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PRODUÇÃO TEXTUAL I Professora Me. Valéria Adriana Maceis GRADUAÇÃO Unicesumar C397 CENTRO UNIVERSITÁRIO DE MARINGÁ. Núcleo de Educação a Distância; MACEIS, Valéria Adriana. Produção Textual I. Valéria Adriana Maceis. - Reimpressão Maringá - PR.: UniCesumar, 2017. 200 p. “Graduação - EaD”. 1. Texto 2. Textualidade. 3. Coesão Textual 4. EaD. I. Título. ISBN 978-85-8084-648-5 CDD - 22 ed. 469 CIP - NBR 12899 - AACR/2 Ficha catalográfica elaborada pelo bibliotecário João Vivaldo de Souza - CRB-8 - 6828 Reitor Wilson de Matos Silva Vice-Reitor Wilson de Matos Silva Filho Pró-Reitor de Administração Wilson de Matos Silva Filho Pró-Reitor de EAD Willian Victor Kendrick de Matos Silva Presidente da Mantenedora Cláudio Ferdinandi NEAD - Núcleo de Educação a Distância Direção Operacional de Ensino Kátia Coelho Direção de Planejamento de Ensino Fabrício Lazilha Direção de Operações Chrystiano Mincoff Direção de Mercado Hilton Pereira Direção de Polos Próprios James Prestes Direção de Desenvolvimento Dayane Almeida Direção de Relacionamento Alessandra Baron Head de Produção de Conteúdos Rodolfo Encinas de Encarnação Pinelli Gerência de Produção de Conteúdos Gabriel Araújo Supervisão do Núcleo de Produção de Materiais Nádila de Almeida Toledo Supervisão de Projetos Especiais Daniel F. Hey Coordenador de Conteúdo Fabiane Carniel Projeto Gráfico Jaime de Marchi Junior José Jhonny Coelho Editoração Melina Belusse Ramos Revisão Textual Jaquelina Kutsunugi Keren Pardini, Maria Fernanda Canova Vasconcelos Nayara Valenciano Viver e trabalhar em uma sociedade global é um grande desafio para todos os cidadãos. A busca por tecnologia, informação, conhecimento de qualidade, novas habilidades para liderança e so- lução de problemas com eficiência tornou-se uma questão de sobrevivência no mundo do trabalho. Cada um de nós tem uma grande responsabilida- de: as escolhas que fizermos por nós e pelos nos- sos farão grande diferença no futuro. Com essa visão, o Centro Universitário Cesumar assume o compromisso de democratizar o conhe- cimento por meio de alta tecnologia e contribuir para o futuro dos brasileiros. No cumprimento de sua missão – “promover a educação de qualidade nas diferentes áreas do conhecimento, formando profissionais cidadãos que contribuam para o desenvolvimento de uma sociedade justa e solidária” –, o Centro Universi- tário Cesumar busca a integração do ensino-pes- quisa-extensão com as demandas institucionais e sociais; a realização de uma prática acadêmica que contribua para o desenvolvimento da consci- ência social e política e, por fim, a democratização do conhecimento acadêmico com a articulação e a integração com a sociedade. Diante disso, o Centro Universitário Cesumar al- meja ser reconhecido como uma instituição uni- versitária de referência regional e nacional pela qualidade e compromisso do corpo docente; aquisição de competências institucionais para o desenvolvimento de linhas de pesquisa; con- solidação da extensão universitária; qualidade da oferta dos ensinos presencial e a distância; bem-estar e satisfação da comunidade interna; qualidade da gestão acadêmica e administrati- va; compromisso social de inclusão; processos de cooperação e parceria com o mundo do trabalho, como também pelo compromisso e relaciona- mento permanente com os egressos, incentivan- do a educação continuada. Seja bem-vindo(a), caro(a) acadêmico(a)! Você está iniciando um processo de transformação, pois quan- do investimos em nossa formação, seja ela pessoal ou profissional, nos transformamos e, consequente- mente, transformamos também a sociedade na qual estamos inseridos. De que forma o fazemos? Criando oportunidades e/ou estabelecendo mudanças capa- zes de alcançar um nível de desenvolvimento compa- tível com os desafios que surgem no mundo contem- porâneo. O Centro Universitário Cesumar mediante o Núcleo de Educação a Distância, o(a) acompanhará durante todo este processo, pois conforme Freire (1996): “Os homens se educam juntos, na transformação do mundo”. Os materiais produzidos oferecem linguagem dialó- gica e encontram-se integrados à proposta pedagó- gica, contribuindo no processo educacional, comple- mentando sua formação profissional, desenvolvendo competências e habilidades, e aplicando conceitos teóricos em situação de realidade, de maneira a inse- ri-lo no mercado de trabalho. Ou seja, estes materiais têm como principal objetivo “provocar uma aproxi- mação entre você e o conteúdo”, desta forma possi- bilita o desenvolvimento da autonomia em busca dos conhecimentos necessários para a sua formação pes- soal e profissional. Portanto, nossa distância nesse processo de cres- cimento e construção do conhecimento deve ser apenas geográfica. Utilize os diversos recursos peda- gógicos que o Centro Universitário Cesumar lhe possi- bilita. Ou seja, acesse regularmente o AVA – Ambiente Virtual de Aprendizagem, interaja nos fóruns e en- quetes, assista às aulas ao vivo e participe das discus- sões. Além disso, lembre-se que existe uma equipe de professores e tutores que se encontra disponível para sanar suas dúvidas e auxiliá-lo(a) em seu processo de aprendizagem, possibilitando-lhe trilhar com tranqui- lidade e segurança sua trajetória acadêmica. Diretoria Operacional de Ensino Diretoria de Planejamento de Ensino Professora Me. Valéria Adriana Maceis Graduada em Letras - Português/Inglês e também Mestre em Letras, tendo ‘Descrição Linguística’; como linha de pesquisa, pela Universidade Estadual de Maringá. Até o momento, minha maior experência na área é como professora de Língua Portuguesa no Ensino Fundamental II. Recentemente, comecei também a atuar na produção de materiais para o Ensino Superior - na modalidade de Ensino a Distância. A U TO R SEJA BEM-VINDO(A)! Prezado(a) acadêmico(a), gostaria de expressar, antes de mais nada, a minha grande satisfação em apresentar a você o livro que fará parte da disciplina Produção Textual I. Saiba que preparei este material com bastante carinho e dedicação, a fim de que você adquira, amplie e/ou enriqueça seus conhecimentos acerca do processo de produção de textos. No decorrer de todo o livro, preocupei-me em escrever com clareza e diversidade de conteúdo, fazendo uso, sempre que possível, de exemplos, pois a meu ver, estes au- xiliam muito na fixação do que se está estudando. Peço que você procure realizar as suas leituras com atenção e empenho! Interaja com o texto, faça anotações, responda às atividades de autoestudo, anote suas dúvidas, consulte as sugestões de leitura que percorrem todo o texto e, especialmente, realize novas pesquisas sobre os assuntos tra- balhados aqui, já que este material não pode ser encarado como o único e absoluto meio de se estudar e se refletir sobre a produção textual. A primeira unidade do livro, O Texto e a Construção de Sentidos, procura apresentar as possibilidades de definição de um texto, mostrando que sempre produzimos algo tendo em vista um leitor em potencial e que o texto, em suma, refere-se a um conjunto coerente de enunciados, um evento comunicativo que sempre tem uma intenção e que nunca deixa de produzir uma ação, seja ela linguística, social ou cognitiva. Apresento também, nesta primeira unidade, maneiras de se realizar leitura em sala de aula, expondo tipos, conceitos e estratégias de leitura, tudo isso para poder dar suporte para o seu trabalho em sala de aula, como professor(a) de Língua Portuguesa. Além da leitura, é claro que eu também não poderia deixar de trazer apontamentos re- levantes acerca da produção textual em sala de aula. Destacando a visão interacionista da linguagem, quero deixar claro para você, futuro(a) educador(a), a importânciade que seu aluno saiba o quê, porquê e para quem ele escreve. Ao fim desta primeira unidade, agasalhando-me, sobretudo, nas postulações teóricas publicadas por José Wanderley Geraldi, linguista e professor que muito se interessa pelo ensino de Língua Portuguesa, apresento interessantes sugestões de atividades para o trabalho com o texto em sua prática docente. Seguindo com sua leitura, você conhecerá, ou então, se já conhece, enriquecerá seu saber acerca dos fatores de textualidade. Você sabe do que se trata a intencionalidade, a aceitabilidade, a situacionalidade e a informatividade de um texto? São estes os fatores que serão expostos e discutidos na segunda unidade do livro, intitulada Investigação dos Fatores de Textualidade. Além deles, apresentarei também um fenômeno de nossa língua que muito me instiga ao estudo. Antes de citá-lo, convido você a observar a ima- gem a seguir: APRESENTAÇÃO PRODUÇÃO TEXTUAL I Ilustração: Nara Emi Tanaka Yamashita Ela te remeteu a outra imagem? Se não, não tem problema! Mas, se sim, você aca- bou de lê-la intertextualmente. Tal imagem retoma uma clássica foto da famosa banda de rock britânica The Beatles. Vamos a ela: Fonte: <http://www.thebeatles.com/#/albums/Abbey_Road> Estou falando do fenômeno da intertextualidade, a qual se refere à criação de textos a partir de outros já existentes. Tal fator será estudado ao fim da segunda unidade. Agora, leia o poema a seguir: Subi a porta e fechei a escada. Tirei minhas orações e recitei meus sapatos. Desliguei a cama e deitei-me na luz. APRESENTAÇÃO APRESENTAÇÃO 09 Tudo porque Ele me deu um beijo de boa noite... (Anônimo). Você acha que ele pode ser considerado um texto coerente? Procuro responder a essa pergunta ao chegarmos à terceira unidade do livro, a qual tem como título Orientação Sobre Paragrafação, Coesão e Coerência Textuais. Nesta, inicialmente, discuto importantes aspectos de um texto: a coesão e a coerência textuais. Desejo que o estudo destes conceitos fortaleça não só a sua própria produção escrita, mas também dê suporte ao seu trabalho como professor(a) que mediará o desenvolvi- mento da produção de textos de seus futuros alunos. Além da coesão e coerência textuais, reservei espaço, na terceira unidade, para tra- tar da paragrafação e da correção de textos. Quando começar a atuar como pro- fessor(a), você, provavelmente, deparar-se-á com textos, muitas vezes, de cerca de 20 linhas e escritos em um único parágrafo. A fim de dar condições para que você auxilie alunos que praticam este tipo de paragrafação, considerada inadequada, proponho o estudo da construção de parágrafos, uma vez que estes, quando bem estruturados, facilitam a leitura e compreensão de textos. Antes de concluir a Unidade III, pontuo, como já mencionei no parágrafo anterior, al- gumas considerações relevantes acerca da correção de textos. Meu objetivo maior, nesta seção, é mostrar-lhe o quanto as estratégias de correção utilizadas pelo pro- fessor podem interferir em uma produção escrita eficiente por parte dos alunos. Encerrando a terceira unidade, encerro também as reflexões voltadas a assuntos que permeiam a sua futura prática docente, já que, como você poderá observar, na quarta unidade do livro, sob o título Reflexão Sobre Resumo, Paráfrase e Resenha, atenho-me à sua produção escrita, mais especificamente à produção de gêneros textuais acadêmicos. Minha intenção, ao propor temas relacionados à sua escrita dentro da faculdade, é auxiliá-lo(a) em sua produção como aluno(a) de graduação, pois, sem dúvidas, vez ou outra, você será convocado(a) a produzir resumos e resenhas e também, em muitos casos, terá de recorrer à paráfrase. Falando nisso, você consegue distinguir quando um texto é resumo e quando se trata de resenha? E parafrasear textos, você já usou esta prática? É apropriada ou não? São questões como estas que serão dis- cutidas na quarta unidade do livro! Não deixe de conferir! Por fim, tendo em vista as dificuldades que os alunos, em geral, encontram quando são solicitados a escrever textos acadêmicos, continuo na quinta e última unidade do livro, intitulada Análise dos Gêneros Textuais Acadêmicos, oferecendo apoio e aporte teórico no que diz respeito à produção de gêneros textuais próprios do en- sino superior, desta vez, ainda mais voltados à pesquisa científica. Exponho dicas e sugestões referentes à preparação inicial para a escrita acadêmica; à busca de temas relevantes; à formulação de perguntas de pesquisa; a situações de produção dos APRESENTAÇÃO textos científicos; à escolha de título e à divisão das partes do trabalho: introdução, desenvolvimento e conclusão. Objetivo também, nesta última unidade, contribuir com a ampliação de seu conhe- cimento no que diz respeito a resumo/abstract – um tipo de resumo não abordado na unidade anterior – e à apresentação das regras de construção de artigos científi- cos, textos estes muito comuns no meio acadêmico. Para encerrar a unidade V, trago breves, mas não menos importantes considerações sobre Monografias, Dissertações e Teses, expondo distinções entre elas, trazendo as características particulares de cada um destes textos científicos. Acredito sinceramente que este livro pode contribuir, de maneira significativa, não só em sua vida acadêmica, mas também na melhoria de sua escrita e na de seus futuros alunos. Porém, é válido ressaltar que toda a teoria apresentada aqui não esgota o assunto voltado à produção textual. Portanto, busque outras fontes de co- nhecimento e queira sempre ser o(a) MELHOR que puder ser! Fique com o meu abraço e com meu sincero desejo de que você tenha muito suces- so em seus estudos e em seu futuro profissional! Professora Valéria Adriana Maceis SUMÁRIO 11 UNIDADE I O TEXTO E A CONSTRUÇÃO DE SENTIDOS 17 Introdução 18 Mas, afinal, o que é um Texto? 22 A Leitura de Textos 29 A Produção de Textos 33 Como se Trabalhar na Sala de Aula? 39 Considerações Finais UNIDADE II INVESTIGAÇÃO DOS FATORES DE TEXTUALIDADE 47 Introdução 49 A Intencionalidade 51 A Aceitabilidade 54 A Situacionalidade 58 A Informatividade 60 A Intertextualidade 76 Considerações Finais SUMÁRIO UNIDADE III ORIENTAÇÃO SOBRE PARAGRAFAÇÃO, COESÃO E COERÊNCIA TEXTUAIS 85 Introdução 86 Coesão Textual 104 Coerência Textual 109 A Construção do Parágrafo 118 A Correção Textual 121 Considerações Finais UNIDADE IV REFLEXÃO SOBRE RESUMO, PARÁFRASE E RESENHA 127 Introdução 128 Como Produzir um Resumo? 134 O Conceito de Resenha 147 Paráfrase: A Recriação de um Texto 154 Considerações Finais SUMÁRIO 13 UNIDADE V ANÁLISE DOS GÊNEROS TEXTUAIS ACADÊMICOS 161 Introdução 162 Conceitos e Especificidades dos Gêneros Textuais Acadêmicos 168 O Resumo/Abstract 174 O Artigo Científico 186 Breves Considerações sobre Monografias, Dissertações e Teses 192 Considerações Finais 195 CONCLUSÃO 199 REFERÊNCIAS U N ID A D E I Professora Me. Valéria Adriana Maceis O TEXTO E A CONSTRUÇÃO DE SENTIDOS Objetivos de Aprendizagem ■ Analisar as possibilidades de definição de um texto. ■ Compreender as questões relativas à produção de sentidos de um texto. ■ Entender a importância do trabalho com a leitura e com a produção textual em sala de aula. ■ Conhecer certas estratégias de trabalho, tanto voltadas à leitura quanto à produção de textos, para as aulas de Língua Portuguesa. Plano de Estudo A seguir, apresentam-se os tópicos que você estudará nesta unidade: ■ Mas, afinal, o que é um texto? ■ A leitura de textos ■ A produção de textos ■ Como se trabalhar na sala de aula? INTRODUÇÃO “As palavras formam os fios com os quais tecemos nossasexperiências”. Aldous Huxley Caro(a) aluno(a), nesta primeira unidade, você estudará questões de grande impor- tância para sua vivência profissional, como professor(a) de Língua Portuguesa, sobretudo, no que diz respeito às aulas voltadas à produção de textos. Nesta uni- dade, procuro apresentar as possibilidades de definição daquele que é o objeto central de análise e estudo da disciplina de Produção Textual, ou seja, o texto. Baseando-se na afirmação de Bahktin (1929): “A palavra é produto da relação recíproca entre falante e ouvinte, emissor e receptor”, de modo geral, explicarei que o texto é entendido como uma forma de interação social, na qual alguém sempre diz algo a outro alguém. Com as informações contidas nesta unidade, queremos que você, aluno(a), já na posição de futuro(a) professor(a) de Língua Portuguesa, compreenda que, atual- mente, as crianças e os jovens presentes nos bancos escolares, além de serem capazes de reconhecer os diferentes gêneros textuais que permeiam nossa linguagem, preci- sam também saber o quê, o porquê e para quem eles escrevem. Uma medida clássica a qual se tem mostrado ainda de grande valia para a produ- ção de um texto de qualidade, é o estímulo à leitura – ler muito e revisar com precisão continuam sendo as ferramentas mais eficazes na construção de uma sequência ver- bal escrita com coerência, com coesão e com adequação. Você terá acesso também, nesta unidade, a sugestões e estratégias de como se trabalhar com o texto em sala de aula, afinal, a preparação e o planejamento do professor são muito importantes para que se alcance um resultado positivo no processo de ensino-aprendizagem. Com discussão, reflexão e entendimento das informações contidas nesta primeira unidade, espero poder colaborar com sua formação acadêmica e, con- sequentemente, com seu trabalho como professor(a) de Língua Portuguesa, sobretudo, no que tange às atividades referentes à produção textual de seus futu- ros alunos. Introdução Re pr od uç ão p ro ib id a. A rt . 1 84 d o Có di go P en al e L ei 9 .6 10 d e 19 d e fe ve re iro d e 19 98 . 17 O TEXTO E A CONSTRUÇÃO DE SENTIDOS Reprodução proibida. A rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. IU N I D A D E18 MAS, AFINAL, O QUE É UM TEXTO? “Se quisermos traçar uma especificidade para o ensino de Língua Por- tuguesa, é no trabalho com textos que a encontraremos. Ou seja, o es- pecífico da aula de português é o trabalho com textos”. João Wanderley Geraldi Geraldi (1997) define o texto escrito como uma sequência verbal coerente que forma um todo acabado, definitivo e publicado. E, para reiterar sua definição, o autor apresenta alguns apontamentos. Segundo ele, esta sequência verbal (o texto): a. constrói-se em uma relação entre um eu e um tu. b. opera com elementos que, sozinhos, são insuficientes para produzir um sentido fixo. c. inevitavelmente tem um significado, construído na produção e na leitura, resultado das múltiplas estratégias possíveis de interpretação comparti- lhadas por uma comunidade linguística, a que apelam tanto autor quanto leitor. Uma mera justaposição de sequências verbais escritas não chega a formar um texto; coerência e elementos de coesão na maioria das vezes são necessários para que se construa(m) o(s) sentido(s) de um texto. Além disso, é imprescindível que haja uma relação de interação entre o emissor e o receptor do texto. Mas, afinal, o que é um Texto? Re pr od uç ão p ro ib id a. A rt . 1 84 d o Có di go P en al e L ei 9 .6 10 d e 19 d e fe ve re iro d e 19 98 . 19 Apresentarei, a seguir, um breve histórico desenvolvido por Koch (2008), refe- rente às maneiras como o texto já fora visto no decorrer dos estudos linguísticos. De acordo com Koch (2008), desde as origens da Linguística do Texto até nossos dias, o texto foi encarado de diferentes formas. PRIMEIRAMENTE, FOI CONCEBIDO COMO: unidade linguística (do sistema) superior à frase; sucessão ou combinação de frases; cadeia de pronominalizações ininterruptas; cadeia de isotopias; complexo de proposições semânticas. POSTERIORMENTE, COM AS ORIENTAÇÕES DE NATUREZA PRAGMÁTICA, PASSOU A SER VISTO: pelas teorias acionais, como uma sequência de atos de fala; pelas vertentes cognitivistas, como fenômeno primariamente psíquico, resulta- do, portanto, de processos mentais; e pelas orientações que adotam por pressuposto a teoria da atividade verbal, como parte de atividades mais globais de comunicação, que vão muito além do texto em si, já que este constitui apenas uma fase desse processo global. Fonte: baseado em Koch (2008, pp. 25-26) E, então, após percorrer as diferentes formas pelas quais o texto já fora visto, Koch (2008) defende a seguinte propriedade definidora de um texto: O texto se constitui enquanto tal no momento em que os parceiros de uma atividade comunicativa global, diante de uma manifestação lin- guística, pela atuação conjunta de uma complexa rede de fatores de or- dem situacional, cognitiva, sociocultural e interacional, são capazes de construir, para ela, determinado sentido (KOCH, 2008, p. 30). Para a autora, essa concepção de texto está submetida à visão de que o sentido não está no texto, mas se constrói a partir dele, no processo de interação. Segundo Costa Val (1991), um texto será bem compreendido quando ava- liado sob três aspectos: a. o pragmático, que tem a ver com seu funcionamento em termos de atu- ação informacional e comunicativa; O TEXTO E A CONSTRUÇÃO DE SENTIDOS Reprodução proibida. A rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. IU N I D A D E20 b. o semântico-conceitual, de que depende sua coerência; c. e o formal, que diz respeito à sua coesão. Analisando várias possibilidades de definição de texto, apresentadas pelos mais diversos autores, além destes citados aqui, elaborei uma que, a meu ver, está pre- sente, de um modo ou de outro, em todas estas possibilidades estudadas. Vamos a ela: o texto, em suma, seja ele oral ou escrito1, diz respeito a uma unidade lin- guística de interação social, na qual alguém sempre diz algo a outro alguém. É preciso que fique claro para você, aluno(a), que a função primordial de um texto é estabelecer uma comunicação entre estes dois sujeitos: produtor e destinatário. Leia esta importante afirmação de Geraldi: O outro é a medida: é para o outro que se produz o texto. E o outro não se inscreve no texto apenas no seu processo de produção de sentidos na leitura. O outro insere-se já na produção, como condição necessária para que o texto exista (1997, p. 102). Tal afirmação reitera a relevância do receptor/destinatário ou, simplesmente, leitor de um texto. Outro ponto importante a ser destacado refere-se à constituição de um texto: ele pode ser formado por uma palavra, uma frase ou por um conjunto maior de enunciados. Os textos, portanto, têm extensão variável. O que eles, obrigatoria- mente, necessitam é de um contexto significativo para existir, uma vez que toda unidade linguística, para ser considerada um texto, precisa ser percebida pelo destinatário como um todo significativo. Para que fique ainda mais claro para você o conceito de texto, decidi expor, a seguir, o exemplo de Nery (2005), que, a meu ver, é bem esclarecedor neste sentido. 1 Embora eu tenha plena ciência de que ao se dar destaque à escrita não se deve abandonar a fala, é importante destacar que, nesta disciplina de Produção Textual I, dedicar-nos-emos mais aos textos da modalidade escrita. Mas, afinal, o que é um Texto? Re pr od uç ão p ro ib id a. A rt . 1 84 d o Có di go P en ale L ei 9 .6 10 d e 19 d e fe ve re iro d e 19 98 . 21 Pense nas duas seguintes situações: I. Você foi visitar um amigo que está hospitalizado e, pelos corredores, você vê placas com a seguinte palavra: SILÊNCIO! II. Você está andando por uma rua, a pé, e vê um pedaço de papel, jogado no chão, onde está escrito: OURO. Em qual das situações uma única palavra pode constituir um texto? Na situação I, a palavra “Silêncio” está dentro de um contexto significativo por meio do qual as pessoas interagem: você, como leitor das placas, e os administradores do hos- pital, que têm a intenção de comunicar a necessidade de haver silêncio naquele ambiente. Assim, a palavra “Silêncio” é um texto. Na situação II, a palavra “Ouro” não é um texto. É apenas um pedaço de papel encontrado na rua por alguém. A palavra “Ouro”, na circunstância em que está, quer dizer o quê? Não há como saber. Mas e se a palavra “Ouro” estiver escrita em um cartaz pendurado nas costas de um daqueles homens que ficam nas esquinas do centro das cidades grandes que anunciam a compra de ouro? Aí sim, nessa situação, a palavra “Ouro” constitui um texto, porque se encontra em um contexto significativo em que alguém quer dizer algo para outra pessoa (no caso, vender/comprar ouro) e, então, anuncia isso. Disponível em: <http://educacao.uol.com.br/disciplinas/portugues/texto-voce-sabe-qual-o-conceito.htm>. Acesso em: 21 abr. 2013. Este exemplo proposto por Nery (2005) evidencia, com clareza, que para ser con- siderado texto, uma sequência verbal (palavras) precisa formar um todo que tenha sentido para um determinado grupo de pessoas em uma determinada situação. Espero que, com as informações expostas e com o exemplo citado, eu tenha auxiliado em seu entendimento sobre o que vem a ser um texto, visto que meu objetivo aqui é evidenciar a importância de se entender este conceito para que, depois, você possa trabalhá-lo das mais diversas formas com seus futuros alu- nos. Continue estudando! Nas seções que seguem, há informações relevantes sobre a leitura e a produção de textos – processos que não podem ser desvincu- lados no trabalho em sala de aula. O TEXTO E A CONSTRUÇÃO DE SENTIDOS Reprodução proibida. A rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. IU N I D A D E22 A LEITURA DE TEXTOS “A leitura torna o homem completo; a conversação torna-o ágil; e o escrever dá-lhe precisão”. Francis Bacon Primeiramente, acredito ser importante para você saber o que os Parâmetros Curriculares Nacionais orientam no que diz respeito à leitura: A leitura é o processo no qual o leitor realiza um trabalho ativo de com- preensão e interpretação do texto, a partir de seus objetivos, de seu co- nhecimento sobre o assunto, sobre o autor, de tudo o que sabe sobre a linguagem etc. Não se trata de extrair informação, decodificando letra por letra, palavra por palavra. Trata-se de uma atividade que impli- ca estratégias de seleção, antecipação, inferência e verificação, sem as quais não é possível proficiência (BRASIL, 1998, p.69). Para Geraldi (2004), a leitura é um processo de interlocução entre leitor/autor mediado pelo texto. O autor acredita que o movimento de produção e leitura, as quais precisam estar integradas, é para nós um movimento que vem da produção para a leitura e desta retorna à produção. Geraldi (2004) destaca também quatro possíveis posturas de leitores ante o texto: Nestas sugestões de leitura abaixo, você encontrará mais informações acer- ca da definição de texto. Na primeira, há conceitos breves, mas coerentes, com relação ao texto, seus fatores e características, além de explicações so- bre suas sequências e tipos textuais. No segundo link listado, você terá aces- so também a definições do que é texto e a demais informações sobre tipos deste. Vale a pena conferir! <http://www.infoescola.com/linguistica/texto/>. <http://www.colegioweb.com.br/vestibular/o-que-e-texto.html>. A Leitura de Textos Re pr od uç ão p ro ib id a. A rt . 1 84 d o Có di go P en al e L ei 9 .6 10 d e 19 d e fe ve re iro d e 19 98 . 23 I. A leitura “busca de informações” – nesta, o objetivo do leitor é extrair do texto alguma informação pontual. Segundo o autor, aqui, o leitor está em busca de uma resposta, vem, portanto, ao texto a fim de perguntar, “fazer uma pergunta” ao texto. II. A leitura “estudo do texto” – neste tipo de leitura, o leitor quer não mais perguntar, mas sim “escutar” o texto. Aqui ele não está em busca de uma resposta particular, como na leitura anteriormente citada; ele quer reti- rar do texto tudo o que este possa oferecer. Segundo o autor, este tipo de leitura tem sido até mais praticada em aulas de outras disciplinas do que nas aulas de Língua Portuguesa. III. A leitura “pretexto” – nesta, o leitor não está a fim de fazer uma per- gunta específica ao texto, tampouco veio até ele para “escutá-lo”; o que ele deseja com esta leitura é usá-la na produção de outras obras, outros tex- tos. Sendo, por esta razão, denominada de leitura “pretexto”. IV. A leitura “fruição do texto” – por fim, neste tipo de leitura, não se quer perguntar ao texto, nem escutá-lo, muito menos usá-lo como pretexto, o que se quer é ler por ler, gratuitamente. Segundo Geraldi (2004), motivada pelo sistema capitalista, a escola, infelizmente, exclui este tipo de ativi- dade em que somente a fruição e o prazer de ler prevalecem. Qualquer atividade precisa, de alguma maneira, render algo. É válido mencionar que, assim como esclarece Geraldi (2004), essas são ape- nas quatro das várias possibilidades que os leitores têm de adentrar um texto. No que diz respeito à compreensão de um texto, gostaria de citar uma inte- ressante afirmação de Marcuschi (2008): Compreender bem um texto não é uma atividade natural nem uma herança genética; nem uma ação individual isolada do meio e da so- ciedade em que se vive. Compreender exige habilidade, interação e tra- balho. Na realidade, sempre que ouvimos alguém ou lemos um texto, entendemos algo, mas nem sempre essa compreensão é bem-sucedida. Compreender não é uma ação apenas linguística ou cognitiva. É muito mais uma forma de inserção no mundo e um modo de agir sobre o mundo na relação com o outro dentro de uma cultura e uma sociedade (pp. 229-230). Fica-nos claro, com esta afirmação, que a compreensão de um texto depende não só de fatores internos do texto, como também externos, tais como a vivência O TEXTO E A CONSTRUÇÃO DE SENTIDOS Reprodução proibida. A rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. IU N I D A D E24 de mundo do leitor, seus conhecimentos prévios, o contexto situacional em que está ele inserido, entre outros. Enfim, percebe-se que a leitura tornou-se uma verdadeira atividade social. Acredito ser relevante expor também, ainda que de forma breve, aqui nesta seção, os conceitos de leitura que permeiam o ensino nas escolas brasileiras. É sabido que vários conceitos de leitura perpassam as salas de aula. Com base em Menegassi e Angelo (2005), apresentarei, sinteticamente, apenas aqueles consi- derados principais, uma vez que para você, futuro(a) professor(a), um mínimo de conhecimento de tais conceitos faz-se necessário. Segundo Menegassi e Angelo (2005), “coexistem”, na prática escolar, dife- rentes perspectivas de leitura. São elas: ■ A perspectiva do texto: tal perspectiva, de modo geral, considera um modelo de processamento ascendente (bottom-up, em inglês, como tam- bém é conhecido), ou seja, um processamento que vai do texto para o leitor. Em outras palavras, levando-se em conta a posição em que o texto, normalmente, encontra-se – abaixo dos olhos – é como se as palavras ascendessem, “subissem”até o leitor. Nesta visão, parece haver uma deco- dificação dos signos. O leitor parte dos níveis inferiores do texto para chegar até os superiores (primeiro, as letras, que formam as palavras, as quais, por sua vez, formam as frases e estas os parágrafos). ■ A perspectiva do leitor: ao contrário da perspectiva anterior, nesta defen- de-se que o sentido é construído de modo descendente (top-down), ou seja, vai do leitor ao texto. Nesta modalidade, o alcance dos significados não se realiza “palavra por palavra”; eles são garantidos por meio dos conhecimentos prévios do leitor. Estudiosos guiados pela psicologia cog- nitivista são os que mais defendem essa perspectiva. ■ A perspectiva da interação leitor-texto: nesta perspectiva, na busca do significado, ocorre a inter-relação entre procedimentos ascendentes (perspectiva do texto) e procedimentos descendentes (perspectiva do leitor). Integram-se as informações da página impressa com as infor- mações que o leitor traz para o texto. Esta perspectiva defende que o significado do texto torna-se acessível por meio da interação texto-leitor. A Leitura de Textos Re pr od uç ão p ro ib id a. A rt . 1 84 d o Có di go P en al e L ei 9 .6 10 d e 19 d e fe ve re iro d e 19 98 . 25 ■ A perspectiva discursiva: em tal perspectiva, não se lê um texto como texto, mas como discurso; leva-se em conta as condições de produção deste. Esta perspectiva interessa-se em explicitar os movimentos, o per- curso que o sujeito faz para ler da maneira que lê. Mesmo com uma exposição sucinta das perspectivas de leitura, estudadas a fundo por Menegassi e Angelo (2005), consegue-se perceber que os pressupos- tos teóricos que subsidiam cada uma delas distinguem a maneira como se lê os textos. Além disso, apresentam propostas didáticas distintas no que tange à compreensão da escrita, à formação e ao desenvolvimento do leitor nos bancos escolares de todo país. Em outro artigo, Menegassi (2005) discorre a respeito de estratégias de lei- tura. Considero de grande importância para você, professor(a) em formação, o conhecimento destas estratégias. Com isto, apresento a seguir os procedimentos que, segundo Menegassi (2005), são utilizados consciente ou inconscientemente pelo leitor a fim de se decodificar, compreender e interpretar o texto e, desta forma, resolver os possíveis problemas que são encontrados durante a leitura. Antes de ter acesso a tais estratégias, leia a seguinte afirmação de Menegassi (2005): O trabalho com estratégias de leitura no Ensino Fundamental é ex- tremamente relevante para a formação de um leitor competente, que consiga ler qualquer texto da sociedade, compreendê-lo e fazer uso de seus conhecimentos para conseguir transitar pelo corpo social em que convive (p.77). Tal afirmação só vem a reforçar a importância das estratégias de leitura para que o aluno consiga ler, analisar e refletir sobre um texto dentro e fora dos muros da escola. Vamos a elas então. Seleção, antecipação, inferência e verificação correspondem às quatro estra- tégias as quais devem ser desenvolvidas com os alunos. Tais estratégias são consideradas fundamentais para que se inicie o processo de compreensão de um texto. De forma breve, exponho a seguir a definição de cada uma delas. O TEXTO E A CONSTRUÇÃO DE SENTIDOS Reprodução proibida. A rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. IU N I D A D E26 SELEÇÃO Esta estratégia diz respeito à ação, desempenhada pelo leitor, de concentrar-se apenas naquilo que é útil para sua compreensão do texto; é preciso, portanto, que o leitor despreze aqueles itens considerados irrelevantes em sua leitura. ANTECIPAÇÃO Nesta estratégia, o leitor emite prognósticos sobre o texto lido, chegando-se, com isto, à antecipação do conteúdo. Ao realizar sua leitura, o leitor, por meio dos implícitos e explícitos presentes no texto, projeta hipóteses e previsões sobre os sentidos e/ou significados constantes em determinada sequência verbal escrita. É válido mencionar que tais antecipações emitidas pelo leitor podem ou não se confirmar. INFERÊNCIA Esta estratégia remete ao conhecimento prévio do leitor. Segundo Menegassi (2005), esta estratégia refere-se a ações que unem o conhecimento que não está explícito no texto, porém possível de ser captado, com o conhecimento que o leitor tem sobre o assunto. Ao ler um texto, o leitor aciona os acontecimentos prévios que tem armazenado em sua memória sobre o tema (MENEGASSI, 2005, p. 81). E, com isto, uma nova informação é construída. Esta ativação do conhecimento prévio lembrou-me do que Koch (2008) apresenta sobre o dado e o novo. O dado, a meu ver, equivale ao conhecimento prévio citado aqui. Segundo a autora: a estrutura informacional de um texto exige a presença de elementos dados e elementos novos. É com base na informação dada, responsável pela locação do que vai ser dito no espaço cognitivo do interlocutor, que se introduz a informação nova, que tem por função introduzir nele novas predicações a respeito de determinados referentes, com o objeti- vo de ampliar e/ou reformular os conhecimentos já estocados a respei- to deles (KOCH, 2008, p.38). A Leitura de Textos Re pr od uç ão p ro ib id a. A rt . 1 84 d o Có di go P en al e L ei 9 .6 10 d e 19 d e fe ve re iro d e 19 98 . 27 Vamos à próxima estratégia! VERIFICAÇÃO A verificação diz respeito ao momento em que o leitor confirmará ou não as hipóteses e inferências que projetou durante sua leitura. Esta confirmação ou não se constrói no processamento da leitura do texto. Quanto mais antecipações e inferências confirmadas, mais o leitor vai vendo sentido no texto lido. Se, por acaso, elas não venham a se confirmar, ficará a cargo do leitor procurar mudar suas estratégias, não desistindo de alcançar uma leitura de sucesso. A seguir, há um apanhado do que Menegassi (2005) e Solé (1998) dissertam acerca das estratégias de compreensão: antes, durante e após a leitura. Creio que, levando-se em conta estas, juntamente com as estratégias ante- riormente apresentadas, consegue-se auxiliar o leitor no alcance da produção de sentidos e da compreensão eficiente de um texto. Primeiramente, tratarei, então, das estratégias trabalhadas antes da leitura. Em suma, nesta etapa, orienta-se o professor a motivar os alunos a “entrar” na leitura, utilizando, por exemplo, textos que possam oferecer certos desafios ao estudante. Segundo Solé (1998), Isto se consegue planejando bem a tarefa de leitura e selecionando com critério os materiais que nela serão trabalhados, tomando decisões so- bre ajudas prévias de que alguns alunos possam necessitar, evitando situações de concorrência entre as crianças e promovendo, sempre que possível, aquelas situações que abordem contextos de uso real, que in- centivem o gosto pela leitura e que deixem o leitor avançar em seu pró- prio ritmo para ir elaborando sua própria interpretação – situações de leitura silenciosa, por exemplo (p.92). Além disso, a autora acrescenta ainda que é importante propor objetivos para a leitura e explicar para o aluno a(s) finalidade(s) de ler determinado texto. Solé (1998) aponta a relevância dos conhecimentos prévios dos alunos. Tais conhecimentos precisam ser ativados também antes da leitura. Semelhante ao que vimos na estratégia de leitura antecipação, orienta-se O TEXTO E A CONSTRUÇÃO DE SENTIDOS Reprodução proibida. A rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. IU N I D A D E28 também que, antes da leitura, sejam estabelecidas previsões sobre o texto: “do que será que o texto tratará?”. Por fim, antes de iniciar a leitura,sugere-se que o professor solicite aos alu- nos a formulação de perguntas sobre o texto. Com isto, os alunos não só estão utilizando o seu conhecimento prévio sobre o tema, mas também – talvez sem terem essa intenção – conscientizando-se do que sabem e do que não sabem sobre esse assunto. Além do mais, assim, adquirem objetivos próprios, para os quais tem sentido o ato de ler (SOLÉ, 1998, p. 110). Tratarei agora dos procedimentos a serem executados durante a leitura. Você verá que alguns deles, inclusive, também estão presentes entre as estraté- gias sugeridas para serem realizadas antes da leitura. Durante a leitura, de modo geral, indica-se o desenvolvimento de estraté- gias, que devem ocorrer concomitante e recursivamente, tais como: formulação de previsões; formulação de perguntas; esclarecimento de dúvidas; resumo de ideias; avaliação do caminho percorrido e realização de novas previsões; e rela- cionamento da nova informação adquirida do texto ao conhecimento prévio armazenado. Para o momento após a leitura, em resumo, destaca-se como estratégia rele- vante a identificação da(s) ideia(s) principal(s) do texto lido. Desta maneira, o professor pode confirmar ou não a compreensão do texto por parte do leitor. Menegassi (2005) afirma que, para se chegar à ideia principal, o leitor pode, por exemplo: sublinhar partes do texto que achar importante; grifar palavras relevantes, que aparecem mais de uma vez no texto e que talvez tenham muito a ver com a ideia central do texto; fazer anotações breves ao fim de cada parágrafo, resumindo-os; distinguir, dentro dos parágrafos, os exemplos das explicações. Tais procedimentos, sem dúvida, ajudarão o leitor a identificar a ideia princi- pal de um texto. O autor acredita também que: Além disso, o leitor pode produzir, ao final da leitura, um resumo es- crito, que pode ser construído a partir do emprego da estratégia de for- mular e responder perguntas. Todas essas estratégias são produzidas depois da leitura, colocando o leitor em situação de trabalho com o texto (MENEGASSI, 2004, p.96). A Produção de Textos Re pr od uç ão p ro ib id a. A rt . 1 84 d o Có di go P en al e L ei 9 .6 10 d e 19 d e fe ve re iro d e 19 98 . 29 Estratégias de leitura Isabel Solé Editora: Artmed Sinopse: Enfatizando sempre que o ato de ler é um processo complexo, a autora, utilizando um texto simples e agradável, explicita-o dentro de uma perspectiva construtivista da aprendizagem. Prezado(a) aluno(a), acredito que todas as informações contidas nesta seção auxiliarão o seu trabalho com a leitura de textos em sala de aula. Cabe a nós, professores, mediar a leitura de nossos alunos, mostrando o por- quê que ler um texto é importante; o porquê de a leitura ser necessária, além, é claro, ensinar-lhes as estratégias de leitura e compreensão que colaborarão para um bom entendimento do texto. Apresento a seguir considerações importantes acerca da produção de tex- tos. Não deixe de estudá-las! A PRODUÇÃO DE TEXTOS “A escrita da criança não resulta de simples cópia de um modelo exter- no, mas é um processo de construção pessoal”. Emilia Ferreiro Segundo Koch (2008), o processo de produção textual, no quadro das teorias sociointeracionais da linguagem, é concebido como atividade interacional de sujeitos sociais, tendo em vista a realização de determinados fins. Voltando-se também à teoria da atividade verbal, a autora afirma que os estudos linguísticos, analisando o processo de construção de um texto, buscam a verificação de “como se conseguem realizar determinadas ações ou interagir socialmente através da linguagem (que é, em essência, também a preocupação da teoria dos atos de fala de Austin e Searle)” (KOCH, 2008, p.13). O TEXTO E A CONSTRUÇÃO DE SENTIDOS Reprodução proibida. A rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. IU N I D A D E30 A autora defende a posição de que, ao produzirmos um texto, realizamos uma atividade verbal para alcançar determinados propósitos sociais. E o con- texto em que realizamos tal atividade será determinante para o seu sucesso. Koch (2008) acrescenta ainda que, quando produzimos um texto, desenvol- vemos uma ação consciente, criativa, que compreende a escolha de estratégias concretas e dos meios adequados à realização de nossos objetivos com a escrita. Vale ressaltar que, por meio da manifestação verbal, realizamos, assim, uma atividade intencional em que o falante, em conformidade com as condições sob as quais o texto é construído, tenta fazer o leitor entender os propósitos de sua produção escrita. Prezado(a) aluno(a), é preciso que fique bem claro para você que, hoje, ao produzir textos, crianças e adolescentes têm de saber: I. o que querem dizer; II. para quem escrevem e III. qual é o gênero que melhor exprime essas ideias. Afirmo isto porque antigas propostas de escrita focavam somente nos tipos de texto: narração, descrição e dissertação. Desta forma, nenhum estudante apren- dia a considerar quem seriam seus leitores e, então, quando escreviam um texto, dificilmente eles refletiam sobre a melhor estratégia para organizar suas ideias e colocá-las no papel. Geraldi (2004) acredita que o ensino da Língua Portuguesa precisa base- ar-se em três práticas interligadas: a leitura de textos, a produção de textos e a análise linguística. Para este autor, atividades sem um destinatário específico fogem totalmente ao sentido de uso da língua, pois, nestas situações, os alunos escrevem para o professor (único leitor, quando lê os textos). A situação de emprego da língua é, pois, artificial. Afinal, qual a graça em escrever um texto que não será lido por ninguém, ou que será lido apenas por uma pessoa (que, por sinal, corrigirá o texto e dará nota para ele) (GERALDI, 2004, p. 65). Fica-nos clara a importância de que nossos alunos vejam sentido na pro- posta de escrita que nós, professores, queremos que eles produzam. A Produção de Textos Re pr od uç ão p ro ib id a. A rt . 1 84 d o Có di go P en al e L ei 9 .6 10 d e 19 d e fe ve re iro d e 19 98 . 31 Ao ver sentido nessas atividades, o aluno interage com o professor. E, em se tratando deste processo de interação em sala de aula, a partir de abordagem de textos, considero importante citar o que Menegassi (2004) disserta sobre o assunto, uma vez que a interação em sala de aula é um dos objetos de estudo deste autor. Para tal professor, estudioso da área de Linguística Aplicada, O trabalho com a produção de textos em sala de aula parte do princípio da interação tríplice que há entre o texto de apoio, o aluno e o professor, invariavelmente os três atores ali delimitados. Essa interação, pressu- posta pelo sócio-construtivismo como sendo mediada pelo professor, leva a efeito a produção de sentidos que se estabelece entre o aluno (no caso, o leitor) e o texto, a partir de diálogos desencadeados pelo profes- sor (MENEGASSI, 2004, p.106). Nesta visão voltada à interação em sala de aula, verifica-se que o nosso papel, como professores atuantes neste processo interativo, é mediar, isto é, devemos ser mediadores da relação do aluno com o texto, não fazendo apenas interferên- cias ou, então, restritamente, conduzindo a leitura. Acredita-se que essa ação interacionista proporciona mudanças em todos os participantes do processo. Segundo Menegassi (2004), o texto produz mudan- ças no aluno e no professor; o aluno produz mudanças no texto e no professor; este produz mudanças no aluno e no texto. Tais mudanças podem ser conferi- das nas discussões que surgem com a mediação do professor, o qual orienta a atividade com o intuito de que o aluno aprendae desenvolva estratégias para se produzir novos sentidos com o texto. Para que você, aluno(a), entenda, com clareza, a função do professor neste processo de interação, decidi expor, a seguir, os princípios apresentados por Menegassi (2004), voltados a esta postura mediadora do professor: a. o professor estabelece uma interação com o texto, produzindo seus sentidos; b. o professor estabelece uma interação com o aluno, tentando levá-lo a produzir sentidos para o texto, porém sem demarcar qual é o seu, ao menos explicita- mente (considerando-se a subjetividade da linguagem); c. o texto apresenta seus significados ao leitor-professor; d. o professor suscita discussões com o aluno, a partir do texto, para possibilitar que o aluno dialogue com ambos, estabelecendo o critério básico da interação; O TEXTO E A CONSTRUÇÃO DE SENTIDOS Reprodução proibida. A rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. IU N I D A D E32 e. o professor não se interpõe entre o texto e o aluno, servindo como modelo de leitura e como mediador para a construção dos sentidos do texto; f. o professor atua na mediação do aluno à sua própria produção de sentidos. Fonte: baseado em Menegassi (2004, p.107) A partir desses princípios, confirma-se que a postura mais tradicional, que não visa à interação entre texto-aluno-professor, parte de uma abordagem um tanto unilateral, voltada apenas à visão que o professor tem do texto, ou seja, restrin- ge-se a compreensão do texto somente a partir do entendimento do professor. A postura interacionista também parte da visão do professor, mas não se limita somente a ela. Esta abordagem que parte da interação estabelecida em sala de aula mos- tra-se mais pertinente no que diz respeito ao trabalho com o texto nas aulas de Língua Portuguesa. Nesta postura, em suma, percebemos que, no caso da produção de textos em sala de aula, segundo Geraldi (1997), o processo pode ser dividido da seguinte maneira: primeiramente, com o texto de apoio que o professor apresenta ao aluno para iniciar a atividade de produção textual; a seguir, com a leitura desse texto, a partir da visão do professor; e, por fim, com o texto produzido pelo aluno. Dando continuidade à reflexão sobre as ações do professor no que se refere às atividades de produção textual, pretendo, na seção seguinte, apresentar a você estratégias, sugestões e conceitos propostos por autores com propriedade para direcionar um bom trabalho em sala. Continue sua leitura! Há, a seguir, uma sugestão de vídeo para você! Tal vídeo, apresentado pela formadora Beatriz Gouveia, disserta a respeito da formação dos professores que têm o desafio de formar leitores e escritores em sala de aula. Tire um tempinho para assistir-lhe! <http://revistaescola.abril.com.br/lingua-portuguesa/gestao/formacao-professores-497240. shtml>. Como se Trabalhar na Sala de Aula? Re pr od uç ão p ro ib id a. A rt . 1 84 d o Có di go P en al e L ei 9 .6 10 d e 19 d e fe ve re iro d e 19 98 . 33 COMO SE TRABALHAR NA SALA DE AULA? “Ensinar não é transferir conhecimento, mas criar as possibilidades para a sua própria produção ou a sua construção. Quem ensina apren- de ao ensinar e quem aprende ensina ao aprender”. Paulo Freire Você, estimado(a) aluno(a), como futuro(a) professor(a) de Língua Portuguesa, precisa saber que, em outros tempos, o texto não tinha a mesma importância que tem hoje no ensino de Língua Portuguesa. Atribuía-se relevância somente aos conteúdos gramaticais; o texto era tido como uma espécie de modelo em diversos aspectos. Para Marcuschi (2008), com base em textos, podemos trabalhar em sala: a. as questões do desenvolvimento histórico da língua; b. a língua em seu funcionamento autêntico e não simulado; c. as relações entre diversas variantes linguísticas; d. as relações entre fala e escrita no uso real da língua; e. a organização fonológica da língua; f. os problemas morfológicos em seus vários níveis; Não deixe também de visitar os links que seguem! Neles, você encontrará ainda mais informações sobre a produção textual em sala de aula. O primei- ro traz uma interessante reportagem, publicada pela Revista Nova Escola, que apresenta apontamentos relevantes acerca da produção de textos de qualidade – “escrever de verdade”. Já o segundo refere-se a um artigo, de- senvolvido por Pricila Gaffuri e Renilson José Menegassi da UEM – Univer- sidade Estadual de Maringá, que trata da leitura e da produção textual no ensino fundamental. <http://revistaescola.abril.com.br/lingua-portuguesa/fundamentos/escre- ver-verdade-427139.shtml?page=0>. <http://www.escrita.uem.br/escrita/pdf/pgaffuri.pdf>. O TEXTO E A CONSTRUÇÃO DE SENTIDOS Reprodução proibida. A rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. IU N I D A D E34 g. o funcionamentos e a definição de categorias gramaticais; h. os padrões e a organização de estruturas sintáticas; i. a organização do léxico e a exploração do vocabulário; j. o funcionamento dos processos semânticos da língua; k. a organização das intenções e os processos pragmáticos; l. as estratégias de redação e questões de estilo; m. a progressão temática e a organização tópica; n. a questão da leitura e da compreensão; o. o treinamento do raciocínio e da argumentação; p. o estudo dos gêneros textuais; q. o treinamento da ampliação, redução e resumo de texto; r. o estudo da pontuação e da ortografia; s. os problemas residuais da alfabetização. São estes e muitos outros os aspectos que podem ser trabalhados, a partir dos textos, com nossos alunos em sala de aula. De acordo com Marcuschi (2008), o tratamento inadequado que o texto vem recebendo no ambiente escolar caracteriza-se como um grave problema do ensino. No entanto, segundo o autor, hoje já se avista uma mudança considerável nos manuais didáticos com relação a décadas anteriores, pois se percebe uma maior diver- sidade de gêneros nas propostas de ensino, além de um tratamento mais adequado no que diz respeito à compreensão, à oralidade e à variação linguística. Mas, como afirma Marcuschi (2008), “nem tudo ainda é como se gostaria que fosse”. Elenquei a seguir as três formas de inser- ção do texto nas aulas de Língua Portuguesa, com base no que disserta Geraldi (1997), em seu livro “Portos de Passagem”: Como se Trabalhar na Sala de Aula? Re pr od uç ão p ro ib id a. A rt . 1 84 d o Có di go P en al e L ei 9 .6 10 d e 19 d e fe ve re iro d e 19 98 . 35 I. Objeto de leitura vozeada, isto é, o professor era orientado a ler os tex- tos em voz alta para toda a classe e, a seguir, chamava aluno por aluno para ler partes do texto. Era considerado melhor leitor aquele que se aproximasse mais da leitura do professor (o modelo). II. Objeto de imitação: o texto era lido como modelo para a leitura e produção de textos dos alunos. A visão, um tanto restrita, que se tinha era que se lia textos para se falar bem a língua. III. Objeto de uma fixação de sentidos: o sentido e/ou significado de um texto era aquele determinado pelo professor; em outras palavras extraía-se do texto em questão somente o que a leitura privilegiada do professor ou do crítico de seu gosto dizia que o texto tinha. Felizmente, com o passar do tempo, estas formas de inserção e reflexão sobre o texto mudaram; a construção de sentidos, a importância de conhecimentos pré- vios do leitor, os “espaços em branco” do texto e suas virtualidades passaram a ser levados em conta. Geraldi (1997) expõe, então, outra forma de inserção do texto nas atividades em sala de aula, forma esta, aparentemente, mais apropriada para se alcançar ossentidos que uma sequência verbal escrita pode produzir. Veja: [...] por fim, o reaparecimento do texto, não com sentido fixo e único, mas como uma das condições necessárias e fundamentais à produção de sentidos na leitura; seus espaços em branco aceitos como inevitáveis, em função da natureza do próprio funcionamento da linguagem, com preenchimentos diferenciados não só em consequência de diferentes interpretações das estratégias da produção, mas também como con- sequência do pertencimento a universos discursivos diferentes (autor/ leitor) e ao uso da linguagem em instâncias diferentes [...] tem seu pre- enchimento agenciado a partir do texto e das pistas que este oferece (GERALDI, 1997, p.111). A interação entre autor e leitor parece ser um dos destaques desta última forma de inserção do texto nas atividades em sala de aula. Para Geraldi (1997), não se produz textos nem se desenvolve um trabalho de produção textual sem essa ação interacional. Para sequências verbais que não se valem desta questão, voltada à interação, O TEXTO E A CONSTRUÇÃO DE SENTIDOS Reprodução proibida. A rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. IU N I D A D E36 há uma denominação criada por Geraldi (1997), trata-se do termo redação, ou seja, tipo de texto verbal-escrito produzido para fins puramente avaliativos, esco- lares; são textos elaborados somente para serem corrigidos pelo professor – sem propósitos sociais. Defendendo esta posição de que o aluno não deve escrever redação (texto para a escola), mas sim produção de texto (texto na escola), Geraldi (2004), em outra obra: “O texto na sala de aula”, propõe, passo a passo, sugestões de ativida- des relacionadas à produção de textos para cada série do ensino fundamental II. A fim de contribuir com seu futuro profissional ao trabalhar o texto em sala de aula, resumi, conforme sequência a seguir, alguns apontamentos de Geraldi (2004) com relação ao trabalho com a produção de textos em sala de aula. Como já afirmei, trata-se de um resumo; aconselho, portanto, a você, caro(a) aluno(a), que visite esta interessante obra de João Wanderley Geraldi: “O texto na sala de aula”, para que conheça, na íntegra, todas as válidas sugestões de atividades pro- postas pelo autor para um bom trabalho com o texto em sala de aula. 6º ANO Com relação aos textos pro- duzidos no 6º ano, focando, tanto nesta série quanto nas outras, na proposição de um destino real para a produção escrita dos alunos, em suma, o autor sugere que, no decorrer do ano, organizem-se as produções dos alunos para que, ao fim do ano letivo, um livrinho seja publicado. Além disso, Geraldi (2004) apresenta mais propostas de atividades; algumas envolvendo a família dos alunos e trabalhando ora com o texto narrativo, ora com correspondências; outras levando à produção dos chamados textos normativos, Como se Trabalhar na Sala de Aula? Re pr od uç ão p ro ib id a. A rt . 1 84 d o Có di go P en al e L ei 9 .6 10 d e 19 d e fe ve re iro d e 19 98 . 37 que se voltariam à escrita de regras para brin- cadeiras realizadas na escola. Para avaliação, segundo o autor, o pro- fessor pode recorrer ao lead jornalístico: quem fez o quê, com quem, quando, onde, como e por quê. 7º ANO Para esta série, o autor orienta que podem ser organizados um jornal mural da turma e um jornal falado. No primeiro, seriam publica- dos os textos produzidos, a fim de que todos os colegas pudessem lê-los; no segundo, cada aluno escreveria uma notícia em seu caderno e depois a leria para a classe. Além disso, o autor sugere que se dê enfoque à história do Brasil e ao noticiário da imprensa. Ao propor este tema, o autor propõe ativi- dades interdisciplinares, recorrendo-se, inclusive, a professores da área, os quais poderão participar das aulas de Língua Portuguesa por meio de palestras e/ou entrevistas. Pessoas mais velhas da comunidade também podem dar palestras contando a história do local. Objetiva-se levar os alunos a partirem do texto escrito, seguindo para a dis- cussão oral e, por fim, retornando ao texto escrito, desta vez, produzido por eles mesmos. Com isto, há a proposta de que os alunos passem a questionar o por- quê dos fatos ocorridos em nossa história, tanto oralmente, como também nos textos escritos. O TEXTO E A CONSTRUÇÃO DE SENTIDOS Reprodução proibida. A rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. IU N I D A D E38 Ademais aos textos narrativos, poderão ser produzidos também, assim como no 6º ano, textos normativos (produção de regras para trabalho em grupo) e cor- respondências (entre o aluno e seus familiares, como na série anterior). 8º ANO Para o 8º ano, o autor sugere, novamente, a organização de um jornal com as melhores produções da sala, mas desta vez, um jornal que possa ter circulação pela escola, podendo ser, inclusive, vendido para suprir possíveis despesas com a confecção do material impresso. Para o trabalho com o texto, recorrer-se-ia, novamente, ao esquema: texto escrito (como pretexto) → discussão oral → texto produzido pelos alu- nos sobre o que fora discutido Este trabalho tem o intuito de que os alunos questionem o porquê dos fatos que aparecem nos textos lidos. Os temas sugeridos são o estudo de comentários, editoriais, reportagens (ini- cialmente curtas), além de textos de ficção, lendas e contos. Orienta-se também a continuação do trabalho com os gêneros: texto normativo (produção de esta- tutos para possíveis grêmios estudantis do colégio) e correspondência (produção de ofícios, também utilizados em possíveis grêmios e/ou associações estudan- tis da escola). Palestras e entrevistas, conforme sugerido para o 7º ano, também podem ser organizadas nesta série. 9º ANO Nesta série, Geraldi (2004) sugere que o professor escolha, no final do ano, os melhores textos da sala, produzidos no decorrer do período letivo, e tente publi- cá-los em algum jornal local. A temática sugerida para trabalho em sala nesta série volta-se à política, eco- nomia e sociedade. É interessante que os alunos analisem as páginas policiais dos jornais, questionando o porquê destas. Além de questionarem também o Considerações Finais Re pr od uç ão p ro ib id a. A rt . 1 84 d o Có di go P en al e L ei 9 .6 10 d e 19 d e fe ve re iro d e 19 98 . 39 porquê da existência dos partidos políticos: o que são, quais suas diferenças. O autor orienta também que se trabalhe a poesia e suas temáticas, além dos gêneros já trabalhados nas séries anteriores. Ele destaca ainda que é preciso dar-se ênfase ao trabalho com a coerente e adequada argumentação. Esta deve percorrer toda a leitura e produção dos alunos, uma vez que, nesta fase, os ado- lescentes precisam começar a se posicionar sobre os mais diversos temas e/ou proble- mas sociais. Também por esta razão é que debates e atividades voltadas à discussão devem centralizar os trabalhos em sala. Com isto, iniciam-se as atividades com textos dissertativos, após as discus- sões orais. E, dando sequência ao trabalho com os gêneros texto normativo e corres- pondência, o autor sugere para este a produção de cartas de pedido de emprego e, para aquele, a escrita do regimento da escola. Enfim, com o resumo das sugestões propostas por Geraldi (2004), espero ter contribuído com sua futura prática docente. Continue seus estudos. Ainda há muito pela frente! Siga com força e coragem... sempre! CONSIDERAÇÕES FINAIS Chegamos ao fim desta unidade. Espero que, até aqui, eu já tenha colaborado com o seu entendimento do que é texto, já que este tem sido considerado o prin- cipal instrumentode ensino da língua. Acredito ser imprescindível para nós, educadores que trabalham com a leitura e produção textual em sala, a visão de que o texto não pode ser encarado como um produto pronto, mas como um processo social, um evento comunicativo sempre O TEXTO E A CONSTRUÇÃO DE SENTIDOS Reprodução proibida. A rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. IU N I D A D E40 em ascensão. Não se esquecendo de que sua função central é estabelecer comuni- cação entre emissor e receptor. Afinal, retomando uma afirmação de Geraldi (1997, p. 102), “o outro é a medida: é para o outro que se produz o texto. [...]”. Além disso, cabe também ao professor apresentar as diversas formas por meio das quais um texto pode emergir, ou seja, mostrar ao aluno que um texto pode for- mar-se por apenas uma palavra, uma frase ou por um conjunto maior de enunciados. Sua extensão não é fixa ou rígida. O que ele precisa é ser significativo em um deter- minado contexto para que assim faça sentido para o leitor. No que tange à leitura de textos, creio que seja válido o seu conhecimento dos tipos de posturas que os leitores apresentam ao se deparar com um texto, uma vez que você, em seu futuro profissional, será o condutor dos trabalhos com a leitura em sala. Ademais, precisa também conhecer mais a fundo a teoria referente às pers- pectivas de leitura para apropriar-se daquela que considerar mais adequada para o seu trabalho nas aulas de Língua Portuguesa. E, sem dúvidas, ter ciência das estratégias de leitura e compreensão de textos, para que se consiga ajudar os alu- nos a alcançar uma leitura mais eficiente e, por consequência, uma produção textual mais rica, mais coerente. Por fim, desejo que as sugestões apresentadas, oriundas de uma proposta de Geraldi (2004), sejam, de alguma maneira, úteis em sua prática docente, pelo menos no que diz respeito às aulas voltadas à produção textual no ensino fun- damental II. Espero ainda que você, além de aproveitar tais sugestões, consiga incrementá-las, reinventá-las... não se esquecendo de sempre procurar manei- ras de mostrar a seus alunos o porquê, para quem e qual é a finalidade de sua produção escrita. Busque estar sempre atualizado(a), procurando, pesquisando, a cada dia, o melhor e mais apropriado para suas atividades com a leitura e a produção de textos no ambiente escolar. 41 1. Leia com atenção “Circuito Fechado”, de Ricardo Ramos, e, logo após, responda às questões que seguem. Circuito Fechado Ricardo Ramos Chinelos, vaso, descarga. Pia, sabonete. Água. Escova, creme dental, água, espuma, creme de barbear, pincel, espuma, gilete, água, cortina, sabonete, água fria, água quente, toalha. Creme para cabelo; pente. Cueca, camisa, abotoaduras, calça, meias, sapatos, gravata, paletó. Carteira, níqueis, documentos, caneta, chaves, lenço, relógio, maços de cigarros, caixa de fósforos. Jornal. Mesa, cadeiras, xícara e pires, prato, bule, talheres, guardanapos. Quadros. Pasta, carro. Cigarro, fósforo. Mesa e poltrona, cadeira, cinzeiro, papéis, telefone, agenda, copo com lápis, canetas, blocos de notas, espátula, pastas, caixas de entrada, de saída, vaso com plantas, quadros, papéis, cigarro, fósforo. Bandeja, xícara pequena. Cigarro e fósforo. Papéis, telefone, relatórios, cartas, notas, vales, cheques, memorandos, bilhetes, telefone, papéis. Relógio. Mesa, cavalete, cinzeiros, cadeiras, esboços de anúncios, fotos, cigarro, fósforo, bloco de papel, caneta, projetos de filmes, xícara, cartaz, lápis, cigarro, fósforo, quadro-negro, giz, papel. Mictório, pia, água. Táxi. Mesa, toalha, cadeiras, copos, pratos, talheres, garrafa, guardanapo, xícara. Maço de cigarros, caixa de fósforos. Escova de dentes, pasta, água. Mesa e poltrona, papéis, telefone, revista, copo de papel, cigarro, fósforo, telefone interno, externo, papéis, prova de anúncio, caneta e papel, relógio, papel, pasta, cigarro, fósforo, papel e caneta, telefone, caneta e papel, telefone, papéis, folheto, xícara, jornal, cigarro, fósforo, papel e caneta. Carro. Maço de cigarros, caixa de fósforos. Paletó, gravata. Poltrona, copo, revista. Quadros. Mesa, cadeiras, pratos, talheres, copos, guardanapos. Xícaras, cigarro e fósforo. Poltrona, livro. Cigarro e fósforo. Televisor, poltrona. Cigarro e fósforo. Abotoaduras, camisa, sapatos, meias, calça, cueca, pijama, espuma, água. Chinelos. Coberta, cama, travesseiro. a. Você considera que em “Circuito Fechado” há apenas uma série de palavras soltas? Ou se trata de um texto? Por quê? b. Podemos dizer que “Circuito Fechado” refere-se a um dia na vida de um homem comum. Quais palavras e que sequência nos indicam isso? c. Em “Circuito fechado”, seu produtor, usando somente substantivos, termina, praticamente, da mesma maneira como iniciou sua atividade escrita, cujo tema é o cotidiano. Essa estrutura circular tem relação com o título (“Circuito Fechado”) e com os nossos dias atuais? Explique. d. Tendo em vista que Ricardo Ramos propõe certa reflexão sobre a vida, há um possível destinatário para esta sequência verbal? Se sim, quem seria? 2. Foram apresentadas, nesta unidade, com base em Menegassi e Angelo, (2005), algumas perspectivas de leitura. Qual delas você considera como a mais adequa- da para o seu trabalho em sala? Por quê? 3. Práticas docentes mais tradicionais pareciam não dar muita atenção para quem seriam os leitores dos textos dos alunos no ambiente escolar. Vimos que direcio- nar um leitor real para as produções escritas dos alunos mostra-se como uma ação muito importante para a construção de sentidos de um texto. Por que tal ação é importante? Explique. 4. Com relação à postura do professor em sala, discorra sobre o papel deste ao se trabalhar com atividades voltadas à leitura e produção textual. Material Complementar MATERIAL COMPLEMENTAR Abaixo, há mais uma sugestão de vídeo para você assistir! Este nos apresenta uma história de sucesso; ele traz a coordenadora Adilma de Souza Oliveira, de Itupiranga-PA, explicando como foi organizado um trabalho vencedor de formação continuada de professores, voltado à produção textual. Vale a pena conhecer a história de Adilma! <http://revistaescola.abril.com.br/gestao-escolar/coordenador-pedagogico/formacao- continuada-producao-texto-427496.shtml>. O texto como objeto de ensino, de descrição linguística e de análise discursiva e textual Juliano Desiderato Antonio e Pedro Navarro (orgs.) Editora: Eduem Sinopse: Este livro utiliza conhecimentos de diferentes campos do saber científico para dar conta de um determinado objeto concreto, buscando compreendê-lo sob diferentes pontos de vista. Tal visão possibilita reflexões sobre o texto, concebido como ponto de partida e de chegada do ensino de línguas: unidade de sentido, por meio da qual é possível analisar a língua em seu funcionamento no evento comunicativo; objeto empírico que permite ao analista realizar um movimento de interpretação dos fatos de discurso. U N ID A D E II Professora Me. Valéria Adriana Maceis INVESTIGAÇÃO DOS FATORES DE TEXTUALIDADE Objetivos de Aprendizagem ■ Compreender os chamados fatores de textualidade. ■ Entender a relevância dos fatores de textualidade para o trabalho com a leitura e com a produção textual em sala de aula. ■ Ilustrar e discutir o fenômeno da intertextualidade. Plano de Estudo A seguir, apresentam-se os tópicos que você estudará nesta unidade: ■ A intencionalidade ■ A aceitabilidade ■ A situacionalidade ■ A informatividade ■ A intertextualidade INTRODUÇÃO “Escrever é fácil. Você começa com uma letra maiúscula e termina com um ponto final. No meio você coloca ideias”. Pablo Neruda Você se lembra de qual foi o primeiro texto que você escreveu? A grande maio- ria das pessoas, provavelmente, não serecorda de seu primeiro texto, mas, sem dúvidas, ele foi escrito para fazer sentido em um determinado contexto, afinal, como já fora exposto na unidade anterior, todo texto corresponde a uma inte- ração social, na qual o emissor1 sempre tem algo a dizer a seu receptor. O texto, de modo geral, é entendido como um evento comunicativo. Para Marcuschi (2008), nossa comunicação não se realiza mediante pala- vras soltas ou em decorrência de unidades linguísticas isoladas; ela acontece por meio de textos. Segundo o autor, “O texto é o resultado de uma ação linguística cujas fronteiras são em geral definidas por seus vínculos com o mundo no qual ele surge e funciona” (MARCUSCHI, 2008, p. 72). Este autor ressalta também que todo sentido de um texto é um sentido situ- ado. Por que situado? Porque, para que haja comunicação coerente entre o emissor e o receptor de um texto, é preciso que este seja inserido em um contexto situa- cional pertinente a ele, ou seja, em um contexto onde possam ser estabelecidas relações entre o texto e sua situacionalidade ou inserção social, cultural, social, histórica e cognitiva. E todas essas relações envolverão os conhecimentos indi- viduais e coletivos do receptor/leitor de um texto. Isto posto, podemos afirmar que a textualidade diz respeito a um conjunto de características pertinentes a um texto. E são essas características as responsá- veis para que um texto seja realmente um texto, e não apenas um emaranhado de frases e palavras soltas. Segundo Costa Val (1991), para se compreender melhor o fenômeno da produção de textos escritos, é necessário entender o que vem a caracterizar tal 1 É bom mencionar que os termos emissor/produtor/locutor e também receptor/leitor/alocutário serão aqui usados intercambiavelmente. Introdução Re pr od uç ão p ro ib id a. A rt . 1 84 d o Có di go P en al e L ei 9 .6 10 d e 19 d e fe ve re iro d e 19 98 . 47 INVESTIGAÇÃO DOS FATORES DE TEXTUALIDADE Reprodução proibida. A rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. IIU N I D A D E48 texto, ou seja, seus fatores de textualidade. Segundo a autora, podemos dividir esses fatores da seguinte maneira: FATORES PRAGMÁTICOS FATORES LINGUÍSTICOS2 Intencionalidade Coesão textual Aceitabilidade Coerência textual Situacionalidade Informatividade Intertextualidade Nesta unidade, estudaremos todos estes fatores citados, a começar pela inten- cionalidade, que se refere à intenção do autor do texto de alcançar seu objetivo comunicativo. A seguir, chegaremos à aceitabilidade, a qual diz respeito à atitude do receptor do texto – ele, normalmente, analisa se tal produção textual é aceita como coesa e/ou coerente. Depois, veremos também o fator situacionalidade; este que tem a ver com o contexto social e comunicativo no qual um determi- nado texto está envolvido. Na sequência, veremos a informatividade – fator o qual se relaciona à suficiência e à previsibilidade dos dados contidos no texto. Por fim, com informações referentes ao último dos fatores considerados prag- máticos, discutiremos como é possível criar-se um texto novo a partir de outro já existente. Há muitos textos que “conversam” entre si. Para entender melhor esta questão, você terá acesso a reflexões acerca do fator que trata desta “conversa” entre textos, isto é, a intertextualidade. Considerando, então, que tais fatores contribuem significativamente no alcance do sentido do texto, vê-se aí a relevância de se estudar estes conceitos, uma vez que você, em sua prática docente, trabalhará, frequentemente, com a construção de sentidos de um texto, seja ele lido ou produzido por futuros alu- nos seus. Vamos, portanto, aos fatores de textualidade! Boa leitura!. 2 Os denominados fatores linguísticos – coesão e coerência textuais – serão melhor trabalhados na unidade seguinte deste livro. A Intencionalidade Re pr od uç ão p ro ib id a. A rt . 1 84 d o Có di go P en al e L ei 9 .6 10 d e 19 d e fe ve re iro d e 19 98 . 49 A INTENCIONALIDADE Qual a intenção do autor ao escrever um texto? Quando refletimos sobre o fator intencionalidade, partimos do princípio de que todos os atos de fala, enunciados e/ou textos que produzimos são escritos com um objetivo, um fim, o qual precisa ser compreendido pelo leitor. Este fator de textualidade destaca, portanto, o produtor do texto e, por consequência, dá ênfase também à sua intenção ao construir suas respectivas sequências verbais. A intencionalidade pode ser entendida ainda como uma forma indireta de se dizer, por meio de um texto, aquilo que se quer dizer. Fica também a cargo dela boa parte dos possíveis implícitos, muitas vezes, encontrados nas entreli- nhas das produções textuais. Vejamos um exemplo simples, mas preciso, em que a intencionalidade expres- sa-se dessa forma, ou seja, indiretamente. Mendigo Faminto O mendigo se aproxima de uma madame cheia de sacolas de compras, no centro da cidade, e diz: — Senhora, estou sem comer faz quatro dias… — Meu Deus! Gostaria de ter sua força de vontade! Disponível em: <http://piadasengracadas.net/piada/44/mendigo-fa- minto/>. Acesso em: 02 maio 2013. INVESTIGAÇÃO DOS FATORES DE TEXTUALIDADE Reprodução proibida. A rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. IIU N I D A D E50 Neste exemplo, em que há uma simulação da linguagem oral, percebemos que o mendigo, em tal situação, não queria somente que a mulher soubesse há quantos dias ele não comia. Há outra intenção implícita em sua fala, ou seja, ele, prova- velmente, queria que a madame arranjasse-lhe algum dinheiro para que, assim, pudesse comprar comida. É comum, em nossa comunicação cotidiana, escrevermos algo que não condiz exatamente com o que queremos, de fato, dizer. Passamos também por situações em que nossos interlocutores entendem de maneira diferente e/ou equivocada nossa mensagem, não captando, com isto, nossa real intenção. Isto ocorre porque nem sempre usamos a linguagem de forma clara e obje- tiva; podemos muitas vezes (até mesmo de modo proposital) deixar implícitas diversas intenções. Há também ocorrências nas quais nosso interlocutor não possui os conheci- mentos prévios necessários para que nossa mensagem seja compreendida por ele. Aconselha-se, portanto, que ao escrever usemos uma linguagem clara para que não tenhamos problemas em relação ao entendimento do que escrevemos. Essa orientação precisa ser transmitida e trabalhada com nossos alunos nos ban- cos escolares. Na escrita, diferentemente da fala, não dispomos de mecanismos de corre- ção imediata. Logo, é preciso detalhar mais nossa mensagem, dar mais pistas para que o outro nos compreenda. Segundo Marcuschi (2008), ao se estudar a intencionalidade de um texto, considera-se a intenção do autor como fator relevante para a textualização, que é o processo utilizado pelo leitor/receptor a fim de compreender um determi- nado texto. Marcuschi (2008) afirma também que tal fator de textualidade não costuma ser trabalhado nos textos. Acredita-se que é preciso ter cuidado com essa questão da intencionalidade, uma vez que identificá-la não parece ser tarefa fácil. “O problema maior no caso da intencionalidade acha-se no conceito de sujeito que ela subentende. Tudo se passa como se o sujeito fosse o dono do conteúdo e como se ele fosse uma fonte independente e a-histórica” (MARCUSCHI, 2008, p.127). Para Koch e Travaglia (2011), tanto a intencionalidade quanto a aceitabi- lidade – a qual será tratada a seguir – podem ser tomadas em dois sentidos: A Aceitabilidade Re pr od uç ão p ro ib id a. A rt . 1 84 d o Có di
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