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Direito civil VI Aula 3: Cessão de Direitos Hereditários Apresentação Nesta aula, estudaremos os requisitos necessários à cessão de direitos hereditários, suas espécies e características. Abordaremos o tema da autorização conjugal como requisito de validade para a cessão de direitos sucessórios e, ainda, veremos os efeitos tributários da denominada “renúncia translativa”, que, ao contrário da renúncia abdicativa, nada mais é do que uma cessão de direitos hereditários. Objetivos Analisar o conceito de cessão de direitos hereditários; Compreender as espécies de cessão de direitos hereditários e suas características; Identi�car os requisitos necessários à cessão de direitos hereditários, bem como analisar o tratamento jurisprudencial sobre o tema. Da Cessão de Direitos Hereditários No que consiste a cessão de direitos hereditários? Podemos conceituá-la como sendo um negócio jurídico por meio do qual um sucessor, denominado cedente, transfere para outrem os bens ou as vantagens recebidas pela sucessão causa mortis. Vejamos as considerações de Gonçalves (2019) sobre o tema: “O direito à sucessão aberta, portanto, como qualquer direito patrimonial de conteúdo econômico, pode ser transferido mediante cessão. A cessão de direitos hereditários é negócio jurídico translativo inter vivos pois só pode ser celebrado depois da abertura da sucessão. O nosso direito não admite essa modalidade de avença estando vivo o hereditando. Antes da abertura da sucessão, a cessão con�guraria pacto sucessório, contrato que tem por objeto a herança de pessoa viva, e nossa lei proíbe e considera nulo de pleno direito (CC, artigos Arts. 426 e 166, II e VII).” Fonte: Gonçalves, 2019. Resumidamente, são requisitos dessa espécie de cessão de direitos: Ser feita de forma escrita, que deverá ser pública (escritura pública) ou por termos nos autos. Por ser a herança um bem indivisível, deve ser respeitado o direito de preferência dos demais sucessores. Também por se tratar de um bem indivisível, não poderá ser realizada a cessão de qualquer bem da herança considerado singularmente. Deverá ser prestada a vênia conjugal, sob pena de nulidade relativa do negócio jurídico. O patrimônio que se pretende ceder não pode estar gravado com cláusula de inalienabilidade. Abordaremos, então, os dispositivos legais e o tratamento doutrinário sobre a cessão de direitos hereditários. Importa ressaltarmos a regra disposta no caput do Art. 1.793 do CC/2002, que estipula ser a escritura pública essencial à validade do ato de cessão. Vejamos: Art. 1.793. O direito à sucessão aberta, bem como o quinhão de que disponha o coerdeiro, pode ser objeto de cessão por escritura pública. § 1º Os direitos, conferidos ao herdeiro em consequência de substituição ou de direito de acrescer, presumem-se não abrangidos pela cessão feita anteriormente. § 2º É ine�caz a cessão, pelo coerdeiro, de seu direito hereditário sobre qualquer bem da herança considerado singularmente. § 3º Ine�caz é a disposição, sem prévia autorização do juiz da sucessão, por qualquer herdeiro, de bem componente do acervo hereditário, pendente a indivisibilidade. (BRASIL, 2002.) Sobre o dispositivo anterior, algumas considerações precisam ser feitas: Clique nos botões para ver as informações. Primeiramente, notamos que a cessão de direitos hereditários não admite a forma particular. Ou seja, não sendo realizada por escritura pública, o ato será nulo, nos termos dos Arts. 104, III, c/c 166, IV e 169, todos do CC/2002. Vejamos: Art. 104. A validade do negócio jurídico requer: [...] III - forma prescrita ou não defesa em lei. Art. 166. É nulo o negócio jurídico quando: [...] IV - não revestir a forma prescrita em lei; Art. 169. O negócio jurídico nulo não é suscetível de con�rmação, nem convalesce pelo decurso do tempo. (BRASIL, 2002.) Sobre o tema da validade do negócio jurídico, assunto já estudado na parte geral de Direito Civil, bem explica Tartuce (2019): Esses elementos de validade constam expressamente do art. 104 do CC, cuja redação segue: “A validade do negócio jurídico requer: I – agente capaz; II – objeto lícito, possível, determinado ou determinável; III – forma prescrita ou não defesa em lei”. Não faz parte do dispositivo menção a respeito da vontade livre, mas é certo que tal elemento está inserido seja dentro da capacidade do agente, seja na licitude do objeto do negócio. Pois bem, o negócio jurídico que não se enquadra nesses elementos de validade é, por regra, nulo de pleno direito, ou seja, haverá nulidade absoluta ou nulidade. Eventualmente, o negócio pode ser também anulável (nulidade relativa ou anulabilidade), como no caso daquele celebrado por relativamente incapaz ou acometido por vício do consentimento. As hipóteses gerais de nulidade do negócio jurídico estão previstas nos arts. 166 e 167 do CC/2002. As hipóteses gerais de anulabilidade constam do art. 171 da atual codi�cação material. (TARTUCE, 2019.) Sobre o dispositivo anterior, algumas considerações precisam ser feitas: Precisamos relembrar que será ine�caz a transmissão de qualquer bem da herança que seja singularmente considerado. Assim, o sucessor não poderá ceder determinado bem (como, por exemplo, a casa de praia X ou, ainda, o carro de modelo Y), mas apenas poderá ceder um percentual do quinhão recebido. Portanto, deverá o sucessor avaliar qual é a representação percentual daquele bem que pretende ceder em relação ao todo da herança; dessa forma, cederá esse percentual. Isso se dá também em razão de a sucessão aberta ser considerada um bem indivisível. Veja um exemplo: João Mendes, autor da herança (de cujus) falece, deixando apenas dois �lhos e, de patrimônio, quatro apartamentos em um mesmo prédio, todos do mesmo valor, para seus dois �lhos. Assim, cada �lho receberá dois imóveis. Nessa situação hipotética, se um dos �lhos quiser ceder os direitos sobre um dos imóveis, não poderá constar da escritura pública (ou do termo nos autos de um inventário/arrolamento de bens) que será, naquele ato, cedido o apartamento X. Constará, na referida escritura, que o sucessor cederá 25% do valor do acervo de bens que constitui o monte/herança, que corresponde a 50% da sua quota. A transmissão de bem singularmente considerado é ine�caz Deve o herdeiro cedente respeitar o direito de preferência do seu coerdeiro. Ou seja, antes de ceder a estranhos a sua parte na herança, deve o cedente oferecer aos demais herdeiros os direitos que pretende ceder, nos termos do Art. 1.794 do CC/2002: Art. 1.794. O coerdeiro não poderá ceder a sua quota hereditária a pessoa estranha à sucessão, se outro coerdeiro a quiser, tanto por tanto. (BRASIL, 2002.) Não sendo observado o direito de preferência, poderá o coerdeiro prejudicado depositar o preço em favor do cedente e haver para si a quota cedida a estranhos, desde que o faça no prazo de 180 dias após a transmissão, nos termos do Art. 1.795 do CC/2002: Art. 1.795. O coerdeiro, a quem não se der conhecimento da cessão, poderá, depositado o preço, haver para si a quota cedida a estranho, se o requerer até cento e oitenta dias após a transmissão. Parágrafo único. Sendo vários os coerdeiros a exercer a preferência, entre eles se distribuirá o quinhão cedido, na proporção das respectivas quotas hereditárias. (BRASIL, 2002.) Sobre o direito de preferência dos coerdeiros, o Superior Tribunal de Justiça (STJ) já se pronunciou, no julgamento do Recurso Especial número 1620705, no sentido de ser necessária a prévia noti�cação dos demais herdeiros pelo sucessor que pretende ceder a sua quota a terceiros. Ou seja, segundo o entendimento do STJ, o prazo para o coerdeiro preterido exercer o seu direito de preferência não começa a contar no momento da cessão, mas a partir da sua noti�cação para exercer a preferência. O herdeiro cedente deve respeitar o direito de preferênciado seu coerdeiro 1 É preciso atenção para averiguar se o cedente é casado; caso seja, deve-se atentar para o regime de bens do seu casamento. Se casado (exceto se for pelo regime da separação absoluta), será necessária a outorga conjugal, nos termos do Art. 1.647 do CC/2002: Art. 1.647. Ressalvado o disposto no art. 1.648, nenhum dos cônjuges pode, sem autorização do outro, exceto no regime da separação absoluta: I - alienar ou gravar de ônus real os bens imóveis; II - pleitear, como autor ou réu, acerca desses bens ou direitos; III - prestar �ança ou aval; IV - fazer doação, não sendo remuneratória, de bens comuns, ou dos que possam integrar futura meação. (BRASIL, 2002.) A outorga conjugal é necessária Sobre o momento da realização da cessão, vejamos a lição de Gonçalves (2019): “Todavia, aberta a sucessão, mostra-se lícita a cessão de direitos hereditários, ainda que o inventário não tenha sido aberto. Se não foi imposta aos bens deixados pelo de cujus nenhuma cláusula de inalienabilidade, desde a abertura da sucessão já pode o herdeiro promover a transferência de seus direitos ou quinhão, através da aludida cessão. Não poderá mais fazê-lo, no entanto, depois de julgada a partilha, uma vez que a indivisão estará extinta e cada herdeiro é dono dos bens que couberem no seu quinhão.” Fonte: Gonçalves, 2019. Portanto, antes de aberta a sucessão, a cessão de direitos hereditários é nula, por se tratar de pacto sucessório (tema visto na Aula 2). Também não poderá ser realizada a referida cessão após o encerramento da partilha de bens, pelo simples fato de que deverá o sucessor (atual proprietário dos bens) ceder o patrimônio recebido pela herança e já partilhado, por meio dos contratos de compra e venda ou de doação. Fonte: Por Andrii Yalanskyi / Shutterstock. Atividade 1. (Tribunal de Justiça – SP (TJSP/SP) 2015 Cargo: Juiz Substituto) Acerca do Direito das Sucessões, assinale a alternativa correta: F a) É eficaz a cessão, pelo coerdeiro, de seu direito hereditário sobre bem da herança singularmente considerado. b) Considera-se imóvel o direito à sucessão aberta, exigindo-se escritura pública para sua cessão, não se admitindo que a renúncia da herança conste de termo judicial. c) É intransferível ao cessionário de direitos hereditários o direito de preferência inerente à qualidade de herdeiro. d)A morte do responsável cambiário é modalidade de transferência anômala da obrigação, repassável aos herdeiros, salvo se o óbito tiver ocorrido antes do vencimento do título. 2. (MPE – RS – 2017 – Promotor Substituto – Adaptada) Em relação ao Direito das Sucessões, considere que um coerdeiro tomou ciência da cessão de direito hereditário efetuado por outro coerdeiro quando foi apresentada nos autos do processo de inventário na data de 27/03/2015. Intentou ação declaratória de nulidade de ato jurídico em 10/12/2015 e efetuou o depósito necessário. Com base no exposto, é CORRETO a�rmar que: a)O ajuizamento da demanda ultrapassou o prazo legal para o reconhecimento do direito de preferência. b)O ajuizamento da demanda não ultrapassou o prazo legal para o reconhecimento do direito de preferência. c)O ajuizamento da demanda ultrapassou o prazo legal para o reconhecimento do direito de preferência, mas ainda poderá o prejudicado requerer o imóvel, eis que possui um direito real. d)Nenhuma das opções está correta. 3. (Juiz Substituto - TJSP – 2011) Leia as a�rmações e assinale a alternativa incorreta: a)Até a partilha, o direito dos herdeiros, quanto à propriedade e posse da herança, será indivisível. b)O herdeiro não pode ceder sua cota hereditária a pessoa estranha à sucessão se outro herdeiro quiser exercer seu direito de preferência. c)A cessão de direitos hereditários é ineficaz se tiver por objeto bem da herança considerado singularmente. d)A cessão de direitos hereditários pode ser realizada mediante instrumento particular. Tributação da Cessão de Direitos Hereditários A cessão de direitos hereditários, no que se refere ao conteúdo patrimonial, pode ser negócio jurídico: Gratuito Equipara-se à doação. Oneroso Equiparar-se, à compra e venda. Destarte, sendo onerosa a aludida cessão, incidirá o imposto de transmissão de bens imóveis (ITBI) sobre o valor do patrimônio cedido; isso porque a sucessão aberta é, por força de lei, considerada um bem imóvel, nos termos do Art. 80, II, do CC/2002. Entretanto, se for gratuita, incidirá imposto de transmissão causa mortis e doação (ITCMD, também denominado ITD). Fonte: Por IvanMichailovich / Shutterstock. Sobre esse tema, vejamos qual é a posição jurisprudencial. Jurisprudência Clique no botão acima. Processo: 0015634-17.2012.8.19.0000 - AGRAVO DE INSTRUMENTO - 2ª Ementa DES. RICARDO RODRIGUES CARDOZO - Julgamento: 26/06/2012 - DÉCIMA QUINTA CÂMARA CÍVEL IMPOSTO SOBRE TRANSMISSÃO POR DOAÇÃO - ITD RENÚNCIA TRANSLATIVA FATO GERADOR RECOLHIMENTO DO IMPOSTO OBRIGATORIEDADE INVENTÁRIO. RENÚNCIA TRANSLATIVA. ITD. FATO GERADOR. Agravo de instrumento assestado contra a decisão que reconheceu a natureza abdicativa das renúncias manifestadas em sede de inventário, indeferindo, assim, o pleito de recolhimento do ITD, formulado pelo agravante. Como ressaltado pelo recorrente, os dois herdeiros, antes de manifestarem a intenção de renunciar, praticaram atos inequívocos de aceitação da herança. Ingressaram nos autos, através do patrocínio da Defensoria Pública, concordando com as declarações prestadas pela inventariante e pugnando pelo prosseguimento do feito, com a ultimação da partilha. Fosse intenção sua renunciar em favor do monte, deveriam tê-lo feito naquela oportunidade. Poderiam, inclusive, enquanto vigente o Código Civil de 1916, ter externado a vontade de retratar a aceitação, de acordo com o permissivo contido no art.1590 daquele compêndio. No entanto, continuaram na busca do quinhão hereditário. Nessa ordem, a renúncia, manifestada em novembro de 2009, não pode ser considerada pura ou abdicativa, mas sim translativa. Ante a ocorrência do fato gerador, o recolhimento do tributo é devido. Recurso provido, nos termos deste voto. Ementário: 43/2012 - N. 12 - 08/11/2012. (TJRJ, 2012.) Ainda sobre o assunto tributação, cumpre-nos ressaltar que, se de fato houver uma renúncia abdicativa (ou seja, o renunciante apenas renunciar a sua parte da herança, sem indicar outro herdeiro para recebê-la em seu lugar), não incidirá tributação alguma. Vejamos o esclarecedor julgado a seguir, oriundo do Tribunal de Justiça do Estado do Rio de Janeiro. Jurisprudência Clique no botão acima. 0004667-04.2003.8.19.0007 - APELAÇÃO - 1ª Ementa DES. MARILIA DE CASTRO NEVES - Julgamento: 13/06/2012 - VIGÉSIMA CÂMARA CÍVEL Processual Civil. Apelação Cível. Inventário. Renúncia abdicativa. Não incidência de Imposto (ITD). Renúncia dos herdeiros em favor do monte. Hipótese em que ocorreu a renúncia abdicativa, não incidindo o Imposto sobre doações. A renúncia translativa deve implicar, a um só tempo, aceitação tácita da herança e a subsequente destinação desta a bene�ciário certo, o que não ocorre quando há abdicação em favor do monte partível, sem a intenção de ceder os direitos hereditários, como se doação fosse, a herdeiro determinado. Precedentes do Superior Tribunal de Justiça, do Supremo Tribunal Federal e desta E. Corte. Incensurável a sentença recorrida. Recurso manifestamente improcedente a que se nega seguimento. Decisão Monocrática - Data de Julgamento: 13/06/2012. A “Renúncia Translativa” e sua Relação com a Cessão de Direitos Hereditários A renúncia translativa, também denominada de “renúncia in favorem”, ocorre quando o renunciante abdica da sua parte da sucessão em favor de outro herdeiro. Ou seja, ele escolhe para quem irá aquele patrimônio que está renunciando. Para Gagliano e Pamplona Filho (2019), tal ato sequer con�gura uma verdadeira renúncia, conforme veremos na leituraa seguir: Renúncia Translativa Clique no botão acima. Como dissemos no tópico anterior, não nos parece ideal a expressão “renúncia translativa”. Com isso, não estamos a dizer se a�gurar erro o seu uso, na medida em que a própria jurisprudência dos Tribunais Estaduais, e do próprio STJ, acolhe o seu emprego. Pensamos, por outro lado, ser mais seguro e preciso utilizar-se a expressão “cessão de direito(s) hereditário(s)”, quando exista o direcionamento da quota abdicada, na medida em que, com isso, não se afronta a ideia fundamental do ato de renúncia, que, como vimos, faz retornar o direito a todo o monte partível, e não a um herdeiro em especial. Assim, se um dos herdeiros pretende abdicar do direito hereditário a si conferido em favor de determinada(s) pessoa(s), e não de todos os demais herdeiros, estará, em verdade, operando uma cessão de direito hereditário. Evite-se, também, a�rmar que se trata de uma “doação”. A doação tem por objeto coisas, ou seja, bens materializados, corpóreos, passíveis de alienação, ao passo que a cessão versa sobre direitos. Não se deve, pois, utilizar o verbo alienar para caracterizar a cessão gratuita ou onerosa de direitos, uma vez que, para a boa técnica, direitos não são vendidos nem doados, mas sim cedidos. Em outras palavras, “reputamos mais apropriada a utilização da palavra alienação para caracterizar a transferência de coisas de um titular para outro, reservando a expressão cessão para os direitos em geral”. (GAGLIANO; PAMPLONA FILHO, 2019.) Resumindo, a renúncia pode ser abdicativa ou translativa. Se abdicativa, conforme visto na aula anterior, o renunciante abdicará da sua quota em favor do monte, ou seja, em favor dos outros que se encontram no mesmo grau sucessório que o dele. Todavia, se for translativa, representará um verdadeiro negócio jurídico, incidindo a tributação pertinente. Saiba mais Cabe ressaltar que, independentemente da espécie de renúncia (abdicativa ou translativa), o ato será irrevogável, nos termos do Art. 1812 do CC/2002, conforme explica a notícia jurídica do portal eletrônico do Conjur. Fonte: Por Kaikoro / Shutterstock. Atividade 4. (Nível Superior – Analista do MPE-AL). Joaquim faleceu e deixou, como herança, 04 (quatro) apartamentos iguais (101, 102, 103 e 104), todos localizados em um mesmo edifício e com idênticos preços de mercado. Sem deixar testamento, seus únicos herdeiros são seus �lhos Jorge, Maria, Ana e Carlos. Passando por di�culdades �nanceiras, Carlos resolve alienar, antes de �ndado o inventário, um dos apartamentos (o 101), mediante cessão de direitos sobre o imóvel a Marcos. A respeito desta cessão, assinale a a�rmativa correta. a) Representa renúncia translativa da herança, pelo que Marcos, em substituição a Carlos, deve se habilitar no inventário. b) Tem efeito de cessão de direitos hereditários, mas Marcos poderá receber, contudo, qualquer um dos bens. c) Os demais herdeiros poderão se opor à alienação, mediante o exercício do direito de preferência. d) É ineficaz, e, portanto, Marcos não fará jus ao apartamento 101. e) Trata-se de renúncia abdicativa, pelo que os demais herdeiros deverão pagar o preço do imóvel a Marcos. 5. Assinale a alternativa correta: a) A renúncia translativa, também denominada de “renúncia in favorem”, ocorre quando o renunciante abdica da sua parte da sucessão em favor de outro herdeiro. b) A renúncia translativa ocorre quando o renunciante abdica da sua parte da sucessão em favor do monte. c) A renúncia abdicativa pode ser realizada por instrumento particular, desde que não exista incapaz favorecido pela herança. d) A cessão de direitos hereditários apenas será válida e eficaz se feita com autorização judicial. Notas Direito de preferência 1 Sobre o direito de preferência, bem explica Tartuce (2019), citando um interessante julgado da jurisprudência mineira: Outra importante limitação à autonomia privada consta do art. 1.794 do CC, pelo qual o coerdeiro não poderá ceder a sua quota hereditária a pessoa estranha à sucessão, se outro coerdeiro a quiser, tanto por tanto. A norma consagra um direito de preempção, preferência ou prelação legal a favor do herdeiro condômino. Se o coerdeiro for preterido em tal direito, poderá, depositado o preço, haver para si a quota cedida a estranho (art. 1.795 do CC). Nos termos da última norma, essa ação de adjudicação está sujeita ao prazo decadencial de 180 dias, a contar da transmissão do bem. Diante da valorização da boa-fé objetiva, este autor entende que o prazo deve ser contado da ciência da realização da alienação e não da alienação em si. Concluindo desse modo, da jurisprudência mineira: “Direito civil. Cessão de direitos hereditários. Direito de preferência. Inobservância. Demais herdeiros. Prazo decadencial para o exercício. A Cessão de direitos hereditários, sem a observância do direito de preferência dos demais herdeiros, encontra óbice no art. 1.795 do Código Civil/2002, que prescreve que ‘o coerdeiro, a quem não se der conhecimento da cessão, poderá, depositado o preço, haver para si a quota cedida a estranho, se o requerer até 180 (cento e oitenta) dias após a transmissão’. O prazo decadencial imposto ao coerdeiro prejudicado conta-se a partir da transmissão, contudo, será contado apenas da sua ciência acerca do negócio jurídico quando não é seguida a formalidade legal imposta pelo art. 1.793 do CC e a transmissão não se dá por escritura pública” (TJMG, Apelação Cível 1.0251.07.021397-9/0011, Extrema, 11ª Câmara Cível, Rel. Des. Fernando Caldeira Brant, j. 08.07.2009, DJEMG 20.07.2009). Em complemento, sendo vários os coerdeiros a exercer a preferência legal, entre eles se distribuirá o quinhão cedido, na proporção das respectivas quotas hereditárias (art. 1.795, parágrafo único, do CC). (TARTUCE, 2019.) Referências BRASIL. Lei nº 10.406, de 10 de janeiro de 2002. Institui o Código Civil Brasileiro. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/2002/L10406.htm. Acesso em: 04 abr. 2019. FARIAS, Cristiano Chaves de; ROSENVALD, Nelson. Curso de Direito Civil: contratos. Volume 4. 9. ed. Salvador: JusPodivm, 2019. GAGLIANO, Pablo Stolze; PAMPLONA FILHO, Rodolfo. Novo Curso de Direito Civil: Contratos. Volume 4. Tomos I e II. 2. ed. São Paulo: Saraiva, 2019. GONÇALVES, Carlos Roberto. Direito Civil Brasileiro: Direito das sucessões. Volume 7. 11. ed. São Paulo: Saraiva, 2019. TARTUCE, Flávio. Manual de Direito Civil. Volume Único. 9. ed. São Paulo: Método, 2019. Próxima aula O conceito e as características da vocação hereditária; As hipóteses de exclusão da sucessão, seja pela deserdação, seja pela indignidade, bem como seus requisitos e efeitos. Explore mais Cessão de direitos hereditários a terceiros exige noti�cação adequada dos coerdeiros. Renúncia à herança. Acórdão proferido no RESP Nº 685.465 – PR. Acórdão do STJ sobre forma da cessão hereditária.
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