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2019 - 06 - 21 Contratos Cíveis CAPÍTULO 6 – CONTRATO DE DOAÇÃO Capítulo 6: Contrato de doação Doutrina Aplicada 6.1. Conceito O contrato de doação é negócio jurídico por meio do qual o doador, por liberalidade (animus donandi), transfere do seu patrimônio bens ou vantagens para o do donatário (art. 538 do CC/2002). 6.2. Classificação I – Em regra, unilateral: gera obrigações somente para o doador. Poderá, no entanto, ser bilateral se houver estipulação de encargo ao donatário (chamada de doação com encargo ou modal). Há doutrina que prefere classificar a doação modal como bilateral imperfeita. E isso porque, para esse entendimento, a doação nasceria unilateral, tornando-se, depois, bilateral, tendo em vista não se tratar o encargo exatamente de uma obrigação, mas sim um requisito para que o contrato se aperfeiçoe. II – Em regra, gratuito: tendo em vista se tratar de uma liberalidade, sem que se imponha qualquer ônus ou encargo ao beneficiário, o contrato de doação é em regra gratuito. Caso se imponha algum ônus ao donatário, a doação assumirá contornos de onerosidade. Destarte, se a doação for onerosa, aplicar-se-ão as regras que regem os contratos onerosos, dentre elas as concernentes aos vícios redibitórios (art. 441 do CC/2002). III – Consensual: aperfeiçoa-se com as manifestações de vontade do doador e do donatário. Há, porém, uma exceção: a doação manual, também chamada de doação verbal. Doação manual é a que se aperfeiçoa com a imediata tradição e tendo como objeto do contrato bens de pequeno valor. Nesse caso, a tradição incontinenti será elemento de perfeição do contrato, dispensando-se a expressa manifestação de vontade dos contraentes (art. 541, parágrafo único, do CC/2002). Importante ressaltar que a doação manual tem natureza real (tendo em vista a necessidade de tradição para a sua celebração). IV – Formal: exige instrumento escrito (escritura pública ou particular, a depender do objeto – art. 541 do CC/2002). Excepcionalmente, porém, poderá ser informal (verbal), nos casos da já mencionada doação manual (sobre o que se considera pequeno valor, consultar Estratégia Contratual). 6.3. Espécies de doação 6.3.1. Pura e simples É a doação em que o doador não impõe nenhuma restrição ou encargo ao beneficiário, nem subordina sua eficácia a qualquer condição. Trata-se de plena e máxima liberalidade. Nessa modalidade de doação, poderá o doador fixar prazo ao donatário para que manifeste a aceitação. Se, ciente do prazo, não se manifestar, presumir-se-á aceita a liberalidade (art. 539 do CC/2002). Também na doação pura dispensa-se a aceitação caso o donatário seja absolutamente incapaz (art. 543 do CC/2002). 6.3.2. Onerosa (modal ou com encargo) Trata-se da doação em que o doador impõe ao donatário uma incumbência ou um dever. A respeito do encargo, é interessante mencionar que este, embora seja elemento acidental do negócio jurídico, não suspende a aquisição nem o exercício do direito, como acontece, eventualmente, com os termos e condições. Podem ser beneficiários do encargo o próprio doador, o donatário, terceiro ou, ainda, pode o encargo ser estabelecido em favor de interesse geral (art. 553 do CC/2002). O cumprimento do encargo pode ser exigido judicialmente, salvo quando em benefício do donatário, hipótese em que a procedência da ação representará conselho ou recomendação a ele. Ademais, tem legitimidade para exigir seu cumprimento o doador, em qualquer caso; o terceiro, quando for ele o beneficiado; e o Ministério Público, quando o encargo for estipulado para atender a interesse geral e o doador tenha falecido sem ter demandado. Não se confunda, entretanto, a possibilidade de se exigir a realização encargo, ora estudada e que tem diversos legitimados à providência, com a revogação da doação. Esta, como será visto adiante, somente pode ser pleiteada pelo próprio doador. 6.3.3. Remuneratória É a doação feita em retribuição a serviços prestados e cujo pagamento não pode ser exigido pelo donatário. É o caso, por exemplo, do cliente que doa para pagar serviços médicos quando a cobrança de honorários estava prescrita (obrigação natural); ou a quem lhe salvou a vida ou lhe deu apoio em momento de dificuldade. Interessante notar que se a dívida era exigível, o que se tem é pagamento. Se, porém, for inexigível, estamos diante de uma doação remuneratória. Por fim, a doação puramente remuneratória não se revoga por ingratidão, nos termos do artigo 564, I, do Código Civil. Confira em Estratégia Contratual uma sugestão de contrato de doação remuneratória. 6.3.4. Feita ao nascituro O art. 542 do Código Civil admite a doação feita ao nascituro desde que ela seja aceita pelo seu representante legal. O fundamento para esse negócio jurídico é, em última análise, o art. 2º do Código Civil, que, a despeito de adotar visivelmente a teoria natalista, protegeu expressamente os direitos do fruto da concepção. Dessa feita, o nascituro é titular de direito desde a sua concepção, mas trata-se de um direito eventual, pois sob condição suspensiva, de forma que a liberalidade caducará no caso de o nascituro não nascer com vida. 6.3.5. Em contemplação de casamento futuro (propter nuptias) Trata-se do tradicional presente de casamento dado em consideração às núpcias do donatário com certa pessoa. Observe-se que é preciso existir celebração do matrimônio entre pessoas certas e determinadas. E isso porque se a doação for feita a alguém caso ela venha a se casar, a doação será condicional. Essa modalidade de doação apenas ficará sem efeito se o casamento não se realizar (art. 546 do CC/2002). É possível perceber, portanto, que o casamento é condição suspensiva do contrato. Interessante questão é a de se saber de onde se retira a aceitação da doação pelos donatários. É que, normalmente, não há manifestação expressa do casal. Melhor entender, então, que a própria celebração do casamento demonstra aceitação. Para além disso, a prática de se criar “listas de presentes” em lojas para tal finalidade é fato signo de que houve concordância e aceitação (ainda que de maneira antecipada) por parte dos donatários. 6.3.6. Doação de ascendentes a descendentes Ao contrário da venda de ascendentes para descendentes representar uma restrição ao alienante, como já vimos – e é comum a confusão –, a doação entre eles não tem qualquer lastro de limitação. É perfeitamente possível e válida a doação de ascendentes a descendentes, importando, todavia, em adiantamento da legítima (isto é, antecipação ao donatário da parte que lhe competiria como herdeiro, por herança). É o que dispõe o artigo 544 do Código Civil. Perceba-se, pois, que não há necessidade de autorização, diferentemente do que vimos quanto à compra e venda, seja dos demais herdeiros, seja do cônjuge do alienante (está será exigível somente por força da regra geral do art. 1.647, I, do CC/2002, quando o bem doado for imobiliário e dentro do regime ali estabelecido). A consequência para o ato é que o descendente beneficiado deverá trazer à colação, no inventário do doador, o bem recebido pelo valor que tiver ao tempo da abertura da sucessão (art. 639, parágrafo único, do Código de Processo Civil: “Os bens a serem conferidos na partilha, assim como as acessões e as benfeitorias que o donatário fez, calcular-se-ão pelo valor que tiverem ao tempo da abertura da sucessão”). Note-se que a regra processual de 2015 restabeleceu o critério já antes previsto pelo Código de Processo Civil de 1973, revogado, até então, pelo art. 2.004, caput e seu § 1º, do Código Civil. De acordo com o Diploma material, o valor da colação seria aquele atribuído no ato de liberalidade ou pela estimativa feita à sua época. Esta norma, então, está tacitamente revogada, de modo que se aplica, atualmente, o valor do bem ao tempo da sucessão. Para que a colação não seja necessária, o doador deverá especificar e determinarno ato da liberalidade que o bem saia de sua metade disponível, mas desde que o valor não a exceda, considerando-se o seu valor ao tempo da doação (arts. 2.002 e 2.005 do CC/2002). Em razão de sua importância, transcrevo a ordem contida no art. 2.005: “São dispensadas da colação as doações que o doador determinar saiam da parte disponível, contanto que não a excedam, computado o seu valor ao tempo da doação. Parágrafo único. Presume-se imputada na parte disponível a liberalidade feita a descendente que, ao tempo do ato, não seria chamado à sucessão na qualidade de herdeiro necessário”. 6.3.7. Inoficiosa É inoficiosa a doação feita além daquilo que poderia o doador legitimamente deixar por testamento. Havendo herdeiros necessários, o testador só poderá dispor da metade de seus bens, pois a outra pertence àqueles (art. 1.846 do CC/2002). Lembre-se: pertence aos herdeiros necessários, de pleno direito, a metade dos bens da herança, constituindo a legítima. O valor a ser computado é o valor do momento da liberalidade, como já se referiu (art. 2.005). Importante ressaltar que somente se considera nula a parte que sobejar – a parte inoficiosa, portanto –, mantendo-se a doação feita quanto à parte disponível. A ação cabível para declarar nula a parte inoficiosa chama-se ação de redução. Discute-se se a sua propositura antes da abertura da sucessão não equivaleria a litigar sobre herança de pessoa viva, o que seria vedado (vedação do pacta corvina). A doutrina e a jurisprudência tendem no sentido de admitir a propositura nesses termos (antes da abertura da sucessão), posto que a consequência da doação inoficiosa é a nulidade. 6.3.8. Doação conjuntiva É a liberalidade praticada em comum a mais de uma pessoa, sendo distribuída por igual entre os diversos donatários, salvo se o contrato determinou de outra forma. Nos termos do art. 551, “salvo declaração em contrário, a doação em comum a mais de uma pessoa entende-se distribuída entre elas por igual”. O parágrafo único complementa: “se os donatários, em tal caso, forem marido e mulher, subsistirá na totalidade a doação para o cônjuge sobrevivo”. 6.4. Restrições legais 6.4.1. Doação do devedor insolvente A presente restrição é retirada do próprio sistema dos negócios jurídicos: a doação feita por pessoa insolvente, ou capaz de reduzir o doador à insolvência, pode configurar fraude contra credores (art. 158 do CC/2002) e será protegida por meio da ação pauliana. Veja-se que, nesse caso, para a vitória dos credores lesados nessa ação, bastará a prova do eventus damni, e nada mais, por se tratar de negócio gratuito. É uma limitação que se extrai, assim, da sistemática dos defeitos dos negócios jurídicos. 6.4.2. Doação de todos os bens do doador Considera-se nula a doação de todos os bens do doador, feita sem reserva de parte ou renda suficiente para sua subsistência (art. 548 do CC/2002). Tal vedação encontra guarida no princípio da dignidade humana e do mínimo existencial. Ninguém pode abrir mão de tudo quanto lhe pertença, sem que lhe sobre algo capaz de manter sua sobrevivência. Persiste a nulidade, perceba-se, ainda que o donatário receba como encargo dar assistência material ao doador. É imperioso que o doador mantenha patrimônio ou, quando menos, renda suficiente para seu sustento. Cabe observar, por fim, que a nulidade recai sobre a totalidade dos bens doados, ainda que baste parte deles para preservar a subsistência do doador. Isso quer dizer, em termos práticos, que não se poderá, em ação judicial, considerar, por exemplo, 85% do negócio válido, e os outros 15% inválidos para fins de que se preserve parte do patrimônio doado. 6.4.3. Doação do cônjuge adúltero a seu cúmplice A liberalidade, assim praticada, poderá ser anulada pelo outro cônjuge ou por seus herdeiros necessários em até dois anos depois de dissolvida a sociedade conjugal nos termos do art. 550 do Código Civil. A esse respeito, o art. 1.801, III, do Código Civil também veda que o testador casado beneficie o concubino em seu testamento. O art. 550, entretanto, é mais amplo, posto que a vedação alcança o cúmplice, expressão que abarca a pessoa que manteve relação eventual com o doador. A jurisprudência tem entendido, com razão, que somente se anula a doação quando o doador ainda se relaciona com o cônjuge inocente. Se estiver separado de fato dele há tempo razoável, vivendo more uxorio com a donatária (companheira), não se invalida a liberalidade. A legitimidade para a anulação é sempre do cônjuge inocente. Destarte, enquanto estiver vivo, é o único legitimado a propor a ação. Os herdeiros necessários, por sua vez, somente poderão intentar a medida se aquele vier a falecer antes de escoado o prazo decadencial de dois anos, contado da dissolução da sociedade conjugal. Trata-se de regra que visa à proteção do consorte enganado, de maneira que se lhe faculta deixar transcorrer o prazo sem tomar qualquer medida, como forma de evitar eventuais constrangimentos que são comuns nesse tipo de situação. 6.5. Cláusula de reversão e necessidade de escritura pública É possível se estipular no contrato de doação a cláusula de reversão (ou cláusula de retorno). Nessa hipótese, o doador estipula que o bem doado reverterá a seu patrimônio caso o doador sobreviva ao donatário (art. 547 do CC/2002). Tratando-se de bens imóveis com valor excedente a trinta vezes o maior salário mínimo vigente no País (art. 108 do CC/2002), exige-se escritura pública para a celebração da doação e esta será levada a registro no Cartório de Imóveis. Dessa forma, feita a matrícula no Registro de Imóvel em nome do doador, a aquisição do bem feita pelo donatário será nela lançada. Para que a escritura de doação seja admitida no registro, é preciso que venha acompanhada da aceitação por parte do donatário. 6.6. Revogação 6.6.1. Admissibilidade Nos termos do art. 555, admite-se a revogação da doação se ocorrer: I – ingratidão do donatário; e II – inexecução do encargo. Estamos diante de causas especiais de revogação. Há, ainda, o que se pode chamar de “meios genéricos de impugnação” (como ação anulatória por defeito do consentimento; ou, então, a ação declaratória de nulidade, posto que realizada por absolutamente incapaz), que não se confundem com a presente medida. Exige-se, pois, que a revogação da doação seja sempre motivada, demonstrando a configuração de uma das hipóteses de admissibilidade previstas no art. 555 do Código Civil. A situação é, portanto, diferente da de outros contratos, como o mandato, em que se permite sua revogação desmotivadamente, precisamente porque pautados em relação de confiança entre as partes. 6.6.2. Revogação por inexecução do encargo Para que se dê a revogação por essa forma, deverá estar caracterizada a mora do donatário (art. 562 do CC/2002). Assim, se houver prazo determinado para a execução do encargo, a constituição em mora decorre do próprio vencimento (mora ex re). Caso contrário, será necessária interpelação judicial ou extrajudicial – mora ex personae (art. 397 e parágrafo único, do CC/2002). Importante lembrar que a ocorrência de força maior exclui a culpa, que é elemento da mora; inocorrente culpa, não há se falar em mora. A respeito da legitimidade para promover a revogação, tem-se que a legitimidade é sempre do doador, apenas. Trata-se de ação personalíssima e que, portanto, não se transmite sequer aos seus herdeiros. Esses apenas poderão, se for o caso, continuar na ação, se esta já tiver sido iniciada. O prazo para se ingressar com a ação revocatória é decadencial de um ano, contado do escoamento do prazo para a realização do encargo (art. 559 do CC/2002), seja o prazo contratualmente previsto, seja aquele fixado em notificação para a consecução da providência. 6.6.3. Ingratidão do donatário 6.6.3.1. Ato de ingratidão O ato de ingratidão ensejador da ação revocatória de doação é o ato perpetrado exclusivamentepelo donatário, de ofensa ao doador (nas hipóteses do art. 557 do CC/2002) ou contra pessoa de sua família: cônjuge, ascendente, descendente ou irmão do doador (art. 558 do CC/2002). O dispositivo não faz menção, mas é certo que o companheiro também está abarcado pela norma. Cabe observar que, nos termos do art. 556 do Código Civil, não é possível a renúncia prévia ao direito de revogar a liberalidade por ingratidão. Se o contrato tiver cláusula nesse sentido, esta será considerada nula, por se tratar de norma de ordem pública. Passemos à análise das hipóteses de ingratidão previstas no art. 557 do Código Civil: I – Atentado contra a vida do doador Estamos diante da hipótese de homicídio doloso (que pode ser tentado ou consumado). De fora, portanto, o crime culposo, mas incluído aquele com dolo eventual. Como já se ressaltou, o ato deverá ser praticado exclusivamente pelo donatário. A interpretação restritiva se justifica na medida em que, a princípio, a culpa é sempre pessoal. É certo, entretanto, que se o donatário contrata alguém para praticar o ato em si, está atuando como coautor e, assim, passível de revogação. Basta, então, a mera participação no delito. Interessante ressaltar que as causas excludentes de antijuridicidade e de inimputabilidade afastam a possibilidade de revogação. Imagine-se, por exemplo, que tenha o donatário atuado em legítima defesa ou estado de necessidade; ou que seja, ainda, considerado inimputável. Nessas hipóteses restará afastada a possibilidade de revogação da doação. A decisão condenatória na esfera criminal sacramenta a discussão no cível; o juízo cível, entretanto, não precisa aguardar a instância criminal. O que ocorre, na prática, é o juiz da esfera cível suspender o processo em caso de propositura da demanda criminal até que se aguarde o desfecho da demanda criminal. Essa suspensão se dará com amparo no art. 313, V, a, do Código de Processo Civil. Ressalte-se, novamente, que o atentado poderá ser praticado, nos termos do art. 558 do CC/2002, e para fins de revogação por ingratidão, contra os parentes do doador. II – Ofensa física contra o doador Aqui se admite apenas a ofensa consumada, de qualquer natureza e gravidade, desde que seja intencional. No mais, aplicam-se as mesmas observações feitas quanto ao atentado. III – Injúria grave e calúnia A presente hipótese também exige interpretação restritiva, no sentido de que a difamação (ofensa à reputação do doador) não é causa ensejadora da revogação. Apenas a calúnia (imputar a alguém a prática de fato criminoso) e a injúria (ofender alguém em sua dignidade ou decoro) podem justificá-la. Será possível ao donatário demandado que, em defesa, realize exceção da verdade, isto é, provar que a imputação criminosa que faz ao doador é verdadeira. Se tiver sucesso, estará afastada a possibilidade de revogação da doação. IV – Recusa do donatário em prestar alimentos ao doador Não se exige, aqui, que doador e donatário sejam parentes, bastando que os legalmente obrigados a prestar os alimentos (parentes do doador) tenham sido procurados antes, sem possibilidade de assisti-lo. Tendo em vista a observância do binômio necessidade/possibilidade que rege o dever de prestar alimentos, na análise da hipótese de revogação em estudo, deverá ser observada a possibilidade do donatário diante da necessidade do doador. 6.6.3.2. Ação revocatória A ação revocatória é personalíssima, mas os herdeiros do doador poderão com ela prosseguir se iniciada por este (art. 560 do CC/2002). Importante mencionar, todavia, que na hipótese de homicídio consumado (e, portanto, da evidente impossibilidade do doador em fazê-lo), os herdeiros poderão propor a ação revocatória (art. 561 do CC/2002). Ainda assim, isso só será possível se o doador não perdoou o donatário (por exemplo, em seu leito de morte). A mesma regra trazida pelo art. 560 do Código Civil vale para os herdeiros do donatário, que somente podem prosseguir como réus se a ação já foi proposta e o donatário morreu em seu percurso. O prazo para a ação revocatória é decadencial de um ano, contado de quando chegar ao conhecimento do doador o fato praticado e a autoria do doador (art. 559 do CC/2002). Veja-se que é imperativo que chegue ao doador a informação, também, da autoria. Não se poderia permitir que flua o prazo – que é exíguo – sem que ele tenha conhecimento de que o autor da agressão é o donatário. 6.6.3.3. Doações irrevogáveis Por fim, importante lembrar que de acordo com o art. 564 do Código Civil são irrevogáveis, ainda que haja ingratidão do donatário: (a) as doações remuneratórias; (b) com encargos já cumpridos; (c) as que se fizerem em decorrência de obrigação natural; e (d) feitas propter nuptias (contemplação de casamento futuro). Perceba-se que os casos apresentados aproximam-se, muito, de contratos bilaterais e onerosos. Nestes, não se há falar em revogação por ingratidão (por exemplo, em certa compra e venda) justamente em face do sinalagma e da onerosidade. Dossiê Legislativo Lei 10.406, de 10 de janeiro de 2002 – Código Civil Disposições gerais Art. 538. Considera-se doação o contrato em que uma pessoa, por liberalidade, transfere do seu patrimônio bens ou vantagens para o de outra. Art. 539. O doador pode fixar prazo ao donatário, para declarar se aceita ou não a liberalidade. Desde que o donatário, ciente do prazo, não faça, dentro dele, a declaração, entender-se-á que aceitou, se a doação não for sujeita a encargo. Art. 540. A doação feita em contemplação do merecimento do donatário não perde o caráter de liberalidade, como não o perde a doação remuneratória, ou a gravada, no excedente ao valor dos serviços remunerados ou ao encargo imposto. Art. 541. A doação far-se-á por escritura pública ou instrumento particular. Parágrafo único. A doação verbal será válida, se, versando sobre bens móveis e de pequeno valor, se lhe seguir incontinenti a tradição. Art. 542. A doação feita ao nascituro valerá, sendo aceita pelo seu representante legal. Art. 543. Se o donatário for absolutamente incapaz, dispensa-se a aceitação, desde que se trate de doação pura. Art. 544. A doação de ascendentes a descendentes, ou de um cônjuge a outro, importa adiantamento do que lhes cabe por herança. Art. 545. A doação em forma de subvenção periódica ao beneficiado extingue-se morrendo o doador, salvo se este outra coisa dispuser, mas não poderá ultrapassar a vida do donatário. Art. 546. A doação feita em contemplação de casamento futuro com certa e determinada pessoa, quer pelos nubentes entre si, quer por terceiro a um deles, a ambos, ou aos filhos que, de futuro, houverem um do outro, não pode ser impugnada por falta de aceitação, e só ficará sem efeito se o casamento não se realizar. Art. 547. O doador pode estipular que os bens doados voltem ao seu patrimônio, se sobreviver ao donatário. Parágrafo único. Não prevalece cláusula de reversão em favor de terceiro. Art. 548. É nula a doação de todos os bens sem reserva de parte, ou renda suficiente para a subsistência do doador. Art. 549. Nula é também a doação quanto à parte que exceder à de que o doador, no momento da liberalidade, poderia dispor em testamento. Art. 550. A doação do cônjuge adúltero ao seu cúmplice pode ser anulada pelo outro cônjuge, ou por seus herdeiros necessários, até 2 (dois) anos depois de dissolvida a sociedade conjugal. Art. 551. Salvo declaração em contrário, a doação em comum a mais de uma pessoa entende-se distribuída entre elas por igual. Parágrafo único. Se os donatários, em tal caso, forem marido e mulher, subsistirá na totalidade a doação para o cônjuge sobrevivo. Art. 552. O doador não é obrigado a pagar juros moratórios, nem é sujeito às conseqüências da evicção ou do vício redibitório. Nas doações para casamento com certa e determinada pessoa, o doador ficará sujeito à evicção, salvo convençãoem contrário. Art. 553. O donatário é obrigado a cumprir os encargos da doação, caso forem a benefício do doador, de terceiro, ou do interesse geral. Parágrafo único. Se desta última espécie for o encargo, o Ministério Público poderá exigir sua execução, depois da morte do doador, se este não tiver feito. Art. 554. A doação a entidade futura caducará se, em 2 (dois) anos, esta não estiver constituída regularmente. Da revogação da doação Art. 555. A doação pode ser revogada por ingratidão do donatário, ou por inexecução do encargo. Art. 556. Não se pode renunciar antecipadamente o direito de revogar a liberalidade por ingratidão do donatário. Art. 557. Podem ser revogadas por ingratidão as doações: I – se o donatário atentou contra a vida do doador ou cometeu crime de homicídio doloso contra ele; II – se cometeu contra ele ofensa física; III – se o injuriou gravemente ou o caluniou; IV – se, podendo ministrá-los, recusou ao doador os alimentos de que este necessitava. Art. 558. Pode ocorrer também a revogação quando o ofendido, nos casos do artigo anterior, for o cônjuge, ascendente, descendente, ainda que adotivo, ou irmão do doador. Art. 559. A revogação por qualquer desses motivos deverá ser pleiteada dentro de 1 (um) ano, a contar de quando chegue ao conhecimento do doador o fato que a autorizar, e de ter sido o donatário o seu autor. Art. 560. O direito de revogar a doação não se transmite aos herdeiros do doador, nem prejudica os do donatário. Mas aqueles podem prosseguir na ação iniciada pelo doador, continuando-a contra os herdeiros do donatário, se este falecer depois de ajuizada a lide. Art. 561. No caso de homicídio doloso do doador, a ação caberá aos seus herdeiros, exceto se aquele houver perdoado. Art. 562. A doação onerosa pode ser revogada por inexecução do encargo, se o donatário incorrer em mora. Não havendo prazo para o cumprimento, o doador poderá notificar judicialmente o donatário, assinando-lhe prazo razoável para que cumpra a obrigação assumida. Art. 563. A revogação por ingratidão não prejudica os direitos adquiridos por terceiros, nem obriga o donatário a restituir os frutos percebidos antes da citação válida; mas sujeita-o a pagar os posteriores, e, quando não possa restituir em espécie as coisas doadas, a indenizá-la pelo meio- termo do seu valor. Art. 564. Não se revogam por ingratidão: I – as doações puramente remuneratórias; II – as oneradas com encargo já cumprido; III – as que se fizerem em cumprimento de obrigação natural; IV – as feitas para determinado casamento. Estratégia Contratual 1. Modelo de doação simples R.01 – DOAÇÃO Em 1º de março de 2017 (prenotação 123.456, de 24.02.2017) Pela Escritura Pública de 25 de janeiro 2017, lavrada pelo Tabelião de Notas desta Capital de São Paulo, Livro n. 123, folhas n. 321, _____________, já qualificado, doou o imóvel, ao qual foi atribuído o valor de R$1.000,00, a sua filha ___________ , RG 55.555.555-SSP/SP, CPF 555.555.555-55, brasileira, do lar, solteira, maior, residente e domiciliada nesta Capital de São Paulo, na Rua da Independência, 777, tendo a donatária aceitado a doação. (valor venal de referência R$2.000,00) Escrevente: Nome do Escrevente 2. À doação com encargo se aplica o regime jurídico dos contratos onerosos. Nesse sentido, determina o art. 441 do CC/2002 que “a coisa recebida em virtude de contrato comutativo pode ser enjeitada por vícios ou defeitos ocultos, que a tornem imprópria ao uso a que é destinada, ou lhe diminuam o valor”. A regra que cuida dos vícios ocultos aplica-se às doações modais por expressa disposição do seu parágrafo único. 3. Interessante questão é a de se saber o que se considera bem de pequeno valor para fins de doação manual. O ponto assume relevância porque a doação regular é formal e exige documento escrito; a manual não, posto ser exceção à formalidade. É possível dizer que a doação de bens de pequeno valor é aquela que diz respeito a utensílios e coisas do dia a dia, como uma caneta, um lanche, um comprimido de remédio. Sem pretender criar qualquer critério objetivo, o que parece importar é a facilitação do tráfego de bens. De outro lado, é sabido que a compra e venda de bens móveis não demanda forma especial, de maneira que não faria sentido reconhecer a invalidade de doação de algo móvel que ultrapasse os valores dos bens dados nos exemplos. A questão, então, precisa ser analisada casuisticamente, e com bom senso. Se houver dúvida sobre o valor, recomenda-se a realização da solenidade exigida. 4. Nos termos do art. 547 do Código Civil, o doador pode estipular que os bens doados voltem ao seu patrimônio, se sobreviver ao donatário. É o que se chama de cláusula de reversão e que jamais poderá ser estipulada em favor de terceiro (parágrafo único). Para a sua instituição em contrato de doação, sugere-se a inserção, no contrato, da seguinte cláusula: “O doador estabelece, com fulcro no art. 547 do Código Civil, que o direito, posse, domínio e ação que ora transfere ao donatário ficarão subordinados à presente cláusula de reversão, de modo que se o outorgante doador sobreviver ao outorgado donatário, se lhe reverterá ao patrimônio, automaticamente, sem quaisquer formalidades, o (a) objeto doado, como se nunca tivesse havido o presente negócio jurídico. O donatário, a seu turno, declara aceitar esta doação pelo modo em que foi feita, respeitando a cláusula de reversão acima estipulada, que será cumprida inclusive por seus herdeiros.” 5. Modelo sugerido de contrato de doação remuneratória: “Pelo presente instrumento particular de doação, de um lado _________ e, de outro, _______, ajustam entre si o quanto disposto a seguir: _______, a partir de agora chamado de DOADOR, declara que é senhor e legítimo possuidor do _________, conforme prova o documento _______. O DOADOR por livre e espontânea vontade, sem qualquer coação ou influência de quem quer que seja, resolve doar o referido objeto, como remuneração dos relevantes serviços prestados gratuitamente pelo DONATÁRIO, durante todo o tempo em que o filho do DOADOR esteve gravemente enfermo, e que se salvou diante dos valiosos cuidados prestados pelo DONATÁRIO. O DOADOR transfere ao DONATÁRIO todos os direitos relativos àquele objeto. O DONATÁRIO declara que aceita esta doação. Para a clareza e firmeza de assim estarem justas e contratadas, as partes assinam o presente instrumento particular, em ______ vias de igual conteúdo, juntamente com as testemunhas que a tudo presenciaram. Local, data e assinaturas.” 6. Na doação feita de ascendentes a descendentes, considera-se que, se nada foi dito, há adiantamento da legítima. Se assim acontecer, imprescindível será a colação dos bens no futuro inventário do doador. Se o ascendente pretender eximir o donatário descendente da obrigação legal de trazer à colação o bem doado, deverá assim fazer constar, por meio de cláusula, informando que o objeto saiu de sua metade disponível. Para tanto, o cálculo da parte disponível bem como o valor do bem doado usarão como base a estimativa do momento da liberalidade (art. 2.005 do CC/2002). Não confundir está estimativa – para fins de verificar o valor da parte disponível e possível ocorrência de doação inoficiosa – com aquela que tem por escopo colacionar os bens doados no inventário. Para esta última finalidade, lembre-se, o Código de Processo Civil alterou novamente o critério, agora adotada como estimativa do momento da sucessão (art. 639, parágrafo único, do CPC). 7. Doação conjuntiva. Nos termos do art. 551, “salvo declaração em contrário, a doação em comum a mais de uma pessoa entende-se distribuída entre elas por igual”. Trata-se não apenas de presunção, mas de verdadeira norma supletiva. Isso quer dizer que os pactuantes, geralmente por proposta do doador, poderão alterar a proporção que será de titularidade de cada beneficiado. Para tanto, entretanto,haverá necessidade de cláusula expressa, providência que sempre se deve recomentar. E isso porque é muito comum, em doações feitas nessa modalidade, que se acabe por se discutir judicialmente a extensão da parte recebida por cada beneficiário. Normalmente, uma das partes se sente prejudicada, ao indicar que recebera – em seu entender – maior quinhão do que o segundo contemplado, sem que isso esteja expressamente previsto no pacto. A prova judicial, nesse sentido, é de extrema dificuldade e é comum que ela saia vencida nessa demanda. 8. O direito positivo brasileiro veda a inserção de cláusula na doação em que o doador renuncia antecipadamente ao direito de revogar a liberalidade por ato de ingratidão do donatário. Se o contrato tiver cláusula nesse sentido, esta será considerada nula. Se, ao tempo do ato de ingratidão, não pretender o doado revogar a liberalidade, bastará que deixe de exercer seu direito de ação que, como já mencionado, é personalíssimo. 9. Modelo de doação registrada com cláusula de incomunicabilidade, impenhorabilidade e inalienabilidade Em 1º de março de 2017 (prenotação 123.456, de 24.02.2016) Da escritura pública referida no R.1, consta que ao imóvel fica gravado com as cláusulas absolutas e vitalícias de INCOMUNICABILIDADE, IMPENHORABILIDADE e INALIENABILIDADE extensivas aos frutos e rendimentos. Escrevente: Nome do Escrevente 10. Providências e documentação necessária para lavratura de escritura pública de doação – lote urbano: a) guia do ITCMD devidamente quitado; b) Certidão Negativa de Débitos da Prefeitura; c) doador – pessoa jurídica, apresentar: • CND da Receita e da Previdência Social da empresa; • Contrato Social e alterações autenticado. d) donatário – pessoa jurídica, apresentar: • Contrato Social e alterações autenticado. Observação: em caso de hipoteca, alienação entre outros, na escritura deve constar que o comprador está ciente da existência do ônus. Jurisprudência Aplicada Segundo disposição do artigo 538 do Código Civil, considera-se doação o contrato em que uma pessoa, por liberalidade, transfere do seu patrimônio bens ou vantagens para o de outra. Na espécie, todavia, considerando que a doação não teve cunho beneficente, mas foi feita no cumprimento de cláusula contratual imposta pela parte requerida, desapareceu o animus donandi, prevalecendo o caráter potestativo do ato (…). TJRS, Ap. Cível 70.021.426.614, rel. Paulo Augusto Monte Lopes, j. 10.10.2007. É parte legítima para figurar no polo ativo da demanda aquele que celebrou acordo judicialmente homologado, visando doação de imóvel aos filhos, com cláusula de usufruto em seu favor, sem a necessidade dos donatários integrarem a lide, uma vez que não são obrigados, sequer, a aceitar a doação, consoante art. 539 do CC/02. TJMG, Ap. Cível 1.0596.05.028349-5/001(1), rel. Afrânio Vilela, j. 18.04.2007. Embargantes que alegam que o imóvel objeto da constrição lhe fora transferido por meio de doação. Liberalidade que exige contrato solene (por instrumento público ou particular aperfeiçoado com a transcrição no registro de imóveis). Inteligência dos artigos 541 e 1.245, caput, ambos do Código Civil. TJSP, Ap. Cível 7.302.494.300, rel. Maia Rocha, j. 01.12.2008. (…) Doação pura e simples de imóvel com cláusula de reserva de usufruto. Revogação da doação. Alegação de que o contrato não se consumou, em face da falta de aceitação dos donatários (menores), viabilizando a revogação. Improcedência. Aceitação pelos representantes legais. Doação pura dispensando a aceitação quando o donatário for absolutamente incapaz (artigo 543 do CC/02), restando plenamente válido o ato de liberalidade. Não há encargo ao donatário decorrente da reserva, não se tratando de condição ou motivação extraordinária a ser cumprida pelos donatários. Ação improcedente. Apelação conhecida e desprovida. TJRS, Ap. Cível 70.014.598.080, rel. Luiz Ari Azambuja Ramos, j. 18.05.2006. A doação realizada pelos pais aos filhos, com exclusão de um ou mais herdeiros, é válida e independe do consentimento de todos os descendentes, configurando-se adiantamento de legítima, cabendo aos prejudicados, tão somente, ao ensejo da abertura da sucessão, postular pela redução dessa liberalidade até complementar a legí tima, desde que ultrapasse a metade disponível. TJMG, Ap. Cível 1.0106.06.023157- 3/001(1), rel. Tarcisio Martins Costa, j. 22.07.2008. Cláusula de reversão. Condição resolutiva. Prescrição. Em se tratando de doação em encargo – donatio sub modo – com cláusula de reversão, ocorre a condição resolutiva com o descumprimento da obrigação consubstanciada no encargo, retornando o bem ao domínio do doador. A inexecução do encargo - causa non secuta - dá ensejo à reversão do bem em razão da condição resolutiva, o que não se confunde com revogação de doação, não se aplicando, portanto, a regra de prescrição contida no art. 178,1, do CC. TRF, 1ª Região, Ap. Cível 92.01.25241-2/MG, 3ª T., rel. Juiz Vicente Leal, j. 28.02.1994, DJ 14.04.1994. Doação. Artigo 548, CC. Comprovação de existência de renda suficiente à subsistência do doador. Improcedência. A doação sem reserva de bens somente é nula se o doador não possuía, à época da doação, renda suficiente à sua mantença. TJMG, Ap. Cível 1.0220.07.006495-5/001(1), rel. José Affonso da Costa Côrtes, j. 16.07.2009. Ação anulatória de escritura de doação. Respeito à legítima. Excesso. Nulidade da doação em relação à parte excedente. Inteligência do artigo 549 do Código Civil brasileiro. Ante o princípio da intangibilidade da parcela legítima da herança, bem assim pela inteligência dos artigos 1.176 do Código Civil de 1916 e 549 do Código Civil de 2002, é nula a doação quanto à parte que exceder à de que o doador, no momento da liberalidade, poderia dispor em testamento. Demonstrada, pois, a existência de apenas um bem deixado pela falecida, impõe-se o respeito à legítima, tornando-se nula a parcela da doação que excedeu àquela. TJMG, Ap. Cível 1.0105.07.227286-4/001(1), rel. Geraldo Augusto, j. 28.04.2009. Embargos de devedor. Cerceamento de defesa. Testemunha. Ausência de intimação. Preclusão. Nota promissória. Doação de cônjuge adúltero a seu cúmplice. Nulidade. Art. 550 do Código Civil de 2002. A ausência de intimação da testemunha, trata-se de causa de nulidade relativa, assim, cabe à parte arguir a deficiência na primeira oportunidade de falar nos autos, sob pena de preclusão. Caracterizada a doação, o relacionamento extraconjugal, e o lapso temporal, os títulos exequendos devem ser declarados nulos, com base no disposto no art. 550 do Código Civil de 2002. TJMG, Ap. Cível 1.0145.03.120268- 5/001(1), rel. José Affonso da Costa Côrtes, j. 07.12.2005. Agravo de instrumento. Sobrepartilha. Doação de bem imóvel. Não incidência do art. 551, parágrafo único. Só há direito de acrescer na doação feita a ambos os cônjuges. Bem doado somente ao varão. O fato de estar assistido pela sua esposa não faz presumir que ela também seja donatária do bem. Decisão mantida. Recurso improvido. TJSP, AI 6.436.524.900, rel. Luiz Antônio Costa, j. 26.08.2009. Agravo de instrumento. Processual. Denunciação da lide. Descabimento da denunciação pretendida, uma vez que a transmissão da propriedade deu-se mediante doação, sendo que o doador não se sujeita à evicção. Ausência de responsabilidade contratual. Não subsunção ao art. 70 e seus incisos, do CPC. Agravo improvido. TJRS, AI 599.077.401, 19ª Câm. Cível, rel. Mário José Gomes Pereira, j. 03.08.1999. Apelação cível. Ação de revogação de doação. Impossibilidade diante de qualquer encargo por parte do donatário. Nos termos dos artigos 555 e seguintes do Código Civil, a doação somente poderá ser revogada no caso de ingratidão do donatário, ou por inexecução do encargo. Inexistindo a fixação de qualquer encargo na doação, não há que se falar na sua revogação. Recurso improvido. TJRS, Ap. Cível 70.014.211.361,rel. Claudir Fidelis Faccenda, j. 29.03.2006. Doação. Revogação. Possibilidade jurídica. Arts. 553 e 557 do Código Civil. Encargo e ingratidão. Prova. Inexistência. Art. 333, inciso I, do Código de Processo Civil. Pedido julgado improcedente. Sentença confirmada. Para a procedência do pedido de revogação da doação necessário que o autor demonstre a ocorrência da situação prevista no art. 555 do Código Civil, ou de alguma das hipóteses do art. 557, incisos I a IV, do mesmo diploma legal. Não havendo prova cabal do elenco de casos de ingratidão jurídica, posto no art. 557, do mencionado artigo legal, que é taxativo, impõe-se manter a sentença que julgou improcedente o pedido inicial. TJMG, Ap. Cível 1.0021.07.000422-7/001(1), rel. Antônio de Pádua, j. 25.09.2008. A doação pode ser revogada por ingratidão do donatário, nos termos dos artigos 555, 557, II e III, e 558 do Código Civil. Ofender a honra subjetiva do doador com palavras de baixo calão e praticar ofensa física contra sua neta, que o socorrera, caracteriza ingratidão, a ensejar a revogação da doação. TJSP, Ap. Cível c/ revisão 6.741.004.200, rel. Paulo Eduardo Razuk, j. 17.11.2009. Revogação de doação. Autora não comprovou nenhuma conduta inadequada dos réus que afrontasse a dignidade da pessoa humana da doadora. Ação proposta há mais de um ano, após a apelante ter conhecimento da suposta ingratidão dos réus, o que foi corroborado pela prova oral e pela revogação do mandato em que os apelados figuravam como mandatário. Decadência configurada. Aplicação do artigo 559 do Código Civil. Apelo desprovido. TJSP, Ap. Cível c/ revisão 6.217.664.800, rel. Natan Zelinschi, j. 25.03.2009. Se para a revogação da doação onerosa é preciso que o donatário incorra em mora (art. 562 do CC/02, 1ª parte), e se esta, nos casos de ausência de prazo para o cumprimento do encargo, só é constituída através de interpelação (art. 397 do CC/02), tem-se por certo que nos casos em que não houver prazo para o cumprimento do encargo, o doador deverá notificar judicialmente o donatário, a fim de constituir-lhe em mora (…). © desta edição [2018] TJMG, Ap. Cível 1.0081.04.000441-8/001(1), rel. Albergaria Costa, j. 30.03.2006.
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