de fundição e laminação, sendo que os laminados apresentam melhores resultados por terem estrutura mais homogênea. Suponha que você é Engenheiro de Produção na empresa Motores de Combustão e, nesse contexto, seu diretor solicitou um estudo do passo a passo do processo de obtenção do virabrequim que compõem o motor do automóvel. Quer dizer, a tarefa é detalhar todas as etapas de obtenção do produto até o formato final proposto pela área de projeto e desenvolvimento. Isto é, a compreensão completa do processo de forjamento a quente do virabrequim. Vamos lá? TEMA 1 – FORJAMENTO EM MATRIZ FECHADA Neste tipo de forjamento o material é deformado entre as metades de uma matriz e, consequentemente, assume a geometria final do interior da matriz. Segundo Helman e Cetlin (2005), as características principais do forjamento em matriz fechada são: o processo ocorre sob alta pressão; pode-se obter tolerâncias dimensionais mais estreitas; aplicado em grandes volumes de produção (matrizes são muito caras); trabalha-se com ligeiro excedente de material, para garantir o preenchimento total da matriz, sendo necessária a rebarbação posterior; Figura 3 – Aplicação de forjamento em matriz fechada Fonte: Costa; Mira, 1985. 4 As formas da matéria-prima empregada no processo podem ser (Helman; Cetlin, 2005): Barras: forjamento de peças alongadas – 2 a 3kg tipicamente, a barra (ex.: 2mxd50mm) é fixada na outra extremidade e cortada na última pancada do forjamento. Tarugos: peças grandes e pesada; blocos pré-cortados são posicionados com uma tenaz na matriz. Estampados: pequenas peças delgadas. Figura 4 – Exemplo de matriz fechada Fonte: Costa; Mira, 1985. 1.1 Forjamento em matriz aberta Neste tipo de forjamento o material é deformado entre ferramentas planas ou de forma simples. Realiza-se sob compressão direta e o escoamento do material ocorre na direção perpendicular à de aplicação da forca. Usado para grandes peças e pequenos lotes e na produção de pré-formas para o posterior forjamento em matriz fechada. 5 Figura 5 – Exemplo de matriz aberta Fonte: Costa; Mira, 1985. Lirio Schaeffer, 1983, destaca que as operações de forjamento podem ser classificadas segundo os seguintes processos: Estiramento e alargamento: pancadas sucessivas onde o material escoa na direção do eixo (estiramento) e na perpendicular (alargamento). Figura 6 – Exemplo de estiramento Fonte: Costa; Mira, 1985. Recalque: o material escoa em sentido transversal à peça. 6 Figura 7 – Exemplo de recalque Fonte: Costa; Mira, 1985. Forjamento por laminação: A deformação é contínua e aplicada para obtenção de canais, rebaixos, saliências, marcas etc. Figura 8 – Exemplo de forjamento Fonte: Costa; Mira, 1985. 7 Fendilhamento: o material aquecido sofre incisão por meio de um mandril com gume; Figura 9 – Exemplo de fendilhamento Fonte: Costa; Mira, 1985. Expansão: alargamento após o fendilhamento. Figura 10 – Exemplo de Expansão Fonte: Costa; Mira, 1985. Corte: remoção de excedente de material por cisalhamento. Figura 11 – Exemplo de corte Fonte: Costa; Mira, 1985. 8 1.2 Produtos forjados São vários os produtos forjados e, geralmente, em diversas etapas, seja no forjamento a quente ou a frio. A seguinte, exemplos de produtos obtidos. Figura 12 – Exemplo de produto forjado Fonte: Costa; Mira, 1985. Figura 13 – Exemplo de produto forjado Fonte: Costa; Mira, 1985. TEMA 2 – EQUIPAMENTOS PARA FORJAMENTO Os principais equipamentos utilizados no processo de forjamento são as prensas – para movimentos controlados – e os martelos – para deformação por impacto. Desse modo, o tipo de equipamento deve ser selecionado de acordo com o tipo de produto a ser obtido. 9 No caso de martelos pode-se reposicionar a peça a cada golpe, sendo que as taxas de repetição podem alcançar 60-150 pancadas por minuto. No caso das prensas, as matrizes comprimem o material a baixas velocidades e de maneira controlada. A seguir, as velocidades de deformação dependendo do equipamento: Tabela 1 – Velocidades de deformação No martelo de queda livre a conformação ocorre pela energia transferida no impacto. A elevação do martelo até a posição de partida para a queda é feita por ar comprimido, correntes/cintas metálicas ou sistema hidráulico, sendo o último mais rápido. A seguir, exemplo de martelo. Figura 14 – Exemplo de martelo Fonte: Shutterstock. Figura 15 – Martelo queda livre 10 Fonte: Costa; Mira, 1985. Figura 16 – Martelo de ação dupla Fonte: Costa; Mira, 1985. 11 A energia aplicada advém da gravidade e da força adicional impressa pelo cilindro pneumático. A força aplicada pode ser variada pela pressão usada no cilindro, e pode chegar a 20x o peso da massa cadente. Nos martelos de contra-golpe duas massas se chocam no meio do percurso e com a mesma velocidade. Evita-se, assim, a transmissão de vibrações às fundações; entretanto, apresenta algumas desvantagens: maior desalinhamento entre as partes superior e inferior da matriz; a força de forjamento deve estar centrada, para que o atrito com as guias não seja elevado; impossibilidade de reposicionar a peça a cada golpe; maior custo de manutenção. Figura 17 – Martelos de contra-golpe Fonte: Costa; Mira, 1985. As prensas para forjamento geralmente são hidráulicas e verticais e utilizadas para obtenção de grandes peças. A pressão é uniforme e a velocidade de deformação quase constante. O processo é limitado pela carga máxima suportada pela máquina. A seguir, observa-se uma linha de prensas hidráulicas utilizadas no processo de forjamento. 12 Figura 18 – Prensas hidráulicas Fonte: Shutterstock. As prensas mecânicas excêntricas são utilizadas no forjamento de peças médias e pequenas, sendo as principais características o fácil manuseio e o baixo custo de operação. Entretanto, o curso é limitado pelo mecanismo excêntrico. Figura 19 – Prensas mecânicas excêntricas Fonte: World Power Press, s.d. 13 As prensas de fricção são utilizadas para a cunhagem de moedas, medalhas e similares. O fuso promove o sobe-desce de uma massa giratória de alta energia, proporcionando o forjamentocíclico e de elevada produtividade. Figura 20 – Prensa de fricção Fonte: Birson, s.d. 2.1 Fabricação de matrizes As matrizes de forjamento trabalham sob forte compressão (até 2000 MPa), choque mecânico e solicitação térmica (contato com metal aquecido). Por isto, são fabricadas tipicamente em aços ligados e metal-duro. O processo de fresamento em centros de usinagem é tipicamente utilizado para obtenção das matrizes. O material da matriz para conformação de não ferrosos é aço ao Cr-Ni ou Cr-Ni-Mo. Todavia, o material da matriz para conformação de aços em geral é o próprio aço ligado, geralmente com tungstênio, W. 14 Figura 21 – Exemplo de matriz e etapas de obtenção Fonte: Costa; Mira, 1985. TEMA 3 – O PROCESSO DE FORJAMENTO Costa e Mira (1985) postulam que no processo de forjamento a quente ocorre, normalmente, o tratamento térmico dos produtos com as seguintes finalidades: remoção de tensões internas do forjamento e esfriamento; homogeneização da estrutura da peça forjada; melhoria da usinabilidade; melhoria das propriedades mecânicas. Ocorre também o recozimento do produto, que é o aquecimento em forno do aço a 750-900oC (cfe. %C) e resfriamento lento para refino de grão, remoção de tensões internas e “certo amolecimento”, resultando em melhores propriedades mecânicas e usinabilidade da parte obtida. Aplica-se também a normalização à peça, que consiste no aquecimento, como no recozimento, porém, com resfriamento ao ar. O principal objetivo é o 15 refino dos grãos em grau superior, remoção das tensões e melhoria das propriedades mecânicas. A temperatura de forjamento é necessária para o metal alcançar a alta plasticidade necessária ao processo de conformação e, desse modo, favorecer a obtenção de formas complexas e com relativa facilidade no escoamento do material. Além disso, a temperatura na operação final de forjamento deve situar- se dentro de uma faixa específica ao tipo de material. No caso de temperatura final muito alta, os grãos deformados na operação recristalizam para um tamanho elevado durante o esfriamento, reduzindo as propriedades mecânicas. No caso de temperatura final muito baixa, o material fica encruado, podendo haver fissuramento (pode-se recozer para corrigir o tamanho de grão, mas isso não consertará as fissuras). Logo, verifica-se na tabela abaixo as faixas de temperatura de conformação a quente para diversos materiais. Tabela 2 – Faixas de temperatura de conformação Durante o processamento, o material perde calor por convecção (ar), radiação e, principalmente, por condução para a matriz. Quanto maior a relação superfície-volume, mais rápida a transferência de calor. A matriz pode ser aquecida para diminuir esta perda se for o caso. O trabalho de deformação gera calor na peça, mas frente às perdas este é insignificante. Em relação à velocidade de deformação, a resistência que o material opõe à sua deformação é maior para velocidades mais altas. Na tabela abaixo os valores de resistência à deformação à quente de aços baixo carbono (1000- 1200oC). 16 Tabela 3 – Valores de resistência à deformação 3.1 Forjamento a frio Os forjados a frio apresentam-se fortemente encruados – maior resistência mecânica e menor ductilidade. Eventualmente, um componente em aço-liga (mais caro) pode ser fabricado com propriedades mecânicas equivalentes em um aço ao C por forjamento a frio. No forjamento a frio, a rugosidade superficial obtida é bem menor. Esta depende também, naturalmente, de condições de lubrificação e do estado da ferramenta. De uma forma geral, quanto maior o número de operações de forjamento aplicado a uma peça, menor a rugosidade. Peças forjadas a frio podem ter tolerâncias mais estreitas, pois ao contrário do forjamento a quente, não ocorrem dilatação intensa, oxidação superficial e mesmo queima de material (perda). TEMA 4 – FORJAMENTO A QUENTE A obtenção de peças complexas exige o forjamento em matriz fechada e a quente. Desse modo, é possível controlar a taxa de deformação da matéria- prima, bem como assegurar o momento exato de parada da prensa hidráulica. A combinação dessas variáveis permite a produção, por exemplo, de virabrequins para motores automotivos. Além disso, o processo de forjamento proporciona o encruamento da superfície da peça melhorando, por conseguinte, a resistência à abrasão do produto. Entretanto, o núcleo permanece tenaz e resistente aos impactos impostos pelo uso corriqueiro do virabrequim. 17 Figura 22 – Virabrequim Fonte: Shutterstock. TEMA 5 – DEFEITOS TÍPICOS DE FORJADOS Durante o processo de forjamento, podem surgir vários defeitos, sendo os principais: a) Falta de redução – o material não entra completamente na cavidade da matriz, e apresenta estrutura diferente entre a superfície e o interior – ocorre com martelos rápidos e leves. b) Trincas superficiais – trabalho excessivo na periferia da peça, a temperatura demasiadamente baixa; atmosfera do forno de aquecimento muito rica em enxofre. c) Trincas nas rebarbas – excesso de redução na região da rebarba; podem avançar para o interior da peça na operação de rebarbação. d) Trincas internas – altas tensões de tração devido às grandes deformações, mais comum em processos de matriz aberta (corrige-se dividindo a deformação em etapas ou usando matriz fechada, onde as paredes limitam o fluxo lateral). e) Gotas frias – descontinuidades devido ao contato sem solda de porções quentes e frias de material. No forjamento a quente, surge devido ao fluxo anormal de material quente, à incrustação de rebarbas em dobras acidentais, colocação inadequada do material na matriz e distribuição incorreta de massas no pré-forjamento. f) Incrustação de óxidos – camadas de óxido superficial formadas no aquecimento que não se desprenderam naturalmente. g) Descarbonetação e queima – defeitos do aquecimento: dependendo da composição química da atmosfera do forno, há descarbonetação 18 superficial do material; a queima pode ocorrer quando a temperatura se aproxima muito do ponto de fusão (gases oxidantes penetram entre os grãos e formam películas de óxidos). Figura 23 – Exemplos de produtos forjados Fonte: Forge, 2015. FINALIZANDO Nesta aula foi possível estudar o processo de fabricação denominado forjamento, ou seja, a alteração da geometria da peça por intermédio da aplicação de esforços mecânicos compressivos. Nesse contexto, o raciocínio exercitado foi a obtenção do virabrequim, desde a matéria-prima, passando pelo forjamento a quente e, consequentemente, as propriedades mecânicas obtidas. Quer dizer, o virabrequim é forjado na geometria final a altas temperaturas para assegurar tenacidade ao núcleo e dureza na superfície exterior. Logo, verifica-se uma grande quantidade de componentes obtida por conformação mecânica sendo utilizada nas próprias máquinas, nos meios de transporte, nos eletrodomésticos, nos equipamentos eletrônicos e nos mais diversos setores – industrial, hospitalar ou construções. Assim sendo, esteja atento às etapas de transformação do metal até o produto acabado! 19 REFERÊNCIAS BRESCIANI FILHO, E. Conformação plástica do metal. Campinas, SP: Unicamp, 1991. COSTA, H. B.; MIRA, F. M. Processos de fabricação: conformação mecânica dos metais. Florianópolis: UFSC, 1985. HELMAN, H; CETLIN, P. R. Fundamentos da conformação mecânicados metais. São Paulo: Artliber, 2005. SCHAEFFER, L. Introdução a conformação mecânica dos metais. Porto Alegre: Ed. da UFRGS, 1983.
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