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Negócios processuais

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NEGÓCIOS PROCESSUAIS: 
 
 O Código de Processo Civil trouxe uma 
grande inovação no que tange à efetividade do 
processo enquanto instrumento capaz de materializar 
direitos. As alterações observadas no Código 
Processual de 2015 têm o intuito de amoldar-se às 
necessidades sociais atuais e modernizar o 
procedimento. 
 Esta importante inovação, se associa ao 
princípio da cooperação (grande marca do processo 
contemporâneo), e da boa fé, segundo o qual o 
processo seria produto da atividade cooperativa de 
todos os envolvidos na demanda, com a finalidade de, 
mediante esforço comum, solucionar o litígio, 
objetivando uma decisão justa. Ademais, os sujeitos 
processuais deve comportar-se de acordo com a boa-fé, 
que, deve ser compreendida como uma norma de conduta. 
 Por tais princípios, permite-se exigir 
lisura de conduta de todos os que sejam chamados a 
praticar atos processuais, visto que, o processo é um 
meio de interesse público na busca da justa aplicação 
do ordenamento jurídico no caso concreto. 
 Assim, o negócio processual pode ser 
entendido como ato jurídico por meio do qual as 
partes dispõem de liberdade sobre matéria processual 
ou não, nos limites impostos pela norma, com reflexos 
no processo. 
 Apesar da liberdade conferida às partes, 
há limitações e requisitos para a prática do negócio 
processual. 
 Os negócios jurídicos, por sua vez, são 
reconhecidos, definidos ou identificados como atos de 
autonomia privada, vinculados como autodeterminação. 
 Parte da doutrina considera que a 
característica principal dos negócios é a vontade 
declarada. Confere a ela um poder inovador de efeitos 
jurídicos, formando-se o dogma da vontade. A partir 
desse ponto de vista procederia a distinção entre ato 
jurídico e negócios jurídicos, quer dizer, os efeitos 
jurídicos nos negócios jurídicos, ocasionariam da 
vontade, ao passo que, no ato jurídico os efeitos já 
se encontrariam definidos em lei. 
 Conceito: 
Atos jurídicos processuais são os que têm importância 
jurídica em respeito à relação processual, isto é, os 
atos que tem por consequência imediata a 
constituição, a conservação, o desenvolvimento, a 
modificação ou a definição de uma determinada relação 
processual. 
 Assim, quando se está diante de atos que possuem 
efeitos imediatos quanto à constituição, conservação, 
desenvolvimento, modificação ou a definição de 
qualquer relação processual, este se traduzem em atos 
jurídicos processuais, vez que, são os que possuem 
relevância jurídica à relação processual. 
 
Da Relevância Jurídica; 
 
 Os negócios jurídicos processuais são a 
maior expressão da autonomia da vontade, para os 
quais o sistema jurídico confere o grau máximo de 
liberdade de conformação ao indivíduo, que pode 
escolher não somente um tipo de ato a ser praticado, 
mas também seu conteúdo com finalidade de conseguir 
efeito pretendido. 
 É o ato que produz ou pode produzir 
efeitos no processo em função da vontade da parte que 
o pratica. São declarações de vontades aceitas pelo 
ordenamento jurídico como capazes de construir, 
modificar e extinguir situações processuais, ou ainda 
alterar procedimentos. 
 Fredie Didier preconiza que: 
 
“o “negócio jurídico 
processual é a declaração 
de vontade expressa, 
tácita ou implícita, a que 
são reconhecidos efeitos 
jurídicos, conferindo-se 
ao sujeito o poder de 
escolher a categoria 
jurídica ou estabelecer 
certas situações jurídicas 
processuais.” 
 O ilustre processualista e professor 
Antônio do Passo Cabral sustenta que: 
“Negócio Jurídico Processual é 
o ato que produz ou pode 
produzir efeitos no processo 
escolhidos em função da vontade 
do sujeito que o pratica. São, 
em geral, declarações de 
vontades unilaterais ou 
plurilaterais admitidas pelo 
ordenamento jurídico como 
capazes de construir; modificar 
e extinguir situações 
processuais, ou alterar o 
procedimento”. (CABRAL. 
Negócios Processuais, 2016 p. 
48). 
 
 Assim temos que o negócio jurídico 
oportuniza a interferência da vontade no resultado e 
ou consequência dos atos jurídicos, de maneira a 
regular a sua amplitude, o surgimento, a permanência 
e a intensidade dos seus efeitos. 
 Art. 190 e seguintes do CPC: 
 
As partes, como destinatárias da prestação 
jurisdicional podem em certas situações, se 
encontrarem mais capacitadas do que juiz a exercer 
decisões ou tomar providências sobre determinados 
pontos do processo, vez que como principal 
interessada na demanda, é de seu interesse a busca 
pela aplicação da norma de maneira mais célere e 
eficaz. 
Classificação dos Negócios Jurídicos Processuais: 
 
Na forma do art.200, do CPC, os negócios processuais 
pode ser unilaterais, bilaterais: 
 
“art. 200 - Os atos das 
partes consistentes em 
declarações unilaterais ou 
bilaterais de vontade 
produzem imediatamente a 
constituição, modificação 
ou extinção de direitos 
processuais 
 
 O importante para a caracterização do 
negócio processual é a circunstância de a vontade 
estar direcionada não apenas à prática de um ato, 
mas, também, à produção de um determinado efeito 
jurídico; no negócio jurídico, há escolha do 
regramento jurídico para uma determinada situação. 
 
O Art. 190 do CPC E A NECESSÁRIA ATENÇÃO AO SEU 
PARÁGRAFO ÚNICO: 
“Art. 190. Versando o 
processo sobre direitos 
que admitam auto 
composição, é lícito às 
partes, plenamente 
capazes, estipular 
mudanças no procedimento 
para ajustá-lo às 
especificidades da causa e 
convencionar sobre os seus 
ônus, poderes, faculdades 
e deveres processuais, 
antes ou durante o 
processo. 
Parágrafo único. De ofício 
ou a requerimento, o juiz 
controlará a validade das 
convenções previstas neste 
artigo, recusando-lhes 
aplicação somente nos 
casos de nulidade ou de 
inserção abusiva em 
contrato de adesão ou em 
que alguma parte se 
encontre em manifesta 
situação de 
vulnerabilidade”. 
 
 O caput do art. 190 do Novo Código de 
Processo Civil trouxe uma cláusula geral processual, 
que, inclui um tipo aberto, capaz de permitir o 
ajuste da hipótese fática do caso concreto à produção 
do efeito jurídico desejado. 
 Com a adoção do código de 2015, 
verificou-se no campo das convenções processuais, uma 
característica muito própria que é a relação entre os 
acordos processuais típicos e atípicos, advindos da 
cláusula geral do art. 190 CPC. 
 Sempre existiram negócios processuais em 
nosso ordenamento. Mas antes eles eram típicos. Ou 
seja, constituíam hipóteses taxativas, sempre a 
depender de uma específica previsão legal. 
 Por negócios processuais típicos se 
entende aquelas convenções as quais necessariamente 
tenham previsão legal, estando assim reguladas em 
lei. Apesar de o negócio jurídico ser a maior 
expressão da autonomia da vontade do indivíduo, 
conferindo a este um grau elevado de liberdade quanto 
à celebração e estipulação de acordos, não impede, 
portanto, que a lei fixe diretrizes a determinados 
negócios. 
 Já quanto aos negócios processuais 
atípicos, a cláusula geral do art. 190 CPC autoriza a 
sua celebração, independentemente de previsão legal 
específica. Na ausência no regramento legal, 
dificulta-se o controle dos limites dos acordos. 
 Há negócios atípicos quando ocorre acelebração de negócios pelas partes envolvidas na 
demanda, que não se encaixem nos tipos legais 
existentes, organizando-os de maneira que atenda às 
necessidades e conveniência das partes. 
 Fredie Didier Jr, em seu Curso de 
Processo Civil, sustenta que: 
 
“do art. 190 se extrai o 
subprincípio da 
atipicidade da negociação 
processual, que a seu 
turno, serve à 
concretização do princípio 
do respeito ao 
autorregramento da vontade 
no processo. O 
autorregramento da vontade 
se determina como um 
“complexo de poderes que 
podem ser exercidos pelos 
sujeitos de direito, em 
níveis de amplitude 
variada, de acordo com o 
ordenamento jurídico” 
(DIDIER. 2015, p. 20). 
 Da cláusula geral, podem surgir ainda 
outras espécies de negócios processuais atípicos. 
Apesar de o legislador ter utilizado o verbo 
“convencionar” no caput e no parágrafo único, a 
cláusula geral permite negócios processuais, de que 
as convenções são espécies, conforme previsto. 
 
Limites dos Negócios Processuais: 
 
 Apesar da liberdade conferida às partes, 
há limitações e requisitos para a prática do negócio 
processual. Essa limitação decorre do próprio 
exercício da liberdade, vez que, sabe-se que nenhum 
direito é absoluto ou ilimitado em si mesmo. 
 É imprescindível que, para a realização 
do negócio jurídico, seja observada a proteção dos 
direitos fundamentais processuais envolvidos, 
conciliá-los com a autonomia das partes a fim de 
buscar um equilíbrio objetivando a segurança 
jurídica, sendo inviável a ofensa aos princípios 
processuais constitucionais. 
 Para realização do negócio processual, é 
necessário que o objeto litigioso admita composição e 
sejam observados os requisitos formais para a 
realização do negócio jurídico previstos no Código 
Civil, ou seja, o negócio processual deve ser 
realizado por pessoas capazes, o objeto deve ser 
lícito e deve observar forma prevista ou não vedada 
pela lei. 
 Nesse sentido, o professor Humberto 
Theodoro Jr, ensina: 
“A alteração 
convencional de alguns 
procedimentos que a 
lei autoriza para 
ajustá-los às 
especificidades da 
causa exige o 
preenchimento dos 
seguintes requisitos: 
(i) a causa deve 
versar sobre direitos 
que admitam 
autocomposição; (ii) 
as partes devem ser 
plenamente capazes; e 
(iii) a convenção deve 
limitar se aos ônus, 
poderes, faculdades e 
deveres processuais 
das partes”. (THEODORO 
JR. Curso de Processo 
Civil, 2017, p.485) 
 A possibilidade de as partes pactuarem 
sobre ônus, deveres e faculdades deve limitar-se aos 
seus poderes processuais, sobre os quais têm 
disponibilidade, não podendo, portanto, atingir 
aqueles conferidos ao juiz. Diante disso, não é, por 
exemplo, conferido às partes vetar a iniciativa de 
prova do juiz, ou o controle dos pressupostos 
processuais e das condições da ação, não podendo 
realizar qualquer outra atribuição que envolva 
questões de ordem pública concernente à função 
judicante. É notório ainda que não se admita negócios 
processuais nos quais, se verifique litigância de má-
fé, diante do princípio processual da eticidade. 
 Esclarece Humberto Theodoro Júnior que, o 
negócio processual pode ser prévio ou incidental, ou 
seja, poderá ocorrer antes do ajuizamento da demanda, 
como acontecer como incidente de um processo já em 
curso, sendo, contudo que se observem, 
primordialmente nos acordos pré-processuais; além de 
o acordo ser lícito, é necessário que seja preciso e 
determinado. (THEODORO JR. 2017, p.486) 
 Importante destacar, que ao juiz caberá, 
de ofício ou a requerimento das partes, controlar a 
validade dos negócios processuais, declarando a 
nulidade quando houver qualquer violação à ordem 
pública, inserção abusiva em contrato de adesão ou 
caso uma das partes se encontre em manifesta situação 
de vulnerabilidade. 
 É primordial que no caso concreto, que se 
respeite a paridade de armas, para que, haja um 
equilíbrio, um sincronismo entre as partes, a fim de 
que se observem os princípios e garantias 
fundamentais do processo objetivando a efetividade 
processual. 
 Conforme já mencionado, há negócios 
processuais previstos e disciplinados por lei que são 
os típicos. Para estes, os parâmetros de legitimidade 
controlados pelo juiz são determinados através da 
própria disposição legal. 
 Contudo, a complexidade se verifica 
quando se tem o negócio processual atípico, 
introduzido por meio do art. 190 do CPC de 2015, com 
dimensão de cláusula geral, da qual adveio ampla 
liberdade negocial entre as partes para estipularem 
mudanças no procedimento e nos ônus, poderes, 
faculdades e deveres processuais. 
 
Limites Constitucionais da Liberdade do negócio 
processual: 
 
 Com o objetivo de controlar o objeto da 
convenção, o juiz deve, inicialmente, identificar os 
direitos fundamentais envolvidos no ato da 
disposição. Citando um exemplo, nas convenções que 
simplificam as formalidades procedimentais, a 
garantia fundamental conecta é o princípio do devido 
processo legal, no qual assegura uma pré-ordenação 
formal dos atos do processo. (art. 5º, LIV, CR/88) 
 Nota-se que no caso concreto, não é tão 
simples identificar apenas uma garantia fundamental 
potencialmente afetada pela convenção. 
 Conforme menciona Antonio do Passo 
Cabral: 
 
“A dificuldade de 
precisar qual ou quais 
direitos fundamentais 
envolvidos decorre, de 
um lado, do amplo 
suporte fático dos 
direitos fundamentais, 
que se estruturam para 
que possam abranger o 
maior número de 
situações jurídicas 
dignas de proteção, 
por outro lado é 
também fruto de um 
déficit analítico na 
literatura do direito 
processual, que 
constantemente mistura 
o conteúdo de diversas 
garantias 
fundamentais, sem 
atentar para precisão 
conceitual”. (CABRAL. 
2016, p.332) 
 Deve-se, portanto, buscar verificar o 
conteúdo que é próprio de cada garantia processual, a 
fim de que não haja imposição de regras ou princípios 
que possam dificultar a prática da convenção. 
 Imperioso, é manter intocável o núcleo 
essencial dos direitos e das garantias fundamentais. 
O núcleo e o conteúdo mínimo das garantias 
constitucionais do processo deverão ser protegidos 
quando os indivíduos processuais convencionarem sobre 
o procedimento legal, caso contrário à previsão 
constitucional poderia ser extinta por outras fontes 
normativas como a lei e o contrato. 
 É necessário que se busque a preservação 
de um núcleo elementar de garantias. Da mesma forma 
como a simples invocação de direitos fundamentais 
processuais não pode reduzir a autonomia privada, o 
procedimento convencional deve respeitar a ideia de 
garantias mínimas do processo. 
 Assim, no caso concreto, o controle 
judicial identificará as garantias constitucionais do 
processo, que poderão ser afetadas pelo negócio 
processual, e, através da proporcionalidade, 
verificará qual delas tem maior incidência. 
 A garantia mínima do processo justo 
previsto na constituição respeita sempre os 
princípios fundamentais como, o acesso à justiça, 
boa-fé e contraditório, entre outros. 
 
Limites nos negócios típicos: 
 
 Quando as partes convencionarem acerca de 
negócio processual típico, ou seja, aquele em que há 
previsão legal, o juiz deverá compararo negócio 
atípico ao típico. Fato é que, se o legislador 
definiu regras para um pacto legalmente tipificado, 
os seus critérios podem, por vezes, criar obstáculos 
à liberdade negocial. Nesse sentido Humberto Theodoro 
Júnior leciona: “sempre que um negócio atípico puder 
ser enquadrado em um grupo de convenções que inclua 
um negócio tipicamente legislado, atrairá a 
sistemática do acordo típico”. (THEODORO JR. 2017, 
p.489) 
 As partes não estão impossibilitadas de 
negociar sobre matéria processual em torno da qual 
exista matéria legislada, desde que o façam de 
maneira a não infringir aquilo que já está 
normatizado no direito positivo.

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