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Aula 12 - A Igreja Católica e a Nova Escola

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Título: A IGREJA CATÓLICA E A ESCOLA NOVA: O CASO ANÍSIO 
TEIXEIRA 
Área Temática: História da Educação 
Autor: ROSIMAR SERENA SIQUEIRA ESQUINSANI 
Instituição: Universidade de Passo Fundo - Mestrado em Educação 
 
 
Sinopse 
 
 A pesquisa visa estabelecer relações entre os interesses e 
posicionamentos da Igreja Católica enquanto instituição, no conflito entre a 
escola confessional e a escola pública. O debate entre Dom Vicente SCHERER 
e Anísio TEIXEIRA acontece por ocasião da preparação da Lei de Diretrizes e 
Bases da Educação Nacional (LDBEN), exigência da Constituição de 1946, 
quando o projeto recebeu o substitutivo Lacerda (Carlos Lacerda - UDN), em 
1958, contemplando interesses dos gestores de escolas privadas. 
 Os defensores da escola privada se confrontaram com os partidários da 
escola pública, temida pelos empresários do ensino, que se uniram as escolas 
confessionais católicas (entre outras), na defesa de sua bandeira. Este debate 
chega à sociedade civil quando o deputado Fonseca e Silva ataca o diretor do 
INEP (Instituto Nacional de Estudos Pedagógicos) Anísio TEIXEIRA (defensor da 
escola pública e escolanovista), acusando-o de destruir as escolas 
confessionais. 
 Já no Planalto Rio-grandense a questão chegou quando o porta-voz das 
escolas confessionais do Estado, o Arcebispo de Porto Alegre, Dom Vicente 
SCHERER, acusa Anísio TEIXEIRA de ameaçar o direito da família escolher a 
educação dos filhos, trazendo junto da acusação a defesa da escola privada, 
vinculada a propriedade privada, numa postura que ratifica princípios 
capitalistas. 
 
Conteúdo 
 
 No jogo de interesses políticos que se estabelece no Brasil nas décadas 
de 40 e 50, a sociedade civil toma corpo e gera uma série de partidos políticos, 
assim como sustenta “posturas ideológicas”, como as da igreja e da imprensa. 
Entre os vários partidos que habitavam o cenário político, três parecem ter sido 
decisivos: o PSD (Partido Social Democrático), de base agrária e oligárquica; o 
PTB (Partido Trabalhista Brasileiro) fundado por Vargas para controlar o 
proletariado urbano, mas que, de conciliador, paulatinamente foi crescendo e 
agregando boa parte das esquerdas, e a UDN (União Democrática Nacional) 
de base agrária e intenções colaboracionistas com o capital internacional. 
 Neste quadro político tramitou durante treze anos o projeto da Lei de 
Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDBEN), exigência da Constituição 
de 1946. Para tal fim, o Ministro da Educação e Saúde do Governo Dutra, 
Clemente MARIANI, constituiu uma comissão de educadores com a tarefa de 
elaborarem um projeto para a futura lei. A comissão, integrada por educadores 
de várias tendências (escolanovistas e católicos tradicionalistas, entre outros) 
instalou-se em 1947, e em 1948 remeteu o projeto para o Congresso Nacional. 
No ano seguinte o projeto foi arquivado e em 1951 foi tentado o 
desarquivamento, mas o Senado informou que o trabalho havia se extraviado. 
Diante disso, a Comissão de Educação e Cultura do Congresso buscou a 
reconstituição do projeto. 
 Seis anos decorreram entre idas e vindas, até que, em 1957 reiniciaram 
os debates sobre o projeto, e em 1958, o projeto recebeu um substitutivo - o 
substitutivo Lacerda - que alterava profundamente o texto original. 
 O substitutivo do deputado Carlos Lacerda (UDN), baseava-se nas teses 
do III Congresso Nacional dos Estabelecimentos Particulares de Ensino, 
acontecido em 1948, trazendo para o projeto da LDBEN o interesse dos donos 
e gestores de escolas privadas. 
 Na verdade, o debate entre os defensores da escola privada e os 
partidários da escola pública havia começado vários anos antes, diante da 
expansão crescente da escola pública, estimada por alguns setores sociais e 
defensores do escolanovismo, e temida por empresários do ensino, que não 
titubearam em unir-se às escolas confessionais, mantidas, entre outras 
instituições, pela Igreja Católica, para defesa de sua bandeira. 
 Os interesses em conflito já na redação do projeto da futura LDBEN, 
extrapolam os limites da sociedade política e passam ao nível da sociedade 
civil no episódio em que o padre deputado Fonseca e Silva, ataca em discurso, 
o diretor do INEP (Instituto Nacional de Estudos Pedagógicos) Anísio Spinola 
TEIXEIRA (defensor da escola pública e do escolanovismo), acusando-o de 
comunista e de tentar destruir as escolas confessionais, clamando, assim, pelo 
direito da família na educação dos filhos. Ao confundir a filosofia pragmatista 
de John DEWEY, que dava base teórica ao escolanovismo, com a filosofia 
marxista, o padre Fonseca e Silva proferiu vários discursos, para provar o quão 
eram perigosas as teorias “comunistas” dos que defendiam a Escola Nova e a 
escola pública. 
 O porta-voz das escolas confessionais no Rio Grande do Sul foi o então 
Arcebispo Metropolitano de Porto Alegre, Dom Vicente SCHERER, que 
representou os interesses destas escolas, também acusando Anísio TEIXEIRA 
de tentar tirar os direitos da família em escolher a educação para seus filhos. 
Basicamente, Dom Vicente não atacava a escola pública, mas requeria o 
fortalecimento das escolas confessionais e questionava as teorias 
escolanovistas que embasavam Anísio TEIXEIRA. “Ao contato do povo simples 
como este, que constrói e mantém escolas particulares, melhor ainda se 
compreendem quanto andam afastadas das verdadeiras aspirações de nossa 
gente os doutrinadores que pretendem orientar o ensino brasileiro segundo 
normas de um materialismo negador das realidades...”. 
 Mais amplamente, e diante da eminência de aprovação do substitutivo, 
é lançada a Campanha de Defesa da Escola Pública, liderada por educadores 
e intelectuais de tendências progressistas, liberais, socialistas e nacionalistas, 
e tratando de questões gerais da política educacional, inclusive admitindo por 
válidas as diretrizes escolanovistas 
 O fato da Igreja Católica defender a escola confessional e o direito da 
família escolher a educação para seus filhos, não consegue fugir do problema 
de vincular-se também a defesa da escola privada. E neste caso, ela é 
obrigada a assumir a defesa da propriedade privada em uma postura 
ideológica que ratifica uma posição do capitalismo. 
 
É pois com pleno direito que a Igreja promove as letras, as ciências e as artes, 
enquanto necessárias ou úteis à educação cristã, e a toda a sua obra para a salvação 
das almas fundando e mantendo até escolas e instituições próprias em todo o gênero 
de disciplina e em todo o grau de cultura (...).Quanto à extensão da missão educativa 
da Igreja, estende-se esta a todos os povos, sem restrição alguma (...), nem há poder 
terreno que a possa legitimamente contrastar ou impedir. E estende-se primeiramente 
sobre todos os fiéis (...) Por isso é que para eles criou e promoveu, em todos os 
séculos, uma imensa multidão de escolas e institutos, em todos os ramos do saber... 
(3). 
 
 É certo que a Igreja Católica compreendia ser sua função a educação. 
Mas no contexto dado do Brasil da década de 50, em meio a política 
desenvolvimentista do governo Juscelino KUBITSCHEK e as idéias dos 
escolanovistas defensores da escola pública, a Igreja Católica vai assumir a 
postura de defensora de seus direitos na promoção da educação (em escolas 
confessionais) que vão se opor as escolas públicas. 
 Assumindo esta postura, a igreja Católica acaba por defender também o 
ideário dos donos e gestores de escolas privadas, assumindo na mesma 
seara, um debate ideológico com os escolanovistas defensores da escola 
pública. 
 Mas as implicações do evento não são meramente factuais. Todo o 
ideário capitalista vem a tona quando a Igreja Católica (ainda que 
intrinsecamente) ao defender a escola confessional, defende também a escola 
privada, e por conseqüência, a propriedade privada, em uma conceitualização 
capitalista. 
 Sob esta égide, CUNHA nos lembraque: 
 
Há séculos empenhada na educação escola, com numerosas congregações 
especialmente dedicadas ao ensino, a Igreja Católica têm estado presente na 
história da educação no Brasil desde que os padres jesuítas instalaram suas 
escolas de “ler e escrever”, já no século XVI. Contida em sua hegemonia no campo 
do ensino pela aliança de liberais e positivistas que fundaram a República (1889) e pela 
aliança de liberais e socialistas que formaram os “Pioneiros da Educação Nova” (1932), 
a igreja católica, pela atuação específica da Associação de Educação Católica, nos 
anos 50, constituiu o que Moacyr de GÓES chama de “intelectual orgânico” do 
pensamento conservador e atrasado: a defesa da “liberdade de ensino” como ideologia 
posta a serviço dos interesses dos empresários da educação, empenhados que 
estavam em legitimar suas pretensões de receber subsídios governamentais (4). 
 
 
 Falando-se, particularmente do episódio Anísio TEIXEIRA e da Campanha 
em Defesa da Escola Pública, é preciso salientar que: 
 
 A Campanha em Defesa da Escola Pública polarizou o debate entre os vários partidos 
ideológicos (posturas ideológicas). Os interesses privatistas foram fervorosamente 
expressos e defendidos na revista Vozes, porta-voz da Igreja. Em diversos artigos, o 
então frei Evaristo Arns, sob o manto da defesa do “ensino livre”, insistiu que a 
educação não era função do Estado, mas sim da família, que era um “grupo natural” 
anterior ao Estado. Criticando as obras e artigos de Anísio Teixeira, e culpando o MEC 
(Ministério da Educação e Cultura) pela “ameaça contra o ensino cristão e humanístico 
das escolas livres”, frei Evaristo Arns (e no sul do país Dom Vicente Scherer) serviu de 
escudo para os empresários do ensino, que por não terem grandes justificativas e 
bandeiras para solapar a Campanha da Escola Pública se esconderam sob os 
argumentos da Igreja Católica (5). 
 
 
 Não há como negar que, a Igreja Católica sendo uma das mais 
poderosas e seculares instituições da história ocidental, sempre entendeu ser 
sua função envolver-se na educação pelos mais diferentes viéses, ora 
tentando manter suas próprias posições institucionais, através da formação de 
opinião, ora buscando a implementação de políticas educacionais que 
servissem de apoio aos seus preceitos, já que durante toda sua trajetória, a 
Igreja Católica, sempre teve um peso político de influência e decisão nos mais 
variados setores com o qual é preciso contar, quer pelo imenso número de 
seguidores, ou quer pelos estreitos (e históricos) laços com grupos influentes. 
 Ratificando a importância da Igreja Católica para a educação, cabe 
destacar o seu papel como instituição formadora de opinião e articuladora e/ou 
co-participante da elaboração de políticas educacionais específicas. Enquanto 
articuladora de grupos leigos envolvidos na educação e suporte para 
movimentos de cunho social (entre eles a educação). e com base no princípio 
de que “as idéias não têm uma história própria, elas dependem diretamente da 
produção humana de vida” (6), A Igreja Católica passou a discutir as questões 
relativas a este evento, de tal forma que o debate extrapolou os limites da 
capital federal e alcançou até a região do Planalto Rio-grandense. Na região do 
Planalto o conflito tomou proporções de embate ideológico, sendo feitos até 
mesmo debates públicos e personalização da questão na figura do Diretor do 
Instituto de Estudos Pedagógicos, senhor Anísio TEIXEIRA. Foram feitas 
inclusive “votações” simbólicas para saber da permanência ou não de Anísio 
na presidência do INEP (7). 
 É inegável que a Igreja Católica procurou manter o controle social sobre 
a educação. O controle era feito via saber, já que a Igreja Católica possui uma 
visão católica do saber, que se confronta com a visão do saber “laico” do 
Estado. 
 
 
Notas 
(1) INEP: Instituto Nacional de Estudos Pedagógicos, órgão do Ministério da 
Educação e Cultura criado em 30 de julho de 1938, pela lei federal no 580. 
Desde 1952 o órgão encontrava-se sob a direção de Anísio TEIXEIRA. 
(2) Jornal “O Nacional” de 21.05.1958, quarta-feira, cópia do discurso proferido 
por D. Vicente SCHERER, na inauguração de uma escola confessional católica 
em Encantado, Rio Grande do Sul. 
(3) Pio XI. Documentos Pontifícios : Sobre a Educação Cristã da Juventude 
(Divini Illius Magistri). 4 ed. Petrópolis, Rio de Janeiro : Vozes, 1950. Texto: “A 
quem pertence a educação” páginas 10 e 11. 
(4) CUNHA, Luiz Antônio.(org.). Escola Pública, Escola Particular e a 
Democratização do Ensino. São Paulo : Cortez, Autores Associados, 1986, 
página 8. 
(5) GHIRALDELLI JUNIOR, Paulo. História da Educação. São Paulo : Cortez, 
1990, página 115. 
(6) GADOTTI, Moacir. História das Idéias Pedagógicas. 3 ed. São Paulo : 
Ática, 1995. pág.17. 
(7) Jornal “O Nacional” de Passo Fundo - 28.04.1958, com reportagens e 
notações em diversas edições anteriores e subseqüentes 
 
 
Referências bibliográficas 
 
BUFFA, Esther. Ideologias em Conflito : escola pública e escola privada. São 
Paulo : Cortez e Moraes, 1979. 
CUNHA, Luiz Antônio (org.). Escola Pública, Escola Particular e a 
Democratização do Ensino. São Paulo : Cortez: Autores Associados, 1986. 
CURY, Carlos R. Jamil. Ideologia e Educação Brasileira - Católicos e liberais. 
2a edição. São Paulo : Cortez : Autores Associados, 1984. 
GADOTTI, Moacir. História das Idéias Pedagógicas. 3 edição. São Paulo : 
Ática, 1995. 
GHIRALDELLI JUNIOR, Paulo. Manifesto dos Pioneiros da Educação Nova e 
Manifesto dos Educadores Mais uma Vez Convocados. In: GHIRALDELLI 
JUNIOR, Paulo. História da Educação. São Paulo : Cortez, 1990. 
PIERUCCI, Antônio F. (org.). A Igreja Católica - 1945-1970. In: FAUSTO, Boris 
(org.) História Geral da Civilização Brasileira. v. 11. São Paulo : Difel, 1986. 
PIO XI. Documentos Pontifícios : Sobre a Educação Cristã da Juventude 
(Divini Illius Magistri). 4 ed. Petrópolis, Rio de Janeiro : Vozes, 1950. 
SAVIANI, Demerval. Escola e Democracia. 30 edição. Campinas : Autores 
Associados, 1995. (Coleção Polêmicas do Nosso Tempo - volume 5). 
TEIXEIRA, Anísio. Pequena Introdução à Filosofia da Educação. 8 ed. São 
Paulo : Nacional, 1978.

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