Buscar

1 - Conceitos Elementares e Correntes Teóricas das Relações Internacionais

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 3, do total de 49 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 6, do total de 49 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 9, do total de 49 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Prévia do material em texto

04/12/2016 Conceitos Elementares e Correntes Teóricas das Relações Internacionais
http://saberes.senado.leg.br/mod/book/tool/print/index.php?id=26785 1/49
Conceitos Elementares e Correntes Teóricas
das Relações Internacionais
MÓDULO I - CONCEITOS ELEMENTARES E CORRENTES TEÓRICAS DAS
RELAÇÕES INTERNACIONAIS
Site: Instituto Legislativo Brasileiro - ILB
Curso: Relações Internacionais: Teoria e História - Turma 01 A
Livro: Conceitos Elementares e Correntes Teóricas das Relações Internacionais
Impresso por: Larissa Barbosa
Data: domingo, 4 Dez 2016, 19:08
Sumário
Módulo I - Conceitos Elementares e Correntes Teóricas das Relações Internacionais
Unidade 1 - As Relações Internacionais no Mundo Contemporâneo: Dilemas e Perspectivas
Pág. 2 - As Relações Internacionais no mundo contemporâneo
Pág. 3 - O Processo de Globalização
Pág. 4 - Dilemas da Globalização
Pág. 5 - Meio Ambiente, Direitos Humanos, Conflitos Internacionacionais
Pág. 6 - Importância do conhecimento de Relações Internacionais
Pág. 7 - As Relações Internacionais e a Constituição Brasileira
Pág. 8 - O Poder Legislativo e as Relações Internacionais
Pág. 9 - O Estudo das Relações Internacionais
Pág. 10 - Relações Internacionais como disciplina independente
Unidade 2 - Conceitos Fundamentais
Pág. 2 - Conceitos Fundamentais
Pág. 3 - Sociedade Internacional
Pág. 4 - Sociedade Internacional
Pág. 5 - Ator Internacional
Pág. 6 - Sistema Internacional
Pág. 7 - Forças Profundas
Pág. 8 - Potência
Pág. 9 - Potência
Pág. 10 - Potência
Pág. 11 - Hegemonia
Pág. 12 - Hegemonia
Pág. 13 - Hegemonia
Unidade 3 - Correntes teóricas das Relações Internacionais
Pág. 2 - Teorias de Relações Internacionais
Pág. 3 - A fase idealista
Pág. 4 - A fase idealista
Pág. 5 - A fase idealista
Pág. 6 - A fase realista
04/12/2016 Conceitos Elementares e Correntes Teóricas das Relações Internacionais
http://saberes.senado.leg.br/mod/book/tool/print/index.php?id=26785 2/49
Pág. 6 - A fase realista
Pág. 7 - Behavioristas e pós-behavioristas
Pág. 8 - Realismo, Pluralismo e Globalismo
Pág. 9 - Pluralismo
Pág. 10 - Globalismo
Pág. 11 - Outras correntes teóricas
Pág. 12 - Idealismo x Realismo
Pág. 13 - Tradicionalistas x Científicos
Pág. 14 - A Teoria Sistêmica das Relações Internacionais
Pág. 15 - A Teoria Sistêmica das Relações Internacionais
Pág. 16 - Realistas x Pluralistas
Pág. 17 - Mudanças na Teoria das Relações Internacionais
Unidade 4 - O Realismo
Pág. 2 - O Realismo
Pág. 3 - O Realismo
Pág. 4 - O Realismo
Pág. 5 - O Realismo
Pág. 6 - O conflito e a questão da segurança
Pág. 7 - Críticas ao Realismo
Pág. 8 - O Neorrealismo
Pág. 9 - O Neorrealismo
Pág. 10 - Os Últimos Grandes Debates
Pág. 11 - Neorrealistas X Globalistas
Pág. 12 - Neorrealistas X Neoliberais e a Teoria da Interdependência
Pág. 13 - Neorrealistas X Neoliberais e a Teoria da Interdependência
Pág. 14 - Neorrealistas x Neoliberais e a Teoria da Interdependência
Pág. 15 - Conclusão
Unidade 5 - Sociedade Internacional: Aspectos Gerais
Pág. 2 - Sociedade Internacional: Evolução Histórica e Conceito
Pág. 3 - Sociedade Internacional: Evolução Histórica e Conceito
Pág. 4 - Sociedade Internacional: Evolução Histórica e Conceito
Pág. 5 - Sociedade Internacional: Evolução Histórica e Conceito
Pág. 6 - Sociedade Internacional: Evolução Histórica e Conceito
Pág. 7 - Sociedade Internacional: Evolução Histórica e Conceito
Pág. 8 - Sociedade Internacional: Evolução Histórica e Conceito
Pág. 9 - Sociedade Internacional: Evolução Histórica e Conceito
Pág. 10 - Sociedade Internacional: Evolução Histórica e Conceito
Pág. 11 - Sociedade Internacional: Evolução Histórica e Conceito
Pág. 12 - Conclusão do Módulo I
Exercícios de Fixação - Módulo I
Módulo I - Conceitos Elementares e Correntes Teóricas das Relações
Internacionais
 
Unidade 1 ­ As Relações Internacionais no Mundo Contemporâneo: Dilemas e Perspectivas
Unidade 2 ­ Conceitos Fundamentais
Unidade 3 ­ Correntes Teóricas das Relações Internacionais
Unidade 4 ­ O Realismo
04/12/2016 Conceitos Elementares e Correntes Teóricas das Relações Internacionais
http://saberes.senado.leg.br/mod/book/tool/print/index.php?id=26785 3/49
Unidade 1 - As Relações Internacionais no Mundo Contemporâneo:
Dilemas e Perspectivas
 
Ao final desta Unidade inicial, o aluno deverá estar apto a:
identificar os principais pontos da agenda de relações
internacionais contemporâneas;
estabelecer o conceito e as características da
Globalização;
estabelecer a importância das relações internacionais
para o Brasil;
 assinalar a evolução histórica e a importância de
Relações Internacionais como disciplina acadêmica.
 
 
 
Em um curso de educação a distância por meio da Internet, o
estudante tem um papel central no estabelecimento de uma relação de
qualidade com o conteúdo proposto. Portanto, procure organizar­se
para ter o melhor aproveitamento possível do curso.
 
Pág. 2 - As Relações Internacionais no mundo contemporâneo
 
Antes de iniciar os estudos desta unidade, assista ao primeiro vídeo educacional
da série: Conexão Mundo ("Aldeia Global ­ Mundo Digital"), disponível no
youtube.
Aldeia Global Mundo Digital
04/12/2016 Conceitos Elementares e Correntes Teóricas das Relações Internacionais
http://saberes.senado.leg.br/mod/book/tool/print/index.php?id=26785 4/49
 
Conexão Mundo é uma série de 20 programas sobre relações internacionais que oferece
informações necessárias à compreensão dos novos processos de intercâmbio entre as nações.
Os programas enfocam toda a história das relações entre os povos, os tratados e políticas para
a nova ordem internacional e procuram desvendar conceitos como o de “globalização”, “blocos
econômicos” etc.
 
As  últimas  décadas  do  século  XX  foram marcadas  pela  intensificação  das  relações  entre  os  povos,  de  uma maneira  como  nunca
experimentada anteriormente. Cada vez mais, as distâncias estão menores, tempo e espaço perdem o significado que tinham para
nossos pais e avós, e as pessoas de diferentes  locais do globo  tomam consciência de que  “a menor distância entre dois pontos é
uma tecla”. 
O século XXI chegou  trazendo grandes conquistas: o mundo está menor, globalizado,  interligado  física e eletronicamente; pode­se
tomar  café em Londres e almoçar em Washington; as  fronteiras perdem sua  importância; o  sistema  internacional  vê­se  cada vez
mais  integrado;  a  tecnologia  alcança milhões  de  pessoas,  e  não  há  limite  ao  conhecimento  humano. O  último  século  do  segundo
milênio presenciou uma evolução tecnológica inimaginável!
 
 
Pág. 3 - O Processo de Globalização
 
O  termo  globalização  pode  ser  entendido  como  fenômeno  de  aceleração  e  intensificação  de
mecanismos, processos e atividades, com vista à promoção de uma  interdependência global e, em
última  escala,  à  integração  econômica  e  política  em  âmbito  mundial.  Trata­se  de  conceito
revolucionário, envolvendo aspectos sociais, econômicos, culturais e políticos. Registre­se, ademais,
que  essa  é  apenas  uma  das  várias  conceituações  do  fenômeno,  o  qual  não  é  recente,  mas  se
acelerou a partir da segunda metade do século XX.
 
Um  dos  aspectos  mais  importantes  da  globalização  envolve  a  ideia  crescente  do  “mundo  sem
fronteiras”. Isso é perceptível em termos como “aldeia global” e “economia global”. Poucos  lugares
do  mundo  estão  a  mais  de  dez  dias  de  viagem,  e  a  comunicação  através  das  fronteiras  é
praticamente instantânea. 
Em  nossos  dias,  com  as  economias  interligadas,  blocos  se  formam,  com  consequências  que  ultrapassam  os  benefícios
econômicos,  pois  as  conquistas  sociais  e  políticas  de  um membro  do  bloco  logo  deverão  chegar  aos  territórios  de  todos  os
outros.  Princípioscomo  a  democracia  e  a  prevalência  dos  direitos  humanos  podem  ser  defendidos  e  arguídos  em  troca  de
benefícios econômicos. Cite­se, por exemplo,  o  caso de países  como Grécia,  Portugal  e Espanha, que, para  serem aceitos na
então Comunidade Europeia, tiveram que promover importantes mudanças econômicas, sociais e políticas. O mesmo se aplica à
Turquia, que aspira a tornar­se parte da moderna Europa.
 
No caso do Mercado Comum do Sul  (MERCOSUL), há a  chamada  "cláusula democrática", a qual estabelece que apenas países
sob  regimes  democráticos  podem  participar  do  bloco.  Essa  cláusula  evita  as  alternativas  autoritárias  em  alguns  países  do
Mercosul, em momentos de crise institucional.
Assim,  o  atual  processo  de  globalização  envolve  a  integração  econômica  mundial  em  diversos  níveis,  com  a  redução  das
distâncias  em  virtude  do  desenvolvimento  de  mecanismos  de  produção  e  distribuição  de  bens  em  escala  global,  e  do
fortalecimento  dos  meios  de  comunicação.  Nesse  contexto,  novos  atores,  como  as  organizações  não  governamentais,  as
empresas transnacionais, a opinião pública e a mídia, ganham destaque ao influenciarem a conduta dos Estados.
 Uma leitura essencial sobre o tema é o artigo de Paulo Roberto de Almeida,
“Contra a Antiglobalização”. 
04/12/2016 Conceitos Elementares e Correntes Teóricas das Relações Internacionais
http://saberes.senado.leg.br/mod/book/tool/print/index.php?id=26785 5/49
 
Pág. 4 - Dilemas da Globalização
 
 
Entretanto, a globalização também é marcada por problemas em escala mundial. Nesse sentido, há a criminalidade, que ultrapassa
as  fronteiras dos Estados, com organizações criminosas exercendo suas atividades  ilícitas no âmbito  internacional. Crimes como o
narcotráfico, o tráfico de armas, o tráfico de pessoas e de animais e a pirataria, todos esses há muito não são problemas exclusivos
de um ou outro país, mas questões globais que devem ser encaradas sistemicamente. E a base do crime organizado é a lavagem de
dinheiro, que movimenta cerca de um trilhão de dólares por ano no mundo, ou 4% do Produto Interno Bruto (PIB) mundial, segundo
a Organização das Nações Unidas (ONU). 
Assim,  ao  lado  das  grandes  conquistas,  há  novos  e  grandes  desafios:  parte  significativa  da  população  mundial  ainda  permanece
no século XIX. Nações ricas e prósperas convivem com Estados que comportam milhões de miseráveis. Alguns locais do globo ainda
não saíram da Idade Média! Novas e antigas doenças afligem milhões. Cite­se, ainda, a parte significativa da raça humana que sofre
com a fome, a pobreza, as guerras. A sociedade internacional presencia crises econômicas, políticas, culturais e sociais. E o destino
da humanidade permanece uma grande incógnita. 
Pág. 5 - Meio Ambiente, Direitos Humanos, Conflitos Internacionacionais
 
  
 
Outro  importante  tema  de  relações  internacionais  neste  mundo  globalizado  envolve
os  problemas  ambientais.  Cada  vez  mais  a  humanidade  toma  consciência  de  que  o  meio
ambiente não pode ser tratado como assunto  interno dos Estados e que os danos  ambientais
ultrapassam as fronteiras. A terra é um corpo único e seus recursos são patrimônio de todos
os  seres  humanos  e  das  futuras  gerações.  Daí  que  os  males  causados  ao  meio  ambiente
afetam toda a humanidade.
Convém  registrar  que,  para
Relações  Internacionais  como
disciplina  acadêmica  ou  área
do  conhecimento,
empregaremos  iniciais
maiúsculas,  enquanto  que,
quando  nos  referirmos  ao
objeto  de  estudo,  usaremos  o
termo em minúsculas.
No  último  quartel  do  século  XX,  a  proteção  ao  meio  ambiente  passou  a  ser  uma  das  grandes  preocupações  da  comunidade
internacional, não só na esfera de governo, mas também entre todos os habitantes do planeta. A Conferência do Rio de Janeiro de
1992 exerceu essa salutar influência, e multiplicaram­se nas últimas décadas os tratados sobre todos os aspectos ambientais, tanto
assim que se calcula em mais de mil os tratados internacionais assinados sobre o tema.
 
Também  a  proteção  aos  direitos  humanos  é  um  assunto  em  voga,  sobretudo  quando  notícias  de  violações  a  esses  direitos  nos
chegam de  todas as partes do planeta. No moderno  sistema  internacional,  agressões  contra  uma pessoa  devem  ser  consideradas
crimes  contra  toda  a  raça  humana.  O  intenso  trabalho  das  cortes  internacionais  de  direitos  humanos  na  Europa  e  no  continente
americano refletem essa nova realidade.
 
Ademais,  à  medida  que  nos  aproximamos  uns  dos  outros,  surgem  também  os  conflitos,  outro  componente  marcante  da  agenda
internacional desde sempre. E no extremo dos conflitos, temos a guerra, sob suas diferentes formas. Nesse sentido, o século XX foi
marcado por uma grande quantidade de guerras por todo o globo, inclusive com dois conflitos que envolveram praticamente toda a
sociedade internacional.
 
De  fato,  uma  das  grandes  certezas  do  século  XXI  é  que  nele  ainda  presenciaremos  o  fenômeno  da  guerra.  Entretanto,  alguns
cogitam mesmo que a guerra, neste século, não será mais entre países, mas entre civilizações (HUNTINGTON, 1998).
 
 
Pág. 6 - Importância do conhecimento de Relações Internacionais
 
Eis,  portanto,  o  grande  paradoxo  global:  ao  lado  de  grandes  conquistas,  grandes  desafios!  E  é  nesse  contexto  que  se  percebe  a
necessidade de  conhecimento das  relações  internacionais. Atualmente, quem não estiver  informado  sobre o que ocorre no mundo
poderá ver­se bastante limitado, pessoal e profissionalmente.
 
Hoje, a sociedade internacional está tão interligada, tão integrada em um processo de globalização, que situações ocorridas na China
podem afetar a nós, brasileiros, do outro lado do planeta. Daí que o problema do outro passa a ser também um problema nosso, e o
bem­estar de cada homem passa a significar o bem­estar de toda a humanidade. Nesse contexto, se você não é parte da solução, é
parte do problema!
 
 
 
  
Assista à aula proferida pelo Professor Doutor Joanisval Brito Gonçalves, por ocasião de curso presencial ministrado no ILB.
Aumente o som de seu equipamento e bons estudos!
  
04/12/2016 Conceitos Elementares e Correntes Teóricas das Relações Internacionais
http://saberes.senado.leg.br/mod/book/tool/print/index.php?id=26785 6/49
  
Introdução às Relações Internacioanais
 
Duração: 5min29 
Caso não consiga visualizar:
1) seu acesso ao Youtube pode estar bloqueado; 
2) pode precisar atualizar o Flash Player (http://get.adobe.com/br/flashplayer/)
 
O Brasil e as Relações Internacionacionais
Como quinto maior país do globo em população e dimensão territorial, e estando entre as maiores economias do
planeta, com condições e pretensões de se tornar uma grande potência, o Brasil não pode se furtar a ter um papel
de  destaque  nas  relações  internacionais.  As  transformações  e  acontecimentos  no mundo  globalizado  farão  cada
vez mais parte de nosso dia a dia, em uma tendência praticamente irreversível.
 
Estamos estrategicamente localizados, temos fronteiras com praticamente todos os países sul­americanos, e com
o Atlântico, principal via para a Europa e a África. Ademais, somos uma nação tida como pacífica e respeitadora
do direito internacional e com incontestáveis atributos de liderança regional. Finalmente, não devemos desconsiderar nossas maiores
riquezas:  os  recursos  naturais  e  um  povo  multiétnico,  empreendedor  e,  nos  dizeres  de  Gilberto  Freyre,  com  suas  peculiares
“características antropofágicas”.
 
Pouco  significativa  diante  de  suas  potencialidades  é  a  atuação  brasileira  no  cenário  internacional.  Apenas  nas  últimas  décadas  do
século  XX  é  que  o  Brasil  começou  a  se  fazer mais  presente.  Isso  coincide  com o  surgimento  e  o  desenvolvimentodos  primeiros
cursos de Relações Internacionais no País e com o aumento do interesse nas questões internacionais por parte de diversos setores
da nossa sociedade.
 
É premente a necessidade de que os brasileiros tenham algum conhecimento de Relações Internacionais. Na Administração Pública,
essa  demanda  é  mais  evidente.  No  Poder  Legislativo,  é  fundamental  que  aqueles  que  assessoram  os  legisladores  conheçam  as
principais  linhas  da  política  internacional  tão  bem  quanto  conhecem  a  política  interna  brasileira.  Afinal,  política  interna  e  política
externa estão estreitamente relacionadas: as ações daquela afetarão e serão afetadas por esta e vice­versa.
Um sítio interessante para o estudante e o profissional de Relações Internacionais é o Inforel, que
traz  cobertura  atualizada  das  questões  gerais  da  área  e  também  de  defesa  nacional,  além  de
artigos com análises interessantes. 
Pág. 7 - As Relações Internacionais e a Constituição Brasileira
 
04/12/2016 Conceitos Elementares e Correntes Teóricas das Relações Internacionais
http://saberes.senado.leg.br/mod/book/tool/print/index.php?id=26785 7/49
 
 
A importância das relações internacionais também pode ser percebida na maneira como o tema é tratado na Constituição Federal. A
Carta Magna, já em seu Título I, referente aos “Princípios Fundamentais”, estabelece, no art. 4º, os princípios que regem as relações
internacionais do Brasil:
 
 
 
· independência nacional;
· prevalência dos direitos humanos;
· autodeterminação dos povos;
· não intervenção;
· igualdade entre os Estados;
· defesa da paz;
· solução pacífica dos conflitos;
· repúdio ao terrorismo e ao racismo;
· cooperação entre os povos para o progresso da humanidade;
· concessão de asilo político.
  
 
Ainda no que  concerne à  Lei Maior,  também os direitos e garantias  fundamentais estão  intimamente  relacionados às experiências
vivenciadas pela comunidade das nações ao longo de sua história. Foi graças às revoluções em países como a Inglaterra, a França,
os  EUA  e  a  Rússia,  e  à  difusão  desses  princípios  para  além  de  suas  fronteiras,  que  o  mundo  moldou  uma  cultura  de  direitos
fundamentais  que  hoje  são  inquestionáveis  em  todo  o  planeta.  E  a  violação  a  esses  direitos  gera  repulsa  da  comunidade
internacional.
A Constituição de 1988 inovou ao elencar, de forma sistemática, os princípios que regem nossas relações internacionais. Para maior
aprofundamento,  sugerimos a  leitura do artigo  'Os princípios das  relações  internacionais e os 25 anos da Constituição Federal', do
Professor Alexandre Pereira da Silva, disponível na Biblioteca deste curso, em 'Textos complementares'.
 
Vereshchetin  (1996),  por  exemplo,  vê  no  que  chama  de  “fator  direitos  humanos”  um  dos  principais meios  de  retomada  de  uma
cultura mínima de proteção internacional no pós­Guerra. O relacionamento entre Estado e indivíduo, que tradicionalmente foi objeto
de preocupação de leis internas, não mais pode ser considerado uma questão puramente doméstica dos países.
 
A Constituição da Rússia de 1993, por exemplo, trouxe como princípio a incorporação das normas internacionais ao sistema jurídico
interno  e  a  prevalência  dos  acordos  internacionais  dos  quais  a  Federação  Russa  faça  parte,  caso  estes  estabeleçam  regras  que
difiram daquelas estipuladas em  lei  interna.  Isso  tem se mostrado uma  tendência constitucional em vários países. Quando não há
dispositivos legais expressos, as cortes constitucionais têm dado o rumo da interpretação.  
Na  década  de  1990,  as  cortes  constitucionais  da  Hungria  e  da  Polônia,  por  exemplo,  decidiram  que  a  Constituição  e  as  normas
internas deveriam ser interpretadas de tal forma que as normas internacionais geralmente aceitas tivessem força efetiva. 
Há,  portanto,  em  todo  o  planeta,  sinais  de  uma  crescente  interdependência  até  mesmo  no  campo  jurídico,  e  o  Tribunal  Penal
Internacional nada mais é que uma expressão e consequência disso.
 
 
 
Pág. 8 - O Poder Legislativo e as Relações Internacionais
 
 
As  relações  internacionais  do  Brasil  passam  efetivamente  pelo  Poder  Legislativo.  Em  nosso  sistema  jurídico­político,  quaisquer
tratados que o Brasil  celebre  com outras nações ou  com organizações  internacionais devem necessariamente passar pelo  aval  do
Congresso Nacional antes de serem ratificados.
 
O  art.  49  da Constituição  Federal  de  1988  é  claro  ao  estabelecer,  logo nos  dois  primeiros  incisos,  as  competências  exclusivas  do
Congresso Nacional:
 
Art. 49. É da competência exclusiva do Congresso Nacional:
I ­ resolver definitivamente sobre tratados, acordos ou atos internacionais que acarretem
encargos ou compromissos gravosos ao patrimônio nacional;
II ­ autorizar o Presidente da República a declarar guerra, a celebrar a paz, a permitir que
forças estrangeiras transitem pelo território nacional ou nele permaneçam temporariamente,
ressalvados os casos previstos em lei complementar;
(...)
04/12/2016 Conceitos Elementares e Correntes Teóricas das Relações Internacionais
http://saberes.senado.leg.br/mod/book/tool/print/index.php?id=26785 8/49
E  o  Senado  Federal,  por  sua  vez,  tem  atribuições  mais  específicas,  pois  é  a  Casa  Legislativa  que  avalia  e  aprova  nossos
embaixadores, autoridades máximas das missões diplomáticas brasileiras, designados para representar o País no Exterior. Compete
também ao Senado autorizar as operações externas de natureza financeira dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios.
 
Cada Casa Legislativa possui comissões encarregadas dos temas de relações exteriores e defesa nacional. No Senado Federal, por
exemplo,  a  Comissão  de  Relações  Exteriores  e  Defesa  Nacional  (CRE),  composta  por  19  membros  titulares  e  19  suplentes,  é
competente para tratar das questões que envolvam as relações internacionais do País.
 
A legislação brasileira evidencia a importância do Poder Legislativo nos destinos das relações internacionais. E quanto mais o Brasil
busque integrar­se na comunidade das nações e ocupar o seu devido papel de destaque, mais importante se faz o conhecimento, na
esfera do Legislativo, dos principais temas da área. 
 
 
 
Pág. 9 - O Estudo das Relações Internacionais
Antes  de  concluirmos  a  primeira  Unidade,  convém  apresentar  algumas  considerações  gerais  sobre  o  estudo  das  relações
internacionais como disciplina, as áreas de atuação do profissional da área e a realidade brasileira.
 
O  estudo  de  Relações  Internacionais  envolve  conhecimentos  gerais  de  Direito,  Economia,  Administração,  História,  Filosofia,
Sociologia, Antropologia, Estatística e, sobretudo, de questões internacionais contemporâneas.
 
O interesse por temas de relações internacionais aumentou mais ainda após os atentados terroristas de 11 de setembro de 2001. Ao
assistirmos àqueles dramáticos acontecimentos em tempo real, alguns véus foram retirados, e aos poucos tomamos consciência de
que as distâncias físicas se estreitavam ao mesmo tempo em que as distâncias culturais e sociais aumentavam. O terrorismo passa
também a ser uma questão global, que afeta países nos hemisférios Norte e Sul, no Ocidente e no Oriente.
 
No campo profissional, as relações  internacionais são aplicáveis em diversas áreas. No Brasil, há profissionais dessa área atuando
em vários setores da Administração Pública e da iniciativa privada.
 
Em  termos  de  carreira,  uma  das  mais  conhecidas  é  a  diplomacia.  O  diplomata  é  o  legítimo
representante do Governo e da nação  junto a outros povos e organizações  internacionais. Para
se  tornar  um  diplomata  no  Brasil,  é  necessário  o  ingresso  na  carreira  por  meio  de  concurso
público,  promovido  pelo  Instituto  Rio  Branco  (IRBr)do  Ministério  das  Relações  Exteriores.
Aprovado  no  concurso,  e,  submetido  a  um  período  de  treinamento  no  IRBr,  o  diplomata  inicia
uma carreira como Terceiro Secretário, podendo chegar a Embaixador.
 
 
Palácio do Itamaraty 
Fonte:www.inforel.org
 
No  serviço  público,  além  da  Chancelaria,  o  profissional  de  relações  internacionais  tem  diante  si  alternativas  de  trabalho  nos
vários  órgãos  da  Administração  Federal,  Estadual  e  Municipal.  Afinal,  sempre  há  uma  “assessoria  internacional”  em  cada
ministério,  secretaria,  autarquia  e  empresas  públicas.  E  o  perfil  do  internacionalista  se  destaca.  Constata­se  a  presença  de
profissionais de relações internacionais nas principais carreiras de Estado.
 
Na  iniciativa  privada,  outro  leque  de  alternativas  se  abre  aos  que  possuem  formação  na  área.  Além  das  grandes  corporações
multinacionais e transnacionais, as empresas brasileiras de médio e grande porte  já percebem a necessidade de atuarem em uma
economia  globalizada.  Assim,  em  um  mundo  cada  vez  mais  integrado  econômica  e  financeiramente,  as  empresas  precisam  de
profissionais  que  as  auxiliem  a  se  integrarem  e  a  permanecerem  no  sistema  internacional.  Aquelas  que  desconsideram  essa
percepção frequentemente acabam por sucumbir.
 
Além disso,  há  a  possibilidade  de  trabalho  nas  centenas  de Organizações  Internacionais  e Organizações Não Governamentais  que
atuam no globo: ONU, OEA, OIT, OMC, OPEP, UNESCO, FAO, Greenpeace, WWF e outras. Brasília tem representação da maior parte
dos  organismos  internacionais  dos  quais  o Brasil  é membro  e,  com  isso,  o mercado  do  profissional  de  relações  internacionais  se
amplia na capital federal.
 
 
 
Pág. 10 - Relações Internacionais como disciplina independente
 
 
Até o  início do  século XX, as  relações  internacionais não eram estudadas  como disciplina  independente. O estudo do  tema estava
sempre sob o manto de outras ciências, como o Direito, a Economia, a Sociologia e a Ciência Política.
 
À medida que a sociedade internacional tornava­se mais complexa e as relações entre os Estados mais diversificadas, relações estas
que envolviam conflito e  cooperação, e que muitas vezes  culminavam em situações que  interferiam diretamente no  cotidiano das
pessoas e na política interna das nações, percebeu­se a crescente necessidade de teorias que explicassem a conduta dos atores em
um  cenário  internacional.  Essas  teorias  e  seu  estudo  deveriam  constituir  uma  nova  área  do  conhecimento,  independente  e  com
autonomia para gerar suas próprias percepções da realidade. Daí o aparecimento das primeiras cátedras de Relações Internacionais
pelo mundo.
 
Os  cursos  de Relações  Internacionais  surgiram na primeira metade do  século XX,  nas  principais  universidades  europeias  e  norte­
americanas. Foram constituídos com o objetivo de produzir conhecimento que explicasse como se desenvolviam as relações entre os
Estados.  Naquele  contexto,  as  perguntas  que  impulsionariam  o  estudo  estavam  intimamente  relacionadas  ao  grande  trauma  da
Primeira  Guerra  Mundial  (1914­1918),  conflito  sem  precedentes  até  então,  que  envolvera  diversas  nações  do  globo  e  causara
pesadas perdas, sobretudo no território europeu. Assim, os temas centrais eram:
 
O que havia conduzido o mundo a uma situação de conflito tão drástica?
O que leva os Estados à guerra?
04/12/2016 Conceitos Elementares e Correntes Teóricas das Relações Internacionais
http://saberes.senado.leg.br/mod/book/tool/print/index.php?id=26785 9/49
É possível se evitar o conflito entre os povos?
Como agem os atores internacionais e quais forças que interferem na conduta desses entes?
Claro  que,  no  decorrer  do  século  XX,  o  estudo  de Relações  Internacionais  diversificava­se  à medida  que  os  laços  entre  os  povos
tornavam­se mais complexos e novos temas, como cooperação, desenvolvimento, integração, paz, direitos humanos e globalização,
vinham  à  baila.  Atualmente,  a  disciplina  é  ampla  e  alcança  as mais  diferentes  áreas  de  estudo,  e  evolui  à medida  que  também
evolui a complexidade da sociedade internacional. De fato, hoje há cursos de Relações Internacionais nas principais universidades do
mundo e profissionais da área atuando nos mais variados segmentos dos setores público e privado.
 
O  primeiro  curso  de  Relações  Internacionais  no  Brasil  foi  instituído  na  Universidade  de  Brasília,  na  década  de  1970,  fazendo  da
capital da República o referencial brasileiro em estudos internacionais. Até meados da década de 1990, havia apenas dois cursos de
Relações Internacionais no Brasil – na Universidade de Brasília e na Universidade Estácio de Sá (Rio de Janeiro). Hoje, são dezenas
de  instituições  que  oferecem  a  graduação  em  Relações  Internacionais  por  todo  o  País.  Trata­se,  portanto,  de  carreira  de  grata
expansão. Mesmo assim, a contribuição brasileira para as relações internacionais ainda é muito incipiente, sobretudo para um país
que tem potencial para se tornar uma grande potência entre seus pares.
Feitas essas primeiras considerações acerca do  tema de nosso curso,  realize as atividades propostas e, em seguida, passemos às
teorias e aos principais conceitos utilizados pelos profissionais e estudiosos das Relações Internacionais.  
 
  
Unidade 2 - Conceitos Fundamentais
Ao final desta unidade, o aluno deverá ser capaz de
identificar e definir os seguintes conceitos fundamentais de
relações internacionais: 
• Sociedade Internacional; 
• Atores; 
• Forças Profundas; 
• Sistema Internacional; 
• Potência; 
• Hegemonia.
                                                            
Lembre­se sempre dos objetivos estabelecidos, que devem servir de guias para o
estudo do conteúdo e para a autoavaliação do cursista. Tenha um bom
aproveitamento!
Pág. 2 - Conceitos Fundamentais
 
 
Essencial  para  o  desenvolvimento  de  nosso  curso  é  a  compreensão  de  conceitos  fundamentais  de  Relações  Internacionais.  Nesse
sentido,  seria  complicado  tentar  iniciar  qualquer  análise  de  Relações  Internacionais  sem  as  noções  desses  conceitos.  Dentre  eles
ressaltamos: 
Sociedade Internacional;
04/12/2016 Conceitos Elementares e Correntes Teóricas das Relações Internacionais
http://saberes.senado.leg.br/mod/book/tool/print/index.php?id=26785 10/49
Atores;
Forças Profundas;
Sistema Internacional;
Potência;
Hegemonia.
 
Antes de iniciar o estudo desta unidade, sugerimos que assista atentamente aos dois
vídeos seguintes do Conexão Mundo , 
“Conceitos Fundamentais de Relações Internacionais”, disponíveis no Youtube. 
Conexão Mundo - Conceitos Fundamentais das Rel...
 
Conexão Mundo - Conceitos Fundamentais das Rel...
 
A seguir, vamos procurar identificar os elementos mais importantes desses conceitos.
 
 
Sociedade Internacional
 
Um dos primeiros aspectos com o qual se depara aquele que  inicia o estudo de Relações Internacionais refere­se à temática que
envolve a Sociedade Internacional. 
04/12/2016 Conceitos Elementares e Correntes Teóricas das Relações Internacionais
http://saberes.senado.leg.br/mod/book/tool/print/index.php?id=26785 11/49
 
Como definir Sociedade Internacional? Quais os elementos constitutivos desse conceito?
A  ideia  de  Sociedade  Internacional  –  termo  cunhado  por  Hugo  Grócio  no  século  XVII  –  permite
direcionar a atenção para a atuação padronizada dos Estados. Apesar da ausência de uma autoridade
central  no  cenário  internacional,  os  Estados  exibem  padrões  de  atuação  que  estão  sujeitos  a,  e
constituídos  por,  restrições  de  diversas  naturezas  –  históricas,  sistêmicas,  legais  e  morais,  entre
outras.
Num primeiro momento,podemos relacionar Sociedade Internacional à evolução histórica das relações
entre  os  grupos,  povos  e, mais  tarde,  Estados­nações  organizados  em âmbito  espacial  determinado.
Podemos identificar a evolução da Sociedade Internacional a partir das relações entre os grupos primitivos da Antiguidade, passando
pelos reinos e impérios e chegando à Idade Contemporânea, com a ascensão do Estado nacional e soberano nos séculos XVIII e XIX
e o seu declínio, no século XX, frente a um sistema cada vez mais globalizado e interdependente.
Pág. 3 - Sociedade Internacional
  
Podemos falar em Sociedade  Internacional antes mesmo da  formação dos Estados nacionais,  que  só  se deu, nos moldes  como os
concebemos hoje  (compostos de povo,  território e  soberania), há dois  séculos. Mesmo que não houvesse consciência dos povos a
esse respeito, não há como negar a existência “de fato” de uma Sociedade Internacional na Antiguidade. Afinal, a partir do momento
em que surgem os primeiros grupos  independentes e diferenciados, exercendo  relações políticas,  culturais ou comerciais entre si,
tem­se uma Sociedade Internacional embrionária. Das  tribos passaram­se aos  reinos, às cidades­estados e aos  impérios, e estes,
vistos em um contexto macro e nas relações entre si, formavam a Sociedade Internacional do mundo antigo.
 
Claro  que  o  primeiro modelo  de Sociedade  Internacional,  inserido em um Sistema  Internacional  da  Antiguidade,  refletia mais  um
conjunto de sociedades regionais localizadas, muitas vezes sem qualquer contato entre si e até sem consciência da existência umas
das  outras.  Era  uma  época  em  que  as  forças  naturais  limitavam  a  comunicação  entre  Oriente  e  Ocidente,  e  a  “Sociedade
Internacional  do  sistema grego” mantinha pouco  contato  com a  “Sociedade  Internacional  do extremo oriente” – na qual  o  império
dinástico chinês era o principal ator.
 
Somente  com  as  grandes  navegações  e  o  expansionismo  europeu  pelo  planeta  é  que  se  estrutura  uma  Sociedade  Internacional
global. Assim, desde o século XVI, o mundo vai­se tornando cada vez mais  integrado, seja pela força da economia e do comércio,
seja  pela  força  dos  canhões  e  das  conquistas  coloniais  europeias.  Paul  Kennedy,  em  sua  obra  já  clássica Ascensão  e  Queda  das
Grandes  Potências,  analisa,  com  clareza,  como  o  extremo  oeste  do  continente  euro­asiático,  conhecido  como  Europa,  com  uma
diversidade de povos e reinos autônomos e marcado por conflitos regionais e  fratricidas, consegue expandir­se pelo mundo e, em
pouco mais de dois séculos, tornar­se o centro de uma sociedade global, subjugando forças tradicionais como a China e o Império
Otomano.
  
O termo “internacional” foi utilizado pela primeira vez em 1780, pelo filósofo inglês Jeremias Bentham, em
sua obra Princípios de Moral e Legislação. Essa é a época do apogeu dos Estados nacionais, com o início do
declínio do absolutismo no continente europeu. Era um período em que a ideia de nação ainda estava muito
ligada  à  figura  do  soberano.  A  Sociedade  Internacional  representava,  para  os  europeus,  a  “Cristandade”,
com seus paradigmas e princípios seculares. O Estado soberano era o principal ator internacional.
  
Foi com a Revolução Francesa que o conceito de nação deixou de ter caráter puramente simbólico e passou
a relacionar­se diretamente à questão da soberania. Esta passou a residir essencialmente na nação, onde o
súdito  tornou­se cidadão e as relações entre os Estados, até então simbolizados e  conduzidos pelos monarcas, estenderam­se às
relações entre os povos. O século XX esclarece essa nova perspectiva: as relações entre nações não são necessariamente relações
entre os Estados, muito pelo contrário.
 
Pág. 4 - Sociedade Internacional
 
Não há dúvida de que essa Sociedade Internacional é dinâmica e tem sua evolução diretamente relacionada à evolução dos grupos,
povos,  reinos,  Estados,  Impérios  e  nações,  enfim,  de  todos  os  atores  que  a  compõem  ou  a  compuseram  e  das  forças  que
influenciam a sua atuação.
 
Qual é, então, o conceito de sociedade internacional? 
04/12/2016 Conceitos Elementares e Correntes Teóricas das Relações Internacionais
http://saberes.senado.leg.br/mod/book/tool/print/index.php?id=26785 12/49
A  resposta  para  essa  pergunta  é  percebida  de  maneira  diferenciada  pelos  teóricos  das  Relações  Internacionais,  que  podem  ser
reunidos em três grandes grupos (CERVERA, 1991).
 
Para os  teóricos do primeiro grupo, é  simplesmente  impossível definir Sociedade  Internacional.  Limitam­se, assim, ao estudo dos
componentes da Sociedade Internacional e à evolução das relações entre eles.
 
Os teóricos do segundo grupo dedicam­se a analisar a Sociedade Internacional em contraposição a outros grupos sociais. Por essa
ótica,  a  pergunta  que  se  busca  responder  é  “Como  é  a  Sociedade  Internacional?”  É  irrelevante,  portanto,  para  esses  autores,  a
formulação de um conceito teórico para Sociedade Internacional. De qualquer maneira, eles não deixam de apresentar sua definição
de Sociedade Internacional, mas apenas para instrumentalizar suas explicações, como veremos adiante.
 
O  terceiro  grupo,  majoritário,  afirma  não  só  ser  possível,  mas  também  necessário,  proceder  à  definição  do  termo  “Sociedade
Internacional”,  para  que  se  possa  tratar  com  mais  propriedade  o  estudo  dos  fenômenos  internacionais  e  das  relações  que  se
desenvolvem  em  seu  meio.  Uma  vez  que  concordamos  com  essa  percepção,  apresentaremos  nosso  conceito  de  Sociedade
Internacional. Antes, porém, vejamos alguns conceitos de autores renomados.
 
Colliard (1978) afirma que Sociedade  Internacional  é  o  “conjunto  de  seres  humanos  que  vivem  sobre  a  terra”.  Percebemos  uma
definição genérica e abrangente, que põe completamente de lado as estruturas em que os seres humanos estão agrupados, como as
nações ou os Estados nacionais. Para o autor, o conceito de Sociedade Internacional confunde­se com o de “humanidade”. Chega­se
a perceber mesmo uma concepção idealista, pois a Sociedade Internacional teria em primeiro plano o indivíduo, independentemente
de suas origens e do grupo ou povo a que pertence.
Hedley Bull (2002), com base em uma análise sistêmica, definiu Sociedade Internacional como um “grupo de comunidades políticas
independentes que não formam um sistema simples”.
Juan Carlos Pereira (2001) apresenta uma definição mais precisa e completa: “um âmbito espacial e global em que se desenvolve
um amplo conjunto de relações entre grupos humanos diferenciados, territorialmente ou geograficamente organizados e com poder
de decisão.” O autor acredita que a Sociedade Internacional estaria evoluindo para uma Comunidade Internacional.
Rafael Calduch Cervera (1991) define Sociedade Internacional como “aquela sociedade global (macrossociedade) que compreende
os  grupos  com  um  poder  social  autônomo,  entre  os  quais  se  destacam  os  Estados,  que  mantêm  entre  si  relações  recíprocas,
intensas, duradouras e desiguais sobre as quais é assentada certa ordem comum”.
Por  fim,  cabe  apresentar  nossa  própria  conceituação  de  Sociedade  Internacional,  que  é  baseada  na  corrente  historiográfica,  pela
qual buscamos reunir elementos que consideramos essenciais para a compreensão do termo e de sua evolução desde a Antiguidade.
A nosso ver, Sociedade Internacional pode ser definida como o conjunto de entes que interagem de maneira sistêmica em uma esfera
internacional sob a influência de forças profundas.
Desmembremos esse conceito para melhor compreensão.
 
 
Pág. 5 - Ator Internacional
 
A primeira parte de nosso  conceito de Sociedade  Internacional  trata de um conjunto de entes. Esses  entes  nada mais  são  do  que
os  Atores  internacionais.  Atorinternacional  é  toda  autoridade,  organização,  grupo  ou  pessoa  que  representa  ou  pode  vir  a
representar  um  papel  de  destaque  na  Sociedade  Internacional.  A  percepção  desses  atores  varia  conforme  o  tempo  e  a  corrente
teórica  que  os  identifica,  mas  podemos  destacar  aqueles  que,  na  atualidade,  podem  ser  considerados  os  mais  importantes:  os
Estados  nacionais,  os  atores  governamentais  interestatais  (as  organizações  internacionais),  os  atores  não  governamentais
interestatais (i.e., organizações não governamentais e empresas multi­ e transnacionais, entre outros) e os indivíduos.
 
Não são  todas as pessoas, grupos ou organizações que podem ser  identificados como Ator  Internacional. Para nossa classificação,
é necessário  que  a  atuação  desses  entes  tenha  destaque  em  escala  global.  Por  exemplo,  uma  associação  estabelecida  dentro  de
determinado  país  e  voltada  em  suas  atividades  e  interesses  prioritariamente  ao  âmbito  interno  daquele  país  não  é  um  Ator
internacional.
 
Não obstante, qualquer grupo, organização ou indivíduo pode vir a tornar­se Ator internacional. Grandes empresas transnacionais de
hoje foram, no passado, pequenas organizações comerciais, algumas de natureza familiar, que atuavam exclusivamente no interior
de  seu  país  de  origem,  não  sendo  à  época  Atores  internacionais.  À medida  que  essas  empresas  cresceram,  expandiram­se  para
além  das  fronteiras  de  seus  Estados  de  origem  e  começaram  a  atuar  e  influir  na  Sociedade  Internacional,  tornaram­se  Atores
internacionais.
 
 
 
Pág. 6 - Sistema Internacional
04/12/2016 Conceitos Elementares e Correntes Teóricas das Relações Internacionais
http://saberes.senado.leg.br/mod/book/tool/print/index.php?id=26785 13/49
Pág. 6 - Sistema Internacional
   
O segundo aspecto de nosso  conceito de Sociedade  Internacional  refere­se à atuação sistêmica na esfera  internacional.  Adotamos
uma abordagem sistêmica, em que o aspecto relacional é importante. Sistema pode ser conceituado como “conjunto de elementos e
instituições  entre  os  quais  se  possa  encontrar  alguma  relação”  ou,  ainda,  “conjunto  ordenado  de  meios  de  ação  ou  de  ideias,
tendente  a  um  resultado”.  A  abordagem  sistêmica  em  relações  internacionais  vê  o  conjunto  de  inter­relações  entre  os  Atores
internacionais  como  sujeito  a  padrões  e  normas –  enfim,  a  forças  profundas –,  que  remetem ao  conjunto mais  amplo,  o  sistema
internacional como um todo.
 
As primeiras considerações a respeito do modelo sistêmico para explicar as Relações Internacionais tomaram por base referências
da  Biologia  e  da  Química.  Nesse  sentido,  pode­se  associar  a  noção  de  sistema  ao  corpo  humano,  no  qual  vários  subsistemas  –
circulatório, nervoso etc. – são compostos de órgãos que se relacionam e dependem uns dos outros. A  ideia de sistema, portanto,
está relacionada a um ordenamento nas relações entre componentes e à interdependência entre esses componentes.  
Raymond  Aron,  em  sua  obra  clássica  Paz  e  Guerra  entre  as  Nações,  recorreu  ao  conceito  de  sistema  para
evocar  a  dinâmica  das  relações  internacionais.  Assim,  a  Sociedade  Internacional  tem  características
suficientemente  estáveis  para  que  possamos  percebê­la  como  um  sistema  onde  os  Atores  conduzem  suas
relações dentro de certos padrões.
Cabe aqui, também, apresentar um conceito de Sistema Internacional, de acordo com Frederic S. Pearson e J.
Martin Rochester (2000, p. 641):
Sistema  Internacional.  Conjunto  de  relações  em  âmbito  mundial  nas  áreas  política,  econômica,  social  e
tecnológica, em torno do qual ocorrem as relações internacionais em um dado momento.
Há  ainda  autores  que  separam  as  noções  de  Sociedade  Internacional  e  de  Sistema  Internacional  para  identificar  certos  períodos
históricos.  Por  exemplo,  Sociedade  Internacional  teria  como  substrato  a  ideia  de  concerto  e  harmonia  internacional,  que  alguns
defendem  corresponder,  por  exemplo,  à  Europa  do  pós­1815.  Em  contrapartida,  Sistema  Internacional  traduziria  a  existência  de
vários  polos  de  poder  que  interagem  entre  si  e  não  necessariamente  se  harmonizam  no  todo,  o  que  alguns  autores  defendem
corresponder ao mundo pós­1945.
 
 
 
Pág. 7 - Forças Profundas
   
Finalmente,  de  acordo  com  a  nossa  concepção  de  Sociedade  Internacional,  o  terceiro  elemento  fundamental  são  as  “forças
profundas”.  A  ideia  de  “forças  profundas”  origina­se  da  corrente  historiográfica  das  Relações  Internacionais  cujos  principais
expoentes  foram  Pierre  Renouvin  e  Jean­Baptiste Duroselle.  De  acordo  com  esses  historiadores,  as  forças  profundas  nada mais
seriam que determinados fatores que influenciariam as ações das coletividades.
 
As condições geográficas, os movimentos demográficos, os interesses econômicos e financeiros, os traços da mentalidade coletiva,
as grandes correntes sentimentais – todas essas forças profundas formaram o quadro das relações entre os grupos humanos e, em
grande parte, lhes determinaram o caráter. O homem de Estado, nas suas decisões ou nos seus projetos, não pode negligenciá­las;
sofre­lhes  a  influência  e  é  obrigado  a  constatar  os  limites  que  elas  impõem  à  sua  ação.  Todavia,  quando  ele  possui  quer  dons
intelectuais, quer firmeza de caráter, quer temperamento que o levam a transpor aqueles limites, pode tentar modificar o jogo de
semelhantes forças e utilizá­las para seus próprios fins.
 
Juan Carlos  Pereira  denomina  tais  forças  profundas  de  “fatores  condicionantes”  (PEREIRA,  2001,  p.  44).  Identifica  alguns  desses
fatores: fator geográfico, fator demográfico, fator econômico, fator tecnológico, fator ideológico/sistema de valores, fator político­
jurídico e fator militar­estratégico.
 
Portanto, a Sociedade Internacional é composta de entes – Estados, organizações internacionais, organizações não governamentais,
empresas  transnacionais,  indivíduos,  entre  outros  –  que  são  influenciados  pelas  forças  profundas  –  fatores  geográficos,
demográficos, migratórios, políticos, econômicos e financeiros, ideológicos, religiosos, tecnológicos etc. – em suas ações sistêmicas
na esfera internacional.
Uma leitura complementar recomendada é a do texto sobre Rio Branco e as Forças Profundas, de
Arno Wehling:
Visão de Rio Branco – o homem de estado e os fundamentos de sua política. 
04/12/2016 Conceitos Elementares e Correntes Teóricas das Relações Internacionais
http://saberes.senado.leg.br/mod/book/tool/print/index.php?id=26785 14/49
Além do clássico Histoire des Rélations Internationales, obra­mestra da 
historiografia francesa das relações internacionais, caberia destacar dois livros de 
Renouvin e Duroselle já traduzidos para o português: Introdução à História das 
Relações Internacionais – publicada em 1967 pela Difusão Europeia do Livro, de 
São Paulo – e Todo Império Perecerá – um dos últimos grandes trabalhos de 
Duroselle, lançado no Brasil em 2000.
Pág. 8 - Potência
  
Além  dos  conceitos  já  tratados,  cabem,  neste  curso  introdutório,  algumas  observações  –  ainda  que  sem  aprofundamento  –  a
respeito de outros conceitos essenciais para viabilizar nosso entendimento dos temas tratados no decorrer das próximas unidades.
Passemos a eles.
 
 
Potência
 
O  Sistema  Internacional  é  composto  por  uma  diversidade  de  atores.  Nesse  contexto,  o  Estado  ocupa  papel  de  destaque,  mas
existem diferenças marcantes  entre  os Estados na esfera  internacional  e  o grau de  influência  (poder)  que eles  exercem. Assim,
importante para a compreensão das relações internacionais é a ideia de Potência e das diferentes gradações dessa classificação.
 
Há inúmeras definiçõespara Potência.
 
Segundo Martin Wight (2002), Potência é “um Estado moderno e soberano em seu aspecto externo, e quase pode ser definido como
a lealdade máxima em defesa da qual os homens hoje irão lutar”.
 
Rafael Calduch Cervera (1991), por sua vez, cita o conceito de Potência Internacional segundo C. M. Smouts, ou seja, como aquele
Estado  “mais  ou  menos  poderoso  segundo  sua  capacidade  de  controlar  as  regras  do  jogo  em  um  ou  mais  âmbitos­chaves  da
disputa internacional e segundo sua habilidade de relacionar tais âmbitos para alcançar uma vantagem”.
 
Ao  tratar  da  capacidade  dos  Estados  de  influenciarem  a  Sociedade  Internacional,  Martin Wight  relaciona  Potências  Dominantes,
Grandes  Potências,  Potências  Mundiais  e  Potências  Menores.  Potências  Dominantes  e  Potências  Mundiais  seriam  subdivisões  do
gênero Grande Potência, uma vez que ambas as categorias se referem a Estados com interesses globais e capacidade de influência
significativa no Sistema Internacional. Em última análise, a diferenciação poderia ser restringida a Grandes Potências e Potências
Menores.
 
Wight  define  Potência  Dominante  como  aquela  capaz  de  medir  forças  contra  todos  os  rivais
juntos. E cita exemplos ao longo dos séculos, como Atenas, à época das Guerras do Peloponeso,
o Império Romano, a Espanha de Carlos V e de Filipe II, a França de Luís XIV, a Grã­Bretanha no
século XIX e os EUA no século XX.
 
Outro  termo muito  utilizado  e  cujas  características  vão  além da  Potência Dominante,  conforme
definida por Wight,  é  o  de Superpotência.  Esse  termo,  cunhado  com o  advento da Guerra  Fria,
designava exclusivamente URSS e EUA. Esses países, em virtude de suas capacidades nucleares
– com poder de destruição global –, inúmeras vezes associadas ao poderio militar convencional e
à influência político­ideológica mundial, tinham status único na comunidade das nações.
 
Gounelle (1992) indica quatro características das Superpotências:
têm capacidade de intervir em qualquer parte do globo;
dispõem de amplo arsenal, capaz de causar danos diferenciados dos armamentos
convencionais e composto tanto de armas nucleares quanto de outros meios de destruição
em massa;
assumem a liderança de uma aliança militar (os EUA da OTAN e a URSS do Pacto de Varsóvia);
pretendem oferecer um modelo universal de sociedade.
 
Convém  lembrar  que  a  ideia  de  Superpotência  ultrapassa  em muito  o  poderio  exclusivamente militar.  De  fato,  a  capacidade  de
destruição massiva  do  planeta  é  o  elemento  central  do  conceito  de  Superpotência, mas  o  aspecto  de  liderança  de  um  bloco  de
nações e de pretensões de estabelecimento de uma sociedade universal em seus moldes político­econômico­ideológico­sociais não
pode ser desconsiderado.
 
04/12/2016 Conceitos Elementares e Correntes Teóricas das Relações Internacionais
http://saberes.senado.leg.br/mod/book/tool/print/index.php?id=26785 15/49
 
 
Pág. 9 - Potência
Atualmente,  com  o  colapso  da  URSS,  restou,  no  planeta,  apenas  uma  Superpotência:  os  EUA.  Alguns  autores  vislumbram  a
possibilidade de a China vir a ocupar, na segunda metade do século XXI, o lugar da URSS. Entretanto, ainda não há que se falar na
China  como Superpotência,  uma vez  que  esta,  além de não dispor  de  arsenais  nucleares  capazes  de  fazer  frente  ao  poderio  de
Estados como EUA e Rússia, não  tem pretensões – nem condições – de projetar um modelo sócio­político­cultural­ideológico seu
para o mundo. A Rússia, por sua vez, apesar de dispor de arsenais nucleares com capacidade de destruição massiva do planeta,
não  pode  ser  chamada  de  Superpotência,  exatamente  porque  também  não  tem  condições  de  aspirar  a  qualquer  pretensão
hegemônica no sistema internacional, como fazia a URSS. Assim, os EUA, considerados os vencedores da Guerra Fria, são hoje o
único Estado com as características básicas da superpotência, e, de fato, essa nação tem­se tornado tão poderosa que já se cunha
o conceito de Hiperpotência, algo sem precedentes na História.
 
A Hiperpotência dispõe de um aparato bélico superior ao das demais Potências juntas. Esse aparato não se resume ao acervo das
armas de destruição em massa, mas inclui armamento convencional significativo e capacidade de operação militar em mais de um
teatro no globo. Ademais, trata­se de uma Economia de peso diante do sistema, sua influência na política internacional é marcante
e, ainda, consegue projetar seu modelo sócio­cultural e político para outras regiões do planeta.
 
Assim,  os  EUA  não  encontram,  no  início  do  século  XXI,  adversários militares  à  altura,  e  são  a  Grande  Potência  econômica  e  a
liderança mundial.  Do  ponto  de  vista  econômico,  por  exemplo,  apenas  a  coalizão  das  grandes  economias  europeias  pode  fazer
frente  aos  EUA,  o mesmo  se  podendo  dizer  das  economias  asiáticas.  A  projeção  de  poder  dos  norte­americanos  no mundo  não
encontra precedentes, e alguns analistas já começam a analisar a política externa estadunidense como uma política de império. De
qualquer maneira, o conceito de Hiperpotência ainda encontra­se em desenvolvimento.
 
O  conceito  de  Wight  para  Potência  Dominante  tem  grande  proximidade  com  a  ideia  de  hegemon,  ou  seja,  uma  potência  tão
poderosa que seria necessária uma coalizão de todas as demais nações para contê­la. A concepção de hegemon ultrapassa a esfera
exclusivamente  político­militar,  de  modo  que  o  Estado  que  detém  esse  título  influencia  a  Sociedade  Internacional  em  esferas
diversas, como a cultura, a estrutura social interna, a Economia e até o Direito. Além disso, essa influência do hegemon não ocorre
necessariamente de maneira impositiva. De fato, a hegemonia, como veremos a seguir, envolve um misto de coerção e consenso.
Finalmente, convém lembrar que o hegemon continua influenciando a Sociedade Internacional mesmo após perder esse status.
Interessante observar que a hegemonia dos EUA hoje é mantida mais por outros meios – o que alguns autores  chamam de soft
power (poder suave)  –, como a presença marcante na compilação e divulgação de notícias e diversões, na produção de bens de
consumo, nas inúmeras formas de cultura popular e sua identificação com a liberdade política e de mercado, do que propriamente
por meio do hard power (poder militar).
Além  da  potência  hegemônica,  há  outros  atores  estatais  com  capacidade  significativa  de  influência  na  Sociedade  Internacional.
Esses  são  as Grandes  Potências,  as  quais,  inclusive,  disputam  a  hegemonia  entre  si  e  aspiram  tornar­se  a  potência  dominante,
chegando,  muitas  vezes,  a  alcançar  esse  objetivo.  De  fato,  as  relações  internacionais  seriam  um  grande  tabuleiro  onde  essas
Potências  disputariam  poder  em  um  jogo  de  influência.  Como  exemplos  atuais  de  Grandes  Potências  teríamos  China,  França,
Rússia, Alemanha, Japão e Grã­Bretanha.
 
As potências menores constituem a maioria. Seu grau de influência no sistema varia significativamente. Nesse grupo, poderiam ser
relacionadas desde as Potências Mundiais menores – como Espanha e Índia – até as Potências Regionais – Argentina e Egito, por
exemplo. Vale destacar que uma Potência Menor hoje pode vir a  tornar­se uma Grande Potência e até a Potência Dominante. Os
EUA são um bom exemplo disso.
 
 
 
Pág. 10 - Potência
Max Gounelle (1992) comenta que, à medida que dispõe de capacidade de  influenciar de maneira significativa os outros entes da
Sociedade Internacional em prol de seus interesses particulares, um Estado pode ser classificado como Microestado, Potência Local,
Potência Média, Grande Potência ou Superpotência.
Os  microestados  são  aquelas  pequenas  soberanias  que  persistem  em  nossos  dias  e  que,  em  sua  maioria,  tiveram  origem  na
formação  histórica  dos  Estadosnacionais  europeus  ou  no  processo  de  descolonização.  Encontram­se  constantemente  sob  amplo
grau de dependência frente a uma Potência e integram­se a grupos de Estados organizados no seio de organizações internacionais.
Conviria  exemplificar  nessa  categoria  países  como  o  Principado  de  Mônaco  e  a  República  de  San  Marino,  diversos  Estados­
arquipélagos no Pacífico ou até algumas Repúblicas da América Central e Caribe. Apesar de minimamente influentes na Sociedade
Internacional, esses entes ganham força quando se associam e se  fazem representar em organismos  internacionais onde tenham
poder de voto igual ao de outros Estados.
 
As  Potências  Locais  são  as  mais  numerosas.  Participantes  das  atividades  comuns  da  vida  internacional,  esses  entes  têm  como
objetivos  principais  sua  própria  sobrevivência  e  a  defesa  de  sua  soberania  territorial.  De  maneira  geral,  não  têm  grandes
pretensões  internacionais  de  projeção  de  poder  e  acabam  também  associados  às  Grandes  Potências  ou  a  Potências  Regionais.
Como exemplos para essa categoria, temos países como Bolívia, Paraguai, Camboja, Albânia e Moçambique.
 
São classificados  como Potência Regional ou Potência Média aqueles Estados aptos a  representarem certo papel de destaque em
grandes  áreas  geopolíticas.  Egito,  Síria,  Nigéria,  Brasil,  Argentina  e  Irã  são  exemplos  de  Potências  Regionais  ou  Médias.  Esses
países exercem  influência em virtude de  suas aptidões de  liderança  sob  certos  limites geográficos,  fundadas em seus potenciais
materiais ou demográficos, sua envergadura ideológicas ou seu peso militar, econômico e até social.
 
Gounelle,  no  entanto,  diferencia  Potências  Regionais  de  Potências  Médias  ao  afirmar  que  estas  últimas  têm  ambições mundiais
restritas  às  suas  próprias  capacidades.  Tais  pretensões  poderiam  ser  limitadas  a  domínios  específicos  (nuclear,  cultural,
econômico,  diplomático).  A  França,  a Alemanha,  a China  e  o  Japão  estariam nessa  categoria. De  fato,  o  que Gounelle  relaciona
como  Potências  Médias  seria  o  que  se  costuma  chamar  mais  apropriadamente  de  Grandes  Potências,  ou  seja,  Potências  com
interesses globais e capacidade de influenciar a Sociedade Internacional em diferentes domínios. Ao chamar Potências como China
e Grã­Bretanha de Potências Médias, Gounelle o faz comparando­as às Superpotências – à época, URSS e EUA.
 
 
04/12/2016 Conceitos Elementares e Correntes Teóricas das Relações Internacionais
http://saberes.senado.leg.br/mod/book/tool/print/index.php?id=26785 16/49
 
 
Pág. 11 - Hegemonia
  
Tomamos como base para o conceito de Hegemonia a obra
International  Relations:  the  Key  Concepts,  de  Martin
Griffiths e Terry O’Callaghan (London: Routledge, 2002).
 
 
Hegemonia, em grego, significa “liderança”. Em sentido amplo, portanto, em Relações Internacionais, o hegemon é o  líder – ou o
Estado líder – de um grupo de nações.
 
Para  que  os  conceitos  de  hegemonia  e  de  hegemon  sejam  aplicáveis,  presume­se  que  haja  uma  certa  ordem  na  Sociedade
Internacional. Daí que, apesar de ser o Estado mais poderoso no cenário  internacional, o hegemon só pode exercer sua liderança
(hegemonia) se houver relações de poder entre entes em um meio internacional.
Hegemonia consiste, então, no exercício de uma liderança ou comando em uma sociedade, com base em recursos de poder. Esses
recursos fundamentam­se em dois aspectos: coerção e consenso. Assim, toda relação de poder tem por base os graus de coerção
e  consenso  exercidos  por  um  ente  ou  mais  de  um  sobre  os  demais.  À  medida  que  é  alterada  essa  relação,  muda  também  a
liderança no grupo.
Para o exercício da hegemonia, o hegemon deve ter capacidade de atuar nas esferas de consenso e coerção. Uma relação que se
baseie apenas na coerção – por meio de recursos de força militar ou econômica – não pode ser verdadeiramente hegemônica, da
mesma maneira que é impossível a liderança da comunidade internacional com fulcro apenas no consenso dos demais atores.
 
As  relações  internacionais  têm  sido marcadas  pela  disputa,  por  parte  das  Potências,  da  hegemonia  na  Sociedade  Internacional.
Essa hegemonia, além de política, pode ser militar, econômica, cultural ou ideológica. Pode ser regional ou global. Um Estado que
seja  a  Potência  hegemônica  em uma dessas  áreas muito  provavelmente  o  será na maioria  das  outras.  É  claro  que  tal  liderança
pode  ter diferentes gradações e que uma grande Potência econômica em nossos dias pode não  ter o mesmo poder de  influência
cultural ou até militar no cenário internacional.
 
A  Sociedade  Internacional  será  sempre marcada  por  um hegemon,  cujo  interesse  é manter  o  status  quo  do  sistema,  diante  de
outras  Potências  que  não  pouparão  esforços  para  se  tornar  o hegemon.  De  acordo  com  a  teoria  da  estabilidade  hegemônica,
o  hegemon  tem  que  ter  capacidade  de  garantir  a  ordem  do  sistema,  ordem  que  deve  ser  percebida  pelos  demais  entes  da
comunidade  como  positiva  a  seus  interesses.  Para  isso,  o  hegemon  deveria  dispor  de  alguns  atributos:  liderança  em  um  setor
econômico ou tecnológico e poder político baseado no poder militar. Podemos acrescentar a esses atributos a capacidade de obter
consenso sobre sua liderança.
Não acumule dúvidas. Procure saná­las logo que apareçam.
 
Pág. 12 - Hegemonia
Para  Robert  Gilpin,  a  estabilidade  internacional  depende  da  existência  de  uma  hegemonia,  que  tenha  tanto  capacidade  quanto
vontade  de  fornecer  “bens  públicos”  internacionais,  como  lei,  ordem e moeda  estável.  Conforme didática  explicação  de Griffiths
(2004, p. 26­27):
 
(...) os mercados não podem crescer em produção e distribuição de bens e serviços se não houver um Estado
que  forneça  certos  pré­requisitos.  Por  definição,  os mercados  dependem  da  transferência,  por meio  de  um
mecanismo de preço eficiente, de bens e serviços que possam ser comprados e vendidos entre os principais
agentes particulares que permutam direitos de posse. Mas os mercados dependem do Estado para  lhes dar,
por coerção, regulamentos, taxas e certos “bens públicos” que eles sozinhos não podem gerar. Isto inclui uma
infraestrutura  legal  de  direitos  e  leis  de  propriedade  para  fazer  contratos,  uma  infraestrutura  coerciva  que
assegure  a  obediência  à  lei,  além  de  um meio  de  permuta  estável  (dinheiro)  que  assegure  um  padrão  de
avaliação dos bens e serviços. Dentro das fronteiras territoriais do Estado, os governos fornecem tais bens. É
claro  que,  internacionalmente,  não  existe  Estado  no  mundo  capaz  de  multiplicar  sua  provisão  em  escala
global.  Baseando­se  na  obra  de  Charles  Kindleberger  e  na  análise  de  E.  H.  Carr  sobre  o  papel  da  Grã­
Bretanha na economia internacional no século XIX, Gilpin argumenta que a estabilidade e a “liberalização” da
permuta  internacional  dependem  da  existência  de  uma  “hegemonia”,  que  tenha  tanto  capacidade  quanto
vontade de  fornecer  “bens públicos”  internacionais,  como  lei,  ordem e uma moeda estável para o  comércio
financeiro.
 
Em termos gerais, essa é a Teoria da Estabilidade Hegemônica. 
 
04/12/2016 Conceitos Elementares e Correntes Teóricas das Relações Internacionais
http://saberes.senado.leg.br/mod/book/tool/print/index.php?id=26785 17/49
É uma teoria importante e voltaremos a ela na Unidade 4, ao tratarmos do debate teórico travado
entre neorrealistas e neoliberais. 
As Potências hegemônicas são as Grandes Potências na concepção de Wight, e o hegemon nada mais é que a Potência Dominante. A
hegemonia político­ideológica no planeta, por exemplo, era disputada pelas Superpotências no contexto da Guerra Fria, mas a URSS
dificilmente poderia ser caracterizada comoameaça à hegemonia econômica dos EUA.
  
Deve­se esclarecer, todavia, que, durante a maior parte da
Guerra Fria, imaginava­se que a União Soviética se tornaria
uma grande potência econômica.
Isso é especialmente válido para os anos 30: enquanto as
economias ocidentais agonizavam por causa da crise de
1929, a economia soviética crescia a taxas espantosamente
altas. 
 
Pág. 13 - Hegemonia
Complementando os estudos sobre o conceito de Hegemonia, atente para esta aula do Professor Joanisval. 
Hegemonia
Duração: 2min55
Caso não consiga visualizar:
1) seu acesso ao Youtube pode estar bloqueado; 
2) pode precisar atualizar o Flash Player (http://get.adobe.com/br/flashplayer/)
 
 
 
 
 
 
 
Essas observações introdutórias são suficientes e fundamentais para a compreensão das unidades seguintes e para a
04/12/2016 Conceitos Elementares e Correntes Teóricas das Relações Internacionais
http://saberes.senado.leg.br/mod/book/tool/print/index.php?id=26785 18/49
discussão dos temas tratados neste curso. 
 
 
 
Artigo interessante para concluir os estudos desta Unidade é o texto de João Marques de Almeida,
sobre Hegemonia Americana e Multilateralismo.
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Unidade 3 - Correntes teóricas das Relações Internacionais
Ao final da unidade, o aluno deverá ser capaz de:
indicar e caracterizar as principais correntes teóricas das
Relações Internacionais no Século XX;
identificar os principais debates teóricos da disciplina
                                                                                                          
Esperamos que você tenha excelente aproveitamento em seus estudos!
Pág. 2 - Teorias de Relações Internacionais
 
 
O objeto material de qualquer ciência se define pela parcela de realidade que se pretende conhecer mediante a formação de teorias
04/12/2016 Conceitos Elementares e Correntes Teóricas das Relações Internacionais
http://saberes.senado.leg.br/mod/book/tool/print/index.php?id=26785 19/49
O objeto material de qualquer ciência se define pela parcela de realidade que se pretende conhecer mediante a formação de teorias
e  a  utilização  de  um método  científico  (CERVERA,  1991).  A  teorização  sobre  as  Relações  Internacionais  surgiu  quando  se  buscou
explicar  a  existência  e  as  condutas dos  entes  internacionais.  É  na Grécia Antiga,  com a obra de Tucídides, História  da  Guerra  do
Peloponeso, que se tem a primeira manifestação embrionária de uma teoria de Relações Internacionais.
 
Há algo que as ciências naturais e as ciências sociais, conforme Karl  Popper, certamente têm em comum: a necessidade da teoria
para se desenvolverem. Nas palavras de Tomassini (1989, p. 55):
"A ciência exige algo mais do que fatos e descrições de fatos. Exige uma explicação de por que ocorreram, que efeitos causaram e
algumas  predições  (ou,  no  caso  das  ciências  sociais,  conjecturas)  sobre  seu  comportamento  provável  no  futuro,  uma mescla  de
causalidade, teleologia e prospecção. No campo das ciências sociais, como em outras ciências, a teoria é chamada a ministrar essas
explicações,  pondo  ordem  ao  mundo  heterogêneo  e  muitas  vezes  incompreensível  dos  fatos  isolados,  e  a  arriscar  algumas
predições."
A Teoria do Equilíbrio de Poder
 
Começamos  por  essa  teoria  por  uma  razão  simples:  para  muitos  estudiosos  da  política
internacional, a Teoria do Equilíbrio de Poder, também conhecida como Teoria do Balanço de
Poder,  é  o  que  mais  próximo  existe  de  uma  teoria  política  das  relações  internacionais.
Arnold Toynbee, conhecido historiador, chegou mesmo a dizer que tal teoria constituía uma
“lei” da História. 
 
Na  era moderna,  com o  surgimento  e  desenvolvimento  do  Estado­nação, multiplicaram­se
também as teorizações a respeito das relações internacionais. Em um contexto de anarquia
internacional  e  de  conflito  entre  os  Estados,  as  práticas  dos  agentes  e  dos  atores  na
Sociedade  Internacional  levaram  à  formulação  de  uma  teoria  que  pode  ser  considerada  a
precursora  da  análise  convencional  realista  das  relações  internacionais,  a  Teoria  do
Equilíbrio de Poder.
 
A  Teoria  do  Equilíbrio  de  Poder  percebe  o  cenário  internacional  em  uma  situação  de
equilíbrio,  no  qual  o  poder  é  distribuído  entre  os  diversos  Estados.  Quando  um  Estado
começa  a  se  destacar  e  a  buscar  aumentar  seu  poder  frente  aos  demais,  há  uma
perturbação  no  equilíbrio,  e  faz­se  necessária  uma  coalizão  das  Potências  para  conter  o
Estado “pretensioso” e restaurar a ordem. Assim, pressupondo o Estado como um ator racional, a teoria defende que o balanço ou o
equilíbrio  de  poder  é  a  escolha  preferível  e,  portanto,  a  tendência  do  sistema  internacional.  A  Teoria  orientou  as  relações
internacionais nos quatro  séculos  compreendidos entre a Guerra dos Trinta Anos  (1618­1648) e a Primeira Guerra Mundial  (1914­
1918). Foi útil para  justificar as condutas dos Estados e ações de governantes em um contexto anárquico e conflituoso, como será
visto nas Unidades 2 e 3 do módulo seguinte deste nosso curso.
 
Alguns  autores  distinguem  entre  o  equilíbrio  de  poder  como  uma  política  (esforço  deliberado  para  prevenir  predominância,
hegemonia) e como um padrão da política  internacional (em que a  interação entre os Estados tende a  limitar ou frear a busca por
hegemonia e, como resultado, resulta num equilíbrio geral).
 
Com o fim da Primeira Guerra Mundial e as consequentes mudanças no cenário  internacional e no equilíbrio de  forças, em virtude
dos  traumas  causados  pelo  conflito  e  do  desenvolvimento  do  discurso  pacifista  junto  à  opinião  pública  internacional,  a  Teoria  do
Equilíbrio de Poder  foi questionada. Sob o argumento de que essa doutrina não poderia perdurar em um sistema em que a guerra
deveria  ser  evitada  a  qualquer  custo,  o  imediato  pós­guerra  foi marcado  por  novas  concepções  sobre  as  relações  internacionais,
baseadas em uma nova corrente teórica, a qual se fundamentava no Direito Internacional, na solução pacífica das controvérsias e na
busca de uma estrutura supranacional que garantisse a paz: o Idealismo das Relações Internacionais.
 
Foi, portanto, na primeira metade do século XX que os primeiros teóricos de Relações Internacionais começaram a desenvolver suas
explicações  sobre  o  tema  em um  contexto  de  disciplina  autônoma.  Claro  que,  em  virtude  de  um objeto  de  estudo  tão  complexo,
diversas foram as correntes teóricas instituídas nas últimas décadas. Como não é este um curso de teoria, pretendemos apresentar
apenas as linhas gerais das correntes mais reconhecidas.
 
 
Pág. 3 - A fase idealista
 
 
O Idealismo, como ficou conhecida a primeira grande corrente teórica de Relações Internacionais, surge em um contexto do final de
um  conflito  muito  marcante,  a  Primeira  Guerra  Mundial,  e  reflete  a  crescente  preocupação  daqueles  que  então  começavam  a
teorizar sobre as relações internacionais: 
 
Como se poderia buscar a paz na Sociedade Internacional, ou melhor, como evitar o conflito, sobretudo bélico, entre os Estados?
No que se  refere ao  contexto  internacional,  lembra Arenal  (1984), o  clima nunca poderia  ter  sido mais  favorável ao  Idealismo. A
Grande  Guerra  havia  demonstrado  a  fragilidade  da  tradicional  diplomacia  europeia  como meio  para  assegurar  a  ordem  e  a  paz
internacional. As enormes perdas humanas e materiais produzidas pelo conflito foram responsáveis, também, pelo advento de uma
opinião  comum universal  segundo  a  qual  a  guerra  deveria  ser  erradicada  como  instrumento  de  política  dos  Estados.  Pregava­se,
ademais, o estabelecimento de um modelo de segurança coletiva capaz de evitar novas contendas.
 
Assim, sob os auspíciosdo discurso idealista e moralizante do presidente estadunidense Woodrow Wilson, foi criada a Sociedade (ou
Liga) das Nações (SDN), com o objetivo de ser a organização central de um sistema de segurança coletiva e um fórum em que os
Estados  pudessem  resolver  suas  contendas  de maneira  pacífica.  A  SDN,  portanto,  contribuía  para  acentuar  o  otimismo  frente  ao
futuro  da  Sociedade  Internacional  e  estabelecia  os  fundamentos  de  um  sistema  dirigido  para  preservar  a  paz.  Nesse  contexto,  a
teoria  internacional  dominante  se  orientava  pelos  caminhos  do  Idealismo,  dos  projetos  de  organização  internacional,  do
estabelecimento de mecanismos  tendentes à  solução pacífica  e de propostas de desarmamento.  Importância  significativa  foi  dada
pelos  idealistas  ao  Direito  Internacional  e  às  instituições  jurídico­normativas  que  garantissem  a  ordem  nas  relações  entre  os
Estados: ganhava força o institucionalismo nas relações internacionais.
 
04/12/2016 Conceitos Elementares e Correntes Teóricas das Relações Internacionais
http://saberes.senado.leg.br/mod/book/tool/print/index.php?id=26785 20/49
 
 
Anarquia internacional não significa “desordem”, mas, sim, ausência de um governo central
superior aos Estados (que são soberanos e só prestam contas a si mesmos e a outros Atores do
sistema). Anarquia é, portanto, ausência de governo. 
O  Idealismo  partia  do  princípio  de  que  as  relações  internacionais  encontram­se  em  estado  de  natureza,  ou  seja,  de  anarquia
internacional. As nações devem buscar, destarte,  superar essa anarquia e estabelecer um contrato social em âmbito  internacional
que  ordene  as  relações  entre  os  povos.  Os  Estados,  acreditavam  os  idealistas,  deveriam  portar­se  de  acordo  com  os  mesmos
princípios  morais  que  guiam  a  conduta  do  indivíduo.  Para  estimular  ou  obrigar  esses  Estados  a  seguir  tais  princípios,  seria
fundamental  que  se  institucionalizasse,  em  escala  mundial,  o  interesse  comum  de  todos  os  povos  em  alcançar  a  paz  e  a
prosperidade. O estudo de Relações Internacionais, como disciplina autônoma, mostrou­se como uma ciência da paz.
 
Pág. 4 - A fase idealista
O Realismo e o Idealismo encerram, na verdade, duas visões de mundo opostas, em que o ponto de partida é a dicotomia anarquia x ordem.
Apesar de Tucídides, com História da Guerra do Peloponeso, antes mesmo de surgirem os conceitos de soberania e a tese do estado de
natureza, já ter iniciado a moldar uma concepção anárquica do mundo, é com Thomas Hobbes, em Leviatã, e, em seguida, com John
Locke, em O Estado de Guerra (Capítulo III da obra Segundo Tratado do Governo Civil), em que se explora, pela primeira vez, o estado de
natureza anárquico a respeito das relações internacionais. 
Segundo  Lijphart  (1982),  as  noções  de  soberania  e  de  anarquia  internacional  inspiraram  três  teorias  interligadas:  a  do  governo
mundial, a do equilíbrio de poder (ou balanço do poder) e a da segurança coletiva.
 
Segundo  a  teoria  do  governo  mundial,  dado  que  a  anarquia  é  responsável  pela  tensão  internacional,  é  necessário  celebrar  um
contrato social internacional para instituir um governo mundial soberano e único, para pôr fim à anarquia.
 
A teoria do equilíbrio de poder, ao contrário, defende que a luta pelo poder entre os Estados soberanos tende a gerar um equilíbrio,
o qual não alimenta uma tensão perpétua, mas cria uma ordem internacional.
 
Para  a  teoria  da  segurança  coletiva,  o  melhor  seria  que  os  Estados  se  empenhassem  em  tomar  medidas  coletivas  contra  todo
agressor, o que acabaria atenuando a anarquia internacional.
 
Todas essas teorias aceitam a tese de que a anarquia reina entre os Estados soberanos. Segundo Inis L. Claude, citado por Lijphart,
essas três teorias correspondem a estágios sucessivos de uma progressão em direção a uma centralização cada vez mais repleta de
autoridade e poder (no  sentido  balanço  de  poder >  segurança  coletiva >  governo mundial).    O mundo  nunca  passou  do  segundo
estágio, o qual foi, na verdade, o foco da maior parte dos autores idealistas.
                                                                                                                                    
Historicamente, no desenvolvimento do sistema de Estados da Europa, 
soberania é normalmente associada aos trabalhos de Jean Bodin e Thomas 
Hobbes, nos quais significava o direito de exercer poder irrestrito. Todavia, a 
história do sistema de Estados modernos, do século XVII em diante, é uma 
tentativa de se distanciar da rigidez dessa concepção original em busca da ideia 
de igualdade formal.
Para as Relações Internacionais, é particularmente importante a visão construída por Hugo Grócio sobre a sociedade internacional a
partir  da  teoria  do  contrato.  Grócio,  considerado  o  pai  do  Direito  Internacional,  defendeu  ser  o  direito  um  conjunto  de  normas
ditadas pela razão e sugeridas pelo appetitus societatis. A base da doutrina de Grócio é a solidariedade, ou potencial solidariedade,
entre os Estados em relação à aplicação da lei internacional, e procura estabelecer uma ordem mundial restringindo os direitos dos
Estados  de  irem para  a  guerra  por motivações  políticas  e  promover  a  ideia  de  que  a  força  só  pode  ser  legitimamente  usada  em
04/12/2016 Conceitos Elementares e Correntes Teóricas das Relações Internacionais
http://saberes.senado.leg.br/mod/book/tool/print/index.php?id=26785 21/49
nome dos objetivos e anseios da comunidade internacional como um todo. 
 
Grócio,  como  se  observa,  apresenta  uma  hipótese  inversa  à  do  equilíbrio  de  poder.  Para  ele,  existe  um  fundamento  comum  de
normas morais  e  jurídicas,  e o mundo é uma sociedade  composta de Estados onde  reina um consenso normativo  suficientemente
amplo e intimidador para que a noção de estado de natureza e de anarquia internacional não seja aplicável. A tese de Grócio parte
da noção de anarquia, mas a minimiza para efeitos de  teorização, desconsiderando a  relação necessária entre anarquia e guerra,
relação esta reduzida a mera “hipótese” (e não a um “dado” ou “premissa”, como fazem os realistas).
 
 
 
Pág. 5 - A fase idealista
A teoria e a prática das relações internacionais desde a Primeira Guerra Mundial, principalmente com o Pacto da Liga das Nações (o
Pacto de Paris), a Carta da Organização das Nações Unidas  (ONU) e a Carta do Tribunal  Internacional de Nuremberg, derivam da
fórmula  grociana,  que  concebe  a  sociedade  internacional  de  forma  ordenada,  fruto  da  analogia  com  a  alegoria  da  sociedade
doméstica usada pelos teóricos do contrato social dos séculos XVII e XVIII.
 
Edward  Hallett  Carr,  autor  do  clássico  Vinte  Anos  de  Crise:  1919­1939,  cuja  primeira  edição  foi  lançada  logo  após  o
desencadeamento da Segunda Guerra Mundial, em 1939, analisa a dicotomia entre uma perspectiva utópica e a prática realista dos
Estados e ilustra bem a maneira como os idealistas viam as relações internacionais e os argumentos que utilizavam ao tratarem das
interações entre os povos:
O aspecto teleológico da ciência da política internacional tem estado evidente desde o princípio. Surgiu de uma grande e desastrosa
guerra; e o objetivo­mestre que inspirou os pioneiros da nova ciência foi o de evitar a recidiva dessa doença do corpo internacional.
O  desejo  passional  de  evitar  a  guerra  determinou  todo  o  curso  e  direção  iniciais  do  estudo.  Como  outras  ciências  na  infância,  a
ciência política internacional tem sido marcada e francamente utópica. Ela se encontra no estágio inicial, no qual o desejo prevalece
sobre  o  pensamento,  a  generalização  sobre  a  observação,  e  poucas  tentativas  são  efetuadas  de  uma  análise  crítica  dos  fatos
existentes e dos

Continue navegando