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e-Book - Filosofia Política Contemporânea

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Professor Conteudista
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Projeto Gráfico e Diagramação
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Designer Gráfico 
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licença.
UNIVERSIDADE ESTADUAL DO MARANHÃO
Oliveira, Luis Magno Veras 
 Filosofia Política Contemporânea [ebook]. / Luis Magno 
Veras Oliveira. – São Luís: UEMA; UEMAnet, 2018.
 54 f.
 ISBN:
 1. Filosofia política. 2. Filosofia moderna. 3. Estado 
liberal. 4. Marxismo. I. Título.
CDU:321.01:1 
SUMÁRIO
APRESENTAÇÃO
UNIDADE 2 
2.1 O Estado Liberal em Hegel ........................................................................
2.2 Sociedade Civil ..........................................................................................
2.3 Estado ........................................................................................................
2.4 O Liberalismo em Stuart Mill ......................................................................
2.5 O Estado Liberal em Max Weber ...............................................................
UNIDADE 3 
3.1 Karl Marx ....................................................................................................
3.2 O Manifesto Comunista ..............................................................................
7
9
12
15
26
29
32
33
38
44
52
Marxismo
Os Teóricos do Estado Liberal
Filosofia Política ModernaUNIDADE 1 
1.1 Maquiavel ..................................................................................................
1.2 Hobbes ......................................................................................................
1.3 Locke .........................................................................................................
1.4 Kant ............................................................................................................
 APRESENTAÇÃO
Prezado (a) aluno (a),
O mundo contemporâneo mergulha na manifestação de elementos mais que 
complexos no seu movimento histórico. Diante da necessidade de compreender o 
movimento histórico desta realidade, apresentaremos brevemente algumas teorias 
políticas dos principais filósofos modernos e contemporâneos. 
Na primeira Unidade, serão apresentadas as teorias políticas desenvolvidas por 
Maquiavel, Hobbes, Locke e Kant, filósofos que fizeram o esforço de propor uma 
melhor forma da compreensão do Estado e sua formação no período moderno. 
Na segunda Unidade, delinearemos a compreensão do Estado liberal a partir do 
pensamento filosófico de Hegel, Stuart Mill e Max Weber, cujas reflexões são tidas 
como pensamentos que melhor esclareceram e propuseram a organização do 
Estado liberal segundo o princípio de liberdade garantido no Estado. Por fim, a 
última Unidade tratará da concepção do marxismo a partir da teoria política de Karl 
Marx, que é um crítico severo das filosofias modernas elaboradas para fortalecer 
o Estado liberal, pelo qual constituiu-se o Estado burguês, que se mantém pela 
exploração do proletariado e por meio de uma economia política. 
O cenário de uma Filosofia Política Contemporânea exige da atualidade uma 
profunda compreensão de teorias fundamentais que se desenvolveram no período 
moderno, mas que ainda hoje têm sua influência na complexidade do mundo da 
vida atual. Esta compreensão profunda da realidade de hoje só será possível se 
levarmos a sério as bases fundamentais de tal contexto do mundo atual, pois tais 
fundamentos devem ser analisados necessariamente a partir do olhar crítico da 
mesma Filosofia Política Contemporânea.
Bons estudos!
Caro (a) estudante,
Além do texto com as informações do conteúdo da disciplina, estamos lhe 
apresentando os ícones, elementos gráficos que ampliam as formas de linguagem 
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filmes com temas relacionados ao 
conteúdo do texto;
REFERÊNCIAS 
estão relacionadas no final de 
cada aula/unidade, de acordo 
com as normas da ABNT.
ÍCONES
C
ur
so
: 
Objetivos
• Apresentar as concepções filosóficas fundadoras da 
política moderna;
• Refletir as principais teorias da Filosofia Política Moderna;
• Analisar a contribuição de filósofos (Maquiavel, Hobbes, 
Locke e Kant) para a desenvoltura da política no período 
moderno.
O mundo contemporâneo é um mundo de desafios no que se refere à compreensão 
de tal realidade como se apresenta no cotidiano. O fracasso dos pilares da 
modernidade, liberdade, igualdade e fraternidade, como delineada pelos filósofos 
do período moderno, pode nos levar ao mero engano de que nada restou. Pelo 
contrário, ao se lançar os olhos na direção da política atual, facilmente se percebe 
que os pilares ainda estão lá assegurando direitos e fórmulas que comandam 
ainda a política do mundo contemporâneo. Porém, faz-se necessário entender o 
reflexo das mudanças promovidas pelas exigências do mundo contemporâneo, 
que claramente a Filosofia Moderna não consegue responder mais com a mesma 
força do período moderno. Neste sentido, este material pretende abordar de forma 
introdutória, os principais filósofos da modernidade que compreenderam a Filosofia 
Política Moderna, filósofos como: Maquiavel, Hobbes, John Locke e Kant. Para 
bem entender a Filosofia Política Contemporânea, é necessário compreender bem 
a Filosofia Política Moderna, na medida que, como dito acima, a filosofia possui 
ainda muitos elementos da modernidade. 
6
1
UNIDADE
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na
7
1.1 Maquiavel
Nicolau Maquiavel pode ser o primeiro filósofo político de grande importância para 
o período moderno, apesar de ser caracterizado como filósofo renascentista. Ele 
produziu uma profunda análise sobre a Filosofia Política, de tal modo que seu 
pensamento político se diferencia da referência especulativa, ética e religiosa, 
que alicerçavam o pensamento político de sua época. Maquiavel é o filósofo 
que pensa a política a partir das novas exigências de seu tempo. Nesse sentido, 
seu pensamento político é uma reflexãode transição para o estabelecimento da 
política moderna. Por isso, segundo Bobbio (2011), ele pode ser considerado o 
inaugurador da Filosofia Política Moderna.
Maquiavel, primeiramente, marca a sua reflexão política destacando a diferença 
entre ser e dever-ser como resposta às questões, buscando apontar como realmente 
as coisas são na realidade política, isto é, ele já trata de certo realismo na política, 
ou como ele diz no Capítulo XV de O Princípe: “uma verdade efetiva” (MAQUIAVEL, 
1998, p. 205). O dever-ser é definido para seu tempo como aplicação dos meios 
necessários para governar. A sociedade passava naquele momento por profunda 
decadência dos valores morais, oriundas de fantasias criadas por muitos que 
idealizaram o ser sem levar em conta o dever-ser. O ser é entendido pela realização 
da coisa naquilo que ela deve ser, isto é, o dever-ser da coisa é a realização da ação 
daquilo que deve ser moralmente necessário. Toda a realidade política é analisada 
a partir desta distinção do ser e o dever-ser. Declara o renascentista: “Daí se infere 
que o príncipe desejoso de manter-se no poder tem de aprender os meios de não 
ser bom e a fazer uso ou não deles, conforme as necessidades”. (MAQUIAVEL, 
1998, p. 206).
O realismo político, para Maquiavel, é a necessidade de se fundamentar 
principalmente à realidade dos fatos, sem levar em consideração as possibilidades 
das coisas, isto é, como as coisas poderiam ser. Por isso, o príncipe deve sempre 
mirar naquilo que é o necessário para a garantia de seu governo. Se ele se fixar na 
finalidade de apenas ser bom, ele já caiu em ruína. Para conservar-se no governo 
necessário, ele deve fazer o necessário para se conservar: “cumpre-lhe ser bastante 
8
cauteloso para saber furtar-se à vergonha das que lhe ocasionaram a perda do 
estado”. (MAQUIAVEL, 1998, p. 206). Isto exige do príncipe atuar sem o objetivo de 
ser bom. De modo que o governante, segundo este pensador, pode ter que utilizar 
a crueldade e barbaridade para situações extremas, que efetivam aquilo que seja 
necessário para a saúde do Estado. 
Maquiavel não é um crente da bondade pura do homem, esta aparência de virtude, 
por isso, a sua visão realista exige que o político coloque sempre em dúvida as ações 
humanas de bondade, já que para ele o homem é naturalmente mau, na medida 
em que este se pauta por interesses de conservação. O soberano precisa estar 
atento ao lado negativo das ações humanas, de maneira que suas decisões sejam 
oriundas sempre da autodefesa, como forma de sustentar a sua sobrevivência na 
saúde do Estado. Por isso, percebe-se que Maquiavel exige que o príncipe seja 
necessariamente virtuoso. A virtude é a forma eficiente que o soberano governa o 
Estado, de modo que ele saiba desdobrar as habilidades necessárias para a boa 
gestão do Estado. Esta virtude de Maquiavel não se apoia nem na virtude cristã, 
nem na pós-socrática (Sócrates, Platão e Aristóteles), ela está alicerçada mais na 
areté dos sofistas. De modo que, esta virtude é compreendida “como força, vontade, 
habilidade, astúcia, capacidade de dominar a situação”. (REALE, 2005, p. 94). 
 
A virtude de Maquiável se diferencia da “sorte”. Ele entende que uma parte das 
coisas são frutos da sorte, porém, a outra parte é oriunda da liberdade e da virtude. 
A liberdade e sorte produzem uma luta em que, segundo o pensador político, a sorte 
tem um comportamento de aspecto feminino, e isto faz com que seja necessário ao 
homem dominá-la, impondo-lhe o respeito hierárquico. 
O objetivo deste pensamento político de Maquiavel não é fortalecer o príncipe, 
mas mostrar a necessidade de resgatar os princípios morais como pensado pelos 
romanos, princípios que estavam fundamentados na liberdade e nos costumes 
validados pelo Estado. 
9
1.2 Hobbes
Hobbes desenvolveu a teoria política em que o Absoluto é o Estado: o Leviatã. 
Ele afirma que na construção do Estado existem dois pressupostos necessários: 
o Egoísmo, aquilo que garante a conservação da vida como promoção do bem 
da pessoa, ou seja, o homem tem como maior busca a garantia de sua vida e 
sua conservação; o convencionalismo, que é a conciliação dos indivíduos pelo 
qual o consenso se realiza como determinação da justiça no Estado, de modo que 
a convenção dos indivíduos sociais define realmente o que é justo e injusto na 
sociedade. Hobbes tem como parâmetro da sua Filosofia Política, as referências 
da dedução que leva a perfeição, assim como o resgaste da teoria geométrica 
euclidiana.
Devido a estes fundamentos matemáticos, a dedução e a geometria, Hobbes 
conclui que o Estado não tem fundamentalmente uma determinação natural. A 
Filosofia Política hobbesiana defende que o Estado é na verdade uma construção 
antinatural, ou seja, ele se constitui como uma falsa estrutura que é oriunda das 
convenções sociais humanas e não de algo princípio natural. Por fim, o Estado 
é fruto de um contrato, o que caracteriza este filósofo especificamente como 
um contratualista. Nesse sentido, a política de Hobbes não é uma categoria da 
natureza, como anunciara Aristóteles, que definiu o homem como um animal 
político. Os homens não vivem em sociedade por uma determinação da natureza, 
mas sim porque o homem é egoísta, isto é, ele não segue, como os animais, uma 
conformidade autêntica. Pelo contrário, o homem, motivado pelo amor próprio 
de si mesmo, apresenta uma série de características que apenas mostram, que 
diferente dos animais, ele não possui uma determinação natural pronta e acabada 
como presente no mundo animal. Por isso, Hobbes é contrário aos seguidores de 
Aristóteles que repetiam os pilares de que o homem é um animal político, assim 
“Hobbes suprime a autoridade de Aristóteles” (BOBBIO, 1986, p. 51), como ele 
mostra argumentativamente na obra De Cive (Do Cidadão).
A natureza do homem, para Hobbes, é de uma guerra constante entre os homens: 
a guerra de todos contra todos. A busca pela manutenção da própria vida individual 
10
faz com que o indivíduo, na incessante procura de obtenção de adquirir os meios 
de sua preservação e subsistência, lute por aquilo que é necessário para garantir a 
vida de cada um. Por consequência, este combate pela vida própria leva o homem 
a fazer o possível e o impossível para se firmar no mundo como o proprietário por 
direito daquilo que o apresenta como aquele que se sobrepõe aos outros homens. 
Este homem egoísta está sempre diante do risco da morte, na medida em que, por 
ele se mostrar como senhor da vida, estará sempre ameaçado de sofrer a violação 
das suas posses. Por isso, Hobbes reafirma que o estado de natureza do homem 
é a guerra:
[...] não haverá como negar que o estado natural dos homens, 
antes de ingressarem na vida social, não passava de guerra, e 
esta não seria uma guerra qualquer, mas uma guerra de todos. 
Pois é a guerra, senão aquele tempo em que a vontade de 
contestar o outro pela força está plenamente declarada, seja 
por palavras, seja por atos? O tempo restante é denominado 
paz. (HOBBES, 2002, p. 33). 
Para Hobbes, a salvação do homem é aplicar das categorias essenciais a sua 
sobrevivência: a) os instintos, que salvam a vida e mostram a necessidade de fazer o 
necessário como conservação do indivíduo; b) a razão é a ferramenta indispensável 
pelo qual os desejos humanos podem ser realizados. Por isso, Hobbes aposta na 
necessidade do homem superar o estado de natureza, que se realiza na guerra, e 
avançar para o estado de direito, que se constitui na paz. Hobbes diz:
Mas os homens não podem esperar uma conservação 
duradoura se continuarem no estado de natureza, ou seja, de 
guerra, e isso devido à igualdade de poder que entre eles há, 
e a outras faculdades com que estão dotados. Por conseguinte 
o ditado da reta razão – isto é, a lei de natureza – é que 
procuremos a paz, quando houver qualquer esperança de 
obtê-la, e, se não houvernenhuma, que nos preparemos para 
a guerra. (HOBBES, 2002, p. 35-36). 
Hobbes, a partir destas estruturas de sobrevivência, apresenta o conceito de “lei 
da natureza” que é o estabelecimento das leis que fundamentam a objetividade 
do instinto de preservação do homem, isto é, esta legislação tem por finalidade 
a atividade de racionalizar o egoísmo. Por isso, a lei da natureza tem o objetivo 
de utilizar a razão, que, por sua vez, funda a lei universal que impede o homem 
de realizar alguma ação que seja danosa para sua sobrevivência, assim como o 
11
proíbe de utilizar as ferramentas para conservá-la. Hobbes deixa claro que “as leis 
da natureza não são suficientes para assegurar a paz”. (HOBBES, 2002, p. 91). Por 
isso, esta legislação exige, no pensamento hobbesiano, a necessidade de um pacto 
social, pelo qual este pensador elabora a teoria do Estado como representação do 
Absoluto.
O filosofo do absolutismo proclama que somente as normas legislativas não são 
suficientes para estabelecer uma vida em sociedade, pois, faz-se necessário que 
estas leis estejam garantidas num poder que faça com que os homens sigam as leis 
como forma de respeito. Este respeito é imposto a ferro e fogo. Para isso, a harmonia 
da sociedade só se realizará caso os participantes desta sociedade depositem (em 
um único senhor, ou em um corpo institucional) todo o poder necessário, figurando 
o poder em um único corpo. 
Este poder soberano não é uma negociação entre súdito e governante, mas 
necessariamente apenas entre os súditos, que definem a sua legislação, restando 
ao soberano apenas efetivá-la. Por isso, o soberano não participa do pacto social, 
ele é o último receptáculo racional que garante o abandono do egoísmo no indivíduo 
para a garantia da realização de tal pacto, de modo que é confiado à figura do 
soberano todo o poder, que representa todos os direitos dos súditos, para que fique 
assim assegurada a segurança do Estado como segurança do povo, assim “Todos 
os deveres dos governantes estão contidos nesta única sentença: a segurança 
do povo é a lei suprema”. (HOBBES, 2002, p. 198). Assim, todos os cidadãos e 
instituições estão sujeitos ao poder do soberano, pois ele é quem proporciona a paz 
para o bem da sociedade. Por isso, este estado é próprio de um governo absolutista, 
pois ele está acima da justiça, na medida em que o soberano, representante maior 
do Estado absolutista, é quem garante a sobrevivência saudável do Estado.
Hobbes nomeia este Estado do absolutismo como Leviatã. Termo retirado 
das referências bíblicas. O Leviatã (crocodilo) é denominado como uma figura 
monstruosa que é imbatível. O Estado seria este monstro que é caracterizado como 
um deus mortal, que também é entendido em oposição ao Deus imortal. Nesse 
sentido, o Leviatã é a figura divina que representa o absolutismo do Estado, de 
12
modo que ele se constitui uma parte pela figura monstruosa, outra parte, pela figura 
de um deus mortal. 
1.3 Locke
John Locke é assumidamente um pensador liberal, toda a sua filosofia política se 
justifica na concepção epistemológica que ele defendeu. O homem é uma tábula 
rasa, na medida em que ele tem como fonte a experiência pela qual determina-se 
o conhecimento. Nesse sentido, as leis sociais, enquanto leis práticas, não nascem 
prontas nos homens, elas serão constituídas a partir da experiência que cada 
indivíduo tem na sociedade que faz parte. Para Locke, as ideias não são inatas, 
isto é, elas não nascem prontas e acabadas. Por isso, o homem tem como fonte 
do saber a empiria, ou melhor, a experiência da realidade como ela se efetiva no 
mundo.
Para Locke, a felicidade e o bem-estar é o que motivam os homens a realizarem 
a ação racional que organiza o ser natural. A liberdade se define pelo poder de 
praticar a ação ou ainda de não realizá-la. Nesse sentido, ela não é fruto do querer 
humano, mas da escolha de fazer ou não fazer algo. Para este filósofo, o homem 
racional tem a capacidade de deixar a realização dos desejos pendentes, no intuito 
de melhor avaliá-la e buscar a melhor forma de objetivá-la.
A humanidade geralmente tem como parâmetros a legislação, a partir de três 
formas de leis: a primeira são as leis divinas, que demonstram a ação do homem 
como dever, ações guiadas por Deus através das leis divinas (dez mandamentos). 
A ação é pecadora ou fruto da desobediência a Deus; a segunda são as leis civis, 
que são entendidas como ações de infração ou em seu contrário, ações ingênuas; 
por fim, as ações determinadas por leis de opinião pública que são compreendidas 
por Locke como ações que garantem a virtude ou seu contrário, a corrupção. Para 
ele, somente na lei revelada é que a moral humana se define como racional.
O Estado de John Locke não é fundamentado no direito divino. A teoria política do 
Estado está alicerçada na concepção de direito natural. Na visão lockeana, o direito 
13
natural é racional. Esta teoria do direito natural tem seus pilares na igualdade e na 
liberdade, o homem racional não prejudica o seu próximo e defende o direito de 
ser livre para todos. Nesse sentido, o direito natural fundamenta os direitos à: vida, 
liberdade e propriedade. Assim, o Estado tem como princípio fundamental a razão. 
Assim, ele inicia a apresentação da sua visão sobre o Estado de natureza:
Para compreender corretamente o poder político e traçar o curso de sua primeira 
instituição, é preciso que examinemos a condição natural dos homens, ou seja, um 
estado em que eles sejam absolutamente livres para decidir suas ações, dispor dos 
limites do direito natural, sem pedir a autorização de nenhum outro homem nem 
depender de sua vontade. (LOCKE, 1994, p. 83).
Desta forma, o direito natural é o estado de liberdade consciente, na medida em que 
é racional. Por isso, este homem de liberdade racional sabe respeitar esta mesma 
liberdade como direito de si e do outro. Este homem racional sabe respeitar o 
estado de natureza enquanto experiência do direito natural. Como Locke esclarece 
na definição do estado de natureza:
O ‘estado de natureza’ é regido por um direito natural que se impõe a todos, e 
com respeito à razão, que é este direito, toda a humanidade aprende que, sendo 
todos iguais e independentes, ninguém deve lesar o outro em sua vida, sua saúde, 
sua liberdade ou seus bens; todos os homens são obra de um único Criador todo-
poderoso e infinitamente sábio, todos servindo a um único senhor soberano, 
enviados ao mundo por sua ordem e a seu serviço; são, portanto sua propriedade, 
daquele que os fez e que os destinou a durar segundo sua vontade e de mais 
ninguém. (LOCKE, 1994, p. 84). 
Quando os indivíduos renunciam à defesa dos seus direitos individuais, eles o 
fazem não para enfraquecer os direitos naturais, mas com o objetivo de fortalecer 
os outros direitos (da vida, igualdade, propriedade e liberdade). 
Para Locke, o Estado é constituído pelo poder legislativo, que produz as leis 
necessárias aos cidadãos, e pelo poder executivo, que faz com que as leis sejam 
14
efetivadas no Estado. O Estado é a garantia de todos os direitos do cidadão, sejam 
eles direitos públicos ou direitos privados, até mesmo os de se contrapor ao poder 
estatal, pois é o povo mesmo que tem o dever e direito de vigiar o governo estatal 
para que ele não se desvie de seu sentido maior: o bem-estar do cidadão. Por isso, 
os soberanos serão sempre julgados pelo povo, que é seu verdadeiro juiz.
A concepção de Estado de Locke é especificamente um Estado liberal. Pois este 
Estado tem por necessidade garantir a liberdade de todos, por exemplo, por meio 
da propriedade como garantia dos direitos privados, assim como ele tem plena 
consciência que nem todos tem esta consciência no ambiente social, de modo que 
alguns põem sempre tais direitos em risco: “Todos são tão reis quanto ele, todos 
são iguais, mas a maior parte não respeitaestritamente, nem a igualdade nem a 
justiça, o que torna o gozo da propriedade que possui neste estado muito perigoso 
e muito inseguro”. (LOCKE, 1994, p.156). Daí que, na concepção do estado liberal, 
o Estado tem por principal objetivo a segurança da propriedade: “Por isso, o 
objetivo capital e principal da união dos homens em comunidades sociais e de sua 
submissão a governos é a preservação de sua propriedade. O estado de natureza 
é carente de muitas condições”. (Idem). Nesse sentido, o Estado tem que promover 
os instrumentos necessários na proteção da propriedade enquanto direito garantido 
do cidadão.
Para o bom funcionamento do Estado, os cidadãos renunciam à igualdade, à 
liberdade e ao poder executivo, determinados no estado de natureza, e apostam 
na renúncia de tais direitos (igualdade, liberdade e poder) pelo fortalecimento da 
sociedade: “cada um age dessa forma apenas com o objetivo de melhor proteger sua 
liberdade e sua propriedade”. (LOCKE, 1994, p. 159). Este poder dado à sociedade, 
na forma do executivo e legislativo, deve ser movido por um único motivo, o de 
construir o bem comum de um povo. Neste sentido, a entidade do poder supremo 
assume a responsabilidade de garantir a propriedade de cada cidadão, de modo 
que as leis constituídas devem sentenciar a esfera da propriedade aos cidadãos de 
direito. Segundo Locke, somente esta forma do Estado poderá promover “a paz, a 
segurança e o bem público do povo” (Idem.).
15
1.4 Kant
Immanuel Kant (1724-1804), nascido em Königsberg, é considerado o maior filósofo 
da modernidade, por seu pensamento ser uma das reflexões mais profundas e 
completas nesse período, ele construiu uma Filosofia Crítica de restruturação do 
pensamento moderno. No texto de resposta à questão “o que é Aufklärung?”, Kant 
apresenta a necessidade do homem moderno ter uma atitude de homem maduro, 
ou o homem de maioridade. Nesse sentido, o homem moderno é compreendido 
como um homem que superou a menoridade, caracterizado pela filosofia medieval. 
A modernidade é a necessidade do homem que se dá conta que este novo momento 
exige a atitude da formação de uma pessoa esclarecida, por meio da descoberta da 
categoria da autonomia que fundamenta a liberdade humana. No primeiro parágrafo 
do texto, O que é o Esclarecimento? Kant diz:
Esclarecimento é a saída do homem da menoridade pela qual é 
o próprio culpado. Menoridade é a incapacidade de servir-se do 
próprio entendimento sem direção alheia. O homem é o próprio 
culpado por esta incapacidade, quando sua causa reside na 
falta, não de entendimento, mas de resolução e coragem de 
fazer uso dele sem a direção de outra pessoa. Sapere aude! 
Ousa fazer uso de teu próprio entendimento! Eis o lema do 
Esclarecimento. (MARÇAL, 2009, p. 407).
O tema principal que Kant lança como principal tema da época da Aufklärung é 
a questão da liberdade. Nesse sentido, Kant, na fundamentação da metafísica 
dos costumes, se esforça para mostrar como o sujeito pensante, o homem, deve 
compreender a fundamentação de sua vontade. Pois, para ele o homem é um ser 
de liberdade. Esta liberdade inicialmente é entendida como vontade livre, depois 
se caracteriza como autonomia da subjetividade. O filósofo de Königsberg assume 
as concepções iluministas para toda a sua teoria filosófica. Nesse sentido, ele ao 
tratar de uma metafísica dos costumes, busca apresentar em sua investigação a 
necessidade de investigar a fundamentação dos princípios práticos, que em Kant, 
logram a priori na esfera racional. Desta forma, na filosofia kantiana, o homem é o 
sujeito de si mesmo. Dessa forma, a liberdade é que garante a não corrupção da 
ação do indivíduo, de modo que ele não se deixa levar pela inclinação da vontade, 
que em Kant deve ser uma vontade pura. Esta pureza da ação faz com que ela seja 
compreendida com o dever, pois ela tem um valor moral definido pela máxima, que é 
16
determinado como princípio do dever já que o “Dever é a necessidade de uma ação 
por respeito à lei”. (KANT, 2007, p. 31). Nesse sentido, a lei é uma determinação de 
valor moral desenhado como princípio prático da vontade subjetiva. 
A liberdade kantiana se define pela capacidade de determinação da vontade 
subjetiva a partir da razão, excluindo de sua ação as motivações materiais que não 
são reconhecidas como incondicionadas segundo o princípio da lei moral. Somente 
pela liberdade é possível fundamentar alguma coisa de modo a priori. Assim, faz-se 
necessário descobrir no mais íntimo da vontade subjetiva a razão, pois somente 
através dela é que pode-se admitir a determinação da lei moral para uma ação 
prática. 
A Filosofia Política de Kant está alicerçada na concepção de que os homens são 
necessariamente seres de valores morais. Esta racionalidade deve estar presente 
no corpo institucional que forma o Estado, ela exige que a sociedade civil adote as 
estruturas republicanas para a existência de um governo racional e para a realização 
da paz internacional. Todas estas determinações são frutos das orientações a priori, 
que são racionais, isto é, elas não são firmadas nos interesses utilitaristas, que 
Kant é tão crítico. 
Os comandos a priori da razão referenciam o imperativo categórico na forma de 
uma lei moral da ação subjetiva. A norma moral é um comando categórico em que 
se realiza a conformidade da ação enquanto necessária, de modo que ela é uma 
ação independente do seu fim, tenha ela um princípio material ou individual. Por 
isso, o imperativo categórico, enquanto ação a priori, delimita que a ação é um 
dever moral que tem validade universal, por isso, é uma norma universal que vale 
para um e para todos, isto é, para o indivíduo e para a sociedade. 
A ação moral não se refere apenas à particularidade do indivíduo, ela é 
necessariamente uma determinação social, por ser formal, na medida em que ela 
é uma norma universal ao ser um decreto da razão. Nesse sentido, o imperativo 
se refere sempre necessariamente à ação universal: “Age apenas segundo uma 
máxima tal que possas ao mesmo tempo querer que ela se torne a lei universal”. 
17
(KANT, 2007, p. 59). A lei universal é aquela que é válida para todos. Nesse aspecto, o 
Eu é universal. Kant, enquanto iluminista, fundamenta a prioridade da subjetividade 
na determinação das normas que obtém validade universal, na medida em que ela 
é um comando que tem legitimidade para todos. O indivíduo obedece às leis que 
ele mesmo fundamenta racionalmente ao se constituir como um ser livre. Logo, a 
doutrina kantiana é uma filosofia da liberdade.
A liberdade é principio fundamental de um Estado republicano. Este precisa ter o 
liame ao princípio da liberdade, de modo que o Estado é o agente que promove o 
imperativo moral, pois ele tem o valor moral em si mesmo. O Estado se constitui 
também como fruto do imperativo categórico representado através da Constituição.
A liberdade da vontade não tem a fundamentação a partir das leis da natureza, 
porque se assim fosse, a vontade não excluiria as inclinações, já que seriam 
resultados de algo exterior da mesma vontade. Por isso, a liberdade da vontade 
tem que ser livre de qualquer inclinação exterior a ela mesma. A vontade livre é 
uma imposição em si mesmo de uma lei universal, que o sujeito reconhece como 
necessária. Por isso, toda lei racional é uma lei universal, portanto, estas são leis 
morais. Nesse sentido, existe um liame necessário entre vontade livre e lei moral, 
assim como política e universalidade. Daí surge o direito na concepção de Kant: 
“o direito é, portanto, a soma das condições sob as quais a escolha de alguém 
pode ser unida à escolha de outrem de acordo com uma lei universal de liberdade”. 
(KANT, 2003, p. 76).
Toda lei exige necessariamente o cumprimento dos deveres, que podem ser 
realizados por uma imposição ou não. Por isso, na doutrina do direito, Kant pensa 
duas dimensões da liberdade:a liberdade moral e a liberdade jurídica. A primeira 
é aquela que suprime os desejos e inclinações que impossibilitam a obediência 
àquilo que determina a razão. A segunda, a liberdade jurídica, é a garantia da ação 
exterior a partir do livre-arbítrio do indivíduo. 
18
A Filosofia Política de Kant não tem interesse em fundamentar o direito positivo. 
O objetivo da filosofia kantiana, ao refletir sobre a ideia do direito, é determinar 
o conceito do direito. Nesse sentido, a preocupação do filósofo de Königsberg é 
de analisar o fundamento das relações entre os indivíduos na realização de uma 
sociedade. Ele pretende mostrar na reflexão sobre as relações dos indivíduos, que 
a doutrina do direito deve apresentar o princípio da legislação segundo o meio pelo 
qual se realizam as organizações das relações intersubjetivas como constituição 
da justiça. Esta doutrina do direito então busca definir o princípio da lei universal: 
[...] age externamente de modo que o livre uso de teu arbítrio 
possa coexistir com a liberdade de todos de acordo com uma 
lei universal, é verdadeiramente uma lei que me impõe uma 
obrigação, mas não guarda de modo algum a expectativa – e 
muito menos impõe a exigência – de que eu próprio devesse 
restringir minha liberdade a essas condições simplesmente em 
função dessa obrigação. (KANT, 2003, p. 77).
 
O objetivo da justiça está estritamente direcionado ao estabelecimento das relações 
interpessoais exteriores, compreendidas de modo racional. A justiça garante a 
jurisdição da motivação e da ação de cada um, sendo exteriorizada na sociedade. No 
entanto, é obrigação da justiça coordenar a relação jurídica das relações exteriores 
entre os indivíduos. A justiça, como ato jurídico, não tem interesse pelas intenções 
dos indivíduos em sua particularidade, sua relevância está na forma do ato jurídico 
que fundamenta a conformidade de uma lei moral que se atribui a todos, de maneira 
que assegura-se assim o livre-arbítrio dos agentes nas relações interpessoais. 
Pode-se afirmar que a maior consequência da reflexão política sobre a doutrina do 
direito kantiano, é que este pensamento caracteriza Kant como um autêntico teórico 
do liberalismo, pois, o filósofo alemão afirma que a organização da sociedade civil se 
dá pela justiça. Dito isto, o importante é o indivíduo ter assegurado o seu arbítrio, do 
qual ele pode fazer o que pretender, desde que ele respeite e reconheça a mesma 
liberdade das outras pessoas. Por isso, a doutrina do direito, que fundamenta a 
justiça na sociedade através da atividade política, que deve ser necessariamente 
racional, possibilita a realização humana, por meio das relações interpessoais, 
como constituída pela liberdade.
19
Esta liberdade só poderá estar garantida na forma do Estado. No entanto, anterior 
ao Estado, existe a sociedade civil, que é a aglomeração de pessoas que estão 
conveniadas segundo as mesmas leis públicas. Porém, o estágio maduro da 
sociedade civil é quando ela se constitui como Estado, porque eles possuem o 
mesmo objeto. A sociedade civil é a estação em que toda relação interpessoal 
deve alcançar, pois esta sociedade é um dever universal, na medida em que ela é 
oriunda do conceito a priori da razão. A sociedade civil representa objetivamente o 
imperativo moral, pois ela é constituição efetiva da ideia de liberdade. Por isso, o 
ponto culminante da sociedade civil será quando ela alcançar a situação de Estado:
Um Estado (civitas) é a união de uma multidão de seres 
humanos submetida a leis de direito. Na medida em que estas 
são necessárias a priori como leis, isto é, na medida em que 
procedem espontaneamente de conceitos de direito externo em 
geral (não são estatutórias), a forma do Estado é aquela de um 
Estado em geral, ou seja, do Estado em idéia (sic.), como deve 
ser de acordo com puros princípios de direitos. Essa idéia (sic.) 
serve como uma norma (norma) para qualquer associação real 
numa república (e, por conseguinte, serve como uma norma 
para sua constituição interna). (KANT, 2003, p. 155). 
Para Kant, o Estado tem por objetivo a promoção do bem público, que é a garantia 
jurídica das relações dos indivíduos na sociedade civil. Para Kant, o maior bem 
público do Estado é a garantia da liberdade dos indivíduos, pela qual cada um 
deve alcançar, através desta liberdade, a felicidade individual. Exatamente neste 
asseguramento da liberdade dos indivíduos, é que este Estado, pensado por Kant, 
possui características fundamentalmente liberais. Nesse sentido, o filósofo alemão 
pensa a partir de um Estado liberal. No entanto, Bobbio observa que a liberdade que 
Kant trata aqui é a liberdade individual, a liberdade particular garantida pelo Estado, 
ou seja, o filósofo alemão não está abordando a liberdade no Estado. Sobre isto, 
Bobbio nos diz que “Aqui ‘liberdade’ é utilizada no sentido tradicional dos direitos de 
liberdade, que são precisamente os direitos de não sermos obstaculizados, neste 
ou naquele campo da própria atividade, pela constituição estatal”. (BOBBIO, 2000, 
p. 111). Nesse sentido que Bobbio define Kant como um filósofo liberal. Por isso, é 
correto afirmar que a teoria do Estado de Kant é uma concepção liberal do Estado.
Surgem então duas questões: porque Kant pode ser caracterizado como um 
pensador do liberalismo? O que é o Estado segundo os fundamentos do conceito 
liberal? Respondendo inicialmente a segunda questão, pode-se afirmar que o fim 
20
último do Estado liberal é: assegurar a liberdade individual. Este tipo de Estado 
tem como princípio fundamental a liberdade do indivíduo, busca sempre garantir 
e confirmar a possibilidade de todos individualmente realizarem a vontade de seu 
livre-arbítrio. O sentido de existir do Estado liberal abarca a validade das vontades 
múltiplas dos indivíduos que dele fazem parte. Neste aspecto, o Estado não busca 
determinar o que os seus indivíduos devem fazer, mas deve efetivar juridicamente 
para que cada cidadão tenha a sua liberdade efetivada, de modo que ele apenas 
procura condicionar os cidadãos a poderem realizar suas metas, tenha o aspecto 
religioso, ético, político ou ideológico. Todo cidadão tem o direito de buscar as 
formas necessárias de realizar a sua própria felicidade. 
O Estado não tem por objetivo o bem-estar de todos os cidadãos, mas o de 
derrubar os obstáculos que possam de alguma maneira impossibilitar o indivíduo 
de realizar o bem-estar individual, isto é, que impeçam ao sujeito de buscar meios 
de alcançar a felicidade de si mesmo. Por esse motivo, o Estado assume o papel 
de coordenador, de modo a mover todo tipo de barreiras que queiram atrapalhar 
a liberdade dos cidadãos, assim como ele também deve intermediar os possíveis 
conflitos nas relações interpessoais.
Por tudo que foi respondido na segunda questão, pode-se afirmar que Kant se 
enquadra nas características de pensador do liberalismo. Pois, o princípio 
fundamental da liberdade, segundo os princípios da razão, é a autonomia do sujeito, 
isto é, a vontade livre do homem. O conceito de autonomia é o princípio pelo qual 
o homem pensa livremente, sem inclinações, a máxima do dever enquanto a lei 
necessária para si. Ora, o Estado kantiano tem a funcionalidade exatamente de 
garantir a liberdade dos indivíduos na relação interpessoal que constitui a sociedade.
 
Pretende-se tratar aqui, de forma breve, duas últimas questões. Primeiro, a forma 
de governo pensada por Kant, segundo, a história como progresso do direito. Kant 
afirma que a melhor forma de governo é a república. Ele se esforça em mostrar que 
sua conclusão no modo de governar não é algo definido por uma questão de gosto, 
mas uma ideia necessária, na medida em que ele apresenta uma comprovação 
universal para a ideia de que a república é o melhor modo de governar um Estado. O 
21
Estado republicano como um valor universal está alicerçado em princípios,por isso, 
este argumento de Kant tem fundamento racional. O filósofo alemão afirma que a 
república representa o contrato originário, cujos governantes buscam avizinhar-se 
da legitimidade da Constituição. O princípio da Constituição republicana, em Kant, 
é inegavelmente a liberdade, porque nela estão ligados da vontade do povo, a 
soberania popular e a vontade individual ou grupal, em que cada indivíduo determina 
decisivamente a sua própria vontade. A sociedade civil tem a melhor determinação 
através da Constituição republicana, porque esta forma de governo é a que melhor 
coordena as esferas que a constitui, por exemplo, a política republicana só não 
suporta o despotismo, haja vista que este só vislumbra a vontade do soberano como 
lei para todos, por isso, é um regime de governo irracional. O Estado republicano 
é a que melhor preserva a liberdade política. Pois, os três poderes (Executivo, 
Legislativo e Judiciário) possuem uma melhor harmonia entre si, de forma que a 
estrutura política do Estado republicano possibilita a cooperação entre os poderes, 
impossibilitando que um poder tente impor sua vontade sobre o outro. O Estado 
republicano é necessariamente o imperativo categórico no âmbito da vida em 
sociedade. 
Para Kant, o homem racional, aquele que segue as determinações, reconhece 
necessária a paz. Assim, como os indivíduos da sociedade vislumbram a harmonia 
nas relações interpessoais, também no Estado é necessário que este tenha como 
dever o pacto de paz, para que se efetive a comunidade jurídica internacional, que 
se construa a paz perpétua como a superação da guerra. Este progresso da guerra 
para a paz é compreendido como uma determinação necessária, por isso oriundo 
da razão, porque a paz é uma necessidade do Estado. O Estado tem a obrigação 
de administrar as hostilidades entre as pessoas, de modo que ele proporcione o 
pacto da paz como fim dos atos hostis nas relações interpessoais. Deste modo, 
também o Estado, na figura do governo deve necessariamente progredir na 
participação da comunidade jurídica internacional, que tem como principal objetivo, 
a manutenção da paz como superação do estado de guerra, anunciado por Hobbes 
como estado de natureza do homem. Kant defende que a racionalidade humana, 
no púlpito do imperativo categórico, segundo a determinação, deve realizar um 
Estado internacional da paz perpétua. 
22
A paz perpétua exige que cada país, assim como cada pessoa, seja consciente da 
necessidade da organização do povo na forma de sociedade jurídica. Para isso, 
precisa-se que cada país se constitua juridicamente como república, porque só este 
regime possibilita a efetivação da organização internacional dos povos. Com esta 
exigência, dificilmente um povo sobre o comando de um déspota teria como participar 
desta comunidade internacional, pelo simples fato de que a sociedade que vive 
sobre o ditame de uma única vontade, não tem os pré-requisitos necessários para 
compreender as necessidades individuais de cada Estado coligado na associação 
internacional dos povos. 
Resumo
A Filosofia Política moderna tem seus pilares no pensamento de Nicolau Maquiavel, 
que mesmo sendo um renascentista, implantou conceitos que foram desenvolvidos 
no percurso da filosofia moderna. Conceitos como poder, representado pela figura 
do príncipe, virtude e força, tomam um novo formato, na medida em que, ele 
propaga uma filosofia política voltada mais para o aspecto real da vida, destacando 
a necessidade de se estabelecer princípios morais alicerçados na liberdade e nos 
costumes reconhecidos pelo Estado. O Estado de Hobbes é denominado de Leviatã 
(Crocodilo), termo bíblico que apresenta o Estado como um grande monstro. 
Segundo o filósofo, o Estado se constitui por dois elementos: o Egoísmo, presente 
no indivíduo que luta pela sua sobrevivência, vivenciando sempre uma luta de 
todos contra todos, isto é, um estado de guerra; o outro é o convencionalismo que 
é a conciliação dos cidadãos na tentativa de superar o estado de guerra e produzir 
pelo Estado a justiça. Neste sentido, o Estado de Hobbes se caracteriza por um 
monstro, o Leviatã, que é o Absoluto. Por isso, a concepção de Estado hobbesiano 
apresenta a figura monstruosa como uma representação do absolutismo do Estado. 
Já Locke, defende que o homem é uma tábula rasa, de modo que ele aprende o 
saber na medida em que ele vai desenvolvendo as experiências na realidade. Nesse 
23
sentido, as leis sociais são frutos das experiências dos indivíduos que exigem a 
transformação de suas necessidades em leis práticas que são harmonizadas pela 
sociedade para a realização da felicidade e do bem-estar de todos os homens e 
mulheres que participam desta sociedade. O bom funcionamento do Estado exige 
que os cidadãos abdiquem de seus direitos (igualdade, liberdade e poder) para 
que a sociedade seja fortalecida na forma de um Estado como constituição do bem 
comum de um povo, pelo qual o Estado garante a devida harmonia civil aos seus 
cidadãos. Por fim, Immanuel Kant é o principal filósofo que fortalece a Aufklärung 
como meio pelo qual o antropocentrismo cria cada vez mais força como forma de 
superação do teocentrismo. Kant promoveu assim, a grande revolução copernicana 
através de seu pensamento que estabelece o criticismo como a forma em que o 
homem assume o papel de sujeito da sua história. Neste sentido, Kant mostra a 
preocupação que a sociedade moral só se efetivará caso, o homem primeiramente 
se assuma como um sujeito moral. Para isso, este ser pensante necessita aplicar 
o imperativo categórico enquanto o modo pelo qual ele determina a pureza da sua 
ação, que deve servir de orientação para si e para qualquer outro, na medida em 
que a ação moral, determinada pela razão, é uma lei universal que se determina 
universalmente para todos os seres pensantes. Assim, a sociedade civil necessita 
se orientar pelo imperativo categórico, de modo que a ação do Estado seja uma 
determinação racional. Para Kant, só através de uma aplicação da razão no Estado, 
poderia realmente determinar ações como racionais, além da possibilidade de 
aplicar a paz perpétua.
 Referências
BOBBIO, Norberto. Direito e Estado no Pensamento de Emanuel Kant. São 
Paulo: Mandarim, 2000.
HOBBES, T. Do Cidadão. São Paulo: Martins Fontes, 2002.
KANT, Immanuel. Resposta à questão: o que é o Esclarecimento? IN: MARÇAL, 
Jairo (Org.). Antologia de Textos Filosóficos. Curitiba: SEED-PR, 2009.
24
________. Fundamentação da metafísica dos costumes. Lisboa: Edições 70, 
2007.
________. A Metafísica dos costumes. Bauru: EDIPRO, 2003.
LOCKE, John. Segundo tratado sobre o governo civil e outros escritos. 
Petrópolis, Editora Vozes, 1994.
REALE, G. História da filosofia: do humanismo a Descartes. Vol. 3. São Paulo: 
Paulus, 2004.
25
Objetivos
• Apresentar as concepções de Estado liberal segundo os 
pensamentos de Stuart Mill, Hegel e Max Weber;
• Mostrar as consequências das teorias de liberdade 
desenvolvidas a partir da filosofia moderna;
• Destacar a concepção de Estado liberal segundo a visão 
do Estado capitalista em Max Weber.
Nesta Unidade, serão apresentadas as concepções de filósofos que apresentam 
uma fundamentação teórico-filosófica para a constituição do Estado. Hegel expõe a 
necessidade da racionalização do Estado, de modo que, na esfera interior e exterior 
do Estado, esteja garantido o exercício da liberdade como elemento fundamental da 
constituição do Estado. Neste sentido, a liberdade do indivíduo humano se constitui 
dialeticamente nas esferas da família e da sociedade civil, que tem por objetivo 
final o seu reconhecimento no Estado, enquanto esfera da liberdade absoluta. Já 
John Stuart Mill mostra que a liberdade do homem busca a sua satisfação, por 
isso, é necessariamente uma liberdade utilitária. A teoria liberal em Mill exige a 
garantia do direitode qualquer cidadão, de forma que o Estado é o espaço em 
que a democracia é justificável como direito essencial para o alcance do seu fim 
último: a realização da felicidade de cada cidadão. Por fim, a análise de Max Weber 
explicará como o Estado moderno funda o Estado capitalista e o funcionamento 
sistemático que está fundamentado na estrutura do sistema capitalista e da cadeia 
burocrática que proporciona a dominação do Estado liberal. 
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UNIDADE
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2.1 O Estado Liberal em Hegel
Hegel é apresentado por muitos intérpretes como o grande apogeu do pensamento 
da cultura da Civilização Ocidental. Contemporâneo de Schelling, que no início 
da carreira foi seu tutor e a quem procurou superar o pensamento conservador, 
Hegel assumiu o caminho de construção de uma filosofia realmente desafiadora, 
não só pela sua linguagem complexa, mas também pela grande montanha que 
seu pensamento se tornou. Como afirmava um pensador brasileiro, Pe. Lima Vaz, 
a filosofia hegeliana podia ser considerada uma grande montanha, que exige do 
escalador muita perícia e capacidade de chegar ao cume.
A filosofia política da modernidade, especificamente de Hobbes até Hegel, 
destaca-se por um movimento presente nos pensamentos políticos, que definem 
o Estado como uma esfera soberana, não mais no sentido de divino, mas que 
é fundamentalmente caracterizado pela racionalidade, de modo que ele constitui 
a vida comum e a vida da comunidade do homem moderno. Nesse período, o 
Estado é a representação da racionalização da dimensão política que busca 
aplicar a razão humana como a fôrma que molda este novo momento, pelo qual o 
império dos instintos e paixões é elevado para a esfera da descoberta da liberdade 
como principal referência na regulação da vida humana. Por isso, o espírito do 
homem moderno é iluminista, época da Aufklärung, ou seja, a grande descoberta 
da modernidade é que a política será instrumento fundamental para a realização 
efetiva da liberdade humana, esta compreendida a partir dos aspectos da liberdade 
individual e a liberdade social. É por meio destes dois aspectos que a liberdade 
se constituirá na forma do Estado moderno. Para estes pensadores, a razão é o 
estado de natureza do homem. De modo que, estes filósofos modernos (Hobbes e 
Hegel) serão nomeados de jusnaturalistas, porque eles elaboram teorias que serão 
referências para a racionalização do Estado, propondo o caminho racional para o 
Estado descobrir e realizar o seu verdadeiro sentido. 
27
Bobbio descreve assim, o que é a filosofia de Hegel neste processo de racionalização 
do Estado:
Em Hegel, que representa a dissolução e, ao mesmo tempo, a 
realização dessa história, os dois processos confundem-se: na 
Filosofia do direito, a racionalização do Estado celebra o seu 
próprio triunfo e, simultaneamente, é representada não mais 
como proposta de um modelo ideal, porém como compreensão 
do movimento histórico real; a racionalidade do Estado não é 
mais uma exigência, porém uma realidade; não mais apenas 
um ideal, mas um evento da história. (BOBBIO, 1994, p. 20).
Para Hegel, a racionalização do Estado dá um passo além da mera utilização 
da razão como ferramenta, isto é, não busca apresentar apenas uma teoria ou 
doutrina do Estado, pelo contrário, ela procura fazer com que o espírito racional 
se aprofunde cada vez mais, para assim, a concepção de sociedade civil sair do 
aspecto simplesmente formal, que é uma abstração, uma ideia que não se realiza 
nunca, para levar esta sociedade ao abandono da mera teoria, espírito sem vida, 
para se realizar objetivamente na história como uma realidade orgânica do Estado 
vivo. Por isso, ele é coerente com seu pensamento quando afirma no Prefácio 
da obra Princípios da Filosofia do Direito: “o que é racional é real e o que é real é 
racional”. (HEGEL, 2000, p. XXXVI).
O pensamento político de Hegel pode ser realmente caracterizado como moderno 
por aprofundar a racionalidade na concepção de Estado. Mas vale ressaltar que 
ele tem como referência três momentos distintos da história da humanidade, 
especialmente a história do Ocidente. Primeiro, a beleza grega figurada pela ideia 
de totalidade de um mundo ético, representado pelo povo grego; segundo, ele 
assumidamente apresenta a atualização cristã, em que o conceito de subjetividade 
ainda é abstrato, o que faz a representação histórica do cristianismo ainda ser 
insuficiente, mas entendido como momento necessário para o alcance do Absoluto; 
por fim, Hegel apresenta a ideia de Absoluto, representada na forma do Estado 
Absoluto como proposta da nova política em concordância ao espírito de seu tempo. 
A filosofia política da concepção hegeliana tem por objetivo tratar a possibilidade de 
uma política real. Hegel critica profundamente as teorias que tratam da política sendo 
apolíticas, ou seja, sendo apenas teoria sem levar em conta as condicionalidades 
28
que possam levar a uma política racional, portanto, real. Daí, a preocupação dele de 
pensar o Estado como real e não mais como ideal: Bourgeois observa que “o Estado 
racional não existe à positividade de realidades que não são Estados propriamente 
falando, pois não realizam o Estado”. (BOURGEOIS, 2000, p. 90). Nesse sentido, 
fica claro que Hegel reconhece a contribuição dos jusnaturalistas, mas também 
se distancia desta concepção política, porque eles permaneceram prisioneiros da 
filosofia seduzida unicamente pela ideia de apresentar a teoria do Estado, a partir 
de concepções que ainda objetivam definir a essência do Estado como ele deveria 
ser e não através da necessidade do que ele precisa para ser real.
Para Hegel, esta cegueira que acompanhou os seus contemporâneos em suas 
concepções filosóficas, os levaram, por exemplo, a confundirem a sociedade civil 
com o Estado. Hegel mostra que a sociedade civil é apenas um momento do espírito 
que condiciona a constituição do Estado, mas ela não é de forma nenhuma o Estado 
naquilo que ele deve se realizar. Podemos entender isso quando o próprio Hegel, 
na obra Princípios da Filosofia do Direito, esclarece o prejuízo da confusão da 
sociedade civil com o Estado:
Quando se confunde o Estado com a sociedade civil, 
destinando-o à segurança e proteção da propriedade e das 
liberdades pessoais, o interesse dos indivíduos enquanto 
tais é o fim pequeno para que se reúnem, do que resulta ser 
facultativo ser membro de um Estado. Ora, é muito diferente a 
sua relação com o indivíduo. Se o Estado é o espírito objetivo, 
então só como membro é que o indivíduo tem objetividade, 
verdade e moralidade. (HEGEL, 2000, p. 217).
Esta é uma distinção necessária para compreender a profundidade da filosofia 
política de Hegel. Sociedade civil não é a mesma coisa e nem tem a mesma função 
do Estado. Estes ocupam no sistema hegeliano momentos distintos. No entanto, 
este dois conceitos fazem parte de momentos dialéticos da Eticidade. Logo, 
antes de qualquer coisa compreender o conceito de Eticidade (Sittlichkeit) como 
foi apresentado no texto de maturidade Princípios da Filosofia do Direito, ele 
define tendo como referência a estrutura do seu pensamento lógico-especulativa, 
enquanto leitura que se refere aos principais eventos e exigências do mundo 
moderno. Tais eventos históricos transformam profundamente a estrutura das 
29
perspectivas funcionais da sociedade de seu tempo, como: o espaço do trabalho, a 
esfera jurídica e a política social. O ponto principal destas transformações sociais é 
pautado pelo problema da subjetividade, caracterizado como pessoa de interesses 
particulares, como ele pode ser elevado à forma do reconhecimento na sociedade 
segundo o ser de liberdade. Por isso, a modernidade se distingue da concepção de 
Estado do período grego (a totalidade de um povo, onde o indivíduo não consegue 
impor nenhuma vontade diante doEstado grego) e do período medieval (em que a 
subjetividade surge, mas ainda está no estágio da abstração).
Hegel apresenta o momento da vida ética como a esfera em que a realização se 
apresenta por meio da universalidade do espírito, seja ela constituída no primeiro 
ambiente da família, que se caracteriza por ser fortemente o momento de abstração 
do direito; seja na segunda esfera da vida na sociedade civil, em que o sujeito livre 
busca a satisfação das suas necessidades no seio da sociedade, que faz deste local 
nada mais que um aglomerado de carências subjetivas que buscam a sua realização 
na existência, ainda que permaneça uma herança característica da abstração, esta 
é a subjetividade abstrata; por fim, a vida ética no momento do Estado é o meio pelo 
qual, segundo Hegel, a sociedade civil e seus membros universais, as instituições 
como família e religiões são reconhecidas como efetividade real do direito em que as 
liberdades subjetivas estão devidamente reconhecidas na forma do direito objetivo.
2.2 Sociedade Civil
Hegel (2000) propõe uma dialética da liberdade, a qual se constitui na forma do 
direito, por isso, esta é denominada por liberdade realizada através do qual o 
mundo do espírito se objetiva como segunda natureza. A dialética da liberdade 
constituirá a sociedade civil, mas esta não é seu último estágio, mas sim o Estado, 
onde o direito à liberdade está compreendido como efetivamente objetivo. No 
entanto, o espírito da liberdade terá que se desdobrar até alcançar a Eticidade 
(Sittelichkeit), que Hegel definiu seguindo o seguinte itinerário dialético: 1) a família 
como a vida ética imediata; 2) a sociedade civil é o espaço em que os indivíduos se 
confrontam entre si pela busca da realização da necessidade; 3) o Estado é o lugar 
30
da realização da liberdade, após suprassumir a liberdade particular, caracterizada 
como liberdade universal e concreta. Por fim, Hegel nomeia a sociedade civil como 
o “Estado extrínseco, o Estado da carência e do intelecto”. (HEGEL, 2000, p. 168).
A supremacia da cultura, através da separação imediata da natureza, caracteriza a 
sociedade civil, enquanto aquele momento do espírito prático, eleva o momento da 
liberdade ao momento mais amadurecido, que é o da liberdade universal, realizada 
como o espírito objetivo da liberdade, presente na existência como prático, porém, 
ainda apresenta aspectos formais. Ela possibilita a chegada do espírito na forma 
concreta enquanto a universal por meio da liberdade objetiva universal que tem 
como problema fundamental desta representação da liberdade, é que a sociedade 
civil ainda é uma universalidade tipicamente formal. 
Esta elevação se dará pela realização no mundo da existência de um indivíduo 
que se sabe como cidadão, por ser parte de uma aliança social, mas que busca a 
satisfação incessante de suas carências. Por isso, Hegel caracteriza a sociedade 
civil como a modalidade de carências, pois é neste ambiente que o cidadão 
buscará o reconhecimento de suas particularidades, o reconhecimento de suas 
carências por todos os seus outros cidadãos, para que elas possam ser elevadas à 
universalidade. Assim esclarece Hegel:
Como cidadãos deste Estado, os indivíduos são pessoas 
privadas que têm como fim o seu próprio interesse: como este 
só é obtido através do universal, que assim aparece como 
um meio, tal fim só poderá ser atingido quando os indivíduos 
determinarem o seu saber, a sua vontade e a sua ação de 
acordo com um modo universal e se transformarem em anéis 
da cadeia que constitui o conjunto. O interesse da ideia, que não 
está explicita na consciência dos membros da sociedade civil 
enquanto tais, é aqui o processo que eleva a sua individualidade 
natural à liberdade formal e à universalidade formal do saber 
e da vontade, por exigência natural e também arbitrariedade 
das carências, o que dá uma cultura à subjetividade particular. 
(HEGEL, 2000, p. 170).
Está claro que esta busca do reconhecimento das carências individuais do cidadão 
na esfera da sociedade civil, caracteriza a atividade do indivíduo compreendido 
como liberdade subjetiva, ou seja, a subjetividade, que ao lutar pela realização 
das vontades individuais nada mais é do que o trabalho, o meio pelo qual o sujeito 
satisfaz suas carências. Este movimento da satisfação das necessidades, realizado 
31
não por um mais por todos, é o processo dialético que media a passagem da 
liberdade particular para a liberdade universal.
Esta subjetividade que constrói a sociedade civil é o sujeito representado que 
superou o homem natural, a classe de agricultores entendidos como direito abstrato, 
pelo cidadão esclarecido que é reconhecido pelos seus parceiros da comunidade 
que participa. O homem esclarecido é o homem do trabalho da classe industrial, 
que encontra seu ambiente universal através da classe política.
O homem esclarecido é o homem de cultura que se constitui como sujeito do 
direito, que superou a abstração realizada na figura do homem natural e se elevou 
até a dimensão do homem universal, tudo isto enquanto o ser de reconhecimento 
universal. Este reconhecimento se dá na forma da lei que a sociedade civil possibilita, 
segundo o direito que promete a efetivação de algo na existência, porém ele só está 
dado na formalidade da lei, cujo reconhecimento universal é a forma expressada 
na forma do código civil: “É conhecido como o que, com justiça, é e vale; é a lei. Tal 
direito é, segundo esta determinação, o direito positivo em geral”. (HEGEL, 2000, 
p. 186). Este direito deve respeitar a dimensão da vontade particular do indivíduo 
presente na interioridade do sistema de carências:
[...] mas o direito real da particularidade implica também 
que sejam suprimidas as contingências que ameacem um 
ou outro daqueles fins, que seja garantida a segurança sem 
perturbações da pessoa e da propriedade, numa palavra, que 
o bem-estar particular seja tratado como um direito e realizado 
como tal. (HEGEL, 2000, p. 202). 
O indivíduo é considerado como um produto da sociedade civil. A formação de 
classe contribui para o sujeito que se sabe e é reconhecido pelo trabalho. Pode-se 
destacar que a sociedade civil é o momento em que é exposto o surgimento no 
mundo da vida ética. No entanto, o problema da sociedade civil é que ela não é 
suficiente para si mesma em sua completude, na medida em que ainda é o lugar 
dos embates das particularidades desejadas pelas subjetividades, ela não é ainda 
plenamente universal. Esta universalidade completa só é possível no ambiente do 
Estado, o lugar da vida ética plenamente realizada.
32
2.3 Estado
O Estado tem unicamente, por principal objetivo, a aplicabilidade da eticidade 
(Sittlichkeit) na realidade do mundo objetivo (Wirklichkeit). Seguindo a modalidade 
lógica da dialética imanente do Espírito em sua objetividade, o Estado é o ambiente 
da objetividade do universal. Nesse sentido, a concepção do Estado hegeliano 
segue um processo dialético que se desdobra: primeiro pelo Estado individual 
presente na forma da existência imediata representada na Constituição do Direito 
interno; o segundo, o Estado individual, na relação com outros Estados na forma 
do Direito externo; terceiro, a ideia do Estado universal representada na forma da 
evolução da história universal.
Para Hegel, o Estado é a forma mais racional do Direito, que tem sua efetiva realização 
na efetividade da ideia de liberdade. O Estado é a constituição do processo dialético 
em que o direito se desdobra como relação mediadora do conceito, e a figura, assim 
efetivada na existência mesma do Estado, pelo qual todas as individualidades têm 
a capacidade de serem reconhecidas enquanto fruto do direito racional, realmente 
determinadas na história universal da humanidade. Como afirma Hegel: “O Estado 
é a realidade em ato da ideia moral objetiva, o espírito como vontade substancialrevelada, clara para si mesma, que se conhece e se pensa, e realiza o que sabe e 
porque sabe”. (HEGEL, 2000, p. 236). 
A obrigatoriedade que o poder do Estado tem, ao ser a forma da razão na organização 
do Estado, exige que ela se estruture necessariamente levando em consideração 
a liberdade individual. Nesse sentido, a fundamentação da subjetividade livre só 
poderia ser fundamentada diante da reflexão deste conceito na história, pela ideia 
do Estado moderno. Assim, o Estado se apresenta como fim último na imanência 
da necessidade exteriorizada pela vida ética do espírito de um povo. Neste aspecto, 
o Estado é aquela estrutura racional que suprime a realização da violência através 
de sua Constituição interiorizada na forma do Direito objetivo. 
O Estado, em Hegel, não basta a si mesmo, de forma a ser um Estado isolado dos 
outros, mas necessita buscar a história universal como elevação da consciência 
33
da liberdade. Por isso, este filósofo alemão defende que a liberdade realizada nos 
moldes do ditame da razão, é via única que possibilita o processo histórico do homem 
a superar abstração da necessidade libertando-o da possibilidade da cegueira da 
vida obscura da humanidade. O Estado é quem efetiva existencialmente a razão 
na história dos homens, pois somente pelo caminho do Estado é que a história 
e a razão se relacionam simultaneamente. O Estado é o lugar da realização da 
liberdade que reconcilia a história e a razão, pois esta liberdade reconciliadora está 
para além da particularidade do indivíduo, assim como de sua vida privada, de tal 
forma que através desta reconciliação expressa o necessário na contingência da 
história.
A história depois de Hegel passará a ser compreendida tendo que levar em 
consideração esta construção montanhosa desta teórica filosófica. O Estado como 
uma determinação da razão, muitos buscaram efetivar, no entanto, nenhum teórico 
chegou próximo a esta complexidade da teoria do Estado de Hegel, pois muitos 
caíram na determinação do Estado recheado de insuficiências na fundamentação 
teórica da ideia do Estado. Neste sentido, Hegel é posto como aquele que alcançou 
o suprassumo do conceito do Estado no período da modernidade.
2.4 O Liberalismo em Stuart Mill
Stuart Mill (1806-1873) tem como principal referência a percepção do evento 
histórico de seu tempo, a Revolução Industrial, acontecida na metade do século 
XVIII. Apesar de não ter experimentado a primeira fase desta revolução, Mill 
testemunhou as consequências deste movimento no seu país, a Inglaterra, que 
se expandiu com grande vigor, principalmente com o crescimento de ferrovias 
e a propagação de indústrias. Mill era um autodidata, ao ponto de seu primeiro 
artigo ter sido publicado com dezessete anos, de modo que nesta mesma idade 
conseguira cedo o trabalho necessário para garantir sua estabilidade financeira 
e sua dedicação à vida intelectual. Ele se dedicou a pensar principalmente a 
constituição do liberalismo na forma do utilitarismo e o conceito de liberdade, pelo 
qual dialoga com seus contemporâneos. 
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A filosofia de Mill se destaca fortemente por ser uma teoria que fundamenta o 
pensamento liberal, a partir de princípios da democracia do século XIX. A nova 
demanda de seu tempo, segundo Mill, exige que a concepção política seja 
encarada na ampliação do conceito de cidadania, que não deve ser centrado só em 
uma classe específica, mas deve ser estendido para todos os participantes desta 
nova sociedade industrializada. Neste sentido, o Estado liberal necessita produzir 
estruturas que promovam a participação cidadã de modo que a democracia seja 
efetivada. A participação popular é um direito necessário a todos os indivíduos, 
como afirma Mill:
Em um governo de alguma forma popular, a pessoa que não 
tiver direito a voto, nem os meios de consegui-lo, ou estará 
permanentemente descontente, ou será uma pessoa que acha 
que os assuntos gerais da sociedade não lhe dizem respeito; 
um homem para quem esses assuntos devem ser dirigidos por 
outros; que não tem nada a ver com as leis, a não obedecê-las, 
nem com o interesse público, a não ser como espectador. Nesta 
condição, em termos de política, saberá ou se preocupará tanto 
quanto uma mulher comum da classe média se compara a seu 
marido ou a seus irmãos. (MILL, 1981, p. 89).
Mill acredita na motivação que a sociedade liberal deve promover para que o 
participante tenha o interesse necessário na construção daquilo que ele deseja 
para o Estado democrático. Para a teoria liberal de Mill, é uma injustiça suprimir o 
direito de qualquer cidadão sem um motivo justificável de negação de seus direitos 
civis para com a sociedade. Os governantes e sua classe de gestores devem 
sempre levar em consideração, fundamentalmente, os interesses e os desejos de 
todos aqueles que participam da cidadania por meio do voto. Enquanto democrata, 
Mill tem a clara necessidade do aperfeiçoamento do sistema democrático de um 
governo verdadeiramente representativo:
A democracia não será jamais a melhor forma de governo, a 
não ser que este seu lado fraco possa ser fortalecido; a não ser 
que possa ser organizada de maneira a não permitir nenhuma 
classe, nem mesmo a mais numerosa, possa reduzir todo o 
resto à insignificância política, e dirigir o curso da legislação 
e da administração segundo seus interesses exclusivos de 
classe. O problema está em achar os meios de impedir este 
abuso, sem sacrificar as vantagens características do governo 
popular. (MILL, 1981, p. 87).
35
O governo democrático deve levar em consideração sempre a possibilidade de 
sanar os desafios de superação da contrariedade das classes que constituem a 
sociedade. De modo que seja mantida a participação e não a exclusão participativa 
da maioria em prol da minoria. Mill não assume uma posição radical em seu 
pensamento para aplicação da democracia. Para ele, o exagero da minoria ao 
tentar aplicar a tirania é tão reprovável quanto a radicalidade da maioria na tentativa 
de suprimir a minoria. Nesse sentido, ele afirma que “a vontade do povo significa 
praticamente a vontade da mais numerosa e ativa parte do povo – a maioria, ou 
aqueles que logram êxito em se fazerem aceitar como a maioria”. (MILL, 1981, p. 
25). Nesse sentido, o povo democrático deve se precaver contra os abusos que 
dele mesmo podem surgir: “o povo, consequentemente, pode desejar oprimir uma 
parte de si mesmo, e precauções são tão necessárias contra isso quanto contra 
qualquer outro abuso de poder” (Idem). O poder emana do povo, que através de 
sua opinião pública exerce a atividade da liberdade individual. 
Mas a maior característica do pensamento de Mill é o princípio da utilidade. Stuart 
Mill é o primeiro a aplicar o termo do utilitarismo de modo prático, de modo que 
esta corrente ampliou-se nos vários ambientes: a política, a justiça, a imprensa, 
a economia e a liberdade etc. O fundamento do utilitarismo deste filósofo busca 
alicerçar o princípio da utilidade como princípio da felicidade, isto é, é o princípio 
moral do prazer e exclusão da dor. Assim, ele define: “O credo que aceita a utilidade, 
ou o Princípio da Maior Felicidade, como fundamento da moralidade, defende que 
as ações estão certas na medida em que tendem a promover a felicidade”. (MILL, 
2005, p. 48). Desta feita, o utilitarismo é posto como o ponto central da filosofia de 
Stuart Mill. 
A teoria do utilitarismo foi primeiramente fundada pelos estudos clássicos de 
Epicuro, que enraíza esta filosofia na justificação da procura da felicidade na forma 
do prazer. A análise de Mill relata que os epicuristas, na defesa do utilitarismo, 
condicionaram os prazeres intelectuais superiores aos prazeres corporais. Por isso, 
os epicuristas foram criticados pelos seus opositores ao serem acusados de que esta 
teoria utilitarista jogava os seres humanos a uma situação de degradação, dessemodo, eles acusam os epicuristas e defendem que “os seres humanos não são 
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capazes de ter quaisquer prazeres além daqueles que são acessíveis aos porcos”. 
(MILL, 2005, p. 49). Para Mill, não é típico dos seres humanos se contentarem com 
o pouco que um animal se contenta. Pelo contrário, ele afirma que o homem, o 
ser com faculdades superiores, não se satisfaz com pouco no que se refere àquilo 
que lhe faz realmente feliz. Por ser um ente de inteligência, o humano não pode 
se tranquilizar com uma existência que caracteriza a dimensão inferior ao homem.
 
Para Mill, até sua época, os governantes públicos tendem a praticar o poder sem 
levar em conta os governados, porque o líder do Estado se caracteriza por uma 
arrogância, ao se sentir mais instruído e esclarecido do que os cidadãos que 
estão sob seu comando. A crença que vigora, é que o governante manda e os 
governados obedecem. Assim, o poder do governante se define como atitude de 
princípio necessário. No entanto, a mesma arma que ele poderá utilizar para a sua 
nação, também pode ser a arma usada em seus próprios cidadãos. Para Mill, o 
governo que tenta sufocar a opinião pública dos seus cidadãos, realiza uma atitude 
reprovável:
E falando de maneira geral, não é de se temer, em países 
constitucionais, que o governo, quer seja plenamente 
responsável ante o povo, quer não, tente controlar com 
frequência a expressão do pensamento salvo se, assim 
fazendo, ele age como órgão da intolerância geral do público 
(MILL, 1981, p. 43).
O filósofo do utilitarismo nega qualquer possibilidade de sufocamento coercitivo 
concedida pelo povo ou pelo governante. O poder de coerção da expressão da 
opinião pública de um povo é ilegítimo, por carregar uma contradição no interior de 
um governo com aspectos democráticos. A opinião pública não pode ser sufocada 
ainda que seja falsa, assim, é um mal tentar sufocá-la. Diz Mill: “primeiramente, 
a opinião que se tenta suprimir por meio da autoridade talvez seja verdadeira”. 
(MILL, 1981, p. 45). Não há como dizer se uma opinião é uma verdade absoluta ou 
uma opinião falsa. Para Mill, “não existe certeza absoluta, mas existe segurança 
suficiente para os propósitos da vida humana”. (MILL, 1981, p. 46). O pensador 
do utilitarismo afirma que tanto no ato de presumir, ou reprimir uma opinião, como 
verdade ou falsa sempre pode levar o homem a posições incertas. Nesse sentido, 
ele propõe uma forma de alcançar uma atitude segura para o homem:
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A completa liberdade de contestar e refutar a nossa opinião, é 
o que verdadeiramente nos justifica de presumir a sua verdade 
para os propósitos práticos, e só nesses termos pode o homem, 
com as faculdades que tem, possuir uma segurança racional de 
estar certo. (MILL, 1981, p. 48). 
O pensamento de Mill propõe que a opinião deve ter como fim a vida prática, assim 
como ela para ser realmente viável tem que ser respaldada no princípio da razão.
Mas como garantir que o juízo de alguém seja merecedor de confiança? Mill 
responde:
Conservando o espírito aberto às críticas de suas opiniões e 
da sua conduta, atendendo a tudo quanto se tenha dito em 
contrário, aproveitando essa crítica na medida da sua justeza, 
e reconhecendo ante si mesmo, e ocasionalmente ante outros, 
a falácia do que era falacioso. E sentido que o único meio de 
um ser humano aproximar-se do conhecimento completo de 
um assunto, é ouvir o que sobre ele digam representantes de 
cada variedade de opinião, e considerar todas as formas para 
que cada classe de espíritos o possa encarar. Jamais qualquer 
homem sábio adquiriu a sua sabedoria por outro método que 
não esse, nem está na natureza do intelecto humano chegar 
à sabedoria de outra maneira. O hábito firme de corrigir e 
completar a própria opinião pelo confronto com a dos outros, 
muito ao contrário de causar dúvida e hesitação em levá-la 
à prática, constitui o único fundamento estável de uma justa 
confiança nela (MILL, 1981, p. 49).
Então, existe um processo de discussão livre que leva ao aperfeiçoamento do 
argumento expressado como opinião. Desta forma, faz-se necessário o hábito 
para que este ambiente de discussão livre seja o fortalecimento dos argumentos 
que são postos no debate para que seja reprovado ou aclamado por outros. O que 
é reprovável pelo filósofo é a tentativa de reprimir a opinião individual, isto é, a 
liberdade na forma de um governo democrático. A liberdade de opinar publicamente 
é um direito de cada indivíduo que deve ser assegurado em um Estado democrático, 
porém esta liberdade individual não pode causar nenhum dano aos outros. Daí 
o direito do indivíduo participar de uma associação com outras pessoas que se 
conciliam com as mesmas opiniões de ideias. 
Stuart Mill, no quarto capítulo, trata dos limites da autoridade da sociedade sobre 
o indivíduo, e faz isso afirmando que o contrato não funda a sociedade, pois este 
não tem como obrigar cada individua a cumprir com a conduta desejada para com 
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o resto de seus iguais. A primeira conduta seria de obediência ao respeito pleno e 
aos interesses dos outros membros; a segunda diz que cada indivíduo faz sacrifício 
necessário para a manutenção da segurança social e o bem-estar da sociedade. 
O filósofo exige que a liberdade seja a mais perfeita possível, de tal forma que 
nem o indivíduo e nem a sociedade saiam prejudicados. “O esforço desinteressado 
por promover o bem alheio necessita ser grandemente incrementado, e não por 
qualquer forma descoroçoado”. (MILL, 1981, p. 137). A liberdade individual deve 
respeitar a esfera social e a esta deve respeitar a liberdade dos indivíduos. 
2.5 O Estado Liberal em Max Weber
Para Weber, o período moderno levou a civilização ocidental à racionalização do 
Estado. A modernidade possibilitou à civilização ocidental desenvolver a estrutura 
necessária para que o Estado evoluísse de forma a se destacar profundamente, 
se comparado com as civilizações orientais. Daí, Weber afirma que: “O Estado, no 
sentido de Estado racional, somente existiu no Ocidente”. (WEBER, 2006, p. 89). 
Enquanto os povos orientais não conseguiram evoluir na forma de administrar a 
estrutura do Estado, o Estado moderno se caracteriza por determinar uma nova 
estrutura para o Estado: “De modo diferente apresenta-se o Estado racional, único 
contexto no qual o capitalismo moderno pode vigorar. Esse Estado tem sua base no 
funcionalismo especializado e no direito racional”. (WEBER, 2006, p. 91). Enquanto 
que o Estado Chinês, por exemplo, ficou prisioneiro pela força da magia. 
O direito racional da civilização ocidental, tem sua gênese no direito romano, 
principalmente no que se refere à sua herança de aspecto formal do direito como 
produto da concepção da cidade-Estado de Roma, de modo que o direito racional 
moderno desempenha atividades a partir de deliberações próprias de uma função 
especializada e produzida de forma técnica. No entanto, para Weber, não é esta 
recepção do direito romano, como alicerce do direito racional, que fará com que o 
capitalismo seja fundado no Estado moderno. Isto porque, na Inglaterra o judiciário 
não teve uma recepção ao direito romano, de forma que: “impediu-se que fosse 
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ensinado direito romano nas universidades inglesas, a fim de que não chegassem 
aos assentos de juiz personalidades não procedentes de suas fileiras”. (WEBER, 
2006, p. 94). 
A influência do direito romano só se concretizou de modo decisivo na criação 
da doutrina jurídica-formal, pela qual firmará a centralização jurídica do poder 
representado pelo Estado moderno: “A criação de tal tipo de direito foi possível pelo 
fato de o Estado moderno aliar-se com os juristas a fim de fazer valer suas pretensões 
de poder”. (WEBER, 2006, p. 95). Por fim, o Estado racional é a modernização do 
Estado, que, enquanto poder estatal, tem um fundamento jurídico como forma de 
concentrar o poder

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