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Uema Fil - Ontologia

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Disciplina: Ontologia
Curso: Licenciatura em Filosofia
UNIDADE 1 
INTRODUÇÃO A PROBLEMÁTICA DO 
SENTIDO DO SER E DA EXISTÊNCIA
Saber Humano, ISSN 2446-6298, Edição Especial: Cadernos de Ontopsicologia, p. 291-298, fev., 2016. 
 
291 
Saber Humano-Revista Científica da Faculdade Antonio Meneghetti 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
A Metafísica do Ser: um estudo filosófico para a 
vida 
 
Caroline Vogel de Oliveira 
1
 
 
Resumo: Este estudo tem como objetivo aprofundar conhecimentos sobre o 
Ser, dentro da temática filosófica da metafísica, em perceber além das 
coisas físicas, que há algo que opera, uma força inteligente que move a 
vida. O método para a realização do trabalho aconteceu por meio de 
pesquisa bibliográfica e estudo teórico. Neste sentido, verificamos que 
estudar sobre o Ser resulta em uma importante realização intelectual e 
existencial para o ser humano. 
Palavras-chave: ser; ontologia; metafísica; nexo ontológico. 
 
The Metaphysics of Being: a philosophical study for life 
Abstract: This study aims to deepen knowledge of the Self, within the 
philosophical theme of metaphysics, to perceive beyond the physical 
things, there is something that works, an intelligent force behind life. The 
method for carrying out the work took place through literature and 
theoretical study. In this regard, we note that study about the Self results in 
a major intellectual and existential realization for humans. 
Keywods: Self; ontology; metaphysics; ontological nexus. 
 
1 carolinevogeloliveira@hotmail.com 
Saber Humano, ISSN 2446-6298, Edição Especial: Cadernos de Ontopsicologia, p. 291-298, fev., 2016. 
 
292 
Saber Humano-Revista Científica da Faculdade Antonio Meneghetti 
1 Introdução 
 
“A vida deve ser estudada e indagada lá onde aparece suprema, mais elevada 
segunda nossa experiência, vale dizer no homem. É inútil buscar a vida dentro de 
um fóssil, ou dentro de uma planta. Indaguemos, em vez disso, os horizontes do ser 
psíquico do homem, que nos dirá muito mais” (MENEGHETTI, 2004, p. 18). 
 
 
A cada amanhecer e anoitecer, existe algo que está dentro de cada indivíduo, 
algo que o faz existir no aqui e agora, algo que não se vê, mas que faz evidência. Este 
estudo de base filosófica é uma pequena síntese do conhecimento sobre uma força que 
move tudo sem ser movida, que faz vida, o Ser transcendente, o Ser como princípio 
universal de tudo o quanto existe ou é real. 
Há sempre uma forma de vida. Algo que ordena, sem ser ordenado, uma 
inteligência que não nasce, mas, faz tudo nascer. O objetivo do trabalho é indagar-se: o 
que é o Ser? De que modo ele é? Qual a relação que há entre o Ser com as diversas 
individuações do universo? Como percebê-lo sendo nós humanos? Cada humano o tem? 
E como tocá-lo? De que modo a Ontopsicologia explica o Ser? 
Justifica-se este tema pela relevância que ele tem como forma de entendimento 
para a identidade do ser humano. É fato que, recebem-se informações junto as quais se 
esquece de ver a vida como um todo, buscam-se soluções através de fatos físicos, 
matéricos, do modo como a tecnologia resolve os problemas através do externo. Desta 
forma, indaga-se no decorrer do estudo se, o homem, não compreendendo o que é o Ser, 
pode ser modificado da sua forma originária, se ele reconhece a sua natureza. 
Como resultado, busca-se entender o Ser, também como forma de encontrar a 
natureza original do homem, é um resolver interno, resgatar o conhecimento próprio, o 
conhecimento organísmico. Busca-se a evidência oferecida pela natureza, que sustenta o 
conhecer do ser humano. Por fim, a verdade só é verdadeira se o sujeito é verdadeiro, 
como já dizia o filósofo Sócrates na Antiguidade Clássica: “Conhece a ti mesmo”. 
 
 
2 Fundamentação Teórica 
 A vida é um fato a ser entendido, observado, instigado. Esta se resplandece a 
cada momento, no aqui, no agora. Entender a vida é entender o que se é, para que se 
vive, o que se vê e principalmente o que se faz, pois com ela não basta acreditar, é 
preciso agir. Viver é uma alegria, o saber viver é uma festa para a alma, é saber buscar o 
que é vivo para dentro de si. “Vida: o lugar da força. Semovência autônoma a um 
intrínseco fim no particular e no total” (MENEGHETTI, 2012, p. 269). 
Saber Humano, ISSN 2446-6298, Edição Especial: Cadernos de Ontopsicologia, p. 291-298, fev., 2016. 
 
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 Compreender de fato o que é a vida, o que é o projeto da natureza de cada ser 
humano é uma tarefa de responsabilidade e também de magnitude. O filósofo Heráclito 
já dizia: “Máxima virtude é ser sábios e a sabedoria consiste em dizer e fazer coisas 
verdadeiras, compreendendo-as segundo a sua natureza” (CAROTENUTO, 2009, p. 
15). 
 Buda, também tem uma passagem muito interessante sobre o que para ele 
significava a vida: 
Conta-se que certa vez Buda, interpelado sobre a vida, serviu-se deste fato para 
explicar. Fez trazer a si um elefante, e depois, colocou ao seu redor dez ou quinze 
homens cegos e convidou-os a tocar o animal, permanecendo parados onde se 
encontravam. Disso resultou que os cegos definiam de acordo com as partes que 
tocavam. A vida não pode ser conhecida por inteiro enquanto cada existente tende a 
ressaltar o seu ponto de observação, não conseguindo superar o fato de que espaço-
tempo são unidades de medida convencionadas à nossa ótica, ao nosso modo de 
caminhar, mas não são absolutas. Não temos objetividade de existência enquanto 
pretendemos nos relacionar ao absoluto com medidas relativas ao nosso ponto de 
observação. O nosso nada é um nada de relação, jamais é um nada absoluto. Em si e 
por si existe somente o ser. O nada é a projeção dos limites da individuação no 
âmbito da existência (MENEGHETTI, 2004, p. 22). 
Conhecer a vida por inteiro, é abraçar o real, que realidade? Aquela que cada um 
possui. Esta é uma força, um instinto. De que lugar ele vem? Para que lugar vai? Como 
conhecer o real sem apenas definir com as pequenas partes que conhecemos segundo 
nossa lógica? Segundo nosso modo, as nossas medidas, aquilo que chamamos de 
tempo? Duns Scotus, filósofo medieval, descreve sobre abraçar o real, a possibilidade 
que a psique humana tem de assumi-lo e compreendê-lo. 
Considera a noção unívoca de ente como objeto primeiro do intelecto: é a noção que 
define a extensão das possibilidades cognoscitivas humanas. De fato, como conceito 
de ente é aplicável univocamente a tudo o que é, assim o nosso intelecto pode atingir 
naturalmente qualquer ente. Portanto, também na atual condição, o homem pode 
assumir, graças ao conceito unívoco de ente, um ponto de vista que consente abraçar 
a totalidade do real (CAROTENUTO, 2009, p.53-54). 
Se ente, é tudo aquilo que é, há uma força que move, e que já é. Há uma 
intelectualidade que faz tudo se mover em completa harmonia. Uma harmonia que o ser 
humano pode e deve buscar para a sua vida. Meneghetti (2004), descreve que seria 
impossível a vida existir por apenas uma força da Terra sozinha: 
“A vida não poderia existir por força intrínseca da Terra sozinha. Nós somos os 
resultados e as reflexões de todo um conjunto cósmico: esta vida, neste planeta, é 
determinada por um particular sincronismo interplanetário e interestrelar. Como um 
certo números de átomos proporcionais entre si, efetua uma molécula específica, 
assim as relações energéticas de variáveis cósmicas efetuam um modo de vida que 
chamamos existência terrestre” (MENEGHETTI, 2004, p. 24). 
 
Saber Humano,ISSN 2446-6298, Edição Especial: Cadernos de Ontopsicologia, p. 291-298, fev., 2016. 
 
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Partindo deste pretexto, pode-se afirmar que existe um Ser, um princípio que 
move tudo sem ser movido, faz gerar a vida, enquanto ele é vida. Anaxágoras falou 
desta força, deste Deus, conceituando-o como nùs (transliteração da língua grega ao 
português): 
 “Ele é a única realidade absoluta e ilimitada e a ele competem duas funções – além 
daquela de princípio vital e cosmogônico que põe em movimento a massa indistinta 
das sementes – conhecer e governar todas as coisas, enquanto se o conhecimento é 
possível por contraste, a nùs sendo diversa de cada coisa pode conhece-las todas 
(CAROTENUTO, 2009, p.16). 
Esta força conhece todas as coisas e faz todas as coisas diferenciarem-se, não há 
uma igual a outra. Cada vida já tem um projeto feito para si, já nasceu para ser aquela 
concepção. Assim, também se estende ao ser humano, um assunto muito questionável 
ao longo da história: a relação do homem com o Ser. Que força é esta, verdadeira amiga 
do homem? Que mestre é este que está dentro de cada ser humano? Já somos escolhidos 
antes de estar no ventre? Somos chamados? 
Mas o nosso existir em referência ao transcendente, ao Ser, a Deus, que valor tem? 
Nós não somos diretamente escolhidos pelo Em Si avulso da história; todavia, a 
partir do momento em que a história nos determina, nós vivemos com a mesma 
importância do Ser em si. Através da história passa a identidade do Em Si; o ser 
atua-se, fenomeniza-se exatamente no aqui e agora dos nossos ascendentes, da nossa 
situação espaço-tempo. A partir do momento em que eu aconteço, necessariamente 
sou amado, sou desejado, necessariamente sou chamado desde sempre 
(MENEGHETTI, 2004, p. 29). 
Como o humano entende que há um Ser que o chamou para a história, lhe deu 
um projeto de vida? Meneghetti (2010), acrescenta que enquanto se vive é necessária 
uma passagem metafísica: “Todavia, enquanto se vive, resta uma oportunidade e é a 
passagem ao metafísico: de qualquer posição que se encontre, o sujeito pode se deparar, 
como próprio encontro secreto naquele além que é sempre aqui. É uma consolação 
mística” (MENEGHETTI, 2010, p. 278). Por metafísica conceitua: “A “metafísica”, 
propriamente é a racionalidade elementar que se refere ao ser. A ontologia pura é 
metafísica. O termo “metafísica” usa-se, propriamente, apenas para os modelos mentais 
em relação ao ser (MENEGHETTI, 2014, p. 13). 
Também descreve a importância de compreender o que é a ontologia: “Para 
compreender profundamente a experiência da psicologia é preciso ter uma formação, 
uma experiência filosófica de ontologia. (...) é a ciência, o discurso sobre o ser. 
Ontologia é a descrição e compreensão do ser, dos seus modos, relações e das próprias 
fenomenologias (MENEGHETTI, 2010, p. 272). 
 
Saber Humano, ISSN 2446-6298, Edição Especial: Cadernos de Ontopsicologia, p. 291-298, fev., 2016. 
 
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A tentativa da Ontopsicologia é elucidação do ser em referência, isto é, um favorecer 
a experiência consciente do ser enquanto está referindo-se, um mostrar ótica fora da 
alteração verbalística, um tornar o ôntico ontológico. Tal tentativa não pertence, por 
ordem fatal, a alguns predestinados, mas é direito e dever de todos. Jesus dizia: “sois 
como deuses, o reino de Deus está dentro de vós, sede perfeitos como perfeito é o 
vosso Pai”. A experiência que me conheço me faz sentir comum; o que eu sou é de 
todos (MENEGHETTI, 2003, p. 197). 
O que é tornar o ôntico ontológico? Por ôntico entende-se: “genitivo do 
particípio presente do verbo ser. Participado pelo ser em si. O que constitui o princípio 
para qualquer possibilidade ou fato de existir. Atualidade da causa primeira de um 
processo. O princípio pelo qual é, ou não é” (MENEGHETTI, 2012, p. 188). Em forma 
simples, Ser o que se “é” por natureza, compreender a si, e assim, compreender o ser, 
suas fenomenologias. “Ninguém pode entender a vida em si enquanto a sua consciência 
estiver fora do contato com o Em Si ôntico, única presença do originário metafísico. 
Qualquer homem que chega a conscientizar o próprio Em Si ôntico conhece a voz do 
Pai e, daqui, sabe toda revelação” (MENEGHETTI, 2003, p. 196). 
Trata-se de uma realidade simples, quotidiana, contínua, total: é ou não é. Qualquer 
coisa que se correlacione a esta cópula – “é”- a este ente, ou seja, dado primordial da 
racionalidade e da experiência humana, que não é constituído pelos sentidos, pela 
matéria, ou pelo sujeito, mas pelo “é”: ou é, ou não é. Se não é, opera-se uma 
negação. Essa sumidade metafísica, portanto, é quotidiana, é algo com o qual o 
sujeito faz o jogo e o jogador. Qualquer modo, ou é fundamentado no ser, ou não 
tem sentido” (MENEGHETTI, 2014, p. 23). 
 Também se torna válido o discurso sobre o que é o Ser para Meneghetti (2012). 
Este o conceitua do seguinte modo (2012, p. 244): 
Ser: Princípio universal do quanto existe ou é real. O ser é o primeiro simples geral 
que consente a lógica apriórica entre ser e não ser. Em Ontopsicologia, distinguem-
se três modos de ser: 
a) Metafísico ou Ser transcendente, ou Ser como Deus; 
b) Comum, ou ser como participação universal de todas as coisas; 
c) Individual, ou ser como participação de mim existente aqui e agora. 
O Em Si ôntico é mediador dessas três realidades: com base no Ser transcendente, o 
Em Si ôntico tem a relação com o primeiro princípio; com base no ser comum, o Em 
Si ôntico tem a relação com o cosmo, com o universo, com a vida; com base no ser 
individual, o Em Si ôntico tem a relação com o homem enquanto ecceidade 
histórica, pela qual assinala a própria irrepetibilidade (MENEGHETTI, 2012, p. 
244). 
Ou seja, na prática, cada pessoa como ser humano, com seu Em Si ôntico, seu 
projeto de natureza faz relação com o Ser de modo metafísico, depois, através do Em Si 
ôntico, faz relação com a vida, com o que encontra no universo, existe uma unidade de 
ação universal, é a operatividade da intelectualidade do ser, é a psique. E, também 
através do Em Si ôntico, cada pessoa é exclusiva aqui (ecceidade), tem uma experiência 
Saber Humano, ISSN 2446-6298, Edição Especial: Cadernos de Ontopsicologia, p. 291-298, fev., 2016. 
 
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máxima daquela presença que a identifica, faz a sua participação do aqui agora daquilo 
que é. 
O ser se diferencia conforme as individuações (pedra, ser humano, flor, pinheiro, 
carvalho, água, etc.): do genérico ser, começam infinitas estradas de variáveis que 
fazem a dialética existencial dos cosmos. Cada um é diferente: a pedra não é 
homem, o homem não é a árvore e assim por diante. O que é que os faz variar? É o 
projeto. O ser, quando acontece, acontece com um projeto, com uma informação. O 
Em Si ôntico é a especificidade como o ser se presencia, se individua aqui, agora e 
assim. É a identidade informacional do sujeito em dialética existencial: é o projeto e 
o projetante (MENEGHETTI, 2010, p. 274). 
 
Para Vidor (2015), “para entender o ser não se deve partir da consciência, mas 
do fato existencial é o corpo em todas as variações dele, o sonho, as emoções, 
sentimentos. Infinidades de variações do corpo como antenas. E dar atenção ao íntimo 
da mente que se chama intelecto”. Se partimos do que está em nossa consciência, esta 
pode estar embaçada, e esquecemos que somos a realidade do Ser. Quando não se chega 
a esta percepção, vive-se com outro em si mesmo, acreditam-se em tantas outras 
convicções, culturas, religiões, o que a família, amigos dizem. E, se esqueceque há um 
projeto que é só seu, irrepetível. 
Tudo é, todos os homens são, e cada um se diferencia no interior do ser. A 
individuação é um dos infinitos modos de participação do ser, é ecceidade do ser, é 
aquele indivíduo específico. Dois sujeitos, “A” e “B”, mesmo tendo em comum a 
participação ao ser, são distintos. Disso se deduz que o ser é transcendente, enquanto 
está em tudo, mas contemporaneamente, em cada um é irrepetível: “A” é somente 
“A”, aqui, assim, agora, como. Não existe identidade, realidade sem o ser: essa 
nasce de modo em que o ser se faz ecceico aqui. Dos diversos “aqui” nasce a infinita 
dialética da sociedade, ou seja, do indivíduo no tempo, no espaço, entro os outros 
(MENEGHETTI, 2010, p. 273). 
 
Outro ponto a ser destacado, é que fomos ensinados a compreender aquilo que se 
vê, algo que faz matéria, racionalidade. Como se a psique não devesse ser estudada, 
como se não se deve utilizar esta inteligência com aquilo que somos. Acaba-se deixando 
“escapar” informações que a vida traz, mostra, aquilo que é a realidade de cada um. 
 
Devemos concordar que estamos cindidos no nosso modelo de realidade; estamos 
habituados que o real existe na medida em que toco externamente aqui e que o 
mesmo altera a realidade corpórea. As coisas estando assim, explica-se a 
desconfiança que sentem todos aqueles que afrontam a investigação do profundo do 
homem: este profundo que convém denominar psíquico (MENEGHETTI, 2005, p. 
19). 
A atividade psíquica é o agir do Ser, ele age através dela evadindo o tempo e o 
espaço que nós humanos condicionamos. Esta, age de modo ordenado. “A realidade 
psíquica, sendo o fundamento das outras realidades sensoriais, possui velocidades, 
possui relações desconhecidas aos nossos sentidos; é superior, funda todos os outros 
Saber Humano, ISSN 2446-6298, Edição Especial: Cadernos de Ontopsicologia, p. 291-298, fev., 2016. 
 
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sentidos. A psique, pelo seu extremo grau de amplitude, pode intercambiar os tempos, 
os lugares. A realidade psíquica tem a possibilidade de transferir-se sem ser necessitada 
pela progressão” (MENEGHETTI, 2005, p. 21). “A atividade psíquica pura não é tanto 
energia, mas é o processo de formalização” (MENEGHETTI, 2012, p. 27). 
Compreendendo as passagens do Ser, através do Em Si ôntico, do projeto de 
natureza de cada pessoa, chega-se ao nexo ontológico. Para Vidor (2015), “se o 
momento reflexivo-psicológico é igual ao real que sou, é igual a ação ôntica, o saber 
segue e é conforme a lógica do ser. O único ponto firme que o homem tem é o próprio 
Em Si ôntico. Ele é a raiz ou núcleo que informa o saber coincidente ao próprio ser. O 
nexo ontológico é o critério que fundamenta a veracidade de todas as ciências” 
(VIDOR, Apostila Filosofia e Lógica, Bacharelado em Ontopsicologia, 2015, s/p). Ser 
fiel naquilo que verdadeiramente sou. Neste sentido encontramos na obra de Antonio 
Meneghetti (2004): 
 A fidelidade ao meu ato de existir determina a plenitude sempre em crescimento, 
porque onde eu existo, me amo, me reconheço, determino novamente o sentido 
nascente acrescente. Através de mim, acontece qualquer forma de milagre, qualquer 
forma de sucesso (MENEGHETTI, 2004, p. 30). 
 Esta é a proposta de ser. “Limpar” a consciência, e ser uno ao todo. O eu só é 
real quando age a lógica do próprio Em Si ôntico. O Ser está em todas as coisas. 
Começou tudo através de uma intenção. Uma energia que independe da matéria, é 
atividade psíquica. Por fim, o homem é um ente inteligente, que enquanto há vida, 
sempre está direcionado à intenção de realizar um projeto, o seu projeto. 
 O meu é um discurso filosófico e psicológico, e não entendo subverter as 
pedagogias sociais existentes e muito menos fundar um partido ou uma nova 
religião, mas diminuir a solidão dos que chegam além e pedir-lhes que não se 
paralisem. A consciência ôntica é um sacerdócio solitário sem paternalismos 
protetores. (...) O homem verdadeiro é no estilo de um sacerdócio solitário que 
honra o Em Si eterno na oferta da existência comum sem um “imprimatur” de 
paternidade exterior... (MENEGHETTI, 2003, p. 197). 
 
Referências 
 
CAROTENUTO, M. Histórico sobre as teorias do conhecimento. Recanto Maestro: 
Ontopsicologica Editrice, 2009. 
 
MENEGHETTI, A. Ontopsicologia Clínica. 3. ed. Recanto Maestro: Ontopsicologica 
Editrice, 2005. 
 
MENEGHETTI, A. Dicionário de Ontopsicologia. 2. ed. Recanto Maestro: 
Ontopsicológica Editora Universitária, 2012. 
Saber Humano, ISSN 2446-6298, Edição Especial: Cadernos de Ontopsicologia, p. 291-298, fev., 2016. 
 
298 
Saber Humano-Revista Científica da Faculdade Antonio Meneghetti 
MENEGHETTI, A. Manual de Ontopsicologia. 4. ed. Recanto Maestro: 
Ontopsicologica Editrice, 2010. 
 
MENEGHETTI, A. Da consciência ao ser. Recanto Maestro: Ontopsicológica Editora 
Universitária, 2014. 
 
MENEGHETTI, A. O Em Si do homem. 5. ed. Recanto Maestro: Ontopsicologica 
Editrice, 2004. 
 
MENEGHETTI, A. Filosofia Ontopsicológica. 5. ed. Florianópolis: Ontopsicologica 
Editrice, 2003. 
 
 
 
 
Parmênides. Da Natureza. 
Tradução do Professor Dr. José Gabriel Trindade Santos. 
Modificada pelo tradutor. 
Primeira edição, Loyola, São Paulo, Brasil, 2002. 
Original em grego, conforme o texto estabelecido por J. Burnet.
Parmênides, PERI PHYSEÔS 
 
I 
 
Ἵπποι ταί με φέρουσιν, ὅσον τ΄ ἐπἱ θυμὸς ἱκάνοι, 
πέμπον, ἐπεί μ΄ ἐς ὁδὸν βῆσαν πολύφημον ἄγουσαι 
δαίμονος, ἣ κατὰ πάντ΄ ἄστη φέρει εἰδότα φῶτα· 
τῇ φερόμην· τῇ γάρ με πολύφραστοι φέρον ἵπποι 
[5] ἅρμα τιταίνουσαι, κοῦραι δ΄ ὁδὸν ἡγεμόνευον. 
Ἄξων δ΄ ἐν χνοίῃσιν ἵει σύριγγος ἀυτήν 
αἰθόμενος - δοιοῖς γὰρ ἐπείγετο δινωτοῖσιν 
κύκλοις ἀμφοτέρωθεν -, ὅτε σπερχοίατο πέμπειν 
Ἡλιάδες κοῦραι, προλιποῦσαι δώματα Νυκτός, 
[10] εἰς φάος, ὠσάμεναι κράτων ἄπο χερσὶ καλύπτρας. 
Ἔνθα πύλαι Νυκτός τε καὶ Ἤματός εἰσι κελεύθων, 
καί σφας ὑπέρθυρον ἀμφὶς ἔχει καὶ λάινος οὐδός· 
αὐταὶ δ΄ αἰθέριαι πλῆνται μεγάλοισι θυρέτροις· 
τῶν δὲ Δίκη πολύποινος ἔχει κληῖδας ἀμοιϐούς. 
[15] Τὴν δὴ παρφάμεναι κοῦραι μαλακοῖσι λόγοισιν 
πεῖσαν ἐπιφράδέως, ὥς σφιν βαλανωτὸν ὀχῆα 
ἀπτερέως ὤσειε πυλέων ἄπο· ταὶ δὲ θυρέτρων 
χάσμ΄ ἀχανὲς ποίησαν ἀναπτάμεναι πολυχάλκους 
ἄξονας ἐν σύριγξιν ἀμοιϐαδὸν εἰλίξασαι 
[20] γόμφοις καὶ περόνῃσιν ἀρηρότε· τῇ ῥα δι΄ αὐτέων 
ἰθὺς ἔχον κοῦραι κατ΄ ἀμαξιτὸν ἅρμα καὶ ἵππους. 
Καί με θεὰ πρόφρων ὑπεδέξατο, χεῖρα δὲ χειρί 
δεξιτερὴν ἕλεν, ὧδε δ΄ ἔτος φάτο καί με προσηύδα· 
ὦ κοῦρ΄ ἀθανάτοισι συνάορος ἡνιόχοισιν, 
[25] ἵπποις ταί σε φέρουσιν ἱκάνων ἡμέτερον δῶ, 
χαῖρ΄, ἐπεὶ οὔτι σε μοῖρα κακὴ προὔπεμπε νέεσθαι 
τήνδ΄ ὁδόν - ἦ γὰρ ἀπ΄ ἀνθρώπων ἐκτὸς πάτου ἐστίν-, 
ἀλλὰ θέμις τε δίκη τε. Χρεὼ δέ σε πάντα πυθέσθαι 
ἠμέν Ἀληθείης εὐκυκλέος ἀτρεμὲς ἦτορ 
[30] ἠδὲ βροτῶν δόξας, ταῖς οὐκ ἔνι πίστις ἀληθής. 
Ἀλλ΄ ἔμπης καὶ ταῦτα μαθήσεαι, ὡς τὰ δοκοῦντα 
χρῆν δοκίμως εἶναι διὰ παντὸς πάντα περῶντα. 
Parmênides, Da Natureza 
 
I 
 
Os corcéis que me transportam, tanto quanto o ânimo me impele, 
conduzem-me, depois de me terem dirigido pelo caminho famoso 
da divindade, que leva o homem sabedor por todas as cidades. 
Por aí me levaram, por aí mesmo me levaram os habilíssimos corcéis, 
puxando o carro, enquanto as jovens mostravam o caminho. 
O eixo silvava nos cubos como uma siringe, 
incandescendo (ao ser movido pelas duas rodas que vertiginosamente 
o impeliam de um e de outro lado), quando se apressaram 
as jovens filhas do sol a levar-me, abandonando a região da Noite 
para a luz, libertando com as mãos a cabeça dos véus que a escondiam. 
Aí está o portal que separa os caminhos da Noite e do Dia, 
encimado por um dintel e um umbral de pedra; 
o portal, etéreo, fechado por enormesbatentes, 
dos quais a Justiça vingadora detém as chaves que os abrem e fecham. 
A ela se dirigiram as jovens, com doces palavras, 
persuadindo-a habilmente a erguer para elas 
por um instante a barra do portal. E ele abriu-se, 
revelando um abismo hiante, enquanto fazia girar, 
um atrás do outro, os estridentes gonzos de bronze, 
fixados com pregos e cavilhas. Por aí, através do portal, 
as jovens guiaram com celeridade o carro e os corcéis. 
E a deusa acolheu-me de bom grado, mão na mão 
direita tomando, e com estas palavras se me dirigiu: 
“Ó jovem, acompanhante de aurigas imortais, 
tu, que chegas até nós transportado pelos corcéis, 
Salve! Não foi um mau destino que te induziu a viajar 
por este caminho – tão fora do trilho dos homens –, 
mas o Direito e a Justiça. Terás, pois, de tudo aprender: 
o coração inabalável da verdade fidedigna 
e as crenças dos mortais, em que não há confiança genuína. 
Mas também isso aprenderás: como as aparências 
têm de aparentemente ser, passando todas através de tudo”. 
 
II 
 
Εἰ δ΄ ἄγ΄ ἐγὼν ἐρέω, κόμισαι δὲ σὺ μῦθον ἀκούσας, 
αἵπερ ὁδοὶ μοῦναι διζήσιός εἰσι νοῆσαι· 
ἡ μὲν ὅπως ἔστιν τε καὶ ὡς οὐκ ἔστι μὴ εἶναι, 
Πειθοῦς ἐστι κέλευθος - Ἀληθείῃ γὰρ ὀπηδεῖ -, 
[5] ἡ δ΄ ὡς οὐκ ἔστιν τε καὶ ὡς χρεών ἐστι μὴ εἶναι, 
τὴν δή τοι φράζω παναπευθέα ἔμμεν ἀταρπόν· 
οὔτε γὰρ ἂν γνοίης τό γε μὴ ἐὸν - οὐ γὰρ ἀνυστόν - 
οὔτε φράσαις· 
 
ΙΙΙ 
 
... τὸ γὰρ αὐτὸ νοεῖν ἐστίν τε καὶ εἶναι. 
 
ΙV 
 
Λεῦσσε δ΄ ὅμως ἀπεόντα νόῳ παρεόντα βεϐαίως· 
οὐ γὰρ ἀποτμήξει τὸ ἐὸν τοῦ ἐόντος ἔχεσθαι 
οὔτε σκιδνάμενον πάντῃ πάντως κατὰ κόσμον 
οὔτε συνιστάμενον. 
 
V 
 
Ξυνὸν δέ μοί ἐστιν, ὁππόθεν ἄρξωμαι· τόθι γὰρ πάλιν 
ἵξομαι αὖθις. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
B2 
 
Vamos, vou dizer-te – e tu escuta e fixa o relato que ouviste – 
quais os únicos caminhos de investigação que há para pensar: 
um que é, que não é para não ser; 
é caminho de confiança (pois acompanha a verdade); 
(5) o outro que não é, que tem de não ser, 
esse te indico ser caminho em tudo ignoto, 
pois não poderás conhecer o que não é, não é consumável, 
nem mostrá-lo [...] 
 
B3 
 
... pois o mesmo é pensar e ser. 
 
B4 
 
Nota também como o que está longe pela mente se torna firmemente 
presente: pois não separarás o ser da sua continuidade com ser, 
nem dispersando-o por toda a parte segundo a ordem do mundo, 
nem reunindo-o. 
 
B5 
 
[...] para mim é o mesmo 
Por onde hei de começar: pois aí tornarei de novo.
VΙ 
 
Χρὴ τὸ λέγειν τε νοεῖν τ΄ ἐὸν ἔμμεναι· ἔστι γὰρ εἶναι, 
μηδὲν δ΄ οὐκ ἔστιν· τά σ΄ ἐγὼ φράζεσθαι ἄνωγα. 
Πρώτης γάρ σ΄ ἀφ΄ ὁδοῦ ταύτης διζήσιος <εἴργω>, 
αὐτὰρ ἔπειτ΄ ἀπὸ τῆς, ἣν δὴ βροτοὶ εἰδότες οὐδέν 
[5] πλάττονται, δίκρανοι· ἀμηχανίη γὰρ ἐν αὐτῶν 
στήθεσιν ἰθύνει πλακτὸν νόον· οἱ δὲ φοροῦνται. 
κωφοὶ ὁμῶς τυφλοί τε, τεθηπότες, ἄκριτα φῦλα, 
οἷς τὸ πέλειν τε καὶ οὐκ εἶναι ταὐτὸν νενόμισται 
κοὐ ταὐτόν, πάντων δὲ παλίντροπός ἐστι κέλευθος. 
 
VΙΙ 
 
Οὐ γὰρ μήποτε τοῦτο δαμῇ εἶναι μὴ ἐόντα· 
ἀλλὰ σὺ τῆσδ΄ ἀφ΄ ὁδοῦ διζήσιος εἶργε νόημα· 
μηδέ σ΄ ἔθος πολύπειρον ὁδὸν κατὰ τήνδε βιάσθω, 
νωμᾶν ἄσκοπον ὄμμα καὶ ἠχήεσσαν ἀκουήν 
[5] καὶ γλῶσσαν, κρῖναι δὲ λόγῳ πολύδηριν ἔλεγχον 
ἐξ ἐμέθεν ῥηθέντα. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
B6 
 
É necessário que o dizer e pensar que é sejam; pois podem ser, 
enquanto nada não é: nisto te indico que reflitas. 
Desta primeira via de investigação te <afasto>, 
e logo também daquela em que os mortais, que nada sabem, 
(5) vagueiam, com duas cabeças: pois a incapacidade 
lhes guia no peito a mente errante; e são levados, 
surdos ao mesmo tempo que cegos, aturdidos, multidão indecisa, 
que acredita que o ser e o não ser são o mesmo 
e o não mesmo, para quem é regressivo o caminho de todas as coisas. 
 
B7 
 
Pois nunca isto será demonstrado: que são coisas que não são; 
mas afasta desta via de investigação o pensamento, 
não te force por este caminho o costume muito experimentado, 
deixando vaguear olhos que não veem, ouvidos soantes 
(5) e língua, mas decide por argumento a prova muito disputada 
 de que falei. 
 
VΙΙΙ 
 
Μόνος δ΄ ἔτι μῦθος ὁδοῖο 
λείπεται ὡς ἔστιν· ταύτῃ δ΄ ἐπὶ σήματ΄ ἔασι 
πολλὰ μάλ΄, ὡς ἀγένητον ἐὸν καὶ ἀνώλεθρόν ἐστιν, 
ἔστι γὰρ οὐλομελές τε καὶ ἀτρεμὲς ἠδ΄ ἀτέλεστον· 
[5] οὐδέ ποτ΄ ἦν οὐδ΄ ἔσται, ἐπεὶ νῦν ἔστιν ὁμοῦ πᾶν, 
ἕν, συνεχές· τίνα γὰρ γένναν διζήσεαι αὐτοῦ; 
πῇ πόθεν αὐξηθέν ; οὔτ΄ ἐκ μὴ ἐόντος ἐάσσω 
φάσθαι σ΄ οὐδὲ νοεῖν· οὐ γὰρ φατὸν οὐδὲ νοητόν 
ἔστιν ὅπως οὐκ ἔστι. Τί δ΄ ἄν μιν καὶ χρέος ὦρσεν 
[10] ὕστερον ἢ πρόσθεν, τοῦ μηδενὸς ἀρξάμενον, φῦν ; 
οὕτως ἢ πάμπαν πελέναι χρεών ἐστιν ἢ οὐχί. 
Οὐδὲ ποτ΄ ἐκ μὴ ἐόντος ἐφήσει πίστιος ἰσχύς 
γίγνεσθαί τι παρ΄ αὐτό· τοῦ εἵνεκεν οὔτε γενέσθαι 
οὔτ΄ ὄλλυσθαι ἀνῆκε Δίκη χαλάσασα πέδῃσιν, 
[15] ἀλλ΄ ἔχει· ἡ δὲ κρίσις τούτων ἐν τῷδ΄ ἔστιν· 
ἔστιν ἢ οὐκ ἔστιν· κέκριται δ΄ οὖν, ὥσπερ ἀνάγκη, 
τὴν μὲν ἐᾶν ἀνόητον ἀνώνυμον - οὐ γὰρ ἀληθής 
ἔστιν ὁδός - τὴν δ΄ ὥστε πέλειν καὶ ἐτήτυμον εἶναι. 
Πῶς δ΄ ἂν ἔπειτα πέλοιτὸ ἐόν ; πῶς δ΄ ἄν κε γένοιτο ; 
[20] εἰ γὰρ ἔγεντ΄, οὐκ ἔστι, οὐδ΄ εἴ ποτε μέλλει ἔσεσθαι. 
Τὼς γένεσις μὲν ἀπέσϐεσται καὶ ἄπυστος ὄλεθρος. 
Οὐδὲ διαιρετόν ἐστιν, ἐπεὶ πᾶν ἐστιν ὁμοῖον· 
οὐδέ τι τῇ μᾶλλον, τό κεν εἴργοι μιν συνέχεσθαι, 
οὐδέ τι χειρότερον, πᾶν δ΄ ἔμπλεόν ἐστιν ἐόντος. 
[25] Τῷ ξυνεχὲς πᾶν ἐστιν· ἐὸν γὰρ ἐόντι πελάζει. 
Αὐτὰρ ἀκίνητον μεγάλων ἐν πείρασι δεσμῶν 
ἔστιν ἄναρχον ἄπαυστον, ἐπεὶ γένεσις καὶ ὄλεθρος 
τῆλε μάλ΄ ἐπλάχθησαν, ἀπῶσε δὲ πίστις ἀληθής. 
Ταὐτόν τ΄ ἐν ταὐτῷ τε μένον καθ΄ ἑαυτό τε κεῖται 
[30] χοὔτως ἔμπεδον αὖθι μένει· κρατερὴ γὰρ Ἀνάγκη 
πείρατος ἐν δεσμοῖσιν ἔχει, τό μιν ἀμφὶς ἐέργει, 
οὕνεκεν οὐκ ἀτελεύτητον τὸ ἐὸν θέμις εἶναι· 
ἔστι γὰρ οὐκ ἐπιδεές· μὴ ἐὸν δ΄ ἂν παντὸς ἐδεῖτο. 
 
B8 
 
Só falta agora falar do caminho 
que é. Sobre esse são muitos os sinais 
de que o ser é ingénito e indestrutível, 
pois é compacto, inabalável e sem fim; 
(5) não foi nem será, pois é agora um todo homogêneo, 
uno, contínuo. Com efeito, que origem lhe investigarias? 
como e onde se acrescentaria? Nem do não-ser te deixarei 
falar, nem pensar: pois não é dizível, nem pensável, 
visto que não é. E que necessidade o impeliria 
(10) a nascer, depois ou antes, começando do nada? 
E assim, é necessário que seja de todo, ou não. 
Nem a força da confiança consentirá que do que não é 
nasça algo ao pé dele. Por isso nem nascer, 
nem perecer, permite a Justiça, afrouxando as cadeias, 
(15) mas sustém-nas: esta é a decisão acerca disso – 
é ou não é –; decidido está então, como necessidade, 
deixar uma das vias como impensável e inexprimível (pois não é 
via verdadeira), enquanto a outra é autêntica. 
Como poderia o que é perecer? Como poderia gerar-se? 
(20) Pois, se era, não é, nem poderia vir a ser. 
E assim a gênese se extingue e da destruição se não fala. 
Nem é divisível, visto ser todo homogêneo, 
nem num lado é mais, que o impeça de ser contínuo, 
nem noutro menos, mas é todo cheio do que é 
(25) e por isso todo contínuo, pois o que é é com o que é. 
Além disso, é imóvel nas cadeias dos potentes laços, 
sem princípio nem fim, pois gênese e destruição 
foram afastadas para longe, repelidas pela confiança verdadeira. 
O mesmo em si mesmo permanece e por si mesmo repousa, 
(30) e assim firme em si fica. Pois a potente Necessidade 
o tem nos limites dos laços que de todo o lado o cercam. 
Portanto, não é justo que o que é seja incompleto: 
pois não é carente; ao que [não] é, contudo, tudo lhe falta. 
Ταὐτὸν δ΄ ἐστὶ νοεῖν τε καὶ οὕνεκεν ἔστι νόημα. 
 
[35] Οὐ γὰρ ἄνευ τοῦ ἐόντος, ἐν ᾧ πεφατισμένον ἐστίν, 
εὑρήσεις τὸ νοεῖν· οὐδ΄ ἦν γὰρ <ἢ> ἔστιν ἢ ἔσται 
ἄλλο πάρεξ τοῦ ἐόντος, ἐπεὶ τό γε Μοῖρ΄ ἐπέδησεν 
οὖλον ἀκίνητόν τ΄ ἔμεναι· τῷ πάντ΄ ὄνομ΄ ἔσται, 
ὅσσα βροτοὶ κατέθεντο πεποιθότες εἶναι ἀληθῆ, 
[40] γίγνεσθαί τε καὶ ὄλλυσθαι, εἶναί τε καὶοὐχί, 
καὶ τόπον ἀλλάσσειν διά τε χρόα φανὸν ἀμείϐειν. 
Αὐτὰρ ἐπεὶ πεῖρας πύματον, τετελεσμένον ἐστί 
πάντοθεν, εὐκύκλου σφαίρης ἐναλίγκιον ὄγκῳ, 
μεσσόθεν ἰσοπαλὲς πάντῃ· τὸ γὰρ οὔτε τι μεῖζον 
[45] οὔτε τι βαιότερον πελέναι χρεόν ἐστι τῇ ἢ τῇ. 
Οὔτε γὰρ οὐκ ἐὸν ἔστι, τό κεν παύοι μιν ἱκνεῖσθαι 
εἰς ὁμόν, οὔτ΄ ἐὸν ἔστιν ὅπως εἴη κεν ἐόντος 
τῇ μᾶλλον τῇ δ΄ ἧσσον, ἐπεὶ πᾶν ἐστιν ἄσυλον· 
οἷ γὰρ πάντοθεν ἶσον, ὁμῶς ἐν πείρασι κύρει. 
[50] Ἐν τῷ σοι παύω πιστὸν λόγον ἠδὲ νόημα 
ἀμφὶς ἀληθείης· δόξας δ΄ ἀπὸ τοῦδε βροτείας 
μάνθανε κόσμον ἐμῶν ἐπέων ἀπατηλὸν ἀκούων. 
Μορφὰς γὰρ κατέθεντο δύο γνώμας ὀνομάζειν· 
τῶν μίαν οὐ χρεών ἐστιν - ἐν ᾧ πεπλανημένοι εἰσίν -· 
[55] τἀντία δ΄ ἐκρίναντο δέμας καὶ σήματ΄ ἔθεντο 
χωρὶς ἀπ΄ ἀλλήλων, τῇ μὲν φλογὸς αἰθέριον πῦρ, 
ἤπιον ὄν, μέγ΄ ἐλαφρόν, ἑωυτῷ πάντοσε τωὐτόν, 
τῷ δ΄ ἑτέρῳ μὴ τωὐτόν· ἀτὰρ κἀκεῖνο κατ΄ αὐτό 
τἀντία νύκτ΄ ἀδαῆ, πυκινὸν δέμας ἐμϐριθές τε. 
[60] Τόν σοι ἐγὼ διάκοσμον ἐοικότα πάντα φατίζω, 
ὡς οὐ μή ποτέ τίς σε βροτῶν γνώμη παρελάσσῃ. 
 
IX 
Αὐτὰρ ἐπειδὴ πάντα φάος καὶ νὺξ ὀνόμασται 
καὶ τὰ κατὰ σφετέρας δυνάμεις ἐπὶ τοῖσί τε καὶ τοῖς, 
πᾶν πλέον ἐστὶν ὁμοῦ φάεος καὶ νυκτὸς ἀφάντου 
ἴσων ἀμφοτέρων, ἐπεὶ οὐδετέρῳ μέτα μηδέν. 
 
O mesmo é o que há para pensar e aquilo por causa de que há 
pensamento. 
(35) Pois, sem o que é – ao qual está prometido –, 
não acharás o pensar. Pois não é e não será 
outra coisa além do que é, visto o Destino o ter amarrado 
para ser inteiro e imóvel. Acerca dele são todos os nomes 
que os mortais instituíram, confiantes de que eram reais: 
(40) "gerar-se" e "destruir-se", "ser e não ser", 
"mudar de lugar" e "mudar a cor brilhante". 
Visto que tem um limite extremo, é completo 
por todos os lados, semelhante à massa de uma esfera bem 
rotunda, em equilíbrio do centro a toda a parte; pois, nem maior, 
(45) nem menor, aqui ou ali, é forçoso que seja. 
Pois nem é o que não é, que o impeça de chegar 
até ao mesmo, nem é possível que o que é seja 
maior aqui, menor ali, visto ser todo inviolável: 
pois é igual por todo o lado, e fica igualmente nos limites. 
(50) Nisto cesso o discurso fiável e o pensamento 
em torno da verdade; depois disso as humanas opiniões 
aprende, escutando a ordem enganadora das minhas palavras. 
E estabeleceram duas formas, que nomearam, 
das quais uma não deviam nomear – e nisso erraram –, 
(55) e separaram os contrários como corpos e postaram sinais, 
separados uns dos outros: aqui a chama do fogo etéreo, 
branda, muito leve, em tudo a mesma consigo, 
mas não a mesma com a outra; e a outra também em si 
contrária, a noite sem luz, espessa e pesada. 
(60) Esta ordem cósmica eu ta declaro toda plausível, 
de modo a que nenhum saber dos mortais te possa transviar. 
 
B9 
Mas, uma vez que tudo é chamado luz ou noite 
e o conforme a estas potências é dado a isto e àquilo, 
tudo é igualmente cheio de luz e de noite obscura, 
ambas iguais, visto cada uma delas ser como nada.
X 
 
Εἴσῃ δ΄ αἰθερίαν τε φύσιν τά τ΄ ἐν αἰθέρι πάντα 
σήματα καὶ καθαρᾶς εὐαγέος ἠελίοιο 
λαμπάδος ἔργ΄ ἀίδηλα καὶ ὁππόθεν ἐξεγένοντο, 
ἔργα τε κύκλωπος πεύσῃ περίφοιτα σελήνης 
[5] καὶ φύσιν, εἰδήσεις δὲ καὶ οὐρανὸν ἀμφὶς ἔχοντα 
ἔνθεν ἔφυ τε καὶ ὥς μιν ἄγουσ΄ ἐπέδησεν Ἀνάγκη 
πείρατ΄ ἔχειν ἄστρων. 
 
XI 
 
πῶς γαῖα καὶ ἥλιος ἠδὲ σελήνη 
αἰθήρ τε ξυνὸς γάλα τ΄ οὐράνιον καὶ ὄλυμπος 
ἔσχατος ἠδ΄ ἄστρων θερμὸν μένος ὡρμήθησαν 
γίγνεσθαι. 
 
XII 
 
Αἱ γὰρ στεινότεραι πλῆντο πυρὸς ἀκρήτοιο, 
αἱ δ΄ ἐπὶ ταῖς νυκτός, μετὰ δὲ φλογὸς ἵεται αἶσα· 
ἐν δὲ μέσῳ τούτων δαίμων ἣ πάντα κυϐερνᾷ· 
πάντα γὰρ <ἣ> στυγεροῖο τόκου καὶ μίξιος ἄρχει 
[5] πέμπουσ΄ ἄρσενι θῆλυ μιγῆν τό τ΄ ἐναντίον αὖτις 
ἄρσεν θηλυτέρῳ. 
 
XIII 
 
Πρώτιστον μὲν Ἔρωτα θεῶν μητίσατο πάντων… 
 
XIV 
 
Νυκτιφαὲς περὶ γαῖαν ἀλώμενον ἀλλότριον φῶς… 
 
 
 
B10 
 
E conhecerás a natureza do éter e no éter de todos os 
sinais e dos raios da pura lâmpada do sol 
as obras destruidoras, e de onde nascem, 
e conhecerás as obras que rodam em torno da lua de olho redondo 
e a sua natureza, e saberás do céu que os tem à volta, 
e de onde nasce, e como guiando-o a Necessidade o obriga 
a conter os limites dos astros. 
 
B11 
 
... como a terra e o sol e a lua 
e o éter que a tudo é comum e a Via Láctea e o Olimpo 
extremo e o calor ardente dos astros forçados a nascer. 
 
 
B12 
 
Pois as coroas mais estreitas enchem-se de fogo sem mistura 
E as que vêm à noite depois destas, mas com elas lança-se uma parte de 
 [chama. 
No meio delas está a divindade que tudo governa; 
Pois em tudo comanda o parto doloroso e a mistura, 
Impelindo a fêmea a unir-se ao macho, e ao contrário o macho à fêmea. 
 
B13 
 
Primeiro que todos os deuses, concebeu Eros. 
 
B14 
 
Facho noturno, em torno à terra, alumiado a uma alheia luz
XV 
αἰεὶ παπταίνουσα πρὸς αὐγὰς ἠελίοιο. 
XVa 
ὑδατόριζον εἶπειν τὴν γῆν 
XVI 
Ὡς γὰρ ἕκαστος ἔχει κρᾶσιν μελέων πολυπλάγκτων, 
τὼς νόος ἀνθρώποισι παρίσταται· τὸ γὰρ αὐτό 
ἔστιν ὅπερ φρονέει μελέων φύσις ἀνθρώποισιν 
καὶ πᾶσιν καὶ παντί· τὸ γὰρ πλέον ἐστὶ νόημα. 
XVII 
δεξιτεροῖσιν μὲν κούρους, λαιοῖσι δὲ κούρας… 
XVIII 
Femina virque simul Veneris cum germina miscent, 
Venis informans diverso ex sanguine virtus 
Temperiem servans bene condita corpora fingit. 
Nam si virtutes permixto semine pugnent 
Nec faciant unam permixto in corpore, dirae 
Nascentem gemino vexabunt semine sexum. 
XIX 
Οὕτω τοι κατὰ δόξαν ἔφυ τάδε καί νυν ἔασι 
καὶ μετέπειτ΄ ἀπὸ τοῦδε πελευτήσουσι τραφέντα· 
τοῖς δ΄ ὄνομ΄ ἄνθρωποι κατέθεντ΄ ἐπίσημον ἑκάστῳ. 
B15 
Sempre à espreita dos raios do sol. 
B15a 
Parmênides no poema diz que “a terra tem raízes na água”. 
B16 
Pois, tal como cada um tem mistura nos membros errantes, 
assim aos homens chega o pensamento; pois o mesmo 
é o que nos homens pensa, a natureza dos membros, 
em cada um e em todos; pois o mais [o pleno] é o pensamento. 
B17 
À direita os machos, à esquerda as fêmeas. 
B18 
Quando a mulher e o homem juntos misturam as sementes de Vênus, 
a força que se forma nas veias a partir de sangues diversos, 
mantendo em equilíbrio, gera corpos bem formados. 
se, contudo, misturados os sêmens, as forças se opõem, 
e não fazem unidade, misturados no corpo, cruéis, 
atormentam o sexo da criança com o duplo sêmen. 
B19 
Assim, segundo a opinião, as coisas nasceram e agora são 
e depois crescerão e hão de ter fim. 
a essas coisas puseram um nome que a cada uma distingue. 
UNIDADE 2 
O DEBATE SOBRE AS CATEGORIAS 
ONTOLÓGICAS
1Disciplinarum Scientia. Série: Ciências Humanas, v. 4, n. 1, p. 1-18, 2003
 SER ENQUANTO SER: ACERCA DA FILOSOFIA 
PRIMEIRA DE ARISTÓTELES¹
BEING WHILE BEING: ABOUT ARISTOTELE’S FIRST 
PHILOSOPHY
Juliano Dutra²
Carlota Maria Ibertis³
RESUMO
Neste trabalho, busca-se compreender o significado de “ser enquanto 
ser” da metafísica aristotélica. No presente texto, portanto, analisa-se a 
expressão “ser enquanto ser” e explicitam-se alguns dos elementos que 
permitem caracterizar o caminho feito por Aristóteles. Conclui-se que, ao 
buscar as características fundamentais para discorrer sobre a existência, 
Aristóteles utiliza o que comumente se chama de abstração: processo pelo 
qual alguns elementos (aqueles que se querem estudar) são retidos por meio 
de uma técnica própria, estando isso, por sua vez, expresso em enunciados 
que omitem os aspectos secundários em vista do fim pretendido. Assim, 
quando ele afirma que a metafísica estuda o “ser enquanto ser”, refere-se às 
coisas que existem enquanto existem; ele está se ocupando das características 
relevantes para dizer da existência das coisas.
Palavras-chave: Aristóteles, metafísica, ser enquanto ser, abstração.ABSTRACT
In this work the meaning of being while being from the Aristotelian 
metaphysics is intended to be understood. Thus, in the present text, the 
expression being while being is analyzed and some of the elements which 
allow characterizing the path traced by Aristotle are explained. It is concluded 
that, by seeking the fundamental characteristics to reason the existence out, 
Aristotle uses what is commonly called abstraction: the process by which 
some elements (those aimed to be studied) are retained by means of a unique 
technique which, in turn, is conveyed in statements that omit secondary 
aspects considering the intended purpose. Therefore, when he affirms that 
the metaphysics studies being while being, he refers to the things which 
exist while they exist; he is dealing with the relevant characteristics to tell 
of the existence of things.
Keywords: Aristotle, metaphysics, being while being, abstraction.
1 Trabalho Final de Graduação - TFG.
2 Acadêmico do Curso de Filosofia - UNIFRA.
3 Orientadora - UNIFRA.
2 Disciplinarum Scientia. Série: Ciências Humanas, v. 4, n. 1, p. 1-18, 2003
INTRODUÇÃO
No conjunto de todo o corpo aristotélico, destaca-se uma obra que, 
em virtude de sua compilação, séculos mais tarde, ficou conhecida como 
Metafísica. Aristóteles, entretanto, chama esta investigação de Filosofia 
Primeira. Uma leitura atenta dessa obra revela diferentes definições de 
metafísica ou de Filosofia Primeira, que aparecem no decorrer do texto.
Nas primeiras páginas da Metafísica, livro primeiro (A 980 a983a20), 
temos a definição de Filosofia Primeira como a ciência das causas e dos 
princípios supremos das coisas. Em seguida, no livro quarto (Γ 1, 1003 a 
21s), o Filósofo a define como a ciência do ser enquanto ser e dos atributos 
que lhe pertencem enquanto tal. Posteriormente, no livro décimo-segundo 
(Λ 1069 a 18), ele a define como ciência da substância. E ainda, nos livros 
sexto ((E 1, 1026 a 19) e décimo-primeiro (K 7, 1064 b 3), a investigação 
metafísica é definida como teologia.
Certamente, cada uma dessas definições e as possíveis relações e 
interdependências existentes entre elas são um campo vasto e fascinante 
de pesquisa. Entretanto, este estudo, seguindo os pressupostos da pesquisa 
bibliográfica, ocupar-se-á somente em analisar o significado da expressão 
“ser enquanto ser” que constitui o cerne da segunda definição de metafísica 
dada por Aristóteles.
Nosso trabalho, portanto, num primeiro momento, buscará explicitar 
alguns dos elementos em torno da expressão “ser enquanto ser”; após isso, 
apontará algumas noções que permitem dizer que o caminho feito por 
Aristóteles é o que, comumente, chama-se de abstração, iniciaremos com 
uma analogia com a filosofia aristotélica da matemática, apresentando, 
depois, as características de uma verdadeira abstração para, em seguida, 
analisar a expressão aristotélica “ser enquanto ser” (decompondo, 
primeiramente, os termos para, em seguida, discorrer sobre a expressão 
como um todo). No ponto central, compararemos os comentadores de 
Aristóteles, a saber: Lear, Barnes e Reale, para chegar numa interpretação 
plausível que, possivelmente, é coerente com as diferentes definições de 
metafísica. Ela não é, necessariamente, a melhor, estando, inclusive, aberta 
a novas interpretações.
A relevância da discussão que busca analisar os termos da expressão 
aristotélica “ser enquanto ser”, pretendendo compreendê-la como um todo, 
talvez resida no fato de que esta abordagem permite distinguir alguns dos 
elementos fundamentais da filosofia aristotélica: sua singularidade (como 
ciência do ser) e diferença (ponto de partida), se comparada a de Platão, 
por exemplo.
3Disciplinarum Scientia. Série: Ciências Humanas, v. 4, n. 1, p. 1-18, 2003
ACERCA DA EXPRESSÃO: SER ENQUANTO SER
Numa primeira aproximação ao texto aristotélico que trata da 
definição de metafísica como a ciência do ser surgem algumas dificuldades 
referentes a distintas traduções do texto grego. G. Reale, por exemplo, 
traduz a definição de metafísica como “ciência que considera o ser 
enquanto ser” (ARISTÓTELES, 2002b, p. 131); entretanto, usa também, 
no seu comentário à obra aristotélica, a expressão “realidade enquanto 
realidade” (ARISTÓTELES, 2002c, p. 151) para salientar o objetivo da 
investigação metafísica. Na tradução portuguesa, da Editora Globo (1969, 
p. 87), a metafísica é a ciência que estuda o ser como ser. Já Bittar traduz a 
metafísica como a “ciência que estuda o que é enquanto algo que é” (2003, 
p. 889). Na edição trilingüe (grego, latim e espanhol), Yebra, por sua vez, 
fala da metafísica como a “ciencia que contempla el Ente en cuanto ente” 
(ARISTÓTELES, 1990, p. 150) e Barnes traduz à língua inglesa a passagem 
da metafísica como ciência dos “beings qua being”, isto é, dos existentes 
enquanto existentes (1995, p. 69). 
Há, portanto, divergências quanto aos termos vernáculos correlativos 
ao texto grego. E a forma de traduzir acarreta conseqüências teóricas.
Os termos usados visam a realçar os aspectos, tidos pelo tradutor, como 
mais importantes. Neste trabalho, entretanto, mais particularmente, serão 
analisadas as traduções dos termos como “ser” (Reale, Lear) e como “ente” 
ou “existentes” (BARNES, 2001). Algumas traduções da fórmula, como 
se verá adiante, são mais ou menos abstratas. Uma análise deste caráter é 
importante porque o que está em jogo é a definição de Filosofia Primeira4. 
A pergunta que desafia é a de saber qual era a intenção real de Aristóteles 
ao delimitar o objeto da Filosofia Primeira como sendo a investigação que 
trata do “ser enquanto ser”. Dessas dificuldades emergem novos problemas, 
a saber: quais sãos os reais significados dos termos da expressão? O que 
significa o primeiro “ser” da fórmula? E o segundo? E ainda, qual o papel 
do termo “enquanto” no contexto da definição? Uma resposta inicial poderia 
considerar o primeiro “ser” da expressão como equivalente às diversas 
acepções que o ser aristotélico comporta (ser como acidente, ser como ato 
e potência, ser como verdadeiro e não-ser como falso e, ainda, ser como 
substância); assim, o “enquanto ser” especificaria o sentido mais importante 
do “ser”: o ser como substância. 
4 Aristóteles chama “Filosofia Primeira” (ou sapiência) para denominar a investigação que hoje 
comumente se chama de “metafísica”. Entretanto, o termo “metafísica” foi cunhado a partir da 
compilação das obras do Estagirita atribuída a Andrônico de Rodes (séc. I a.C.) e que se encontra 
também em Nicolau de Damaso, seu contemporâneo. Ela seria, assim, o que vem depois (meta) 
do estudo da natureza (física). Lear (1994, p. 280, nota 63) não crê que o significado do termo 
“metafísica” seja tão simples assim e, se o for, segundo ele, isso expressa o fato de que o compilador 
foi profundo conhecedor da investigação aristotélica e tinha razões para assim dispor as obras. A 
tradução portuguesa, feita por MORA (2001a, p. 1943-1944), do termo “metafísica” é tá meta tá 
physicá (“os que estão atrás da física” ou, mais exatamente, “as coisas que estão atrás das coisas 
físicas”).
4 Disciplinarum Scientia. Série: Ciências Humanas, v. 4, n. 1, p. 1-18, 2003
Entretanto, um raciocínio semelhante, de modo inverso, também 
poderia ser feito. O primeiro “ser” poderia corresponder ao ser-substância 
e o “enquanto ser” denotaria, então, as acepções mencionadas do ser de 
Aristóteles. Na primeira resposta, professar-se-á um “afunilamento” do mais 
abrangente ao mais específico e, na segunda, será o contrário. As respostas, 
entretanto, demonstram certa instabilidade visto não haver critérios seguros, 
numa primeira aproximação, para optar por uma posição em detrimento à 
outra. Essa instabilidade pode ser compreendida no sentido de que, ao tentar 
delimitar o objeto de estudo da referida ciência, já estejam pressupostos os 
conceitos que vão serdesenvolvidos por essa mesma investigação. Assim, 
é razoável a tentativa de resolução da questão que segue.
Uma outra resposta a essa problemática poderia afirmar que o 
primeiro “ser” da fórmula se refere a todas as coisas existentes e o “enquanto 
ser” demonstra o modo como essas coisas são estudadas, ou seja, apenas 
enquanto existentes. Nesta investigação, buscar-se-ão elementos relevantes 
à existência enquanto tal, o que, em última análise, é abordar o tema da 
substância5. 
DELIMITANDO O OBJETO DE ESTUDO: UMA ANALOGIA 
COM A MATEMÁTICA
O itinerário feito por Lear, para compreender melhor o significado da 
expressão que define a Filosofia Primeira de Aristóteles, começa a partir de 
elementos da filosofia aristotélica da matemática. O objetivo de Aristóteles 
é investigar a ampla estrutura da realidade e, assim procedendo, ele teve que 
esclarecer o papel da matemática nessa investigação. A tese de Platão era 
que os objetos matemáticos existiam em um mundo separado. Existiam os 
objetos matemáticos ideais – que sendo formas e números puros – existiam 
separadamente do mundo físico, do mundo das sombras.
Afastando-se de seu mestre, Aristóteles argumenta que não há um 
mundo separado no qual os objetos matemáticos existem. “A matemática 
[...] ocupa-se diretamente dos objetos mutáveis do mundo natural [...] O 
matemático não difere do físico, diz Aristóteles, nos objetos que estuda, 
senão no modo em que os estuda” (LEAR, 1994, p. 262)6. Ao proceder sua 
investigação, o matemático ocupar-se-ia do mundo em constante mudança, 
é, entretanto, no modo como “secciona” a natureza para estudá-la que difere 
do físico e, por conseqüência, do filósofo. Observando o mundo que muda, 
5 Uma das grandes tendências do filosofar grego “... se caracteriza por uma propensão inquisitiva 
própria do conhecimento científico, ou do “conhecer” em geral, que implica numa peculiar on-
tologia acompanhada de teoria do conhecimento. Ela é, nesse sentido, “epistéme”, uma perícia 
cognoscitiva racional aplicada a campos diversos” (SPINELLI, 1990, p. 43).
6 “La matemática [...] se ocupa directamente de los objetos cambiantes del mundo natural [...] El 
matemático no difiere del físico, dice Aristóteles, en los objetos que estudia, sino en el modo en 
que los estudia” (LEAR, 1994, p. 262).
5Disciplinarum Scientia. Série: Ciências Humanas, v. 4, n. 1, p. 1-18, 2003
ele busca os elementos matemáticos que são imutáveis. Esclarecendo as 
diferenças entre as investigações do matemático e do físico, Aristóteles 
afirma que se deve considerar
[...] em que difere o matemático do físico, uma 
vez que os corpos naturais possuem superfícies e 
volumes, linhas e pontos, coisas todas estas que caem 
dentro do campo de estudo do matemático [...] Destas 
coisas, pois, também trata o matemático, mas não 
enquanto cada um desses seres pode ser ou é término 
dos corpos naturais, e tampouco observa e considera 
seus acidentes de coisas de tal gênero determinado; 
portanto, estabelece nelas uma separação, já que as 
coisas que estão sujeitas a mudança são separáveis 
por meio do entendimento (ARISTÓTELES, 1964, 
p. 589)7.
A filosofia aristotélica da matemática salienta, portanto, que é nos 
corpos físicos que se encontram os temas matemáticos (superfícies, volumes, 
etc.) da geometria. A matemática então estudaria esses temas, porém, 
considerando-os apenas enquanto temas (no caso, superfícies, volumes, 
etc) e não como características de determinados corpos físicos. Os objetos 
particulares dos quais provém o estudo matemático não são considerados 
na investigação matemática. E mais, a matemática considera esses temas 
separadamente dos corpos físicos de que provém, mas essa separação não 
é de um modo platônico (existindo num mundo ideal, separado do físico). 
A separação é realizada somente no pensamento, na realidade, não há como 
separar os temas matemáticos dos corpos físicos de que são provenientes 
(cf. LEAR, 1994, p. 262-263). 
A filosofia aristotélica da matemática estudaria uma “fatia” da 
realidade e, isso equivaleria, no caso, às superfícies, volumes, etc.. A 
peculiaridade distintiva da abordagem física da abordagem matemática 
residiria no modo de proceder da investigação. O físico estuda a natureza e 
suas mudanças, já o matemático, para fins de estudo, supõe separado o que, 
na verdade, não está. Considera imutável o que se dá em seres mutáveis. 
A matemática estuda as superfícies, os volumes, etc., somente, 
enquanto superfícies ou volumes. Essa peculiaridade de abordagem e do 
objeto é o seu diferencial. Ross esclarece: 
7 [...] en qué difiere el matemático del físico, ya que los cuerpos naturales poseen superficies y vo-
lúmenes, líneas y puntos, cosas todas estas que caen dentro del campo de estudio del matemático 
[...] De estas cosas, pues, también trata el matemático, pero no en cuanto cada uno de estos seres 
puede ser o es término de los cuerpos naturales, y tampoco observa y considera sus accidentes de 
cosas de tal género determinado; por tanto, estableceen ellas una separación, ya que las cosas que 
están sometidas a cambio son separables por medio del entendimiento (ARISTÓTELES, 1964, p. 
589).
6 Disciplinarum Scientia. Série: Ciências Humanas, v. 4, n. 1, p. 1-18, 2003
Consideremos as coisas sensíveis simplesmente 
como possuindo limites de uma determinada forma, e 
estaremos considerando os objetos da Geometria. Mas 
é possível fazer ainda uma abstração de grau mais alto. 
Não somente se pode abstrair a “matéria sensível” das 
coisas sensíveis, mas também “a matéria inteligível”, 
isto é, a extensão, dos objetos geométricos, e chegar-
se-á então à essência da linha reta, do círculo, etc., isto 
é, ao princípio de acordo com o qual são construídos 
(1969, p. 6).
Para se chegar ao objeto da matemática, segundo Ross, é preciso 
proceder abstrativamente. E a abstração então, primeiramente, deixa de 
lado “a matéria sensível”, depois, “a matéria inteligível”; assim, o fim desse 
processo é a essência, no caso, dos entes matemáticos. Portanto, em vista do 
fim desejado, procede-se de tal forma que os elementos que não interessam 
são deixados de lado, não sendo, entretanto, negados.
ABSTRAÇÃO: O CAMINHO DA METAFÍSICA
O posterior procedimento analítico em torno da expressão, “ser 
enquanto ser”, pressupõe o aprofundamento de alguns dos elementos que 
compõem o caminho feito por Aristóteles para chegar ao objeto da metafísica. 
Esse procedimento é tradicionalmente de abstração. Para percorrer esse 
caminho, serão apresentados os critérios postos por Angelelli, colocando, em 
seguida, aqueles fornecidos por Allan para, por fim, esboçar uma possível 
relação entre ambos.
Quando se defronta com a natureza, isto é, as coisas existentes, o 
investigador metafísico se depara com a diversidade; o ponto de vista sob 
o qual ele considera as coisas é, precisamente, o das características da coisa 
que é relevante para sua existência, ou seja, estudá-la na sua condição 
existencial (BARNES, 2001, p. 46).
Num artigo, Abstracción y pseudo-abstracción en la historia de la 
lógica, Ignacio Angelelli estabelece quatro bases ou critérios para definir 
uma abstração como verdadeira, são eles: 1) ser uma abstração genuína, 
ou seja, uma operação intelectual que, na consideração das coisas, retém 
algo e deixa algo de lado; 2) ocultar, nos enunciados, aquilo que não lhe 
interessa na investigação, ou seja, o processo abstrativo é em nível lógico-
lingüístico; 3) ser um estudo empreendido, segundo um sistema ou uma 
técnica, e 4) também haver uma tentativa de elucidação da natureza da 
abstração (ANGELELLI, p. 1-3). A partir desses quatro elementos, poderia se 
distinguir, segundo Angelelli, entre uma abstração e uma pseudo-abstração. 
No seu estudo, Angelelli percorre a história da lógica (filosofia) para dizer 
7Disciplinarum Scientia. Série: Ciências Humanas,v. 4, n. 1, p. 1-18, 2003
que talvez tenha faltado a Aristóteles somente um estudo sobre a natureza 
da abstração.
Em relação às quatro pautas avaliativas, na tradição 
aristotélico-escolástica, que é mais ou menos como 
dizer abstração clássica (já que entre os aristotélico-
escolásticos, nestes temas, incluo, por exemplo 
Descartes, Locke, Berkeley), temos, 1) é óbvio, 
abstração em sentido genuíno (nada de pseudo-
abstrações, como no século XX), 2) clara consciência 
de que a abstração reflete-se em enunciados verdadeiros 
que repentinamente, sob a abstração, ficam em suspenso 
ou “ocultos” (“abstrahentium non est mendacium”: 
os que abstraem não mentem, isto é, não dizem que 
essa bela árvore não tem folhas verdes), 3) técnicas 
sistemáticas abstrativas (por exemplo a “reduplicação”, 
ou seja o uso de frases como “qua”, “enquanto”, que 
têm o efeito de filter out, como muito bem diz Lear, 
aos predicados de que se quer abstrair), mas, 4) não 
parece haver especial interesse em descrever a natureza 
do produto da abstração” (ANGELELLI, p. 4)8.
Todavia, a falta da quarta base não faz com que a técnica abstrativa 
aristotélica seja tida por pseudo-abstração. A esses elementos, postos por 
Angelelli, colocam-se aqueles que, na perspectiva de Allan, validam o 
procedimento aristotélico. Ele afirma:
Aristóteles fala de uma ciência verdadeiramente 
viva e disponível; esta ciência é contemplativa e não 
prática na sua intenção, mas contemplativa de uma 
forma que não exclui um processo intelectual, já que 
há que proceder-se a uma demonstração de atributos 
do Ser [...] O significado a atribuir a uma análise do 
“Ser enquanto Ser” é obviamente mais controverso. 
As palavras gregas implicadas não significariam 
naturalmente que o filósofo obtém por abstracção uma 
idéia geral de ‘entidade’, do modo como, de acordo 
com Locke, se formam as ideias gerais abstractas a 
partir de impressões sensoriais e faz desta abstracção 
o conteúdo de proposições. A ajuizar pelo próprio 
8 En relación a las cuatros pautas evaluativas, en la tradición aristotélico-escolástica, que es más o 
menos como decir abstracción clásica (ya que entre los aristotélicos-escolásticos, en estos temas, 
incluyo, por ejemplo Descartes, Locke, Berkeley), tenemos, 1) por supuesto, abstracción en sentido 
genuino (nada de pseudo-abstracciones, como en el siglo XX), 2) clara conciencia de que la abstrac-
ción se refleja en enunciados verdaderos que de pronto, bajo la abstracción, quedan en suspenso u 
“ocultados” (“abstrahentium non est mendacium”: los que abstraen no mienten, es decir, no dicen 
que ese hermoso árbol no tiene hojas verdes), 3) técnicas sistemáticas abstractivas (por ejemplo 
la “reduplicación”, o sea el uso de frases como “qua”, “en cuanto”, que tienen el efecto de filter 
out, como muy bien dice Lear, a los predicados de que se quiere abstraer) pero, 4) no parece haber 
especial interés en describir la naturaleza del producto de la abstracción” (ANGELELLI, p. 4).
8 Disciplinarum Scientia. Série: Ciências Humanas, v. 4, n. 1, p. 1-18, 2003
procedimento subsequente de Aristóteles, o que este 
último tinha em vista é, antes, uma visão global ou 
compreensiva de Ser – do que é substancial, mais que 
tudo o que lhe está indissoluvelmente ligado – na sua 
totalidade inquebrantável; cada uma das partes será 
concebida como um modo de ser e não doutra forma 
qualquer, por exemplo como algo que se move (este é 
o significado das palavras adicionais “enquanto Ser”) 
(ALLAN, 1983, p. 91 - grifo nosso).
Allan parece compreender “ser” do “enquanto ser” como um termo que 
designa o geral e, por isso, é o “Ser”, com maiúscula; também o compreende 
como uma noção de ser-substância. Haveria então espaço nesta noção 
“compreensiva de ser” para o processo abstrativo de que fala Angelelli? 
O que significa dizer que as “[...] técnicas sistemáticas abstrativas (por 
exemplo, a reduplicação, ou seja, o uso de frases como “qua”, “enquanto”, 
[...] têm o efeito de filter out, como muito bem disse Lear, dos predicados que 
se quer abstrair (ANGELELLI, p. 4)9 Ou então: pelo processo de abstração 
se filtra o que a metafísica investiga, a saber, a existência?
Convém esclarecer alguns pontos desse problema. As técnicas 
abstrativas de que fala Angelelli são como filtros, nos quais, o que não se 
necessita, numa determinada investigação, é deixado de lado, estando isso 
expresso em enunciados. Por outro lado, pelo processo abstrativo, à maneira 
de Locke, forma-se uma ‘entidade’ ou uma idéia geral abstrata, que será 
conteúdo das proposições e isso, na visão de Allan, não o faz Aristóteles na 
investigação do ser enquanto ser10.
Desse modo, se se considerar o aspecto de que, na investigação 
metafísica, não está tematizado o ser particular ou até mesmo as 
particularidades do ser, mas apenas o ser enquanto ser, ou seja, enquanto 
existente, essa seria então uma forma de abstração. Abstração porque, 
segundo Angelelli, 1) retrai algo (a existência) e prescinde de outros; 2) nos 
enunciados, ocultam-se o ser particular e as particularidades dos seres que 
existem e 3) há, por conseqüência, uma técnica abstrativa neste itinerário.
Assim, o produto da investigação não é uma ‘entidade’ ao modo 
lockiano, mas uma visão global do ser. A visão compreensiva de ser seria 
9 [...] técnicas sistemáticas abstractivas (por ejemplo la “reduplicación”, o sea el uso de frases como 
“qua”, “en cuanto”, [...] tienen el efecto de filter out, como muy bien dice Lear, a los predicados 
de que se quiere abstraer) (ANGELELLI, p. 4).
10 Há, portanto, perspectivas diferentes entre Angelelli e Allan. Angelelli está preocupado com as bases 
ou os critérios para falar de uma verdadeira abstração; e nessa avaliação, ele chega a considerar 
Aristóteles e Locke dentro da mesma tradição porque ambos, de alguma maneira, procedem 
abstrativamente, segundo os referidos critérios. Já Allan, como metafísico, preocupa-se com o 
conteúdo da abstração e aí, ele diferencia Locke de Aristóteles. Segundo Allan, o procedimento 
lockiano forma uma idéia geral de ‘entidade’. Para Locke, as idéias são conteúdos do pensamento, 
expresso em palavras, sendo 1) um modo de conceber a coisa e 2) objetos o pensamento que, por 
sua vez, são aspectos das coisas tais como capturadas; por outro lado, Aristóteles buscaria, segundo 
Allan, uma visão compreensiva ou global de ser, quando da abstração, não sendo, portanto, uma 
idéia de ‘entidade’
9Disciplinarum Scientia. Série: Ciências Humanas, v. 4, n. 1, p. 1-18, 2003
possibilitada pelo processo abstrativo que trataria de todo o ser; ‘todo o ser’ 
significa, entretanto, considerá-lo na existência enquanto tal, e não neste 
ou naquele existente (significaria dizer que, na investigação da realidade 
enquanto tal, o que é tratado de fato é a substância). Se, na concepção de 
Angelelli, a abstração estabelece uma abordagem caracterizada pela seleção 
de enunciados e não uma idéia geral de ‘entidade’ como o faz Locke, na 
visão de Allan, a interpretação deste processo de abstração é de “[...] que 
esta consiste em que, mediante uma força especial do entendimento, de algo 
particular em si estruturado polifaceticamente se tira algo através do qual 
esse ente particular recebe sua essência e sua inteligibilidade” (MALTER11, 
1977, p. 37)12.
Angelelli, portanto, pretende mostrar o caminho que uma tradição, 
da qual Aristóteles percorre parte, faz para ter uma genuína abstração. 
Allan, por sua vez, pretende sublinhar a intenção aristotélica de ter uma 
visão compreensiva de ser. Os dois estudam “o ser”. Não este ou aquele 
ser, entretanto, ambos fazem um caminho de acordo com o que pretendem 
tematizar em Aristóteles: um a dimensão gnoseológica, outro a metafísica. 
Os dois podem se complementar, à medida em que Allan não está preocupado 
com o caminho para chegar a uma “visão global”. Já Angelellitem a 
preocupação de descrever o caminho, mas não o seu resultado em nível 
metafísico. Allan então contribui para a investigação que aqui se faz, quando 
ratifica a pretensão aristotélica (descrita por Angelelli) de se ocupar do ser 
e não deste ou daquele ser em particular.
O processo abstrativo é, então, como um ‘filtro’ em que são retidos os 
elementos que se pretendem estudar ou analisar; essa retenção está evidente 
nos enunciados e há uma técnica para esse processo, como foi visto13. A 
partir, especialmente, das três características da abstração elencadas por 
Angelelli, que estão presentes em Aristóteles, pode-se agora estabelecer 
qual é o objeto da metafísica.
11 Malter distingue, percorrendo a história da filosofia, duas maneiras de interpretação do processo 
de abstração: o primeiro o já citado (Aristóteles e Tomás de Aquino) e, o segundo que, embora 
fazendo caminho inverso tem o mesmo ponto de partida e de chegada. Nesta segunda interpretação 
da abstração, destaca-se Kant que, segundo Malter, “[...] la define [a abstração] como um acto de 
negación, como um prescindir de las notas especiales de lo dado, a lo que se refiere el entendimiento 
que niega las notas especiales” (MALTER, 1977, p. 37). Porém, “En ambos os casos lo que se 
logra en la abstracción es algo general, y la abstracción es aquí según su función epistemológica el 
órgano de la formación de conceptos generales o de algo concreto” (MALTER, 1977, p. 37). Assim 
o ponto de partida é sempre uma realidade concreta e o ponto de chegada é sempre a elaboração 
de conceitos gerais, mesmo que, com técnicas diferentes. 
12 “[...] que ésta consiste en que, mediante una fuerza especial del entendimiento, de algo particular 
em si estructurado polifacéticamente se saca algo a través de lo cual esse ente particular recibe su 
esencia y su inteligibilidad” (MALTER, 1977, p. 37)..
13 Ao afirmar a existência lógica do Universal em referência à pluralidade do que vemos e expe-
renciamos Spinelli diz: “A ciência, para ele [Aristóteles], faz-se por amostra: na medida em que 
conhecemos uma determinada coisa (enunciamos ou dizemos que sabemos algo sobre ela), assim 
procedemos em referência a uma certa pluralidade” (1997, p. 348).
10 Disciplinarum Scientia. Série: Ciências Humanas, v. 4, n. 1, p. 1-18, 2003
SER ENQUANTO SER: O OBJETO DA METAFÍSICA
Para melhor compreender o procedimento de Aristóteles ao delimitar 
o objeto da metafísica, pode-se dizer que, ao tratar da filosofia aristotélica 
da matemática, buscava-se, além de diferenciar uma abordagem matemática 
da física, elencar algumas noções do que a expressão “enquanto” significa, 
quando usada pelo Filósofo. Naquele contexto, segundo Lear
Aristóteles serve-se do operador enquanto para prover 
uma ponte entre triângulos de bronze e triângulos 
geométricos [este é o exemplo usado para explicar 
essas noções]. Isso garante, para ele, a aplicabilidade 
da matemática: para que a matemática resulte aplicável 
ao mundo tem que reproduzir traços estruturais que se 
encontram (ao menos em algum grau aproximado) 
no mundo físico (LEAR, 1994, p. 278)14.
Na análise metafísica da realidade, objetivo deste estudo, o termo 
“enquanto” provê também de alguma maneira uma ponte entre as coisas 
existentes e a consideração da existência enquanto tal e, disso, resulta sua 
aplicabilidade na compreensão da ampla estrutura da realidade e também 
sua importância e primazia na referida compreensão.
Partindo do fato de que o investigador, pelo processo de abstração, 
“deixa de lado” certos aspectos da realidade para considerar outros em 
profundidade, por meio das três características básicas vistas anteriormente, 
pode-se dizer que:
mais do que se centrar unicamente nos aspectos 
concretos da realidade – por exemplo, os céus ou 
os organismos vivos, como fazem as ciências da 
astronomia e da biologia – o homem pode fazer também 
abstração de todas as propriedades concretas que fazem 
das coisas as coisas que são e considerá-las meramente 
como coisas existentes. O desejo de compreender 
impulsiona o homem desde as primeiras explorações 
de seu entorno imediato a uma busca de explicações de 
por que o mundo é como é, à compreensão, finalmente, 
de que o homem pode transcender a explicação deste 
14 Aristóteles se sirve del operador en cuanto para proveer de un puente entre triángulos de bronce 
y triángulos geométricos [este é o exemplo usado para explicar essas noções]. Esto asegura, para 
él, la aplicabilidad de la matemática: para que la matemática resulte aplicable al mundo tiene que 
reproducir rasgos estructurales que se hallan (al menos en algún grado aproximado) en el mundo 
físico (LEAR, 1994, p. 278).
11Disciplinarum Scientia. Série: Ciências Humanas, v. 4, n. 1, p. 1-18, 2003
ou aquele fenômeno e começar a investigar a ampla 
estrutura da realidade (LEAR, 1994, p. 279)15.
Disso, resultam dois aspectos importantes que convêm salientar: 
primeiro, há uma investigação que busca compreender o mundo imediato 
que se apresenta aos olhos humanos e, segundo, quando o homem transcende 
isso, ele passa a tratar da ampla estrutura da realidade: é esta a investigação 
metafísica. Na delimitação deste trabalho, a metafísica é definida como 
ciência do ser enquanto ser. O primeiro “ser” da expressão, nesse contexto, 
indicaria então o domínio de estudo: as coisas existentes e o “enquanto ser”, 
a peculiaridade do existir das coisas16, objeto da Filosofia Primeira, ou seja, 
a existência enquanto tal. Barnes, referindo-se a isso, afirma:
A expressão “o ser qua ser” traz em si um tom 
agradavelmente esotérico, e alguns estudiosos a 
transformaram em algo enigmático e absurdo. Na 
realidade, Aristóteles não se refere a nenhuma coisa 
enigmática nem estranha. “O ser qua ser” não é um 
tipo especial de ser; na verdade, não existe de modo 
algum um ser-qua-ser. Quando afirma que há uma 
ciência que estuda o ser qua ser, Aristóteles diz que 
há uma ciência que estuda os seres, e ela os estuda 
qua seres [existentes], isto é, uma ciência que estuda 
as coisas que existem (e não alguma coisa abstrata 
chamada “ser”) e as estuda qua existentes (BARNES, 
2001, p. 46).
A Filosofia Primeira estudaria os entes, portanto, os seres enquanto 
existem. Estuda os existentes enquanto existem. A investigação metafísica 
prescinde de elementos que não intervêm na compreensão da existência por 
si mesma. Compreender a existência, enquanto tal, mesmo sendo próprio 
de tudo que existe, é o objetivo da metafísica. A denominada investigação 
não considera a existência do homem chamado Pedro, por exemplo, mas 
a existência e na existência, estão incluídos os milhões de homens, os 
inumeráveis animais, as incontáveis espécies e variedades de plantas que 
existem. Desse modo,
15 Más que centrarse unicamente en aspectos concretos de la realidad – por ejemplo, los cielos o los 
organismo vivos, como hacen las ciencias de la astronomía e de la biología – el hombre puede hacer 
también abstracción de todas las propriedades concretas que hacen de las cosas las cosas que son y 
considerarlas meramente como cosas existentes. El deseo de comprender impulsa al hombre desde 
las primeras exploraciones de su entorno inmediato a una búsqueda de explicaciones de por qué el 
mundo es como es, a la comprensión, finalmente, de que el hombre puede trascender la explicación 
de este o aquél fenómeno y empezar a investigar la amplia estructura de la realidad (LEAR, 1994, 
p. 279).
16 Spinelli faz uma distinção entre “Ente” e “Ser” ao afirmar que “Ente” trata do existir ou da exis-
tência e o “Ser” dos modos de existir e de existência. Desse modo, Ente e Ser não são substâncias 
das coisas; tomados univocamente, expressam a existência em geral, mas sem acrescentar, todavia, 
nenhuma determinação predicativa ao que é ou existe enquanto tal (cf. 1997, p. 339).
12 Disciplinarum Scientia.Série: Ciências Humanas, v. 4, n. 1, p. 1-18, 2003
[...] estudar uma coisa qua existente é estudar 
precisamente as características da coisa que são 
relevantes para sua existência – e não nenhuma das 
muitas outras características da coisa –, ou seja, é 
estudá-la em sua condição existencial. Todo aquele 
que não estuda ficções estuda “seres”, coisas que 
existem; o estudioso do ser qua ser estuda precisamente 
os aspectos das coisas existentes que lhe pertencem 
em virtude do fato de existirem (BARNES, 2001, p. 
46-47).
No texto Metaphysics, Barnes afirma que o verbo inglês “to be” tem 
um significado próximo a existir. O primeiro termo da expressão, “beings”, 
seria um termo que trataria dos existentes e não especificaria a peculiaridade 
da investigação devendo, portanto, ser traduzido no plural (entes). Já o 
segundo termo “being” denota a maneira como os entes vão ser tratados, 
qual seja: enquanto existem. A tradução correta da expressão seria, então: 
“os entes enquanto (qua) ente”. O “qua being” não modifica o “beings”, mas 
refere-se ao modo como vão ser investigadas as entidades (beings); assim 
“[...] estudar “entes qua ente” simplesmente é estudar aqueles atributos que 
valem de entidades em virtude do fato de que elas são entidades” (BARNES, 
1995, p. 71)17. Então, se “entes qua ente” fosse formalizada em Fs qua G, 
Fs seria o domínio de estudo (todas as coisas que existem) e G, o foco de 
estudo específico da metafísica (as coisas que existem enquanto existentes) 
(BARNES, 1995, p. 69). 
A definição completa diz: “Existe uma ciência que considera 
o ser enquanto ser e as propriedades que lhe competem enquanto tal” 
(ARISTÓTELES, 2002b, p. 131 - grifo nosso). Na definição, a conjunção “e” 
salienta os atributos que, como tal, correspondem à investigação metafísica. 
Desse modo, tendo em conta a peculiaridade da abordagem metafísica que 
difere da efetuada pelo matemático ou pelo físico. Pode-se dizer que esta se 
ocupa da existência, mas não dos existentes no que eles têm de particular, 
ou seja, este ou aquele existente. Assim, esta investigação, nesse sentido, 
é sumamente geral. Para Barnes (1995, p. 69), o “e” da fórmula tem uma 
função específica, é um aposto (“ou seja”). Portanto, a expressão completa 
ficaria assim: “Existe uma ciência que considera o ser enquanto ser, ou seja, 
as propriedades que lhe competem enquanto tal”.
Outro estudioso da obra de Aristóteles, já citado que, recentemente, 
publicou um pormenorizado estudo da Metafísica é Giovanni Reale18. Reale 
se caracteriza por nuanças diversas das de Lear e Barnes (ARISTÓTELES, 
17 “To estudy beings qua being simply is to estudy those attributes which old of entities in virtue of 
the fact that they are entities” (BARNES, 1995, p. 71).
18 Em Aristóteles (2002), composta de 3 volumes; destaca-se o volume I “Ensaio introdutório” e o III 
“Sumário e comentários” em que o italiano defende sua posição.
13Disciplinarum Scientia. Série: Ciências Humanas, v. 4, n. 1, p. 1-18, 2003
2002c, p. 151-152; 2002a, p. 39-41). Ele enfatiza mais a totalidade da 
investigação metafísica no decorrer de sua interpretação. A metafísica não 
se ocupa de uma parte do ser, mas de todo o ser: “[...] a ciência do ser tem 
como objeto de investigação a realidade, não considerada enquanto esta 
ou aquela realidade particular, mas considerada em si mesma, justamente 
enquanto realidade: a realidade enquanto realidade ou o ser enquanto 
ser” (ARISTÓTELES, 2002c, p. 151). E Reale segue esclarecendo sua 
concepção:
As expressões “realidade enquanto realidade” ou “o 
ser enquanto ser” indicam – pelo menos num primeiro 
significado – a totalidade da realidade e do ser, 
em contraposição às “partes” ou aos “setores” dele; 
indicam não uma determinada parte da realidade ou 
um gênero de ser, mas toda a realidade e todo o ser. 
Todavia, com isso permanece ainda indeterminado o 
que significa, precisamente, estudar ou ter a ciência 
da realidade em sua totalidade, do ser enquanto ser. 
Pois bem, [...] Ciência é o conhecimento do porquê, 
das causas e dos princípios. Ciência do ser é, portanto, 
ciência do porquê, das causas e dos princípios do ser 
(ARISTÓTELES, 2002a, p. 40).
No entender de Reale há, pois, uma estreita conexão entre a ontologia 
(ciência do ser) e a aitologia (doutrina das causas e dos princípios). E o nexo 
é pelo fato de que
[...] justamente porque os princípios buscados pela 
“sophia” são primeiros e supremos, eles são princípios 
totalmente condicionantes e, portanto, capazes de 
explicar, não esta ou aquela (particular) realidade, mas 
a realidade no seu conjunto, isto é, toda a realidade, 
todo o ser ou, como diz Aristóteles, o ser enquanto ser 
(ARISTÓTELES, 2002c, p. 152).
A tese fundamental, defendida por Reale, é a de que a investigação 
metafísica fornece ao filósofo a compreensão de toda a realidade (e não 
“partes” dela). A partir desse pressuposto, ele argumenta a favor da conexão 
entre ontologia e aitologia para dizer que, embora sendo diferentes, essas 
concepções de metafísica fornecidas pela obra conservam sua unidade: a 
preocupação com um saber universal.
Por esses elementos, constatam-se algumas especificidades entre 
os diversos intérpretes dos textos aristotélicos. Há algumas divergências 
porque não é a mesma coisa dizer que a Filosofia Primeira estuda “toda a 
14 Disciplinarum Scientia. Série: Ciências Humanas, v. 4, n. 1, p. 1-18, 2003
realidade” e dizer que ela estuda “os entes enquanto existem”. Entretanto, 
é lícito dizer da Filosofia Primeira que seu objeto de estudo abrange todas 
as coisas e todas as coisas existentes (não abrange especificamente uma); 
é também uma investigação que abstrai da realidade aqueles aspectos que 
lhe importam na investigação, mas que têm como ponto de partida a própria 
realidade: Aristóteles assim procede porque seu objetivo é compreender 
a ampla estrutura da realidade. E é, pois, nesse contexto que a Filosofia 
Primeira ocupa lugar importante em toda a obra do Filósofo: ela possibilita 
uma compreensão de unidade na diversidade ou identidade na multiplicidade 
visível que é a natureza. Na análise dos comentadores, pois, uma coisa é 
clara: a expressão “ser enquanto ser” não se refere a algo distinto, ou separado 
da realidade, como a teoria platônica; é, entretanto, estrutura da realidade, é 
a realidade apenas considerada de um modo especial (metafísico), diferente 
das demais ciências.
O caminho feito por cada comentador apresenta particularidades 
e “olha” a obra aristotélica a partir de um ponto. Não necessariamente 
melhor ou pior, mas um ponto. A própria organização dos conteúdos deixa 
transparecer tal posição. Em sua obra, Lear pretende defender a tese de que 
há um fio condutor na obra aristotélica; e esse fio condutor é o desejo de 
compreender, comum a todos os homens, que é a parte de abertura da obra 
Metafísica. Sua preocupação é especificar o modo de abordagem, próprio 
da Filosofia Primeira e de cada ciência particular; assim a análise do ser, 
enquanto tal, está centrada, particularmente, no termo “enquanto” porque 
esse diz do modo de abordagem singular, próprio da Filosofia Primeira. 
O termo “enquanto” é o filtro que acena para o modo como investigar os 
existentes, qual seja: na existência. Esse filtro é o que, comumente, se chama 
de abstração. Abstração é um modo de abordagem da realidade que, em 
nome de um objetivo, alguns aspectos desse algo que se quer estudar são 
‘retidos’ e, por conseqüência, os demais são deixados de lado, não, porém, 
negados. A partir desse ponto, ele chega a considerar a metafísica como 
a mais universal das ciências por abordar a ampla estrutura da realidade. 
Barnes (2001), por sua vez, no capítulo 6 da obra “Aristóteles”, 
situa o estudo do ser enquanto tal dentro da ciência teórica19 que estudaria 
as causas e os princípios das coisas. Procede, posteriormente,

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