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Prof. Dr. Mário Caldeira UNIDADE III História da Arquitetura no Brasil A construção da nova capital do Brasil foi efetivamente um marco, não apenas pela construção em si, mas porque ela se tornou uma referência para as profundas mudanças pelas quais o país começou a passar. Vejamos a seguir algumas dessas transformações que afetaram a arquitetura e a urbanização no país. População: quando Brasília foi construída havia pouco mais de 70 milhões de habitantes no país. Ao longo de 60 anos a população triplicou, aumentando para mais de 210 milhões de habitantes. Isso representa uma demanda gigantesca por novas construções e espaços, principalmente habitações de qualidade. Urbanização: desde a década de 1950, a população urbana (número de pessoas que residem em cidades) vem crescendo em alta velocidade. Naquela época 64% da população total vivia no meio rural. Hoje, mais de 82% vive no meio urbano. A demanda por espaço urbano e novos programas arquitetônicos acompanhou esse forte movimento. Contextualização do período pós-Brasília Industrialização: até a década de 1950 o Brasil ainda era um país essencialmente rural, em lenta transformação nessa área desde a década de 1930. Em 1946, foi inaugurada a primeira grande siderúrgica brasileira, a Companhia Siderúrgica Nacional. Em 1953, foi criada a Petrobras, principal estatal do setor petroleiro no país. Após a década de 1950 as construções para instalações industriais aumentam vertiginosamente. Com isso, amplia-se a oferta de materiais para construção civil e os processos de construção modernizam-se na arquitetura e na engenharia. Esse processo continua até hoje. Financiamento da construção habitacional: o financiamento habitacional, público ou privado, tornou-se, a partir de meados da década de 1980, um serviço bancário razoavelmente acessível para a maioria das faixas de renda, dentro das chamadas fases 3 e 4 de transformação desse tema da construção habitacional. No entanto, para a população de renda muito baixa o acesso a financiamento ainda era e é muito limitado. Contextualização do período pós-Brasília Expansão do setor de serviços: após a década de 1960, o setor de serviços começa a se ampliar e necessitar de novas construções, principalmente edifícios comerciais, escolas e universidades privadas, escritórios de pequeno e de grande porte, construções destinadas à saúde, edifícios bancários, redes hoteleiras etc. Isso acontece tanto no setor público quanto privado, em forma de ondas. Esses momentos de expansão da construção acompanham a evolução da economia do país e continuam até hoje. Cursos de Arquitetura e Urbanismo: até a década de 1990, havia poucos cursos de arquitetura e urbanismo pelo país, e a maioria deles se concentrava na Região Sudeste. A partir de então e até a década de 2010, há um grande aumento no número de cursos, com destaque para uma participação cada vez maior de mulheres na área. Outro aspecto relevante a partir dos anos 1990 é uma maior divulgação da profissão em um país que, historicamente, os profissionais ligados à construção eram geralmente engenheiros. E a partir da década de 2010 as mulheres tornaram-se maioria na profissão. Contextualização do período pós-Brasília A expansão do setor de serviços levou à realização de inúmeros projetos de edifícios verticais destinados a escritórios administrativos de empresas. É nessa época, a partir de meados dos anos 1960 e início dos 1970, que começa a transformação da Avenida Paulista em centro de negócios. E um dos edifícios mais representativos desse período é o Edifício Luiz Eulálio Bueno Vidigal Filho, sede da Fiesp-Ciesp-Sesi, projeto do arquiteto Rino Levi (1901-1965) inaugurado em 1979. Contextualização do período pós-Brasília Sede da Fiesp-Ciesp-Sesi na Avenida Paulista, São Paulo, SP. É o edifício em forma de tronco de pirâmide, e foi inaugurado em 1979. Autoria: Rino Levi Arquitetos Associados. Fonte: https://upload.wikimedia.org/wikipedia/common s/f/fe/Fiesp2007.JPG. Acesso em: 03 jun. 2022. A Avenida Paulista, desde que começou a se transformar em centro de negócios, além de ter sua densidade habitacional aumentada ao longo das décadas de 1960 e 1970, teve novas mudanças e a partir dos anos 1990 recebeu vários equipamentos culturais. Um dos primeiros foi o Centro Cultural Itaú, projetado pelo engenheiro (mas que todos consideravam arquiteto pela sua forma de trabalhar) Ernest Mange. O edifício também é um dos poucos que usam de forma intensa e plástica a estrutura em aço, material ainda pouco usado na arquitetura no Brasil quando comparado ao concreto armado. Contextualização do período pós-Brasília Centro Cultural Itaú, São Paulo, SP, inaugurado em 1995. Autoria: Ernest Robert de Carvalho Mange e equipe do Instituto Cultural Itaú. Fonte: https://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/4/4e/Building_in_ Avenida_Paulista%2C_Brazil_5.jpg/. Acesso em: 27 maio 2022. Como visto anteriormente, a arquitetura moderna aos poucos começa a se inserir pelo país, partindo da década de 1920 e se tornando predominante no ensino universitário e nas principais obras pelas décadas seguintes. A partir da década de 1960, tem início um processo de mudança nos projetos, uma revisão, seja de dentro para fora, seja por influências externas, tanto europeias quanto norte-americanas. Assim, após a década de 1950 há uma busca intensa por novas possibilidades, como visto anteriormente: interpretações do brutalismo europeu, a influência do pós-modernismo, o uso generalizado do concreto armado aparente etc. Isso é válido apenas para alguns projetos maiores, algumas residências e prédios públicos. A população em geral tinha pouco acesso a profissionais de arquitetura. Nesse contexto é que a partir dos anos 1970 surgem arquitetos e arquitetas, individualmente ou em grupos, que começam a trilhar novos caminhos. Arquitetura pós-moderna no Brasil É possível afirmar que a arquitetura pós-moderna, seja a de origem europeia ou norte- americana, foi aplicada no Brasil, mas, como sempre, com uma interpretação tupiniquim bastante característica e de acordo com a região do país. Essa linguagem não perdurou muito tempo, mas deixou traços interessantes no país. Veremos aqui alguns projetos que se destacaram na época, entre 1970 e 1980. É importante perceber que a linguagem pós-moderna no Brasil não se consolidou com um léxico único, mas muito mais com algumas atitudes formais e construtivas, como o uso de materiais de acabamento ao invés do concreto armado aparente, a aplicação de referências pós- modernas europeias ou releituras de sistemas construtivos e linguagens antigas. Arquitetura pós-moderna no Brasil O projeto do Ginásio de Guarulhos, Santo André, SP possui muitas das soluções arquitetônicas que foram utilizadas pelos arquitetos e arquitetas que seguiram a linha da Escola Paulista em meados do século XX. Isso pode ser dito principalmente pelo uso do concreto armado, a aplicação de grandes vãos e de uma sequência de pórticos equidistantes que funcionam como módulo projetual. Arquitetura pós-moderna no Brasil Escola Crispiniano Conselheiro (antigo Ginásio de Guarulhos), Guarulhos, SP, 1960. Acima, planta do pavimento principal e abaixo vista externa mostrando o desnível do terreno. Projeto de João Batista Vilanova Artigas e Carlos Cascaldi. Vista externa e planta do pavimento. Fonte: ARTIGAS, R. Vilanova Artigas. São Paulo: Terceiro Nome, 2015. No projeto da Escola Conceiçãozinha, a estratégia projetual usada é semelhante à da Escola 31 de Março, mas a linguagem construtiva e formal usando arcos em tijolo e tesouras de madeira é uma leitura de sistemas antigos, o que é uma característica da pós-modernidade. Arquitetura pós-moderna no Brasil Escola Pastor Francisco Paiva de Figueiredo (Escola “Conceiçãozinha”), Guarujá, SP,1976. Projeto de João Batista Vilanova Artigas. Fonte: ARTIGAS, R. Vilanova Artigas. São Paulo: Terceiro Nome, 2015. O edifício Terra Brasilis seria, a princípio, apenas mais um edifício de escritórios em São Paulo, mas chamou a atenção pelo coroamento diferenciado, que usa citações arquitetônicas, como as estrelas que formam a constelação do Cruzeiro do Sul e os revestimentos coloridos em uma movimentada volumetria. Tudo muito diferente dos paradigmas da Escola Paulista e do seu onipresente concreto armado aparente. Arquitetura pós-moderna no Brasil Edifício Terra Brasilis, final da década de 1980. Projeto de Jorge Königsberger e Gianfranco Vannuchi. São Paulo, SP. Fonte: Revista Projeto, n. 137, dez. 1990/jan. 1991, p. 63. Foto: Renata Castello Branco. Em Minas Gerais, um grupo de arquitetos opta por realizar projetos com uma linguagem pós- moderna mais próxima do que era feito no exterior, com uma dose de humor também. Mas no projeto do Palácio Arquiepiscopal em Mariana, a pós-modernidade foi manifestada na reinterpretação de uma linguagem construtiva e formal das residências coloniais brasileiras. Atitude semelhante havia sido feita por outros arquitetos nos projetos de estações do metrô em São Paulo, mas com uma vertente mais modernista. Arquitetura pós-moderna no Brasil Palácio Arquiepiscopal, Mariana, MG. Projeto de Éolo Maia, Jô Vasconcellos e Sylvio Emrich de Podestá. Projeto de 1982-83. Fonte: https://www.google.com.br/maps/@- 20.3795804,- 43.4173829,231m/data=!3m1!1e3. Acesso em: 20 maio 2022. Um dos edifícios desse período que até hoje chama muito a atenção (tanto que é conhecido como “Rainha da Sucata”) é a atual sede do Museu de Mineralogia, na Praça da Liberdade, em Belo Horizonte. Apesar da aparente somatória de formas e materiais desconexos, de fato o projeto é uma reunião intencional de vários elementos arquitetônicos encontrados na própria praça, uma conjunção de citações e referências. Arquitetura pós-moderna no Brasil Centro de Apoio Turístico Tancredo Neves, hoje Museu de Mineralogia Professor Djalma Guimarães, Praça da Liberdade, Belo Horizonte, MG. Projeto feito em 1984/85 por Sylvio Emrich de Podestá e Éolo Maia e equipe. Fonte: https://www.google.com.br/maps/@- 19.9324621,-43.9387752,17z. Acesso em: 26 maio 2022. O planejamento urbano é uma modalidade que teve muitas mudanças ao longo do tempo no Brasil. Mas é possível afirmar que essa disciplina começa no final do século XIX. É importante lembrar que havia algum planejamento na ocupação territorial por parte dos portugueses, apesar das limitações técnicas e restrições políticas. De um modo geral, o planejamento urbano no Brasil pode ser compreendido aproximadamente em 4 fases. Vários pesquisadores, como Flávio Villaça e Maria Cristina da Silva Leme, têm se debruçado para entender esse processo e como ele afetou e afeta as nossas cidades. São elas: 1ª fase – planos de embelezamento (1875-1930) 2ª fase – planos de conjunto (1930-1965) 3ª fase – planos de desenvolvimento integrado (1965-1971) 4ª fase – planos sem mapas (1971-1992) Os planos são os projetos e textos que determinavam o que e como deveria ser feito no espaço urbano. Urbanismo pós-Brasília 1ª fase – planos de embelezamento (1875-1930) Nessa fase, os planos eram basicamente cópias do que se fazia na Europa, e consistiam basicamente em eliminar ocupações de população de baixa renda, alargar vias nas áreas mais centrais, inserir infraestrutura (principalmente saneamento) e criar parques e praças, elaborar legislação urbanística, reformar e reurbanizar áreas portuárias. Geralmente as intervenções desses planos eram pontuais, na maioria das vezes no centro da cidade. 2ª fase – planos de conjunto (1930-1965) Nessa fase, os planos passaram a incluir toda a cidade, buscando uma integração entre a área central e os bairros, e destes entre si, com a criação de sistemas de vias e de transportes. É implantado o zoneamento, como o conhecemos hoje, e a legislação urbanística para controle do uso e ocupação do solo. Dois dos principais representantes dessa fase são Plano de Alfred Agache, para o Rio de Janeiro, e o Plano de Avenidas de Prestes Maia, para São Paulo, ambos elaborados em 1930. Urbanismo pós-Brasília 3ª fase – planos de desenvolvimento integrado (1965-1971) Os planos elaborados até aqui são unicamente físico-territoriais, e a partir desta fase são incorporados aspectos como os econômicos e sociais. Outra característica marcante dessa fase é que os planos tinham um caráter técnico-científico na sua elaboração, eram muito genéricos e a implementação das suas diretrizes na cidade real era muito difícil ou impossível. Essa distância dos planos dessa fase em relação à realidade e a dificuldade da sua aplicação tinham relação com a organização do Estado, cada vez maior e mais burocrática, e a falta de interesse por parte das classes dominantes. O principal exemplo dessa fase é o Plano Doxiadis, para o Rio de Janeiro, em 1965. Urbanismo pós-Brasília 4ª fase – planos sem mapas (1971-1992) Os planos feitos nessa fase parecem ser o resultado da ineficácia dos superplanos feitos na terceira fase, e que acabavam esquecidos nas prateleiras da administração pública. No seu lugar são feitos planos bem simples, principalmente por técnicos das prefeituras, sem muitos desenhos e com levantamentos limitados. O período posterior a essas fases ainda é objeto de estudo por parte dos pesquisadores, mas é possível afirmar que, com a Constituição de 1988 e a legislação que criou o Estatuto da Cidade em 2001, o papel do planejamento urbano mudou significativamente. Hoje os instrumentos de que um município dispõe para gerenciar o espaço urbano são eficientes e úteis, quando corretamente aplicados: o Plano Diretor, as Operações Urbanas Consorciadas, a forma de financiamento de obras públicas, são consequências dessa legislação. Também é importante destacar o tratamento dado às ocupações de populações de baixa renda e a maneira de intervir na cidade de forma mais pontual, menos generalista. Urbanismo pós-Brasília A pedestrianização de ruas centrais na cidade de São Paulo começa em 1976, com mais de 20 ruas sendo fechadas ao tráfego de veículos. Essa proposta é feita em um contexto de profundas mudanças pelas quais a região central da cidade passava desde a década de 1960. Muitos textos da época, e ainda hoje, falam em “decadência”, “empobrecimento” e abandono dessa região. No entanto, por outro lado, assim como outras regiões centrais de grandes cidades, é uma área urbana extremamente importante, com grande oferta de empregos, serviços, boa infraestrutura e acessibilidade. A pedestrianização de áreas centrais Calçadão no centro de São Paulo, SP. A pedestrianização de várias ruas da região central da maior cidade do Brasil gera debates e muitas controvérsias até hoje. Fonte: https://upload.wikimedia.org/wikipedia/co mmons/8/8f/Centro_de_S%C3%A3o_Paul o_-_%2817122118315%29.jpg. Acesso em: 09 maio 2022. O Rio-Cidade foi um programa de intervenção urbana feito pela prefeitura do Rio de Janeiro entre 1993 e 2007 (hoje seria chamado de urbanismo tático). Sua proposta, assim como intervenções feitas em outras cidades, era melhorar o desenho urbano da cidade, em propostas pontuais e na escala do pedestre, em vários bairros nobres e de classe média. Programa “Rio Cidade” Projeto de desenho urbano no bairro do Leblon, Rio de Janeiro, RJ. Observe o cuidado com o projeto da calçada e a relação com a rua. Fonte: https://www.google.com.br/maps/@-22.9864246,- 43.2290284,3a,75y,163.49h,84.44t/data=!3m6!1e1!3m4!1s1gWfn5 BcStDbf-pLienYBQ!2e0!7i16384!8i8192. Acesso em: 09 maio 2022. Com projeto de Jorge Wilheim (1928-2014) e da paisagista Rosa Grena Kliass (1932- ), a reurbanização do Vale do Anhangabaú foi resultado deum concurso público realizado em 1980. Concluída em 1992, foi um tipo de reurbanização e intervenção paisagística e urbana de grande escala, mas pontual. Reurbanização do Vale do Anhangabaú – 1980 Reurbanização do Vale do Anhangabaú, São Paulo, SP, 1981-1992. Projeto do urbanista Jorge Wilheim (1928-2014) e da paisagista Rosa Grena Kliass (1932- ), com colaboração de Jamil José Kfouri, Fonte: KLIASS, R. G. Rosa Kliass: desenhando paisagens, moldando uma profissão. São Paulo: Editora SENAC São Paulo, 2006. p. 131. Em 1995 foi criado o programa Favela Bairro na cidade do Rio de Janeiro, com o objetivo de conectar e equiparar as favelas aos bairros formais da cidade, equipando essas áreas historicamente negligenciadas, com aprimoramento da infraestrutura e dos serviços urbanos. Na 1ª fase foram atendidas 88 favelas, hoje chamadas de comunidades. No entanto, após um início com melhora real da qualidade dos serviços e da infraestrutura urbana, tudo voltou ao que era antes do programa. Programa “Favela-bairro” A 1ª fase do Favela Bairro, programa de iniciativa municipal no Rio de Janeiro, RJ, foi de 1995 a 2000, a 2ª de 2000 a 2007, a 3ª de 2010 a 2016 (o programa foi substituído pelo “Morar CARIOCA”) e a 4ª de 2017 a 2020. Fonte: https://upload.wikimedia.org/ wikipedia/commons/b/b8/Pra %C3%A7a_do_Conheciment o.jpg. Acesso em: 09 maio 2022. As intervenções pontuais nas grandes cidades substituíram os genéricos e dispersivos planejamentos baseados em dados quantitativos. Um exemplo é o Centro Dragão do Mar, em Fortaleza, concluído em 1999. Intervenções pontuais com equipamentos urbanos Centro Dragão do Mar de Arte e Cultura, Fortaleza, CE. Projeto dos arquitetos Delberg Ponce de Leon e Fausto Nilo, foi inaugurado em 1999, na antiga área portuária da turística Praia de Iracema. Fonte: https://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/0/0b/ Centro_Drag%C3%A3o_do_Mar_de_Arte_e_Cultura_ %284%29.jpg. Acesso em: 08 maio 2022. Outro exemplo do uso de intervenções pontuais com equipamentos públicos foram as instalações feitas para os Jogos Olímpicos no Rio de Janeiro, realizados em 2016. Intervenções pontuais com equipamentos urbanos Vista geral do Parque Olímpico dos Jogos Olímpicos realizados no Brasil em 2016, na Barra da Tijuca, Rio de Janeiro, RJ. Fonte: https://upload.wikimedia.org/wikipedia/commo ns/9/92/Parque_Ol%C3%ADmpico_Rio_2016. jpg. Acesso em: 08 maio 2022. Entre o final dos anos 1970 e até os anos 1990, há uma intensa produção arquitetônica e urbana em várias regiões do país, com uma característica em comum: a busca de novos caminhos para resolver diferentes situações. A partir dessa época já não é mais possível falar em escolas ou movimentos unificadores de estilos ou de propostas arquitetônicas. Há algumas continuidades do movimento moderno, das escolas carioca e paulista, mas sob novas condições técnicas, mudanças de legislação (principalmente as que tratam de segurança e acessibilidade), formas diferentes de organizar o espaço e uma valorização da atividade profissional como exercício prático. Os projetos mostrados a seguir mostram essa variedade de preocupações e interesses, espalhados por um país tão vasto como o nosso. É preciso lembrar que os arquitetos que se destacam nessa época se formaram ainda sob o grande manto do modernismo em suas diversas vertentes, mas já, de alguma maneira, se distanciavam dos seus dogmas. Movimentações no final do século XX O Mube – Museu Brasileiro da Escultura e da Ecologia foi o resultado de um concurso ganho pelo projeto do arquiteto Paulo Mendes da Rocha. Apesar de várias controvérsias acerca da posse do terreno, do financiamento do projeto e da aparência fúnebre da sua arquitetura, o edifício se transformou em um ícone da arquitetura na capital paulista e uma referência pela sua implantação ousada. Essa implantação repete soluções já consolidadas por arquitetos como Oscar Niemeyer, criando áreas planas sobre a qual se destaca um objeto arquitetônico. Movimentações no final do século XX Museu Brasileiro da Escultura e da Ecologia, São Paulo, SP. Projeto de 1986. Autor: Paulo Archias Mendes da Rocha. Fonte: https://upload.wikimedia.org/wikipedia/com mons/4/40/MuBE_2.JPG. Acesso em: 26 maio 2022. Enquanto nas Regiões Sudeste, Sul e Nordeste do país faziam-se arquiteturas baseadas no concreto armado, e por vezes no aço, com releituras e críticas superficiais ao modernismo, na Região Norte Severiano Porto praticava, quando possível, uma arquitetura baseada no uso da madeira e em formas construtivas regionais. Esse movimento não era exatamente uma novidade na época (isso estava sendo feito em outros países), mas no Brasil construções como o Centro de Proteção Ambiental, em Manaus, eram realmente inovadoras. Movimentações no final do século XX Centro de Proteção Ambiental Usina Hidrelétrica de Balbina, Manaus, AM, 1983-1988. Autor: Severiano Mario Porto (1930-2020). Fonte: https://www.google.com.br /maps/@-1.9385563,- 59.4224465,3a,75y,96.61h ,98.29t/data=!3m6!1e1!3m 4!1sGJXZJTwKBakQSnj0 MCSd4Q!2e0!7i13312!8i6 656. Acesso em: 26 maio 2022. Raras são as vezes que um arquiteto tem a oportunidade de desenhar um conjunto arquitetônico que marque um bairro ou uma via em uma grande cidade. Carlos Bratke, junto com a construtora Bratke-Collet fundada pelo seu irmão Roberto em parceria com Francisco Collet, tiveram essa oportunidade. Filhos de um reconhecido arquiteto modernista brasileiro, Oswaldo Bratke (1907-1997), Carlos e seu irmão tiveram essa oportunidade no desenvolvimento urbano de um trecho da zona sul de São Paulo durante os anos 1970 e 1980 e constituíram um cenário urbano que deu início a uma das regiões que mais tiveram investimentos imobiliários na cidade. Apesar de ser bastante questionável a qualidade dos espaços urbanos da região, a arquitetura das edificações destinadas a escritórios trouxe algumas inovações. A mais importante foi a estratégia projetual de criar uma planta retangular limpa para a colocação dos escritórios, deslocando para a periferia dessa planta os elementos que servem ao espaço principal: escadas, elevadores, prumadas de instalações e banheiros. Isso gerou volumes muito ricos nos edifícios. Movimentações no final do século XX Movimentações no final do século XX Edifício comercial Morumbi Plaza, São Paulo, SP, 1980. Projeto do arquiteto Carlos Bratke. Fonte: https://www.google.com.br/ma ps/@-23.6190053,- 46.6971613,3a,47.9y,18.53h,1 03.32t/data=!3m6!1e1!3m4!1s 3qxZhlIuLoKjvJzqQV- 8Vw!2e0!7i16384!8i8192. Acesso em: 09 maio 2022. Planta do pavimento tipo do edifício comercial Morumbi Plaza. Observe a posição das prumadas de circulação vertical, banheiros e dutos verticais posicionados fora da geometria da área destinada aos escritórios. Fonte: BASTOS, M. A. J.; ZEIN, R. V. Brasil: arquiteturas após 1950. São Paulo: Perspectiva, 2010. p. 271. Com adaptações. Movimentações no final do século XX Edifício de escritórios Brasilinterpart, São Paulo, SP. Projeto de 1982, construído em 1987, com autoria do arquiteto Carlos Bratke. Fonte: “O aproveitamento estético das formas geométricas”, in Revista Projeto, ed. 103, setembro 1987, p. 109-110. Planta do pavimento tipo do edifício de escritórios Brasilinterpart, São Paulo, SP. Fonte: “O aproveitamento estético das formas geométricas”, in Revista Projeto, ed. 103, setembro 1987, p. 109-110. Enquanto alguns arquitetos ainda se preocupavam com questões ideológicas mais do que com a realidade construída e outros ainda debatiam se os dogmas do modernismo eram válidos, Fernando Peixoto fazia uma arquitetura na Bahia que pode-se dizer no mínimo colorida e sem regras preestabelecidas. A aparente desvinculação do desenho das fachadas de alguns prédios que ele projeta nos anos 1990 cria um plástica única.Movimentações no final do século XX Centro Empresarial Previnor, Salvador, BA, 1993. Autoria: Fernando Peixoto. Fonte: https://www.google.com.br/maps/@- 12.9799495,- 38.4503208,3a,90y,252.41h,108.5t/data=! 3m6!1e1!3m4!1sNW8C_sOBk60Tvh9ChF OgWQ!2e0!7i16384!8i8192. Acesso em: 26 maio 2022. Assim como em vários países, a construção de uma instituição ligada à arte (neste caso o Museu de Arte Contemporânea de Niterói) colocou em destaque regional e mundial uma cidade pouco conhecida. Niterói, no Rio de Janeiro, ganhou destaque com o projeto, feito em 1991 por Oscar Niemeyer. Sua localização e maneira como o volume aproveita a implantação impressionam de imediato. Niemeyer recebera em Chicago, EUA, o Prêmio Pritzker de 1988, dividindo-o com o arquiteto Gordon Bunshaft. Movimentações no final do século XX Museu de Arte Contemporânea de Niterói, Niterói, RJ. Inaugurado em 1996. Autor: Oscar Niemeyer. Fonte: https://pixabay.com/pt /photos/oscar- niemeyer-rio-de- janeiro-1087668/. Acesso em: 26 maio 2022. A terceira fase (1986-1997) dos tipos de financiamento da produção de habitação coletiva começa com a extinção do BNH, em 1986, e a busca de novas soluções por parte de estados e municípios para a construção de moradias financeiramente mais acessíveis. A iniciativa privada começa a ampliar sua atuação no mercado imobiliário, em um mercado com diversos problemas jurídicos, financeiros, de inadimplência e incapaz de atender plenamente ao mercado. Esse período se encerra com a falência da Encol, uma das maiores construtoras do país. Por causa desse evento, a legislação sobre os financiamentos imobiliários e o comportamento das construtoras, incorporadoras, investidores e o próprio poder público mudaram sua maneira de atuar. A arquitetura e a habitação coletiva Os apartamentos para grupos de maior renda tinham uma característica em comum: eram grandes e repetiam uma distribuição espacial interna de cômodos que buscavam se assemelhar a uma residência. Essa foi uma estratégia para atrair esse tipo de morador. O apartamento para investimento imobiliário era em geral o que chamamos hoje de flat, mas era originalmente apelidado de kitchenette: era essencialmente uma grande sala, com uma pequena cozinha e um banheiro. E para a população de renda mais baixa sobrava a opção de morar em favelas (hoje chamadas de comunidades) ou em edificações encortiçadas. Até a década de 1940, aproximadamente, o tratamento dado pelo Estado a esse grupo social, quando se tratava de planejamento urbano, era a simples remoção. Essa prática só foi considerada inadequada a partir da década de 1980. Após a década de 1960 começam a surgir conjuntos habitacionais para faixas de renda mais baixa. Essas iniciativas sempre foram caracterizadas pela falta de qualidade urbana na implantação, descontinuidade de programas habitacionais públicos e incapacidade de atender à demanda. A arquitetura e a habitação coletiva Uma das formas de morar que surgiu na primeira metade do século XX e se expandiu com força nas grandes cidades foi o apartamento. Desde os edifícios com poucos andares e sem elevador, até os grandes condomínios verticais, o apartamento foi disseminado de forma contínua. No início, essa modalidade de morar enfrentou dificuldades de aceitação, em um país acostumado a residências unifamiliares. Mas é possível afirmar que essa situação mudou de forma relativamente rápida. Nas quatro primeiras décadas do século XX houve três manifestações arquitetônicas desse conceito de morar coletivo: o apartamento para grupos sociais de maior renda, o apartamento para investimento imobiliário e o apartamento para classes médias produzido pelo Estado. Sobre este último já foi falado na Unidade II. Pode-se afirmar, de um modo geral, que é a partir dos anos 1980 que o poder público começa a usar a modalidade de apartamentos para tentar solucionar a moradia para populações de baixíssima renda (e que não têm acesso a financiamento imobiliário). A arquitetura e a habitação coletiva As intervenções realizadas nas favelas brasileiras não são tecnicamente nem arquitetonicamente homogêneas, tampouco são uma unanimidade em termos de solução para o problema da habitação para populações de baixa renda. Um exemplo é a favela Nova Jaguaré, em São Paulo, que teve diversas intervenções públicas, urbanas e arquitetônicas, com remoções parciais de moradores, problemas de descontinuidade de programas etc. A arquitetura e a habitação coletiva Urbanização da favela Nova Jaguaré, no distrito do Jaguaré, São Paulo, SP. Essa comunidade teve diversas intervenções: entre 1995 e 2006, por exemplo, houve o PROVER, o Programa Bairro Legal e o Programa de Urbanização de Favelas. Nenhum solucionou plenamente a situação das pessoas naquela área. Fonte: https://upload.wikimedia.org/wikipe dia/commons/4/48/Jaguar%C3%A 9_- _Conjunto_Habitacional_2.JPG. Acesso em: 08 maio 2022. Os apartamentos, no início do século XX, começam com plantas de grande área, simulando o espaço de uma casa unifamiliar térrea. Mesmo as kitchenettes e apartamentos destinados às classes médias tinham áreas consideradas muito grandes segundo os padrões atuais. Ao longo do século XX os apartamentos foram diminuindo de tamanho, sua compartimentação acentuada e a hierarquização das áreas e cômodos e o programa modificados progressivamente. Segundo dados do Secovi-SP, os apartamentos maiores foram os que mais diminuíram, proporcionalmente. Exemplo: em 1981, um apartamento de luxo com mais de três dormitórios tinha em torno de 500 m2. Quinze anos mais tarde, o mesmo programa era colocado em 407 m2 (redução de 20%). Em 2006, um programa com quatro suítes e duas salas de estar, e demais cômodos da modalidade, são frequentemente projetados dentro de 150 m2. Os apartamentos menores encolheram menos: os de dois dormitórios perderam 11% da área e os de um quarto ou kitchenettes ficaram 17% menores. A arquitetura e a habitação coletiva Há um aspecto pouco citado na historiografia da arquitetura residencial do final do século XX no Brasil, que é a influência do marketing imobiliário no projeto de apartamentos. Até os anos 1980, as propagandas para divulgação de prédios de apartamentos (as de residências eram quase inexistentes) eram muito limitadas, pode-se dizer excessivamente técnicas. Essa situação muda radicalmente nos anos 1990 e se mantém até o momento. A partir dessa época, o marketing imobiliário consolida-se como disciplina dentro da construção civil ao mesmo tempo que o perfil dos prédios de apartamento muda, transformando-se em condomínio clube. Os agentes que praticam o marketing imobiliário, dentre os quais inúmeros arquitetos e arquitetas criam um padrão de divulgação que inclui a divulgação em várias mídias, com imagens realísticas do projeto, cadernos muito bem ilustrados, grandes maquetes e o mock-up das unidades residenciais, chamado de “modelo decorado”. Mas o marketing imobiliário vai além e influencia também as decisões arquitetônicas. A aparência e o conceito do projeto passam a ter um forte vínculo com o marketing. O marketing imobiliário e o novo ecletismo Ao mesmo tempo que o marketing imobiliário modificava a maneira de vender, e por vezes de fazer, arquitetura residencial vertical, ressurgia uma valorização do tratamento plástico da volumetria e das fachadas desse tipo de edifício. As casas unifamiliares e outros programas, como escritórios, também foram afetados por essa nova onda que durou, a grosso modo, entre os anos 1990 e 2010. O termo novo ecletismo pode ser usado porque essas arquiteturas eram denominadas de neoclássico, romântico, e até mesmo art déco e art nouveau. É importante lembrar que internamente a lógica da distribuição dos espaços dentro dos apartamentos seguia sua própria história, já inicialmente narradana Unidade II e continuada nesta Unidade. O marketing imobiliário e o novo ecletismo Ao lado, um exemplo de conjunto de prédios denominados de neoclássicos na cidade de São Paulo. Apesar da fachada procurar referências em uma arquitetura distante no tempo, o interior desses edifícios é totalmente contemporâneo e com uma organização típica do início do século XXI, com amplas varandas sendo usadas como espaços internos. Essa maneira de construir fachadas durou aproximadamente duas décadas. O marketing imobiliário e o novo ecletismo Torres de apartamentos com fachadas chamadas de neoclássicas, início do século XXI, São Paulo, SP. Esse estilo, ao final da década de 2010, começou a ser recusado pelos compradores e escritórios de arquitetura. Fonte: https://www.google.com.br/maps/@- 23.5923427,- 46.6679748,3a,90y,226.85h,113.01t/data=!3m 6!1e1!3m4!1sJqsRd72BwTdDnc_dLT6HZA!2 e0!7i16384!8i8192. Acesso em: 06 jun. 2022. Quais das características arquitetônicas abaixo indicadas fazem parte da estratégia projetual adotada pelo arquiteto Carlos Bratke na criação de edifícios de escritórios na região sul da cidade de São Paulo nas décadas de 1970 e 1980? I. A criação de uma planta retangular interna limpa, para inserção do leiaute dos escritórios. II. O uso de teto-jardim, para aliviar a incidência de raios solares na cobertura. III. O deslocamento das prumadas de circulação vertical para a parte externa da planta dos escritórios. IV. A criação de volumes muito simples, semelhantes às torres do Estilo Universal. a) Afirmativas III e IV. b) Afirmativas I e III. c) Afirmativas I e II. d) Afirmativas I e IV. e) Afirmativas II e III. Interatividade Quais das características arquitetônicas abaixo indicadas fazem parte da estratégia projetual adotada pelo arquiteto Carlos Bratke na criação de edifícios de escritórios na região sul da cidade de São Paulo nas décadas de 1970 e 1980? I. A criação de uma planta retangular interna limpa, para inserção do leiaute dos escritórios. II. O uso de teto-jardim, para aliviar a incidência de raios solares na cobertura. III. O deslocamento das prumadas de circulação vertical para a parte externa da planta dos escritórios. IV. A criação de volumes muito simples, semelhantes às torres do Estilo Universal. a) Afirmativas III e IV. b) Afirmativas I e III. c) Afirmativas I e II. d) Afirmativas I e IV. e) Afirmativas II e III. Resposta Na terceira e início da quarta fase do financiamento imobiliário no Brasil, quando a população brasileira passou de 135 para 170 milhões de pessoas, foram construídas 4 milhões de casas. Em nenhuma dessas fases do financiamento da construção habitacional conseguiu-se efetivamente atender à demanda do país por moradias de qualidade. A quarta fase (1997- dias atuais) foi caracterizada por um aumento da regulação do setor imobiliário e por uma mudança radical na forma de se construir habitações dentro e fora da área urbana. Essa mudança radical é formada por dois tipos de ocupação habitacional. Um são os condomínios verticais com instalações de clube e o outro são os condomínios horizontais fechados – para classes altas e médias – e loteamentos populares – em geral para classes médias e baixas – localizados na periferia das grandes cidades e capitais brasileiras. A arquitetura e a habitação coletiva Outro dado importante é que, apesar da expansão dos condomínios horizontais e loteamentos, o país está cada vez mais verticalizado. Em um levantamento histórico feito com base nas edições anuais da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD) Contínua, produzida pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), revelou-se que o número de prédios de apartamentos no Brasil cresceu 321% de 1984 a 2019. Isso significa que, em 35 anos, foram construídos aproximadamente 7,8 milhões de novos apartamentos nas cidades brasileiras. É importante observar que apesar do aumento da verticalização urbana, não houve um aumento significativo da densidade populacional urbana nas cidades brasileiras. Estas ainda são, de forma geral e até a década de 2010, cidades de densidade baixa e média em sua maioria. Esse quadro pode estar mudando, mas só o tempo demonstrará em qual direção estamos caminhando. A arquitetura e a habitação coletiva Um dos projetos precursores da restauração de grandes complexos arquitetônicos no país, o Solar do Unhão, em Salvador, BA, foi restaurado pela arquiteta Lina bo Bardi e sua equipe em 1962-1963. Esse grande conjunto foi sendo formado entre os séculos XVI e XIX, e tombado no século XX. O reúso de edificações Conjunto arquitetônico do Solar do Unhão, Salvador, BA. Foi restaurado pela equipe da arquiteta Lina bo Bardi, entre 1962-63. Fonte: https://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/b/ b4/Museu_de_Arte_Moderna_da_Bahia-- Solar_do_Unh%C3%A3o_Aerial_View_2021- 0958.jpg. Acesso em: 08 maio 2022. O reúso de edificações Projeto e vista da Praça do Forte, 1999, Macapá, AP. Autoria: Rosa Grena Kliass. A intervenção foi feita em um bem tombado, a Fortaleza de São José, e reintegrou esse espaço à cidade. Fonte (desenho geral do projeto): FARAH, I; SCHLEE, M. B.; TARDIN, R. Arquitetura paisagística contemporânea no Brasil. São Paulo: Editora SENAC São Paulo, 2010. p. 194. Vista disponível em: https://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/4/4c/Parque_do_Forte_- _panoramio.jpg. Acesso em: 28 maio 2022. Localizado na Praça Mauá, o MAR – Museu de Arte do Rio é mais um importante projeto que reutilizou uma edificação antiga. A própria Praça Mauá, de frente para a Baía de Guanabara, também foi objeto de recuperação urbana como parte do projeto Porto Maravilha, tendo sido concluída em 2009. O reúso de edificações MAR – Museu de Arte do Rio, Rio de Janeiro, RJ. Situado na Praça Mauá, ao lado do Museu do Amanhã, é um exemplo típico da reutilização de uma antiga edificação. Fonte: https://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/ 4/46/Pra%C3%A7a_Mau%C3%A1_11_2015_Rio _708.JPG. Acesso em: 08 maio 2022. Ao longo de sua carreira, o arquiteto Paulo Mendes da Rocha, ganhador do Prêmio Pritzker de 2006, sempre falava da arquitetura como manifestação da inventividade humana aplicada sobre a natureza. Curiosamente, os seus últimos projetos são essencialmente intervenções sobre preexistências (reformas, ampliações ou reúsos), como o Sesc 24 de Maio, em São Paulo, feito em 2017. O reúso de edificações Vista da piscina na cobertura do SESC 24 de Maio. Projeto do arquiteto Paulo Mendes da Rocha em parceria com o escritório MMBB Arquitetos, essa unidade do Sesc situa-se no centro da cidade de São Paulo e parte do projeto reutilizou um edifício existente. Fonte: https://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/2/2a/SESC_24_de_Mai o_%2801%29.jpg. Acesso em: 08 maio 2022. O reúso de edificações tornou-se uma prática comum até para a inserção de equipamentos de alta qualidade, como a sala de concertos do Centro Cultural Júlio Prestes, em São Paulo, inaugurada em 1999, com o nome de Sala São Paulo. Originalmente o edifício era uma grande estação de trem. O reúso de edificações Vista da Sala São Paulo, dentro do Centro Cultural Júlio Prestes, São Paulo, SP. O edifício era uma estação de trem e o local onde hoje está a sala de concertos era um átrio a céu aberto. Inaugurado em 1999, o projeto é do arquiteto Nelson Dupré em parceria com a arquiteta Luizette Davini e o consultor acústico José Augusto Nepomuceno. Fonte: https://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/3/3c/Sala_S%C3%A3o_ Paulo_2018_07.jpg. Acesso em: 08 maio 2022. Desde o final do século XX, a maneira de gerar os documentos técnicos necessários para desenvolver um projeto arquitetônico e construí-lo tem se modificado radicalmente. De desenhos (tanto técnicos quanto ilustrativos) feitos a mão com lápis e nanquim em folhas de papel, passou-se a fazer os mesmosdesenhos usando computadores e aplicativos cada vez mais poderosos. Mas isso foi apenas o início do processo. Tudo começou com os programas de desenhos feitos em computador (CAD, Computer Aided Design), que apenas representam o projeto a ser construído, utilizando desenhos e textos, seja bidimensionalmente ou tridimensionalmente. Em seguida veio o BIM (Building Information Modeling ou Building Information Model), que é um sistema orientado por objeto, em que todas as informações necessárias à arquitetura e à execução da obra estão vinculadas ao projeto. Isso significa que quando o arquiteto projeta o edifício, é criado um modelo arquitetônico virtual, utilizando ferramentas tridimensionais (aplicativos de projeto arquitetônico). Os novos meios de projetar arquiteturas Outra inovação ocorreu nas imagens de caráter ilustrativo, que eram feitas essencialmente em processos totalmente manuais. Elas passaram a ser feitas em computadores, mas não tinham a mesma qualidade gráfica se comparadas ao trabalho de um bom desenhista. Já no século XXI, essas imagens melhoraram muito e podem ser feitas de várias maneiras. Vejamos algumas: Modelos tridimensionais simples, que são facilmente gerados em computadores, e complexos, renderizados com qualidade fotográfica; Uso de realidade virtual para perceber o espaço tridimensionalmente; Uso da realidade aumentada (augmented reality), para facilitar o entendimento do projeto. A questão que se coloca há algum tempo é que há fortes indícios de que os sistemas informatizados de projeto modificaram a forma de se criar espaços. Os novos meios de projetar arquiteturas: as imagens A presença de arquitetos profissionais de outros países no Brasil após a nossa declaração de independência de Portugal é uma constante. Em geral há duas principais maneiras de se verificar como os arquitetos e arquitetas estrangeiras atuaram e atuam no país: uma é a imigração e a outra é por meio da atuação de empresas de arquitetura a partir de seus países de origem. Desde Auguste Grandjean de Montigny, Pierre Joseph Pézerat, Antonio José Landi e muitos outros no século XIX, passando por Victor Dubugras (1868-1936), Gregori Warchavchik (1896-1972), Jacques Pilon (1905-1962), Gian Carlo Gasperini (1925- 2020), Lina Bo Bardi (1914-1992) no século XX, a atuação e as contribuições dessa presença estrangeira no país por imigração têm sido fundamentais. Outra maneira de arquitetos estrangeiros atuarem no país é trabalhando a partir de seus países de origem, por vezes abrindo filiais por aqui. Mais recentemente essa atuação tem sido muito mais presente e visível, como veremos nos projetos mostrados a seguir. Empresas de arquitetura estrangeiras no Brasil O edifício de escritórios Birmann 21 foi projetado pela empresa de arquitetura Skidmore, Owings and Merrill, com sede em Nova Iorque, EUA e o projeto foi adaptado pela empresa Kogan Arquitetos Associados, de São Paulo. Foi entregue em 1995 e localiza-se na capital paulista. Empresas de arquitetura estrangeiras no Brasil Birmann 21, São Paulo, SP. Arquitetura: SOM - Skidmore, Owins & Merril e Kogan Arquitetos Associados, 1995. Fonte: https://upload.wikimedia.org/wikipedia/comm ons/8/87/BIRMANN_21.JPG. Acesso em: 29 maio 2022. A sede da Fundação Iberê Camargo, localizada em Porto Alegre, RS, foi projetada pelo arquiteto português Álvaro Siza e equipe entre 2000 e 2001 e foi concluída em 2008. Empresas de arquitetura estrangeiras no Brasil Fundação Iberê Camargo, Porto Alegre, RS, 2008. Autoria: Álvaro Siza e equipe. Fonte: https://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/e/e c/FundacaoIbereCamargo.JPG. Acesso em: 29 maio 2022. Com adaptações. O Museu do Amanhã foi projetado pelo arquiteto espanhol Santiago Calatrava e localiza-se no Pier Mauá, na Baía de Guanabara. O museu está inserido no Projeto Porto Maravilha, uma Operação Urbana Consorciada (OUC) criada em 2009 e que tem por objetivo a revitalização urbana da Região Portuária do Rio de Janeiro. Nesse projeto, aletas na cobertura se movimentam de acordo com a necessidade de controle da insolação. Empresas de arquitetura estrangeiras no Brasil Museu do Amanhã, Rio de Janeiro, RJ, inaugurado em 2015. Autoria: Santiago Calatrava. Fonte: https://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/5/58/Museu_do_ Amanh%C3%A3_05.JPG. Acesso em: 28 maio 2022. Com adaptações. Empresas de arquitetura estrangeiras no Brasil O edifício de escritórios Infinity Tower foi projetado pela empresa de arquitetura Kohn Pedersen Fox Associates, com sede em Nova Iorque, EUA e o projeto foi adaptado pela empresa Aflalo & Gasperini Arquitetos em conjunto com construtoras brasileiras. Foi concluído em 2012 e localiza-se na capital paulista. A estratégia projetual usada aqui cria um volume curvo e que se amplia de baixo para cima, com os espaços que servem situados no centro da torre. Infinity Tower, São Paulo, SP. Projeto de KPF – Kohn Pedersen Fox Associates, e Aflalo & Gasperini Arquitetos, 2012. Fonte: https://www.google.com.br/maps/@- 23.5877438,-46.6793171,76m/data=!3m1!1e3. Acesso em: 28 maio 2022. O Centro Corporativo de Pesquisa e Inovação da L'Oréal, situado no Rio de Janeiro, RJ, foi projetado pela empresa de arquitetura norte-americana Perkins & Will, que possui filial em São Paulo, SP, com colaboração de RAF Arquitetura, do Rio de Janeiro, RJ. Foi entregue em 2016 e localiza-se na Ilha do Fundão, com a fachada de vidro voltada para a Baía de Guanabara. Empresas de arquitetura estrangeiras no Brasil Centro Corporativo de Pesquisa e Inovação da L'Oréal, Rio de Janeiro, RJ, 2016. Arquitetura: Perkins & Will. Fonte: https://www.google.com.br/maps/@- 22.8601684,43.2154592,3a,90y,307.55h,87.42t/data =!3m6!1e1!3m4!1s8d3SPAxvC0pmoBXc5TZ8kQ!2e0 !7i16384!8i8192 . Acesso em: 29 maio 2022. Traçar panoramas históricos e construir narrativas sobre o tempo presente ou sobre eventos muito recentes na arquitetura e no urbanismo não é tarefa fácil, pois não há aquela distância que nos permite ver com mais clareza o objeto analisado. No entanto, é possível indicar caminhos e análises, buscando relativizar a permanência dessas observações. Os projetos apresentados a seguir estão dentro dessa perspectiva exploratória. Não se trata de dizer que a partir de agora a arquitetura e o urbanismo no Brasil seguirão por esses caminhos, pois como já foi observado durante esta disciplina, ainda existem as persistências, os desaparecimentos, os retornos e as inovações. Nesta explicação da história recente da arquitetura e do urbanismo no Brasil usaremos a palavra “diversidade”, pois ela reflete uma multiplicidade de maneiras diferentes de ocupar o espaço. Sempre considerando que no caso da arquitetura e do urbanismo a história vai além da descrição e análise do passado, pois ela também é um repositório de referências que podem ser usadas a qualquer momento no exercício dessa profissão. Algumas espacialidades no Brasil século XXI: a diversidade A partir dos anos 1990 começa a se difundir a ideia de que a arquitetura e o urbanismo têm papel relevante no problema da ocupação territorial do planeta e das consequências de como essa ocupação é feita. É fundamental lembrar que a primeira Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento foi realizada no Brasil, na cidade do Rio de Janeiro em 1992, a ECO-92. Mas é no século XXI que essa consciência se amplia e começa a repercutir nas tomadas de decisões arquitetônicas e urbanas. Apesar da questão ambiental fazer parte da agenda da arquitetura e das cidades e estar presente na formação dos arquitetos e arquitetas do país, não é ainda uma prática corriqueira. O desperdício nas obras, as especificações de sistemas construtivos inadequados, a pouca oferta de soluções técnicas ambientais etc. são situações que revelam quão longe aindaestamos de gerar espaços urbanos e construções que ajudem a preservar ou pelo menos diminuir o impacto de nossas ações sobre o planeta. Mas há projetos que revelam caminhos possíveis e aqui no Brasil temos bons exemplos. Algumas espacialidades no Brasil século XXI: a questão ambiental O Memorial da Imigração Japonesa no Brasil foi projetado pelo arquiteto Gustavo Penna e equipe em 2007, e concluído em 2009, com um conjunto de referências simbólicas que homenageiam e relembram a saga da imigração de japoneses. O projeto consiste em um volume circular do qual se estendem duas lâminas que sustentam a construção sobre um espelho d’água. Algumas espacialidades no Brasil século XXI: arquitetura Memorial da Imigração Japonesa no Brasil, Belo Horizonte, MG, 2007-2009. Projeto de Gustavo Penna Arquiteto e Associados. Fonte: https://www.google.com.br/maps/@-19.853085,- 43.9973123,3a,61.5y,48.6h,90.89t/data=!3m6!1e1!3m4!1sY 5_VWYX9xbBNRor_c01wuA!2e0!7i13312!8i6656. Acesso em: 04 jun. 2022. O trabalho do arquiteto José Afonso Botura Portocarrero é caracterizado pela releitura e interpretação criativa de tecnologias construtivas de comunidades indígenas. Ele utilizou seu conhecimento sobre as habitações Yawalapiti e Kamairurá, situadas no Xingu, região da Amazônia mato-grossense, no projeto do Centro Sebrae de Sustentabilidade (CSS) em Cuiabá. Esse edifício foi eleito o Melhor Edifício Sustentável das Américas pelo Breeam Awards em 2018, da Inglaterra. Algumas espacialidades no Brasil século XXI: arquitetura Centro Sebrae de Sustentabilidade, Cuiabá, MT, vista do salão principal. A cobertura dupla com duas cascas em concreto, com aberturas na parte inferior e superior na casca externa, não elimina, mas diminui consideravelmente o uso do ar-condicionado. Projeto de José Portocarrero, inaugurado em 2010. Fonte: https://www.google.com.br/maps/ place/Centro+Sebrae+de+Sustent abilidade/@-15.5683162,- 56.0695966,3a,75y,235.51h,87.72 t/data=!3m6!1e1!3m4!. Acesso em: 04 jun. 2022. A sede paulista do Instituto Moreira Salles foi projetada por Andrade Morettin Arquitetos, a partir de um concurso vencido por essa empresa em 2011. O prédio foi inaugurado em 2017. A maior parte da estrutura é metálica e o núcleo rígido é em concreto armado. Uma das soluções marcantes no projeto é a criação de uma praça no meio do edifício, conectada diretamente à rua por escadas rolantes. Algumas espacialidades no Brasil século XXI: arquitetura Instituto Moreira Salles, São Paulo SP, 2017. Projeto de Andrade Morettin Arquitetos. Fonte: https://upload.wikimedia.org/wikipedia/com mons/6/6f/Cerim%C3%B4nia_de_inaugura %C3%A7%C3%A3o_do_novo_Centro_Cul tural_IMS_Paulista._%2836720548633%29 .jpg. Acesso em: 01 jun. 2022. Um importante caminho que transparece em vários projetos pelo país são as releituras da arquitetura moderna feita dos anos 1930 até os 1960. Esse caminho consiste na revisão de propostas e estratégias projetuais antigas como: volumes soltos com linhas retas e limpas, amplas coberturas com grandes vãos, materiais estruturais aparentes, a ausência de ornamentações históricas, entre outras. Algumas espacialidades no Brasil século XXI: arquitetura Centro de Educação e Artes, Guarulhos, SP. Projeto iniciado em 2008 e obras concluídas em 2010. Projeto de Biselli e Katchborian Arquitetos Associados. Acima, implantação e abaixo vistas das salas multiuso. Fonte: “Edificação materializa debate arquitetônico próprio de sua época”, in Revista Projeto Design, n. 367, setembro 2010, pp. 60-71. Implantação 1. Praça de acesso 2. Estacionamento de visitantes 3. Estacionamento de professores 4. Piscina 5. Quadra N 0 10 20 50 100 O trabalho do arquiteto Roberto Moita tem sido pautado, quando intervém em áreas com vegetação, pelo cuidado na realização da obra, evitando ao máximo o desmatamento. Quando realizou a casa sede do Sítio Passarim, em Manaus, ele apelidou em tom de brincadeira seu estilo de “caboclo high tech”, e que faz sentido pela mistura de tecnologias tradicionais e contemporâneas no projeto. Algumas espacialidades no Brasil século XXI: arquitetura Sede de empresa de arquitetura, Manaus, AM, década de 2010. Projeto de Roberto Moita Arquitetos. Fonte: https://www.google.com.br/maps/@- 3.1082256,- 60.0218982,3a,75y,96.81h,89.57t/da ta=!3m6!1e1!3m4!1suVP_Y2sMCz3 56ivYg6yLaA!2e0!7i16384!8i8192. Acesso em: 04 jun. 2022. A renovação da ladeira da Barroquinha, com a consequente valorização e qualificação do passeio público e de um eixo visual para a igreja, foi um projeto de desenho urbano feito pelo Metro Arquitetos Associados. Uma das principais medidas adotadas foi a retirada de ambulantes e o redesenho da escadaria da ladeira, tornando-a mais acessível. Algumas espacialidades no Brasil século XXI: desenho urbano Ladeira da Barroquinha, Salvador, BA, 2013. Autoria: Metro Arquitetos Associados. Ao lado e acima: vista da Igreja de Nossa Senhora da Barroquinha. Fonte: https://upload.wikimedia.org/wikipedia/comm ons/0/05/Igreja_de_Nossa_Senhora_da_Barr oquinha_Salvador-3834.jpg. Acesso em: 02 jun. 2022. Ladeira da Barroquinha, Salvador, BA, 2013. Ao lado, abaixo: vista superior, mostrando a ladeira e arredores. Fonte: https://www.google.com.br/maps/@- 12.97749,-38.5142919,104m/data=!3m1!1e3. Acesso em: 02 jun. 2022. Tanto a madeira quanto o aço estrutural sempre tiveram dificuldade em serem aceitos como materiais construtivos na maior parte do país. Há exceções, mas elas são restritas a algumas regiões e a certos grupos sociais. Desde a década de 2010 a madeira está passando por um processo aparentemente contínuo de aceitação como material construtivo. É importante lembrar que a madeira é usada de duas maneiras distintas no Brasil. Nos estados do sul, ela é parte integrante da arquitetura popular em inúmeras cidades. No restante do país, com poucas exceções, além de ficar segregada às estruturas que sustentam os telhados, é carregada de preconceito, pois muitas vezes é associada a construções pobres e inseguras. Mas vários fatores estão contribuindo para uma maior aceitação do uso da madeira na construção civil. Uma delas é a madeira engenheirada, que entre outras coisas evita o desmatamento de florestas naturais, e outra é um maior interesse por parte de arquitetos e arquitetas em fazer projetos usando esse material. Algumas espacialidades no Brasil século XXI: a madeira A residência do engenheiro Hélio Olga, especialista no uso da madeira em estruturas, é uma das mais importantes referências nesse material. Nesse projeto foi usada madeira nativa, mas atualmente em construções como essa, ou maiores, só se usa madeira engenheirada. Algumas espacialidades no Brasil século XXI: a madeira Residência Hélio Olga, São Paulo, SP. Projeto de Marcos Acayaba Arquitetos, 1987. Fonte: SEGAWA, H.; KATINSKY, J. R.; WISNIK, G. Marcos Acayaba. São Paulo: Cosac Naify, 2007. O projeto de moradias estudantis da Escola Fazenda Canuanã usou como material construtivo principal a madeira engenheirada, e foi concluído em 2017. Os autores do projeto buscaram um alto índice de sustentabilidade e de conforto ambiental para as crianças que vão morar nos dois blocos executados em Madeira Lamelada Colada (MLC) e fechamentos de alvenaria cerâmica. Em 2018, o edifício foi premiado como o melhor edifício do mundo, com o prêmio internacional Royal Institute of British Architects (Riba). Esse projeto demonstra a evolução do uso de madeiras nativas para as engenheiradas. Algumas espacialidades no Brasil século XXI: a madeira Moradia estudantil da escola da Fazenda Canuanã, Formoso do Araguaia, TO. Projeto feito em 2015 por Marcelo Rosenbaum e Adriana Benguela, em parceria com Gustavo Utrabo e Pedro Duschenes, do escritório Aleph Zero. Fonte: Mario H. C. Caldeira, 2019. Uma das consequências inesperadas da pandemia da covid-19 foi o fechamento de vários hotéis pelo país, que não suportaram o fechamento por período tão longo. Muitos desses edifícios foram transformados em unidades residenciais com apartamentos, após um processo de retrofit. Um exemplo disso é o Hotel Aymoré, inaugurado em 1910 no Rio de Janeiro e fechado pela falta de clientes devido à pandemia. Algumas espacialidades no Brasil século XXI: a pandemia da covid-19 Hotel Aymoré, aberto em 1910 na Praça da Cruz Vermelha, Rio de Janeiro, RJ. A Prefeitura do Rio de Janeiro ofereceu incentivos para a conversão de edifícios como esse para aumentar a oferta de moradia no centro da cidade. Fonte: https://www.google.com.br/ma ps/@-22.9113143,- 43.1882818,3a,90y,257.07h,1 15.05t/data=!3m6!1e1!3m4!1s TYHilyvhWMHaY8WAe2uxfg! 2e0!7i16384!8i8192. Acesso em: 08 maio 2022. Com adaptações. Outra consequência da pandemia foi a mudança radical na maneira de trabalhar. Centenas de milhares, e talvez milhões, de trabalhadores e trabalhadoras brasileiras tiveram que transformar a sua residência, seja casa unifamiliar ou apartamento, em local de trabalho e/ou de estudo. Os anos de 2020 e 2021 apresentaram um crescimento na quantidade de reformas e ampliações de residências talvez nunca visto antes. O volume de projetos feitos por arquitetos para esse tipo de situação foi tão importante que fez os preços dos materiais de construção aumentarem devido ao aumento da procura. Essa situação, inusitada para dizer o mínimo, demonstrou o quanto a arquitetura e o urbanismo estão nas nossas vidas e podem ajudar a resolver problemas e indicar novos caminhos. A pandemia da covid-19 e a arquitetura A história está sendo sempre reescrita, e não é diferente com a história da arquitetura no Brasil. No entanto, como dito anteriormente, no caso da arquitetura e do urbanismo, a história não se limita a uma narrativa sobre o passado. Ela também é um importantíssimo instrumento de criação projetual. É a partir dela que criamos o nosso repertório arquitetônico, nome dado às arquiteturas e espaços urbanos que usamos como referência quando estamos criando e desenvolvendo projetos. Nessa história conseguimos identificar soluções conhecidas e testadas, estratégias projetuais mais adequadas para certos programas, formas que traduzem melhor o que o projeto pode vir a ser. Não se trata de mera cópia do que já foi feito, mas sim de usar uma referência e a partir dela galgar novas possibilidades. Conhecer a história da arquitetura e das cidades no nosso país é identificar, conhecer e construir para a nossa cultura. A história da arquitetura no Brasil Após a década de 1990, a história da arquitetura no Brasil não consegue mais definir uma linha teórica única capaz de explicar todos os projetos inovadores realizados no país. No entanto é possível identificar alguns traços resultantes desse processo, desde o fim do século XX até as duas primeiras décadas do século XXI. Quais das afirmativas abaixo são traços dessa história recente? I. A diversidade de caminhos, estratégias projetuais e técnicas construtivas. II. O aumento significativo da presença de mulheres atuando como arquitetas urbanistas. III. A implantação de novas formas de morar em condomínios. IV. O uso de padrões nacionais de arquitetura para a maioria dos programas arquitetônicos. a) Afirmativas II, III e IV. b) Afirmativas I e III. c) Afirmativas I, II e III. d) Afirmativas I, II e IV. e) Afirmativas II e III. Interatividade Após a década de 1990, a história da arquitetura no Brasil não consegue mais definir uma linha teórica única capaz de explicar todos os projetos inovadores realizados no país. No entanto é possível identificar alguns traços resultantes desse processo, desde o fim do século XX até as duas primeiras décadas do século XXI. Quais das afirmativas abaixo são traços dessa história recente? I. A diversidade de caminhos, estratégias projetuais e técnicas construtivas. II. O aumento significativo da presença de mulheres atuando como arquitetas urbanistas. III. A implantação de novas formas de morar em condomínios. IV. O uso de padrões nacionais de arquitetura para a maioria dos programas arquitetônicos. a) Afirmativas II, III e IV. b) Afirmativas I e III. c) Afirmativas I, II e III. d) Afirmativas I, II e IV. e) Afirmativas II e III. Resposta BASTOS, M. A. J.; ZEIN, R. V. Brasil: arquiteturas após 1950. São Paulo: Perspectiva, 2010. CASTILHO, A. L. H.; VARGAS, H. C. Intervenções em centro urbanos. Barueri, SP: Manole, 2009. DIAS, L. A. M. Edificações de aço no Brasil. São Paulo, Zigurate Editora, 1999. FARAH, I; SCHLEE, M. B.; TARDIN, R. Arquitetura paisagística contemporânea no Brasil. São Paulo: Editora SENAC São Paulo, 2010. KLIASS, R. G. Rosa Kliass: desenhando paisagens, moldando uma profissão. São Paulo: Editora SENAC São Paulo, 2006. Referências LEME, M. C. S. A formação do pensamento urbanístico no Brasil: 1895-1965. In: LEME, M. C. S.; FERNANDES, A.; GOMES, M. A. F. (orgs.). Urbanismo no Brasil 1895-1965. São Paulo: Studio Nobel/FAUUSP/FUPAM, 1999. VILLAÇA, F. Uma contribuição para a história do planejamento urbano no Brasil. In: DÉAK, C.; SCHIFFER, S. R. (orgs.). O processo de urbanização no Brasil. São Paulo: Fupam/Edusp, 1999. pp. 169-243. Referências ATÉ A PRÓXIMA!
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