Buscar

Resumo da República de Platão: Definição da Justiça

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 3, do total de 12 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 6, do total de 12 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 9, do total de 12 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Prévia do material em texto

Resumos a “República” de Platão
Livro I e ll
O tema deste livro, República, é evidente desde o seu início: encontrar uma definição da justiça. No livro I, Sócrates voltando de suas preces à deusa Bendis de um novo culto trácio em Atenas, como lhe é típico, se utiliza de seu método investigativo para conduzir discussões, partindo da definição de seus interlocutores que encontra, a princípio aqui da opinião comum apresentadas por Céfalo e seu filho Polemarco.
Céfalo discorre sobre a velhice com Sócrates que já também era bastante velho. Ele fala sobre os limites da idade avançada, isto é, a pacificação das paixões, moderação dos sentimentos, o usar dos bens materiais sensatamente e, principalmente, o termo da morte próxima e o despertar de um reexame da vida. Ademais, Glauco, por ser estrangeiro, acredita, contrariamente à religião tradicional de Atenas, que nossa alma imortal será punida ou recompensada no Hades. Aquele que cometeu mais injustiças é mais atormentado pelo além, enquanto que aquele que só faz o justo, não. Como disse o poeta Píndaro, para quem viveu segundo a justiça, a velhice é como uma bondosa ama, que alimenta de esperança o coração dos velhos. Acabando por dar a primeira definição de justiça da República, dizer a verdade e não enganar ninguém, o que foi visto como restituir o que se tomou dos outros.
No entanto, Sócrates já posiciona um exemplo certeiro em seu contra-argumento, ninguém diz que seria justo restituir a um amigo enlouquecido as armas que tivesse recebido dele enquanto ainda estava em perfeito juízo. Polemarco recorre a outro poeta para defender a mesma tese sobre a justiça, Simonides[1]. Porém, o mesmo exemplo ainda é válido para este argumento, com um pequeno detalhe a mais. Sócrates expande a situação hipotética em, ao não restituir as armas ao amigo enlouquecido, supõe-se que se faça o bem, pois amigos fazem o bem para amigos, sendo o mal feito aos inimigos. Entretanto, se fosse apenas isso, ou seja, dependesse de uma visão particular, por muitas vezes se poderia estar equivocado, fazendo bem ao inimigo e mal ao amigo. Daqui, por enquanto, a única coisa que se pode tirar com certeza é que a justiça faz os homens bons e o homem bom não pratica o mal, nem sequer ao seu inimigo
Fato importante a se colocar aqui é a importância até então dos poetas, que criaram o modo de vida grego. Nas opiniões do “senso comum”, são utilizadas citações de dois poetas, Píndaro e Simonides como uma forma de autoridades incontestáveis. Entretanto, claramente com a introdução da filosofia no modo de vida grego, assim como a do sofisma, vemos um abandono do modelo poético para explicação dos fenômenos naturais ou, ainda, dos costumes. Este novo decair da presente ordem do universo mostra-se claro em As Nuvens, onde Zeus morre.[2]
Então, entra Trasímaco, o sofista, e afirma que a justiça não é mais do que o interesse do mais forte, pois em toda cidade são os fortes que governam e fazem as leis. Aqui Platão mostra o sofista como alguém interesseiro em dinheiro, em aprovação pública, glória e estima, mas que tem sido ouvido pela nata da juventude que se encontra perdida em meio a crise de crenças em Atenas. Sócrates entretanto concorda com Trasímaco de que a justiça seja uma conveniência, porém discorda que seja do mais forte. Até nesta situação o mais forte, ou seja, o governante pode se enganar quanto ao que pensa ser melhor para si e, além do mais, o governante sempre governa para seus subordinados e nunca para si, pois ele é como a medicina e a náutica, existem para os mais fracos. Mas Trasímaco não desiste e, por meio de vários exemplos, conclui que a justiça só é boa para o forte e o poderoso, tornando um prejuízo para quem a obedece e muito útil e vantajosa para quem a desobedece.
Adiante, Sócrates inverte o raciocínio em que: o justo seja bom e sábio e o injusto, ignorante e mau. Advindo daí que aquele que exerce o que cabe à sua alma, sua virtude de manter a vida, viverá bem e aquele que vive bem nada mais é que feliz, sendo o injusto, infeliz. Cabe aqui também a preocupação de Céfalo pelo além e o juízo do mundo inferior. Uma vida justa e feliz, só poderia acalmar a alma para o além e ter a recompensa que só ele acredita receber.
Bibliografia:
PLATÃO, A República (Da Justiça). Edipro. São Paulo. 2006.
MIRANDA, Mário. Crenças: Filosofia e religião na leitura da República. 2011.
STRAUSS, Leo. Jerusalém e Atenas.
Comentários.
            Ambos os livros I e II tratam dessa primeira definição inicial da justiça. Os poetas, mostrando claramente suas raízes no modo de pensar e agir grego, são utilizados como recursos argumentativos pelos interlocutores de Sócrates. No entanto, apenas mostrando um ponto de vista do senso comum em relação à justiça e à injustiça. É claro desde as primeiras palavras como o antigo modo de viver grego está em crise, pelas referências à outra religião entrando em Atenas, oferendas sendo feitas a deuses estrangeiros e à ansiedade, trazida pela proximidade da morte de Glauco, por um julgamento justo no fim de sua vida e um pós-vida pacífico[1]. Mas como se não se sabe por certo sequer o que seja justiça?
            Trasímaco, o sofista introduz o niilismo que vai estender-se até o segundo livro. Se o saber ancião está se perdendo, e é fácil já enganar os deuses, numa visão distorcida do que está sobrando dos ritos, alguns simplesmente caem em desesperança. E a injustiça vence os de corações mais vulneráveis, como os jovens interlocutores de Sócrates. Os deuses antigos estão perdendo o seu “poder” e influência sobre os gregos[2], levando-os a crer que a injustiça é mais lucrativa que a justiça. Esta argumentação é forte, pois toma exemplos verdadeiros do cotidiano, porém falta averiguar a questão conceitual, que apenas no livro II é abordada.
            Platão põe Sócrates à sua maneira, a questionar a todos e até fingir derrota sobre o tema da justiça, mas a direção da conversa logo toma um rumo certeiro. No primeiro livro, as opiniões se acumulavam, como elementos para uma grande peneira. No segundo, é preciso ir por outro caminho, a justiça deve ser vista como um bem em si e pelos seus efeitos – em vez de ser uma coisa penosa -, mas antes deve se estabelecer a origem da justiça, o que é uma empreitada em que se poupa bastante tempo. Pois, o diálogo caminha para um tema escolhido por Sócrates, apesar de Glauco ainda tomar o papel de Trasímaco sobre a injustiça.
            Para se chegar à origem do problema, é preciso saber porque as pessoas são justas também. As leis servem como reguladoras do que é justo e do que não é. Mesmo que todos as sigam a contragosto, impede um número maior de injustiças, o que não deixa de dar ênfase ao injusto que não é pego[3]. Importante aqui ver que, se não houvesse as leis, todos cometeriam injustiças, pois estes mesmos também poderiam sofrê-la, se assemelhando nem que seja um pouco a uma condição natural má do homem.
            Todavia, o assunto ainda não está demasiado aprofundado e Platão segue mais à base do problema, na questão: por que existe a cidade? A resposta a esta questão responderia ao problema de Adimanto e de vários poetas citados no texto de que, a justiça é mais válida pela sua fama, sua aparência, pois ser justo de verdade é trabalhoso, enquanto injusto, prazeroso e fácil. Pois, a cidade é comparada com a alma, tendo apenas diferenças de grau. Então, Sócrates apenas tem de responder do porque a justiça ser boa por si, independentemente de ser vista ou não.
            Ninguém é auto-suficiente, o homem precisa de outro para efetuar suas tarefas, daí a necessidade da cidade, pois ela corrige isso e torna o grupo auto-suficiente. No entanto, assim como a alma humana, o necessário dá espaço para o supérfluo ou o luxo. Este é buscado em outras cidades ou, no paralelo à alma humana, em outras pessoas, como no roubo. Aqui nasce a guerra.
            Então, o guardião entra em questão. Aqui começa a análise das classes da cidade ou, por assim dizer, da própria alma. Entre as qualidades queo guardião deve ter, a saber, força, coragem e temperamento, é preciso educá-lo a fim de o ser também filósofo. Para isto, Platão ataca – e é necessário ser preciso nas palavras aqui – os ensinamentos da poesia. Ou seja, ele sabe que se quiser construir uma nova sociedade, não se pode renunciar a poesia. Platão critica, mas se utiliza da poesia, pois não mira sua forma, mas a sua temática, o modo como os deuses se comportam e como a moral é por vezes ignorada. A filosofia vem para modificar este conteúdo, pois, mesmo Platão se utiliza da forma poética em seus escritos, ele escreve em diálogos! Assim, o foco mira agora  o que se deve ensinar às crianças: a virtude e não os deuses viciosos dos antigos poetas, já que é assim que uma nova sociedade é feita.
Bibliografia:
PLATÃO, A República (Da Justiça). Edipro. São Paulo. 2006.
MIRANDA, Mário. Crenças: Filosofia e religião na leitura da República. 2011.
STRAUSS, Leo. Jerusalém e Atenas.
[1] Crenças estas que não são de Atenas.
[2] A própria filosofia entra como um dos fatores da crise do modo de vida grego.
[3] Como pode ser visto no exemplo de Giges e seu anel, e do poeta Ésquilo no segundo livro.
[1] Já é possível notar como os poetas realmente criaram o modo de vida grego e ainda tem sua força em argumentos de autoridade.
[2] As inúmeras referências e citações aos poetas que aparecem nos três primeiros livros da República ilustram bem como os gregos eram educados por meio da poesia. Esse modelo tradicional de educação, que Platão pretende superar na república. GUINBURG, J., A República de Platão (Org). São Paulo: Perspectiva, 2006: p. 27-8, nota, 15
Livro lll
O livro III continua do desenvolvimento final do livro II, os guardiões e sua educação. Todo ele se limitará a especificar como será essa educação em suas temáticas, censurando os antigos poetas. Sócrates inicia o livro pelo Hades, solicitando para que este não seja depreciado e nem que se tenha medo, pois os guerreiros devem ser corajosos perante a morte. Desta maneira, conclui que todas as passagens de Homero e outros poetas que tenham tais conotações sejam eliminadas, censuradas, pois não engrandecem a virtude, que o guardião tem de possuir.
O mesmo se repete nas passagens que falam sobre o riso descontrolado, a mentira, a exacerbação do Eros, o luxo, o suborno e outros vícios. Ou seja, Platão procura a matéria perfeita da poesia, das fábulas e mitos a custo da história. Os deuses e heróis devem se comportar no agir virtuosamente para que “não produzam na juventude uma forte predisposição para os atos maus”[1], pois “ o que os poetas bem como os prosadores nos contam a respeito dos seres humanos  é  ruim. Dizem eles que muitos indivíduos injustos são felizes e muitos justos são infelizes, que a injustiça é  vantajosa se não for descoberta e que a justiça é  o beneficio alheio, mas também o prejuízo próprio”[2]. Aqui se encerra essa primeira parte quanto à matéria, sendo o próximo tema sobre a forma da poesia agora.
Há diferentes tipos de relatos poéticos. Existe a maneira direta, onde o narrador não se confunde com o personagem; a maneira representativa, onde o narrador produz suas narrativas por meio da imitação, ou seja, “quando ele compõe um discurso como se ele fosse outra pessoa (…) diríamos que está tornando seu próprio estilo o mais semelhante possível daquele da pessoa a quem concede a palavra”[3]; e a terceira maneira é quando se imita certas coisas e não outras.
A imitação forma “hábitos no que tange aos gestos corporais, a voz e o pensamento”[4]. Então, quando se apresentar na narração um personagem que seja um escravo ou uma mulher; alguém apaixonado, colérico, tomado por dores ou agindo de maneira malévola; artesãos das artes inferiores, loucos, animais ou a própria natureza, o guardião não imitará. Pois, este guerreiro deve ser um homem moderado e deve se identificar com o caráter digno, tendo em sua educação uma poesia majoritariamente sem imitação, mas com uma pequena quantidade de imitação apenas dos homens virtuosos. Assim, se admite apenas “o imitador puro do homem bom”[5][6].
Na poesia, Platão também esmiúça o tema com Glauco, que é músico, dividindo a poesia em odes e canções e colocando a música em três elementos: letra, harmonia e ritmo. A partir de então, a poesia será vista sob este novo aspecto. A censura começa novamente com os cantos fúnebres e lamentosos[7]. Logo depois, tudo o que incentiva a embriaguez, a indolência ou efeminação[8] e a ociosidade[9] é descartado para o guerreiro. O que sobra são as duas modalidades: para a violência, resistência, autocontrole e coragem; e para a paz e persuasão[10].
Após a decisão das modalidades, Platão discorre sobre os ritmos e letras que alguém de coragem e moderação deveria ouvir. Até “o prazer mais intenso e mais ardente”[11], o sexual se torna moderado e harmonioso com a educação através da música. No entanto, Platão ressalva que o amor deve ser direcionado apenas para o que é nobre e belo, acabando aqui a primeira parte do livro sobre a poesia. Agora a discussão avança para a educação física.
“Uma boa alma, devido a sua própria excelência, torna bom o corpo o quanto isso seja possível”[12]. Por isso, o guardião deve se focar na atlética e na dietética. Ou seja, evitar embriaguez e o luxo, enquanto devem se focar na disciplina, no regime alimentar e num treinamento rigoroso. Desta maneira, todos esses cuidados, essa moderação evitam a doença e a necessidade
Aqui é onde, na opinião do autor desta resenha, se encontra a parte mais importante do livro III. Platão compara os médicos aos juizes. Enquanto o bom médico deve provar de todas as doenças no corpo e curar os corpos com sua alma, o juiz deve reger outras almas com sua alma, no entanto deve permanecer íntegro e puro. Ou seja, não devem conhecer o vício e o mau. “Um bom juiz não deve ser uma pessoa jovem, mas velha, na vida um tardio conhecedor da justiça e alguém que haja se cientificado dela não como algo interno em sua própria alma, mas como algo estranho e presente nos outros – alguém que, após muito tempo, reconheceu que a injustiça é naturalmente má não por a ter experimentado pessoalmente, mas através do conhecimento”[13].
Entretanto, se a educação discutida até então for feita, os jovens terão a prática da justiça no dia a dia, o que torna desnecessária a existência do juiz ou a justiça dos tribunais. Assim, finalmente se retorna ao tema da justiça do Livro II, depois de se ter chegado à sua origem, a educação.
                Após isso, o tema sobre quem devem ser os governantes é abordado. Os mais velhos, os melhores (na guarda do Estado), os mais inteligentes e que melhor cuidem dos interesses do Estado, pelo que lhe é vantajoso são as primeiras definições destes governantes. A partir de então, Sócrates propõe testes de persuasão na educação do guardião e uma observação constante em seu desenvolvimento.
                Por fim, Sócrates fala sobre o conto fenício e nele finaliza o livro nos três estamentos da sociedade nova que procura. Um pouco de ouro para aqueles que irão governar; prata para os auxiliares; e ferro e bronze aos agricultores e outros trabalhadores. Contudo, quanto às gerações seguintes, contatando-se com a misturo de metais, as pessoas devem ter o que lhes é devido. Ou seja, se um ouro tem um filho bronze, tal será seu destino. No entanto, um guardião nunca será bronze ou prata, mas ouro. E por ter ouro na alma, o guardião nunca poderá ter ouro em forma corpórea, sendo este sempre pobre.
[1] PLATÃO, A República (Da Justiça). Edipro. São Paulo. 2006. p. 139
[2] PLATÃO, A República (Da Justiça). Edipro. São Paulo. 2006. p. 140
 Livro lX
Definição e conceituação de ‘desejo’ em Platão
Para Platão, dentre os prazeres e os desejos não necessários, alguns são ilegítimos. Contudo, tais prazeres são inatos de cada ser e, para reprimi-los, existem as leis. Os desejos melhores, com o auxílio da razão podem ser totalmente extirpados em alguns ou ficarem subjugados, enfraquecidos e reprimidos em alguns, assim comoficarem em pequeno número; ao passo que nos outros subsistem mais fortes e em maior número.
Àqueles que despertam-se para os desejos bons, na parte da alma que é racional e benigna, cabe-lhes comandar a outra parte, que é bestial e selvagem e que após saciados prazeres animalescos, parte em busca da satisfação de sua má índole. Nesses casos, não há equilíbrio e a alma tudo ousa, sem qualquer vergonha ou prudência.
Esse homem bestial não tem qualquer sentimento de culpa em relação ao incesto ou em relação a qualquer relação que seja, desde o animal ou a algum deus, alimenta-se de qualquer coisa e sua imprudência o impede de ter juízo sobre tais valores.
Já o homem cujo elemento racional despertou-lhe a alma, é alimentado por belos pensamentos e nobres especulações, pensando a respeito de si mesmo, no momento em que media seus desejos sem entregar-se à simples e pura concupiscência, a fim de que se mantenha em repouso e não cause perturbações. O elemento cultural é evidente na descrição platônica a respeito do homem que cobra sensatez de seus instintos. Este homem, de pensamentos equilibrados e de todas as outras virtudes descritas, esforça-se por aprender do que ignora.
Este homem toma controle de seu instinto irascível, e nesse pensamento não é tomado de ira por quem quer que seja. “Quando acalmou estes dois elementos da alma e estimulou o terceiro, em que reside a sabedoria, e, por fim, repousa, (...) toma contato com a verdade melhor do que nunca, e as visões dos seus sonhos não são de modo nenhum desregradas”. (292) É imperativo notar que a sabedoria não aporta naturalmente a partir daí, há nela uma necessidade de “estímulo”, para que seja alcançada.
Não se pode esquecer do ponto fundamental a que chega Platão: de que, mesmo nos mais regrados, há neles intrinsecamente desejos que podem ser considerados terríveis, selvagens e sem leis, e tal selvageria pode ser encontrada também nos sonhos.
Livro V
O livro V começa com Sócrates reconhecendo a questão do fim do livro IV como supérflua, isto é, que não vale a pena viver quando se tem corrompida a parte da alma que busca a justiça e a virtude. Assim, a discussão se foca sobre as diferentes cinco formas de governo, que correspondem a cinco tipos da alma humana também.
         No entanto, Polemarco cochicha para Adimanto se iriam deixar Sócrates desviar-se do assunto sobre a comunhão das mulheres, ao casamento e à procriação, que, o que é muito importante, Sócrates julga de menor importância, mas não seus interlocutores. Isto, pois o filósofo julgava se tratar de assuntos muito polêmicos, mas depois de muita insistência, cedeu com cautela para não se expor ao ridículo.
            Ao discorrer sobre as mulheres, Sócrates as compara a cães de guarda, pois elas também deveriam ser vigilantes, mesmo sendo mais fracas que os homens. Ora, aqui é a primeira fonte de embaraço, pois se a mulher deve proteger como o guardião, esta deve ter a mesma educação que ele. Ou seja, ela será educada tanto na música, ginástica quanto na arte da guerra. E treinará a ginástica nua assim como os homens, o que causa uma comoção entre os interlocutores.
            A questão retorna à justiça dada no livro anterior no ponto em que todos devem se limitar aonde lhes competem as coisas, assim como no exemplo dos metais e no exemplo deste livro de à mulher compete dar à a luz e ao homem, procriar, isto é, no exercício de profissões, deve-se levar em conta os dotes naturais, no caso de tecelagem e culinária para as mulheres.
           [Entretanto] não há um modo de vida ou atividade dos administradores de um Estado que diga respeito a uma mulher porque ela é uma mulher ou a um homem porque ele é um homem,  mas sim as várias capacidades naturais estão distribuídas da mesma forma entre esses dois seres vivos. As mulheres partilham, por natureza, de todos os modos de vida tal como os homens, porém, em todos, as mulheres são mais fracas do que os homens[1].
 
            Ou seja, apesar de existir mulheres de bronze, de prata e de ouro, ela não poderia governar por ser mais fraca que o homem. E esta é a parte mais importante para o autor da resenha, pois aqui Trasímaco ficaria feliz de não ter ido embora da discussão, pois a justiça do mais forte é consolidada no gênero masculino da humanidade.
            Logo, discorrendo sobre se todas as mulheres e os filhos deveriam ser comuns[2] a todos os homens, Glauco assume o papel de Trasímaco e pergunta a utilidade e, ainda, a possibilidade deste distanciamento da realidade para o ideal visado até aqui. Mas Sócrates logo rebate que para obter grandes feitos é preciso antes imaginar tudo como já as tivesse e depois ver se se alcançará ou não.
            Sobre o casamento, como no caso dos animais, se deveria empregar o cruzamento dos melhores homens com as melhores mulheres o maior número de vezes, enquanto que com os piores, o menor. Além de homens e mulheres só poderem procriar em certa idade da vida em que estão no seu melhor. Porém, tudo deveria ser zelado de perto pelos governantes para que a cidade não ficasse nem muito populosa, nem pouco, contando com guerras e pestes.[3]
            Posteriormente, consideram qual seria o maior  mal e o maior bem para a cidade. Logo chegam à união, como maior bem e à desunião como mal, indo de acordo com a moderação e a harmonia, que fazem a cidade ser boa. Desta maneira, para a cidade ser  mais unida é preciso que ela esteja de acordo no sentido das expressões “meu” e “não é meu”. A cidade deve ser feliz em conjunto e sofrer em conjunto, pois não se deve numa cidade justa se compartilhar apenas os bens, mas os sentimentos. E à alma justa apenas o corpo individual lhe pertenceria, levando assim todos à perfeita paz e à felicidade.
            Sobre os guardiões, as crianças deveriam ser levadas ao campo de batalha para aprender e observar desde cedo. E um código de honra deveria ser posto em uso para não escravizar um outro grego de outra cidade, nem tomar suas armas e suas casas. Porém, “tudo isso seria realizável?”, se perguntam os interlocutores de Sócrates.
            E Sócrates diz que não é esta a questão, mas sim que ao construírem uma cidade perfeita, ainda que não fosse realizável, se poderia observar os defeitos das já existentes e tomar as devidas precauções e modificações. Todavia, para o filósofo, bastaria apenas uma mudança para que tudo se realizasse, que é a grande perspicácia de Platão.
            Os filósofos devem ter o poder nas cidades. Na impossibilidade de tornar os governantes filósofos, o caminho alternativo é tornar os amigos do saber em governantes, caso contrário, a cidade justa que tanto se discutiu sobre nunca existirá. Para efeito de esclarecimento sobre a visão que a maioria tem sobre esses buscadores da verdade[4], Sócrates define o filósofo como aquele que capta a essência do conhecimento das coisas, enquanto há outros que apenas aparentam ser filósofos, mas tem uma mera opinião das coisas (como os sofistas) e há outros que nada sabem, que conhecem apenas a ignorância.
            A ciência fala sobre as coisas que são, enquanto que o objeto da opinião é o que parece ser, mas também não é o nada da ignorância, isto é, o não-ser. Então o que é a opinião, este meio termo entre o ser e o não-ser? A opinião é aquela que vê as coisas belas, as coisas justas e boas, mas é incapaz de ver sua essência. Assim, não é o verdadeiro conhecimento da realidade, mas uma opinião ou impressão sobre ela. Um philodóxos não é um philósophosque conhece a essência das coisas e pode administrar melhor a cidade como ninguém.
[1] PLATÃO, A República (Da Justiça). Edipro. São Paulo. 2006. p. 228
[2] Para tirar a chance de incesto, as crianças que nascessem depois décimo e no sétimo mês depois do casamento seriam chamadas de filhos daquele casal.
[3] Interessante aqui o fato dos melhores darem filhos aos melhores, mas ignorar o fato de que um homem ouro não ter sempre um filho ouro, mas prata e bronze também. Então, ou este “melhor” diz respeito à outra coisaque à filosofia ou há uma contradição.
[4] Pois, a maioria tem a opinião que filósofo não seja tudo o que diga e que corrompa os outros para falar no mínimo. Isto claro foi o que aconteceu com Sócrates ao ser acusado na apologia, onde foi totalmente mal entendido. No entanto, pelo bem da cidade, aceitou sua decisão, o que não aconteceria se filósofos governassem Atenas. Mas isso será melhor visto no livro VI.

Continue navegando