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Laís Molina – Med 102 Parasitologia Médica – Prof. Vinícius Carraro Características gerais Classificação Taxonômica Filo: Plathyhelminthes Classe: Cestoda Ordem: Cyclophillidae Família: Taeniidae Espécies: Taenia sollium Taenia saginata Echinococcus granulosus Família: Hymenolepididae Espécies: Hymenolepis nana Hymenolepis diminuta OBS: dentro da família Taeniidae, há características em comum: o corpo é em formato de fita, são hermafroditas, possuem ciclo heteroxênico. Todos os vermes dessa família usam como hospedeiro intermediário os animais vertebrados (bovinos e suínos), e é o ser humano que dissemina os ovos no ambiente, já que possuem as formas adultas no organismo. Na família Hymenolepididae há uma exceção: podem ter ciclo monoxênico. Isso favorece o espalhamento da doença. Morfologia o Possuem corpo achatado e em forma de fita. o São parasitos segmentados. o Possuem morfologia pouco diversificada, ou seja, todos se parecem. o O corpo desses parasitos é dividido em três regiões: a cabeça ou escólex (a); o colo ou pescoço, que é uma região intermediária (b); e um estróbilo formado por proglotes (c). Esses proglotes são unidades repetidas que, à medida que vão se desenvolvendo e evoluindo, e chegam ao auge de sua evolução, se destacam do corpo do verme, carreando com eles os ovos. Nesse caso, são chamados de proglotes grávidas (e), e podem ser visíveis nas fezes do hospedeiro, nas vestimentas ou região perianal, o que dá a possibilidade de um diagnóstico da presença desses vermes no organismo do individuo. OBS: as proglotes grávidas estão no terço final do corpo da tênia. Transcrição – Aulas 3 e 4 Laís Molina – Med 102 Parasitologia Médica – Prof. Vinícius Carraro Habitat o As formas adultas dos cestódeos vivem no tubo digestivo (intestino delgado) do hospedeiro definitivo. Necessitam viver no intestino delgado já que não possuem aparelho digestivo, o que faz com que a dependência metabólica desses vermes seja muito grande, uma vez que só conseguem absorver nutrientes. Sendo encontrados no intestino delgado, eles competem com o hospedeiro pelos nutrientes. Dessa forma, parte dos nutrientes que serão absorvidos no organismo fica para o parasito. No caso das tênias, são cerca de 40% desses nutrientes. Sendo assim, algumas das características sintomatológicas é o aumento do apetite, porque o hospedeiro pode ter se alimentado bem, mas não se nutriu devidamente e, ainda, não ganhará peso. o As formas larvárias vivem em tecidos diversos dos hospedeiros intermediários. Taenia solium e Taenia saginata Ordem: Cyclophyllidae Família: Taeniidae Morfologia da Taenia solium o Possui de 2 a 3 metros, podendo chegar a 8 ou 9 metros. o Vivem em torno de 2 a 3 anos. o Cabeça é ligeiramente quadrangular, mas geralmente é mais globosa. o A cabeça possui 4 ventosas, que agem na fixação. o Há presença de uma coroa de ganchos em forma de foice, que serve para se prenderem na parede do intestino. Devido a isso, a infecção por esse parasito pode gerar sangue nas fezes do indivíduo. o Tem um colo/pescoço curto. o Possui estróbilo com útero das proglotes grávidas com ramificações dendríticas. É importante observar por transparência as ramificações uterinas dessas proglotes: Se essas ramificações forem dendríticas, a proglote fica apenas com o útero nela, repleto de ovos (por isso é chamada de proglote grávida); o aparelho reprodutor masculino desaparece e também os ovários, permanecendo apenas o útero. Se as ramificações forem dicotômicas, a tênia presente é a Taenia saginata. OBS: Em geral, as proglotes grávidas da Taenia solium saem misturadas às fezes do hospedeiro, ou imediatamente após a defecação. As proglotes da Taenia saginata saem ativamente pelo ânus do indivíduo, entre as defecações. Não tem associação direta com as fezes. Laís Molina – Med 102 Parasitologia Médica – Prof. Vinícius Carraro Morfologia da Taenia saginata o Pode chegar a 14 metros de comprimento. o Possui a cabeça quadrangular. o A cabeça é dotada de 4 ventosas. o NÃO possui coroa de ganchos. o Tem um colo/pescoço mais longo. o O estróbilo está presente com útero das proglotes grávidas com ramificações dicotômicas. OBS: existem medicamentos, como sementes de abóbora, que são usados como tenífugos. Se eliminar todo o corpo da tênia, e a cabeça e o pescoço ficarem fixados no intestino, em 2 ou 3 meses ela cresce novamente, através da regeneração dos proglotes. As proglotes das tênias o A função das proglotes é de reprodução. Para se reproduzirem, as tênias consomem muita energia, e por isso necessitam de bastante nutrientes do hospedeiro. o Nas ramificações dicotômicas, nota-se que em cada ramificação do eixo do útero partem duas ramificações. Nas ramificações dendríticas, não há um eixo fixo, em cada ramificação tem uma quantidade diferente de eixos extras. o As proglotes da Taenia saginata saem ativamente do corpo do hospedeiro no intervalo entre as defecações (7 a 10 por dia). São mais longas e suas ramificações são dicotômicas, ou seja, de seu eixo principal partem dois eixos secundários. o As proglotes da Taenia solium saem do corpo do hospedeiro misturadas às suas fezes ou logo após a defecação (3 a 6 por dia), e podem passar despercebidas por esse motivo. São mais curtas e suas ramificações são dendríticas, ou seja, do eixo principal sem ramificações são desorganizadas, em quantidades menores e diferentes em cada eixo. Laís Molina – Med 102 Parasitologia Médica – Prof. Vinícius Carraro o A análise da proglote é importante para identificar qual é o tipo de tênia presente no organismo do hospedeiro. Se o indivíduo tiver uma Taenia solium, é necessário fazer exames complementares para averiguar se ele já tem uma cisticercose ou não. Se tiver uma Taenia saginata, apenas trata-se a teníase. É necessária a realização de exames complementares, pois, apenas pelos ovos dos vermes, não é possível identificar qual das tênias é o parasito naquele individuo. Apesar de possuírem uma característica singular, os ovos não possuem diferença de uma espécie para outra. OBS: o paciente com Taenia solium pode passar por um processo de autoinfecção interna ou externa, em que os ovos permanecem no organismo dele, ou a partir de maus hábitos de higiene os ovos retornam via oral. Assim, ele pode ter as duas doenças, a teníase em si e a cisticercose. Quando se faz um tratamento para teníase usando Praziquantel, por exemplo, o medicamento mata a tênia com muita eficiência, mas pode trazer graves problemas quando o indivíduo tem cisticercose. Então, até para se escolher o tratamento adequado, é necessário um diagnóstico correto de qual espécie do parasito o paciente tem, através das proglotes, para uma confirmação do caso, e não através do exame dos ovos. o Proglotes jovens: são mais largas do que longas e não apresentam órgãos sexuais. o Proglotes maduras: são longas e largas, podem chegar a 1 metro. o Proglotes grávidas: são mais longas do que largas e estão no terço final de toda a tênia; o útero é completamente cheio de ovos. Proglote jovem X proglote madura X proglote grávida: As proglotes jovens são vazias, não se vê aparelho reprodutor. Na proglote madura, tem-se os testículos (bolinhas menores), os ovários (bolinhas médias e mais coradas), e o útero (bolas maiores, na parte superior da imagem). É esse útero que se desenvolve e fica cheio de ovos, ramificando- se. OBS: não necessariamente uma tênia vai sair inteira do corpo do hospedeiro, podendo estar faltando a cabeça. Geralmente, consegue-se achar uma inteiraem necropsias ou em autópsias. Se a cabeça e o pescoço ficarem no intestino do hospedeiro, toda a tênia se regenera. Os proglotes saem do organismo do hospedeiro diariamente. Laís Molina – Med 102 Parasitologia Médica – Prof. Vinícius Carraro o Em um único proglote de Taenia solium pode haver 80 mil ovos. Uma pessoa que tem teníase por T. solium elimina cerca de 480 mil ovos por dia, contaminando o ambiente e o solo, e consequentemente os suínos, que se alimentam de fezes deles mesmos e outros animais. Por esse motivo, as proglotes saem misturadas às fezes. o Em cada proglote de Taenia saginata pode haver 120 mil ovos, 1.200.000 ovos por dia são eliminados, contaminando o ambiente. O bovino é seletivo, ou seja, não pastam em um raio de 1 metro de bolo fecal de nenhum animal. Por isso, as proglotes de T. saginata são dotadas de movimento próprio; elas saem do ânus do indivíduo com movimentos próprios, e ao caírem no solo, se deslocam para longe do local em que caíram para, então, se romperem e espalharem os ovos por todo o ambiente. Hospedeiros o Hospedeiro definitivo para ambas as espécies: Humanos, onde habitam no intestino delgado. o Hospedeiro intermediário da Taenia solium: natural – suínos; acidentais – macacos, cães e humanos. o Hospedeiro intermediário da Taenia saginata: bovinos. Ovos o Possuem uma casca estriada. o São ovos bem redondos. o Dentro deles possuem larvas chamadas de oncosfera, que darão origem aos cisticercos depois de migrarem pelo corpo do hospedeiro intermediário. As oncosferas, no organismo do hospedeiro intermediário, preferencialmente nos naturais, abandonam os ovos no intestino delgado e rompem o epitélio intestinal, penetrando nos vasos sanguíneos na mucosa. Assim, vão cair na corrente circulatória e buscar órgãos ricamente oxigenados, se alojando, então, na musculatura estriada esquelética, no tecido subcutâneo, no músculo cardíaco, na musculatura lingual e podem também se alojar nos globos oculares, cérebro, bulbo, cerebelo, medula espinal. Nos animais, se alojam tipicamente no tecido subcutâneo e na musculatura, onde não trazem grandes transtornos. Ao se alojarem, as oncosferas se transformam em cisticercos, que são as larvas que, se ingeridas pelo ser humano, dão origem a uma tênia adulta. Há dois tipos de cisticercos: o cisticerco da Taenia solium, que está preferencialmente nos suínos, chamado de Cysticercus cellulosae; e o cisticerco da Taenia saginata, nos bovinos, chamado de Cysticercus bovis. OBS: Não existe nenhuma possibilidade de uma pessoa que não come carne ter uma tênia no intestino. Mas, se for ingerida água e alimentos contaminados por fezes humanas, ou se o indivíduo contaminado tenha maus hábitos de higiene, não lava as mãos após defecar, levando-os a boca, ou no caso de ter ovos no intestino desse indivíduo que tenha T. solium, ele pode ter uma cisticercose. Resumidamente: se o individuo ingerir ovos que venham do ambiente (na água ou alimentos), ele vai ter uma cisticercose. Para ter uma tênia adulta, é necessário ingerir o cisticerco. Quando se ingere esse cisticerco, o hospedeiro será um hospedeiro intermediário. As carnes com cisticercos são mais macias. Isso é uma estratégia do cisticerco, tornando as fibras musculares mais frouxas, deixando a carne mais palatável, facilitando a digestão e diminuindo a mastigação. Os cisticercos possuem uma bolsa gelatinosa protegendo a cabeça e o colo; se a pessoa mastigar a carne com muita intensidade, essa bolsa se rompe, destruindo o verme, e por isso sua estratégia é tornar a carne mais macia, para que haja menos mastigação e ele sobreviva. Laís Molina – Med 102 Parasitologia Médica – Prof. Vinícius Carraro Uma das medidas de profilaxia é cozinhar bem a carne, assar bem, a partir de 60 graus. Dessa forma, o cisticerco é destruído. Ciclo Biológico o As proglotes com ovos são eliminadas do organismo do ser humano. De cada ovo eclode uma oncosfera, que podem permanecer viáveis no solo por um ano. No estômago do porco ou do boi, a oncosfera vai ser ativada, resistindo ao suco gástrico graças a sua casca estriada. Chegando no intestino delgado, o suco intestinal fragmenta a casca dos ovos, liberando as oncosferas, que destroem o epitélio intestinal, chegando ao tecido conjuntivo subjacente e caem na corrente circulatória. Após caírem na corrente circulatória, se instalam principalmente na musculatura estriada, pele, diafragma, do porco ou do boi. Assim, originam o Cysticercus cellulosae ou Cysticercus bovis, que sobrevivem cerca de 2 anos, após isso eles calcificam. A ingestão de uma carne mal passada ou mal cozida com cisticercos faz com que esses cisticercos se fixem ao intestino, e deem origem a uma tênia adulta. De 2 a 3 meses depois, o individuo já começa a expelir as proglotes. Laís Molina – Med 102 Parasitologia Médica – Prof. Vinícius Carraro Teníase Patogenia e Sintomatologia o É a alteração causada pela presença da forma adulta da Taenia solium ou da Taenia saginata, ou eventualmente das duas, no intestino delgado do homem. É uma doença que costuma ser branda. o Ações do parasito: Ação tóxica alérgica: o parasito vai despejando toxinas no lúmen do intestino delgado diariamente, que podem levar à cólicas intestinais, aumento do peristaltismo e crises diarreicas, dificulta a absorção de nutrientes, cefaleias, náuseas e vômitos. Hemorragias: produzidas pela Taenia solium, devido a sua coroa de ganchos. Destruição do epitélio: ambas as tênias se fixam na parede do intestino, no epitélio intestinal. Ao se fixarem, a peristalse tenta empurrá-las, e elas acabam se soltando parcialmente e causando esse transtorno. Inflamação. Competição nutricional. o Sintomas: Tonturas, pela ação tóxica. Náuseas a vômitos, pela ação tóxica. Apetite excessivo, pela competição nutricional. Alargamento do abdômen e dores abdominais, devido a presença física do parasito, pela ação mecânica e pela toxicidade. Perda de peso, pela competição nutricional, já que uma determinada quantidade vai para a alimentação do verme. Epidemiologia o Fatores que influenciam a ocorrência: Hábitos alimentares: se não possui uma alimentação com carne, a forma com que se come a carne (bem passada, mal passada). Deficiência ou ausência de serviços de inspeção de carne. Condições precárias de higiene das propriedades rurais: se o individuo defeca direto no solo, ou se as proglotes caem diretamente no solo. Criação extensiva de animais: contaminação com fezes humanas ou proglotes nas pastagens. Água e alimentos destinados à alimentação humana contaminados com dejetos humanos, como verduras, frutas e legumes, onde estejam presentes os ovos das tênias. Disseminação de ovos de Taenia solium por moscas e baratas: elas tiram do esgoto os ovos e levam para próximo dos animais. Acidentes de laboratório: quando o sujeito, eventualmente, entra em contato com ovos da T. solium. Laís Molina – Med 102 Parasitologia Médica – Prof. Vinícius Carraro Diagnósticos o Clínico: através da sintomatologia e anamnese. o Laboratorial/parasitológico: pesquisa de proglotes e mais raramente de ovos nas fezes. As proglotes dão o perfil de que tênia o indivíduo tem. OBS: em geral, uma tênia que chega ao organismo do indivíduo produz substancias químicas que bloqueiam a instalação de outras. Mas, raramente, pode acontecer de haver mais de uma. Tratamento o Niclosamida: medicamento insolúvel na água e não absorvível pelo intestino. Praticamente não apresenta efeitos colaterais. É necessário tomar apenas líquidos, desde a véspera, e 2 gramas de niclosamida de uma só vezem jejum (crianças tomam de 1 a 2 gramas), mastigando bem os comprimidos. A taxa de cura fica em torno de 90%, dependendo do grau de micronização do produto. o Praziquantel: muito efetivo no tratamento das teníases, mas por ser absorvível pelo intestino, é contraindicado nos casos de cisticercose, que podem ter seu quadro clínico agravado. Por essa razão, só se recomenda o uso contra a T. saginata, na dose de 5 a 10 mg/kg de peso corporal. Sua eficácia é de 96% de cura. o Mebendazol: também usado somente contra T. saginata, na dose de 200 mg, duas vezes ao dia, durante 4 dias. o Sementes de abóbora: de 200 a 400 gramas, sob a forma de decocto ou trituradas com mel, constituem um tratamento tenífugo, recomendado para crianças. Além de matar o verme, promove a liberação desse verme do organismo do indivíduo. ATENÇÃO: Só a eliminação ou destruição da cabeça/escólex assegura a cura. Portanto, se ela não for encontrada nas evacuações, é necessário aguardar cerca de 4 meses para ver se as proglotes não reaparecem, exigindo novo tratamento. CUIDADO: nenhum tratamento é ovicida. Se forem ingeridos ovos, nenhum desses medicamentos terá ingerência sobre os ovos. Dessa forma, o individuo poderá desenvolver uma cisticercose. Cisticercose Transmissão da cisticercose humana o Autoinfecção externa: ovos levados à boca a partir de maus hábitos de higiene. Quando o indivíduo tem a tênia no intestino, os ovos são eliminados do seu organismo e por maus hábitos de higiene, esses ovos voltam para o indivíduo. o Autoinfecção interna: vômitos ou movimentos retro-peristálticos fazem com que os ovos retornem ao estômago. É uma condição gravíssima. Os ovos de T. solium no estômago fazem com que a oncosfera se ative, e que ela entenda que está no organismo do suíno erraticamente, reconhecendo esse indivíduo como hospedeiro intermediário. Dessa forma, ela faz seu ciclo como se fosse no organismo do suíno. Terão inúmeros cisticercos no organismo. o Heteroinfecção: alimentos ou objetos contaminados com ovos. Quando se ingere os ovos vindos de outra pessoa contaminando objetos, alimentos ou água. Laís Molina – Med 102 Parasitologia Médica – Prof. Vinícius Carraro OBS: pode acontecer de a proglote se romper ainda no lúmen do intestino, deixando os ovos livres ali. Na retro- peristalse, eles vão para o estômago e são ativados. Quando a oncosfera chegar ao intestino delgado, ela rompe a casca do ovo e faz o ciclo que faria no suíno. A autoinfecção externa é uma forma direta de contaminação. Há também uma forma de autoinfecção externa indireta, em que o individuo vai eliminar suas fezes e essas fezes vão contaminar objetos ou alimentos, e ele mesmo vai levar à boca, levando de volta para si. Patogenia e Sintomatologia o É a alteração causada pela presença da forma larvária da Taenia solium ou da Taenia saginata nos tecidos dos hospedeiros intermediários naturais. A cisticercose humana é provocada pelas larvas (cisticercos) da Taenia solium, que parasitam o homem como hospedeiro intermediário acidental. OBS: em todo hospedeiro acidental, a forma da doença é mais grave. Existe incompatibilidade, maior agressividade, falhas na adaptação recíproca. o De cada 100.000 pessoas no mundo/habitantes, estima-se que 100 tenham neurocisticercose e 30 tenham cisticercose ocular. A cisticercose ocular quase sempre é percebida, por conta do tamanho que a larva pode atingir (pode chegar a 2cm), o que pode trazer consequências gravíssimas para o globo ocular do indivíduo. A neurocisticercose nem sempre é percebida pelo indivíduo. Há muitas pessoas que possuem neurocisticercose, mas não apresentam um quadro clínico sintomatológico, não levando a um diagnostico para a doença, mesmo após a morte do cisticerco. OBS: há dois momentos na cisticercose. O primeiro momento ocorre enquanto os cisticercos ainda estão vivos. O segundo momento ocorre quando os cisticercos morrem e se calcificam. Nesse primeiro momento, o quadro sintomatológico, em geral, é brando, e o indivíduo não apresenta muitos sintomas. O cisticerco pode viver entre 6 meses e 1 ano, podendo chegar a sobreviver até 2 anos. Depois que esse cisticerco morre, ocorre um processo inflamatório poderoso, e posteriormente ocorre a calcificação desse cisticerco. Essa calcificação leva a uma desestruturação da organização natural dos tecidos, o que promove um agravo da doença, trazendo consequências muito mais sérias do que quando o cisticerco está vivo. Enquanto os cisticercos estão vivos, se o diagnóstico for feito, há tratamento medicamentoso. Quando os cisticercos morrem, há duas condutas possíveis: ou um procedimento cirúrgico para a remoção dos cisticercos (dependendo da área em que estejam), ou o indivíduo vai conviver com esses cisticercos se não houver sintomas; se houverem sintomas produzidos pelos cisticercos calcificados, o indivíduo terá que fazer um tratamento paliativo, usando os medicamentos relacionados àqueles sintomas presentes. o Patogenia: as lesões mais graves estão relacionadas à morte da larva, ao processo inflamatório e a calcificação. o Sintomas: dependem da localização e da quantidade de cisticercos. o Há três categorias básicas de cisticercose: a neurocisticercose (relacionada ao sistema nervoso central ou periférico), a oftalmocisticercose (relacionada aos globos oculares), e a cisticercose disseminada (há cisticercos presentes na pele, na musculatura estriada esquelética, e eventualmente no músculo cardíaco). Dentre essas modalidades, as que costumam favorecer o diagnóstico são a neurocisticercose e a oftalmocisticercose. No caso da cisticercose disseminada, se há apenas a derme afetada ou a musculatura estriada esquelética, o sujeito não terá sintomas apreciáveis para diagnóstico, que costuma ser negligenciado, e ele viverá bem com esses cisticercos. Laís Molina – Med 102 Parasitologia Médica – Prof. Vinícius Carraro Neurocisticercose: Em geral, os indivíduos têm menos de 10 cisticercos, mas, excepcionalmente, podem chegar a mais de 2000, através da autoinfecção interna. Isso porque nessa forma de infecção, as proglotes podem se romper ainda no lúmen do intestino, fazendo com que os ovos sejam despejados e, a partir de movimentos retro-peristálticos, esses ovos são levados até o estômago; ao chegarem no estômago, as oncosferas são ativadas, e o ovo, ao seguir seu caminho normal até o intestino delgado, libera a larva, que vai agir no organismo do indivíduo como um hospedeiro intermediário. A localização mais frequente dos cisticercos é na leptomeninge e no córtex cerebral. As características mais marcantes da doença são: Dores de cabeça com vômitos. Geralmente essas cefaleias são holocranianas. OBS: se o indivíduo tem uma teníase por T. solium e tem um quadro de cisticercose associado, ele começa a ter vômitos e, consequentemente, faz a retro-peristalse. Isso faz com que o quadro clinico se agrave, uma vez que ele vai ingerir cada vez mais cisticercos, desencadeando violentas cargas parasitárias. Ataques epileptiformes (muito frequentes). Cerca de 30% de casos de pessoas que têm crises epileptiformes, sem história pregressa, sem histórico familiar, sendo essas crises de uma hora para outra, está relacionado à neurocisticercose. Delírio e alucinações. Prostração (o indivíduo fica apático). Outros tipos/formas: Formas convulsivas: se apresentam em metade dos casos de neurocisticercose e aparecem em adultos sem antecedentes pessoais ou familiares. Podem surgir paralisias, paresias e afasias. Formas hipertensivas e pseudo-tumorais: hipertensão intracraniana e sintomas neuropsíquicos. O cisticerco exerce sob seu hospedeiro uma ação mecânica compressiva, uma vez que ele vai estar se desenvolvendo em meio aos tecidos,comprimindo-os e produzindo as lesões; além disso, exerce uma ação inflamatória; quando ele morre, gera também uma ação tóxica, que desencadeia uma série de processos. Cefaleia intensa, constante e com paroxismos (agravamento) aos esforços físicos; Vômitos em jato; Edema da papila, causando diminuição da visão e atrofia do nervo óptico; Ataques epilépticos e convulsões; Apatia, indiferença, diminuição da atenção, estado de torpor ou agitação ocasional. Formas psíquicas: as perturbações mentais dominam o quadro ou são as únicas presentes como sintomas. Elas não se distinguem das apresentadas em outras psicoses, como a esquizofrenia, a mania, a melancolia, as síndromes delirantes etc, o que pode levar à uma confusão de diagnósticos. Oftalmocisticercose: a localização na câmara anterior do globo coular logo chama a atenção do paciente; mas, na posterior, os sintomas são discretos, indolores, e só percebidos ao interferirem com a visão central ou periférica. As formas mais graves comprometem a visão por descolarem a retina ou por opacificarem os meios transparentes, e também pode haver dor devido à irite. As localizações orbitárias são assintomáticas ou produzem exoftalmia, desvio do globo ocular ou miosite com ptose. Cisticercose disseminada: a presença dos cisticercos no tecido subcutâneo e na musculatura esquelética não causa incomodo ou produzem apenas mialgias, fadiga muscular e câimbras. Contudo, são as localizações no sistema nervoso e nos olhos que caracterizam a forma disseminada da cisticercose. No coração, podem haver palpitações, ruídos anormais e dispneia. Laís Molina – Med 102 Parasitologia Médica – Prof. Vinícius Carraro Localização dos cisticercos o Só depois de 1 a 3 dias tendo ocorrido a infecção os ovos eclodem, as oncosfera invadem a mucosa intestinal e ganham a circulação, indo para os tecidos. o Na radiografia ao lado, numerosos cisticercos projetam-se sobre a imagem do esqueleto, muitos deles localizados na pele e nos músculos. É possível visualizar apenas os cisticercos calcificados, o que traz um grande problema para o diagnóstico, uma vez que só é possível tratar a cisticercose de forma medicamentosa se houver a identificação do cisticerco vivo. o As localizações mais frequentes, quando há raros parasitos, são: Olhos e anexos: cerca de 46% dos cisticercos estão localizados nessas regiões. Das localizações oculares, 60% ocorrem na retina ou no vítreo. Sistema nervoso: cerca de 41% dos cisticercos. Pele e tecido subcutâneo: cerca de 6,3% dos cisticercos. Músculos: cerca de 3,5% dos cisticercos. Outros órgãos: cerca de 3,2% dos cisticercos. Diagnóstico da Neurocisticercose o Por sua raridade e pela variedade de seus quadros clínicos, que podem ser atribuídos a outras causas, em geral não se pensa nessa doença. o Apenas a oftalmocisticercose (com os meios transparentes) e a cisticercose subcutânea são facilmente diagnosticadas. o A origem do paciente, seus hábitos alimentares (se há consumo de carne de porco) e se foi/é portador de uma tênia devem levar a suspeita clínica. o Os exames de laboratório são essenciais para o diagnóstico. Exame de fezes: procura-se as proglotes, assim como na técnica utilizada para as teníases em geral. Identificando uma proglote de Taenia solium, já leva a uma suspeita maior de que esse indivíduo, por autoinfecção interna ou externa possa estar desenvolvendo uma neurocisticercose. Exame de líquor: é o mais informativo, visto que muitas vezes a pressão está aumentada nesse líquido cefalorraquidiano, e o exame citológico mostra aumento de proteínas, hipercitose moderada (5-50 células/mm³), com predomínio de linfócitos, mas é a eosinofilia no líquor que tem alto significado diagnóstico; além disso, a reação de fixação do complemento é positiva para cisticercose e as reações para sífilis são negativas. OBS: a eosinofilia sanguínea está muito relacionada com parasitos, principalmente com os helmintos. Testes imunológicos: Técnica de ELISA, que mostra a sensibilidade próxima de 80%. Laís Molina – Med 102 Parasitologia Médica – Prof. Vinícius Carraro A imunoeletroforese, recomendada por não apresentar resultados falsos positivos, mas apenas 54 a 87% dos positivos. A imunofluorescência indireta, tida por altamente específica, mas faltando-lhe a sensibilidade. A sorologia tem como limitação maior a presença de anticorpos que nem sempre indica uma infecção atual, assim como não localiza os parasitos e pode dar reações cruzadas com outras cestoidíases. Exames radiológicos: a demonstração radiológica da cisticercose é feita pelo encontro dos nódulos calcificados, com aspecto mais ou menos característico, ou seja, quando os cisticercos estão mortos. A calcificação só se processa após a morte do parasito e não em todos os casos. As calcificações intracranianas ocorrem apenas em 15 a 35% dos pacientes, sendo, então, mais frequentes nos músculos. A tomografia computadorizada fornece dados importantes para a localização das lesões no sistema nervoso central, tanto com parasitas vivos quanto com parasitos mortos. IMAGEM A: paciente com cisticercos vivos (se apresentam em branco), três dos quais situados nos lobos frontais (áreas circulares claras e com escólex bem visível). Os pontinhos pretos nas áreas circulares brancas, são o escólex do verme, que ficam bem evidentes por ser a coroa de ganchos. Por apresentar hipertensão intracraniana, foi implantada uma válvula de derivação intraventricular-peritoneal, visível na região póstero-lateral da cabeça (lado esquerdo). IMAGEM B: há um grande cisticerco vivo e outros, e cisticercos calcificados (se apresentam em preto). IMAGEM C: apresenta um grande número de cisticercos calcificados. Cisticerco vivo no cérebro. Posteriormente, ao morrer, esse cisticerco produz uma área de calcificação ainda maior do que ele. Laís Molina – Med 102 Parasitologia Médica – Prof. Vinícius Carraro Exemplos da clínica de Oftalmocisticercose Cisticerco no globo ocular do indivíduo, podendo ser observado o crescimento dele. A localização está causando ptose, ou seja, está deslocando a vista do indivíduo para baixo, podendo levar à ruptura desse globo ocular. O paciente, ao olhar para frente, torna-se imperceptível a presença do cisticerco. Ao olhar lateralmente, é possível ver esse cisticerco logo abaixo da superfície do globo ocular do indivíduo. O movimento dos olhos permite a identificação dessa estrutura. A princípio, o paciente pode dizer que está com um caroço, que no caso seria o cisticerco. Tratamento da cisticercose o A neurocirurgia pode ser feita quando um número pequeno de parasitos e localização favorável para a intervenção. o Na cisticercose ocular, a cirurgia não oferece dificuldades quando a parasito se encontra na câmara anterior do olho, ou em situação subconjutival ou subcutânea. No caso da câmara posterior, o caso já é mais grave, tendo risco de comprometer a visão. o A quimioterapia é feita com praziquantel (contraindicado na oftalmocisticercose), juntamente com corticoides dexametasona (para reduzir o processo inflamatório) ou com albendazol. Esses medicamentos penetram rapidamente no líquor e lentamente nos cisticercos. o A tolerância ao tratamento é boa em 80% dos casos. Nos demais, aparecem sintomas atribuídos à reação dos aos produtos dos cisticercos mortos. Laís Molina – Med 102 Parasitologia Médica – Prof. Vinícius Carraro o O tratamento para cisticercose, seja ela de sistema nervoso ou oftalmológica, deve ser feito com o paciente internado, porque esses medicamentos podem desencadear casosde hipertensão aguda intracraniana por edema cerebral, exigindo cuidados de urgência. o Pacientes assintomáticos ou com cisticercos mortos não devem ser tratados. Profilaxia e controle da cisticercose o A profilaxia da cisticercose humana é essencialmente a da prevenção e do controle dos casos de teníase por T. solium. Os portadores de infecção por T. solium e todos os casos suspeitos devem ter seu diagnóstico e tratamento assegurado o mais cedo possível. o A educação sanitária deve alertar as pessoas para o perigo de consumir carne crua ou mal cozida, assim como a carne que não passou pelo controle sanitário. Além disso, deve-se ensinar às pessoas como reconhecer a eliminação de proglotes, a não levarem a mão à boca sem lavá-la previamente, lavá-la após o uso do sanitário, a higienizarem bem as frutas, verduras e legumes. o Lembrar que as mãos sujas dos portadores de teníase e certas práticas sexuais podem levar à ingestão de ovos de T. solium e causar cisticercose no portador da teníase ou em seus próximos.
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