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MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO FUNDAÇÃO UNIVERSIDADE FEDERAL DA GRANDE DOURADOS FACULDADE DE CIÊNCIAS EXATAS E TECNOLOGIA QUÍMICA FÍSICO-QUÍMICA III CORROSÃO DISCENTE Sara Dos S. Felix Vieira PROFESSOR RESPONSÁVEL Prof. Dr. Ivan Ramires Dourados – MS. Outubro/2019 1 Pode-se definir corrosão como a deterioração de um material, geralmente metálico, por ação química ou eletroquímica do meio ambiente associada ou não a esforços mecânicos. A deterioração causada pela interação físico-química entre o material e o seu meio operacional representa alterações prejudiciais indesejáveis, sofridas pelo material, tais como desgaste, variações químicas ou modificações estruturais, tornando-o inadequado para o uso. A deterioração de materiais não metálicos, como, por exemplo, concreto, borracha, polímeros e madeira, devida à ação química do meio ambiente, é considerada também, por alguns autores, como corrosão. Assim, a deterioração do cimento portland, empregado em concreto, por ação de sulfato, é considerada um caso de corrosão do concreto; a perda de elasticidade da borracha, devida à oxidação por ozônio, pode também ser considerada como corrosão; a madeira exposta à solução de ácidos e sais ácidos perde sua resistência devido à hidrólise da celulose, e admite-se este fato como corrosão da madeira. Sendo a corrosão, em geral, um processo espontâneo, está constantemente transformando os materiais metálicos de modo que a durabilidade e desempenho dos mesmos deixam de satisfazer os fins a que se destinam. Em alguns casos, pode-se admitir a corrosão como o inverso do processo siderúrgico, cujo objetivo principal é a extração do metal a partir de seus minérios ou de outros compostos, ao passo que a corrosão tende a oxidar o metal. Assim, muitas vezes o produto da corrosão de um metal é bem semelhante ao minério do qual é originalmente extraído. O óxido de ferro mais comumente encontrado na natureza é a hematita, Fe2O3, e a ferrugem é o Fe2O3 hidratado, Fe2O3·nH2O, isto é, o metal tendendo a retornar a sua condição de estabilidade. Os problemas de corrosão são frequentes e ocorrem nas mais variadas atividades, como por exemplo nas indústrias química, petrolífera, petroquímica, naval, de construção civil, automobilística, nos meios de transportes aéreo, ferroviário, metroviário, marítimo, rodoviário e nos meios de comunicação, como sistemas de telecomunicações, na odontologia (restaurações metálicas, aparelhos de prótese), na medicina (ortopedia) e em obras de arte como monumentos e esculturas. Com o avanço tecnológico mundialmente alcançado, os custos da corrosão evidentemente se elevam, tornando-se um fator de grande importância a ser 2 considerado já na fase de projeto de grandes instalações industriais para evitar ou minimizar futuros processos corrosivos. Outro aspecto da importância da corrosão relaciona-se com a conservação das reservas de minérios. Tendo em vista a permanente destruição dos materiais metálicos pela corrosão, há necessidade de uma produção adicional desses materiais para repor o que foi deteriorado, e esta parcela é muito significativa. A literatura mais antiga reporta que 25% da produção mundial do aço têm esta finalidade. Uma importante consideração que não pode deixar de ser feita refere-se ao aspecto energético. Sabe-se que a obtenção de um metal se faz à custa de uma certa quantidade de energia, a qual é cedida por intermédio dos processos metalúrgicos. Como exemplos característicos desse consumo energético, podem ser citados: ➢ Redução térmica de minério de ferro, que exige consumo de carbono, sob a forma de carvão, e de combustível para se alcançar a temperatura de redução de cerca de 1.600°C Fe2O3 + 3C → 2Fe + 3CO Fe2O3 + 3CO → 2Fe + 3CO2 ➢ Redução eletrolítica de alumina, Al2O3, para obtenção de alumínio usando-se a criolita, fluoreto de alumínio e sódio, Na3AlF6, como eletrólito e fundente: Al2O3 𝑬𝒍𝒆𝒕ó𝒍𝒊𝒔𝒆 𝟏𝟎𝟎𝟎 °𝑪 2Al + 3/2 O2 A energia requerida para a transformação que conduz ao metal é tão elevada que, em linguagem figurada, se diz que alumínio é eletricidade sob forma de metal. A corrosão, além dos problemas associados com deterioração ou destruição de materiais, apresenta, sob determinado ponto de vista, não só esse lado negativo, mas também um lado positivo. Assim, podem-se citar como casos benéficos de corrosão de grande importância industrial: 1. Oxidação de aços inoxidáveis e de titânio, com formação das películas protetoras de óxidos de cromo, Cr2O3, e titânio; TiO2. 2. Alumínio anodizado, que consiste na oxidação de peças de alumínio, colocadas no anodo de cuba eletrolítica: ocorre a formação de óxido de alumínio, Al2O3, protetor, e confere bom aspecto decorativo à peça; 3 3. Fosfatização de superfícies metálicas para permitir melhor aderência de tintas: tratamento com solução contendo ácido fosfórico e íons de zinco formando película, constituída de cristais de fosfato de zinco e ferro, sobre a superfície metálica, possibilitando aderência adequada da película de tinta posteriormente aplicada. A fosfatização é etapa fundamental no processo de pintura nas indústrias automobilísticas e de eletrodomésticos para permitir boa aderência das tintas; 4. Proteção catódica com anodos de sacrifício ou galvânicos para proteção de aço-carbono usado em instalações submersas ou enterradas: formação de pilha galvânica na qual o catodo é o material a ser protegido, no caso o aço- carbono, e o anodo, material a ser corroído, pode ser zinco, alumínio ou magnésio. Observa-se que em troca da corrosão desses metais tem-se a proteção, por exemplo, de tubulações, tanques de armazenamento e trocadores de calor; 5. Aspecto decorativo de monumentos e esculturas de bronze: corrosão superficial com formação de pátinas constituídas, geralmente, de óxidos, sulfetos e sais básicos como carbonato, cloreto e sulfato básico de cobre que são insolúveis. Esses compostos conferem aos monumentos e/ou esculturas colorações características: escurecimento (óxidos, sulfetos), esverdeado (sais básicos). O fato de a corrosão ser, geralmente, uma reação de superfície faz supor que ela possa ser controlada pelas propriedades do produto de corrosão. O composto metálico formado pode agir como uma barreira entre o meio corrosivo e o metal, diminuindo, assim, a velocidade de corrosão do metal. Esse fato é frequentemente observado na reação entre metais e meios gasosos. Quando o produto de corrosão puder ser removido, a velocidade de corrosão não deverá sofrer diminuição com o tempo. Esse caso ocorre quando se formam produtos de corrosão solúveis ou quando os produtos de corrosão são formados em locais que se situam entre as áreas que sofreram e as que não sofreram a ação do meio corrosivo. Todos os metais estão sujeitos ao ataque corrosivo, se o meio for suficientemente agressivo. Assim: 4 ✓ O ouro e a platina são praticamente inatacáveis nos meios comuns, mas não são resistentes, por exemplo, à ação da mistura de ácido clorídrico e ácido nítrico que constitui a água-régia; ✓ Aço inoxidável embora sendo bastante resistente a vários meios corrosivos, sofre corrosão localizadaem presença do íon cloreto; ✓ O alumínio, embora possa resistir aos ácidos oxidantes como o nítrico, não resiste ao ácido clorídrico e às soluções aquosas de bases fortes como, por exemplo, hidróxido de sódio; ✓ O alumínio é rapidamente corroído em presença de mercúrio ou sais de mercúrio; ✓ O cobre e suas ligas sofrem corrosão acentuada em presença de soluções amoniacais e em ácido nítrico; ✓ O titânio sofre corrosão em ácido fluorídrico, embora seja resistente a outros meios ácidos. Na corrosão são envolvidos processos que envolvem a eletroquímica, ou seja, oxidação-redução, potencial de eletrodo e pilhas eletroquímicas. Em uma reação de oxirredução, observa-se que: o elemento oxidado perde elétrons, age como redutor e o elemento reduzido ganha elétrons, age como oxidante. De um modo mais amplo, pode-se dizer que: agente redutor é a substância ou o íon que contém o elemento redutor e o agente oxidante é a substância ou o íon que contém o elemento oxidante. A Tabela 2.1 apresenta alguns dos agentes oxidantes e redutores e suas equações iônicas de redução e oxidação, respectivamente. Esta tabela permite, com facilidade, a apresentação da equação de um processo de oxirredução envolvendo elétrons combinando-se equações iônicas de oxidação e redução. É uma tabela bastante útil quando se deseja escrever as equações das reações de alguns processos corrosivos. 5 Inibidor é uma substância ou mistura de substâncias que, quando presente em concentrações adequadas, no meio corrosivo, reduz ou elimina a corrosão. Substâncias com essas características têm sido muito usadas como um dos melhores métodos para proteção contra a corrosão, e muitas pesquisas, visando à utilização de novos compostos com esse objetivo, têm sido estimuladas por diversas indústrias. 6 Para que a utilização dos inibidores seja satisfatória, é preciso considerar, fundamentalmente, quatro aspectos, descritos a seguir. O primeiro corresponde às causas da corrosão no sistema, a fim de identificar os problemas que podem ser solucionados com o emprego de inibidores. Em segundo lugar, vem o custo da sua utilização, para verificar se excede ou não o das perdas originadas pelo processo corrosivo. Nessa avaliação deve-se levar em conta, evidentemente, fatores como: aumento da vida útil do equipamento; eliminação de paradas não programadas; prevenção de acidentes resultantes de fraturas por corrosão; aspecto decorativo de superfícies metálicas; ausência de contaminação de produtos etc. Em seguida, vêm as propriedades e os mecanismos de ação dos inibidores a serem usados, a fim de verificar sua compatibilidade com o processo em operação e com os materiais metálicos usados. Tal compatibilidade tem por objetivo evitar efeitos secundários prejudiciais como, por exemplo: redução de ação de catalisadores devido à possibilidade de os inibidores ficarem adsorvidos nesses catalisadores; queda de eficiência térmica; possibilidade de um inibidor proteger um material metálico e ser corrosivo para determinado metal, como ocorre com as aminas, que protegem aço mas atacam cobre e suas ligas. Por último, vêm as condições adequadas de adição e controle, para evitar possíveis inconvenientes, como: formação de espuma em função de agitação do meio; formação de grande espessura de depósito de fosfatos, silicatos ou carbonatos de cálcio pode dificultar as trocas térmicas, em caldeiras, por exemplo; ação poluente se não for feito prévio tratamento dos despejos, como acontecia quando se usava cromato como inibidor de corrosão; perda de inibidores devido à deficiente solubilidade no meio corrosivo; possíveis problemas de saúde podem ocorrer nos trabalhadores referentes à toxidez de alguns produtos usados como inibidores de corrosão; finalmente, é importante ressaltar as políticas ambientais que monitoram o uso, o transporte e também o descarte das embalagens usadas no acondicionamento das formulações inibidoras.
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