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2 Aula_7_-_Teniases

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PARASITOLOGIA 
MÉDICA 
12. CESTOIDES: AS TENÍASES 
Complemento multimídia dos livros “Parasitologia” e “Bases da Parasitologia 
Médica”. Para a terminologia, consultar “Dicionário de termos técnicos de 
Medicina e Saúde”, de 
 
Luís Rey 
Fundação Oswaldo Cruz 
Instituto Oswaldo Cruz 
Departamento de Medicina Tropical 
Rio de Janeiro 
 
Cestoides parasitos do 
homem 
OS CESTOIDES 
O estróbilo compreende toda a parte 
do corpo que se segue ao escólex e à 
região de crescimento (colo) do 
cestoide. 
Nele estão demarcados os anéis ou 
proglotes, que crescem e se diferen-
ciam à medida que se afastam do colo. 
Distinguem-se as proglotes jovens, 
que apresentam apenas esboços dos 
órgãos reprodutores; as proglotes ma-
duras com esses órgãos completamente 
formados e as grávidas, cujos úteros 
bem desenvolvidos estão repletos de 
ovos. 
 
Escólex de um cestoide 
provido de 4 ventosas e de 
uma coroa de acúleos. 
 
Os cestoides variam muito de tamanho, desde alguns 
milímetros até 10 metros ou mais de comprimento. 
No verme adulto, o escólex é uma pequena dilatação, 
situada na extremidade mais delgada do helminto, e 
destinada a fixá-lo no intestino do hospedeiro por meio de 
estruturas como acúleos, ventosas, bótrias ou botrídeas. 
Taenia saginata e 
Taenia solium 
As tênias do homem 
A Taenia saginata (= Taeniarrhyncus 
saginatus), ou tênia do boi, e a Taenia solium, 
ou tênia do porco, são parasitos que na fase 
adulta têm o homem como único hospedeiro 
normal. 
Ambas são conhecidas popularmente como 
“solitárias” porque os indivíduos com teníase 
em geral só apresentam um exemplar do 
helminto em seu intestino. 
São vermes grandes, medindo a Taenia 
saginata de 4 a 12 metros de comprimento e 
tendo por hospedeiro intermediário o gado 
bovino. 
Estróbilo de Taenia saginata. 
O estróbilo inicia-se com um 
pequeno escólex (E) provido de 4 
ventosas, seguido de uma região de 
crescimento (o colo) e das regiões 
de proglotes jovens, de proglotes 
maduras e de proglotes grávidas. 
Escólex da 
T. saginata 
As proglotes (ou „„anéis da tênia‟‟) vão se destacando uma a 
uma, na T. saginata (fenômeno dito apólise), ou em pequenas 
cadeias, na T. solium. Elas são eliminadas com as fezes do 
paciente. 
Taenia saginata 
Suas proglotes saem ativamente pelo 
ânus, graças a uma eficiente muscula-
tura, ou são eliminadas com as fezes do 
paciente (A), em número de 8 a 9 
proglotes por dia. 
Então, pelas superfícies de apólise (sem 
tegumento) os fundos dos sacos uterinos 
fazem hérnia e se rompem, podendo 
liberar 40 a 80 mil ovos por proglote (B). 
Esses ovos disseminados pelo solo são 
ingeridos, com o pasto, por bovinos. 
Sob a ação das enzimas proteolíticas e 
da bile, as oncosferas eclodem no tubo 
digestivo dos animais, invadem a mucosa 
e vão, pela circulação, para a muscula-
tura ou para outros lugares, onde se 
transformam em cisticercos (C). Isso 
constitui a cisticercose animal. 
Quando as pessoas comem a carne de gado crua ou mal cozida, os 
cisticercos (D) são liberados no tubo digestivo, desenvaginam os 
escólex, fixam-se à mucosa e crescem como tênias adultas. 
Ciclo de 
T. saginata 
Taenia solium 
As formas adultas de T. solium só foram 
encontradas, até agora, no organismo 
humano, e suas larvas vivem normalmente 
na musculatura de suínos. Popularmente é 
conhecida como tênia do porco. 
O estróbilo pode medir de 1,5 a 5 metros. 
O escólex (A) implanta-se no início do 
jejuno por meio de suas 4 ventosas e de seu 
rostro armado com dupla coroa de acúleos 
em forma de foice (B). 
Diariamente pequenos segmentos da 
cadeia, formados em média por 5 proglotes 
maduras, desprendem-se e são eliminados 
com as fezes. Cada proglote contém de 30 a 
50 mil ovos (C). 
Elas diferem das de T. saginata por serem 
menores, mais curtas e terem poucas ramifi-
cações uterinas, com aspecto dendrítico (D). 
Os ovos medem de 30 a 40 µm, não sendo 
distinguíveis dos de T. saginata. 
A, escólex; B, acúleos do 
círculo superior e do inferior; 
C, ovo; D, proglote madura 
com o aspecto dendrítico 
característico da T. solium. 
Ciclo da Taenia solium 
Devido a seus hábitos coprófilos, os porcos 
costumam infectar-se maciçamente ao ingerir as 
proglotes desta tênia. 
Os cisticercos que se formam nos tecidos deste 
animal são um pouco maiores que os da T. saginata 
(pois medem de 5 a 20 mm) e após 60 a 75 dias já são 
infectantes para o homem. 
Os cisticercos podem manter-se viáveis, no porco, 
por muitos anos. 
Ciclo da Taenia solium 
A infecção humana 
decorre do consumo de 
carne de porco crua ou mal 
cozida. 
O parasito evolui no 
intestino como o faz a tênia 
do boi. 
Após algum tempo (60 a 
75 dias depois da infecção), 
os pacientes infectados 
com a Taenia solium adulta 
começam a eliminar pas-
sivamente, de mistura com 
as fezes, pequenas cadeias 
de proglotes. 
Se os movimentos antipe-
ristálticos levarem alguma 
proglote para o estômago do 
paciente, ela será digerida, 
aí, deixando em liberdade os 
milhares de ovos que 
contém. 
Ao voltarem para o intes-
tino, esses ovos liberam as 
oncosferas, sob a ação das 
enzimas proteolíticas e da 
bile. 
Em consequência, produ-
zem uma infecção maciça do 
organismo humano com cis-
ticercos: é a cisticercose 
humana grave ou ladraria. 
As teníases humanas 
Geralmente, uma única 
tênia habita o intestino do 
paciente. 
O parasitismo múltiplo 
varia, segundo diferentes 
autores, entre 2 e 12% dos 
casos e é mais raro com a 
T. saginata. 
O fato é atribuído à 
imunidade específica con-
comitante com a infecção. 
 Eliminada a tênia, o 
paciente volta a ser 
suscetível. 
A teníase costuma ser 
assintomática. 
O paciente se dá conta 
da sua presença ao notar a 
expulsão ativa de proglo-
tes (da T. saginata) que 
encontra na cama ou na 
roupa íntima, fora das 
evacuações. 
T. saginata causa sobre-
tudo distúrbios da motri-
cidade e das secreções 
digestivas, que ficam 
diminuídas em 70% dos 
casos. 
 
As teníases humanas 
Em um terço dos 
pacientes, as queixas 
são de dor abdominal, 
náuseas, astenia e perda 
de peso. Em outros há 
cefaleia, vertigens, cons-
tipação intestinal ou 
diarreia e prurido anal. 
Eosinofilia (entre 5 e 
35%) costuma estar 
presente. 
Pode haver apendicite, 
por penetração do 
parasito no apêndice, ou 
obstrução intestinal pela 
massa total da tênia. 
O período de incubação 
é, em geral, de 2 a 3 meses. 
Depois, muitos pacientes 
se queixam de uma dor 
epigástrica, com caráter de 
„dor de fome‟, e que simula 
a dor de úlcera duodenal, 
melhorando com a ingestão 
de alimentos. 
Inapetência e perda de 
peso são frequentes, mas, 
em outros casos, o apetite 
está aumentado, com dores 
abdominais fugazes. 
As teníases humanas 
Clinicamente, o parasitismo 
humano pelos vermes adultos 
de Taenia solium é menos 
evidente que pela T. saginata, 
pois o estróbilo é menor e suas 
proglotes, menos ativas. 
E por saírem estas passiva-
mente de mistura com as fezes, 
podem passar despercebidas 
pelo paciente. 
O quadro clínico, quando 
presente, é semelhante ao 
produzido pela tênia do boi, 
sendo mais frequentes as 
formas assintomáticas ou as 
benignas. 
As prevalências registradas 
são afetadas pela subnotifica-
ção dos casos. 
A OMS (1995) estimou que, 
na América Latina, o número 
provávelde pessoas expostas à 
infecção é de 30 a 50 milhões. 
 A gravidade da Taenia solium 
está em o homem poder tornar-
se ocasionalmente o hospedeiro 
de sua forma larvária – o 
cisticerco – que determina os 
quadros clínicos da doença 
denominada cisticercose huma-
na (a ver na próxima aula). 
Donde a necessidade de um 
diagnóstico rápido da espécie 
de tênia que parasita um 
paciente e de seu tratamento 
imediato. 
Não há cisticercose humana 
atribuível à Taenia saginata. 
Diagnóstico das teníases (1) 
A 
O diagnóstico é feito, muitas vezes, pelo próprio 
paciente ao observar a expulsão de proglotes. 
Quando elas saem entre as evacuações e são 
encontradas nos lençóis ou na roupa íntima, trata-se 
de T. saginata (A). As de T. solium (B) só saem 
passivamente, durante as evacuações e em geral 
formando cadeias com 3 a 6 segmentos unidos. 
Quando é o médico quem levanta a suspeita, deve-
se buscar as proglotes nas fezes, para o que o bolo 
fecal será desfeito na água e tamisado em peneira de 
malhas finas. 
Para o diagnóstico de espécie, as proglotes serão 
comprimidas entre 2 lâminas de vidro grosso; o 
conjunto é posto a clarear no ácido acético e, depois, 
examinado com lupa para ver as estruturas uterinas: 
─ se com 15 a 30 ramos uterinos em cada lado da 
haste e aspecto dicotômico, é T. saginata (A). 
─ se com 7 a 16 ramificações de cada lado e 
aspecto dendrítico, é T. solium (B). 
Cuidado com o risco de infecção por T. solium ao 
manipular o material. 
Diagnóstico das teníases (2) 
Nos 3 primeiros meses da infecção não 
se encontram proglotes nem ovos. 
Depois, os ovos podem ser encontrados 
no exame de fezes ou, melhor, 
pesquisados com a técnica da fita adesiva 
transparente. 
Os ovos chegam a ser abundantes na 
pele do períneo, onde as proglotes, 
exprimidas ao passar pelo esfíncter anal, 
deixaram sair muitos deles pelas 
superfícies de apólise. 
A fita gomada, montada sobre uma 
lâmina de microscopia (A) com a parte 
colante para fora (a), deve ser aplicada 
contra o ânus (B), e as nádegas, 
comprimidas contra ela para que os ovos 
situados na pele adiram. 
Colar depois a fita na lâmina (C) e 
examinar ao microscópio. 
O método só permite o diagnóstico de 
teníase, sem revelar a espécie e o risco, 
eventual, de cisticercose. 
Ovos de tênia aderidos à fita 
gomada, vistos ao microscópio. 
Tratamento das teníases 
Várias drogas tenicidas são 
usadas no tratamento: 
Niclosamida – Medicamento 
insolúvel na água e não absor-
vível pelo intestino. Pratica-
mente não apresenta efeitos 
colaterais. 
Tomar apenas líquidos, desde 
a véspera, e 2 gramas de niclo-
samida de uma só vez em jejum 
(crianças tomam 1 a 2 gramas), 
mastigando bem os comprimi-
dos. 
A taxa de cura fica em torno 
de 90%, dependendo do grau de 
micronização do produto. 
Praziquantel – Muito efetivo no 
tratamento das teníases; mas, 
por ser absorvível pelo intestino, 
é contraindicado nos casos de 
cisticercose (que teriam seu 
quadro clínico agravado). 
Por essa razão, só é recomen-
dada contra T. saginata na dose 
de 5-10 mg/kg de peso corporal. 
Sua eficácia é de 96% de curas. 
Mebendazol – Também usado 
só contra T. saginata, na dose de 
200 mg, duas vezes ao dia 
durante 4 dias. 
As sementes de abóbora (200 a 
400 gramas, sob a forma de 
decocto ou trituradas com mel) 
constituem um tratamento tenífu-
go recomendado para crianças. 
Só a eliminação ou destruição 
do escólex assegura a cura. Por-
tanto, se ele não for encontrado 
nas evacuações, aguardar cerca 
de quatro meses para ver se as 
proglotes não reaparecem, exigin-
do novo tratamento. 
Cuidado: nenhum tratamento 
 é ovicida. 
T. saginata: epidemiologia (1) 
 
 
Sua distribuição é cosmopolita. Prevalências 
superiores a 10% ocorrem na África, na Região 
Mediterrânea, no Cáucaso e na Ásia Central. 
Na América do Sul elas estão entre 0,1 e 10%. 
A incidência relaciona-se com o hábito de comer 
carne bovina crua ou mal cozida. Seja devido a 
preferências pessoais, seja pelo consumo de pratos 
tradicionais em que a carne não é cozida (como o bife 
tártaro, o quibe e o shish kebab). 
T. saginata incide mais entre pessoas com 20 a 40 
anos de idade. 
Escapam do risco os vegetarianos, os que preferem 
peixes e aves e os que, por razões culturais, religiosas 
ou econômicas não consomem carne bovina. 
T. saginata: epidemiologia (2) 
 
Pessoas com tênias 
constituem as únicas fontes 
de infecção. Elas podem 
eliminar cerca de 700 mil 
ovos do parasito por dia. 
A dispersão desses ovos 
resulta do hábito de defecar 
no chão, em várias circuns-
tâncias. 
Isso permite a dissemina-
ção dos ovos por moscas e 
insetos coprófilos, pelas 
aves (como gaivotas, 
gralhas, pardais etc.) ou por 
minhocas, que são comidas 
pelas aves. 
 
Os ovos atravessam 
incólumes o tubo digestivo 
desses transportadores e 
são amplamente dispersa-
dos no meio ambiente com 
suas fezes. 
Nas pastagens assim 
poluídas, os ovos podem 
ficar viáveis por mais de 4 
meses, e asseguram a 
contaminação do gado, 
mesmo em lugares situados 
longe das fontes de 
poluição humana. 
T. saginata: epidemiologia (3) 
 
A resistência dos ovos no 
meio é tão grande que suportam 
até o tratamento habitual dos 
esgotos. 
Isso permite que os efluentes 
e os lodos ativados secos, 
usados como adubo, ou as aves 
que se nutrem nos leitos de 
secagem das estações de 
tratamento transportem os ovos 
para longe. 
Os rios que recebem esgotos 
não tratados ou os efluentes 
tratados, assim como suas 
águas, utilizadas para irrigação, 
podem conter ovos de tênia, 
contaminando as pastagens, o 
feno etc. 
Ciclos vitais das tênias: T. solium (a) e T. 
saginata (b), passando das fontes de 
infecção humana (A) para os hospedeiros 
intermediários (B) e vice-versa. (Modifi-
cado de Piekarski, 1962) 
T. solium: epidemiologia (1) 
 
Ocorre no mundo todo, 
sendo mais frequente onde 
se consome carne de porco 
crua ou mal cozida. 
As maiores incidências 
são encontradas na Améri-
ca Latina, nos países não 
muçulmanos da África e do 
Sudeste Asiático. 
Elas dependem das más 
condições higiênicas pre-
valentes e do nível socioe-
conômico dos pacientes, 
pois cada um elimina 5 ou 6 
proglotes por dia, com 
cerca de 50 mil ovos por 
proglote. 
 
Depende, também, das 
circunstâncias em que os 
porcos são criados. 
Se permanecem livres 
no peridomicílio, por 
exemplo, isso facilita sua 
infecção com as fezes 
humanas que contaminem 
o terreno. 
A falta de inspeção nos 
matadouros e o abate 
clandestino ou doméstico 
possibilitam a transmis-
são da infecção do porco 
aos consumidores de sua 
carne. 
T. solium: epidemiologia (2) 
 
Entretanto, as prevalên-
cias reais desta teníase são 
mal conhecidas. 
 A razão está nas dificul-
dades práticas encontradas 
para diagnosticá-la. 
 Em particular pela se-
melhança entre os ovos de 
Taenia solium e os de 
Taenia saginata. 
Mas, também, pela falta 
de sintomas na generalida-
de dos pacientes, exceto 
nos casos graves de 
cisticercose. 
 
Quando a infecção é 
introduzida em uma região, 
tende a tornar-se hiperendê-
mica. 
A razão está na facilida-
de com que os porcos se 
infectam intensamente 
(coprofagia) e pela grande 
longevidade (anos) dos 
cisticercos nos tecidos do 
animal vivo. 
 Os cisticercos permane-
cem infectantes 10a 15 
dias nas carnes conserva-
das a 10°C e dois meses 
entre 0 e 4°C. 
Controle das teníases 
Os inquéritos epidemiológicos 
devem mostrar, previamente, a 
prevalência e a distribuição da 
infecção no gado e na popula-
ção humana. 
Nos matadouros, a inspeção 
deve registrar a proveniência 
dos animais infectados e conde-
nados. 
Os novos medicamentos e as 
técnicas modernas de criação, 
sobretudo de porcos, mais as 
medidas de controle adotadas 
reduziram consideravelmente as 
teníases e praticamente elimina-
ram a T. solium e a cisticercose 
nos países da Europa, EUA, 
Canadá etc. 
Os procedimentos adotados 
foram principalmente: 
1. Legislação regulamentando a 
notificação dos casos, a inspe-
ção do gado abatido nos mata-
douros e proibindo o abate 
clandestino. 
2. Exame periódico dos que 
trabalham na indústria da carne. 
3. Exigência de instalações 
sanitárias em matadouros, fazen-
das de gado, restaurantes, locais 
de turismo e de camping, para 
evitar a poluição ambiental. 
4. Melhoria do saneamento e 
correção das deficiências nos 
sistemas de esgotos. 
5. Técnicas de criação seguras. 
6. Educação para o consumo da 
carne bem cozida e para adoção 
de bons hábitos higiênicos.

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