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ASPECTOS EMOCIONAIS EM NEGOCIAÇÃO Prof. Lígia Sales 1. NEGOCIAÇÃO É UMA QUESTÃO DE CRIATIVIDADE Até 20 anos atrás, poucos pesquisadores se preocupavam com o papel das emoções nas negociações — como os sentimentos podem influenciar a forma como as pessoas superam conflitos, chegam a um acordo e criam valor ao negociar com a outra parte. Os acadêmicos da negociação focavam basicamente em estratégia e táticas — principalmente nas formas como os interlocutores identificam e consideram alternativas, usam moedas de troca e executam a coreografia de propostas e contrapropostas. A compreensão científica da negociação também é um aspecto importante da natureza transacional na solução satisfatória do acordo: como obter mais recursos ou lucrar mais no processo. Quando os especialistas começaram a analisar os efeitos psicológicos das negociações, eles focavam em estados de ânimo difusos e não definidos — por exemplo, se os negociadores se sentiam, de forma geral, positivos ou negativos, e como isso afetava seu comportamento. Na última década, no entanto, os pesquisadores começaram a examinar como emoções específicas — raiva, tristeza, decepção, ansiedade, inveja, empolgação e pesar — podem afetar o comportamento de negociadores. Eles estudaram as diferenças entre o que acontece quando as pessoas simplesmente sentem essas emoções e quando elas também as demonstram para a outra parte por meio de palavras ou ações. Quando as negociações são menos transacionais e envolvem interlocutores com relacionamentos de longo prazo, entender o papel das emoções é ainda mais importante que na realização de um acordo completamente transacional. Esse novo ramo da pesquisa tem se mostrado extremamente útil. Todos nós somos capazes de controlar a forma como expressamos nossas emoções, mas estratégias específicas podem nos ajudar a melhorar muito nesse quesito. Nós também controlamos até que ponto expressar nossos sentimentos — e, novamente, há caminhos específicos para disfarçar (ou enfatizar) uma demonstração de emoção, se isso for vantajoso. Pesquisas mostram, por exemplo, que sentir ou demonstrar ansiedade leva a um resultado de negociação insatisfatório. Por isso, ao intermediar um acordo, as pessoas com predisposição a ansiedade podem adotar certas medidas tanto para limitar seu nervosismo como para torná-lo menos evidente ao interlocutor. O mesmo conceito vale para outras emoções. A emoção que mais costuma aparecer antes do início do processo ou durante os estágios iniciais é a ansiedade. Somos mais predispostos a demonstrar irritação ou empolgação no calor das discussões. E decepção, tristeza ou pesar costumam aparecer mais nos estágios finais. Evitando a ansiedade A ansiedade é um estado de angústia que surge como resposta a estímulos ameaçadores, situações novas com potencial de produzir resultados indesejáveis. Ao contrário da raiva, que motiva as pessoas a intensificar o conflito (a parte da “luta” da disposição para lutar), a ansiedade desliga o interruptor do interesse pela “luta” e faz a pessoa querer sair de cena. Como paciência e persistência geralmente são desejáveis quando se negocia, a vontade de sair rapidamente de cena é contraproducente. Mas os efeitos negativos de se sentir ansioso durante a negociação podem ser piores. Numa pesquisa recente, eu especulava se negociadores ansiosos também desenvolvem baixas aspirações e expectativas, o que poderia levá-los a fazer propostas iniciais modestas — um comportamento que antecipa diretamente resultados insatisfatórios na negociação. Num trabalho com Maurice Schweitzer, em 2011, eu explorei como a ansiedade influencia as negociações. Inicialmente analisamos 185 profissionais sobre as emoções que eles esperavam sentir antes de negociar com um estranho, negociar a compra de um carro e negociar um aumento de salário. Ao negociar com um estranho ou pedir um aumento de salário, a ansiedade era a expectativa emocional predominante. Ao negociar a compra de um carro, a ansiedade vinha em segundo lugar, depois da empolgação. Para entender como a ansiedade pode afetar os negociadores, pedimos a um grupo diferente, com 136 participantes, que negociasse um contrato de telefonia celular que exigia discutir o preço de compra, o período de garantia e a validade do contrato. Induzimos ansiedade em metade dos participantes, fazendo com que ouvissem continuamente clipes de três minutos do ameaçador tema musical do filme Psicose, enquanto metade ouvia uma agradável música de Handel. (Pesquisadores chamam isso de manipulação emocional “acidental”, e ela é muito poderosa. Ouvir o tema de Psicose é realmente desagradável: as pessoas suavam na palma das mãos, e alguns ouvintes ficaram muito nervosos.) Neste experimento e em outros três, descobrimos que a ansiedade afetava significativamente a forma de negociar. Os que foram induzidos à ansiedade fizeram propostas iniciais mais fracas, responderam muito depressa a cada movimento do interlocutor e mostraram maior propensão de abandonar as negociações prematuramente (mesmo tendo sido claramente advertidas de que, se saíssem antes, o valor que receberiam da negociação seria menor). Negociadores ansiosos fecharam acordos 12% menos atraentes financeiramente que os negociadores do grupo neutro. No entanto, descobrimos um princípio: pessoas que atribuíram a si mesmas alta pontuação numa pesquisa sobre aptidão para os negócios foram menos afetadas pela ansiedade que as outras. Esses experimentos tinham por objetivo analisar o que acontece quando as pessoas se sentem ansiosas. Mas o que acontece quando elas demonstram ansiedade sem esconder dos interlocutores que estão nervosas (e talvez vulneráveis)? Em 2012, Francesca Gino, Maurice Schweitzer e eu realizamos oito experimentos para analisar como a ansiedade afetava o comportamento de pessoas ansiosas em situações em que podiam pedir conselhos a outras. Descobrimos que, em comparação com pessoas que não se sentiam ansiosas, elas eram mais inseguras, mais predispostas a se aconselhar antes de tomar decisões e menos capazes de distinguir entre bons e maus conselhos. O mais importante desses experimentos revelou que participantes ansiosos acatavam conselhos de outros com declarado conflito de interesse, enquanto participantes que sentiam emoções neutras viam esses conselhos com ceticismo. Embora essa pesquisa não se destinasse a descobrir diretamente como os participantes deveriam negociar, ela sugere que pessoas que demonstram ansiedade estão mais sujeitas a ser exploradas numa negociação, principalmente se a outra parte perceber sua angústia. Bons negociadores geralmente fazem seus interlocutores se sentirem ansiosos propositalmente. No programa de TV Negociando com tubarões, seis investidores ricos (tubarões) negociam com empreendedores que esperam conseguir financiamentos para seus projetos. Os empreendedores precisam “vender” suas ideias diante de uma enorme plateia ao vivo e enfrentar as perguntas em geral agressivas e perturbadoras dos investidores. À medida que o programa avança, uma música estressante toma conta do estúdio da TV. Esta encenação tem por objetivo criar um clima de entretenimento para os espectadores. Ela também exerce, intencionalmente, pressão sobre os empreendedores. Os tubarões são negociadores profissionais que pretendem tirar os empreendedores do sério para poder se apropriar mais facilmente de suas boas ideias ao preço mais baixo possível. (Quando vários tubarões estão interessados num investimento, muitas vezes fazem comentários com a intenção de provocar ansiedade também nos investidores concorrentes.) Se você assistir ao programa atentamente, provavelmente perceberáum padrão: os empreendedores que parecem menos abalados pelos estressores ambientais tendem a negociar com mais cautela e ponderação — e geralmente conseguem melhores acordos. As conclusões tanto das pesquisas como da prática são claras: quando estiver negociando, tente evitar, o máximo possível, sentimentos de ansiedade. Como conseguir isso? Exercite, pratique, ensaie e mantenha suas habilidades de negociação afiadas. A ansiedade é geralmente uma resposta a novos estímulos, por isso quanto mais familiar o estímulo, mais confortável e menos ansioso você se sentirá. (É por isso que psicólogos que tratam transtornos de ansiedade geralmente utilizam terapia de exposição: pessoas com aversão a andar de avião, por exemplo, são progressivamente expostas a essa experiência, primeiro se acostumam ao visual e aos ruídos, depois sentam em assentos como os de avião, e finalmente voam.) Embora muitas pessoas se inscrevam no curso de negociação para aprender estratégias e aprimorar suas habilidades, uma das principais vantagens é a satisfação que sentem por participar constantemente de simulações e exercícios de negociação. Afinal negociação é um processo rotineiro e, por isso, não deve ser uma experiência que provoque tanta ansiedade. Outra estratégia útil para reduzir a ansiedade é chamar um especialista para conduzir a negociação. Negociadores independentes serão menos ansiosos porque estão mais bem preparados e acostumados à rotina do processo e têm menos interesse pessoal no resultado. Terceirizar sua negociação pode parecer uma fuga, mas é uma prática frequente em muitos setores. Quem compra e vende imóveis utiliza, pelo menos em parte, a experiência de um corretor de imóveis nas suas negociações. Esportistas, autores, atores e até alguns executivos dependem de agentes para finalizar seus contratos. Embora essa abordagem implique custos, ela vale muito a pena, pelos termos mais favoráveis dos acordos costurados. Além de ser muito vantajoso para os negociadores ansiosos envolver uma terceira parte (porque a ansiedade pode ser uma emoção particularmente difícil de ser controlada numa situação desagradável), essa estratégia também pode ser útil quando outras emoções negativas vêm à tona. Administrando a decepção e o pesar Pode ser tentador ver as negociações em termos binários — você ganha ou perde. Obviamente, isso parece simplista demais: as negociações mais complexas terminam quase sempre com a conquista de algumas metas de cada lado, mas não de todas — uma mistura de ganhos e perdas. No entanto, à medida que a negociação progride, é natural analisar o acordo que está surgindo e sentir-se, no cômputo geral, mais, ou menos, satisfeito. A decepção pode ser uma força muito poderosa quando é demonstrada ao interlocutor na parte final da negociação. Existe uma relação entre irritação e decepção — as duas surgem principalmente quando uma pessoa se sente ofendida —, e é útil entender como uma pode ser usada mais construtivamente que a outra. (Pense em como você reagia na infância quando seus pais diziam “estou muito decepcionado com você” em vez de “estou muito bravo com você”.) Embora demonstrar raiva possa criar uma atitude defensiva ou aumentar a probabilidade de impasse, demonstrar decepção pode ter um propósito tático, encorajando a outra parte a observar criticamente suas próprias ações para mitigar os sentimentos negativos que lhe causou. Pesquisas mostram que uma das causas da decepção numa negociação é a velocidade do processo. Quando uma negociação se desenrola ou termina rápido demais, os participantes parecem insatisfeitos. Eles especulam se poderiam ou deveriam ter feito mais, ou pressionado mais. Professores de negociação presenciam esse comportamento durante as provas em sala de aula: geralmente os primeiros alunos a terminar a prova são os mais decepcionados com o resultado. A forma mais óbvia para reduzir a probabilidade de decepção é agir com calma e ponderação. O pesar é ligeiramente diferente da decepção. Enquanto a última se refere a um descontentamento com um resultado, a pessoa que se lamenta de alguma coisa está olhando um pouco mais além, na sequência de ações que levaram a esse resultado indesejado, e pensando nos tropeços ou erros que criaram a decepção. Pesquisas mostram que as pessoas estão mais predispostas a se lastimar pelas ações que não realizaram — as oportunidades perdidas e erros de omissão, e não de execução. Esse insight pode ser importante para os negociadores, cujas principais ações deveriam ser: perguntar, ouvir, propor soluções e criar novas alternativas quando as partes não chegarem a um acordo. Ironicamente, as pessoas geralmente não fazem perguntas quando estão negociando: elas podem deixar de levantar questões importantes ou relutar em sondar muito a fundo por medo de ser invasivas ou grosseiras. Esses medos, muitas vezes, são descabidos. Na verdade, as pessoas que fazem muitas perguntas tendem a ser mais estimadas e aprendem mais. A informação é essencial nas negociações, e aprender deve ser uma meta central. Uma forma de reduzir o potencial do pesar é perguntar sem hesitar. Tenha como objetivo sair da negociação com a sensação de que todas as vias foram devidamente exploradas. Negociadores experientes utilizam outra técnica para reduzir as probabilidades de pesar: o “acordo pós-acordo”. Essa estratégia reconhece que, geralmente, a tensão se dissipa quando há um acordo sobre a mesa que satisfaz a todos e, às vezes, a melhor negociação acontece depois que a tensão é liberada. Por isso, em vez de apertar as mãos e dar o acordo por encerrado, uma das partes pode dizer: “Fomos ótimos. Temos os termos que todos queríamos. Mas, agora que chegamos a um acordo, vamos passar mais alguns minutos conversando para ver se encontramos mais alguma coisa que o torne mais valioso para os dois lados”. Se isso for feito de forma inepta, pode parecer que uma parte está tentando voltar atrás ou renegociar. No entanto, quando habilmente articulado, um acordo pós-acordo pode abrir novos caminhos para os dois lados se sentirem ainda mais satisfeitos com o resultado e evitarem lamentações. Moderando a alegria e a empolgação Não existem muitas pesquisas sobre como a alegria e a empolgação afetam as negociações, mas a intuição e a experiência sugerem que expressar essas emoções pode ter consequências importantes. A Liga Nacional de Futebol americano proíbe e pune “comemorações exageradas” depois de um touchdown ou de uma grande jogada, porque essa atitude pode gerar conflitos. Pela mesma razão, o “vencedor” de um acordo não deve se ufanar enquanto as negociações estiverem em andamento. No entanto, isso acontece o tempo todo: em workshops, eu observo continuamente os alunos vibrarem e se vangloriarem abertamente (às vezes diante de toda a classe) sobre como eles realmente espremeram seus oponentes em exercícios de negociação. Esses alunos não só se arriscam a parecer tolos, mas numa situação real eles podem sofrer consequências mais sérias, como a outra parte apelar para o direito de rescisão, procurar renegociar, ou adotar uma ação punitiva na próxima vez que as partes tiverem de chegar a um acordo. Embora se sentir decepcionado depois de uma negociação não seja agradável, pode ser ainda pior fazer seus interlocutores se sentirem dessa forma. Em certas situações, demonstrar alegria ou empolgação gera decepção na outra parte. Os melhores negociadores fazem grandes acordos para si, mas fazem seus oponentes acreditar que eles também fizeram um acordo fabuloso, mesmo que isso não seja exatamente verdade. Em acordos que envolvem um grau significativo de colaboração futura — quando duasempresas concordam sobre uma fusão, por exemplo, ou quando um ator assina um contrato com um produtor para estrelar um filme — pode ser apropriado demonstrar alegria, mas é mais importante focar nas oportunidades futuras, e não nos termos favoráveis que uma parte acabou de conseguir. Outro perigo da empolgação é que ela pode aumentar seu comprometimento com estratégias ou uma sequência de ação que seria melhor terem sido abandonadas. Nas minhas aulas de negociação, os alunos fazem um exercício no qual precisam decidir se devem ou não mandar um piloto de carro de corrida participar de uma competição importante com um carro cujo motor está com defeito. Apesar dos riscos, muitos alunos optam por mandar o piloto competir porque eles estão empolgados e querem ganhar a maior quantidade de prêmios possível. O exercício tem um paralelo com um exemplo real: o lançamento do ônibus espacial Challenger. Embora os engenheiros que projetaram o anel de vedação defeituoso da Challenger estivessem apreensivos com a situação, os executivos da Nasa estavam empolgados demais e decidiram que o lançamento deveria prosseguir. Essa decisão acabou sendo a causa da explosão do ônibus espacial e da morte dos sete membros da tripulação. Há duas lições para os negociadores: primeiro, tenha respeito pelos outros: não permita que sua empolgação faça seus interlocutores se sentirem perdedores. Segundo, seja cético: não permita que sua empolgação se transforme em confiança excessiva ou num convencimento exagerado com dados insuficientes. NEGOCIAR EXIGE algumas habilidades de jogadores de pôquer: foco estratégico, imaginação para perceber alternativas, habilidade para avaliar probabilidades, ler sinais comportamentais, entender a posição dos outros e blefar quando necessário. No entanto, enquanto as partes de uma negociação se empenham para chegar a um acordo, os jogadores de pôquer tomam decisões unilateralmente. No pôquer também não há resultados em que todos ganham, ou estratégias para dividir a torta: qualquer mão dada é normalmente um jogo de soma zero: os ganhos de um jogador vêm diretamente do cacife dos outros jogadores. Negociadores, no entanto, podem aprender uma lição muito importante da mesa de pôquer: o valor de controlar as emoções que sentimos e principalmente das que revelamos. Em outras palavras, bons negociadores precisam aprender a fazer “cara do pôquer” — não um semblante que permaneça inexpressivo, sempre escondendo sentimentos verdadeiros, mas um rosto que revele as emoções certas, na hora certa. E embora todos os seres humanos sejam emocionais, a frequência e a intensidade com que demonstramos as emoções diferem de pessoa para pessoa. Para ser um negociador melhor, faça uma avaliação completa de quais emoções você está particularmente disposto a sentir antes, durante e depois das negociações e use técnicas para minimizar (ou maximizar) a experiência e conter (ou enfatizar) as demonstrações de emoções conforme necessário. Numa das minhas cenas favoritas do programa de televisão Um maluco na TV, o CEO eficiente, Jack Donaghy (Alec Baldwin), que se considera exímio negociador, explica a um colega por que realizou um mau negócio: “Perdi por causa da emoção, que eu sempre pensei que fosse uma fraqueza, mas agora aprendi que também pode ser uma arma”. Aproveitando a metáfora inteligente de Jack, aconselho você a manipular suas emoções cautelosamente. Pense cuidadosamente em quando sacar essas armas, quando atirar e quando escondê-las em local seguro, e dentro do coldre. Tente evitar a ansiedade, tenha cuidado ao manifestar irritação, faça perguntas para evitar decepção e pesar e lembre-se de que alegria e empolgação podem ter consequências adversas. Exatamente da mesma forma como você prepara seus movimentos táticos e estratégicos antes da negociação, você deve investir algum tempo para preparar sua abordagem emocional. Será um tempo bem aproveitado. Alison Wood Brooks é professora assistente da Harvard Business School. Ela ensina negociação nos cursos de MBA e de educação executiva e é membro do grupo de insights comportamentais. 2. NEURO PERSUASÃO: Ganha X Perde/ Ganha X Ganha O TOM CORRETO EM NEGOCIAÇÃO Administrando a irritação Como a ansiedade, a raiva é uma emoção negativa, mas, em vez de ser reprimida, em geral ela é dirigida para outra pessoa. Na maioria das situações, tentamos controlar nosso humor. Quando se trata de negociação, no entanto, muitas pessoas acreditam que a irritação pode ser uma emoção produtiva — que nos ajudará a conseguir uma fatia maior da torta. Essa visão surge de uma tendência generalizada de ver as negociações em termos competitivos, e não colaborativos. Os pesquisadores a chamam de viés da “torta predeterminada”: as pessoas, principalmente aquelas com pouca experiência em negociação, assumem que a negociação é um jogo de soma zero, no qual seus próprios interesses conflitam diretamente com os da outra parte. (Negociadores mais experientes, por outro lado, procuram formas de aumentar o tamanho da torta por meio de colaboração, em vez de simplesmente tentar abocanhar uma fatia maior.) Acredita-se que a irritação faz as pessoas parecerem mais fortes, mais poderosas e mais capazes de ter sucesso quando se trata de captar valor. Na verdade, várias pesquisas — muitas delas realizadas por Keith Allred, ex-membro da Faculdade Kennedy de Administração Pública de Harvard — documentam as consequências da irritação durante as negociações. Elas mostram que a irritação normalmente prejudica o processo exacerbando o conflito, enviesando as percepções e aumentando a predisposição para o impasse. A irritação também reduz ganhos agregados, diminui a colaboração, intensifica o comportamento competitivo e aumenta a taxa de rejeição das propostas. Negociadores irritados são menos precisos que os neutros tanto em defender seus próprios interesses como em julgar os interesses da outra parte e podem procurar prejudicar ou retaliar seus interlocutores, mesmo que uma abordagem mais colaborativa ajude a aumentar o valor que os dois lados esperam obter da negociação. Apesar desses resultados, muitas pessoas ainda veem vantagens em sentir ou aparentar irritação. Algumas chegam a aumentá-la porque acreditam que isso as tornará mais persuasivas na negociação. Na minha pesquisa, descobri que, se for possível escolher entre se sentir irritado e se sentir alegre ao negociar, mais da metade dos participantes prefere o estado de raiva e considera essa situação extremamente vantajosa. Há casos em que sentir raiva pode levar a melhores resultados. Pesquisa realizada por Gerben van Kleef, na Universidade de Amsterdã, demonstra que numa negociação transacional única, com poucas oportunidades de colaborar para criar valor, um negociador irritado pode conseguir um acordo melhor. Existem até situações em que o negociador finge estar irritado, porque a outra parte, na tentativa de acalmar sua raiva, poderá ceder terreno em relação aos termos do acordo. Isso pode dar certo se você estiver regateando com um estranho a compra de um carro, por exemplo. Mas negociadores que jogam dessa forma precisam estar cientes dos custos. Demonstrar raiva numa negociação prejudica o relacionamento de longo prazo entre as partes. Reduz a estima e a confiança. Pesquisas realizadas por Rachel Campagna, da New Hampshire University, mostram que uma falsa demonstração de raiva pode resultar em pequenas vantagens táticas, mas também leva a considerável e persistente repercussão negativa. Ou seja, fingir raiva pode criar sentimentos autênticos de raiva, que, por sua vez, diminuem a confiança dos dois lados. Na mesma linha, pesquisas conduzidaspor Martin Schweinsberg revelam que as pessoas que se deparam com um negociador irritado estão mais predispostas a abandonar a negociação e preferem deixar que o processo termine num impasse. Em muitos contextos, no entanto, sentir ou demonstrar irritação como tática de negociação pode ter efeito contrário. Por isso, em muitos casos, conter qualquer sentimento de raiva — e moderar a raiva que demonstra — é a estratégia mais inteligente. Pode ser difícil, mas há táticas que ajudam. Criar empatia antes, durante e depois da negociação pode reduzir a probabilidade de que a outra parte se irrite. Se você encarar a negociação cooperativamente — deixando claro que está tentando encontrar uma solução em que todos saiam ganhando, em vez de procurar ficar com a parte do leão de uma torta predeterminada —, será talvez capaz de reduzir a percepção da outra parte de que capturar valor com raiva pode funcionar. Se seu interlocutor realmente se irritar, peça desculpas. Procure apaziguar. Mesmo que você sinta que a irritação dele é injustificada, reconheça que você provavelmente estará mais bem posicionado taticamente se puder minimizar a hostilidade. Talvez a forma mais eficiente de manipular a irritação nas negociações seja perceber que muitas não se desenrolam todas de uma vez, frequentemente são necessárias várias reuniões. Por isso, se começarem a surgir pontos de tensão, sugira uma pausa, acalme os ânimos e retome a reunião. Isso não é fácil quando você está irritado, porque sua disposição para lutar exige que você avance sempre, jamais retroceda. Em negociações tensas, apertar o botão da pausa pode ser a melhor jogada Detalhes que fazem toda a diferença “MAS”- você está dizendo que iria ajudar, mas cortou essa iniciativa. O mas quebra e apaga todo o restante, vc acabou de anular tudo o que foi dito anteriormente. “EU SEI QUE EXISTEM POSSIBILIDADES DE FAZER ISSO ACONTECER” “TENTAR”- esqueça a palavra porque ela gera insatisfação e insegurança. “EU IREI ME COMPROMETER A TRABALHAR NESTA QUESTÃO AMANHÃ DAS 9H ÀS 10:30H”- a especificidade, compromisso e clareza. “ACHO” - não produz certeza nem autoridade. Quem acha não sabe, quem sabe não acha. “COM BASE NESSAS EVIDÊNCIAS E PESQUISAS, ESTE É O MELHOR CAMINHO”- ela se resguarda de uma certeza absoluta, mas gera autoridade. “NÃO”- faz a pessoa pensar na memória implementada e ainda pode gerar dúvidas. “NÃO TOQUE NO ASSUNTO”- não levar o indivíduo sequer considerar a opção 2. O TRATAMENTO DA LINGUAGEM CORPORAL E NÃO VERBAL CORRETA EM NEGOCIAÇÃO Você pode ter trabalhado no melhor acordo, mas ainda assim as coisas podem dar errado. Os negociadores experientes se preparam, calculam seus valores de reserva e seu plano B, desenvolvem a argumentação e estudam a outra parte. No entanto, você pode fazer tudo isso e ainda não estar preparado, pois você não se preparou emocionalmente para aquela situação. Há profissionais da área que acreditam que as emoções devem ficar de lado em uma negociação. Porém em muitos casos simplesmente não controlamos as nossas emoções em momentos de tensão. Se pensarmos em conflitos pessoais, como por exemplo empresas familiares, discussões com parceiro(a) e pessoas próximas, a emoção muitas vezes é o cerne da negociação. A emoção é inerente ao conflito, e desse modo se torna necessário adotar meios de trabalhar esse quesito na negociação. Para obter a resiliência e o equilíbrio em uma negociação, você pode utilizar do treinamento da consciência. Neste caso, podemos falar de tornarmo-nos conscientes dos pensamentos e sentimentos de uma pessoa sem os classificar como inválidos, errados ou inapropriados. Ou por exemplo, ao sentir raiva, se conscientizar do sentimento e registrá- lo, ao invés de tentar suprimí-lo. É como aceitar a presença deles e seguir em frente. O trabalho de consciência é extremamente complexo, e esse desenvolvimento não será o foco aqui, sendo que seria assunto para diversos artigos. Os benefícios dos estudos relacionados ao tema já foram comprovados, inclusive para comunicação e conflitos. Há diversas obras sobre o tema, e se você quiser saber mais, acredito que um bom início seja Daniel Goleman, referência absoluta na área e autor do livro Inteligência Emocional (recomendo fortemente a leitura). Goleman define inteligência emocional como “(…)capacidade de identificar os nossos próprios sentimentos e os dos outros, de nos motivarmos e de gerir bem as emoções dentro de nós e nos nossos relacionamentos”. Em sua obra, explora conceitos como autoconhecimento e controle emocional, relacionamentos e também negociação. Se falarmos de negociações empresariais, fusões e aquisições e áreas de compras e vendas, a parte técnica é bastante valorizada, e obviamente tem sua importância. Conhecer os detalhes do produto e dos processos, as operações, questões legais, tributárias e até engenharia ajudará na elaboração dos argumentos. Isso é feito com maestria pelos bons profissionais. Por isso o grande diferencial é a preparação da parte emocional. A negociação de Abílio Diniz durante o conflito societário do Pão de Açúcar e o grupo Casino é um exemplo emblemático. Acredito que ninguém desconfia da experiência e conhecimento do fundador de uma das maiores empresas do Brasil para solucionar uma questão societária. No entanto, devido ao alto stress e uma briga que se arrastou por anos, Abílio teve diversos problemas nas negociações. A solução foi encontrada após a entrada de William Ury. Ury é antropólogo de formação e lida com diversos tipos de negociações, incluindo conflitos civis. Fusões e aquisições não são sua área de expertise, apesar de conhecer do assunto após longos anos de experiência. Sua grande contribuição foi auxiliar Abílio (e a outra parte) a reestabelecer o seu fator emocional, ir atrás dos reais interesses e desenhar uma negociação mais amigável. Então um conflito de anos teve um acordo gerado em poucos dias. Enfim, acredito que dissociar as emoções em conflitos e negociações, além de ser uma utopia — principalmente quando o conflito é com você -, também pode ser contraproducente, pois é uma parte importante do relacionamento que estaria sendo deixada de lado. Desse modo, a chance de se criar acordos melhores diminui, pois faltaria um importante fator a ser levado em consideração. E como lidar com as emoções para que você possa obter um melhor resultado? Em seu curso de Negociação para executivos, Michael Wheeler (professor da Harvard Business School e autor do livro A Arte da Negociação) indica 6 perguntas que ajudam a desenvolver o exercício. O ponto mais importante ao trabalhar as emoções em uma negociação é ser honesto consigo mesmo acerca de suas deficiências, forças e temperamento. Lembrando que esse tipo de preparação não alterará a percepção da outra parte e não o tornará mais vulnerável. É justamente o contrário. O intuito desse preparo é se tornar mais forte para ocasiões em que a negociação fica ainda mais dura, e assim poder se concentrar para atingir o melhor acordo possível. Ao se colocar para pensar nesse processo, você deverá aumentar sua confiança e seu senso de eficácia. Podemos juntar as duas perguntas pois estão relacionadas. Uma ideia é anotar as emoções que você acredita que sejam mais interessantes para que você tenha um melhor desempenho durante o conflito. Pode ser feito tanto num modelo de brainstorming quanto uma análise mais detalhada. Nos exercícios feitos em Harvard, grande parte dos alunos de MBA relatam que querem se sentir tranquilos, relaxados e confiantes. Intuitivamente, as pessoas acreditam que emoções positivas facilitam o acordo. Discutindomais em detalhes, podem surgir questões como estar calmo porém não aparentar complacência, ou até se manter com certa agitação e se sentir atento. Pode-se dizer que há benefícios em unir os sentimentos positivos a estar atento, e balancear esses aspectos para cada situação. 3. O que você pode fazer de antemão para se colocar em seu estado emocional ideal? É muito raro pensarmos em manipular nossas emoções. Porém podemos associar com o estudo de uma prova. A ideia é não estudar no último minuto, que fará surgir uma certa tensão, e sim dar um tempo para descansar e se desestressar. Na negociação pode ser aplicada a mesma atitude. É muito comum recebermos uma ligação de alguém com quem estamos em uma negociação e nosso impulso nos levar à reação, deixando o que estávamos fazendo para entrar naquele conflito. Pode ser uma estratégia para trabalhar as emoções responder àquela ligação com um “que bom que você ligou! Deixe eu apenas terminar este trabalho e já retorno para você”. E então você toma alguns minutos para se estabelecer na situação. Exercícios simples de meditação também podem ajudar, ou até ficar em silêncio por um tempo, para evitar a distração. Focar-se na situação presente é fundamental neste caso. Pense, por exemplo, no caminho ao trabalho, em que ocorrerá uma negociação importante. O trânsito pode tirar seu estado emocional ideal, assim como outros imprevistos. Tenha isso em mente e trabalhe para eliminar tais ocorrências. 4. O que pode abalar seu equilíbrio durante uma negociação? Aqui falamos das feridas emocionais que, se colocadas na situação, podem reduzir seu desempenho na negociação. Os gatilhos responsáveis por isso variam de pessoa para pessoa. O que pode ser extremamente agressivo para um pode ser irrelevante para outro. Alguns negociadores por exemplo demonstram alta paciência no continuar do conflito, enquanto outros se frustram com fato de a conversa se arrastar. Uma sugestão que pode ajudar aqui é o feedback dos amigos e colegas. Aplicar uma leitura honesta de nós mesmos é excelente, porém extremamente difícil — o que definitivamente não inviabiliza a prática. Pessoas que nos vêem atuando podem contribuir com as nossas fraquezas e assim nos preparamos mais adequadamente para contornar a situação. Quantas pessoas não se orgulham do seu autocontrole, e ao mesmo tempo têm desempenho inferior em uma negociação, por falta de paciência ou até excesso de confiança? Este é um exemplo comum de como podemos fazer uma leitura equivocada e como outras pessoas podem nos ajudar nesse trabalho. 5. O que você pode fazer no meio da negociação para restabelecer o equilíbrio? O problema na negociação não depende exclusivamente da ação das outras pessoas. Também compete a como você responde a esta ação. Não podemos controlar o comportamento das outras pessoas, mas de certo modo conseguimos analisar e trabalhar como reagimos às situações. Perder a cabeça pode prejudicar bastante a sua situação, porém não é o único jeito. Se uma negociação se arrasta muito, você pode ficar cansado, perder a concentração por exemplo. Uma dica útil é respirar fundo. Isso deve funcionar como um botão de reiniciar, acionado para interromper um padrão disfuncional que possa ter surgido. Esse é um truque puramente fisico: quando você sente certa tensão ou cansaço, a qualidade da sua respiração cai. então você aumenta a oxigenação do sangue com um simples passo, te colocando novamente no devido lugar para negociar. Outra dica seria mudar o assunto da conversa. Se você reparar que está discutindo um ponto há muito tempo sem resultado, experimente falar sobre princípios gerais, ou outras preocupações tangentes àquela negociação. 6. Como você quer se sentir quando na negociação tiver terminado? Se para esta pergunta você responder “aliviado”, então podemos trabalhar um pouco. É perfeitamente compreensível dado o trabalho e o desgaste da negociação, porém há possibilidade de que você tenha alguns problemas. A apreensão pode trazer as pessoas para a defensiva e manter a mente fechada, e isso pode fazer com que você feche um acordo com pressa ou abandone, mesmo não sendo a melhor saída. Com mais tempo e emoção trabalhada você pode ser mais efetivo. Alguns estudantes do curso respondem a essa pergunta com “satisfeitos”. Isso quer dizer estar satisfeitos com o resultado da negociação e também com o próprio desempenho. Ou porque se mantiveram em equilíbrio durante o processo, ou caso tenham se distanciado, conseguiram retomar esse estado. Negociação e Gestão de Conflitos são temas que evoluíram muito durante os últimos anos. Deixaram de ser tratados como “soft skill” para se tornarem matérias complexas e rigorosamente estudadas e aprimoradas. Incorporar artifícios como Inteligência Emocional, aspectos de Psicologia Social e Comunicação pode ser um grande diferencial para um acordo interessante. E esse estudo sobre aspectos emocionais é um resumo eficiente do que esses temas podem agregar ao seu arsenal. Lembre-se dessas perguntas e acredite: não conseguimos nos livrar do aspecto emocional da negociação. Sendo então inevitável, você pode trabalhá-lo para aumentar os seus resultados em todos os sentidos. 4. COMO LIDAR COM AS FRUSTRAÇÕES - Não há como controlar o que está fora de você, mas é possível manter o autocontrole sobre a forma de reação frente aos problemas. - A energia negativa que surja por conta de fatos incontroláveis ( doenças, demissões, falta de dinheiro, contratos desfeitos etc) pode ser transformada em motivação para uma nova ideia que gera mudança. - A recuperação do fôlego vindo da frustração é mais rápido em uma pessoa com maior capacidade de resiliência. 5. SUGESTÕES BIBLIOGRÁFICAS ALLRED, K. et al. The influence of anger and compassion in negotiation performance. 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