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FACULDADE SERGIPANA CURSO DE DIREITO Ana Thais Ribeiro de Oliveira Denisson dos Santos Batista Jonatan de Souza Faria Ralph Souza Monteiro RESPONSABILIDADE CIVIL Exercício de Petição Inicial Aracaju 2019 EXCELENTÍSSIMO(A) SENHOR(A) DOUTOR(A) JUIZ(A) DE DIREITO DO ____ JUIZADO ESPECIAL CÍVEL DA COMARCA DE ARACAJU/SE ANA CECÍLIA DAS TANTAS, brasileira, solteira, dançarina, portadora do RG nº 987.654 SSP/SE, CPF nº 123.456.789-00, residente e domiciliado na Rua dos Bobos, nº 0, CEP 49000-000, nesta cidade e comarca, telefone celular 7999999-9999, vem respeitosamente perante Vossa Excelência, com fundamento no artigo 5º, inciso XXXV, da Constituição Federal de 1988, na Lei nº 9.099/1995 e nos artigos 6º, inciso VIII, 81 e 83, caput, da Lei nº 8.078/1990 (Código de Defesa do Consumidor), propor a presente: AÇÃO DE IDENIZAÇÃO POR DANOS MORAIS E MATERIAIS Em face de TAM LINHAS AÉREAS S/A. (nome fantasia LATAM AIRLINES BRASIL), pessoa jurídica de direito privado inscrita no CNPJ 02.012.862/0001-60, situada na Rua Verbo Divino, nº 2001, Chácara Santo Antônio (Zona Sul), São Paulo/SP, CEP 04719-002, pelos motivos abaixo aduzidos. 1. DOS FATOS A requerente celebrou com a requerida um contrato de transporte aéreo para viajar, no dia 12 de outubro de 2019, de Aracaju/SE para São Paulo/SP com conexão em Salvador/BA, tudo comprovado pelos documentos fornecidos pela ora demandada. Pelo bilhete, podemos observar que o horário de partida na cidade de Aracaju estava marcado para as 12h30min e chegada em Salvador/BA prevista para as 13h, onde faria conexão de uma hora e embarcaria às 14h com chegada prevista em São Paulo às 16h. Ocorre que ao desembarcar no aeroporto de Salvador para mudança de aeronave, foi informada que seu voo atrasaria aproximadamente 8 (oito) horas. Durante o período de espera a requerente não obteve da requerida qualquer assistência e/ou informação, tendo que arcar com os custos de comunicação, alimentação e hospedagem (conforme comprovantes em anexo), contrariando todas as determinações consumeristas previstas tanto no CDC quanto no CBA, bem como pelas regras da ANAC. Ressalte-se ainda que após finalmente ter conseguido embarcar, às 22h10min, chegou ao Aeroporto Internacional de Guarulhos 00h10min do dia 13 de outubro de 2019 e foi informada por funcionários da requerida que sua bagagem, devidamente despachada em Aracaju conforme comprovante em anexo, havia sido extraviada. Convém ser dito que ao tentar resolver sua situação no balcão de atendimentos da requerida, a autora foi covardemente humilhada por uma funcionária que se identificou como sendo gerente da empresa. Por fim, cabe ressaltar que por conta do atraso em seu voo, a requerente deixou de cumprir um compromisso de trabalho que lhe renderia a quantia de R$ 5.000,00 (cinco mil reais), conforme contrato de prestação de serviço que segue em anexo; no tocante ao extravio da mala, a requerente perdeu todas as suas roupas e objetos pessoais, tendo que realizar compras emergenciais no valor de R$ 500,00 (quinhentos reais) em um shopping da capital paulista, conforme notas fiscais em anexo. 2. DO DIREITO A atividade descrita, evidentemente, caracteriza-se por uma prestação de serviço prevista no Código de Defesa do Consumidor. De um lado, temos o fornecedor TAM LINHAS AÉREAS S/A. (empresa aérea prestadora do serviço de transporte) e do outro lado o consumidor (passageiro lesado). A atividade exercida pela empresa aérea é fornecida no mercado de consumo, mediante remuneração (art. 3º, do CDC), caracterizando-se, assim, como prestação de serviço. É importante atentar para o fato de que esse contrato (contrato de transporte aéreo) é um negócio tipicamente de resultado, ou seja, deve ser executado na forma e tempo previstos, não havendo que se falar no acaso. O consumidor contrata o serviço para ser levado de um lugar a outro, em dia e horário combinados. O CDC disciplina as hipóteses de má prestação dos serviços, ou até sua ausência, garantindo ao consumidor o direito de exigir, à sua escolha, a devolução do valor integral pago devidamente corrigido, a reexecução do serviço ou o abatimento do preço pago, conforme o caso (art. 20). O Código em apreço garante, ainda, reparação dos danos materiais e morais (fato do serviço) advindos da má prestação ou ausência do serviço contratado (art. 14). A qualidade do serviço prestado pela empresa aérea durante o caos verificado nos aeroportos – seja pela paralisação de controladores de vôo, defeito na comunicação de torres, ou qualquer outro motivo – foi pífia, absolutamente questionável, senão inexistente, o que fere o disposto no já referido artigo 14. Além disso, na hipótese dos autos (atraso de vôo), sejam quais forem as causas do evento, a companhia aérea tem o dever de prestar atendimento no sentido de minimizar os danos suportados pelos consumidores. Os danos morais caracterizam-se pelo desgaste físico e psíquico anormal enfrentado pelo consumidor e devem ser reparados, conforme garantia constitucional, na exata proporção em que sofridos, vedada qualquer limitação contratual ou legal (art. 25 do CDC). É o caso dos autos em que a requerente passou mais de 4 (quatro) horas seguidas no aeroporto, passando por toda angústia e aborrecimentos, esperando para chegar em seu destino final, sem obter da empresa requerida nenhuma informação e/ou assistência. Sem dúvida, os fatos acima relatados não configuram mero aborrecimento, situação comum do quotidiano, mas de um transtorno enfrentado pela autora que alterou todos os seus planos, causou-lhe grande desconforto e horas de desassossego, visto que dependeu de um serviço absolutamente mal prestado, cuja explicação nunca lhe foi fornecida. Que não se alegue qualquer excludente de responsabilidade da companhia aérea (incisos do artigo 14). Qualquer caracterização de caso fortuito ou força maior não deve atingir a relação jurídica mantida entre o consumidor e a empresa. Aquele contratou a prestação de um serviço desta; ela se beneficiou, através de remuneração, da contratação; é dela que o ressarcimento deve ser exigido. Além disso, não se pode dizer que o Poder Público seria um terceiro, totalmente estranho à relação. De fato, existe uma cadeia na prestação do serviço. Primeiramente, o serviço é público e fornecido através de concessão. Em vista disso, arca a companhia aérea com a qualidade do serviço prestado, inclusive com as falhas de comunicação verificadas. O serviço fornecido não pode ser desmembrado. Ainda, o Código brasileiro de Aeronáutica, Lei n° 7.565/86, em seu artigo 230, determina um tempo de quatro horas como o máximo de atraso, vejamos: “Art. 230. Em caso de atraso da partida por mais de 4 (quatro) horas, o transportador providenciará o embarque do passageiro, em vôo que ofereça serviço equivalente para o mesmo destino, se houver, ou restituirá, de imediato, se o passageiro o preferir, o valor do bilhete de passagem. Art. 231. Quando o transporte sofrer interrupção ou atraso em aeroporto de escala por período superior a 4 (quatro) horas, qualquer que seja o motivo, o passageiro poderá optar pelo endosso do bilhete de passagem ou pela imediata devolução do preço. Parágrafo único. Todas as despesas decorrentes da interrupção ou atraso da viagem, inclusive transporte de qualquer espécie, alimentação e hospedagem, correrão por conta do transportador contratual, sem prejuízo da responsabilidadecivil.” 2.1 DA RESPONSABILIDADE OBJETIVA O Professor Fernando Noronha conceitua responsabilidade objetiva como “a obrigação de reparar determinados danos causados a outrem, independentemente de qualquer atuação dolosa ou culposa do responsável, mas que tenham acontecido durante atividades realizadas no interesse ou sob o controle da pessoa responsável”. Do conceito apresentado inferem-se três requisitos básicos para que se configure a responsabilidade objetiva: 1) o fato; 2) o dano; 3) o nexo de causalidade. Os fatos na hipótese levantada são o atraso do vôo, o extravio da mala e humilhação sofrida pela gerente da empresa requerida e os danos configuram-se no desconforto em ter que esperar por mais de oito horas seguidas para poder chegar a seu destino final, sem obter qualquer informação e/ou assistência por parte da requerida, os gastos na compra de roupas e produtos de higiene pessoal e o desconforto por ter sido humilhada. Quanto ao nexo de causalidade, diz a teoria da causalidade adequada que, um fato é causa de um dano quando este seja consequência normalmente previsível daquele. “E para sabermos se ele (o dano) deve ser considerado consequência normalmente previsível, devemo-nos colocar no momento anterior àquele em que o fato aconteceu e tentar prognosticar, de acordo com as regras da experiência comum, se era possível antever que o dano viesse a ocorrer. Quando a resposta for afirmativa, teremos um dano indenizável”. Ora, é sabido da desordem que muitas vezes povoa nossos aeroportos, tanto que os jornais têm noticiado diariamente o caos nos aeroportos brasileiros. Portanto, pode-se afirmar que num aeroporto em que não há um controle rígido das bagagens, é perfeitamente possível antever-se que, sem serem tomadas estas as devidas cautelas, quaisquer voos teriam grande chance de atraso. Assim sendo, no momento anterior ao fato era possível prever-se a ocorrência do dano, não tendo sido tomada nenhuma providência para que tal não ocorresse. Conclui-se, portanto que, presentes os requisitos configuradores da CULPA OBJETIVA, quais sejam o fato, o dano e o nexo de causalidade, estamos diante de um dano indenizável. Conclui-se ainda que, de acordo com o inciso III, do artigo 932 do Código Civil de 2002, o empregador é responsável pela reparação civil por seus empregados, serviçais e prepostos, no exercício do trabalho que lhes competir, ou em razão dele. 3. DOS DANOS MATERIAIS E MORAIS Pelos fatos expostos ficou demonstrado e provado o dano material sofrido pelo autor, vez que teve que arcar com despesas com comunicação, alimentação e hospedagem por conta do atraso em sua conexão, bem como despesas com a comprar de roupas e objetos pessoais já que sua mala fora extaviada. A reparação por dano moral constitui garantia constitucional, prevista no artigo 5°, inciso X, da Constituição Federal, onde lemos: “São invioláveis a intimidade, a vida privada, a honra e a imagem das pessoas, assegurado o direito a indenização pelo dano material ou moral decorrente de sua violação.” Não pode o juiz ignorar, na apreciação do caso concreto que lhe seja submetido, os aspectos relacionados aos mecanismos básicos do comportamento humano, das leis de motivação humana, bem como a necessidade de interrelacionar essas dimensões aos aspectos morais, tutelados pelas leis ordinárias. O dano moral, na esfera do Direito, é todo sofrimento humano resultante de lesões de direitos estranhos ao patrimônio, encarado como complexo de relações jurídicas com valor econômico. Trata-se de dano moral in re ipsa, que dispensa a comprovação da extensão dos danos, sendo estes evidenciados pelas circunstâncias do fato. Trata-se de dano moral presumido. Em regra, para a configuração do dano moral é necessário provar a conduta, o dano e o nexo causal. Excepcionalmente o dano moral é presumido, ou seja, independe da comprovação do grande abalo psicológico sofrido pela vítima. Hodiernamente, é pacífico o entendimento de que o dano moral é indenizável, posto que qualquer dano causado a alguém ou a seu patrimônio deve ser reparado. O dinheiro possui valor permutativo, podendo- se, de alguma forma, lenir a dor pela indenização, que representa também punição e desestímulo do ato ilícito. Já a responsabilidade civil é a obrigação que pode incumbir a uma pessoa de reparar o dano causado a outrém, por fato a ela imputável, ou por fato imputado a pessoas ou coisas que dela dependem ou a ela estejam sujeitas. Elemento fundamental para a sua caracterização é a culpa do agente, qual, segundo o magistério de René Savatier, em obra que se tornou clássica no tema, "... é a inexecução de um dever que o agente podia conhecer e observar. Se ele o conhecia efetivamente e, o violou deliberadamente, existe um delito civil, ou, em matéria contratual, dolo contratual". 4. DO PEDIDO Diante do exposto, requer a Vossa Excelência que se digne em: a) Seja julgado procedente o pedido para compelir a empresa requerida a pagar à requerente o valor de R$ 1.000,00 (mil reais), a título de indenização por danos matérias, face aos gastos com comunicação, alimentação, hospedagem e compra de roupas e objetos pessoais; b) Condenar a requerida a pagar ao autor o valor de R$ 7.000,00 (sete mil reais), a título de indenização por danos morais, face aos transtornos experimentados, não somente em caráter punitivo, bem como, em caráter preventivo-pedagógico; c) A inversão do ônus da prova de acordo com o art 6º, VIII da Lei nº 8078/90. 5. DOS MEIOS DE PROVA Protesta por todos os meios de prova admitidas em direitos, documental, testemunhal, depoimento pessoal da requerida, sob pena de confesso. Ademais, segue em anexo os documentos que comprovam os fatos narrados. 6. DA OPÇÃO PELA REALIZAÇÃO DE AUDIÊNCIA DE CONCILIAÇÃO O autor manifesta sua disposição em solucionar a lide a partir de uma audiência de conciliação. 7. DO VALOR DA CAUSA Dá-se a causa o valor de R$ 8.000,00 (oito mil reais). Nestes termos, Pede deferimento Aracaju, 06 de novembro de 2019 Denisson dos Santos Batista – OAB/SE 6969
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