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Resumo de Educação e Trabalho 2019.2

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Resumo de Educação e Trabalho 
UNIDADE I: Gênese histórica e conceitual do trabalho, da educação e da escola
Tema: Item 01: O processo de trabalho como princípio ontocriativo da existência humana. 
Texto 1 – FRIGOTTO. Trabalho (p.399-404) – Dicionário da educação em saúde. 
Trabalho
Marx nos permite fazer, ao mesmo tempo, três distinções em relação ao trabalho humano: por ele, diferenciamo-nos do reino animal; é uma condição necessária ao ser humano em qualquer tempo histórico; e o trabalho assume formas históricas específicas nos diferentes modos de produção da existência humana. Estas distinções nos permitem tanto superar o senso comum e a ideologia que reduzem o trabalho humano à forma histórica que assume sob as relações sociais de produção capitalistas (compra e venda de força de trabalho, trabalho assalariado, trabalho alienado) quanto perceber a improcedência das teses que postulam o fim do trabalho. Diferente do animal, que vem regulado e programado por sua natureza e, por isso, não projeta sua existência, não a modifica, mas se adapta e responde instintivamente ao meio, os seres humanos criam e recriam, pela ação consciente do trabalho, a sua própria existência.
O trabalho, como nos mostra Kosik (1986, p. 180), “é um processo que permeia todo o ser do homem e constitui a sua especificidade”. Por isso, o mesmo não se reduz à ‘atividade laborativa ou emprego,’ mas à produção de todas as dimensões da vida humana. Na sua dimensão mais crucial, o trabalho aparece como atividade que responde à produção dos elementos necessários e imperativos à vida biológica dos seres humanos como seres ou animais evoluídos da natureza. Concomitantemente, porém, responde às necessidades de sua vida intelectual, cultural, social, estética, simbólica, lúdica e afetiva. Trata-se de necessidades, que, por serem históricas, assumem especificidades no tempo e no espaço.
Na mesma compreensão da concepção ontocriativa de trabalho, também está implícito o sentido de propriedade – intercâmbio material entre o ser humano e a natureza, para poder manter a vida humana. Propriedade, no
seu sentido ontológico, é o direito do
ser humano, em relação e acordo solidário com outros seres humanos, de
apropriar-se, transformar, criar e recriar
pelo trabalho – mediado pelo conhecimento, ciência e tecnologia – a natureza para produzir e reproduzir a sua existência em todas as dimensões anteriormente assinaladas. Estas diferentes dimensões circunscrevem o trabalho humano na esfera da necessidade e da liberdade, sendo ambas inseparáveis.
O trabalho humano, como insiste Kosik, não se separa da esfera da necessidade, mas, “ao mesmo tempo a supera e cria nela os reais pressupostos da liberdade. A centralidade do trabalho como práxis que possibilita criar e recriar, não apenas os meios de vida imediatos e imperativos, mas o mundo da arte e da cultura, linguagem e símbolos, o mundo humano como resposta às suas múltiplas e históricas necessidades. O que acabamos de realçar nos permite demonstrar que as teses sobre o fim do trabalho e uma vida dedicada puramente ao ócio não têm o menor fundamento.
Tomado o trabalho humano em concepção ontocriativa o mesmo se constitui em um princípio formativo
ou educativo e se impõe num plano ético (esfera de valores históricos universais) como um direito e um dever. O trabalho como ‘princípio educativo’ deriva do fato de que todos os seres
humanos são seres da natureza e, portanto, têm a necessidade de alimentar-se, proteger-se das intempéries e criar seus meios de vida. É fundamental socializar, desde a infância, o princípio de que a tarefa de prover a subsistência e outras esferas da vida pelo trabalho é comum a todos os seres humanos, evitando-se, dessa forma, criar indivíduos, grupos ou classes sociais que naturalizam a exploração do trabalho de outros.
O trabalho como princípio educativo, então, não é, primeiro e sobretudo, uma técnica didática ou metodológica no processo de aprendizagem, mas um princípio ético-político. Realçamos este aspecto, pois é frequente reduzir o trabalho como princípio educativo à ideia didática ou pedagógica do ‘aprender fazendo’.
Como princípio educativo, o trabalho
é, ao mesmo tempo, um dever e um
direito. Dever por ser justo que todos
colaborem na produção dos bens materiais, culturais e simbólicos, fundamentais à produção da vida humana.
Um direito por ser o ser humano um
ser da natureza que necessita estabelecer, por sua ação consciente, um metabolismo com o meio natural transformando em bens para sua produção e reprodução. Por fim, o trabalho na sua essência e generalidade ontocriativa (Lukacs,1978), não pode ser confundido com as formas históricas que o trabalho assume – trabalho servil, escravo e assalariado. Do mesmo modo, a propriedade, como direito de todos os seres humanos de dispor dos bens que lhes permite produzir sua existência, não pode ser confundida com a propriedade privada capitalista. É crucial que se distinga a propriedade que temos de determinados objetos ou coisas, que são para o uso de quem as possui – casa, carro, terra etc. –, da propriedade privada, que é um capital utilizado para incorporar trabalhadores assalariados que produzam para quem tem este capital. A acumulação e o lucro, no capitalismo, advém de uma relação contratual da compra e venda da força de trabalho entre forças desiguais: quem detém capital e quem detém apenas sua força de trabalho. Estar de um lado ou de outro não é uma questão de escolha, mas resultado de um processo histórico que precisa ser apreendido. A dificuldade de perceber a exploração reside no fato de que o capital compra o tempo de trabalho dos
trabalhadores numa transação e contrato sob o pressuposto da igualdade e liberdade das partes. Na realidade, trata-se apenas de uma igualdade e liberdade formal e aparente. Mesmo que venha sob os auspícios da legalidade de um contrato, pela assimetria de poder entre o capitalista e o trabalhador, constrangido a vender sua força-de-trabalho, materializa-se um processo de alienação – vale dizer, uma apropriação indevida, um roubo legalizado.
Com efeito, no modo de produção capitalista, o trabalho daqueles desprovidos de propriedade de meios e
instrumentos de produção é reduzido
à sua dimensão de força-de-trabalho.
Uma mercadoria especial que os proprietários dos meios e instrumentos
de produção (capitalistas) compram
e gerenciam de tal sorte que o dispêndio da mesma pelo trabalhador,
no processo produtivo, pague o seu
valor de mercado (em forma de salário ou meios de subsistência) e, além disso, produza um valor excedente ou mais-valia que é apropriado pelo comprador. O capital apropria-se privadamente também da ciência e da tecnologia e as incorpora ao processo produtivo como trabalho objetivado (trabalho vivo do
trabalhador transformado em trabalho morto)
No plano da ideologia, a representação que se constrói é a de que o trabalhador ganha o que é justo
pela sua produção, pois parte do
pressuposto de que os capitalistas (detentores de capital) e os trabalhadores que vendem sua força de trabalho o fazem numa situação de
igualdade e por livre escolha. Apaga-se, portanto, o processo histórico que até o presente mantém o gênero humano cindido em classes desiguais e que permite a exploração de uns sobre outros.
Texto 2 – RAMOS. Capítulo 2: Projetos de formação humana e mediações históricas/Subitem 1: O trabalho como base da formação humana: síntese da essência e da existência do ser (p. 93-98)
O trabalho, ou a necessidade e capacidade históricas de trabalhar de diferentes formas ao longo da história constituem, sob essa visão, a própria essência humana e a base da produção de sua existência. Ou seja, a ontologia humana é histórica; e o homem não
é, mas se torna, historicamente, homem.
Analisaremos o conceito de trabalho em seu duplo sentido – ontológico, inerente à produção do ser; e histórico, formas específicas que adquire o trabalho sob os diferentes modos de produção, com ênfase no modo capitalista.
O trabalho como base da formação humana:síntese da essência e da existência do ser
Como explica Saviani (2006), a visão que predominou no desenvolvimento do pensamento filosófico e que se cristalizou no senso comum é marcada por um caráter especulativo e metafísico contraposto à existência histórica dos homens. Essa visão parte de uma ideia abstrata e universal de essência humana, na qual estaria inscrito o conjunto dos traços característicos de cada um dos indivíduos que compõem a espécie.
Diferentemente dessa maneira de entender o homem, a visão histórica parte das condições efetivas e reais de sua existência, mas compreende que suas determinações não são contingenciais ou aleatórias, mas construídas pelos próprios homens nas suas relações sociais. O surgimento do homem nos remete ao momento em que este ser natural se destacou da natureza e foi obrigado, para existir, a produzir sua própria vida. O ato de agir sobre a natureza transformando-a em função das necessidades humanas é o que se conhece como trabalho. Então, se a essência do homem não é dada a ele como dádiva divina ou natural, nem é algo que preceda a sua existência, ela é produzida pelos próprios homens na busca da satisfação de suas necessidades. O homem, então, assim se torna por meio do trabalho, e “a essência humana não é uma abstração inerente ao indivíduo singular. Em sua realidade, é o conjunto das relações sociais” (MARX, 1991, p. 13).
Com essas afirmações, o autor quer nos dizer: a) o trabalho transforma, ao mesmo tempo, a natureza e aquele que trabalha; b) só existe trabalho quando a ação e o produto da ação são projetados conscientemente por quem trabalha. Essa capacidade é exclusiva
aos seres humanos como seres sociais. Portanto, o trabalho é inerente à produção da vida humana.
O trabalho, a atividade vital, a vida produtiva, é o único meio que satisfaz uma necessidade primeira, a de manter a existência física. A vida produtiva do ser humano então é, inicialmente, a própria criação da vida. “No tipo de atividade vital está todo o caráter de
uma espécie, o seu caráter genérico; e a atividade livre, consciente, constitui o caráter genérico do homem”. (MARX, 2001, p. 116) Enquanto o animal não se diferencia de sua atividade vital, o
homem faz dela o objeto de sua vontade e consciência. A vida é para ele um objeto. Por este motivo, a sua atividade surge como atividade livre. O animal também produz, por exemplo, quando ergue um ninho, uma habitação, tal como fazem as abelhas, os castores, as formigas etc. Mas só produz o que é absolutamente necessário para si ou para os seus filhotes; produz apenas numa só direção, ao passo que o homem produz universalmente. O animal produz
somente sob a dominação da necessidade física imediata, enquanto
o homem produz também quando se encontra livre da necessidade física; o animal apenas se produz a si, ao passo que o homem reproduz toda natureza; o produto da espécie animal pertence imediatamente ao seu corpo físico, enquanto o homem é livre diante do seu produto. O animal constrói apenas segundo o padrão e a necessidade da espécie a que pertence, ao passo que o homem sabe como produzir de acordo com o padrão de cada espécie e sabe como aplicar o padrão apropriado ao objeto. (MARX, 2001) Assim, o trabalho em geral e o seu produto – como trabalho passado, objetivado – são criadores de riqueza e produtores de vida humana em qualquer tempo ou lugar, o que equivale dizer que o trabalho humano tem uma determinação ontológica.
Ontologia quer dizer o conhecimento do ser enquanto ser, considerado em si mesmo, independentemente do modo pelo qual se manifesta.
Explicita-se, assim, a dupla determinação do trabalho: ontológica – produção da vida humana independentemente do modo como se manifesta – e histórica, o que quer dizer que, ao longo de sua história, o ser humano organizou relações sociais de
produção da vida que proporcionou o surgimento de diferentes formas de trabalho, tais como o trabalho primitivo, o servil, o escravo e o assalariado.
Ontologicamente, o ser humano precisa aprender a produzir sua própria existência, o que nos leva a concluir que a produção do homem é, ao mesmo tempo, a formação do homem; isto é, um processo educativo. A origem da educação coincide, então, com a origem do próprio homem. Mas esse aprendizado se modifica juntamente com as mudanças pelas quais passam as formas de trabalho, de produção da existência, de sorte que a relação entre o trabalho e a educação é tanto ontológica quanto histórica.
Texto 3 - Síntese do Item 01 - UNIDADE I. Concepção de Trabalho.
A educação é ato segundo e a escola é ato terceiro decorrentes dos modos de os seres humanos se organizarem para o trabalho. Em havendo mudanças no processo de trabalho, alteram-se, consequentemente, os modos de se entender e realizar a educação e a escola. Todavia, esta não é uma via de
mão única, na qual a educação e a escola apenas são determinadas pelo trabalho, servindo apenas como veículos de reprodução e submissão às formas históricas do trabalho em dado momento histórico, não lhes cabendo nenhum protagonismo no movimento da história. Ao contrário disto, se verá que a educação e a escola têm também um importante papel na criação e no desenvolvimento das conformações sociais historicamente existentes. 
Conceito de Trabalho/Processo de Trabalho
Isoladamente, o termo “trabalho” é uma abstração. O termo “processo de trabalho”, por sua vez, oferece uma noção mais objetiva daquilo que se quer significar com o uso do termo “trabalho”, pois, em última instância, trata-se sempre do processo de trabalho, isto é, do método de organização e de realização da produção, do processo produtivo. O processo de trabalho dos primeiros grupos humanos na face da terra, na Pré-História, tinham como método a coleta, caça e pesca, não dominavam ainda a habilidade de produzir o próprio alimento e não domesticavam os animais, não fabricavam o próprio abrigo etc. Eram totalmente dependentes do que o ambiente que os
cercava, a natureza, lhes provinha. Por isto, migravam de uma região para outra sempre quando as condições de sobrevivência em dado território ficavam escassas ou comprometidas. Eram nômades. Por outro lado, quando desenvolveram a capacidade de cultivar e de domesticar os animais puderam se fixar em determinado território, tornaram-se sedentários e, ao contrário do período do nomadismo, os seres humanos passaram a “forçar” a natureza a produzir segundo as suas necessidades, quantidades e de acordo com o tempo humano. Assim, passaram a depender cada vez menos da “vontade” da natureza. Eles passam a
interferir e alterar o curso natural das coisas, instituindo o “tempo humano”.
É neste sentido que Saviani (1994, 1995, 2007) irá dizer que ao contrário dos animais, que se adaptam à natureza, os seres humanos adaptam a natureza a si. E isto só foi possível à espécie humana devido ao processo de trabalho.
Trabalho/processo de trabalho é, nesta
acepção, uma atividade de transformação da natureza em benefício da existência humana, de produção de coisas úteis para o consumo e uso humanos. O ato de agir sobre a natureza, adaptando-a às necessidades humanas, é o que conhecemos pelo nome de trabalho.
Esta “atividade” é uma ação criativa, própria dos seres humanos, de fazer existir o que não existia, de criar o novo. Essa ação de transformação nada mais é do que esta capacidade humana de, pela sua “ação” direta, poder “transcender”, “ir além” da “forma” natural dada e atribuir-lhe outro formato, mais adequado aos interesses e necessidades humanas. Os seres
humanos rompem com o padrão natural das coisas, impondo o seu padrão: humano. É bom que se diga que “artificial” significa, em linhas gerais, o que se faz por arte ou indústria; produzido pelo homem; que não é natural. Neste caso podemos afirmar que o mundo artificial é o mundo propriamente humano, criado por ele e é o que o diferencia dos demais seres da natureza. Porém, vale lembrar que nunca o ser humano irá se desligar
totalmente da natureza, pois sempre ele será parte dela também. Os seres humanossão sim diferentes, mas não completamente independentes da natureza.
Então, todo tipo de trabalho é uma ação de “transformação” (ação de modificar
a forma natural de algo), ação de criação. Daí que podemos afirmar que o trabalho é o processo pelo qual o homem ser-biológico/natural se transforma em homem ser social/cultural. O processo de trabalho, assim, é o meio pelo qual o animal humano se torna propriamente ser-humano. Ele transcende o seu padrão natural herdado da natureza e o transforma em algo “imprevisto” pela natureza, o ser-social, donde irá surgir a
Sociedade.
O termo processo de humanização, implica que o homem não nasce humano, ele se torna humano. Ao nascer a criança tem as pré-condições biológicas para se tornar humana, mas ela somente se tornará humana efetivamente se receber os condicionamentos sociais, necessários, para isto. O homem nasce inacabado e somente se faz Ser Humano pela cultura. Por cultura entendemos tudo aquilo que é feito pelos seres humanos, que não deriva de geração espontânea, natural.
Cultura – “(...) termo usado pelos sociólogos e antropólogos para indicar o conjunto dos modos de vida criados, apreendidos e transmitidos de uma geração para a outra, entre os membros de uma determinada sociedade”
“Objetos, armas, vestes, moradias, regras de vida em grupo, formas de trabalhar e produzir, tipis de organização, família, linguagem, códigos, costumes, crenças religiosas, manifestações culturais, artísticas, enfim, ao conjunto de tudo que homem tem inventado e criado desde os mais remotos de sua vida na terra, chamamos de CULTURA”.
Quando pensamos na formação de uma cultura podemos compreender que este processo não depende do tipo físico de cada grupo, nem da raça a qual pertence. O homem e os animais – Os animais se adaptam à natureza; o homem adapta a natureza a si, agindo sobre a natureza transformando-a, o homem se autoproduz – produz constantemente sua própria existência; 
Este ato de transformar a natureza é exatamente o que nós conhecemos sobre o nome trabalho. Se pelo trabalho, que se trata da intervenção humana sobre a natureza para
transformá-la e extrair dela o que necessita para sobreviver, o ser humano encontrou o meio mais adequado para garantir a sua perpetuação como espécie no mundo, por outro lado, isto pode (tende a) causar terríveis danos à natureza em geral (estão aí para prová-lo a questão ecológica, aquecimento global etc.), os quais irão, cedo ou tarde, voltar-se contra a própria espécie humana. Por contraditório que pareça, por outro lado, são próprios homens que pelo seu trabalho, por esta sua capacidade de intervenção na natureza, é quem pode (deve) evitar que isto aconteça.
O trabalho pode fazer mal também ao
próprio homem, em especial ao homem-que-vive-do-trabalho, aos trabalhadores. O trabalho constitui-se por ser um elemento criador da vida humana, num dever e num direito. Um dever a ser aprendido, socializado, desde a infância. Trata-se de aprender que o ser humano – como ser natural – necessita elaborar a natureza, transforma-la, e pelo trabalho extrair dela (da natureza) bens úteis para satisfazer as suas necessidades vitais e socioculturais. Quando não socializa esse valor, a criança e o jovem, por exemplo, tornam-se, ao dizer de Gramsci, “espécies de mamíferos de luzo”, que acham natural viverem do trabalho e da exploração dos outros.
Não se trata de defender a exploração capitalista do trabalho infanto-juvenil, que mutila e degrada a vida da infância e da juventude. Trata-se de educar a criança e o jovem para participar das tarefas da produção, de cuidar de sua própria vida e da vida coletiva e para partilhar de tarefas compatíveis com sua idade. Forma educativa do trabalho. 
Devemos recordar o que diz Marx de que o trabalho é humano, pois implica
intencionalidade e consciência dos seus objetivos ao figurar primeiro na mente um plano antes de executá-lo. Isto implica “liberdade”. Entender a liberdade como “o poder de criar o possível”, proposto por Marilena
Chauí, alarga os horizontes e permite ir além na compreensão do papel do trabalho em nossas vidas. Vez que assim podemos pensar o processo de trabalho como uma ação humana de criação do novo, que faz existir o que não existia. Entender a liberdade como “o poder de criar o possível”, proposto por Marilena
Chauí, alarga os horizontes e permite ir além na compreensão do papel do trabalho em nossas vidas. Vez que assim podemos pensar o processo de trabalho como uma ação humana de criação do novo, que faz existir o que não existia
Nesta acepção a noção de trabalho aqui apresentada, de trabalho ontocriativo, ontológico, como atividade de produção da existência humana, o processo de trabalho assim reconhecido foi reduzido a atividade de produção de mercadorias, ou de venda, transporte, estoque, segurança de mercadorias etc. Reduziu-se a “EMPREGO”, não importando mais o trabalho que se realiza, e sim, só interessa o salário que esta atividade irá render ao final do mês.
Tema: Item 2: A conversão do processo de trabalho em atividade de exploração do homem sobre homem, de alienação do homem no trabalho. 
Tema: Aula 4 – O que é alienação em Marx?
Trabalho como aquilo que é fundamental para o sujeito 
Para Marx, o trabalho é a objetificação da essência humana, por ser o processo de colocar para fora a mais pura humanidade, o esforço material da transformação do mundo e satisfação das necessidades.
Segundo o autor, uma das coisas que nos separa do restante dos animais é a capacidade de modificarmos o ambiente de acordo com nossos projetos (e modificar nossos projetos de acordo com a realidade material), assim, utilizando/fabricando/ produzindo nossas próprias ferramentas de produção. Construir uma ferramenta de produção não é uma coisa qualquer. Se trata de construir um objeto mediador que ajudará na atividade de manipulação e transformação da natureza. A ferramenta é aquilo que auxilia o processo de transformação da realidade. Construir as próprias ferramentas é exercer uma dominação impossível a qualquer outro animal: claro que outros animais também se utilizam de ferramentas, mas, para Marx, não na mesma atividade que a humana.
Para Marx, o papel de determinante social da estrutura econômica não é aleatório, mas é o resultado dela ser a esfera em que sujeitos fazem suas vidas, essa importância fundamental da estrutura econômica e da dinâmica do trabalho enquanto exteriorização da essência ativa de quem trabalha, Marx realiza sua análise daquilo que chama de alienação.
O que é alienação em Marx?
A alienação é um processo de exteriorização de uma essência humana e do não reconhecimento desta atividade enquanto tal. No fim do processo de trabalho, o produto feito se transforma em algo estranho, independente do ser que o produziu. Este estranhamento, esta “diferença de natureza” entre produtor e produto pode ser considerado a cereja do bolo para a concepção da alienação. Marx retrata a alienação 1) em relação ao produto do trabalho, 2) no processo de produção, 3) em relação à existência do indivíduo enquanto membro do gênero humano e 4) em relação aos outros indivíduos.
1) A alienação em relação ao produto do trabalho. Este é o estranhamento em não se reconhecer num produto que tem dentro de si a essência do trabalhador. É a pobreza gerada ao trabalhador enquanto, ao mesmo tempo, se gera a riqueza do capitalista. O exemplo clássico é o da linha de produção, em que o trabalhador não se reconhece no produto final e nem mesmo sabe seu destino. O produto final é do empregador e ele deverá realizar sua venda ou qualquer outra coisa, afinal, é seu e só seu – em suma, o produto final não é ontologicamente de ninguém, é um ser independente, um objeto estranho à “natureza” de qualquer indivíduo que trabalhou nele.
2) A alienação no processo de produção. Esta alienação é o que Marx chama de “alienação ativa” ou “atividade de alienação”. É a constatação básica de que se o trabalhador está alienado em relação ao produto de seu trabalho, então é necessário verificar que isto nãoaconteceu do nada, mas estava presente no próprio processo produtivo. É aqui que percebemos que o trabalho é sofrimento e não realização. O trabalho é forçado, se trabalha para sobreviver e nunca se trabalha somente o necessário. O cotidiano é uma prova desta alienação, já que o trabalho é sempre considerado como o fardo para a sobrevivência. Uma tentativa de fazer do trabalho algo bom é constantemente praticada: tentam colocar palestras motivacionais, um ambiente saudável, incentivam que os indivíduos sigam sua “vocação” e etc. entretanto, mesmo para aqueles que “amam” seu trabalho, ele ainda é feito sob a perspectiva meramente econômica do capitalismo.
Se trata de uma perspectiva mortificante, pois gostar do trabalho é um acidente feliz, não uma propriedade do trabalho. Então se procura um emprego bom para compensar a merda que é ter que trabalhar. 
3) Alienação do sujeito enquanto pertencente ao gênero humano. Aqui Marx salta para a própria característica do humano enquanto ser genérico. Enquanto animal multifacetado com inúmeras potencialidades e capacidades. Quando ele está separado de sua essência, de sua ligação com a comunidade, de seu trabalho, ele se individualiza.
Não é mais membro de sua espécie, é só um indivíduo solitário. O trabalho individualizante é criticado por ser impulsionador da individualização em consonância às transformações do sujeito multifacetado em um sujeito unilateral e único. A única preocupação estrutural é a da própria sobrevivência e ela só acontece com a diminuição do sujeito em um trabalhador. Uma das provas de como este tipo de alienação está enraizado nas atividades de nossa sociedade é o aumento significativo da legitimidade da nova ideologia hedonista e consumista pós-moderna. Segundo as coordenadas culturais desta ideologia, cada indivíduo precisa estar apto e livre para buscar sua felicidade individual, que é reconhecida como o fim último e sentido da vida.
Alienação em relação aos outros homens (sic). Se trata da consequência óbvia da individualização e unilateralização da vida. Quando não se reconhece em seu aspecto mais fundamental, que é o trabalho, e quando ele não é reconhecido como parte essencial da vida humana e do ser humano enquanto gênero/espécie, então não só a própria vida é uma objetificação nociva, mas toda e qualquer vida já não tem seu significado.
Ser alienado enquanto parte da espécie humana, como no terceiro tópico foi explicado, implica em se alienar também dos outros. É neste momento que um mendigo na rua é um ninguém ou um “pobre coitado”. É isso que possibilita avaliar outros de nossa espécie como “recursos humanos”.
A importância da teoria da alienação
A teoria da alienação mostra o vazio do sujeito alienado, mostra a descaracterização da própria humanidade, da essência do sujeito. A sujeito se vê como acidente, não como determinante. Sujeito alienado é aquele que não consegue perceber a possibilidade de uma mudança.
O sujeito que não se reconhece no produto de seu trabalho, que não se satisfaz na sua atividade de trabalho, que não se reconhece enquanto membro de um gênero e que não reconhece a alteridade é um sujeito impotente. É a reprodução perfeita das estruturas vigentes em uma sociedade pautada pelo trabalho e em que a estrutura econômica assume papel determinante. A alienação, antes de ser uma coisa do capitalismo, é algo que existe como pressuposto da propriedade privada. Ou melhor, o nascimento da propriedade privada como algo separado do sujeito que a produz existe juntamente com a alienação do trabalho.
Tema: Aula 5 – Síntese do Item 2: Trabalho estranhado ou de como se forja o ser alienado no trabalho. 
Introdução
Pelo processo de trabalho o ser humano exterioriza suas criações mentais, seus desejos subjetivos, fixa num objeto qualquer aquilo que primeiramente existia em seu espírito apenas como representação ideal, pensamento, objetivando-o, fazendo existir o que não existia, criando o novo e que não existiria sem a ação humana, a isto conhecemos pelo nome: Trabalho.
Porém, isto que em princípio era para ser a marca principal da diferença entre os seres humanos e os demais animais, como aquilo que identificaria a espécie humana, e que diria o que é o homem, ou seja, “o homem é um animal que trabalha” (Homo Faber) e pelo trabalho o homem produz a sua própria existência e se humaniza, foi transformado em uma atividade que degrada o ser do homem que trabalha, desumanizando-o.
Trabalho e Alienação: de como se forja o ser alienado
Trabalho alienado como o aspecto negativo do processo de trabalho quando este passa a ser realizado com base na exploração do homem (proprietário) sobre o homem trabalhador (não-proprietário).
Origem da palavra Trabalho: A palavra trabalho vem de “tripalium” e remonta à sua origem latina. Tripalium (três paus) era um instrumento usado para subjulgar animais e forçar/subjulgar escravos. Basicamente quer dizer castigo. Mesmo antes ser associada aos elementos de tortura medieval, trabalhar significava a perda da liberdade. Quem trabalhava em Roma era o escravo; patrício estava incumbido das atividades políticas. Somente no século XVI, com o Renascimento, cria-se uma economia mundializada, onde o trabalho passa ao seu papel de importância máxima. E aí começa outra mudança: de tarefa árdua para os não livres, passa a ser um enobrecimento, uma atividade humana importantíssima. 
Trabalho, é sentida pelo trabalhador como sofrimento, dor, castigo. Esta percepção é correta, mas devemos salientar que nem sempre foi assim. Esta noção negativa do trabalho está associada ao surgimento da propriedade privada e à divisão da sociedade em classes sociais, principalmente a divisão entre os proprietários e os não-proprietários. Cabendo aos não-proprietários a incumbência de trabalhar para sustentar a si e aos proprietários. Este sofrimento vem daí. Desde então toda a experiência histórica que se tem de trabalho produtivo está associada a exploração de muitos seres humanos por uns poucos homens, beneficiados pelo trabalho daqueles.
Esta situação irá provocar nos produtores diretos, nos trabalhadores, uma sensação de estranhamento com o trabalho que executam, pois nada nele, ou quase nada, tem que seja positivo e agradável. Realizam o seu trabalho por pura necessidade e obrigação, por uma questão de sobrevivência. Perdeu-se completamente a noção do trabalho como uma atividade de satisfação de uma carência, como meio de produção da existência humana. Por isto ele irá buscar essa satisfação fora do trabalho.
Conforme afirmam ALVES e RODRIGUES (Texto 03, p. 66), O trabalhador, no Capitalismo, não vê a hora que chegue ao final de semana para fazer o que gosta e se angustia no domingo à noite quando percebe que a segunda-feira se aproxima. Por isto, dirá Marx, o trabalhador se sente mais humano (livre e ativo) fora do trabalho, posto que no trabalho ele se sente uma espécie de animal, um “burro-de-carga”. Daí o caráter desumanizador do trabalho nas condições atuais, capitalistas.
O trabalho como exploração, tem o aspecto de ser um trabalho alienado, o que se opõe ao trabalho como criação e produção do novo, que faz existir o que não existia, mas feito por opção e não por obrigação. O trabalho como atividade de transformação e criação de coisas úteis aos seres humanos carece de um sentido em si, de significado para aquele que atua na produção. Nas sociedades atuais, capitalistas. Trabalha-se por um salário, não importando o que se faz, o trabalho em si.
Mito de Sísifo
Em um conhecido mito grego, Sísifo, um rei inteligente de Corinto, decidiu desafiar os deuses. Por duas vezes, conseguiu iludir a morte. Para punir o seu orgulho, os deuses decidiram atribuir-lhe uma tarefa tortuosa no mundo subterrâneo: empurrar um rochedo colina acima, que rolaria depois até ao sopé, e de novo teria de ser empurrado até ao cume. Esta tarefa foi-lhe destinada até à eternidade. A rotina da maioria daqueles-que-vivem-do-trabalho pode ser comparada ao castigo ao qual fora condenado Sísifo, acordar cedo e ir trabalhar (empurraro rochedo colina acima), após a jornada de trabalho voltar para casa (o rochedo rola depois até ao sopé, e de novo teria de ser empurrado até ao cume), de novo acordar cedo e ir trabalhar
(Esta tarefa foi-lhe destinada até a eternidade), uma coisa que parece não ter fim.
Este termo vem de alienação e a palavra alienação significa, etimologicamente, tornar-se estranho a si próprio. O trabalhador e o capitalista, perante a lei, ambos são proprietários e livres. Ocorre que o capitalista é o proprietário dos meios de produção (fábrica, loja, maquinários, prédio, terras etc.) e do capital. O trabalhador, por sua vez, é também proprietário, mas apenas da sua própria força de trabalho, da sua capacidade de trabalhar, manual e intelectualmente. Nas relações de produção que se estabelecem sob a lógica do capital, o capitalista compra a força de trabalho do trabalhador, e o trabalhador vende livremente para o capitalista por uma quantia “x” de salário. Esta venda da força de trabalho do trabalhador para o capitalista é o que se chama de alienação. O trabalhador “aliena” sua capacidade de trabalhar em troca de um salário.
Modo de Produção Comunal
A organização da vida social e da produção material estava baseada na propriedade coletiva dos meios de produção fundamentais: terra, animais, instrumentos etc. e o produto do trabalho era compartilhado entre todos, num sistema em que “todos viviam do trabalho de todos”, gerando relações de companheirismo e ajuda mútua;
Modo de Produção Escravista
A sociedade passe a se organizar com base a propriedade privada/individual dos meios de produção e o produto do trabalho passa a ser a partir de então apenas do proprietário. A produção estava baseada no trabalho forçado, obrigatório, em regime de escravidão, num sistema em que “O proprietário vivia do trabalho dos escravos e não mais do próprio trabalho”, gerando relações de antagonismo e oposição.
Modo de Produção Feudal
Sociedade organizada com base na propriedade privada/individual do meios de produção e o produto do trabalho era apenas do proprietário. Produção baseada no trabalho servil.
Modo de Produção Capitalista (atual)
Organizada com base na propriedade privada/individual dos meios de produção, onde o produto do trabalho são propriedade exclusiva do capitalista. O modo de produção se altera, o trabalho é livre, não obrigatório, no trabalho assalariado (alienado). 
Formação do ser Alienado 
Manufatura
Nasce quando são concentrados numa oficina, sob o comando do mesmo capitalista, trabalhadores de ofícios diversos e independentes, por cujas mãos tem de passar um produto até seu acabamento final. 
Divisão do Trabalho
Se antes o mestre-artesão necessitava conhecer muito bem o seu oficio, em todos os sentidos, de modo integral, agora, com o trabalho parcelado, criou-se a figura do assalariado, um indivíduo sem qualificação especifica. 
Heterogestão
Gestão de outro/de fora/externa; neste sentido de contrapõe a autogestão = gestão de si mesmo, que é delegada a outro no processo de trabalho; A pessoa alienada, de certa forma, não se reconhece em suas atividades, essas atividades constituem uma ação automática, não reflexiva, não criativa. O alienado não se realiza em suas atividades, pois estas lhes são totalmente estranhas. Cumpre agora recuperar o sentido originário do trabalho como princípio ontológico da existência humana, onde, segundo Marx, seja abolida toda forma de exploração de uns sobre os outros, e instaurar um novo tempo em que todos vivam do trabalho de todos e que todos tenham acesso aos produtos do trabalho de uns e de outros em igualdade de condições. Para que esta situação permaneça inalterada e perpetue-se tal como está, tais condições precisam ser reproduzidas diariamente. Para atender a esta necessidade criaram-se diversos mecanismos de reprodução social desse sistema, dentre eles, talvez o mais importante, a escola. A qual atua como aparelho ideológico de reprodução dos “funcionários” que estarão a serviço do sistema em todos os níveis e escalões do poder, no âmbito dos serviços públicos e privados, bem como tem a função de contribuir para a conquista e manutenção da hegemonia do status quo estabelecido convencendo a maioria de que o modo de vida social atual é o melhor possível, quiçá o único e para todo o sempre.
É possível libertar-se de realizar um trabalho alienado ou como alcançar a sua emancipação humana no trabalho, dizemos que sim, porém, de forma plena isto só é possível num outro tipo de sociedade ou modo de produção, diferente do atual, capitalista. É importante fazer notar que tal consciência de classe não se dá por um convencimento teórico, abstrato, depois de uma aula ou palestra sobre o conceito de alienação, isto até pode acontecer, no entanto, é a partir das próprias vivências do trabalhador no processo de trabalho concreto que as contradições da sua real situação são percebidas de forma mais firme, duradoura e verdadeira. Chegada à esta fase ele dificilmente voltará a ser como antes, subalterno e submisso, aceitando passivamente o que lhe é imposto sem “gritar”, sem luta.
Tema: Item 03: Trabalho, Educação e Escola: origens e finalidades do processo educativo baseado na escola. 
Tema: Aula 6 – Savani. O trabalho como princípio educativo frente às novas tecnologias (p. 01 até p.4)
Considerando-se que na atualidade educação tende a coincidir com escola (esse tema será retomado mais adiante), a tendência dominante é a de situar a educação no âmbito do não trabalho. Daí o caráter improdutivo da educação, isto é, o seu entendimento como um bem de consumo, objeto de fruição.
Essa situação tendeu a se alterar a partir da década de 60 com o surgimento da "teoria do capital humano", passando a educação a ser entendida como algo não meramente ornamental mas decisivo para o desenvolvimento econômico. Postula-se, assim, uma estreita ligação entre educação (escola) e trabalho; isto é, considera-se que a educação potencializa trabalho. A educação é funcional ao sistema capitalista, não apenas ideologicamente, mas também economicamente, enquanto qualificadora da mão-de-obra (força de trabalho). Educadores têm oscilado ao considerar a educação apenas em termos gerais, com ou sem referências à formação vocacional e profissional, ou propondo um sistema dualista com a formação geral desvinculada da formação profissional ou, ainda, concebendo uma escola única que pretenderia articular educação geral e formação profissional.
Educação e Trabalho: As Origens
O ato de agir sobre a natureza, adaptando-a às necessidades humanas, é o que conhecemos pelo nome de trabalho. Inicialmente prevalecia o modo de produção comunal, o que hoje chamamos de "comunismo primitivo". Não havia classes. Tudo era feito em comum: os homens Produziam sua existência em comum e se educavam neste próprio processo. Lidando com a terra, lidando com a natureza, se relacionando uns com os outros, os homens se educavam e educavam as novas gerações. A medida em que ele se fixa na terra, que então era considerada o principal meio de produção, surge a propriedade privada. A apropriação privada da terra divide os homens em classes.
Se antes, no comunismo primitivo, a educação coincidia inteiramente com o próprio processo de trabalho, a partir do advento da sociedade de classes, com o aparecimento de uma classe que não precisa trabalhar para viver, surge uma educação diferenciada. E é aí que está localizada a origem da escola. A palavra escola em grego significa o lugar do ócio. Portanto, a escola era o lugar a que tinham acesso as classes ociosas. A classe dominante, a classe dos proprietários, tinha uma educação diferenciada que era a educação escolar. Por contraposição, a educação geral, a educação da maioria era o próprio trabalho: o povo se educava no próprio processo de trabalho. Era o aprender fazendo. Aprendia lidando com a realidade, aprendia agindo sobre a matéria, transformando-a.
Idade Média: Escola e Produção 
Algumas características da sociedade antiga persistem na Idade Média, no modo de produçãofeudal, porque, assim como na Antiguidade, também na Idade Média o meio dominante de produção era a terra e a forma econômica dominante era a agricultura. Temos, na Idade Média, as escolas paroquiais, as escolas catedralícias e as escolas monacais que eram as escolas que se destinavam à educação da classe dominante. As atividades que constituíam a educação dessas classes se traduziam em formas de ocupação do ócio, como na
Antiguidade. A origem do burguês é o habitante do burgo, ou seja, o habitante da cidade. Através do comércio, ele foi acumulando capital que, em seguida, passou a ser investido na própria produção, originando assim a indústria. Estes processos de transformação conduziram ao deslocamento do eixo do processo produtivo do campo para a cidade, da agricultura para a indústria. Temos, então, a partir deste processo, a constituição de um novo modo de produção que é o capitalista ou burguês, ou modo de produção moderno.
Educação e Modo de Produção Capitalista
Neste sentido, diferentemente da Idade Média onde era a cidade que se subordinava ao campo, a indústria à agricultura, na época moderna, inverte-se a relação e é o campo que se subordina à cidade; é a agricultura que se subordina à indústria. Por isso, na sociedade capitalista, a agricultura tende a assumir cada vez mais a forma da indústria, tende a se mecanizar e adotar formas industriais e a se desenvolver segundo determinados insumos, insumos esses que são produzidos segundo a forma industrial. Esta sociedade rompe as relações dominantemente naturais que prevaleciam até a Idade
Média, ou seja, dado que até aí a forma de produção dominante era lidar com a terra, as relações também dominantes eram do tipo natural e se constituíam comunidades segundo laços de sangue. Daí o caráter estratificado, hereditário: a nobreza passava de pai para filho, a servidão também passava de pai para filho. Na sociedade moderna, capitalista, as relações deixam de ser naturais para serem dominantemente sociais. Neste sentido é que a sociedade capitalista rompe com a ideia de comunidade para trazer, com toda a força, a ideia de sociedade. Sendo assim, a sociedade capitalista traz a marca de um rompimento com a estratificação de classes. A sociedade deixa de se organizar segundo o direito natural, mas passa a se organizar segundo o direito positivo, um direito estabelecido formalmente por convenção contratual.
A noção de liberdade, como princípio do modo de organização da sociedade moderna, que está caracterizada na ideologia do liberalismo, significa que cada um é livre para dispor de sua propriedade.
Considera-se o trabalhador como proprietário da força de trabalho e que vende essa força de trabalho mediante contrato celebrado com o capitalista. Isto rompe com o caráter servil da Idade Média. A sociedade moderna arranca o trabalhador do vínculo com a terra e o despoja de todos os seus meios de existência. Ele fica exclusivamente com sua força de trabalho, obrigado, portanto, a operá-la com meios de produção que são alheios.
Tema: Aula 2 – RAMOS. Capítulo 2: Gênese e história da relação entre trabalho e educação (Ler: p. 98-102).
Nas comunidades primitivas, os homens se apropriavam coletivamente dos meios de produção da existência, e nesse processo se educavam e educavam as novas gerações, de tal modo que a educação se identificava com a vida, com a sua produção. Nisto se assentam, como diz o autor referido, os fundamentos histórico ontológicos da relação trabalho-educação. Históricos porque relativos a um processo produzido e desenvolvido ao longo do tempo pela ação dos próprios homens; ontológicos porque o produto dessa ação, o resultado desse processo é o próprio ser dos homens. O trabalho que predomina sob a perspectiva ontológica efetiva-se, concretiza-se em coisas, objetos, formas, gestos, palavras, cores, sons, em realizações materiais e espirituais. Inicialmente, o valor dos produtos é determinado exclusivamente por sua utilidade; as coisas se constituem, para o ser, em “valores de uso”. Também nesses produtos estão a marca, a lembrança, a expressão de nossas necessidades, esforços e habilidades. Nós nos percebemos “concretamente” no ato e no produto desse tipo de trabalho, ao qual Marx se refere como trabalho concreto. O trabalho concreto corresponde à utilidade do produto (valor de uso), à dimensão qualitativa dos diversos trabalhos úteis.
A divisão do trabalho acompanha a apropriação privada da terra, então o principal meio de produção, gerando a divisão dos homens em classes: a dos proprietários e a dos não proprietários dos meios de produção.
Com a divisão de classes, desde o escravismo antigo até o capitalismo, aqueles que não possuem os meios de produção se convertem de sujeito a objeto da produção. A educação desses homens, assim, também se reduz a processo de adequação deles à produção. De fato, como explica Saviani (2007a), a partir do escravismo antigo, passaremos a ter duas modalidades distintas e separadas de educação: uma para a classe proprietária, identificada como a educação dos homens livres, e outra para a classe não proprietária, identificada como a educação dos escravos e serviçais.
Tema: Aula 7 – Síntese do Item 03 – Unidade I. Da origem e finalidades do processo educativo baseado na escola.
Há uma relação intrínseca entre a educação ou o processo educativo e a necessidade de o ser humano trabalhar para extrair da natureza tudo do que precisa para sobreviver. A educação aparece aqui como ato segundo, derivado, porque a sua função social é a de reproduzir para as novas gerações os conhecimentos desenvolvidos pelas gerações mais velhas no passado até o presente momento.
A criança será inserida na vida social do grupo onde nasceu e deste grupo irá aprender os elementos fundamentais para poder viver neste mundo, conforme as considerações, costumes e tradições desse seu grupo social. Cada grupo social somente pode ensinar ao novo membro, recém-chegado, à criança, aquilo que esse grupo efetivamente conhece e reconhece como o modo mais adequado de se viver e sobreviver.
O que, por sua vez, aprenderam dos grupos antes deles, ao qual acrescentaram as suas próprias experiências, invenções e criações desde as gerações dos seus antepassados até o nascimento desse novo membro, ao qual será repassado pelo grupo conforme o processo educativo que lhe é próprio, tais conhecimentos, costumes, técnicas etc.
Então aqui já temos um primeiro ponto, qual seja, a escola surge em determinado momento histórico e social como uma modalidade específica de educação diferenciada da educação em geral pela qual passavam as gerações anteriores. Que o trabalho e a educação são tão antigos quanto os seres humanos, ou seja, desde que o homem existe ele teve a necessidade de trabalhar, isto é, de agir sobre a natureza para transformá-la e de criar coisas úteis para o consumo e o bem-estar humanos, bem como teve a necessidade de se educar, ou seja, de passar para as novas gerações o domínio dos conhecimentos adquiridos pelos humanos em cada momento da sua história.
E mais ainda: diz Saviani que nesta fase existia educação, mas não existia ainda a escola. Tratava-se de uma educação prática, empírica, adquirida com a experiência.
Aprendia-se a trabalhar, trabalhando; aprendia-se a viver, vivendo. A escola irá surgir muito muito tempo depois, ela surge mais recentemente na história da humanidade, em especial no mundo grego e romano, e a sua origem está associada ao surgimento da propriedade privada dos meios de produção.
Saviani afirma que a origem da escola está associada ao surgimento da propriedade privada. A propriedade privada surge quando se passa das sociedades nômades para as sociedades sedentárias. No nomadismo, quando se vivia da caça, coleta e pesca, os grupos humanos ainda não tinham aprendido a produzir o seu próprio alimento e nem a domesticar os animais. Viviam daquilo que a natureza provinha.
Era o denominado modo de produção comunal, quando se tinha tudo em comum, isto é, neste tipo de sociedade os produtos do trabalho individualde cada membro da comunidade eram colocados à disposição de todos, partilhados em comum, daí a afirmação de Saviani de que neste modo de produção “todos viviam do trabalho de todos”.
Ao passar para o período sedentário, quando os seres humanos aprendem a cultivar alimentos e a domesticar os animais, eles precisam se fixar em determinado território para cuidar da lavoura e dos animais. Neste processo passaram a ter mais tempo livre e aproveitavam esse tempo para aperfeiçoar os seus instrumentos e as suas técnicas de trabalho. Isto com o tempo ajudou a melhorar a capacidade produtiva do grupo ao ponto de produzirem mais do que a capacidade de consumo de toda a comunidade.
As sobras se estragavam e foi neste momento que surgiu a ideia de trocar o seu excedente de produção (as suas sobras) com outras comunidades vizinhas por outras coisas que não possuíam ou tinham em menor quantidade. E isto é o que se conhece pelo nome de “escambo”, ou seja, a troca de um produto por outro, o que dá origem às primeiras formas de mercado. Com o passar o tempo, à medida que os mercados foram criados e ampliados, foi surgindo na antiguidade a necessidade de ampliar a quantidade dos excedentes de produção para aumentar consequentemente as possibilidades de trocas por mais coisas que gostariam de ter ou tinham em menor quantidade. Quanto mais produto excedente, mais coisas podiam adquirir (trocar ou comprar). Os ganhos alcançados com a produção dos excedentes econômicos, as mercadorias que eram vendidas ou trocadas nos mercados, o que se conseguia em troca era posto a serviço e para o consumo de toda a comunidade em igualdade de condições. Só para lembrar o que já disse Saviani, nesta fase “todos viviam do trabalho de todos”. A propriedade era coletiva, ou seja, os meios de produção tais como a terra, os animais, os instrumentos de trabalho etc. eram de todos, ninguém se dizia dono disto ou daquilo, portanto, sendo a propriedade dos meios de produção coletiva, os produtos criados por estes meios, as mercadorias, também eram de todos. Aqui devemos esclarecer um aspecto que gera muita confusão quando se trata de falar de “propriedade privada”, o que era coletivo eram os meios de produção e não os bens de produção. Isto é, a terra, os animais e os instrumentos de trabalho é que eram propriedade coletiva, mas os bens produzidos, roupas, alimentos, abrigo etc., estes que eram privados, cada um deveria ter o seu, em igualdade de condições aos demais.
Bem, então, quando se fala da origem da propriedade privada, se quer dizer do processo quando na história, além dos bens de produção privados, os meios de produção também passaram a ser privados. Passaram a pertencer apenas a uma família ou a um pequeno grupo, deixando o restante da comunidade sem tais meios de sobrevivência.
Chega-se a um ponto que algumas famílias começaram a concentrar para si as melhores faixas de terras e os melhores animais e, consequentemente, a exigir uma parcela maior para si da partilha dos produtos adquiridos com a troca proveniente do excedente produzido, alegando que eles contribuíram mais então teriam mais direito do que a maioria. Ou simplesmente impuseram pela força sua vontade e retiraram a propriedade do conjunto do grupo, apropriando-se privadamente dos meios de produção. Como consequência detinham também o domínio sobre os bens de produção e passaram a distribuí-los aos demais da comunidade a partir dos seus interesses e conveniências.
Disto irá resultar aos poucos a noção de “propriedade privada”, particular, dos principais meios de produção da época.
Assim, os proprietários passaram a dominar a comunidade e, por conseguinte, o excedente de produção, passaram também a se sentir no direito de não mais precisarem trabalhar na terra para o próprio sustento, forçando toda a comunidade, depois de subjugada, a trabalhar para o seu próprio sustento e para sustentar os novos donos da terra. Se antes todos viviam do trabalho de todos, a partir deste momento “alguns passaram a poder viver do trabalho dos outros”.
Surge a partir daí o trabalho como exploração e não mais como meio próprio de vida e de subsistência. E a maior exploração de todas que foi o trabalho forçado, trabalho escravo, conhecido como Modo de Produção Escravista Dando um salto na história, passados alguns milhares de anos, dentre as muitas coisas as quais os proprietários passaram a se dedicar em seu tempo livre irá surgir a scholé (lugar do ócio). Mas não era um lugar de não se fazer nada, ao contrário, era o lugar para onde eram enviadas as crianças que não precisavam trabalhar para viver. Os filhos dos proprietários. Lá eles aprendiam e dominavam os conhecimentos e técnicas necessários para dirigirem os trabalhos da mente, os quais exigiam esforço mental e intelectual. Não se exerciam atividades manuais, consideradas indignas do homem livre, vez que eram atividades próprias de escravos ou serviçais.
As demais crianças, filhas dos não-proprietários, estavam impedidas de frequentar a scholé, restrita aos nobres e aristocratas, mas também passavam por um processo de educação pelo qual aprendiam e dominavam os conhecimentos e técnicas necessários para dirigirem os trabalhos das mãos, os quais exigiam esforço físico e manual, para o trabalho produtivo que deveriam exercer a serviço dos nobres e proprietários.
É neste contexto que teve origem a escola, como scholé, uma modalidade restrita de educação, destinada apenas para aqueles que viviam do trabalho de outros homens, pois, a maioria continuava a se educar como sempre se fez, no próprio trabalho e na vida. A escola nasce com esta marca congênita baseada na divisão entre trabalho intelectual e trabalho manual, resultante da divisão de classe da sociedade entre proprietários e não proprietários, fruto do surgimento da propriedade privada dos meios de produção. Isto perdurou até o fim da Idade Média, sofrendo drástica mudança durante as Revoluções
Burguesas no Período Moderno. Todavia, para a classe trabalhadora, os não proprietários, na essência, as coisas não mudaram tanto assim. O que será evidenciado mais adiante. Não mudaram, pois, alterou-se a forma, mas não a lógica de organização e funcionamento da sociedade, vez que não se alterou, substancialmente, o regime de propriedade. Prevalecendo o regime da propriedade privada dos meios de produção em detrimento do regime da propriedade coletiva.
UNIDADE II: Da universalização da escola como modelo principal de educação para todos
Tema: Aula 6 – O trabalho como princípio educativo frente às novas tecnologias (Ler da p. 04 até o final) 
A escola na sociedade moderna
Todo o Desenvolvimento científico da Época Moderna se dirigia ao domínio da natureza: sujeitar a natureza aos desígnios do homem, transformar os conhecimentos em meios de produção material. E a indústria não é outra coisa senão o processo pelo qual se incorpora a ciência, como potência material, no processo produtivo. Se se trata de uma sociedade baseada na cidade e na indústria, se a cidade é algo construído, artificial, não mais algo natural, isto vai implicar que está sociedade organizada à base do direito positivo também vai trazer consigo a necessidade de generalização da escrita. A escola está ligada a este processo, como agência educativa ligada às necessidades do progresso, às necessidades de hábitos civilizados, que corresponde à vida nas cidades. E a isto também está ligado o papel político da educação escolar enquanto formação para a cidadania, formação do cidadão. Significa formar para a vida na cidade, para ser sujeito de direitos e deveres na vida da sociedade moderna, centrada na cidade e na indústria. O que tivemos com este processo? Que a forma escolar emerge como forma dominante de educação na sociedade atual. Isto a tal ponto que a forma escolar passa a ser confundida com a educação propriamente dita. Assim, hoje, quando pensamos em educação, automaticamente pensamos em escola. E por isso que quando se levantam bandeiras em prol da educação, o que está em causa é o problema escolar.
Se a educaçãoescolar é a forma dominante na sociedade atual, compreende-se por que as demais formas de educação, ainda que subsistam na sociedade moderna, passam para um plano secundário, se subordinam à escola e são aferidas a partir da escola. Hoje em dia a uma verdadeira hipertrofia da escola. Em outros termos: tende-se a considerar e a atribuir à escola tudo aquilo que é educativo; a escola tem que absorver todas as funções educativas que antes eram desenvolvidas fora da escola, já que hoje há uma tendência a esperar que as mesmas sejam desenvolvidas dentro da escola. A função educativa que antes se acreditava ser própria da família agora passa a assumir a forma escolar.
Além disto, também se reivindica que a escola, no seu interior, assuma encargos que extrapolam aquilo que é especificamente pedagógico. Começa-se a introduzir no currículo toda uma série de atividades que se imagina que tenha alguma função educativa, portanto, deve ser tratada dentro da escola. Mas existem as atividades extracurriculares, como a merenda escolar que envolve o sentido mais amplo que a educação possa assumir, inclusive o sentido latino de educar enquanto alimentar, portanto propiciar o crescimento físico no sentido literal da palavra; e se reivindica que a escola exerça também este tipo de função. Se se trata de um tipo de sociedade onde a forma escolar é dominante e ela é que define a educação, as demais formas são aferidas a partir dela.
A contradição do processo escolar
A contradição entre as classes marca a questão educacional e o papel da escola. Quando a sociedade capitalista tende a generalizar a escola, esta generalização aparece de forma contraditória, porque a sociedade burguesa preconizou a generalização da educação escolar básica. Sobre esta base comum, ela reconstituiu a diferença entre as escolas de elite, destinadas predominantemente à formação intelectual, e as escolas para as massas, que ou se limitam à escolaridade básica ou, na medida que têm prosseguimento, ficam restritas a determinadas habilitações profissionais. 
Os ideólogos da burguesia proclamaram a escola universal, gratuita e obrigatória, portanto, uma escolaridade comum para todos, porque isto correspondia ao caráter da burguesia revolucionária que expressava seus interesses em termos universais. Neste sentido o acesso ao saber, à cultura letrada, o domínio dos números, dos elementos necessários para conhecer cientificamente a realidade era considerado um direito de todos os homens. Dessa maneira, a burguesia se contrapunha aos privilégios de que gozavam a nobreza e o clero. Mas esta pregação universal já apareceu de forma diferenciada no discurso da economia política clássica. Ali os teóricos da economia política localizavam com mais realismo a questão da escola. Alguns deles chegavam a afirmar que a escola era totalmente dispensável para os trabalhadores, que a instrução escolar era tempo roubado à produção; que enquanto as crianças estavam nas escolas, não estavam colaborando com a produção e, portanto, com o crescimento da mais valia, ou seja, com o crescimento e acumulação do capital. Mas os teóricos da economia política mais perspicazes, que captavam de forma mais objetiva o processo da sociedade burguesa, percebiam que a instrução escolar estava ligada a uma tendência modernizadora, a uma tendência de desenvolvimento própria de uma sociedade mais avançada. Na sociedade moderna, o saber é força produtiva. A sociedade capitalista é baseada na propriedade privada dos meios de produção. Se os meios de produção são propriedade privada, isto significa que são exclusivos da classe dominante, da burguesia, dos capitalistas. Se o saber é força produtiva deve ser propriedade privada da burguesia. Na medida em que o saber se generaliza e é apropriado por todos, então os trabalhadores passam a ser proprietários de meios de produção. Mas é da essência da sociedade capitalista que o trabalhador só detenha a força de trabalho. Aí está a contradição que se insere na essência do capitalismo: o trabalhador não pode ter meio de produção, não pode deter o saber, mas, sem o saber, ele também não pode produzir, porque para transformar a matéria precisa dominar algum tipo de saber. Assim é que, desde suas origens, a escola foi posta do lado do trabalho intelectual, constituindo-se num instrumento para a preparação dos futuros dirigentes que se exercitavam não apenas nas funções da guerra (liderança militar), mas também nas funções de mando (liderança política), através do domínio da arte da palavra e do conhecimento dos fenômenos naturais e das regras de convivência social.
Dir-se-ia, pois, que à Revolução Industrial correspondeu uma Revolução Educacional. Aquela colocou a máquina no centro do processo produtivo; esta erigiu a escola em forma principal e dominante de educação.
A universalização da escola primária promoveu a socialização dos indivíduos nas formas de convivência próprias da sociedade moderna. Familiarizando-os com os códigos formais integrantes do universo da cultura letrada, que é o mesmo da indústria moderna, capacitou-os a integrar o processo produtivo. Assim, a introdução da maquinaria eliminou a exigência de qualificação específica, mas impôs um patamar mínimo de qualificação geral, equacionado no currículo da escola primária. Preenchido esse requisito, os trabalhadores estavam em condições de conviver com as máquinas, operando-as sem maiores dificuldades. Mas, além do trabalho de operar com as máquinas, era necessário também realizar atividades de manutenção, reparos, ajustes, assim como o desenvolvimento e adaptação a novas circunstâncias.
Subsistiram, assim, no interior da produção, tarefas que exigiam determinadas qualificações específicas, obtidas por um preparo intelectual também específico. Esse espaço foi ocupado pelos cursos profissionais organizados no âmbito das empresas ou do sistema de ensino, tendo como referência o padrão escolar, mas determinados diretamente pelas necessidades do processo produtivo. Portanto, sobre a base geral e comum da escola primária, o sistema de ensino se bifurcou entre as escolas de formação geral e as escolas profissionais. Estas, por não estarem diretamente ligadas à produção, tenderam a enfatizar as qualificações gerais (intelectuais) em detrimento da qualificação específica, ao passo que os cursos profissionalizantes, diretamente ligados à produção, enfatizaram os aspectos operacionais vinculados ao exercício de tarefas específicas (intelectuais e manuais) no processo produtivo considerado em sua particularidade.
Novas tecnologias e educativo
Estamos vivendo aquilo que alguns chamam de Segunda Revolução Industrial1 ou Revolução da Informática ou Revolução da Automação. Hoje está ocorrendo é a transferência das próprias operações. Intelectuais para as máquinas. Por isso também se diz que estamos na "era das máquinas inteligentes". Em consequência, também as qualificações intelectuais específicas tendem a desaparecer, o que traz como contrapartida a elevação do patamar de qualificação geral. Parece, pois, que estamos atingindo o limiar da consumação do processo de constituição da escola como forma principal, dominante e generalizada de educação. Se assim for, a universalização de uma escola unitária que desenvolva ao máximo as potencialidades dos indivíduos, formação omnilateral conduzindo-os ao desabrochar pleno de suas faculdades espirituais-intelectuais, estaria deixando o terreno da utopia e da mera aspiração ideológica, moral ou romântica para se converter numa exigência posta pelo próprio desenvolvimento do processo produtivo. Indícios dessa tendência estão aparecendo cada vez mais fortemente como se vê pela universalização do ensino médio, já real em vários países, e pela perspectiva de universalização do ensino superior, assim como pela convicção crescente, inclusive entre os empresários, de que o que importa, de fato, é uma formação geral sólida, a capacidade de manejar conceitos, o desenvolvimento do pensamento abstrato. O processo de produção se automatiza, vale dizer, se toma autônomo,auto-regulável, liberando o homem para a esfera do não-trabalho. Generaliza-se, assim, o direito ao lazer ou, como dizia Lafargue, o "direito à preguiça", atingindo-se o "reino da liberdade" próprio da "sociedade regulada" nas palavras de Gramsci.
Em suma, pode-se afirmar que o trabalho foi, é e continuará sendo princípio educativo do sistema de ensino em seu conjunto. Determinou o seu surgimento sobre a base da escola primária, o seu desenvolvimento e diversificação e tende a determinar, no contexto das tecnologias avançadas, a sua unificação.
A incorporação das novas tecnologias por empresas brasileiras nas atuais circunstâncias, além de pôr em evidência o atraso em que nos encontramos em matéria de educação, terá, espera-se, o papel de acentuar o sentimento de urgência na realização da meta de universalizar a escola básica, a antiga escola primária com o seu currículo já clássico, como ponto de partida para a construção de um sistema educacional unificado em correspondência com as exigências da nova era em que estamos ingressando.
Tema: Aula 2 – A especificidade da relação trabalho e educação no capitalismo (Ler p. 102-108).
Como processo ontológico, a produção de qualquer valor destinado à satisfação das necessidades humanas por meio do trabalho103 implica apropriação, transformação, criação e recriação da natureza, proporcionando, ao mesmo tempo, a compreensão de sua constituição pelo ser humano, bem como das potencialidades e dos limites a serem superados para que ela possa ser apropriada e transformada humanamente. Portanto, além de bens e serviços, o trabalho também produz conhecimentos, que podemos definir como resultados de um processo empreendido pela humanidade na busca da compreensão e transformação dos fenômenos naturais e sociais.
Conhecimentos desenvolvidos e apropriados socialmente para a transformação das condições naturais da vida e a ampliação das capacidades, das potencialidades e dos sentidos humanos constituem o processo histórico de produção científica e tecnológica. Ciência e tecnologia são, portanto, forças produtivas.
Nas sociedades pré-capitalistas, em que os produtos e serviços necessários à população eram realizados por trabalhadores autônomos – o artesão e o camponês, por exemplo –, os conhecimentos envolvidos no trabalho eram exigidos e desenvolvidos diretamente por esses trabalhadores. Na produção capitalista, porém, esses conhecimentos passam a ser exigidos apenas pela produção combinada em seu conjunto, separando-se do trabalhador individual, assim como dele se separa o próprio produto e seu valor de uso.
Ocorre, então, a divisão entre as esferas do conhecimento e da produção; da ciência e da técnica; da teoria e da prática. Em outras palavras, o trabalho se divide entre trabalho intelectual e trabalho manual. O trabalhador, em vez de sujeito de conhecimento, de reflexão e imaginação, passa a ser considerado parte das máquinas. O parcelamento do trabalho em tarefas simples, realizadas pelos trabalhadores individuais, relacionados entre si pelo trabalho abstrato, se consolida com essa divisão fundamental entre trabalho intelectual e trabalho manual. Esse parcelamento reduz a complexidade da produção de uma mercadoria ou de um serviço completos – o trabalho complexo – ao conjunto de tarefas simples destinadas a produzir as respectivas partes. Por isto, do trabalhador não são exigidos mais conhecimentos do que aqueles estritamente necessários para realizar operações simples e para proporcionar uma adaptação psicofísica a essa nova forma de dividir o trabalho.
O trabalho simples, portanto, é aquele reduzido à indiferença de quem o realiza, já que, para isto, não são exigidos mais do que conhecimentos elementares como ler, escrever e contar, além de rudimentos técnico-procedimentais para o exercício das tarefas. Já o trabalho mais complexo se realiza por uma força de trabalho na qual entram custos mais altos de formação, cujo valor é mais elevado do que a força de trabalho simples. Essa diferenciação advém da divisão do trabalho que configura o trabalho abstrato.
Esse fenômeno se evidencia com o advento da indústria moderna e a conversão da ciência em força produtiva, processo que se aprofunda e se generaliza com a Revolução Industrial. A simplificação do trabalho se manifesta com o processo de transferência para as máquinas das funções próprias do trabalho manual. Considerada exclusivamente do ponto de vista do parcelamento e da simplificação do trabalho, a educação escolar do trabalhador não seria imediatamente necessária, já que as tarefas podiam ser rapidamente aprendidas no próprio posto de trabalho. Não obstante, como diz Saviani (2007a), se a máquina viabilizou a materialização das funções intelectuais no processo produtivo, a via para se objetivar a generalização das funções intelectuais na sociedade foi a escola, de forma que à Revolução Industrial correspondeu uma Revolução Educacional: aquela colocou a máquina no centro do processo produtivo; esta erigiu a escola em forma principal e dominante de educação.
Foi também na perspectiva de formar os filhos dos trabalhadores, seus futuros substitutos, que se empreendeu a instalação de escolas destinadas menos ao ensinamento de técnicas de trabalho e mais à adaptação dessas crianças à rotina e ao ritmo de trabalho com disciplina e docilidade. O avanço das relações capitalistas de produção levou também à ampliação das finalidades da escola, pois a proliferação da indústria passou a exigir um novo tipo de trabalhador. Era preciso também aceitar trabalhar para outro e fazê-lo nas condições que este outro lhe impusesse. É a educação oferecida desde a infância que formará as crianças (os adultos das gerações seguintes) desde cedo, de acordo com as necessidades da nova ordem capitalista e industrial, as novas relações de produção e os novos processos de trabalho. Assim sendo, o ensino levado a cabo pelas escolas destinadas a formar trabalhadores já não visava somente ao ato de disciplinar, mas conferir ao trabalhador o domínio de um ofício. A formação para o trabalho passou a significar a formação profissional, enquanto as profissões passaram a ser classificadas de acordo com o seu nível de complexidade que, por sua vez, mantém relação com o nível de escolaridade necessário para o desenvolvimento de cada uma delas.
Podemos, desta forma, perceber que a educação da classe trabalhadora no capitalismo, é subsumida à necessidade da reprodução da força de trabalho como mercadoria. A educação de caráter geral, clássico e científico, destinava-se à formação das elites dirigentes e dos que exerceriam o trabalho intelectual.
A relação entre trabalho e educação se manifestou, assim, na proposta dualista de escolas profissionais para os trabalhadores e escolas de formação geral para os futuros dirigentes, que perdura até os tempos atuais.
Tema: Aula 8 – Síntese da Unidade II – Origem e legado da escola pública.
No Período Moderno, entre os séculos XVI e XIX, principalmente após a Revolução Industrial, surge a necessidade de capacitar técnica e cientificamente a mão-de-obra que deveria realizar os trabalhos na indústria, vez que as máquinas tinham engastadas nelas fundamentos dos conhecimentos científicos, sobretudo, da física e da matemática. Estes conhecimentos, precisavam de ser apreendidos de forma sistemática. A exigência de dar acesso aos conhecimentos intelectuais e teóricos surge com força e determinação levando o sistema burguês de produção, que ficou conhecido como modo de produção capitalista, levou-os a colocar a necessidade da escolarização dessa mão-de-obra para atender aos seus objetivos na produção. E a Scholé, que antes era uma modalidade restrita de educação apenas aos nobres e aristocratas, se generaliza e torna-se com o passar do tempo na modalidade principal de educação de toda a sociedade.
Segundo Dermeval Saviani é nesse período histórico, Período Moderno, que a escola se torna uma necessidade geral convertendo-se na modalidade principal de educação para todos e isto irá ocorrer com mais força,sobretudo, depois da Revolução
Industrial e da Revolução Francesa, também conhecidas como Revoluções Burguesas. O surgimento da indústria no Século XVIII, a expulsão dos camponeses de suas terras, o crescimento das cidades, a vida urbana, a invenção da imprensa, dentre outros fatores, são algumas das causas da necessidade de as pessoas dominarem os códigos escritos desenvolvidos pela escola. Após a Revolução Francesa e a instituição da República como forma de governo, centrada na observância da Lei escrita (Constituição), no direito positivo, nos contratos de trabalho, casamento civil etc. evidenciou o problema do analfabetismo. Segundo Savani (1994, p. 05) (...) a sociedade contratual, baseada nas relações formais, centrada na cidade e na indústria, vai trazer consigo a exigência de generalização da escola.
O domínio dos códigos escritos e a importância da alfabetização ligam-se à nova relação que se estabelecerá entre Ciência e Técnica, onde a Ciência pura tornar-se-á ciência aplicada à produção – tecnologia – e colocará a exigência de um domínio teórico, por mínimo que seja, dos fundamentos científicos dos instrumentos e técnicas necessários à indústria. E uma vez que são os trabalhadores quem deveriam operar tais maquinários, precisavam dar aos trabalhadores algum domínio do saber científico engendrado nas técnicas e máquinas da indústria. É assim que irá surgir como uma necessidade objetiva o problema do acesso dos trabalhadores à Scholé, local por excelência do desenvolvimento e acesso aos conhecimentos científicos e teóricos.
A substituição do homem pela máquina apresenta inegáveis vantagens para o capital, tanto na redução do custo, como na redução do tempo de produção, com a qual o trabalhador manual não pode competir. Daí porque o modo de produção anterior baseado na manufatura tenha sido abandonado e superado pela produção industrial (maquinofatura), devido as vantagens objetivas deste novo modo de produção.
A indústria tendo o seu processo produtivo centrado nas máquinas, passou a exigir gradativamente dos trabalhadores que as operavam algum nível de conhecimento científico-tecnológico, mas, estes conhecimentos, teóricos, não podiam ser desenvolvidos somente pela observação empírica, como antes no trabalho manual, precisavam de estudos mais complexos que só eram acessíveis e veiculados por instituições específicas conhecidas como escolas ou academias. Assim, neste contexto, aos poucos é que a escola irá se converter na principal forma de educação da maioria em substituição a educação empírica e espontânea das épocas anteriores, nas quais a educação escolar estava restrita aos nobres e aristocratas.
Todavia, para os trabalhadores estas mudanças não foram tão vantajosas conforme fora prometido. Segundo Saviani, estas mudanças poderiam ser vantajosas ao liberar os trabalhadores das atividades manuais pesadas, sobrando mais tempo livre para se dedicarem a outras coisas. Mas na prática isto acaba não ocorrendo porque a máquina não é dos trabalhadores, elas têm um dono (o capitalista) e estão a serviço deste, por isto a Revolução Industrial para o trabalhador irá trazer muitos prejuízos, principalmente o desemprego, vez que uma máquina poderia exercer a função de muitos trabalhadores manuais ao mesmo tempo, necessitando-se apenas de alguns poucos trabalhadores para o manuseio dessas máquinas. (SAVIANI, 1995, Vídeo, Parte IV).
Outra desvantagem dos trabalhadores é em relação ao acesso à Scholé. A escola ao surgir no cenário das Revoluções Burguesas como uma necessidade objetiva e erigindo-se na forma principal de educação para todos, para desenvolver o domínio do saber ler, escrever e contar, bem como dos conhecimentos científicos e teóricos, apareceu como uma grande conquista, o que de fato foi, mas não sem contradições e limite
A solução será organizar um tipo de escola para a classe trabalhadora, por quem não é trabalhador, mas dele precisa. Assim essa escola é planejada e oferecida aos trabalhadores, em sua forma e conteúdo, de acordo com as necessidades dos seus idealizadores. (ALVES, 2018, p. 184).
O problema é que a burguesia ao pensar o papel da escola pública no processo de consolidação do novo modo de produção (capitalista), não considerou a participação dos trabalhadores na elaboração do modelo de educação escolar que melhor convinha aos próprios trabalhadores. Apesar se proclamar a defesa do princípio de “uma escola pública, laica, gratuita, para todos”, ignorou-se completamente as necessidades específicas dos trabalhadores, que foram excluídos deste processo e não foram ouvidos sobre a educação geral e profissional que melhor atenderia às suas necessidades.
Daí se explica o porquê de se criar um modelo de escola “para” e não “com” a classe trabalhadora. Este modelo foi pensado a partir dos interesses dos capitalistas, para atender às suas necessidades de acumulação ampliada do capital, pouco interessando a formação humana e intelectual dos trabalhadores a seu serviço.
O objetivo de fato foi oferecer uma escola para a formação dos trabalhadores, que seriam “[...] aridamente instruídos para um ofício, sem ideias gerais, sem cultura geral, sem alma, mas só com o olho certeiro e a mão firme” (GRAMSCI apud MONASTA, 2010, p.67). E não uma escola de formação humana deste trabalhador.
A Modernidade capitalista e burguesa, tratou-se/trata-se de criar uma escola de tipo dualista, isto é, uma escola de excelência para os ricos e outra escola de qualidade inferior (ou com a qualidade que interessava ao sistema) para a classe trabalhadora.
A dualidade educacional se caracteriza, portanto, pela oferta de um tipo de escolarização de excelência para as classes ricas e dirigentes, com enfoque no desenvolvimento intelectual destinado a preparação para o ingresso no ensino superior e para assumir posteriormente os cargos de direção e comando no mercado de trabalho e na sociedade. E outro tipo de escolarização minimalista, destinada às classes pobres e subalternas, para o ingresso imediato no mercado de trabalho, num emprego qualquer, de baixa remuneração e que pouco exige do seu desenvolvimento intelectual para atuar na produção em trabalhos manuais.
A dualidade educacional aparece como o fundamento da escola para a classe trabalhadora. Configura uma dualidade estrutural, essencial, própria do sistema liberal-burguês. Compreende-se assim como se configura o papel e as condições da escola pública sob a lógica do capitalismo, bem como de que modo isto também se associa à noção e finalidade da escola das origens (a Scholé). Destut de Tracy, século XIX, era uma autor burguês que defendia o modelo dualista:
(...) os filhos da classe operária precisam adquirir desde cedo o conhecimento, as habilidades e destrezas a que estão predestinados pela própria condição de classe, ao passo que os filhos da classe erudita, em especial os filhos dos donos dos meios de produção, devem dedicar-se a estudar durante muito tempo, nas escolas de renome, para que seja assegurada a continuidade dos bens e do poder [...].
Concluamos, então, que em todo Estado bem administrado e no qual se dá a devida atenção à educação dos cidadãos, deve haver dois sistemas completos de instrução, um não tendo nada em comum com o outro. Enfim, a forma como foi pensada a escola PARA a classe trabalhadora inaugura uma nova modalidade de educação ao transformar a educação escolar na forma principal de educação para todos, mas também cria uma diferenciação da formação destinada aos proprietários e não-proprietários (capitalistas e trabalhadores), a qual reeditará sob nova roupagem a dicotomia entre trabalho intelectual e trabalho manual, presente desde o surgimento da propriedade privada dos meios de produção, já mencionado.
A escola para os trabalhadores não será a mesma da classe dirigente, capitalista, os novos “proprietários” no poder. A escola para os proprietários irá continuar a sua função de desenvolver os aspectos intelectuais e a capacidade de “mando” para o qual estão destinados apenas aqueles que irão ocupar as funções

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