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Introdução As fraturas podem ter diversas origens, e antes de avaliar o sistema musculo esquelético devemos avaliar o animal como um todo, já que uma pequena fratura pode levar a alterações muito importantes, então devemos começar o atendimento com o ABC do trauma buscando por alterações em A (vias aéreas superiores), B (respiração) e C (circulação). Depois desses pontos mais importantes eu devo avaliar o trauma neurológico buscando por alterações compatíveis com lesões nesse sistema, então busco por questões abdominais, urinária e por fim o trauma ortopédico. O exame ortopédico deve começar pelo histórico. Então parto para a inspeção onde observo a marcha e o trote, possíveis deformidades ósseas, atrofias musculares, escore corporal do animal. Já a palpação é feita sempre de distal para proximal, deixando a área com problema por último. A avaliação é feita mexendo as articulações fazendo os movimentos naturais e buscando por dor ou crepitações. Durante a palpação também posso encontrar assimetrias muscular e locais com inflamação. Como diagnóstico de fraturas utilizamos o RX, sempre em duas projeções. O tratamento delas pode ser conservador (através de bandagens) ou cirúrgico. As forças que atuam durante o momento da fratura são: a) Flexão: o osso dobra b) Torção/Rotação: cada parte do osso roda para um lado. c) Tração: osso estica d) Axial por compressão: fraturas que ocorrem em ossos do carpo, tarso ou corpo vertebral e) Axial por distração: fratura de separação em linha de crescimento ou na inserção de tensão ou músculo, sempre por avulsão. Classificação das fraturas frente a sua morfologia: a) Galho verde ou fissura: são as incompletas b) Completas: a. Simples: quando temos apenas dois fragmentos ósseos. b. Múltipla: quando temos mais de dois fragmentos ósseos ou quando temos mais de dois ossos acometidos. c. Cominutiva (múltipla irredutível): quando ocorre a quebra em diversos fragmentos onde o encaixe não será perfeito. Classificação segundo a localização: a) Epífise b) Metáfise c) Diáfise Classificação frente ao tipo: a) Transversa b) Oblíqua c) Espiral d) Segmentada e) Compressão f) Avulsão g) Salter Harris a. Tipo I: transversal na linha de crescimento b. Tipo II: fratura em metáfise e diáfise c. Tipo III: parcialmente a diáfise e a epífise no meio d. Tipo IV: metade da epífise e da diáfise e. Tipo V: esmagamento de linha de crescimento f. Tipo VI: esmagamento mais medial ou mais lateral Classificação frente a possibilidade de redução a) Redutível: onde é possível realinhar todos os fragmentos de maneira anatômica. b) Não redutível: não consigo fazer a redução perfeita. c) Estável: ela se mantém reduzida d) Instável: a fratura não tem estabilidade para manter a redução. A estabilidade da fratura é influenciada pelo tipo e pela direção da linha, além disso o osso acometido e o local também podem alterar. O objetivo de corrigir uma fratura é restaurar a função do osso e dos tecidos adjacentes, por isso as bandagens e as cirurgias devem neutralizar as forças que agem no foco da fratura. A cicatrização deve ser estimula através da correta irrigação sanguínea. A suplementação de cálcio piora, pois, o excesso desse mineral estimula o hormônio de retirada dele, fazendo com que o osso perca cálcio, o ideal é oferecer ração de filhote no momento da recuperação. Existem dois tipos de cicatrização: Primária: acontece em fraturas muito estáveis, onde a linha de separação é de no máximo 1 mm. O endósteo é o responsável por ela, ele invade a fratura e forma osso de fora para dentro, onde a consolidação dura de 30 a 40 dias. Secundária (clássica): ocorre em fraturas não estáveis ou com mais de 1 mm na linha de separação. O primeiro passo é a formação de um hematoma que estimula a formação de novos vasos, acumulando colágeno e fibrina formando o calo ósseo. Esse calo se mineraliza, se remodela e volta a ter o aspecto do osso. O calo pode ser formado entre 30 e 40 dias em filhotes, ou até 4 ou 6 meses em adultos. O animal pode ser liberado para ter a vida normal quando não existir mais linha de fratura lateral no RX. Durante a primeira fase de recuperação o animal deve evitar de subir, descer, correr e pular. Quanto a correção de fraturas podemos fazer a redução fechada quando eu anestesio o animal e coloco no lugar. Já as reduções abertas eu vou diretamente no local da fratura, visualizo e reduzo diretamente. Esse tipo de redução (aberta) é obrigatória em fraturas articulares, irredutíveis e cominutivas não redutíveis (sempre sem retirar os coágulos). Fixação de fraturas A fixação de uma fratura pode ser feita de maneira direta ou indireta. A maneira indireta é feita com bandagens e a direta é através de cirurgia e colocação de implantes que impedem a movimentação óssea. Bandagem – Coaptação externa A indicação de uso de bandagens é em: a) Fraturas estáveis e redutíveis como as incompletas, em galho verde, fissuras ou transversa. b) Cães jovens ou adultos jovens graças a rápida cicatrização. c) Alguns casos de luxação d) Feridas que não irão cicatrizar com a movimentação. e) Fraturas em ossos duplos com apenas um acometido. Como regras para fazer uma boa bandagem devemos fazer somente em porção distal de joelho ou cotovelo e imobilizar a articulação proximal e distal. A bandagem mais utilizada é a Robert Jones que é feita com bastante algodão, normalmente para aguardar a cirurgia. Já a Robert Jones modificada é feita com menos acolchoamento e uma estrutura rígida, ela pode ser usada para tratamento. O primeiro passo é fazer a tricotomia, então encapamos o membro com malha tubular, então algodão ortopédico, atadura de algodão (sempre na diagonal para não garrotear), estrutura rígida e esparadrapo. Os animais adultos devem ser reavaliados entre 7 e 10 dias, em filhotes abaixo de 5 meses a tala deve ser trocada a cada 5 dias. Elas só devem ser removidas quando o RX demonstrar ausência de linha de fratura na região lateral. O tempo para isso acontecer é entre 3 e 4 semanas, em filhotes por volta de 21 dias. Osteossíntese Anatômica: é feita de maneira que os fragmentos ossos se encaixem perfeitamente, porém isso aumenta o trauma vascular já que eu tenho que reposicionar os fragmentos, assim o processo cicatricial fica prejudicado, ocorrendo de maneira mais lenta. É feita em pacientes com fraturas redutíveis. Biológica: nessa redução eu não me importo com os fragmentos e sim com o comprimento do osso, meu objetivo é deixar o osso com seu comprimento original e com o eixo alinhado, assim eu protejo a vascularização. Feita em pacientes com fraturas múltiplas não redutíveis ou irredutíveis. A cicatrização é feita por calo ósseo, demorando muito. Instrumentos e técnicas cirúrgicas: Pino Medular São pinos que são posicionados dentro do canal medular, passando pela porção da epífise (osso esponjoso) e pela diáfise (osso cortical) até atingirem novamente o osso epifisário. É barato e requer pouco equipamento para a instalação, é um método que funciona bem contra as forças de flexão, porém sozinho não consegue ahir contra aforça de rotação e axiais (compressão e distração). Ele deve preencher 70% do canal medular e deve estar muito bem sepultado para não migrar. Eles são inseridos através de porções anatômicas – o único osso que não permite a colocação é o rádio devido à falta de acesso sem lesar articulações. Normalmente posicionamos mais de um pino para que não ocorra a rotação da fratura. A haste bloqueada é um pino intramedular que tem dois furos em sua porção proximal e em sua porção distal, nesses eu posiciono parafusos, dessa maneira eu impeço as forças axiais e a de rotação. É a única maneira de neutralizar as três forças com essa técnica. Cerclagem É um método utilizado sempre em conjunto – a única situação que utilizamos isolado é em fratura de sínfise de mandíbula. Seu objetivo principal é causar a compressão entre os fragmentos. A cerclagem pode ser feita de maneira definitiva ou temporária. Posso utilizar associadas a pino intramedular ou a um fixador externo, como regra em fraturas longas, obliquas ou espirais eu devo colocar no mínimo duas cerclagens. Para que não ocorram escapes o jeito correto de fechar a cerclagem é através do método de torção, eu puxo e torço o fio de aço, para que ambos os fios torçam, não um rode sobre o outro. Só pode ser utilizada em fraturas irredutíveis. Essa técnica dá errado quando colocamos de maneira inadequada, com uso de material inadequado, quantidade inadequada, espessura inadequada e em fraturas redutíveis com mais de dois fragmentos. Banda de tensão É o método especifico de fixação de fraturas por avulsão ou em osteotomias. Ela tem a função de gerar força para o lado contrário, eu fixo o fio de aço em um fragmento ósseo ou em um parafuso e passo o fio, estabilizando a força mecânica através da geração de uma força oposta. Corrigindo a força de distração com uma de compressão. Funciona como uma tenda de circo, a fratura ou a osteotomia faz força para um lado e a banda de tensão faz para o outro, fazendo com que a porção central (seja o osso ou um parafuso) faça força para baixo, neutralizando as forças. Fixador externo São utilizados em: a) Fraturas expostas – onde o osso está contaminado e com essa fixação eu não levo mais bactérias para dentro. b) Fraturas de ossos longos c) Osteotomias corretivas d) Reduções fechadas de fraturas cominutivas - eu consigo alinhar o membro e fixar sem abrir. e) Artrodeses temporárias – eu estabilizo determinada articulação de maneira temporária f) Não união óssea ou união retardada – o fixador estimula a formação de calo ósseo. Os fixadores são instalados com no mínimo dois pinos por fragmento ósseo, para dar estabilidade ao osso usamos os clamps que se prendem na barra. Existem diversos tipos de fixadores, quanto maior o número de fixadores mais eu aumento a estabilidade óssea. a) Tipo 1 A: fixador aplicado em um único plano b) Tipo 2: fixador aplicado em um único plano, porém atravessa o osso c) Tipo 1 B: o fixador tem formato de V, onde eu instalo um fixador medial e outro cranial. d) Tipo 3: mistura do fixador do tipo dois com o tipo um. e) Tipo circular ou Lizarov: utilizado também para corrigir deformidades angulares, além de estabilizar fraturas ou fazer transporte ósseo. É usado para estabilizar a força de distração e compressão. Os fixadores externos têm a vantagem de alterar a rigidez com os parafusos, assim facilitamos a formação do calo ósseo. Sempre que precisarmos fazer alterações nos parafusos devemos anestesiar o animal. A desvantagem é que o fixador externo deve sempre ser limpo graças a grande formação de secreção. Placas e parafusos São utilizadas em ossos longos e para fraturas múltiplas e cominutivas. Além disso podem também ser utilizadas em fraturas de crânio, mandíbula, acetábulo, escápula ou com placas epifisárias. As placas são classificadas frente a sua função e tem tamanhos diferentes. Os fixadores devem ser retirados somente quando houver a formação de calo ósseo. As placas resistem a compressão, encurvamento, rotação e tensão, permitem a consolidação primária e é o método de fixação mais estável de todos. São eles: a) Placa de compressão dinâmica: gera compressão, apertando um fragmento contra o outro, essa placa é feita atuando em fraturas transversas sempre com o objetivo de gerar cicatrização primária. A placa é em formato de rampa, onde eu aperto o parafuso e o fragmento vai deslocando de 1 e 1 mm. b) Placa de neutralização: é a placa que tem a função de neutralizar as cargas sobre os focos de fratura, os fragmentos são reduzidos com parafusos ou cerclagens. Utilizados em fraturas múltiplas redutíveis, espirais, oblíqua ou cominutivas redutíveis. c) Placa em ponte ou placa em apoio: a placa forma uma ponte, para que não exista nenhuma força no meio do osso (local onde está a fratura), é utilizada em situações que não existam maneiras de reduzir os fragmentos anatomicamente e seja impossível fazer a cicatrização primária. Utilizada em fraturas múltiplas não redutíveis. d) Placa bloqueada: é uma placa planejada a não levar isquemia de fragmento ósseo porque esta não pressiona o periósteo. Para isso existe um limite máximo de aprofundamento, assim a placa fica distante do osso. Ela requer pouca moldura com o osso. e) Placa LCP: parte da placa é bloqueada e parte é normal. f) Placa de reconstrução: são placas que não sustentam apoio, usadas em ossos longos como mandíbula, crânio, pelve, escapula e vertebra. Ela é uma placa móvel, funcionando somente em posição neutra. g) Rod Plate (haste bloqueada): é a associação da placa e do pino intramedular. AFECÇÕES DO OMBRO Osteocondrose ou osteocondrite dissecante Pode acometer outros ossos como fêmur, talus, ou até o epicôndilo lateral do úmero, porém o local mais comum para acometer é a cabeça do úmero, normalmente unilateral. Acomete animais jovens de crescimento rápido, onde os vasos não conseguem acompanhar o crescimento do osso, logo temos uma perda de densidade óssea abaixo da cartilagem com deficiência de irrigação, ou seja, um defeito na ossificação endocondral. Pode ser influenciada por fatores hereditários, excesso de peso, alimentação de alta taxa energética quando filhote, suplementação de cálcio e fósforo para filhotes. Podemos minimizar cortando a suplementação e trocando a ração de Super Premmium para Premmium. O tutor traz o animal com queixa de claudicação, que se inicia por volta dos cinco a sete meses de vida. Como o animal faz um contrapeso com o pescoço e durante o movimento ele poupa o membro levando a cabeça para cima é um local de difícil avaliação. Como diagnóstico temos o histórico compatível, um exame físico com dor na amplitude de movimento (extensão, flexão e abdução) sem dor na palpação local e RX. O tratamento é iniciado com a troca de ração e proibição do uso de suplementos em animais ainda filhotes. O tratamento clínico é feito com o uso de analgésicos e anti-inflamatórios podem diminuir a claudicação, fisioterapia para não perder massa muscular e repouso. A cirurgia é a curetagem de porção isquêmica e retirada de fragmento de cartilagem. Instabilidademedial do ombro Pode ter três origens diferentes, o mais comum são alterações no ligamento glenorumeral medial, pode ter origem também de estiramento do tendão do musculo subescapular ou por alterações na capsula articular, porém ambos são raros. A causa é trauma, excesso de peso ou até doenças hormonais (que levam a fragilidade muscular como hipotireoidismo/hiperadrenocorticismo). Os sintomas são de claudicação, que surgem na fase aguda, porém em casos crônicos não temos claudicação importante, porém o animal escorrega com a pata da frente. Os testes para diagnóstico são: a) Teste de abdução: é o padrão ouro, já que animais com essa doença tem uma abertura muito maior. Com o animal em decúbito lateral, com o ombro na posição anatômica e o cotovelo estendido, apoiamos a mão sobre a escapula e fazemos a abdução do membro, se for mais de 30 ou 40º temos a instabilidade. b) Teste de gaveta: mostra quando temos lesão no tendão. c) Teste do bíceps: mostra quando temos lesão no tendão. d) RX: demonstra o aumento do grau de articulação. e) US articular: inspeciona o ligamento e avalia a presença de tenossinovites. O tratamento clínico em casos agudos é feito com a administração de anti-inflamatórios, além de estabilização com órteses e fortalecimento muscular com a fisioterapia. A grande maioria dos casos são clínicos, poucos são cirúrgicos. O procedimento cirúrgico – reconstrução do ligamento glenoumeral – é feito através da reconstrução do ligamento com parafusos na escápula e no úmero e com a ligação de ambos com fio sintético em formato de oito. Outras técnicas possíveis seriam a transposição do bíceps, onde eu solto o ligamento transverso do úmero e o bíceps se solta, então prendo ele com um parafuso na porção mais caudal, onde fica o ligamento glenoumeral. Tenosinovite bicipital Trata-se de uma inflamação no tendão e na articulação. Comum em animais de raças grandes e os de corrida, normalmente causadas por afecções articulares pré-existentes ou traumas (em menor escala). Acomete normalmente cães adultos com histórico de doenças ou traumas, com claudicação de leve a moderada, sem retirada de apoio. Para o diagnóstico usamos o teste do bíceps, com o paciente em decúbito lateral eu flexiono o ombro e estendo o cotovelo para trás, com o dedo eu pressiono a parte medial, onde o tendão fica localizado. Será positivo se o animal sentir dor. Além disso podemos utilizar o RX que terá sinais de densificação ou mineralização de tendão. A artografia pode ser utilizada onde teremos a presença de diversos osteófitos. O US pode determinar o grau da doença, onde o I é o mais leve e o III já é indicativo de cirurgia, nesse exame veremos um grande acumulo de líquido ao redor do tendão graças ao processo inflamatório. O tratamento depende do grau: Grau I: clínico, com administração de anti-inflamatório e fisioterapia. Grau II: infiltração intra-articular com depomedrol (20 a 40mg por animal). Podem ser feitas duas aplicações com 25 dias de intervalo (anestesiado retirando a mesma quantidade de líquido sinovial). A grande maioria dos pacientes melhora com a primeira infiltração. Caso o animal não responda o indicativo é cirúrgico. Grau III: o procedimento cirúrgico é a tenotomia ou tenodese, o primeiro passo é retirar os fragmentos lesados da articulação. A tenotomia é o processo onde seccionamos o tendão e a tendência é que ele crie aderência em outro local, permitindo a ampla movimentação novamente. Já a tenodese é feita cortando o tendão e fixamos ele com um parafuso no úmero. Tendinose do musculo supraespinhoso É uma doença que pode ter duas origens a primeira relacionada a isquemia do tendão, que leva a sua necrose e deposição de fibrose, ou seja, afuncional (teoria vascular) ou por traumas repetitivos (teoria mecânica). Normalmente é unilateral. O animal apresenta limitação do movimento, como diagnóstico podemos usar o US onde observaremos um processo degenerativo e um processo cicatricial do tendão, o RX pode ser útil na projeção Skyline. Como exame físico temos o teste do bíceps negativo. O tratamento clínico é feito com repouso e anti-inflamatório (em doses baixíssimas) por seis semanas. A fisioterapia pode ajudar, outra opção é fazer a infiltração quando temos outras doenças associadas. O tratamento cirúrgico é feito através da tenotomia longitudinal, onde eu abro o tendão e retiro as fibroses, porém a chance de formar de novo é alta. Isso faz com que o tendão fique mais frouxo e permite que a fisioterapia funcione melhor. Contratura do músculo infraespinhoso Ocorre uma retração do músculo infraespinhoso. Esse musculo se insere no tubérculo maior. O animal tem queixo de movimento circular ao andar, tem origem traumática com sintomatologia unilateral. O diagnóstico é baseado no exame físico com o teste de avaliação da amplitude de movimento, onde o membro não gira para dentro. A radiografia também é útil. O animal não tem dor, durante a marcha ele faz movimentos de rotação. O tratamento é baseado na tenotomia transversal do infraespinhoso, ele solta o tendão e permite a rotação do membro. É um processo raro. Luxação escapulo umeral As luxações podem ser congênitas ou traumáticas, onde as primeiras são raras. Acometem normalmente animais pequenos. As luxações podem ser mediais ou laterais, o tratamento depende do posicionamento da lesão: a) Medial: é o mais comum, já que no trauma é a tendência que o úmero entre. O tratamento é feito com a reconstrução de ligamentos com parafusos, arruela, oito em fio sintético. Transposição do bíceps também pode ser feita, onde eu faço uma osteotomia do tubérculo maior e secciono o tendão do bíceps, deslocando-o para a face medial do membro, então fixo o tubérculo novamente, assim eu substituo o tubérculo medial. b) Lateral: reconstrução dos ligamentos mediais, transposição do bíceps. c) Cranial ou caudal: normalmente estão relacionadas a fraturas de úmero ou de escapula, o tratamento das fraturas resolve o problema. Doenças articulares ou casos graves/irreversíveis Podemos optar pela artrodese, onde eu faço a fixação definitiva da circulação, o paciente perde o movimento ele não estende nem dobra o ombro. Esse membro servirá apenas como apoio, ele claudicará não de dor, mas sim pela ausência de movimento dessa articulação. Eu fixo uma placa na região proximal do úmero, eu devo remover a superfície articular, deixando o osso exposto para que ocorra a fusão óssea. Sem essa fusão a placa irá quebrar. Utilizo em lesões não reparáveis, animais com muita dor articular, lesões imunomediados que afetem o ombro. AFECÇÕES DO COTOVELO Luxação de cotovelo Trata-se de uma afecção causada por traumas, que levam a destruição dos ligamentos laterais. Além da ruptura de ligamentos podemos ter rupturas musculares e lesões em cartilagens. Os animais apresentam impotência funcional, dor e incapacidade de estender o membro. É importante diferenciar de fraturas distais de úmero já que tem as mesmas características. O diagnóstico é feito através do histórico compatível com trauma, RXcom deslocamento lateral de rádio e ulna e úmero com deslocamento medial. O tratamento depende do tempo que o animal está com a lesão, quando ela é recente, cerca de 24 a 48 horas ainda não temos contratura muscular e nem a formação de fibrose, então podemos tentar uma redução fechada e bandagem. Para isso o animal deve estar anestesiado, e com o objetivo de restringir a flexão do cotovelo eu utilizo uma bandagem de Robert Jones – sem tala (feita depois de colocar o membro no lugar). Após 30 dias eu retiro a tala e avalio, se o cotovelo permanecer no lugar ele está curado, porém se luxar novamente devemos partir para a redução aberta. A redução aberta é feita quando a redução fechada não resolver o problema ou em casos de luxações antigas ou com muita lesão tecidual. Quando a destruição tecidual for pequena podemos fazer a reconstrução da articulação com parafusos e cerclagem, porém quando o dano é grande devemos fazer a artrodese. A reconstrução do ligamento é feita através da substituição do ligamento lateral, com dois parafusos e uma cerclagem em forma de oito, assim o animal permanece movimentando o membro. Já a artrodese é feita através da destruição de toda a superfície articular, se eu for utilizar uma placa eu devo fazer também a osteotomia do olecrano, caso opte por usar o fixador externo não é necessário. No pós-operatório o animal é acompanhado com RX a cada 30 dias a fim de observar a cicatrização. Caso ela não esteja caminhando como esperado deve encaminhar o paciente para a fisioterapia que auxilia na recuperação. A bandagem Robert Jones é mantida até a retirada de pontos para conforto, além do uso de antibióticos, anti-inflamatórios e analgésicos que são fundamentais para que o animal apoie o membro. Displasia de cotovelo É uma doença hereditária, não necessariamente congênita. Pode se tornar visível durante o crescimento e tem algumas origens diferentes: a) Incongruência da articulação b) Degeneração articular do úmero c) Não união do processo ancôneo d) Fragmentação do processo coronóide e) Lesões em cartilagens articulares – de rádio ou de ulna Acomete cães de raça grande, principalmente os que fazem estirão de crescimento devido a hiperalimentação ou suplementação de cálcio e fósforo. Pode acometer também os cães pequenos de raças condrodistróficas. Os sinais são de claudicação de membro torácico que surge entre 6 e 12 meses de vida. Essa claudicação pode ter relação também com a osteoartrose formada ou caso a origem seja de não união do processo ancôneo temos dor. De forma geral a displasia de cotovelo ocorre devido a diferença de crescimento ósseo dos ossos que compõem essa articulação, assim, cada osso que cresce mais sobrecarrega uma parte da articulação, por isso a doença pode se dar das seguintes maneiras: 1. Doença do compartimento medial: quando a ulna está mais alta e o animal apoia sobre o processo coronóide (porção medial de ulna), com essa sobrecarga podem ocorrer fissuras ou microfraturas no processo coronóide. Representa a grande maioria dos casos. O diagnóstico se dá por TM, já que na maioria das vezes o RX não vê as alterações que são esclerose do processo coronóide, microfraturas no coronóide, osteocondrose umeral e lesão na articulação do processo coronóide. 2. Fragmentação do coronóide: acontece quando o rádio está curto levando a uma sobrecarga do processo coronóide, é a consequência da doença do compartimento medial, onde nesses casos o coronóide está fragmentado dentro da articulação. 3. Não união do processo ancôneo: a ulna está curta e o rádio mais alto, levando a uma sobrecarga do centro de ossificação do processo ancôneo, assim ocorre a não união. Quanto mais cedo for feito o diagnóstico melhor já que teremos menos deformidades ósseas ainda na fase de crescimento. O RX tem baixa sensibilidade, então o indicado é a tomografia. Pode também ser utilizada a artroscopia, porém é rara no brasil. Em todos os casos o tratamento é cirúrgico. Tanto quanto a ulna ou o rádio estão baixos ou altos podemos fazer a osteotomia ulnar proximal, onde eu faço uma osteotomia obliqua para que os ossos tenham contato e permitam a consolidação, durante a fase de crescimento o osso se desenvolve e se adequa, porém em animais mais velhos devemos usar essa técnica somente quando a diferença entre altura dos ossos for mais de 1 mm (em diferenças menores não vale a pena). Se a displasia tiver levado a uma osteocondrose devemos remover a cartilagem através de curetagem no osso subcondral, assim eu induzo a formação de um novo tecido de cartilagem. Quando temos a fragmentação do coronóide, além da osteotomia ulnar obliqua devemos fazer a coronoidectomia subtotal, assim o animal não apoia sobre a região do coronóide porque a ulna desce e ele apoia no rádio. Já nos casos de doença do compartimento medial podemos liberar a ulna com uma osteotomia simples com placa Paul plate, especifica para essa situação, essa placa faz um pequeno giro no eixo dos ossos e libera o compartimento medial, assim o apoio fica correto. Em situações graves, quando a articulação já está destruída ou os procedimentos cirúrgicos não terão benefícios podemos utilizar a prótese de cotovelo – que ainda não está disponível no Brasil – ou seguir com tratamento paliativo com condroitina, AINEs e analgésicos Desvios angulares rádio ulnares É uma doença relativamente rara, causada pelo fechamento precoce do disco epifisário. Acomete rádio proximal e distal e ulna distal com maior frequência. Quando o fechamento da epífise do rádio acontece de maneira simétrica temos um encurtamento desse osso ou uma subluxação da cabeça do rádio. Quando o fechamento é assimétrico podemos ter um valgus carpal, fechamento da epífise apenas em região lateral levando a um valgus no osso, além de encurtamento radial e subluxação de cabeça radial. Quando o fechamento precoce acomete a ulna temos uma alteração que leva ao encurvamento do rádio, com aspecto de arco e flecha, além disso temos a rotação do membro externamente, o cotovelo pode subluxar e fazer valgus carpal. Animais condodistróficos têm desvios angulares, para saber se existe a doença devemos fazer cálculos geométricos no RX ou na TM. Quanto mais precoce a correção cirurgia menos alterações serão desenvolvidas, facilitando o processo de cura, já que após a instalação de deformidades angulares a única correção possível é a osteotomia. O cálculo é chamado de CORA – centro de angulação de rotação. Para isso traçamos uma linha paralela a articulação do rádio com os ossos do carpo e outra paralela a articulação do cotovelo, então traçamos uma linha reta, entre o meio dessas duas paralelas. Essas linhas não podem se cruzar, quando elas se cruzam é porque o animal tem o desvio. O local onde elas se cruzam é onde está o CORA e é onde qualquer correção será feita. Como tratamento temos as osteotomias em cunha, ou seja, feita retirando uma porção triangular na região do CORA. Existem dois tipos de cirurgia,a para diminuir o tamanho do osso feita com cunha fechada, onde eu trago o osso de baixo mais para cima e fixo com uma placa, ou a para aumentar o tamanho do osso feita com cunha aberta, onde eu faço a cunha do lado oposto do CORA, fixo com uma placa e utilizo enxertos ósseos. A decisão entre cunha aberta ou fechada é feita pelos exames diagnósticos, avaliando a porção crânio caudal e latero lateral do membro, verificando qual a melhor hipótese. AFECÇÕES DO QUADRIL Displasia coxofemoral É uma doença genética, multifatorial. Relacionada ao estirão de crescimento em animais hiperalimentados, animais com musculatura pélvica insuficiente ou biomecânica articular comprometida. É causada pela instabilidade ou arrasamento do acetábulo, alteração do ângulo normal da articulação ou por alterações na cabeça ou colo do fêmur. Os animais nascem com a alteração, porém os sinais podem ser visíveis somente após os 3 ou 4 meses de vida, ou se manterem subclínicos durante longos períodos, desenvolvendo osteoartrose apenas quando adultos. Acomete normalmente cães de raças grandes e gigantes, em cães médios é rara. Gatos grandes também podem ter a doença. Cães pequenos tem cada vez mais apresentado incongruências articulares, porém como ainda não existe o perfil genético não chamamos de displasia. As manifestações clínicas são diferentes entre as idades, já que durante o crescimento o esqueleto e a musculatura ainda estão se formando. Em cães jovens temos diminuição de atividade, claudicação pós atividade, andar de perna aberta, andar em colho, dificuldade em se manter em estação, subir ou descer. Já em animais adultos temos atrofia de membros pélvicos, claudicação e hipertrofia muscular de membros torácicos. Os sinais serão demonstrados em diferentes graus já que a doença tem diferentes graus, ela pode ser classificada em leve, moderada ou grave. Como diagnóstico usamos o exame físico e os exames de imagem. Exame físico Teste inespecífico Abdução, extensão e flexão Crepitação Diminuição de amplitude de abdução Dor Teste específicos Manobra de Ortolani Anestesiado, jovens, avaliação de instabilidade 1ª etapa: subluxação acetabular 2ª etapa: abdução com encaixe Exame de Barlow 1ª etapa de Ortolani Manobra de Barden Acordado Subluxação acetabular Imagem Radiografia Ventro dorsal ou extensão Presença ou ausência de displasia Ângulo de Norberg (105º) 4 meses 1º, certificado: 24 meses PennHip ou estresse Possibilidade de desenvolver artrose – frouxidão articular A partir dos 4 meses DAR ou BAD TM substitui e é melhor Ângulo de borda acetabular A respeito do tratamento, o conservador pode ser feito em cães pequenos, ou com mais de 18 meses com sinais leves (somente em esforço), é feito com controle de peso, exercício de baixo impacto (fisioterapia, natação, esteira na água), condroprotetores, anti-inflamatórios em quadros agudos e MTC (acupuntura, implante de ouro, ozonioterapia). O tratamento cirúrgico é dividido em preventivo, onde alteramos a anatomia do animal para melhorar o encaixe, ou em alivio, onde alteramos a anatomia para retirar a dor e oferecer conforto. Quanto as técnicas: a) Técnicas preventivas: a. Osteotomia tripla da pelve: feita através de três cortes no quadril (ílio, ísquio e púbis) de maneira que o acetábulo se solte. Esse então é fixado com uma placa especial, aumentando a sua cobertura na cabeça do fêmur. Feita até os 12 meses de idade, em animais sem artrose ou arrasamento acetabular. b. Osteotomia dupla da pelve: mesmo princípio da tripla, porém utilizada somente até os 7 meses. c. Osteotomia intertocantérica varizante: feito através de uma osteotomia em cunha em baixo do trocânter, com a fixação de uma placa eu altero o ângulo. Feita em pacientes de até 10 meses com alteração em ângulo de cabeça de fêmur. d. Sinfisiodese púbica juvenil: com um eletrocautério lesiono a sínfise púbica, assim essa porção para de crescer e o resto continua, aumentando a área de cobertura da cabeça do fêmur. Feita em pacientes de 4 a 6 meses. b) Técnicas de alivio: a. Denervação acetabular: eu faço uma raspagem dos receptores nervosos na porção dorsal cranial do acetábulo, o animal continua com a doença, porém sente menos dor (não fica sem dor porque ainda temos nervos irrigando a região). Indicada para pacientes acima de 10 meses que apresentem dor no quadril com ou sem artrose. b. Prótese de quadril: trata-se da substituição da articulação através de uma prótese. Indicada para pacientes com artrose ou em casos onde a cirurgia de ressecção de cabeça e colo de fêmur não deu resultado. É feita em animais acima dos 10 meses, ausente de doenças infecciosas crônicas. Procedimento de alto custo. c. Ressecção de cabeça e colo femoral: através da retirada da cabeça e do colo do fêmur eu retiro a articulação, assim os ossos não têm contato. O animal fica com o membro encurtado, porém é capaz de compensar de 4 a 6 meses de pós-operatório, devemos colocar enxerto de gordura para que os ossos não encostem levando a dor. É nossa técnica de salvamento, ou seja, última opção. Necrose asséptica da cabeça do fêmur Acomete cães toys ou miniaturas, sempre abaixo dos 10 kg. Tem origem isquêmica, ou seja, ausência de circulação na cabeça femoral, seja por microfraturas ou por crescimento rápido não acompanhado pelos vasos. Pode ter ligação também com doenças hormonais e acredita-se ter cunho genético, porém sem comprovação. Normalmente é unilateral e o animal manifesta os sinais (claudicação ou impotência do membro) entre 3 e 13 meses. O diagnóstico se dá por RX, a TM ou a RM podem ser úteis para verificar a vascularização, mas são pouco utilizadas. No exame físico teremos dor na abdução e extensão, além de atrofia muscular. São animais que evoluem para instabilidade articular, como em pacientes com displasia, já que a cartilagem é formada através do impacto da cabeça do fêmur com o acetábulo, sem esse a cabeça perde seu formato. O tratamento é cirúrgico. As técnicas utilizadas são a de ressecção de cabeça e colo de fêmur ou a denervação em pacientes com quadros leves. A técnica de descompressão do núcleo femoral tem sido utilizada na medicina humana e é uma tentativa em pacientes com quadros leves, onde estimulamos um coagulo ósseo através de furo na cabeça do fêmur com o intuito de neovascularização. Luxação coxofemoral A maioria dos casos são traumáticos, porém luxações espontâneas podem acometer pacientes muito idosos, principalmente de raças médias que tem atrofia de membros da coxa. As luxações podem ser dorso craniais (mais comum) ou ventro caudais. Os animais apresentam impotência funciona ou claudicação em quadros agudos, se ficarem crônicos podem ser assintomáticos. Podemos observar uma rotação de membro medial. O diagnóstico se dá por testes inespecíficos (rotação, extensão e flexão) onde teremos dor e crepitação, comparar a altura dos membros e pelos testes específicos que são o teste do triangulo palpável avaliando a simetria entre o trocânter maior, ílio e ísquio,positivo quando está maior, ou o teste do polegar quando não sentimos nenhuma pressão entre o trocânter e o ísquio durante a rotação do membro. O RX também pode ser utilizado. O tratamento pode ser feito através de: a) Redução fechada: resolve 20% dos casos. Com o animal anestesiado eu reposiciono a articulação e faço os movimentos naturais do membro, se luxar novamente posso tentar mais uma vez. Após a segunda tentativa se a articular permanecer instável devo encaminhar para a cirurgia, se ela ficar fixa mantenho o animal com analgésicos e em confinamento. Pode ser feita apenas em pacientes que não tem incongruência articular. b) Redução aberta: sempre acompanhada da capsulorrafia. Pode ser feita através da abertura e encaixe da articulação com fixação através de parafusos ancora, ou ílio trocantere ou reconstrução do ligamento redondo (pino em carvilha). Em animais com incongruência articular ou luxações antigas devemos indicar a ressecção de cabeça e colo femoral. AFECÇÕES DO JOELHO Luxação de patela Trata-se de uma alteração congênita, de correção não emergencial, porém quanto mais jovem feita menor as alterações ósseas (deformidades angulares em fêmur e sulco troclear em local inadequado). Podem ser mediais – mais comum em cães pequenos, ou laterais – comum em cães grandes em menor frequência. Normalmente bilateral. A luxação de patela é um sintoma, não o problema. Ela é resultado de deformidades ósseas ou alterações musculares, ou seja, as causas podem ser: a) Anteversão de cabeça femoral: quanto mais para trás a cabeça do fêmur mais para medial a patela estará pelo movimento da musculatura do quadríceps. b) Displasia coxofemoral ou baixa cobertura acetabular. c) Torção femoral distal d) Desvio da tuberosidade tibial e) Contratura da musculatura do quadríceps: se insere na tuberosidade da tíbia, podem levar a deformidade angular em fêmur. f) Arrasamento troclear É uma doença que pode ser classificada em graus frente a sua gravidade. Animais com grau I tem a forma leve, onde a patela não luxa sozinha, ela só sai do ligar com a palpação e volta imediatamente, esses são ausentes de sintomas. Já no grau II a luxação é espontânea, porém intermitente, ela volta sozinha. Durante a palpação eu consigo mantê-la fora, mas quando solta retorna ao sulco. No grau III a patela está sempre fora do sulco, porém com a palpação ela retorna, mas não se mantem dentro dele. Por fim, no grau IV a patela se mantém fora do sulco o tempo todo e não volta para ele nem com palpação, nesses casos já temos tortuosidades ósseas importantes. Animais que permanecem longos períodos com a patela luxada tendem a desenvolver novos sulcos trocleares – já que esse fisiologicamente é formado pela pressão patelar. Luxações laterais levam a valgus femoral e varus tibial, já as mediais levam a varus femoral e valgus tibial pela Lei de Folkman (pressão em linha epifisária leva a diminuição do crescimento na região acometida quando comparada ao lado livre). Para o diagnóstico utilizamos o RX simples ou com cálculo de CORA (feito sob sedação), além de tomografia. Não é uma afecção progressiva, porém quando os animais estão em crescimento o quadro pode piorar pelas deformidades ósseas. São animais na maioria assintomáticos, podemos perceber em poucos casos pequenos pulos durante a marcha graças a dificuldade de extensão de membro ou o tutor sente luxar quando pega no colo. Em alguns casos só diagnosticamos durante a vida adulta após o desenvolvimento de artrose. O tratamento depende do grau de luxação e da tortuosidade óssea. Animais em grau I ou II assintomáticos não são tratados. Pacientes grau II sintomático, III ou IV são indicativos de cirurgia. A técnica deve ser escolhida após a avaliação radiográfica. a) Trocleoplastia simples: essa é uma técnica que sempre estará presente, ou junta de outras ou isolada. Nela eu removo um fragmento do fêmur e aprofundo mais o sulco, assim a patela fica no lugar. b) Transposição de tuberosidade tibial: é feita em luxações graus III e IV, nessa técnica torções internas são corrigidas. Eu serro a tuberosidade tibial e trago ela para a lateral e a fixo com uma banda de tensão evitando que ela retorne. c) Osteotomia corretiva femoral distal: feita após a mensuração de CORA que demonstra alterações em eixo de fêmur. Feita através da colocação de placas. d) Osteotomia proximal reta: substitui a trocleoplastia simples em animais ainda com linha de crescimento. Eu coloco pino na porção distal e proximal de fêmur, então entorto o pino, assim o osso rotaciona e eu corrijo o posicionamento do sulco. Ruptura de ligamento cruzado O ligamento cruzado é responsável por manter a estabilidade do joelho, ele limita a rotação e a extensão da tíbia. A ruptura dele é a causa mais comum de claudicação. Acomete animais de todas as raças, idades e pesos. As rupturas podem ser totais ou parciais (que irão evoluir para totais), normalmente são bilaterais, já que quando rompe um lado o animal começa a sobrecarregar o outro e acaba rompendo. As rupturas podem ser traumáticas em casos raros – quando os animais caem rotacionando o membro, ou não traumáticas, ligadas a luxação de patela, sobrepeso, doenças endócrinas que enfraquecem os ligamentos como hiperadrenocorticismo ou doenças autoimunes. Como sinais temos claudicação intermitente com alivio em pinça em casos agudos, em casos crônicos podem ser assintomáticos. O diagnóstico se dá pelo exame físico com testes inespecíficos como o de gaveta positiva, o de compressão de tíbia positivo e eles podem também ter aumento de volume flutuante local. O RX também pode auxiliar onde observaremos deslocamento cranial de tíbia em relação ao fêmur. O tratamento é cirúrgico através das técnicas: a) Sutura do fabelo tibial: feita em animais pequenos de até sete quilos. Faço uma sutura em forma de oito e passo um fio por trás da tabela. Como complicação podemos ter a ruptura do fio ou luxação da fabela. b) Tightrope: feita em animais com mais de sete quilos, através de um furo feito na porção distal do fêmur eu passo um fio ancorado com um botão e saio na região lateral, e entro na tuberosidade tibial e saio na porção medial, também ancorando com um botão. c) Osteotomias a. TTA – avanço da tuberosidade tibial: feita através da movimentação cranial da tuberosidade tibial, fazendo com que a superfície inclinada se torne reta. Eu faço uma osteotomia da tuberosidade e posiciono ela de maneira que o ângulo do ligamento patelar atinja 90º, fixo nessa posição com um implante em cage e placa. O teste de gaveta ainda dará positivo já que não é um movimento natura, essa cirurgia neutraliza a compressão tibial que é natural no caminhar. Só pode ser feita em animais que tem o platô angular menor que 26º, se não o cage será muito grande para alcançar os 90º. b. TPLO – nivelamento do lago tibial: é feita com o mesmo princípio da TTA, eu formo um platô angular de 5º. Com uma serra semicircular eu faço uma osteotomia e reposiciono o fragmento atravésde uma rotação, a fixação é feita com placas e parafusos. É uma técnica melhor já que não há deslizamento ósseo. AFECÇÕES DE COLUNA VERTEBRAL Doença do disco intervertebral O disco vertebral tem a função de absorver impactos, impedindo que estes caiam direto sobre as vértebras, porém quando ele começa a ressecar ele perde sua função. Quando temos a degeneração do disco vertebral esse impacto é transmitido ao anel fibroso, que se rompe e pode levar a uma protrusão ou extrusão do núcleo pulposo. No caso das protrusões o núcleo sai pouco, não chegando a ocupar todo o canal medular, já nas extrusões o núcleo sai por completo, preenchendo todo o canal medular. Existem diversas doenças que levam a esse ressecamento: a) Hérnia de disco em animais não condodistróficos: acontece graças ao desgaste natural do disco, pode ser chamada também de Doença Hansen tipo II. Nesse caso ocorre a protrusão do núcleo bulbar, ou seja, não chega a acontecer o derramamento. b) Hérnia de alta velocidade: acomete animais que fazem muita atividade física sem o ressecamento do disco, se dá pelo impacto. Quando o disco se rompe e expulsa o núcleo em alta velocidade esse encontra a medula e leva a uma importante contusão, gerando um grande edema, que leva a compressão e consequente isquemia. Nesse caso o prognostico é ruim e a única chance de sobrevida é uma cirurgia de emergência. c) Hérnia de disco em animais condodistróficos: além da tendência natural a degeneração de disco estes tem calcificações de disco por toda a coluna. Normalmente fazem extrusão do núcleo. Conhecida também por Doença Hansen tipo I: ocorre pela calcificação do anel fibroso, que acaba rompendo e levando a extrusão do núcleo. (compressão baixa velocidade) d) Lesões por ferimentos penetrantes e) Traumas: que podem levar a fraturas completas ou incompleta de vértebras ou a luxações. (compressão de alta velocidade). Também respeitam o conceito de onda de choque levando a um importante edema por contusão medular. Todos os animais com alterações na coluna devem ser avaliados com RX em duas projeções, que é útil para o diagnóstico de fratura ou para triagem, nunca diagnostica uma alteração do disco vertebral. A TM ou a RM são os exames de escolha para diagnóstico e planejamento cirúrgico. Onde a TM tem aptidão para tecidos ósseos e a RM para tecidos moles. As protrusões ou extrusões levam a compressão do canal medular. Essa compressão se dá por um processo isquêmico compartimental, ou seja, não causado por obstrução de vasos. Quando a medula é comprimida - independente da causa - ela sofre um processo inflamatório, assim edemaciando. Com esse edema a pressão local aumenta e a vascularização é incapaz de irrigar pela diferença de pressão. Isso leva a um processo isquêmico, gerando necrose e ativando mecanismos de emergência. Esses mecanismos produzem radicais livres. Após um processo de descompressão - seja por medicamento ou cirúrgico - o sangue volta a circular e os radicais livres reagem cm o oxigênio, formando compostos tóxicos as membranas celulares (oxidação lipídica). Isso leva a morte celular em todo o organismo, principalmente na região da medula, chamada de mielomalacia. É um caso irreversível e imprevisível. A mielomalacia acontece normalmente em casos de compressões graves e prolongadas, outros fatores podem também indicar que estamos desenvolvendo essa morte celular como perda de movimentação de outros membros, perda de dor profunda. A perda de movimentação caminha e costuma atingir o centro respiratório, levando a uma morte agonizante. Então quando identificarmos que estamos diante de uma evolução para mielomalacia devemos indicar a eutanásia. Os sinais de alterações do disco dependem do local da hérnia e da intensidade da compressão medular. Os animais devem ser avaliados frente a sua postura, como ele chega no consultório, observar sua propriocepção e avaliar a dor superficial e profunda. O atendimento deve ser iniciado pelo exame físico, depois de toda a avaliação podemos utilizar de fármacos como opioides para controle de dor. Então o paciente deve ser encaminhado para os exames de imagem, para a cirurgia e serem internados no pós-operatório. Além disso é indicada a reabilitação para evitar atrofias musculares Casos com perda de dor profunda são cirúrgicos de emergência, temos até 48 horas para reverter o quadro. Todas as cirurgias de coluna devem ser planejadas, nenhuma é exploratória. Frente a cada objetivo temos uma diferente técnica cirúrgica: a) Profilaxia: a. Fenestração: feita quando o disco está calcificado, fazemos um corte nele assim se romper ele não atinge a medula e sim extravasa para o corte. Tem a desvantagem de destruir o disco precipitadamente, sem saber se ele ia ou não virar uma hérnia. b) Descompressão: a ideia dessas técnicas é que o canal medular permaneça aberto, sem a formação de osso, por isso antes de fechar devemos preencher os espaços com enxerto de gordura. a. Fenda ventral: utilizamos em hérnias cervicais, onde o acesso é feito de maneira ventral, afastamos todos os órgãos e músculos e atingimos o assoalho da vértebra. A vértebra anterior e posterior da hérnia deve ser desgastada até atingir o canal medular, então retiro o material para fazer a descompressão. b. Mini laminectomia: tem a vantagem de não destruir o processo articular, porém é feita através de um pequeno acesso, não sendo possível fazer grandes descompressões. É utilizada principalmente em hérnias torácicas baixas (abaixo de T10) ou lombares. c. Hemilaminectomia: é a técnica mais utilizada, feita em hérnias torácicas ou lombares. No lado acometido eu devo desgastar o processo articular até atingir o canal medular, esse é descomprimido através de curetagem. Nessa técnica é possível fazer grandes janelas, porém como desgasta o processo articular precisamos utilizar de fixadores Criff, para gerar estabilização d. Laminectomia dorsal: feita através da retirada do processo espinhoso da vértebra, utilizada em cirurgia de cauda equina, em hérnias cervicais e em traumas. Feita sem a destruição da articulação, então não é necessário estabilizar. c) Estabilização: feita com placas bloqueadas ou fixadores criff. Deve ser feita com muita cautela para que os fixadores não atinjam o canal da medula. d) Biopsia Doença de Wobbler É uma alteração cervical congênita e hereditária rara que acomete Dobermann ou animais de raças grandes. É na verdade uma síndrome, caracterizada por diversas alterações na porção cervical. O diagnóstico se dá por TM ou RM. Com tratamento cirúrgico através da laminectomia cervical feita em diversas vértebras. se não for possível manter o processo articulação a coluna deve ser estabilizada. Caso a alteração seja pontual podemos utilizar a técnica de fenda ventral.