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Nutrição e Dieta em Odontopediatria. Hábitos Alimentares e Saúde Bucal na Infância. 27 O padrão da alimentação infantil vem se modificando com a substituição de grande parte dos alimentos naturais pelos industrializados. Introdução Uma alimentação adequada contribui positivamente para: Melhor qualidade de vida; Resistência às infecções; Prevenção de futuras doenças cardiovasculares; Alterações de metabolismo. Introdução Desigualdades socioeconômicas permanecem afetando a saúde bucal. Pais de baixo nível socioeconômico oferecem doces e guloseimas com mais frequência para os filhos, adicionam açúcar em mamadeiras, chupetas e direcionam mais recursos financeiros na obtenção de produtos açucarados. Hábitos Alimentares Além das consequências que podem decorrer do consumo insuficiente de alimentos saudáveis, como desnutrição ou obesidade, o consumo inadequado de sacarose influencia para o aparecimento da doença cárie. Hábitos Alimentares Os principais danos da cárie na infância incluem: Dor; Abscessos; Infecções; Perda do dente afetado; Custo elevado para o tratamento; Possíveis limitações da mastigação; Afetar autoestima e sociabilidade; Influenciar no perfil de saúde bucal nos anos futuros. Hábitos Alimentares Os nutrientes encontrados nos alimentos tem efeitos responsáveis pela odontogênese e formação do sistema estomatognático. A desnutrição prolongada durante a infância, pode ocasionar a limitação do desenvolvimento de órgãos como o cérebro e as glândulas salivares, ocasionando diminuição do fluxo salivar, e, até atraso na irrupção dos dentes decíduos. Influências Nutricionais O papel primordial dos carboidratos, principalmente o açúcar, sobre a cárie dentária, refere-se à capacidade de ser excelente fonte de energia para a fermentação de determinados microrganismos encontrados na saliva e no biofilme dental. Carboidratos fermentáveis e cárie dentária A sacarose, é o açúcar predominante na alimentação infantil e pode também ser encontrada sob a forma de açúcar “escondido”. Favorece a colonização dos microrganismos e aumentando a viscosidade do biofilme, o que permite maior aderência às superfícies dentárias. Isso faz com que ela tenha maior potencial cariogênico. Carboidratos fermentáveis e cárie dentária A glicose e a frutose são encontradas naturalmente no mel e nas frutas, respectivamente. As frutas frescas apresentam potencial cariogênico reduzido, quando ingeridas durante as refeições. Esse fato pode ser atribuído ao alto conteúdo de água e à presença do ácido cítrico, que estimula o fluxo salivar. Carboidratos fermentáveis e cárie dentária O amido é um polissacarídeo da glicose. Os alimentos que contêm amido, como pães e macarrão, provocam queda do pH pouco menor que a sacarose. No entanto, algumas combinações de sacarose e amido, presentes em bolos, sobremesas e bolachas doces, sugerem ser mais cariogênicas que a sacarose, provavelmente em razão de seu aquecimento e sua retenção nas superfícies oclusais. Carboidratos fermentáveis e cárie dentária Cárie de acometimento precoce -em decorrência do consumo frequente de líquidos açucarados, por meio das mamadeiras, especialmente durante a noite. Carboidratos fermentáveis e cárie dentária Frequência Tempo de permanência Fatores determinantes Para a doença cárie A substituição do açúcar pelos adoçantes por crianças, somente, quando recomendado e em casos específicos, pois são tóxicos, com exceção da estévia. O consumo racional de açúcares ainda é a melhor forma de prevenir a cárie. Substitutos do açúcar O aleitamento materno é muito importante para a prevenção das maloclusões, visto que o uso da mamadeira anula a excitação da articulação temporomandibular e facilita a respiração bucal. Aleitamento materno Com relação à cariogenicidade do leite materno, várias pesquisas têm demonstrado que ele não é considerado o principal responsável pelo desequilíbrio do ambiente bucal que desencadeia o processo da cárie dentária. Aleitamento materno A orientação dos hábitos alimentares torna-se muito difícil, pois cada indivíduo possui um padrão alimentar. Hábitos saudáveis devem ser adquiridos o mais precocemente. Orientação dos hábitos alimentares É importante informar à gestante que o consumo de açúcar em sua forma natural, permite que seu organismo receba a quantidade suficiente de minerais, vitaminas e calorias; enquanto os açúcares extracelulares, refinados ou não, são absorvidos facilmente, elevando o nível de insulina no sangue, não existindo qualquer benefício nutricional em seu uso. Orientação dos hábitos alimentares A análise da dieta alimentar não é recomendada para todos pacientes. Após a anamnese e a realização dos exames clínicos extra e intrabucais, o profissional determinará em que casos será necessária a pesquisa mais detalhada de seus hábitos alimentares. Análise da dieta Além do conhecimento científico, o profissional deve ter sensibilidade para ouvir o que os pais têm a dizer sobre suas necessidades, dúvidas e expectativas quanto a essas modificações, flexibilidade e organização para o planejamento das consultas e intervalos entre elas. Fazendo com que junto consigam alcançar bons resultados. Interação entre profissional, paciente e família O recordatório alimentar é considerado o melhor instrumento de avaliação da dieta, por apresentar o registro retrospectivo de todos os alimentos ingeridos pelo paciente, durante 3 dias, possibilitando a análise do ponto de vista odontológico. Os responsáveis são orientados a anotar, detalhadamente, tudo o que a criança ingere, a partir da escolha de 2 dias durante a semana e 1 dia do fim de semana Instrumento e método utilizados para a análise da dieta Com o diário alimentar preenchido deve-se observar o equilíbrio da ingestão diária dos alimentos de acordo com seus grupos alimentares, construtores (proteína), reguladores (vitaminas e minerais) e energético (carboidratos e gorduras). Depois analisa-se a frequência da ingestão dos alimentos açucarados o tempo de permanência desse alimento na cavidade bucal e o método de consumo. Assim o conhecimento dos hábitos alimentares de cada paciente representa a tentativa de compreender os fatores relacionados com a saúde. Instrumento e método utilizados para a análise da dieta Higiene Bucodental em Odontopediatria. 28 Introdução A Odontologia como todas as ciências da saúde, tem se voltado para a prevenção das doenças bucais, visto o alto custo e as dificuldades durante os procedimentos curativos, especialmente no atendimento de crianças. Introdução As crianças nascem sem nenhum microrganismo na boca, mas é rapidamente contaminada por bactérias. Um mecanismo de defesa que possuímos é a saliva, que é muito eficaz e as mata, fazendo com que sejam engolidas durante os movimentos de deglutição feitos por dia. Introdução Antes da erupção dos dentes, as bactérias fixam-se nos tecidos moles dos lábios, da bochecha e língua e nas células superficiais. Já com a erupção dos dentes, as chances da sobrevida das bactérias aumentam e têm condições de ai se instalarem. Introdução Mesmo assim, nas faces linguais e vestibulares há atrito, apresentam menos possibilidade de sobrevida e, por essa razão, instalam-se nos espaços mais protegidos, como fissuras ou defeitos do esmalte,aderido à gengiva, entre os dentes, nas bordas das restaurações e coroas. Introdução Depois de instaladas começam a se reproduzir formando biofilme dental, que se forma continuamente e sua remoção diária é procedimento básico na prevenção e cura das doenças bucais relacionadas com a higiene bucodental. Introdução Como forma de prevenção aos altos índices de prevalência e gravidade da cárie, foram introduzidas estratégias populacionais, como a fluoretação da água de abastecimento público. Introdução Com o declínio da doença cárie, observado nos últimos 30 anos, verificou-se a importância da ação tópica e o uso apropriado do flúor, assim como a prática clínica odontopediátrica. Motivação do paciente, pais e responsáveis A escovação dental pode ser abordada sob diversos aspectos, quando aplicada às crianças, entre eles, técnica, ensino, método de avaliação, motivação do paciente colaboração dos pais e tipos de escovação. Esses são fatores determinantes para o sucesso do tratamento odontopediátrico. Método de ensino No ensino da escovação para crianças, é importante que se estabeleça uma rotina simples, na qual os detalhes não podem ser esquecidos. Além disso, é importante que esse hábito seja aprendido de maneira prazerosa. Técnicas de escovação Inúmeras são as técnicas que podem ser indicadas aos pacientes, no entanto, o importante não é a técnica, e sim a eficiência da escovação na remoção do biofilme dental e na massagem da gengiva, não sendo esta lesiva aos tecidos moles. Técnicas de escovação Os requisitos ideais para a técnica de escovação indicada são: Evitar ou eliminar totalmente o biofilme dental; Apresentar ausência de efeitos colaterais, como retração gengival e abrasão das áreas cervicais, em razão da escovação incorreta e dos dentifrícios abrasivos; Resultar na prevenção e cura das atuais doenças bucais. Técnicas de escovação A posição de Starkey é recomendada para a criança em idade pré- escolar e com pouca habilidade manual. A criança fica em pé, na frente e de costas para quem estiver executando a escovação e encosta a cabeça contra ela. A mão esquerda é utilizada para segurar e estabilizar a mandíbula e, com os dedos dessa mão, afastam-se os lábios e as bochechas; a mão direita empunha a escova, executando os movimentos da técnica de Fones ou os da de Stillman modificada. Técnicas de Fones A técnica de Fones, mais simples, é recomendada para crianças menos hábeis, menos interessadas ou quando se tem pouco tempo para o ensino. Quando bem desenvolvida, possibilita boa higiene bucodental. Na clínica infantil ela é bem recomendável em razão da sua simplicidade. Técnicas de Fones São realizados movimentos circulares nas superfícies vestibulares, linguais e palatais dos dentes. Nas superfícies oclusais e incisivas, são realizados movimentos anteroposteriores. Técnicas de Stillman modificada Indicada para as crianças mais habilidosas e interessadas. A escova é colocada na região mucogengival, com o longo eixo das cerdas apoiado lateralmente na gengiva, as cerdas deslizarão da gengiva para oclusal ou incisal, executando-se pequeno movimento vibratórios anteroposterior na região do ponto de contato. A face oclusal e a incisal também devem ser higienizadas com movimentos anteroposteriores, estando a escova dental posicionada verticalmente, a fim de facilitar os movimentos. Técnicas de Bass A técnica de Bass é indicada em Odontopediatria para pacientes portadores de aparelhos ortodônticos fixos. As cerdas da escova devem ser colocadas diretamente sobre o sulco gengival, em 45° com o longo eixo do dente, e que sejam executados movimentos vibratórios anteroposteriores, de pequena amplitude. O posicionamento das cerdas deve ser horizontal nas faces vestibulares de todos os dentes e linguais dos posteriores, e vertical nas faces linguais dos incisivos superiores e inferiores . Nas faces oclusais e incisivas deve ser feito o movimento anteroposterior. Evidenciadores São substâncias corantes que permitem controlar a qualidade dos procedimentos de remoção do biofilme, tingindo-o, e devem ser totalmente eliminados pela escovação. Através desse artifício, o dentista tem dados concretos para mostrar onde se localiza o biofilme, auxiliando no ensino da escovação e na determinação da condição de higiene bucal. As soluções são aplicadas sobre os dentes com algodão, em seguida a boca é enxaguada e as superfícies dentais com a presença de placa são identificadas pelo tingimento obtido pelo evidenciador. Escovas dentais Para se alcançar uma maneira eficiente e eficaz, é necessário que a escova dental utilizada para a escovação seja a mais adequada. As características físicas das escovas dentais devem ser consideradas, pois sua anatomia conduz à obtenção de resultados positivos ou negativos. Escovas dentais Náilon, oferecendo mais poder de limpeza e menos risco de lesão aos tecidos duros e moles. As macias são as mais indicadas. Pequena a média, permitindo que a escova seja introduzida e facilmente manobrada nas regiões mais posteriores da cavidade bucal. Forma retangular ou achatada, para melhor apoio, com tamanho adequado para ser empunhada por crianças. Escovas dentais Quanto à durabilidade, é muito importante que o paciente aprenda a identificar a necessidade de substituição da escova. Por esse motivo, faz parte da educação do paciente mostrar-lhe quando as cerdas já perderam flexibilidade e alinhamento, pois, além de perder a eficiência da limpeza, podem machucar a gengiva. Após o uso diário, a escova deve ser limpa e seca, o que permitirá manter seu bom estado por mais tempo. Escovas dentais elétricas As escovas elétricas estão vinculadas aos pacientes com incapacidades motoras, por tanto, não removendo o biofilme adequadamente por falta de habilidades e destrezas manuais no manuseio da escova dental. O seu uso possibilita boa remoção de biofilme e resíduos alimentares de todas as regiões dentárias e a massagem gengival. Dentifrícios Fluoretados Os dentifrícios, enxaguatórios, géis e vernizes fluoretados são as formas mais utilizadas para a liberação do fluoreto nas superfícies dentárias, promovendo remineralização de lesões cariosas iniciais e redução da solubilidade do esmalte dentário. A utilização de dentifrícios fluoretados por crianças com menos de 6 anos requer cuidados. Altas concentrações possuem alto risco de fluorose devendo-se evitar sua ingestão por crianças, em especial no período de formação dos dentes permanentes. Controle do biofilme nas Superfícies interproximais O fio dental tem demonstrado ser eficaz nesse controle, pois por meio dos métodos de escovação, não se consegue remover o biofilme localizado nessas regiões, de forma efetiva. Para crianças cujos pais apresentem dificuldades no seu manuseio, os porta-fios dentais podem ser indicados. Hidroterapia Os irrigadores utilizam um jato d’água pulsátil para deslocar a placa bacteriana dos dentes. Recomenda-se esse método como coadjuvante, não descartando os elementos básicos da higiene, como a escova e o fio dental. Em Odontopediatria, o uso desse recurso está mais indicado para crianças portadoras de aparelhos ortodônticos fixos. Enxaguatórios Bucais Substância químicaindicadas para quando há dificuldade no controle mecânico do biofilme e para o controle da etiologia bacteriana da cárie. Os mais utilizados são a clorexidina, o cloreto de cetilapiridínio e a triclosana. Embora essas substâncias sejam eficientes no controle químico, não devem substituir o controle mecânico. Higiene bucal em pacientes Portadores de aparelho ortodôntico Aparelhos ortodônticos fixos merecem atenção diferenciada, pois envolve uma maior dificuldade de higienização, aumentando o número de área de retenção e a diminuição na autolimpeza, ocasionando, maior possibilidade de cárie dentária e alterações gengivais. Dessa maneira, esses pacientes devem ser bem orientados quanto ao cuidado que devem dar à higiene bucal, e a sua escovação deve ser verificada em intervalos menores que aqueles normalmente preconizados, sendo indicada a técnica de Bass. Higiene bucal em pacientes Portadores de aparelho ortodôntico A escova uni ou bitufo é utilizada para limpar as superfícies interproximais e sob o aparelho fixo, locais inacessíveis à escova dental comum. Recomendações específicas para diferentes idades A melhor fase para se estabelecer um programa preventivo é antes do nascimento da criança, quando os pais estão mais sensíveis às propostas para a saúde bucal do seu futuro filho. A gestante deve ser orientada e estimulada para a higiene bucal do recém-nascido, esclarecendo as vantagens do procedimento. Recomendações específicas para diferentes idades Durante o 1o ano de vida, são recomendadas limpeza e massagem gengivais para contribuir com o estabelecimento de uma flora bucal saudável e auxiliar no processo de erupção de dentes sadios. Essa limpeza precoce é feita 1 vez/dia, com o uso de uma compressa de gaze ou ponta de fralda úmida, passada nos tecidos gengivais com massagem delicada. Recomendações específicas para diferentes idades No período de 1 a 3 anos, se a remoção do biofilme já não foi iniciada no estágio anterior, deve ser efetuada com o uso de escovas dentais. Por volta dos 2 anos, pode-se começar a usar dentifrício em pequena quantidade. Recomendações específicas para diferentes idades Na faixa etária de 3 a 6 anos, as crianças começam a ser mais capazes de manusear as escovas dentais, mas a maior responsabilidade de escovação ainda é dos pais. Nesse período, deve ser introduzido o fio dental para melhor controlar o biofilme nas superfícies interproximais. Recomendações específicas para diferentes idades As crianças entre 6 e 12 anos devem começar a assumir a responsabilidade de sua higiene bucodental, a supervisão dos pais na escovação ainda é indispensável. Nessa fase, recomenda-se o uso de evidenciadores para a motivação, trata-se de um período crítico para o desenvolvimento da doença periodontal e da cárie dentária, com o surgimento dos dentes permanentes, principalmente o primeiro molar permanente. O odontopediatra pode recomendar o controle químico do biofilme nessa faixa etária, dependendo do risco e da atividade de cárie que o paciente apresentar e sua capacidade de expelir o enxaguatório. Conclusão Não há técnica de escovação correta, e, sim, a que o paciente faz com qualidade. A associação de uma dieta controlada de carboidratos refinados e uma boa higiene bucal é o melhor remédio no combate à cárie. Referência bibliográfica 1. Guedes-Pinto, Antonio Carlos; Mello-Moura, Anna Carolina Volpi. Odontopediatria . 9. ed. - Rio de Janeiro: Santos, 2017.
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