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vitruvius_Quadra aberta Uma tipologia urbana rara em São Paulo

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http://www.vitruvius.com.br/revistas/read/projetos/11.124/3819
Page 1 of 6 Jul 27, 2017 08:07:28AM MDT
Centro
Comercial,
implantação,
Bom
Retiro,
São
Paulo.
Arquiteto
Lucjan
Korngold
Mapamontagem
de
Luis
Espallargas
Cidades
da
primeira
e
segunda
eras,
croquis.
Arquiteto
Christian
de
Portzamparc
[PORTZAMPARC,
Christian
de.
A
terceira
era
da
cidade]
vitruvius | projetos 124.01 projeto urbano vitruvius.com.br
como citar
GUERRA, Abilio. Quadra aberta. Uma tipologia urbana rara em São Paulo. , São Paulo, ano 11, n.Projetos
124.01, Vitruvius, abr. 2011 <http://www.vitruvius.com.br/revistas/read/projetos/11.124/3819>.
Christian de Portzamparc, em texto já clássico no meio arquitetônico brasileiro, defende a quadra aberta
como uma solução contemporânea para os grandes aglomerados urbanos. Segundo o arquiteto francês,
seria uma conciliação entre as cidades da primeira e segunda eras, abrindo as portas para a terceira era
da cidade. Uma conciliação entre as qualidades da rua-corredor da cidade tradicional e dos edifícios
autônomos da cidade moderna. Estamos diante de um urbanismo de síntese, aonde a resultante
"quadra aberta permite reinventar a rua: legível e ao mesmo tempo realçada por aberturas visuais e pela
luz do sol. Os objetos continuam sempre autônomos, mas ligados entre eles por regras que impõem
vazios e alinhamentos parciais. Formas individuais e formas coletivas coexistem. Uma arquitetura
moderna, isto é, uma arquitetura relativamente livre de convenção, de volumetria, de modenatura, pode
desabrochar sem ser contida por um exercício de fachada imposto entre duas fachadas contíguas" (1).
Ao contrário do que os críticos mais apressados disseram - alguns até em tom de chacota -,
Portzamparc não estava se propondo "inventar" a quadra aberta, mas sim preocupado em dar sentido
histórico e consistência conceitual para um fenômeno urbano que acontecia de forma crescente em
diversas grandes cidades.
Na cidade de São Paulo, mesmo que na forma de exceção, alguns exemplos de "quadra aberta"
podem ser encontrados, sendo ao menos quatro deles de excelente qualidade. Os projetos são de
períodos diferentes - anos 1960, 1970, 1980 e 2000 - e o tipo de investimento, o aporte tecnológico e
os princípios formais presentes nas edificações expressam em grande medida características
específicas de cada período. Contudo, as diferenças flagrantes da arquitetura dos edifícios não
prejudica a percepção do elemento urbano que os aproxima: a permeabilidade do solo, que possibilita
a integração de edificações privadas com o espaço público que os envolve. Pode-se observar
também, nesta aproximação inicial, que tais diferenças demonstram que a tipologia urbana "quadra
aberta" não é exclusiva de determinados  mecanismos econômicos e/ou princípios estéticos, mas uma
possibilidade potencial, que pode ou não ser usada, dependendo da escolha dos projetistas e,
principalmente, dos investidores.
O primeiro deles é o Centro Comercial do Bom Retiro, projeto de 1959 e inaugurado durante os anos
1960, no Bom Retiro, de autoria de Lucjan Korngold. O arquiteto, judeu polonês que migra para o Brasil
em 1940, projeta o empreendimento comercial para um grupo de investidores da comunidade hebraica
formado por Charles Wolkowitz, Jose Solboln, Filip Citron, Erwin Citron e Benjamin Citron. Segundo Anat
Falbel, arquiteto e investidores fazem parte de uma"imigração específica, cosmopolita, com origens na
média e alta burguesia judaica europeia, que [..] traz consigo uma experiência empresarial, e que no
Brasil divide suas iniciativas imobiliárias entre um restrito número de arquitetos imigrantes, pertencentes
ao mesmo grupo,criando assim as associações entre o capital e o trabalho profissional" (2).Aproveitando
o miolo de quadra, que pode ser acessado por dois lotes em ruas distintas - José Paulino e Ribeiro de
Lima -, o arquiteto polonês projetou uma edificação contínua, com quatro pisos, que se encosta nos
muros dos fundos dos lotes lindeiros, conformando uma clareira, no centro da qual dispôs uma pequena
torre com dez andares. A arquitetura é fortemente marcada pela simplicidade geométrica do modernismo
europeu, que se acomoda às restrições orçamentárias de um edifício voltado ao empreendimento
http://www.vitruvius.com.br/revistas/read/projetos/11.124/3819
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Centro
Comercial,
corte
longitudinal,
Bom
Retiro,
São
Paulo.
Arquiteto
Lucjan
Korngold
[KORNGOLD,
Lucjan.
Centro
comercial
do
Bom
Retiro.
Acrópole,
São
Paulo,
n.
253,
nov.
1959]
Centro
Comercial,
plantas,
Bom
Retiro,
São
Paulo.
Arquiteto
Lucjan
Korngold
[KORNGOLD,
Lucjan.
Centro
comercial
do
Bom
Retiro.
Acrópole,
São
Paulo,
n.
253,
nov.
1959]
Centro
Comercial,
acesso
rua
Ribeiro
de
Lima,
Bom
Retiro,
São
Paulo.
Arquiteto
Lucjan
Korngold
[KORNGOLD,
Lucjan.
Centro
comercial
do
Bom
Retiro.
Acrópole,
São
Paulo,
n.
253,
nov.
1959]
Centro
Comercial,
acesso
rua
José
Paulino,
Bom
Retiro,
São
Paulo.
Arquiteto
Lucjan
Korngold
[KORNGOLD,
Lucjan.
Centro
comercial
do
Bom
Retiro.
Acrópole,
São
Paulo,
n.
253,
nov.
1959]
europeu, que se acomoda às restrições orçamentárias de um edifício voltado ao empreendimento
imobiliário.
Ao contrário de Hautes Formes, onde Portzamparc solta a maioria de suas pequenas torres das
construções lindeiras, Korngold – seguramente para aproveitar ao máximo o terreno disponível, afinal se
tratava de um empreendimento privado e voltado para o mercado imobiliário – preferiu encostar a
edificação contínua na linha divisória do terreno. Contudo, a disposição distinta dos volumes em Hautes
Formes e no Centro Comercial do Bom Retiro não impede uma curiosa semelhança entre as duas
implantações, com seus dois acessos locados em vias em lados opostos do terreno.
Mesmo tendo sido publicado, ainda na condição de projeto, na revista (3), a crítica deAcrópole
arquitetura não deu muita atenção a centro comercial. Anat Falbel, a pesquisadora que foi mais a fundo
sobre a obra de Korngold, menciona-o rapidamente em artigo para a revista , mas com a suficienteAU
clareza acerca da qualidade do projeto:
"a proposta inovadora do Centro Comercial do Bom Retiro (1957) na Rua José Paulino (iniciativa original
entre os inúmeros projetos de galerias comerciais construídas no Centro de São Paulo no período)"(4).
O centro comercial encontra-se até hoje em pleno funcionamento, totalmente adequado ao comércio
popular da região. A conservação não é muito esmerada e algumas das lojas no avarandado superior –
correspondente ao terceiro piso e que circunda todo o complexo – encontram-se fechadas. Mas a
ocupação no térreo é total e o edifício no centro do lote abriga serviço e comércio em todos os seus
pisos.
A segunda quadra aberta bem resolvida na capital paulista é a Cetenco Plaza, localizada na esquina da
avenida Paulista, esquina com a alameda Ministro Rocha Azevedo, projeto de Rubens Carneiro Vianna
e Ricardo Sievers, construída nos anos 1970, no momento em que a cidade de São Paulo vivenciava a
mudança importante deslocamento de atividades econômicas entre regiões distintas da cidade. Heitor
Frúgoli relaciona o surgimento de "dois edifícios de inspiração modernista" – o Conjunto Nacional
(David Libeskind, 1956) e o Masp (Lina Bo Bardi, 1968) – antecipação de
"uma série de significativas alterações na região, respectivamente nas atividades comercial e cultural,
incluindo as primeiras etapas da migração de outras atividades do Centro tradicional para ali, o que
consolidaria plenamente na passagem dos anos 70, com a ida de várias empresas para a Paulista,
quando passa a constituir efetivamente uma nova centralidade na metrópole" (5). 
Neste momento, os principais bancos do centrovelho, em geral localizados na rua Boavista e
imediações, se mudam para o divisor de águas entre o centro e o Jardim Paulista, como parte da
dinâmica paulistana dos anos 1960 e 1970. O novo complexo da Avenida Paulista, construído pela
Cetenco para locação para serviços, vai abrigar principalmente atividades bancárias (a Caixa
Econômica Federal e o extinto Banespa ocuparam por anos os térreos das duas torres), confirmando o
processo apontado acima de mudança de centralidade. Atendendo ao programa proposto pelos
investidores, os arquitetos Rubens Carneiro Vianna e Ricardo Sievers projetam duas torres gêmeas, de
planta quadrada, totalmente envidraçadas em tom esverdeado, com radical simplificação do volume
graças à supressão da tradicional divisão tripartite entre embasamento, corpo e coroamento, ainda muito
presente nos edifícios modernos até os anos 1960. A dupla de arquitetos opta por posicionar uma das
torres na esquina e deslocar a segunda torre do conjunto para o fundo do terreno, o que permitiu a criação
de um espaço livre rico em diversidades, com praças e passagens, inclusive com um percurso por detrás
do Banco Sul-americano – atual Banco Itaú, projeto do escritório Rino Levi Arquitetos Associados –,
http://www.vitruvius.com.br/revistas/read/projetos/11.124/3819
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Centro
Empresarial
Itaú,
plantas
do
embasamento.
Itauplan
e
Aflalo
&
Gasperini
[CUPERTINO,
Jaime
Marcondes.
Centro
Empresarial
Itaú:
do
edifício
à
cidade,
Centro
Empresarial
Itaú,
implantação.
Itauplan
e
Aflalo
&
Gasperini
[CUPERTINO,
Jaime
Marcondes.
Centro
Empresarial
Itaú:
do
edifício
à
cidade,
p.
47]
Cetenco
Plaza,
Alameda
Ministro
Rocha
Azevedo,
São
Paulo.
Arquitetos
Rubens
Carneiro
Vianna
e
Ricardo
Sievers
Foto
Abilio
Guerra
Cetenco
Plaza,
esquina
da
Avenida
Paulista
e
Alameda
Ministro
Rocha
Azevedo,
São
Paulo.
Arquitetos
Rubens
Carneiro
Vianna
e
Ricardo
Sievers
[Norma
Fonseca.
Espaços
coletivos.
Espaços
privados
com
áreas
coletivas,
p.
60]
do Banco Sul-americano – atual Banco Itaú, projeto do escritório Rino Levi Arquitetos Associados –,
permitindo o acesso ao conjunto por uma terceira rua, a Frei Caneca. O projeto paisagístico, uma solução
bema articulada ao projeto arquitetônico, é de autoria do arquiteto paisagista Luciano Fiaschi.
O resultado final é uma grande permeabilidade disponível ao pedestre, que pode andar pelo interior dos
terrenos privados, sem maiores obstáculos. Um dos edifícios lindeiros, localizado na avenida Paulista, se
aproveitou muito bem da potencialidade da quadra aberta, pois os arquitetos José Magalhães Júnior e
Samuel Szpigel abriram os fundos do edifício para a área livre, ampliando as conexões na cota do térreo
(6).
Contudo, poucos anos depois da inauguração do complexo, a avaliação de Ruth Verde Zein não era
muito positiva. Em texto onde faz ampla avaliação das torres da avenida Paulista, Zein ressalta “o jogo de
reflexos frios e cambiantes da desolada praça ‘nova-iorquina’ entre o edifício do Banco de Crédito
Comercial, de José Magalhães e Samuel Szpigel, e as duas torres da Caixa Econômica Federal”, opinião
crítica reforçada na legenda das fotos: “a desolada praça ‘nova-iorquina’, o império da rainha do gelo, um
cenário de reflexos cambiantes” (7).
Que as eventuais qualidades da área livre tenham escapado a uma crítica tão experiente é prova
concreta do quanto as avaliações dependem de um tacão de medida estabelecido. A quadra aberta não
era um valor em meados dos anos 1980. Contudo, o uso mais restrito da Avenida Paulista naquele
período – a diversificação de usos só vai ocorrer após a inauguração da linha verde do metrô, em 1991 –,
talvez realmente desse às áreas livres o ar desértico apontado pela crítica. O que, em certo sentido,
demonstra a antevisão dos arquitetos responsáveis, que previram com enorme acerto o uso intenso que
teria o espaço muitos anos depois, quando as largas ruas da Avenida Paulista são tomadas por
multidões nas horas de pico e as áreas livres lindeiras passam a funcionar como bem vindos escapes do
tumultuado vai e vem de pessoas.
O Centro Empresarial Itaú é nosso terceiro exemplo de quadra aberta qualificada em São Paulo.
Trata-se de um empreendimento absolutamente incomum na capital paulista no que diz respeito aos
aspectos legais e urbanísticos, pois na prática se efetivou uma PPP – Parceria Público-Privado – bem
antes que este tipo de iniciativa fosse discutido conceitualmente no Brasil e colocado em vigência
através de lei.
Uma lei municipal específica atribui a gestão do empreendimento à Emurb – Empresa Municipal de
Urbanização –, empresa pública, o que permitiu a conciliação dos interesses públicos presentes na
implantação da estação Conceição da linha norte-sul do metrô e os interesses privados, representados
pelo Banco Itaú, proprietário do terreno, e investidores imobiliários. O projeto contou com duas fases, a
primeira a cargo da Itauplan, sob a liderança dos arquitetos João De Gennaro, Javier Judas y
Manubens e Jaime Marcondes Cupertino, quando foi desenvolvido o embasamento do conjunto,
conciliando a presença da estação no subsolo, sua relação com a praça externa e os acessos diversos
às áreas públicas e privadas.
A segunda fase, voltada para as torres, foi encomendada pelos empreendedores ao escritório Aflalo e
Gasperini, com a equipe de trabalho liderada pelos arquitetos Eduardo Martins Ferreira, Felipe Aflalo e
Jaime Marcondes Cupertino (este último é o único a participar das duas fases). No total, são cinco
torres, construídas em momentos diferentes. As três primeiras – dispostas junto à rua das Carnaubeiras
– têm formato cúbico – com estrutura periférica e caixa central com elevadores, escadas e banheiros –
e elevações que alternam faixas horizontais opacas (estrutura e alvenaria) e transparentes (esquadrias
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Brascan
Century
Plaza,
implantação.
Arquitetos
Jorge
Konigsberger
e
Gianfranco
Vannucchi
Imagem
KV
Centro
Empresarial
Itaú,
elevação
e
corte
longitudinal
do
conjunto.
Itauplan
e
Aflalo
&
Gasperini
[CUPERTINO,
Jaime
Marcondes.
Centro
Empresarial
Itaú:
do
edifício
à
cidade,
p.
48]
Centro
Empresarial
Itaú,
alternativas
de
implantação
das
torres.
Itauplan
e
Aflalo
&
Gasperini
[CUPERTINO,
Jaime
Marcondes.
Centro
Empresarial
Itaú:
do
edifício
à
cidade,
p.
31]
cidade,
p.
50-56]
e elevações que alternam faixas horizontais opacas (estrutura e alvenaria) e transparentes (esquadrias
envidraçadas), modelo seguido, com algumas modificações nas proporções, pela quinta torre, a última
a ser construída junto à Avenida Dr. Hugo Beochi. A quarta torre, destinada à Itausa, é totalmente
envidraçada e conta com estrutura central na periferia da caixa de circulação vertical e banheiros,
resultando em arrojado balanço da periferia da edificação.
O complexo – projeto e construção datados dos anos de 1980 a 1985 – localiza-se em gleba na zona sul
de São Paulo, delimitada pela Avenida Armando Arruda Pereira e ruas locais. O contraste entre as torres
com desenho prismático e o embasamento com formas orgânicas resulta da divisão original do projeto,
que foi levado à frente por arquitetos de duas equipes distintas. O projeto original do embasamento é de
autoria de Javier Judas y Manubens e Jaime Cupertino, sendo que este último explica assim a decisão
projetual: “a única fonte comum aos dois [arquitetos] era a grande admiração por Oscar Niemeyer, o que
aparece de forma clara em todo o desenho do embasamento, desde as lajes curvas do embasamento e a
solução de paisagismo até a escolha do grande painel de Sergio Camargo" (8).
Ao contráriodo que aconteceu com o Cetenco Plaza na Avenida Paulista, neste caso a avaliação de
Ruth Verde Zein é amplamente positivo. A autora aponta com clareza as qualidades da implantação do
projeto na cidade, em especial a conectividade do trânsito de pedestres:
“Outra decisão de grande importância para o projeto foi a integração da área do terreno com a praça
pública lindeira, inclusive com passagem de pedestres por dentro do conjunto [...]. O convênio entre o
Grupo Itaú e a prefeitura municipal permitiu essa integração, exigindo que o tratamento das áreas
públicas fosse executado às expensas do CIC. Com isso obteve-se um caráter extremamente urbano,
apenas encontrável no centro das grandes cidades, onde galerias e passagens particulares são uma
extensão das calçadas e ruas” (9).
O quarto exemplo é o Brascan Century Plaza (10), de autoria dos arquitetos Jorge Königsberger e
Gianfranco Vannucchi, implantado no início dos anos 2000 no Itaim Bibi. Bairro que passou, ao longo
dos anos 1990, por profunda transformação, com verticalização intensa e mudança de usos, o Itaim
torna-se uma região nobre, com prédios de apartamentos, equipamentos e serviços adequados aos
novos habitantes locais. Antigas moradias de baixo padrão e antigas plantas industriais são erradicadas
e é em um terreno anteriormente ocupado pela fábrica de chocolates Kopenhagen que vai ser erguido o
novo conglomerado projetado pela Königsberger & Vannucchi. Hoje se encontra esgotado o estoque de
terrenos de porte no bairro, o que praticamente inviabiliza novos investimentos do tipo – "no Itaim não
tem mais um terreno deste à disposição" (11), assinala Gianfranco Vannucchi – e provoca o deslocamento
dos investimentos imobiliários para outras regiões da cidade, em especial para a Avenida Berrini e
proximidades.
O conjunto Brascan Century Plaza conta com três torres com típicas preocupações contemporâneas –
tecnologia de última geração e grande variedade formal não só entre os edifícios, mas até mesmo entre
as elevações da mesma edificação –, encravadas na área livre do térreo, que, por sua vez, se articula
com as calçadas de três das ruas que conformam a quadra - Joaquim Floriano, Bandeira Paulista e
Tamandaré Toledo. O grande jardim – que ocupa praticamente toda a área livre do térreo e dá acesso às
lojas, cafés e cinemas – foi projetado por Benedito Abbud e conta com espelho d'água, vegetação e
escultura em madeira de Elisa Brancher. Um dos autores do projeto, o arquiteto Gianfranco Vannucchi,
comenta o valor urbano aportado no projeto: "as pessoas não aguentam mais ficar fechadas dentro de um
shopping. [...] É um projeto [...] que vai na contramão dos condomínios fechados, das grades, dos muros,
quer dizer, do enclausurar; pelo contrário, é um projeto que se abre para a cidade" (12).
http://www.vitruvius.com.br/revistas/read/projetos/11.124/3819
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Brascan
Century
Plaza,
praça
de
acesso
coletivo,
Itaim
Bibi,
São
Paulo.
Arquitetos
Jorge
Konigsberger
e
Gianfranco
Vannucchi
Foto
Nelson
Kon
É justamente este projeto, o mais recente dos quatro exemplos selecionados, que é o mérito da entrevista
com um dos seus autores, o arquiteto Jorge Königsberger, que se mostra muito animado em sua
avaliação da potencialidade da quadra aberta, com áreas privadas se articulando com as áreas públicas
da cidade:
"Vimos, já há anos, desenvolvendo projetos imobiliários privados e vimos nos opondo ás tendências
segregacionistas entre espaços públicos e privados. Consideramos ser perfeitamente possível suprir boa
parte das carências e fragilidades urbanísticas brasileiras através do maior suprimento de novos espaços
públicos privados qualificados integrados ao espaço público existente, dentro do modelo econômico
vigente" (13).
Convidamos o leitor a ler neste número da revista Projetos do portal Vitruvius a íntegra da entrevista com
Jorge Königsberger.
notas
1
PORTZAMPARC, Christian de. A terceira era da cidade. , São Paulo, n.9, FAU PUC-Campinas,Óculum
1997, p. 47. A publicação deste número da editada pelo autor, reflete não só suas preocupaçõesÓculum,  
pessoais, mas também as pesquisas e orientações de trabalhos de final de curso (TGI) durante os anos
1990 e primeira metade dos anos 2000 levadas a cabo por uma equipe de professores, que contava com
as presenças fixas de Abilio Guerra, Luis Espallargas Gimenez e Olquidio Barney, e alternadas de Wilson
Ribeiro dos Santos Jr., Denio Munia Benfatti, Vera Santana Luz, George Ribeiro, Spencer Nogueira,
Wilson Mariana e outros. Os quatro exemplos apresentados de forma sucinta neste artigo foram
estudados em diversas oportunidades, e de forma aprofundada, pela equipe formada pelos professores
mencionados e diversos grupos de alunos.
2
FALBEL, Anat. . Tese de doutorado. OrientadorLucjan Korngold a trajetória de um arquiteto imigrante
Paulo Bruna. São Paulo, FAU USP, 2003, p. 137-139. O projeto do centro comercial não é analisado pela
autora, mas está mencionado e catalogado em ficha (p. 211-212), baseado não só na publicação ocorrida
na revista Acrópole, mas também em processos da Prefeitura Municipal de São Paulo.
3
KORNGOLD, Lucjan. Centro comercial do Bom Retiro. , São Paulo, n. 253, nov. 1959.Acrópole
4
FALBEL, Anat. Um arquiteto no exílio. Seção Documento. , São Paulo, n.AU - Arquitetura e Urbanismo
170, maio 2008. Por sugestão deste autor, o projeto de Korngold foi tratado em trabalho acadêmico:
STUMP, Vinicius Dotto. As conexões do edifício: circulações e espaços coletivos em plantas térreas de
. Dissertação de mestrado. Orientadora Maria Isabel Villac.edifícios verticais paulistas da década de 1950
São Paulo, FAU Mackenzie, 2008. Ver  “2.4 - Vazios e sólidos no interior da quadra: Centro Comercial
Bom Retiro (1959)”, p. 72-79.
5
FRÚGOLI JR. Heitor. . SãoCentralidade em São Paulo: trajetórias, conflitos e negociações na metrópole
Paulo, Cortez/Edusp, 2000, p. 121.
6
Ver o capítulo 2, "Praça Paulista - Cetenco Plaza", no seguinte trabalho acadêmico: VIANNA, Norma
http://www.vitruvius.com.br/revistas/read/projetos/11.124/3819
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6
Ver o capítulo 2, "Praça Paulista - Cetenco Plaza", no seguinte trabalho acadêmico: VIANNA, Norma
Fonseca. . Dissertação de mestrado.Espaços coletivos. Espaços privados com áreas coletivas
Orientador Abilio Guerra. São Paulo, FAU Mackenzie, 2007.
7
ZEIN, Ruth Verde. A harmonia e a melodia de uma orquestra onde cada instrumento ensaia sozinho. 
, São Paulo, n. 78, ago.1985, p. 83 e 80, respectivamente.Projeto
8
CUPERTINO, Jaime Marcondes. . Dissertação de mestrado.Centro Empresarial  Itaú: do edifício à cidade
Orientador Ruth Verde Zein. São Paulo, FAU Mackenzie, 2009, p. 82. Este trabalho acadêmico descreve
e explica todo o processo de concepção, projetação e construção do complexo. Ver também VIANNA,
Norma Fonseca. Op. cit., capítulo 3 - Centro Empresarial Itaú Conceição (CEIC), p. 72-83.
9
ZEIN, Ruth Verde. Centro Itaú Conceição: exercício de urbanismo. , São Paulo, n. 85, mar. 1986, p.Projeto
29.
10
Brascan Century Plaza, projeto de Jorge Königsberger e Gianfranco Vannucchi. , São Paulo, n.Projetos
04.044, Vitruvius, ago. 2004 < >. Ver  também:www.vitruvius.com.br/revistas/read/projetos/04.044/2397
VIANNA, Norma Fonseca. Op. cit., capítulo 4, "Brascan Century Plaza".
11
Entrevista com o Arquiteto Gianfranco Vannucchi - Brascan Century Plaza, São Paulo, 31 de maio de
2007. In VIANNA, Norma Fonseca. Op. cit., anexos, p. 128-129.
12
Idem, ibidem, p. 127.
13
GUERRA, Abilio; SILVA, Aline Alcântara. Conversa com Jorge Königsberger. Brascan Century Plaza. 
, São Paulo, n. 11.124, Vitruvius, abr. 2011 <Projetos
>.www.vitruvius.com.br/revistas/read/projetos/11.124/3830
sobre o autor
Abilio Guerra é arquiteto, professor da graduação e pós-graduação da FAU Mackenzie e editor do portal
Vitruvius e da Romano GuerraEditora.

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