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PENSE PINC ACRE Transição para o desenvolvimento sustentável no Acre, Brasil através de Investimento Proativo em Capital Natural (PINC) Um estudo piloto do Global Canopy Programme Março 2013 Autores Nick Oakes, Luis Meneses, Andrew Mitchell Global Canopy Programme Mais informações: www.globalcanopy.org/thinkpincacre n.oakes@globalcanopy.org Agradecimentos A autorização para este relatório foi dada ao GCP pelo Governo do Acre. O GCP é grato ao governo por seu apoio contínuo e, particularmente, aos participantes das reuniões em Rio Branco pelos dados e críticas continuadas dos resultados: Eufran Amaral (Presidente do Instituto de Mudanças Climáticas), Prof. José Fernandes do Rego (Secretário de Articulação Institucional), Prof. Edegard de Deus (Secretário de Meio Ambiente), Luiz Augusto Mesquita (Presidente da Fundação de Tecnologia do Estado do Acre), Edivaldo Pinheiro Andrade (Coordenador de Programa da Secretaria de Assistência Técnica, Extensão Rural e Agricultura Familiar), Magaly Medeiros (Secretária Adjunta de Meio Ambiente), Fabio Vaz (Secretário Adjunto de Desenvolvimento Florestal, da Indústria, do Comércio e dos Serviços Sustentáveis). O GCP agradece a Vivid Economics pela produção do modelo de fluxo de caixa. Também agradece ao WWF-Reino Unido pelo apoio financeiro para a Valoração dos Serviços Ecossistêmicos do Estado do Acre e ao Instituto Internacional para Sustentabilidade (IIS) pela elaboração do respectivo estudo. O GCP gostaria de agradecer também a João Paulo Santos Mastrangelo e Tony John de Oliveira por seu trabalho de coleta de dados subjacentes que respaldam a análise de fluxo de caixa. O GCP é grato aos participantes do Forest Finance Lab: John Ward, Thomas Kansy, Edward Davey, Simon Petley, Stuart Clenaghan, Sue Charman, Padraig Oliver, John Hudson, Zaid Hassan; e a Peter Carter e James Ranaivoson (Banco Europeu de Investimento), Juan Jose Dada (International Finance Corporation) e Christian del Valle (Althelia Ecosphere) pelas críticas informais ao conceito do projeto. Um agradecimento especial a Matthew Cranford pela revisão detalhada deste relatório e a Christina MacFarquhar e Georgina Lea pelo design e publicação. Este relatório foi possível graças ao generoso apoio da Fundação Prince Albert II de Monaco e Climate and Development Knowledge Network (CDKN). Citation Oakes, N., Meneses-Filho, L., Mitchell, A., (2013). Think PINC Acre: Transição para o desenvolvimento sustentável no Acre, Brasil, através do investimento proativo em capital natural Global Canopy Programme: Oxford, UK. © Global Canopy Programme, 2013 23 Park End Street, Oxford OX1 1HU, United Kingdom The Global Canopy Programme é entidade filantrópica registrada. Número de registro de entidade filantrópica: 1089110 Número de registro de empresa: 4293417 Isenção de responsabilidade Este documento resulta de um projeto fnanciando pelo Department for International Development (DFID - Departamento para o Desenvolvimento Internacional) do Reino Unido e a Directorate-General for International Cooperation dos Países Baixos (DGIS - Diretoria-Geral para Cooperação Internacional) para o benefício dos países em desenvolvimento. No entanto, as opiniões expressas e as informações contidas não são necessariamente do DFID ou DGIS ou por eles endossadas; estes não aceitam nenhuma responsa- bilidade por tais opiniões ou informações ou pela confiança depositada nestas. Esta publicação foi elaborada apenas para fins orientação geral sobre assuntos de interesse e não constitui recomendações profissionais. Não recomenda-se agir de acordo com as informações contidas na presente publicação sem con- sultar um profissional específico. Nenhuma declaração ou garantia (expressa ou tácita) quanto à exatidão ou completude das informações contidas nesta publicação e, na medida do permitido por lei, as entidades responsáveis pela gestão da Climate and Development Knowledge Network não aceitam nem as- sumem responsabilidade ou dever de diligência por quaisquer consequências de alguém por comissão ou omissão aja com base nas informações contidas nesta publicação ou por qualquer decisão baseadas nela. CDKN é liderada e administrada pela PricewaterhouseCoopers LLP. A administração da CDKN é de responsabilidade PricewaterhouseCoopers LLP e um aliança composta da Fundación Futuro Latinoamericano, INTRAC, LEAD International, Overseas Development Institute SouthSouthNorth. 05 RESumo ExECutIvo 08 DE quE tRAtA EStE RElAtóRIo? 10 o EStADo Do ACRE 13 vAloRAção DoS SERvIçoS ECoSSIStêmICoS Do EStADo Do ACRE 18 o quE SIgNIfICA tRANSIção? 22 o CuSto DA tRANSIção 25 o fluxo DE CAIxA DA tRANSIção 30 o fINANCIAmENto DA tRANSIção 34 fuNDo INDEPENDENtE 36 fuNDo vINCulADo A govERNo 38 fuNDo vINCulADo A IfI 40 o RotEIRo Do PINC PARA o ACRE ÍNDICE 44 NotAS fINAIS 45 BIBlIogRAfIA 4 © Pedro França/Ministério da Cultura do Brasil 5 Este relatório versa sobre o investimento no capital natural do Estado do Acre, Brasil, de modo que o Estado possa fazer a transição para um modo de desenvolvimento mais sustentável. O objetivo é auxiliar na difícil tarefa de obter investimentos para esta transição, valorizando os principais componentes do capital natural do Acre, descrevendo as atividades da transição, avaliando os custos e fluxos de caixa da transição e iniciando uma discussão sobre o que isso significa para a atração de investimentos dos setores público e privado. Neste relatório, o termo Capital Natural significa o estoque de recursos naturais do Acre – como floresta ou solo – que oferece um fluxo de bens ou serviços em benefício da população do Acre e de outros lugares. Os bens e serviços são conhecidos como serviços ecossistêmicos. A provisão de serviços ecossistêmicos no Acre é reduzida quando as florestas são derrubadas, muitas vezes como resultado de atividades que geram crescimento econômico. O foco deste relatório está em como reduzir o desmatamento associado a atividades de uso da terra e, ao mesmo tempo, promover o crescimento econômico. Ele defende uma transição de atividades econômicas ligadas às florestas e ao uso da terra para longe daquelas que degradam os serviços ecossistêmicos, chamado Cenário de Referência (CR), para um cenário onde estas atividades são sustentáveis não desencadeando novos desmatamentos. Isto se chama transição para o Desenvolvimento Sustentável. A transição para o desenvolvimento sustentável requer investimento. Este investimento é necessário para conservar as florestas, transformar as cadeias produtivas agrícolas em modelos mais sustentáveis de produção e de industrialização, assim como garantir o desenvolvimento sustentável e justo para as populações que vivem na ou ao redor da floresta. O investimento inicial deve ser feito o mais cedo possível, antes que o capital natural que provê serviços ecossistêmicos atinja um grau de degradação irreversível. Isto visa a garantir que os ecossistemas, bem como os meios de subsistência das pessoas que vivem e dependem deles, permaneçam resilientes em um clima em constante mudança. Esta abordagem é chamada de Investimento Proativo em Capital Natural (PINC). Sem o PINC, o desmatamento prejudicará a provisão de serviços ecossistêmicos do Acre e seus benefícios para a população do Acre e de outros locais. (Trivedi et al, 2012). RESumo ExECutIvo Este relatório agrupa em três componentes as atividades de desenvolvimento sustentável e políticas públicas do Acre associadas ao uso do solo e florestas que requerem financiamento para sua implementação. São eles: 1. Conservação de florestas: atividades voltadas a frear o desmatamento ilegal, preservar a estrutura e função da floresta ou restaurar a cobertura florestal para sua funçãoecológica inicial. O Governo do Estado do Acre tem duas políticas de conservação que requerem financiamento para sua implementação. 2. Cadeias produtivas sustentáveis: atividades que fazem a transição de onze cadeias produtivas de commodities florestais e agrícolas para práticas sustentáveis aliviando, assim, a pressão para desmatar ou degradar o solo. As onze principais cadeias produtivas são aquelas priorizadas pelo Governo Estadual para o desenvolvimento sustentável rural. 3. Meios de meios de vida sustentáveis: atividades que melhoram as condições de vida de comunidades rurais que vivem dentro ou nas proximidades da floresta, com foco na segurança alimentar e na adaptação às mudanças climáticas. O Governo Estadual tem duas políticas voltadas aos meios de vida sustentáveis que requerem financiamento para sua implementação. 6 O investimento deve ser a longo prazo, de até 30 anos Um prazo de até 30 anos oferece o melhor retorno sobre o investimento em cadeias produtivas sustentáveis. O fluxo de caixa descontado em todas as cadeias produtivas durante a vida útil de até 30 anos é de R$ 635 milhões, enquanto em 10 anos o fluxo de caixa descontado é negativo. Nem todas as cadeias produtivas podem atrair investimento O óleo de palma e a piscicultura têm um fluxo de caixa negativo descontado em 30 anos (quando descontados a uma taxa de 8%). É improvável que um investidor financie cadeias produtivas com fluxos de caixa negativos. No entanto, as mesmas duas cadeias produtivas têm fluxos de caixa positivos não descontados. Conservação e meios de vida sustentáveis não podem ser totalmente financiados com lucros da cadeias produtivas As áreas temáticas de conservação e meios de vida sustentáveis incorrem em custos apenas – não geram receitas. Estes custos podem ser cobertos em parte através da reciclagem da receita gerada a partir de cadeias produtivas sustentáveis mas isto deve ser equilibrado com a necessidade de também reembolsar os investidores. Dependendo de quanto é necessário para reembolsar os investidores, que têm por base suas expectativas de retorno e percepção de risco, o percentual dos investimentos que não geram receitas os quais podem ser cobertos pela receita proveniente das cadeias produtivas varia de zero a 100%, sendo que o restante deve ser coberto por capital público. Várias conclusões e oportunidades emergem da análise neste relatório. Cada uma das conclusões e oportunidades pode ajudar a avançar o processo de desenvolvimento de mecanismos de financiamento para a transição para o desenvolvimento sustentável. Faz sentido econômico e ambiental investir no capital natural do Acre Ao atingir a meta do Governo de redução do desmatamento em 76%, em comparação com o cenário de referência no período até 2025 [ 1 ], a perda na provisão de serviços ecossistêmicos é reduzida em 80% (equivalente em valores a R$ 2,8 – 5,6 bilhões). O armazenamento de carbono responde por até 61% desta perda evitada em valor. A transição requer investimento inicial de cerca de R$ 2 bilhões [ 2 ] A transição para o desenvolvimento sustentável requer um investimento inicial em valor descontado/não descontado de R$ 1,8/2,3 bilhões em 10 anos; destes, R$ 396/546 milhões são destinados à conservação, R$ 1,1/1,3 bilhão para as cadeias produtivas sustentáveis e R$ 325/457 milhões para os meios de vida sustentáveis. A transição pode gerar um retorno sobre o investimento positivo Um investimento na transição para o desenvolvimento sustentável pode ser economicamente viável para um investidor financiar os desembolsos iniciais de transição para todas as onze cadeias produtivas sustentáveis. O Retorno sobre o Investimento de 14% é competitivo A taxa interna de retorno (TIR) é de 14% sobre o investimento em todas as onze cadeias produtivas. Isso é cerca de 4% maior do que o rendimento de investimento alternativo de risco menor e maturidade similar como os títulos do tesouro do Governo Federal brasileiro. CoNCluSõES E oPoRtuNIDADES 6 7 1 2 4 5 3 7 O Governo do Estado pode desempenhar um papel fundamental na captação de recursos Os três mecanismos possíveis para financiar a transição oferecem ao Governo do Estado nível variados de envolvimento na captação de recursos, que vão de simplesmente ajudar a gerir o fundo de transição, a ser um investidor em renda variável ou participação acionária ou a emitir títulos públicos e canalizar os recursos para o fundo. O Governo Federal também pode desempenhar um papel semelhante. Títulos públicos podem ser usados para financiar a transição Os rendimentos de um título podem cobrir entre 40% e 100% dos desembolsos iniciais da transição para as cadeias produtivas sustentáveis. A quantidade exata que pode ser coberta depende do emissor do título – o fundo de transição, Governo do Estado ou uma Instituição Financeira Internacional (IFI) – e se é emitida em reais ou dólares norte-americanos. Na sequência destes resultados, há uma oportunidade para o Governo do Estado e o GCP desenvolverem em conjunto um projeto detalhado para um mecanismo de financiamento público-privado em escala jurisdicional. Isso também exige uma compreensão mais detalhada das atividades a serem financiadas, os fluxos de caixa, os arranjos institucionais, os mecanismos de repasse de recursos e um plano de negócios para atrair investidores institucionais, instituições financeiras internacionais e outros investidores do setor público dentro e fora do Brasil. 8 9 8 Investimento em capital natural Este relatório trata de canalizar investimento para a conservação e restauração do capital natural do Estado do Acre, localizado em pleno coração da Amazônia brasileira. Capital natural é o termo usado para descrever o estoque de recursos naturais do Acre – como floresta ou solo – que oferecem um fluxo de bens ou serviços em benefício da população. Por exemplo, a vegetação de uma mata ciliar pode ajudar a remover o excesso de nutrientes do solo carreados para dentro do rio, mantendo a qualidade da água que flui para os usuários a jusante em uma cidade. Estes bens e serviços são conhecidos como serviços ecossistêmicos. O desmatamento no Acre reduz o estoque de recursos naturais que, por sua vez reduz ou degrada a qualidade da prestação dos serviços dos ecossistemas. Florestas e solos agrícolas férteis são os principais componentes do capital natural do Brasil, cada um fornecendo uma gama de serviços ecossistêmicos. Crescimento econômico frequentemente impulsiona o desmatamento, e crescimento que degrada a qualidade da provisão de serviços ecossistêmicos é chamado de Cenário de Referência (CR). Na economia do Acre, o desafio é conciliar a necessidade de terras agrícolas e o decorrente crescimento econômico com a necessidade por sistemas ambientais resilientes capazes de provisão contínua de serviços ecossistêmicos em um cenário de constantes mudanças no clima. Para enfrentar este desafio, este relatório defende uma transição do CR para o Desenvolvimento Sustentável. Esta transição exige investimento, mais cedo ou mais tarde, no capital natural para criar a resiliência dos ecossistemas – e das pessoas que neles habitam – às mudanças climáticas. Esta abordagem de prover de forma proativa investimento inicial para atividades em escala de paisagem antes que ocorra a degradação dos serviços ecossistêmicos chamamos de Investimento Proativo em Capital Natural (PINC). Este se diferencia de um mecanismo como Redução de Emissões por Desmatamento e Degradação Florestal (REDD+), que concentra investimentos em partes específicas da paisagem, como por exemplo, a conservação de floresta nativa (Trivedi et al, 2012). Frequentemente, um estado deve contrapor o imperativode crescimento econômico e segurança (por exemplo, aumentar os níveis de emprego, proporcionar o abastecimento seguro e sustentável de alimentos e água) com o imperativo de conservar seu capital natural. O objetivo da transição para o desenvolvimento sustentável no Acre é minimizar ou remover este dilema destrutivo. O investimento em escala de paisagem abordado pelo PINC é uma forma de contribuir para este dilema. Financiamento do desenvolvimento sustentável no Acre A transição para o desenvolvimento sustentável não é uma tarefa simples. Governos subnacionais podem usar recursos públicos para atrair financiamento privado mas, muitas vezes, não têm a capacidade de fazê-lo na escala de milhões ou mesmo bilhões de dólares. Além disso, sem demanda de um mercado compulsório local ou global para créditos REDD+ antes de 2020, é improvável que uma abordagem baseada em carbono atraia hoje investimentos de grande escala. O objetivo deste relatório é ajudar a superar este desafio de financiamento no Estado do Acre. Ele inicia uma discussão sobre a forma como o Estado do Acre pode usar o financiamento público e privado para deter o desmatamento, reformar a agricultura e melhorar os meios de vida de populações rurais. Isso é feito pela avaliação da escala do investimento necessário em todo o estado e do papel do setor público e privado no financiamento da transição. Este relatório não avalia os mecanismos de repasse e arranjos institucionais necessários para empregar capital para os diversos atores do Estado do Acre, os quais serão analisados na Fase II do projeto (ver abaixo). Os componentes de uma abordagem PINC para investimento usados neste relatório foram desenvolvidos a partir da abordagem usada em estudo anterior para a escala nacional no Brasil: parar o desmatamento, restaurar florestas e terras degradadas e intensificar a agricultura em terras já desmatadas (Trivedi et al, 2012). No contexto do Acre, a abordagem PINC para investimento no capital natural em escala de paisagem engloba três áreas temáticas ou componentes: DE quE tRAtA EStE RElAtóRIo? 9 1. Conservação de florestas: atividades voltadas a frear o desmatamento ilegal, preservar a floresta ou restaurar a cobertura florestal à sua função ecológica inicial. 2. Cadeias produtivas sustentáveis: atividades que fazem a transição de cadeias produtivas de commodities florestais e outros produtos para práticas sustentáveis (por exemplo, intensificação da produção ou restauração de solo degradado) reduzindo os impactos sociais e ambientais ao aliviar a pressão por novos desmatamentos ou a degradação do solo. 3. Meios de vida sustentáveis: atividades que melhorem as condições de vida de comunidades rurais que vivem dentro ou nas proximidades da floresta, com foco na segurança alimentar e na adaptação às alterações climáticas. A estrutura do presente relatório Para auxiliar o Governo do Acre a superar o desafio do financiamento, o relatório segue uma narrativa simples: a transição para o desenvolvimento sustentável previsto pelo governo é descrita; a escala de investimento necessário para a transição é calculada; as receitas geradas a partir de atividades sustentáveis são modeladas e; as implicações para o papel do setor público e privado no fornecimento de financiamento para a transição são discutidas. A narrativa é estruturada em torno de sete perguntas ou questões fundamentais: O Estado do Acre O Capítulo 2 apresenta um panorama histórico e político do Estado do Acre e descreve seu contexto político e algumas políticas relevantes à questão ambiental e de desenvolvimento. Valoração dos Serviços Ecossistêmicos do Estado do Acre O Capítulo 3 descreve os serviços ecossistêmicos de importância política, ambiental e social para o Acre, os impactos de não proteger estes serviços e de valorizar sua proteção. O que significa transição? O Capítulo 4 descreve as políticas e atividades da transição para o desenvolvimento sustentável em três áreas temáticas que exigem investimentos para sua implementação selecionadas pelo Governo do Estado do Acre. O custo da transição O Capítulo 5 pergunta quanto custará a transição para o desenvolvimento sustentável no Acre, dividido em três áreas temáticas. O fluxo de caixa da transição O Capítulo 6 descreve os fluxos de caixa das várias atividades na área temática de cadeias produtivas sustentáveis e também questiona se a receita gerada poderia cobrir os custos de conservação e de meios de vida sustentáveis usando um modelo de fluxo de caixa. Os mecanismos para o financiamento da transição O Capítulo 7 tem por base a análise de fluxo de caixa para propor três diferentes mecanismos para financiar a transição para o desenvolvimento sustentável. O roteiro PINC para o Acre O Capítulo 8 resume as conclusões do relatório e identifica os próximos passos a serem dados para prosseguir em direção à meta de investir na transição para o desenvolvimento sustentável. Finalmente, o Anexo 1 descreve, em maior detalhes do que o Capítulo 4, as atividades e políticas a serem implementadas em cada uma das três áreas temáticas abordadas pelo PINC para investimento no Acre descritas acima e de acordo com as prioridades do Governo do Estado do Acre. O relatório é um estudo piloto e encerra a Fase I de um projeto de longo prazo no Acre, que visa a desenvolver plenamente um mecanismo de financiamento para a transição para o desenvolvimento sustentável no Acre. Como este relatório descreve, a Fase I tem gerado um conjunto de ações necessárias para levar à frente o desenvolvimento do mecanismo de financiamento público- privado, chamadas de roteiro. A Fase II iniciará o trabalho sobre os próximos passos descritos no roteiro, avaliará os mecanismos de repasse e arranjos institucionais necessários para empregar capital para as atividades das três áreas temáticas e tomará uma decisão com o Governo do Estado sobre a forma de levar o projeto adiante. 10 O Estado do Acre está localizado no sudoeste da Amazônia brasileira (ver Figura 1). Sua história está ligada aos ciclos de colheita da borracha na Amazônia. Originalmente um território pertencente à Bolívia, cidadãos brasileiros migraram para o Acre na segunda metade do século 19 com a esperança de extrair borracha para atender a crescente demanda global. À medida que as plantações na Malásia tornaram-se mais produtivas, a economia da borracha no Acre encolheu e as políticas públicas promoveram a pecuária no início da década de 1970. Isto iniciou um ciclo de desmatamento e conflitos fundiários entre pecuaristas e as milhares de famílias de seringueiros e indígenas que vivem nas florestas, da qual dependem. No final da década de 1980, os direitos dos seringueiros e povos indígenas foram reconhecidos após o assassinato do líder seringueiro Chico Mendes. Desde então, o Acre tem estado na vanguarda da ação ambiental no Brasil. Marina Silva, ex-ministra do Meio Ambiente do Brasil e candidata presidencial em 2010, veio do Acre. Em 1999, o Partido dos Trabalhadores (PT) chegou ao poder no Acre e assumiu o compromisso com o desenvolvimento sustentável e com a criação de uma economia de base florestal, com justiça social e inclusão econômica para os povos da floresta. Depois de quatro mandatos no poder (1999-2012), o PT restaurou a capacidade administrativa e de planejamento do governo, aumentou investimentos públicos na economia e no bem-estar social, melhorou os serviços públicos e implementou políticas para a promoção do desenvolvimento sustentável e conservação do meio ambiente (Rego, 2010). Doze por cento do território (1,9 milhão ha) do Acre foi desmatado, o que representa 3% do total do desmatamento na Amazônia brasileira (INPE, 2012). Ele ocorre principalmente devido àpecuária – responsável por 80% do desmatamento – e agricultura familiar de pequeno porte. Desde o segundo pico mais alto em 2003 para seu nível mais baixo em 2009 (ver Figura 2), as taxas de desmatamento diminuíram 80%, enquanto o Produto Interno Bruto do Acre cresceu 157% no mesmo período (IBGE, 2010). o EStADo Do ACRE Figura 1: Localização do Acre (em rosa) no Brasil o EStADo Do ACRE: EStAtÍStICAS PRINCIPAIS [ 3 ] tERRItóRIo Area 164.221 km2 (4,2% da Amazônia brasileira) População 746.375, 70% urbana (2007) ECoNomIA PIB R$ 7.3 bilhões (2009), 157% mais do que em 2002 Renda per capita R$ 10.687 (2009), 127% mais do que em 2002 Principais setores econômicos Florestal (16,8% do PIB) Agricultura (4,8% do PIB) Indústria (6,6% do PIB) Serviços (71,8% do PIB) ÁREAS PRotEgIDAS Áreas protegidas 48% do território (7.170.336 ha) Terras indígenas 16% do território (2.390.112 ha) Unidades de conservação 32% do território (5.255.072 ha) 11 As políticas que permitiram ao Acre reduzir o desmatamento e melhorar suas condições socioeconômicas são: • O Zoneamento Ecológico Econômico (ZEE), com diretrizes para o desenvolvimento sustentável; • O Sistema Estadual de Áreas Naturais Protegidas (SEANP), que estabelece os princípios para a criação e gestão de Unidades de Conservação incluindo também Terras Indígenas como parte do sistema estadual; • O Plano para Valorização dos Ativos Florestais, recompensando pequenos produtores que cumprem a legislação ambiental e diminuem o desmatamento; • Melhoria nos sistemas de comando e controle e um sistema preciso de monitoramento remoto do desmatamento; • O Plano para Prevenção e Controle de Desmatamento (PPCD Acre), esboçando as políticas e estabelecendo uma meta de 80% de redução do desmatamento em relação aos índices de 2006 até 2020, levando a um desmatamento evitado de 365 mil ha (equivalente à redução de 55% em relação ao CR que tem por base a média das taxas de desmatamento pré-2006), e • Sistemas de Incentivos a Serviços Ambientais (lei SISA), desenvolvendo iniciativas para estimular e financiar sete serviços ecossistêmicos e definir um conjunto de princípios, políticas e arranjos institucionais que apoiam a conservação através da valorização do capital natural. Sob os auspícios da lei SISA, em 2010 foi criado o Instituto de Mudanças Climáticas (IMC) e está prevista para 2013 a implementação da empresa de capital misto, a Companhia de Desenvolvimento de Serviços Ambientais. O IMC é responsável pela regulamentação e execução das políticas relacionadas aos serviços ecossistêmicos, especificamente das políticas ligadas ao REDD+ enquanto que o papel da Companhia será o de apoiar a implementação de programas de serviços ecossistêmicos. O Estado do Acre reúne uma série de fatores que contribuirão na busca de financiamento para a transição. Apresenta compromisso político com o desenvolvimento sustentável, existência de um plano para a transição, credibilidade política, disponibilidade de informação de qualidade e interesse em atrair financiamento privado. Figura 2: Taxa anual de desmatamento no Acre 12 © Pedro França/Ministério da Cultura do Brasil 13 vAloRAção DoS SERvIçoS ECoSSIStêmICoS Do ACRE Serviços e benefícios ambientais As florestas acreanas proporcionam muitos serviços ecossistêmicos. A transição para o desenvolvimento sustentável garantirá ou melhorará a qualidade destes serviços ecossistêmicos. O desmatamento, por outro lado, reduzirá a provisão dos serviços pois as florestas são o componente essencial do capital natural necessário para assegurar o fornecimento de serviços ecossistêmicos. Em geral, os serviços ecossistêmicos são divididos em quatro categorias: suporte, provisão, regulação e serviços culturais (Millennium Ecosystem Assessment, 2005). Os serviços de suporte facilitam o contínuo funcionamento dos ecossistemas e a provisão de outros serviços ecossistêmicos. Por exemplo, o ciclo de nutrientes mantém a contínua produção de matéria viva no ecossistema. Serviços de provisão fornecem bens que os seres humanos podem usar, por exemplo, água potável ou chuvas como insumo para a agricultura. Os serviços de regulação controlam o fluxo de materiais naturais que podem ter um impacto negativo em seres humanos. Por exemplo, os poluentes são retidos pela mata ciliar, protegendo cursos d'água e usuários a jusante dos poluentes que contaminam a água. O desmatamento de matas ciliares compromete a qualidade da água para os usuários a jusante. O desmatamento também pode causar a erosão do solo, e assim, ao se evitar a erosão do solo a sedimentação dos cursos d’água é reduzida, a desertificação evitada e a produtividade agrícola, mantida. Serviços culturais fornecem benefícios espirituais, estéticos, educacionais e recreativos para os usuários. Os impactos da perda de serviço ambiental A provisão de serviços ecossistêmicos pelas florestas do Acre tem benefícios para os acreanos e o mundo. Se a qualidade do serviço é reduzida, a transição para o desenvolvimento sustentável será desestabilizada. Isso pode se manifestar afetando a economia e a sociedade do Acre, e os beneficiários de serviços ecossistêmicos em todo o mundo, de várias maneiras. Primeiro, uma perda na provisão de serviços ecossistêmicos diminuiria o bem-estar humano e impediria o desenvolvimento reduzindo o fornecimento de serviços básicos. Isto seria oneroso para o governo e, por extensão, o contribuinte, devido à necessidade de substituir serviços que eram previamente oferecidos pela natureza. Por exemplo, pode ser necessário investimento adicional em instalações de tratamento de águas devido a uma perda de serviços de retenção de nutrientes e uma diminuição da qualidade da água potável. Segundo, isto poderia reduzir a produção de setores econômicos, como a agricultura, que dependem dos serviços ecossistêmicos para seus insumos de produção. O desmatamento, por exemplo, pode afetar a produção agrícola, alterando o ciclo de chuvas e reduzindo a precipitação. Finalmente, o desmatamento pode reduzir a oportunidade de gerar receita pela provisão de serviços ecossistêmicos (por exemplo, o armazenamento de carbono em florestas e vegetação) aos beneficiários, dentro e fora do Acre. Isso pode significar, por exemplo, uma perda em termos de pagamentos pelas emissões de carbono evitadas, devido a uma perda de cobertura florestal e, consequentemente, uma redução no estoque de carbono florestal. O valor dos serviços ecossistêmicos do Acre Ao fazer a transição para o desenvolvimento sustentável, o Acre assegura a provisão de serviços ecossistêmicos e evita estes impactos negativos. Parte do valor de garantir ou melhorar os serviços ecossistêmicos do Acre pode ser quantificada através de um processo conhecido como valoração dos serviços ecossistêmicos ou ambientais. Este processo é uma ferramenta importante para os decisores políticos que planejam uma transição para o desenvolvimento sustentável, uma vez que ela pode ser usada para demonstrar o valor da perda evitada na provisão de serviços ecossistêmicos quando comparando um cenário de referência com o de transição para o desenvolvimento sustentável. Muitos serviços ecossistêmicos são fornecidos pelo capital natural do Acre, mas apenas cinco são avaliados neste relatório: armazenamento de carbono, retenção de sedimentos, retenção de nitrogênio, retenção de fósforo e controle de poluição. Estes cinco serviços ecossistêmicos são importantes para o Governo do Acre por seus benefícios para a população local, por exemplo, a melhora da qualidade da água potável. Eles são importantes também devido ao potencial de receita pelo fornecimento de serviços ecossistêmicos, como o armazenamento de carbono que tem beneficiáriosem todo o mundo, e porque foram priorizados pelo Governo do Acre na lei do SISA (ver página 11 para mais informações sobre o SISA e a Tabela 2, página 15 para uma explicação de 14 como esses serviços se vinculam aos serviços descritos no SISA). No entanto, avaliar o valor de apenas cinco serviços ecossistêmicos significa subestimar o valor total de proteção dos serviços ecossistêmicos providos pelas florestas do Acre. A valorização dos serviços ecosistemicos foi comissionado pelo WWF-UK e realizado pelo Instituto Internacional para Sustentabilidade (IIS) no Rio de Janeiro [ 4 ]. A análise compara dois cenários: Cenário de Referência - CR e Desenvolvimento Sustentável. No CR supõe-se que o desmatamento segue tendência histórica, aumentando até 2025 para um índice que está 10% acima da média histórica anual de aumento desde 1988. No cenário de Desenvolvimento Sustentável, o desmatamento é reduzido em 76% em relação ao CR até 2025 [ 5 ]. A valoração calcula tanto a perda evitada em valor dos serviços ecossistêmicos quando o desmatamento prossegue na taxa do cenário de Desenvolvimento Sustentável em vez daquela do CR. Em ambos os cenários, há desmatamento e, consequentemente, uma perda no fornecimento de serviço ambiental, mas é a diferença na provisão de serviços ecossistêmicos entre os dois cenários que dá o valor de transição para o desenvolvimento sustentável (WWF-UK e GCP, 2013). A taxa de desconto de 5% foi usada (ver página 17 a explicação de como a taxa de desconto foi calculada). No CR, o desmatamento de 2012 a 2025 resultaria em uma perda anual de fornecimento de serviços ecossistêmicos equivalente em valor a US$ 141 – 283 milhões. No cenário de Desenvolvimento Sustentável, esta perda diminui para US$ 29 – 58 milhões por ano. [ 6 ] Ao fazer a transição para o desenvolvimento sustentável, o Acre ganharia em serviços ecossistêmicos fornecidos o valor de US$ 1,4 – 2,8 bilhões ou R$ 2,8 – 5,6 bilhões no período 2012 a 2015. Isto é equivalente a um ganho de 80% em comparação com o cenário de referência (CR). Esse valor será internalizado em crescimento continuado da economia e bem-estar humano no Acre e apresenta oportunidades para captar novas fontes de receita. A Tabela 2 mostra a distribuição por serviço ambiental da perda evitada em valor de serviço ambiental causada pelo desmatamento no cenário de Desenvolvimento Sustentável em comparação com o cenário de referência (CR). Inclui-se nesta tabela o grau de confiança do IIS na qualidade da técnica de valoração. Três serviços ecossistêmicos – controle de poluição, a conservação da biodiversidade para bioprospecção e existência – têm uma avaliação de confiança baixa e por isso não estão incluídos no valor total. As receitas para o serviço de armazenamento de carbono respondem por até 61% do valor do serviço ambiental ganho pela transição do cenário CR para o de Desenvolvimento Sustentável. O contraste entre os dois cenários é também ilustrado na Figura 3. Do primeiro para o segundo mapa, há ganhos em todo o Estado do Acre por evitar o nível de desmatamento no cenário CR. Isto ilustra a importância de reduzir o desmatamento do CR aos níveis de desenvolvimento sustentáveis pelo financiamento de atividades que conservam a floresta, reformem as cadeias produtivas e assegurem o desenvolvimento sustentável de comunidades carentes ou vulneráveis. Tabela 1: Estrutura do valor da provisão de serviços ecossistêmicos cuja perda é evitada no cenário de desenvolvimento sustentável em relação ao CR. SERvIço AmBIENtAl gRAu DE CoNfIANçA NA vAloRAção vAloR Do gANho No foRNECImENto DE SERvIço AmBIENtAl (uS$ mIlhõES) vAloR Do gANho No foRNECImENto DE SERvIço AmBIENtAl PoR hECtARE (uS$) Armazenamento do carbono Alta 1.099 – 2.198 1.771 – 3.541 Retenção de sedimento Média-Alta 251-501 420 – 840 Retenção de nitrogênio Média 58-115 94 – 188 Retenção de fósforo Média 4 – 8 7 – 14 total 1.412-2.822 Controle de poluição Média-baixa 378-756 588 – 1.176 Conservação da Biodiversidade (Bioprospecção) Baixa 29-917 48-1,500 Conservação da Biodiversidade (Existência) Baixa 10-24 16-41 15 Figura 3: Mapa do Valor em Cenário de Referência (superior) e Cenário Desenvolvimento Sustentável (inferior). A sombra verde mais clara significa menor perda na provisão de serviços ecossistêmicos, e assim o cenário DS (inferior) apresenta perda menor na provisão de serviços ecossistêmicos, especialmente nos municípios que estão localizados no oeste do Acre. Tabela 2: Comparação dos serviços ecossistêmicos avaliados neste relatório e dos serviços ecossistêmicos na SISA. SERvIço AmBIENtAl CoNfoRmE DEfINIção NA lEI SISA Do ACRE SERvIço AmBIENtAl CoRRESPoNDENtE NEStE RElAtóRIo É AvAlIADo NEStE RElAtóRIo? RAzão CASo Não É AvAlIADo Sequestro, conservação, manutenção e aumento do estoque e a diminuição do fluxo de carbono Armazenamento de carbono SIM nd Conservação e o melhoramento do solo Retenção de sedimento SIM nd Conservação das águas e dos serviços hídricos Retenção de sedimentos, nitrogênio e fósforo SIM nd Regulação do clima Controle da poluição do ar NÃO Baixa confiança na estimativa de valoração Conservação da sociobiodiversidade Valor da biodiversidade – Valor da bioprospecção e existência NÃO Baixa confiança na estimativa de valoração Valorização cultural e do conhecimento tradicional X NÃO Sem dados Conservação da beleza cênica natural X NÃO Sem dados PERU AMAZONAS BOLIVIA 0 (ZERO) 0 ATÉ -20 -20 ATÉ -50 -50 ATÉ -100 -100 ATÉ -300 -300 ATÉ -500 -500 ATÉ -2200 0 (ZERO) 0 ATÉ -20 -20 ATÉ -50 -50 ATÉ 100 -100 ATÉ -200 -200 ATÉ -300 PERU AMAZONAS BOLIVIA US$ MILHÃO Perda em valor de Serviços Ecossistêmicos no Cenário de Referência Perda em valor de Serviços Ecossistêmicosno Cenário Desenvolvimento Sustentável US$ MILHÃO ACRE ACRE 16 © Neil Palmer/CIAT 17 A tAxA DE DESCoNto Fundamentos O montante recebido hoje tem um valor maior do que o mesmo montante recebido no futuro. A diferença entre os dois é chamada de valor temporal do dinheiro. A forma padrão para interpretar o valor temporal do dinheiro está no contexto de taxas de juros. Digamos, por exemplo, que uma pessoa tem a opção de receber R$ 68 hoje ou receber R$ 68 daqui a cinco anos. Se ela optar por receber R$ 68 hoje e investir o dinheiro, ela receberá 8% de juros ao ano; em cinco anos, terá R$ 100. Os R$ 68 hoje valerão mais R$ 32 para o destinatário do que os R$ 68 recebidos em cinco anos. Com base nesta lógica, quando é dada a um investidor uma opção de investir, o retorno sobre o investimento deve ser ajustado por um fator que represente o valor temporal do dinheiro. Este processo é chamado de desconto. O investidor, então, usaria o retorno sobre o investimento descontado para comparar os retornos de diferentes opções de investimento com sua expectativa mínima de retorno. O retorno mínimo exigido pelo investidor é a opção alternativa de retorno com menor risco disponível para ele que, normalmente, é um investimento no governo. Por exemplo, digamos que um investidor está considerando a compra de ações de uma empresa com risco, onde espera receber um retorno de R$ 100 daqui a cinco anos. Para avaliar se o investimento na empresa é atraente, primeiro o investidor avalia quanto valeria hoje o recebimento de R$ 100 em cinco anos para ele. Isto é feito descontando R$ 100 por sua expectativa mínima de retorno: um investimento no governo que gera retorno de 8%. Se R$ 68 forem investidos no governo hoje, e com incidência de juros de 8% por cinco anos, o investidor receberia R$ 100 daqui a cinco anos. O valor descontado dos R$ 100 recebidos no futuro da empresa com risco é, portanto, R$ 68. Um investidor poderia, então, comparar o valor descontadodo dinheiro recebido no futuro com o custo de investir na empresa em risco hoje, comparar os riscos de ambos os investimentos e, finalmente, determinar qual é a opção de investimento mais atraente. A aplicação para o Acre No contexto de transição do Acre para o desenvolvimento sustentável, há duas formas de aplicar o princípio do valor temporal do dinheiro. A primeira é através do desconto do fluxo de caixa da transição (ver páginas 25-27), usando a interpretação padrão do valor temporal do dinheiro descrita no exemplo acima. A taxa de juros mínima absoluta obtida em um investimento alternativo de baixo risco no Brasil é a taxa básica de juros definida pelo Banco Central do Brasil: em torno de 7%. [ 7 ] A taxa de desconto usada na análise de custo e de fluxo de caixa é cautelosamente maior, 8%. O processo de desconto não é apenas aplicável aos fluxos de caixa; também pode ser aplicado a uma avaliação econômica dos benefícios ambientais e sociais recebidos no futuro (ver páginas 13-15). Esta segunda aplicação é também relevante para o Acre. Neste caso, o valor do fluxo dos serviços ecossistêmicos deve ser ajustado por um fator que represente o valor temporal do dinheiro. As atividades financiadas como parte da transição para o desenvolvimento sustentável rendem benefícios ambientais e sociais em um futuro distante, por exemplo, tratamento de água, retenção de sedimentos ou ciclo de nutrientes; porém, eles não estão incluídos nos fluxos de caixa. Reconhecer estes benefícios ambientais e sociais invisíveis coloca um valor mais alto em benefícios recebidos hoje do que seria o caso se a interpretação do padrão de desconto, descrita acima, fosse aplicada. Por exemplo, no contexto de mudanças climáticas, os benefícios de tomar medidas hoje para evitar os impactos destas mudanças no futuro foram descontados a uma taxa de 1,4% (Stern, 2006). No Acre, o valor dos serviços ecossistêmicos é descontado por uma quanta igual à forma pela qual se espera que a população e o governo do Acre valorizem hoje, garantindo os benefícios futuros dos serviços ecossistêmicos. Este relatório usa uma taxa de 5% para a avaliação dos serviços ecossistêmicos. 18 Este capítulo descreve as políticas e atividades existentes e emergentes que o Governo do Estado pretende priorizar nas três áreas temáticas da transição para o desenvolvimento sustentável através da abordagem PINC de investimento – conservação de florestas, cadeias produtivas sustentáveis e meios de vida sustentáveis. O foco será tanto no financiamento de melhorias na produtividade ou industrialização das cadeias produtivas quanto no aumento da escala e implementação de atividades de conservação e aquelas voltadas à melhoria das comunidades rurais. Para cada área temática, os subcapítulos descreverão cada uma das atividades ou políticas que precisam ser implementadas como parte da transição para o desenvolvimento sustentável. A maioria das atividades que necessitam de financiamento nas três áreas temáticas de transição enquadram-se nas categorias seguintes: • Aquisição de máquinas e equipamentos, animais, matérias-primas, terrenos e veículos • Arrendamento de terras, maquinário e equipamentos • Reforma de pastagens, remoção de tocos, aração e limpeza de áreas • Construção de infraestrutura física (por exemplo unidades de armazenamento, açudes, etc.) • Prestação de assistência técnica e extensão rural • Desenvolvimento, revisão e expansão de planos de gestão para as unidades de conservação e terras indígenas • Custos operacionais gerais (por exemplo, mão de obra, seguro, administração, manutenção, etc.) O conjunto completo de atividades e políticas considerado neste relatório é descrito em maior detalhe no Anexo 1. O Anexo descreve o sistema sustentável de produção e/ou industrialização, a meta do governo para a transição para o desenvolvimento sustentável, uma descrição de como o dinheiro arrecadado para a atividade será empregado, o custo da atividade ou da política e o método de pagamento do investimento (se for o caso). o quE SIgNIfICA tRANSIção? Conservação A primeira etapa do investimento no capital natural do Acre, utilizando a abordagem PINC, é investir na conservação das florestas que sustentam a provisão de serviços ecossistêmicos para o Acre e região. O Governo do Acre tem dois programas nesta área temática: o Sistema Estadual de Áreas Naturais Protegidas (SEANP), responsável pela gestão de unidades de conservação estaduais e também incluindo aquelas federais cobrindo 32% do território do estado, e o programa de Revitalização do Rio Acre, responsável pela recuperação de matas ciliares ao longo do principal rio que atravessa a capital do estado – o Rio Acre – o qual garante o fornecimento de água para a área mais populosa do Estado. O SEANP requer financiamento para implementar a gestão de 22 unidades de conservação. Inclui atividades como: indenização pela desapropriação de terras privadas em unidades de conservação; a criação de conselhos de gestão em cada uma das 22 unidades de conservação; elaboração ou revisão de planos de manejo das unidades de conservação; estabelecimento de equipes do SEANP nas unidades de conservação; monitoramento e gestão da informação; criação de novas unidades de conservação; e atividades de gestão de rotina do SEANP. O programa de Revitalização do Rio Acre requer financiamento para restaurar 10.000 hectares de matas ciliares ao longo do Rio Acre. Isso inclui atividades como: incentivar a participação de 2.000 agricultores da bacia do Rio Acre no programa; desenvolver planos de comunicação e inclusão social; restaurar 10.000 hectares de áreas de proteção permanentes (APP) ao longo da bacia hidrográfica; treinamento de 900 agricultores na gestão dos recursos hídricos, recuperação de APP, agroecologia e mudança climática; e efetuar pagamento a 2.000 agricultores pela provisão de serviços ecossistêmicos. Cadeias produtivas sustentáveis No Brasil, o desmatamento e a degradação do solo são em grande parte causados pela atividade econômica, principalmente a expansão da produção de commodities, como carne, madeira, soja em terras que foram florestas. Para aumentar a atividade econômica no Acre evitando 19 o desmatamento ou a degradação do solo, os sistemas de produção e processamento de commodities – conhecida como cadeias produtivas – tem de ser gerida de forma mais sustentável. Caso contrário, a gestão deficiente causará mais desmatamento e, consequentemente, degradação do solo. Para cadeias produtivas já estabelecidas no Acre, o modelo de produção pode ser aperfeiçoado a sustentabilidade do sistema. Isto pode incluir, por exemplo, a intensificação da produção usando menos espaço e reduzindo a pressão para abrir novas áreas de floresta. Para novas cadeias produtivas que não estão estabelecidas no Estado, estas devem ser desenvolvidas de forma sustentável desde o início, por exemplo, usando áreas desmatadas e solos degradados para a produção. Para lidar com o aumento da produção nas diversas cadeias produtivas, a capacidade de processamento e industrialização nas cadeias produtivas deve ser aumentada. Se o processamento for realizado dentro do Estado, isto permite maior agregação de valor aos produtos e consequentemente maior receita gerada dentro do Estado a partir da venda de produtos processados e manufaturados. Foram priorizadas pelo governo onze cadeias produtivas para a transição para o desenvolvimento sustentável. São elas: carne bovina, carne suína, madeira de reflorestamento, madeira de manejo comunitário de floresta nativa, madeira de floresta nativa em regime de concessão, borracha, castanha-do-brasil, açaí, óleo de palma, piscicultura e grãos. A página 20 apresenta uma descrição mais detalhada doprocesso de transição e a meta para cada cadeia produtiva. Se a receita gerada nas cadeias produtivas for usada para pagar os investidores, é fundamental que haja demanda por esses produtos no Acre, no Brasil ou nos mercados internacionais. Está além do escopo deste relatório fazer uma avaliação da demanda do mercado. Meios de vida sustentáveis Um desenvolvimento rural/florestal sustentável deve considerar e apoiar a população destas áreas considerada como econômica, social e/ou ambientalmente vulnerável. Isto é essencial para garantir uma partilha justa dos benefícios entre as comunidades que dependem da floresta e agricultores familiares, assim como apoiar tanto sua capacidade de geração de renda sem novos desmatamentos quanto sua capacidade de lidar com os impactos das mudanças climáticas e garantir a segurança alimentar. Em última análise, a transição para o desenvolvimento sustentável deve contribuir para a prosperidade e desenvolvimento geral do estado para contar com o apoio continuado dos eleitores. Comunidades rurais/florestais no Acre com situação fundiária esclarecida encontram-se em: Projetos de Assentamento tradicionais, Projetos de Assentamento florestal, Reservas Extrativistas e Terras Indígenas. Essas áreas totalizam 9,4 milhões de hectares e mais de 140.000 pessoas vivem nelas. Terras Indígenas e Reservas Extrativistas apresentam alta cobertura florestal, enquanto os Projetos de Assentamento tradicionais exercem grande pressão sobre a floresta e têm altos índices de desmatamento. O Governo do Acre tem dois programas para o desenvolvimento de meios de vida sustentáveis: Planos de Desenvolvimento Comunitário (PDC), destinados a Reservas Extrativistas e Projetos de Assentamento, e Planos de Gestão de Terra Indígena (PGTI). Para o PDC, o Governo do Estado demanda investimentos para desenvolver e implementar planos de desenvolvimento comunitário em pouco menos de 2.000 comunidades rurais. Para o PGTI, o Governo do Estado requer financiamento para desenvolver e implementar planos de desenvolvimento em 34 terras indígenas. 20 tRANSIção DE CADEIAS PRoDutIvAS SuStENtÁvEIS Tabela 3: Descrição da transição para o desenvolvimento sustentável (DS) para cada cadeia produtiva. CADEIAS PRoDutIvAS DESCRIção DA tRANSIção PARA o DESENvolvImENto SuStENtÁvEl mEtA PARA tRANSIção PARA DS (PRoDução) mEtA PARA tRANSIção PARA DS (INDuStRIAlIzAção, SE foR o CASo) Carne bovina Transição de parte da área de pecuária para a produção em sistema mais intensivo Aumentar a produção do cenário de referência (1 Unidade Animal por ha – UA/ha) para o de desenvolvimento sustentável (1,5 UA/ha) em 400 mil hectares de pastagens existentes em 10 anos ND Carne suína Aumentar a produção de carne suína usando um sistema intensivo de produção Aumento da produção em 700 fazendas que usam sistemas de produção intensiva, em cinco anos. ND Madeira (reflorestamento) Restaurar e reflorestar áreas degradadas para a produção de madeira Reflorestamento de 24.000 ha com Paricá ao longo de 12 anos, para alcançar uma produção de 700.000 m3 por ano ND Madeira (florestas comunitárias) Aumentar a madeira extraída de florestas comunitárias através de Manejo Florestal Sustentável (MFS) e aumentar a capacidade de processamento Implementar o MFS em 280.000 ha em florestas comunitárias em quatro anos, aumentando a produção de 17.000 m3 por ano para 280.000 m3 por ano com um ciclo de corte de 30 anos Financiar duas unidades de processamento, aumentando a capacidade de processamento em 240.000 m3 por ano. Ambas podem processar madeira comunitária e oriunda de concessão florestal Madeira ( concessões florestais) Aumentar a madeira extraída de florestas estaduais usando MFS e aumentar a capacidade de processamento Implementar planos de MFS em 480.000 ha em florestas estaduais em regime de concessão em um ano, movendo a produção de 47.000 m3 por ano para 260.000 m3 por ano com um ciclo de corte de 30 anos Borracha Aumentar a extração de borracha de seringais de reflorestamento e aumentar a capacidade de processamento Aumentar a produção em 10 mil hectares de reflorestamento com seringueira, com a produção atingindo 16.000 toneladas/ano em um período de 10 anos Construir uma usina de processamento no 7º ano, aumentar a capacidade de processamento em 5.000 toneladas por ano Castanha-do-brasil Melhorar a colheita, armazenamento e transporte de castanha-do- brasil e aumentar a capacidade de processamento Aumentar de 11 mil toneladas por ano para 19 mil toneladas por ano em 10 anos Construir uma usina de processamento, aumentar a capacidade de processamento em 7.500 toneladas por ano Açaí Aumentar a produção de açaí em sistemas agroflorestais em terras degradadas e aumentar a capacidade de processamento Aumentar a produção em 2.000 ha de sistemas agroflorestais em mais de 2 anos, aumentando a capacidade de produção para 8 a 12 toneladas por ano Construir uma fábrica de processamento, aumentar a capacidade de processamento em 24 toneladas por ano Óleo de palma Aumentar a produção de óleo de palma em sistemas agroflorestais utilizando terras degradadas e aumentar a capacidade de processamento Aumentar as plantações de palma de 450 ha para 5.000 ha em 5 anos Construir uma fábrica de processamento, aumentar a capacidade de processamento em 110.000 toneladas por ano Piscicultura Melhorar a produtividade de sistemas de piscicultura e aumentar da capacidade de processamento Aumentar a produção para 25.000 toneladas por ano, durante cinco anos, com 3.100 hectares de açudes Aumentar a capacidade de processamento em 25.000 toneladas por ano com a construção de duas novas fábricas Grãos Melhorar os processos de produtividade e de produção de grãos Aumentar a área de produção de grãos em 20.000 ha, aumentando a produção de 1.000 kg para 5.000 kg por hectare por ano em 10 anos ND 21 © Rachel Kramer/National Wildlife Federation 22 Há um custo para implementar as atividades descritas no Capítulo 4. O custo indica o montante necessário para a transição para o desenvolvimento sustentável, bem como formas adequadas de levantar e investir capital. O custo da transição para o desenvolvimento sustentável é mostrado na Tabela 2. A tabela mostra o investimento inicial necessário para a transição de produção e processamento do cenário de referência para o de desenvolvimento sustentável em um período de dez anos. Isso inclui custos como a compra de máquinas e equipamentos necessários para manejo da terra melhorado e mais sustentável. Seguindo orientações contábeis convencionais, os desembolsos iniciais não incluem os custos operacionais como os custos de mão de obra, seguros e aluguel da terra, que seriam pagos ano a ano durante a transição. A tabela mostra os custos descontados e não descontados. O investimento inicial não descontado é o custo real para o produtor ou processador realizar o pagamento de despesas e compras no ano em que os custos são incorridos. O investimento inicial descontado é o custo para o investidor depois de levar em consideração o valor temporal do dinheiro esperado. Os custos de investimento iniciais descontados/não descontados somam R$ 1,8/2,3 bilhões em 10 anos. Destes, R$ 396/546 milhões são destinado à conservação, R$ 1,1/1,3 bilhão para as cadeias produtivas sustentáveis e R$ 325/457 milhões para meios de meios de vida sustentáveis. A taxa de desconto de 8% foi usada (ver a explicação desta taxa na página 17). o CuSto DA tRANSIção Tabela 4: Custo da transição para o desenvolvimento sustentável em áreas temáticas DESEmBolSoS INICIAIS DESCoNtADoS Em mAIS DE 10 ANoS (R$ mIlhõES) DESEmBolSoSINICIAIS Não DESCoNtADoS Em mAIS DE 10 ANoS (R$ mIlhõES) totAl PRoDução INDÚStRIA totAl PRoDução INDÚStRIA Açaí 16 7 9 22 7 14 Piscicultura 200 185 19 241 226 16 Carne bovina 454 454 ND 627 627 ND Castanha 17 6 11 21 9 11 Grãos 26 26 ND 34 34 ND Óleo de palma 59 35 25 76 41 35 Carne suína 44 44 ND 51 51 ND Borracha 94 98 4 111 102 9 Madeira (comunitária) 20 2 19 23 3 31 Madeira (concessão) 23 2 20 23 3 20 Madeira (reflorestamento) 130 130 ND 80 80 ND Cadeias produtivas sustentáveis 1,080 990 90 1,307 1,182 126 SEANP 239 ND ND 329 ND ND Revitalização do Rio Acre 157 ND ND 217 ND ND Conservação 396 ND ND 546 ND ND PDC 268 ND ND 375 ND ND PGTI 57 ND ND 82 ND ND meios de vida sustentáveis 325 ND ND 457 ND ND total 1,801 990 990 2,310 ND ND 23 Figura 4: Desembolso inicial para a transição para o desenvolvimento sustentável em 10 anos DESCONTADO NÃO DESCONTADO CUSTO TOTAL EM 10 ANOS: R$ 1,8 a 2,3 bilhões 0 300 600 900 1200 1500 IN VE ST IM EN TO IN IC IA L (R $ M IL HÕ ES ) CA DE IAS PR OD UT IVA S S US TE NT ÁV EIS CO NS ER VA ÇÃ O ME IOS DE VI DA SU ST EN TÁV EIS 24 © iStockphoto.com/Brasil2 25 Este capítulo descreve os fluxos de caixa da transição para o desenvolvimento sustentável. Um fluxo de caixa é a diferença entre as receitas geradas com a venda de um bem ou serviço e os custos de produção ou fornecimento do bem ou serviço. É importante compreender os fluxos de caixa porque eles indicam a rentabilidade do investimento na transição e porque indicam se a produção e processamento da transição podem gerar recursos para reembolsar o valor que foi emprestado para cobrir os investimentos iniciais (discutidos na Capítulo 5). Este, por sua vez, pode indicar como o capital deve ser alocado em áreas temáticas. Os fluxos de caixa descritos aqui não se destinam a descrever com precisão os fluxos de caixa de uma empresa ou fundo que pode financiar a transição para o desenvolvimento sustentável. Eles não representam os fluxos de caixa de cada empresa ou produtor ativos nas cadeias produtivas nem descrevem o lucro de investir em qualquer empresa, produtor ou grupo de empresas no Acre. Os fluxos de caixa são uma primeira tentativa de agregar os custos e receitas de produção e processamento em todas as onze cadeias produtivas após sua transição. Os fluxos de caixa não incluem os custos e receitas de qualquer produção contínua usando sistemas produtivos do cenário de referência - CR. Da mesma forma, não incluem o processamento de produtos produzidos usando sistemas do CR. Por exemplo, na cadeia produtiva de carne bovina, somente os custos e receitas da produção de carne bovina que usam o sistema melhorado de criação de gado são usados no modelo de fluxo de caixa; o modelo não inclui a parte da cadeia produtiva de carne bovina que, no futuro ainda estaria usando o sistema de criação de gado atual e menos intensivo. Para calcular os fluxos de caixa, o escritório de economia Vivid Economics elaborou uma modelo em Excel para o qual os dados brutos foram fornecidos pelo Governo do Estado e consultores contratados para esta finalidade. Os fluxos de caixa foram calculados usando dois horizontes temporais distintos. O primeiro é um horizonte temporal de dez anos. Do ponto de vista de um investidor de renda fixa (por exemplo, um investidor em títulos públicos) ou um credor (por exemplo, um banco de desenvolvimento), na transição para o desenvolvimento sustentável todas as cadeias produtivas deve ser consideradas em um horizonte temporal padronizado, independente do ciclo produtivo de cada cadeia. Caso contrário, os reembolsos aos investidores podem variar de ano para ano e provavelmente os retornos não se encaixarão em um cronograma de reembolso fixo. O segundo horizonte temporal é o ciclo produtivo de uma cadeia , dependente do ciclo de vida do produto ou do sistema produtivo, por exemplo, o ciclo de corte de madeira de floresta manejada ou o tempo de produção de borracha em seringal plantado. Optou-se por um horizonte temporal máximo de 30 anos para análise de fluxo de caixa o qual corresponde ao ciclo produtivo daquelas cadeias produtivas mais longevas. O fluxo de caixa descontado e a taxa interna de retorno [ 8 ] (TIR) são apresentados na Tabela 4 em ambos os horizontes temporais. A taxa de desconto usada foi de 8% (ver página 17). o fluxo DE CAIxA DA tRANSIção O QUE É UM TÍTULO DA DÍVIDA PÚBLICA? Um título da dívida pública é um tipo de acordo no qual o capital inicial é fornecido por um investidor em troca de uma promessa de reembolso ao investidor do valor do título (chamado principal) mais o pagamento de juros periódicos (chamado cupom). O recebedor do capital é chamado emissor. Os pagamentos de cupons são efetuados para o investidor em base anual ou semestral e o principal do título é reembolsado no final da vida do título, conhecido como maturidade. Um título pode ser comprado por um investidor e mantido até o vencimento (maturidade). Se não for mantida até o vencimento, o título pode ser negociado no mercado. Diferentes investidores colocarão preços distintos sobre o título, que serão porcentagens do valor do principal. Se o preço é igual ao valor do principal, diz-se que o título é negociado ao par. Para determinar o rendimento total de um investimento em um título, um investidor deve somar duas fontes de retorno: os pagamentos de cupom e a diferença de preço quando o título é vendido em comparação a quando foi comprado (chamado ganhos de capital) (Fabozzi and Mann, 2012) [ 9 ]. 26 O que o fluxo de caixa nos diz? Em um horizonte temporal de 30 anos, o fluxo de caixa não descontado é positivo, o que significa que as receitas são geradas além e acima do custo da transição para o desenvolvimento sustentável. Isto significa que os investidores que financiam a transição podem ser reembolsados durante este horizonte de tempo mais longo e/ou as receitas podem ser usadas para financiar as atividades de conservação e de meios de vida sustentáveis. O fluxo de caixa descontado indica a um investidor se a transição pode gerar o rendimento exigido. Um fluxo de caixa descontado positivo (de R$ 635 milhões em 30 anos, usando uma taxa de desconto de 8%) significa que provavelmente pode. No entanto, algumas cadeias produtivas individuais têm fluxo de caixa negativo durante 30 anos e, portanto, talvez não atraiam investidores. Em contraste, em um horizonte temporal de 10 anos, o fluxo de caixa descontado é negativo (-R$ 405 milhões), o que significa que as receitas não são geradas além e acima do custo da transição para o desenvolvimento sustentável no período de dez anos. Nem pode dar aos investidores um retorno sobre seu investimento neste período. É comum comparar uma TIR com o rendimento dos títulos da dívida pública, porque estes são, muitas vezes, considerados como referência para os retornos esperados pelos investidores no país pois são o investimento alternativo de menor risco (para mais explicações, veja página 17). Os retornos sobre os títulos do Governo Federal brasileiro de 30 a 40 anos apresentam um rendimento anual pouco abaixo de 10% [ 10 ]. Portanto, uma TIR de 14% em um horizonte de tempo de 30 anos é um retorno atraente para investidores privados. Um investidor na transição para o desenvolvimento sustentável pode receber uma TIR que é aproximadamente 4% maior do que o rendimento do investimento alternativo de menor risco mas vencimento similar (maturidade) aos títulos da dívida pública brasileira. Comparando os resultados dos ciclos produtivos de 10 e 30 anos nas cadeias produtivas de maneira individual, o período de 30 anos em todas as cadeias, exceto duas, apresenta fluxos de caixa descontadospositivos. Em contraste, sete de onze cadeias produtivas apresentam fluxos de caixa descontados negativos no horizonte de 10 anos e cinco apresentam TIRs negativos. Para as duas cadeias produtivas que têm fluxos de caixa descontados negativos no período de 30 anos, o gestor do fundo encarregado de gerir o investimento na transição para o desenvolvimento sustentável terá dificuldade para alocar capital para essas cadeias produtivas, pois é difícil de justificar a realização de investimentos que podem acarretar em prejuízos. Uma grande parte do total do fluxo de caixa descontado positivo para todas as cadeias produtivas em 30 anos pode ser atribuída às cadeias produtivas de carne bovina, castanha-do-brasil e grãos. Cada uma tem um fluxo de caixa descontado individual de R$ 100 a 300 milhões. Sem essas cadeias produtivas, o fluxo de caixa total descontado cai significativamente, para R$ 145 milhões. A capacidade de extrair uma grande parte dos lucros e distribuí-lo para os investidores, portanto, passa a depender de um conjunto restrito de cadeias produtivas e torna-se difícil justificar investimentos em outras cadeias produtivas pois elas contribuem menos para o lucro do investimento na transição para o desenvolvimento sustentável. Conservação e meios de vida sustentáveis Como resultado de aliviar a pressão para desmatar – por meio da conservação, transição de cadeias produtivas e facilitação do desenvolvimento sustentável das comunidades rurais – o fornecimento de diversos serviços ecossistêmicos está garantido. Pagamentos em troca de fornecimento de serviços ecossistêmicos podem ser feitos a partir de fontes externas para o estado do Acre. Por exemplo, o serviço ambiental de armazenamento de carbono resulta em menos emissões de carbono do que haveria se este serviço ambiental fosse removido. -8% +14% TAXA INTERNA DE RETORNO (TIR) NO HORIZONTE DE 10 ANOS TAXA INTERNA DE RETORNO (TIR) NO HORIZONTE DE 30 ANOS 27 Tabela 5: Fluxos de caixa da transição para o desenvolvimento sustentável em períodos de 10 e 30 anos. Conforme descrito no Capítulo 3, a redução das emissões de carbono é fornecida pelas florestas do Acre para a população acreana e para o mundo. O valor desse carbono poderia ser de R$ 2,2 – 4,3 bilhões no período de 2012-2025 (ver página 14). As atividades de conservação e meios de vida sustentáveis no modelo de transição contribuem diretamente para o fornecimento destes serviços ecossistêmicos e podem, portanto, gerar receita de pagamentos recebidos pela provisão destes serviços. No entanto, a provisão de serviços ecossistêmicos, como a redução das emissões de carbono, atualmente não pode ser demonstrada como diretamente associada às atividades da transição para o desenvolvimento sustentável devido à falta de dados. Por outro lado, o valor do fornecimento de serviço ambiental não pode atualmente ser capturado através de, por exemplo, mercados de carbono florestal. Portanto as atividades de conservação e meios de vida sustentáveis são, para fins do presente relatório, consideradas não geradoras de receita. Esta é a razão por que este relatório avalia se a receita gerada a partir das cadeias produtivas sustentáveis pode cobrir parte ou a totalidade do custo das atividades que não geram receita. Esta questão será discutida mais a fundo no Capítulo 7. Aqui, usa-se um rápido cálculo para mostrar se pode ser possível pagar pela conservação e meios de vida sustentáveis reciclando parte da receita gerada a partir das cadeias produtivas considerando um período de investimento de 10 anos. Para fazer isso, os fluxos de caixa descontados e não descontados são ajustados para incluir os custos das atividades que não geram receita (o fluxo de caixa descontado é usado por permitir que esse ajuste seja feito enquanto na mesma contabilização para pagar um rendimento anual para um investidor a uma taxa de desconto de 8%). O resultado é que, no horizonte de tempo de até 30 anos, o fluxo de caixa descontado é negativo após este ajuste ser feito: -R$ 86 milhões. Isto significa que as receitas geradas com a venda de produtos nas cadeias produtivas sustentáveis não podem cobrir todos os desembolsos iniciais de atividades que não geram receita, ao mesmo tempo que fornece pelo menos um rendimento anual de 8% a um investidor. Em contraste, o fluxo de caixa não descontado é positivo após este ajuste ser feito: R$ 3,037 milhões. Por conseguinte, é possível que a receita gerada a partir das cadeias produtivas possa cobrir parte ou a totalidade dos custos de desembolso inicial das atividades de conservação e meios de vida sustentáveis. No entanto, isso depende do fato do investidor esperar um rendimento maior ou menor do que o rendimento anual de 8% presumido neste cálculo e no ano em que a receita pode ser reciclada. Para simplificar, este relatório presume que a receita pode ser reciclada no mesmo ano em que é gerada, embora, na realidade, isso provavelmente não será o caso. AtÉ 10 ANoS AtÉ 30 ANoS fluxo DE CAIxA DESCoNtADo (R$ mIlhõES) fluxo DE CAIxA Não DESCoNtADo (R$ mIlhõES) tIR (%) fluxo DE CAIxA DESCoNtADo (R$ mIlhõES) fluxo DE CAIxA Não DESCoNtADo (R$ mIlhõES) tIR (%) Açaí 11 36 16 77 242 27 Piscicultura -89 -63 Negativo -12 276 7 Carne bovina -149 -113 Negativo 276 1,755 14 Castanha 54 91 75 108 327 75 Grãos 30 61 36 106 394 40 Óleo de palma -68 -72 Negativo -1 171 8 Carne suína 5 28 11 50 224 19 Borracha -94 -130 Negativo 1 264 8 Madeira (comunitária) -3 6 5 5 5 14 Madeira (concessão) -2 10 6 15 86 14 Madeira (reflorestamento) -103 -156 Negativo 9 296 9 total/média -405 -302 -8 635 4,040 14 28 28 O fluxo de caixa descontado de uma cadeia produtiva é negativo se a soma dos custos for maior do que a soma das receitas durante o ciclo produtivo desta cadeia . Para um investidor, cadeia produtiva com fluxo de caixa descontado negativo não é um investimento sensato, porque o retorno pode ser menor do que o investimento alternativo de baixo risco. Algumas cadeias produtivas do Acre têm fluxos de caixa descontados negativos em seu período (veja a tabela de fluxo de caixa na página 27). Como resultado, um investidor pode não desejar financiar estas cadeias produtivas. No entanto, cadeias produtivas com fluxo de caixa negativo não necessariamente indicam que não sejam lucrativas. Na verdade, todas as cadeias produtivas têm um fluxo de caixa não descontado positivo (ver página 27). Uma cadeia produtiva pode ter um fluxo de caixa positivo (e, portanto, o investimento pode receber um retorno positivo no período), mas depois que é descontado, o fluxo de caixa torna-se negativo (ver página 17). Além disso, grandes custos com máquinas e equipamentos, nos primeiros anos da transição, terão desconto menor do que as receitas recebidas em anos posteriores. Portanto, as cadeias produtivas de óleo de palma e piscicultura, que são consideradas pelo Governo do Estado como duas das cadeias produtivas mais rentáveis [ 11 ], têm fluxos de caixa descontados negativos em um período de 30 anos. Veja abaixo uma explicação sobre os fluxos de caixa descontados negativos destas duas cadeias produtivas. Óleo de palma Em 30 anos, a cadeia de suprimentos do óleo de palma apresenta fluxo de caixa descontado negativo de -R$ 1 milhão. Como pode ser visto na Figura 4, há um fluxo de caixa negativo grande nos primeiros anos da transição. Isto se deve aos investimentos iniciais em maquinário e unidades de processamento nos primeiros anos. As receitas não superam esses custos até o ano seis; após, o fluxo de caixa continua a ser positivo. No entanto, devido aos descontos, o fluxo de caixa positivo dos últimos anos diminui de valor; assim, o fluxo de caixa total após o ano 6 não pode equilibrar o fluxo de caixa negativo de anosanteriores. Piscicultura Na cadeia de suprimentos de piscicultura, há uma história similar ao óleo de palma. Em 30 anos, ela apresenta fluxo de caixa descontado negativo de -R$ 12 milhões. O fluxo de caixa descontado negativo é o resultado de desembolsos iniciais maiores nos primeiros anos da transição e desconto posterior. A Figura 5 mostra como o desconto diminui o valor do fluxo de caixa positivo nos anos posteriores, resultando em um fluxo de caixa negativo descontado em 30 anos. fluxoS DE CAIxA DESCoNtADoS NEgAtIvoS Figura 5: Fluxo de caixa de óleo de palma Figura 6: Fluxo de caixa de piscicultura 29 © Yayan Indriatmoko/CIFOR 30 o fINANCIAmENto DA tRANSIção Este capítulo apresenta três possíveis mecanismos para financiamento das atividades descritas no Capítulo 4. As conclusões dos Capítulos 5 e 6, bem como consultas externas realizadas pelo GCP, são usadas como base para a discussão neste capítulo. Os mecanismos explorados aqui não são conclusivos e têm o intuito de iniciar um diálogo sobre o financiamento da transição para o desenvolvimento sustentável no Acre. Muitas questões ainda precisam ser exploradas em maior detalhe, principalmente aquelas relacionadas aos arranjos institucionais dos mecanismos e serão tratadas em uma fase posterior do projeto. Os três mecanismos são definidos principalmente por dois fatores. O primeiro é o nível de envolvimento do Governo Estadual na captação de recursos para o mecanismo, uma consideração essencial na aprovação de um mecanismo de financiamento pelo Governo Estadual. O segundo é a capacidade de financiar as atividades nas duas áreas temáticas de conservação e meios de vida sustentáveis (as atividades não geradoras de receita). O financiamento das atividades que não geram receita é uma parte essencial para garantir que a transição para o desenvolvimento sustentável aconteça em todas as três áreas temáticas. Isto pode ser conseguido com a reciclagem das receitas geradas além e acima dos investimentos (ou seja, os lucros) nas cadeias produtivas para cobrir alguns custos da atividades que não geram receita. O nível de envolvimento do Governo do Estado em cada um dos mecanismos pode variar de alto para médio, mas todos os três mecanismos exigem que Governo do Estado invista, catalise o investimento privado (por exemplo, fornecendo garantias) ou capte recursos para o fundo. A habilidade para reciclar as receitas das cadeias produtivas sustentáveis para cobrir parte dos custos das atividades que não geram receita varia de improvável para possível. Isso ocorre porque os investidores potenciais – diferentes em cada mecanismo – decidem se estas atividades podem ser financiadas. A Figura 6 apresenta os três mecanismos potenciais em uma matriz desses dois fatores. Em todos os três mecanismos, presumimos que o capital será gerido por um novo fundo, criado com o único propósito de investir na transição para o desenvolvimento sustentável no Acre. Isto recebe o nome de fundo de transição. Supõe-se também que o fundo detém os lucros gerados a partir das cadeias produtivas sustentáveis. Claramente, esta é uma suposição muito simplificada: agricultores, empresas ou organizações locais, em geral, detêm os lucros. No entanto, para compreender melhor o cenário idealizado, este relatório pressupõe que o fundo de transição detenha os lucros, e pode, portanto, tomar decisões sobre a possibilidade de distribuir lucros aos investidores ou destinar para atividades de conservação e meios de vida sustentáveis. Os mecanismos são apresentados em duas etapas. A primeira etapa considera o nível e a forma de investimento do setor público, a possibilidade de que haja qualquer investimento do setor privado e o tipo de capital que pode ser captado junto a investidores públicos e privados, por exemplo, empréstimos, títulos ou investimentos em participações de ações (equity). Nesta etapa considera-se o investimento inicial nas cadeias produtivas como o investimento necessário. A segunda etapa analisa se as áreas temáticas de conservação e meios de vida sustentáveis podem ser financiadas através da destinação de parte da receita gerada nas cadeias produtivas sustentáveis. Figura 7: Estrutura de mecanismos para financiar a transição para o desenvolvimento sustentável. fINANCIAmENto DA CoNSERvAção E mEIoS DE vIDA SuStENtÁvEIS PoSSÍvEl ImPRovÁvEl NÍvEl DE ENvolvImENto Do govERNo EStADuAl Alto fuNDo vINCulADo Ao govERNo mÉDIo fuNDo vINCulADo A IfI fuNDo INDEPENDENtE 31 A casa do Chico Mendes © Eduardo Arraes 32 oS tIPoS DE CAPItAl E INvEStIDoRES quE PoDERIAm fINANCIAR A tRANSIção Fundamentos Para financiar a transição para o desenvolvimento sustentável, o fundo de transição precisará captar recursos do setor público, setor privado ou uma combinação de ambos. Cada tipo de investidor público ou privado tem um apetite diferenciado para risco. Normalmente, um investidor do setor público terá um maior apetite por risco do que um investidor privado. O apetite por risco de cada investidor determinará se as atividades de transição podem ser financiadas por aquele investidor. O capital pode ser na forma de participação (equity), doação (fundo perdido) ou empréstimo. Doação ou fundo perdido é a provisão de dinheiro de uma organização – provavelmente um governo de país doador – ao fundo de transição para a qual não há expectativa de reembolso ou de retorno financeiro sobre o investimento. A participação acionária (equity em inglês) é a provisão de dinheiro em troca de propriedade parcial de uma organização, geralmente com a expectativa de receber pagamentos periódicos (chamados dividendos) e um aumento no valor de sua propriedade parcial na empresa (chamado ganho de capital). Empréstimo é a provisão de capital inicial em troca da promessa de reembolso do capital, com juros, durante um período fixo de pagamento. Normalmente, o empréstimo é realizado na forma de títulos ou empréstimos diretos, os quais se diferenciam pela maneira de como o capital é reembolsado ao investidor. A decisão de um investidor de oferecer empréstimo depende do rendimento esperado e o grau de risco percebido do investimento. O risco percebido geralmente é medido por um método conhecido como classificação de crédito (credit rating em inglês), que é uma medida da capacidade do tomador pagar o valor emprestado. Os tipos de capital e investidores no Acre A composição de doação, participação acionária e empréstimo nos financiamentos do fundo de transição é conhecida como estrutura de capital. A transição para o desenvolvimento sustentável exige financiamento para uma série de atividades, cada uma com um risco diferente para os investidores de que o investimento não será reembolsado (ou seja, um risco de inadimplência). Como resultado, as atividades com alto risco de inadimplência atrairão investidores com apetite para o alto risco e as atividades com um baixo risco de inadimplência recorrerão a investidores com um reduzido apetite para o risco. Diferentes tipos de investidores com apetite por risco diferenciado podem fornecer diferentes formas de capital. Para estruturar o investimento de forma que os investidores enfrentem os riscos correspondentes aos seus apetites de risco, presume-se que todas as formas de capital podem ser combinadas na estrutura de capital do fundo de transição. No entanto, os tipos de investidores que oferecem diferentes formas de capital serão diferentes em cada um dos três mecanismos, bem como a dimensão do seu investimento. Como doação a fundo perdido não requer reembolso e porque a participação acionária é mais arriscada para o investidor do que empréstimo, é provável que tanto a participação quanto doação venham de fontes do setor público (ver mais
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