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CRIMES CONTRA INCOLUMIDADE PÚBLICA

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CRIMES CONTRA A INCOLUMIDADE PÚBLICA 
INCÊNDIO (art.250, CP)
Tutela-se a incolumidade pública, abalada pela conduta do agente (causar incêndio}. É a necessidade de preservar a sociedade civil do perigo de fogo, independentemente do dano que se possa seguir. É, em síntese, a ameaça, o risco que representa para a segurança coletiva por causa da possibilidade de sua propagação. 
A pena cominada no caput não admite nenhum dos benefícios da Lei 9.099/95. Já se o incêndio for culposo, permite-se a transação penal e a suspensão condicional do processo, exceto se incidente a majorante do art. 258, segunda parte. Neste caso, se do incêndio resulta lesão corporal de natureza grave, somente a suspensão condicional do processo será admitida, ao passo que, ocorrendo homicídio, nenhum dos institutos será aplicável. 
 Sujeitos do crime 
Qualquer pessoa pode praticar o delito em análise (crime comum), inclusive o proprietário da coisa incendiada, pois a lei mostra-se indiferente se o incêndio ocorre em coisa própria ou alheia. 
Sujeito passivo será o Estado, a coletividade, bem como aqueles que, eventualmente, são atingidos (em sua vida, integridade pessoal ou patrimonial) pela prática incendiária.
Conduta 
Pune-se a conduta daquele que causar (provocar) incêndio, expondo a perigo a vida, a integridade física ou o patrimônio de outrem.
Voluntariedade 
É o dolo, consubstanciado na vontade consciente de causar incêndio, sabendo que de tal ato resultará perigo comum. Não se exige finalidade especial por parte do incendiário (podendo servir, no entanto, como causa de aumento de pena, art: 250, § 1°, I, do CP). 
Consumação e tentativa 
Consuma-se o crime no momento em que o fogo se propala, gerando efetivo, concreto perigo comum, pela sua capacidade de subsistência, expansão e resistência à debelação (dificuldade de extermínio), questão de fato a ser resolvida em cada caso concreto. 
É pacífica a admissibilidade da tentativa de incêndio doloso. Alguns exemplos elucidam bem a questão: a mecha acesa é atirada para dentro de uma casa, mas não se comunica o fogo a objeto algum, porque os moradores conseguiram retirá-la a tempo; o fogo da mecha comunica-se a um móvel da casa, mas, antes de atingir a construção, é apagado por outrem; já predisposto o meio de eclosão do incêndio, é descoberto e inutilizado por terceiros (NELSON HUNGRIA).
Majorantes de pena
O § 1° do art. 250 traz inúmeras circunstâncias em que a pena é aumentada de um terço, atentando-se para a ganância do agente ou a maior dificuldade na debelação do fogo e, consequentemente, de maior perigo. 
O inciso I determina a majoração nos casos em que o crime é praticado com intuito de obter vantagem pecuniária em proveito próprio ou alheio. 
O inciso l prevê o aumento da pena quando o incêndio é praticado em determinados locais, que, por sua natureza, podem servir como meios mais favoráveis à causação de perigo comum. São eles: 
a) em casa habitada ou destinada a habitação;
b) em edifício público ou destinado a uso público ou a obra de assistência social ou de cultura: c) em embarcação, aeronave, comboio ou veículo de transporte coletivo;
d) em estação ferroviária ou aeródromo;
e) em estaleiro, fábrica ou oficina;
f) em depósito de explosivo, combustível ou inflamável; 
g) em poço petrolífero ou galeria de mineração; 
h) em lavoura, pastagem, mata ou floresta.
Forma culposa 
O § 2° prevê pena menor (de seis meses a dois anos de detenção) se o incêndio é provocado culposamente, e o agente não tem condições de evitar que seu ato acarrete perigo comum, pois, do contrário, podendo impedir a propagação, não o fazendo responderá pelo incêndio na forma comissiva por omissão. Também se faz necessário esclarecer que as figuras majoradas do § 1 o não têm aplicação neste caso. 
Forma majorada pelo resultado 
Por fim, o art. 258 trata do crime de perigo comum qualificado pelo resultado, com a seguinte redação: "Se do crime doloso de perigo comum resulta lesão corporal de natureza grave, a pena privativa de liberdade é aumentada de metade; se resulta morte, é aplicada em dobro. No caso de culpa, se do fato resulta lesão corporal, a pena aumenta-se de metade; se resulta morte, aplica-se a pena cominada ao homicídio culposo, aumentada de um terço". 
A primeira parte trata de crime preterdoloso, pois considera o incêndio querido pelo agente e o resultado morte ou lesão corporal advindo de forma culposa, ante a previsibilidade de que ocorresse. Note-se que esse resultado mais grave não poderá ser desejado pelo agente, sob pena de responder pelos crimes de homicídio qualificado ou de lesão corporal grave em concurso formal com o delito de incêndio.
A segunda parte do dispositivo prevê um aumento de pena para os casos em que do incêndio culposo resulta lesão corporal na vítima, que, obviamente, também será culposa. Se esse fato ocasionar a morte de alguém, aplicar-se-á a pena do homicídio culposo, aumentada de um terço.
Ação penal 
A ação penal será pública incondicionada.
EXPLOSÃO (art.251, CP)
Tutela-se, mais uma vez, a incolumidade pública que é colocada em risco diante da utilização de substâncias que podem provocar danos à integridade das pessoas e do patrimônio alheio. 
A pena cominada no caput não permite nenhum dos benefícios da Lei 9.099/95. Caso a conduta se subsuma ao § 1°, e desde que não incidente a majorante do § 2°, admite-se a suspensão condicional do processo. 
Quanto à explosão culposa, há várias possibilidades: 
a) se não resultar em lesão grave ou morte, permite-se a transação penal e a suspensão condicional do processo;
 b) se se tratar de dinamite ou substância de efeitos análogos e da explosão resultar lesão grave, será cabível somente a suspensão condicional do processo; 
c) se da explosão, quando não utilizada dinamite ou substância de efeitos análogos, resultar lesão grave, ambos os benefícios serão admitidos; d) sempre que da explosão culposa decorrer a morte, os benefícios despenalizadores serão afastados.
Sujeitos do crime 
Qualquer pessoa pode praticar o delito (o tipo não exige nenhuma qualidade especial do agente). 
Sujeito passivo será o Estado, representado pela coletividade (corpo social), bem como pessoas eventualmente atingidas pela prática criminosa. 
Conduta 
Consiste o crime em expor a perigo a vida, a integridade física ou o patrimônio de outrem, mediante explosão, arremesso ou simples colocação de engenho de dinamite ou de substância de efeitos análogos.
Voluntariedade 
É o dolo, consistente na vontade consciente de praticar uma das condutas previstas no tipo. 
Não se exige finalidade especial por parte do agente {havendo fim específico animando a sua conduta- como, por exemplo, matar alguém-, diverge a doutrina se ocorrerá ou não concurso formal de crimes, discussão esta já analisada no delito anterior, aqui aplicável no todo).
Consumação e tentativa 
O crime se consuma no momento em que a ação criminosa causa o perigo à coletividade.
A tentativa, por se tratar de conduta fracionável em todas as modalidades, é perfeitamente admissível.
Forma privilegiada 
O § 1º reduz a pena para reclusão de um a quatro anos se a substância utilizada não é dinamite ou explosivo de efeitos análogos. Obviamente, a constatação do crime na forma privilegiada dependerá de análise pericial, imprescindível na determinação se a substância utilizada pelo agente era ou não de potencialidade lesiva própria ou análoga à dinamite.
Majorantes de pena 
O § 2° majora a pena de um terço, se houver constatação da ocorrência de qualquer das hipóteses previstas no § 1°, I, do art. 250, ou é visada ou atingida qualquer das coisas enumeradas no n. 11 do mesmo dispositivo (art. 250, § 1 °). Sendo as mesmas causas majorantes do crime de incêndio, aplicam-se aqui os mesmos comentários já dispensados lá. 
Aplicam-se também ao tipo em estudo as hipóteses previstas no art. 258 do Código Penal, que aumentam a pena do crime, doloso ou culposo, quando ocorrer o resultado morte ou lesão corporal, sempre a título de culpa.
Forma culposaFinalmente, o § 3° diminui a pena pela prática do crime na forma culposa, variando a sanção conforme a natureza da substância que causou a explosão: se for dinamite ou substância de efeitos análogos, a reprimenda é de detenção, de seis meses a dois anos; nos demais casos, detenção, de três meses a um ano (deve ser observado que a forma culposa somente será típica em relação à explosão, já que a lei não prevê punição para aquele que, por imprudência, negligência ou imperícia, arremessa ou promove a colocação de substância explosiva).
Ação penal 
A ação penal será pública incondicionada.
USO DE GÁS TÓXICO OU ASFIXIANTE (art. 252, CP)
Assim como nos crimes antecedentes, a tutela penal recai sobre a incolumidade pública, agora colocada em risco pelo uso de gás tóxico ou asfixiante. 
A pena cominada no caput permite a suspensão condicional do processo (Lei 9 .099/95), desde que não incidente a causa de aumento de pena do art. 258, primeira parte. Se o crime for culposo, admite-se a transação penal e a suspensão condicional do processo, exceto se houver o resultado morte previsto na majorante do art. 258, segunda parte. 
Sujeitos do crime 
Qualquer pessoa pode praticar o delito em estudo. 
Sujeito passivo é a coletividade, bem como aqueles que sofrem risco advindo do comportamento criminoso do agente.
Conduta 
A conduta delituosa consiste em expor a perigo a vida, a integridade física ou o patrimônio de outrem, usando de gás tóxico ou asfixiante.
Voluntariedade 
É o dolo, consubstanciado na vontade consciente de usar gás tóxico ou asfixiante, com a ciência de que causa perigo comum. 
Não se exige finalidade especial por parte do agente.
Consumação e tentativa 
O crime se consuma com a causação do perigo comum, sendo indispensável sua comprovação. 
A tentativa é perfeitamente admissível, ante a possibilidade de fracionamento da conduta. 
 Majorantes de pena e forma culposa 
O parágrafo único diminui a pena para detenção de três meses a um ano se o uso do gás tóxico ou asfixiante é culposo. 
Os comentários dispensados às hipóteses previstas no art. 258 do Código Penal, em que do crime, doloso ou culposo, ocorre o resultado morte ou lesão corporal, sempre a título de culpa, são aplicáveis também ao art. 252. 
Ação penal 
A ação penal será pública incondicionada.
INUNDAÇÃO (art.254, CP)
Trata-se de dispositivo que tutela a incolumidade pública, em razão dos prejuízos físicos e patrimoniais que um grande alagamento pode causar. 
A pena cominada para o crime doloso não admite nenhum dos benefícios da Lei 9.099/95. A modalidade culposa, no entanto, permite a transação penal e a suspensão condicional do processo, desde que não incidente a majorante do art. 258, segunda parte. Neste caso, havendo lesão grave, permite-se apenas a suspensão condicional do processo. Se da conduta culposa decorrer a morte, afasta-se qualquer benefício despenalizador.
Sujeitos do crime 
Qualquer pessoa pode praticar o delito (crime comum). 
Sujeito passivo será a coletividade, bem como eventuais atingidos pela inundação provocada pelo agente.
Conduta 
Consiste o crime em causar (dar causa, provocar) inundação, expondo a perigo a vida, a integridade física ou o patrimônio de outrem.
Voluntariedade 
É o dolo, consubstanciado na vontade consciente de provocar inundação, com a ciência de que expõe a vida, a integridade ou o patrimônio de outrem a perigo. 
Não se exige finalidade especial pelo agente. 
Consumação e tentativa 
O delito se consuma no momento em que a coletividade é exposta a efetivo perigo pela inundação causada. 
A tentativa é perfeitamente admissível.
Majorantes de pena e forma culposa 
O art. 254 comina pena de seis meses a dois anos nos casos em que a inundação resulta de imprudência, negligência ou imperícia por parte do agente.
Ação Penal 
A ação penal será pública incondicionada.

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