Buscar

Habeas Corpus

Prévia do material em texto

Caso 1: Habeas Corpus
O Paciente foi preso em flagrante por ter, supostamente, praticado o delito previsto no art. 33 da Lei 11.343/2006 – Tráfico Ilícito de Drogas – na data de 27 de fevereiro de 2018, às 17h30min, quando em abordagem em barreira policial realizada pela Polícia Militar de Minas Gerais teriam sido encontradas na caçamba da moto, conduzida pelo mesmo, duas caixas com substância que supostamente seria lança-perfume, que, conforme consta em APF anexo, seria destinada à revenda do produto.
A prisão em flagrante do paciente foi convertida em prisão preventiva e, posteriormente, na data de 20 de março de 2018, foi aceita a Denúncia (fl. XX) contra o réu.
No dia 07 de abril de 2018, foi negado pedido de liberdade provisória formulado em favor do Paciente, nos seguintes termos: “Indefiro requerimento formulado pela defesa, nos termos do art. 44 da Lei 11.343/06” (fl. XX).
Até a presente data, o Paciente encontra-se recolhido no Presídio XXX.
EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR DESEMBARGADOR PRESIDENTE DO TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE MINAS GERAIS 
5 linhas - Identificação (nº do processo ou inquérito)
	
ADVOGADO, com inscrição na OAB de número..., com endereço para comunicações judiciais na ....., bairro...,cidade..., estado... e endereço eletrônico... (procuração anexa), vem, respeitosamente, perante Vossa Excelência, impetrar, com fulcro no artigo 5º, LXVIII, da Constituição Federal e artigos 647 e seguintes do Código de Processo Penal, 
ORDEM DE HABEAS CORPUS (AÇÃO DE HABEAS CORPUS) COM PEDIDO DE CONCESSÃO DE LIMINAR
em favor de ..., estado civil, nacionalidade, profissão, residente e domiciliado na ....., bairro..., cidade...., estado..., endereço eletrônico..., inscrito no cadastro de pessoas físicas (CPF) sob o número... e Registro de Identidade Geral (RG) sob o número...., contra ato ilegal e abusivo da autoridade coatora do Excelentíssimo Senhor Juiz de Direito da __ Vara Criminal da Comarca de .../MG, pelos fatos e fundamentos que passa a expor:
I – Dos Fatos – Parafrasear sem inventar.
O Paciente foi preso em flagrante por ter, supostamente, praticado o delito previsto no art. 33 da Lei 11.343/2006 – Tráfico Ilícito de Drogas – na data de 27 de fevereiro de 2018, às 17h30min, quando em abordagem em barreira policial realizada pela Polícia Militar de Minas Gerais teriam sido encontradas na caçamba da moto, conduzida pelo mesmo, duas caixas com substância que supostamente seria lança-perfume, que, conforme consta em APF anexo, seria destinada à revenda do produto.
A prisão em flagrante do paciente foi convertida em prisão preventiva e, posteriormente, na data de 20 de março de 2018, foi aceita a Denúncia (fl. XX) contra o réu.
No dia 07 de abril de 2018, foi negado pedido de liberdade provisória formulado em favor do Paciente, nos seguintes termos: “Indefiro requerimento formulado defesa, nos termos do art. 44 da Lei 11.343/06” (fl. XX).
Até a presente data, o Paciente encontra-se recolhido no Presídio XXX.
II – Do Direito (fundamentação jurídica)
1. Hipótese de Cabimento
	Conforme preceitua o artigo 5º, LXVIII, da Constituição Federal e o artigos 647 do Código de Processo Penal, “dar-se-á habeas corpus sempre que alguém sofrer [...] violência ou coação ilegal na sua liberdade de ir e vir [...]”. As hipóteses de violação a este direito de liberdade são apresentadas exemplificativamente no rol do art. 648 do CPP.
Há que se mencionar ainda o Pacto de São José da Costa Rica, recepcionado em nosso ordenamento jurídico brasileiro, que em seu art. 7º, é taxativo ao expor que toda pessoa tem direito a liberdade, sendo que ninguém pode ser submetido ao encarceramento arbitrário.
Diante da argumentação, podemos sustentar que a coação, de acordo com o inciso I, do art. 648, do CPP, não possui justa causa para ordem proferida, uma vez que a autoridade coatora não demonstrou os requisitos necessários para a conversão do flagrante em prisão preventiva, não autorizando a liberdade provisória do paciente e subtraindo, portanto, o direito do acusado de responder ao processo em liberdade.
2. Mérito
2.1. Da inconstitucionalidade do art. 44, da Lei 11.343/06
	Para que a hipótese de cabimento do presente habeas corpus seja fundamentada, cabe, nesse primeiro momento, questionar a conversão da prisão em flagrante em prisão preventiva e a consequente negativa do pedido de liberdade provisória amparada nos termos do art. 44 da Lei 11.343/06.
	Ora, como é sedimentado na jurisprudência do Supremo Tribunal Federal (STF) é inconstitucional a regra prevista na Lei de Drogas (Lei 11.343/2006) que veda a concessão de liberdade provisória a presos acusados de tráfico. Em maio de 2012, no julgamento do Habeas Corpus (HC) 104339, o Plenário do STF havia declarado, incidentalmente, a inconstitucionalidade da expressão “liberdade provisória” do artigo 44 da Lei de Drogas. Com isso, o Supremo passou a admitir prisão cautelar por tráfico apenas se verificado, no caso concreto, a presença de algum dos requisitos do artigo 312 do Código de Processo Penal (CPP). Com a reafirmação da jurisprudência com status de repercussão geral, esse entendimento deve ser aplicado pelas demais instâncias em casos análogos. O relator do caso, ministro Gilmar Mendes, afirmou à época, em seu voto, que a regra prevista na lei “é incompatível com o princípio constitucional da presunção de inocência e do devido processo legal, dentre outros princípios”.
Habeas corpus. 2. Paciente preso em flagrante por infração ao art. 33, caput, c/c 40, III, da Lei 11.343/2006. 3. Liberdade provisória. Vedação expressa (Lei n. 11.343/2006, art. 44). 4. Constrição cautelar mantida somente com base na proibição legal. 5. Necessidade de análise dos requisitos do art. 312 do CPP. Fundamentação inidônea. 6. Ordem concedida, parcialmente, nos termos da liminar anteriormente deferida. (STF - HC: 104339 SP, Relator: Min. GILMAR MENDES, Data de Julgamento: 10/05/2012, Tribunal Pleno, Data de Publicação: ACÓRDÃO ELETRÔNICO DJe-239 DIVULG 05-12-2012 PUBLIC 06-12-2012)
	É evidente que a Constituição Federal possibilita a decretação de prisão provisória antes de uma sentença condenatória transitada em julgado, entretanto, essas prisões têm caráter eminentemente cautelar e, como toda medida dessa linhagem, para serem legitimamente decretadas devem preencher os requisitos cautelares do fumus comissi delicti e periculum in libertatis. Em suma, a prisão cautelar só poderá ser decretada, quando, havendo indícios de autoria e prova da materialidade, for necessária para a garantia da ordem pública ou econômica, por conveniência da instrução criminal ou para assegurar a aplicação da lei penal (artigo 312 do Código de Processo Penal).
Portanto, fundamentar o indeferimento do pedido de liberdade provisória no art. 44 da Lei 11.343/06 seria não apenas violentar a liberdade de locomoção do paciente, mas violentar o próprio Direito.
2.2. Da desclassificação do crime de tráfico para o crime de porte de drogas ilícitas (como regra, não se discute o mérito do fato no HC, mas apenas o mérito da restrição à liberdade de locomoção) 
Um segundo questionamento sobre o mérito da prisão ilegal, ora atacada, é a denúncia sobre um suposto delito previsto no art. 33 da Lei 11.343/2006 – tráfico ilícito de drogas. De acordo com o APF, o paciente transportava na caçamba de sua moto duas caixas com substância que supostamente seria lança-perfume. 
Fica então o questionamento: e isto é tudo? Não poderia o paciente portar tais drogas para consumo próprio? Conforme prevê o art. 28, § 2º, da Lei 11.343/06:
Para determinar se a droga destinava-se a consumo pessoal, o juiz atenderá à natureza e à quantidade da substância apreendida, ao local e às condições em que se desenvolveu a ação, às circunstâncias sociais e pessoais, bem como à conduta e aos antecedentes do agente. 
	Ou seja, são múltiplos os critérios para tal determinação, devendo, assim, o paciente ter o devido tratamento legal dado aos que transportamdrogas para consumo próprio, hipótese que sequer admite a pena privativa de liberdade.
III. Do pedido de liminar
	Diante da flagrante ilegalidade da decretação da prisão do paciente, não pairam dúvidas para que, num gesto de estrita justiça, seja concedida liminarmente o direito à liberdade ao mesmo. A plausibilidade jurídica da concessão da liminar encontra-se devidamente caracterizada. O fumus comissi delicti, significa a fumaça do cometimento do delito, o qual pelos elementos fáticos e jurídicos trazidos à colação não foram capazes de demonstrar com efetividade. Por sua vez, no que concerne o periculum libertatis (perigo na liberdade do acusado), não vislumbra-se qualquer justificativa plausível. 
Sobre a possibilidade de pedido liminar, em sede de Habeas Corpus, cabe citar os ensinamentos do jurista Alberto Silva Franco:
É evidente, assim, que apesar da tramitação mais acelerada do remédio constitucional, em confronto com as ações previstas no ordenamento processual penal, o direito de liberdade do cidadão é passível de sofrer flagrante coarctação ilegal e abusiva. Para obviar tal situação é que, numa linha lógica inafastável, foi sendo construído, pretoriamente, em nível de habeas corpus, o instituto da liminar, tomando de empréstimo do mandado de segurança, que é dele irmão gêmeo. A liminar, em habeas corpus, tem o mesmo caráter de medida de cautela, que lhe é atribuída do mandado de segurança.
Frente ao exposto, a presente ordem de habeas corpus deve ser concedida liminarmente com o fim de obstar a prisão preventiva do ora paciente.
Pode-se também argumentar conclusivamente que, diante da ausência dos requisitos que justificam a cautelar processual penal, automaticamente se fazem presentes os requisitos do fumus boni iuris – que é o direito de liberdade do paciente – e o periculum in mora – que é a persistência dessa condição de restrição a um direito fundamental.
IV – Dos pedidos
Diante do exposto, resta induvidoso que o paciente sofreu constrangimento ilegal por ato da autoridade coatora, o Excelentíssimo Senhor Juiz de Direito da ... Vara Criminal da Comarca de .../MG, que deve ser remediada por esse Colendo Tribunal. Isto posto, com base no artigo 5º, LXVIII, da CF, c/c artigos 647 e 648 do CPP, requer:
a) a oitiva da Douta Procuradoria de Justiça para que apresente parecer;
b) a requisição de informações ao Meritíssimo Juiz da ... Vara Criminal da Comarca de .../MG, ora apontado como autoridade coatora;
c) a concessão do pedido liminar e a imediata restauração da liberdade do paciente, com o devido Alvará de Soltura;
d) a confirmação no mérito pleiteada para que se consolide, em favor do paciente ..., a competente ordem de “habeas corpus”, para fazer impedir o constrangimento ilegal que o mesmo vem sofrendo, como medida da mais inteira Justiça, expedindo-se, imediatamente, o competente ALVARÁ DE SOLTURA (SALVO-CONDUTO), a fim de que seja o paciente posto em liberdade;
e) Pedido de juntada dos documentos em anexo;
f) A intimação pessoal do Douto Advogado para a sustentação oral, a ser marcada em dia e hora por esta Colenda Câmara. (este pedido não é obrigatório!)
Dá-se à causa o valor de R$ 1.000,00 para efeitos procedimentais. (Gratuidade. Art. 5º, LXXVII)
Nesses termos, 
Pede deferimento.
Local e data. Parte autenticava
ADVOGADO/OAB

Continue navegando