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Apostila de Direito Penal IV

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Prévia do material em texto

“Em nenhum ramo do direito se encontram a teoria e a pratica tão afastadas como 
no Direito Penal, em nenhum ramo do direito pode a Universidade transmitir aos 
alunos tão pouco do que será a sua prática futura como no nosso. Assim, a defesa 
criminal foi entendida como algo instituído para opor limites eficazes a violência 
da justiça penal. Os professores de Direito Penal tiveram um papel matizado. O 
defensor criminal era portador das expectativas na mudança resoluta naquela 
prática do Direito Penal, no sentido de sensibilizar os estragos causados pelo 
Direito Penal e da limitação da intervenção penal. 
[Direito Penal, defesa penal e Constituição, discurso do Prof.º Winfried Hassemer 
(1940-2010), eterno catedrático de Direito Penal da Universidade de Frankfurt 
am Main]. 
 
APOSTILA DE DIREITO PENAL IV 
2018.1 
 
Responsável: Valter Guerreiro 
Monitor de Direito Penal IV 
Membro do Grupo de Estudos de Direito Penal Econômico 
 
 
 P á g i n a 1 | 448 
1 
SUMÁRIO GERAL 
 
Material de Leitura Páginas 
Crimes Hediondos 16 - 39 
Lei de Drogas 45 - 75 
Crimes contra a Ordem Tributária 88 - 109 
Abuso de Autoridade 119 - 145 
Juizados Especiais Criminais 161 - 180 
Crimes Ambientais 181 - 206 
Execução Penal 213 - 237 
Crimes contra a Administração Pública 248 - 288 
 
Resumo do Conteúdo Páginas 
Crimes contra a Dignidade Sexual 332 - 343 
 
Bloco de Questões Comentadas Páginas 
Crimes Hediondos 40 – 44 
Lei de Drogas 76 – 83 
Crimes Tributários e Abuso de Autoridade 146 – 157 
Execução Penal 238 – 245 
Crimes contra a Administração Pública 289 – 294 
 
Treinamento para o Trabalho Páginas 
Lei de Drogas 84 – 87 
Crimes Ambientais 207 – 209 
 
Respostas das Atividades Complementares Páginas 
Verificação Parcial I 158 – 160 
Verificação Parcial II 210 – 212 
 
Plano de Aula Páginas 
Crimes Hediondos e Lei de Drogas 8 – 9 
Crimes Tributários e Abuso de Autoridade 10 – 11 
Crimes Ambientais, Juizados Especiais Criminais e Execução Penal 12 – 13 
Crimes contra a Administração Pública e contra a Dignidade Sexual 14 – 15 
 
Complementos Páginas 
Registro Inicial e Nota Introdutória 2 – 7 
Questões de Direito Penal IV do Exame de Ordem 344 – 350 
Respostas da 2º chamada da Verificação Parcial II 246 – 247 
85 Questões Resolvidas de Crimes contra a Administração Pública 295 – 331 
Nota Técnica: Crimes Tributários no Novo Código Penal 110 – 118 
Legislações 350 – 448
 
 
 
 P á g i n a 2 | 448 
2 
REGISTRO INICIAL 
Por Valter Guerreiro 
 
 
INSTRUÇÕES GERAIS E PADRÕES 
✎ Este material é uma produção personalizada do monitor para a disciplina de Direito Penal IV do Curso de 
Direito do Centro Universitário 7 de Setembro, estando aberto para qualquer tipo de reprodução e uso, 
abjetando-se a ideia de privação de conhecimento. 
✎ A metodologia utilizada é semelhante ao syllabus – muito comum nos EUA – que consiste em fornecer leitura 
prévia aos alunos antes da realização de cada aula, o que diferencia da tradição de passar material apenas para 
revisão. O aluno que, por ventura, quiser estudar apenas em véspera de prova, terá a opção de analisar o 
conteúdo da apostila de forma objetiva, centrando seu esforço de última hora nas ementas, nos exercícios de 
fixação e nos blocos de questões comentadas, além das eventuais sínteses e quadros sinóticos presentes nos 
materiais de leitura. 
✎ O conteúdo de cada material de leitura permite aos alunos uma amplitude de conhecimentos baseada em: 
pontos objetivos de importância para a prova, contato com julgados relevantes e recentes, além de referências 
às doutrinas e legislações nacionais e estrangeiras, facilitando a pesquisa acadêmica daqueles que se interessarem 
em desenvolver algo a mais em relação ao teor da disciplina. 
✎ A disponibilização deste material não impede o incremento de anexos ao decorrer do semestre, à medida 
em que o Prof.º Mário Albuquerque for desenvolvendo o conteúdo da disciplina. 
 
E-mail: valter.mnova@gmail.com 
WhatsApp: 9 9613 3341 
 
 
Verificação Parcial I 
01. Crimes Hediondos 
02. Lei de Drogas 
03. Crimes Tributários 
04. Abuso de Autoridade 
Verificação Parcial II 
01. Juizados Especiais Criminais 
02. Crimes Ambientais 
03. Execução Penal 
 
Verificação Final 
01. Crimes contra a Administração Pública 
02. Crimes contra a Dignidade Sexual 
 
 
 
 
 
 P á g i n a 3 | 448 
3 
NOTA INTRODUTÓRIA 
 
Noções gerais da disciplina e lições importantes 
A disciplina de Direito Penal IV é difícil pela elevada quantidade de 
conteúdo, mediana pelo nível das provas – incluindo as atividades complementares – 
e fácil pela correção de quaisquer avaliações. 
Comecemos do pior. De fato, a matéria trata de legislações penais 
especiais (Crimes Hediondos, Lei de Drogas, Crimes Tributários, Abuso de 
Autoridade, Juizados Especiais Criminais, Crimes Ambientais e Execução Penal) que 
contêm diversos artigos, sejam tratando de tipos penais propriamente ditos ou de 
questões processuais. Ainda tem o conteúdo relativo à Parte Especial do Código Penal 
(Crimes contra a Administração Pública e Crimes contra a Dignidade Sexual). Para 
piorar – e muito – a situação, são várias súmulas e entendimentos jurisprudenciais dos 
quais vocês precisam saber. 
Primeira lição: pode cair qualquer coisa nas provas e nos trabalhos feitos 
em sala, da primeiraletra da ementa da lei até a última letra da assinatura da autoridade 
que outorgou a mesma, o que, praticamente, obriga vocês a lerem a “letra da lei” e 
absorverem uma quantidade de conteúdo desproporcional em relação às outras 
disciplinas. 
Sobre as questões das avaliações (provas e trabalhos), cabe dizer que 
disponibilizo nesta apostila diversos exercícios comentados, tanto subjetivos como 
objetivos, abrangendo questões de concursos públicos que pesquisei até mesmo 
questões de provas passadas da cadeira. Dessa forma, fica mais fácil vocês adivinharem 
o que ele vai colocar. 
Ainda assim, importa relatar que sempre cai uma ou outra questão 
“nonsense”, que se tornam difíceis por serem muito específicas (de determinada artigo 
muito “escondido” da lei). 
Segunda lição: não vacilem, em hipótese alguma, nas questões presumidas, 
ou seja, naquelas mais indicadas a serem cobradas nas avaliações, pois, a uma, vocês já 
têm elas respondidas aqui e, a duas, já garantem, assim, 80% a 90% da nota. 
Em relação às correções, não vou incentivá-los a enrolar, porque a ideia é, 
realmente, aprender a matéria, haja vista a importância dela em concursos públicos (de 
fato, é a disciplina de Direito Penal mais importante neste sentido) e no Exame de 
Ordem da OAB, além do próprio aprendizado em si. 
No entanto, deu branco na hora de resolver a questão, se estiverem na 
“zebra total”, mais perdidos do que cego em tiroteio, não hesitem em escrever. Não 
deixem jamais questões em branco. Acreditem: algumas questões farão com que vocês 
pensem em fazer isso, sobretudo porque o Prof.º Mário Albuquerque coloca, vez ou 
outra, termos em latim ou sinônimos, que causarão espanto quando vocês lerem. 
Terceira lição: não se assustem com questões “feias”, pois a solução delas 
é bem mais simples do que se pode imaginar de início e não demonstrem estarem 
totalmente alheios ao conteúdo quando responderem alguma questão mais difícil ou 
que não saibam. 
 
 
 P á g i n a 4 | 448 
4 
Possibilidade de mudanças 
Considerável parte do conteúdo aqui apresentado foi escrito por mim no 
semestre passado, inclusive todo o planejamento foi feito antes mesmo do início das 
aulas de 2017.2. 
Isso é importante porque, naturalmente, ocorreram contratempos, tendo 
em conta que eu não tinha anotado nada das aulas do Mário (não uso caderno) e só 
peguei algumas informações de colegas da minha turma, baseando-me mais no que li 
na doutrina e jurisprudência, fazendo, notadamente, juízos de valor dos quais destaco 
ao transcorrer da apostila. 
A primeira mudança que poderá ocorrer diz respeito a matéria de cada 
prova, pois, por exemplo, quando eu fiz a cadeira a VP1 só englobou Crimes 
Hediondos, Lei de Drogas e Crimes Tributários, já para o pessoal de 2017.2 caiu Abuso 
de Autoridade também. No mesmo sentido, Crimes contra a Administração Pública 
não entrou na minha VP2, mas caiu tanto na VP2 como na VF do semestre passado. 
De prontidão, registro que, normalmente, não cai Crimes contra a 
Dignidade Sexual em prova alguma, pois sempre é o último assunto e, como fica muito 
em cima, ele costuma colocar a VF só sobre Crimes contra a Administração Pública. 
Sendo assim, percebam que o Prof.º Mário Albuquerque adota o método 
de colocar nas provas toda a matéria, não-cumulativa, que ele conseguiu ensinar até a 
realização das mesmas. Então, preferi sistematizar todo o conteúdo estudado no 
semestre passado em formato de apostila e, assim, colocar à disposição de todos desde 
o começo do semestre. 
Da mesma forma, os planos de aula estão baseados no andamento do 
semestre passado, ou seja, passíveis de alterações conforme o andar da carruagem. 
 
Método de trabalho 
Posso ter muitos defeitos, mas um tenho certeza que não: inacessibilidade. 
Sou amplamente disponível para tirar quaisquer dúvidas que tiverem a respeito da 
matéria, seja por onde, qual dia ou horário for. 
Podem enviar mensagens ou áudios por WhatsApp, mandar endereço 
eletrônico, fazer ligação telefônica ou falar pessoalmente. 
A intenção aqui é ajudar o máximo possível. Tenho uma concepção 
pedagógica de que o mau rendimento do estudante perpassa pela culpa indireta do 
professor e, consequentemente, do monitor. É obrigação da estrutura docente, com o 
auxílio dos monitores, envolver os discentes com as matérias, de modo que tribo ruim 
tem, em menor ou maior intensidade, problemas a acertar com o cacique. 
Quero formar uma parceria com vocês na perspectiva de que o nível da 
turma seja elevado, que as notas sejam boas e que o aprendizado seja proveitoso para 
os caminhos acadêmico e profissional de vocês. Vamos, então, colocar como objetivos 
a aprovação de todos e, ao menos, 90% da turma com média superior a 9 na disciplina. 
Contem comigo! 
 
 
 P á g i n a 5 | 448 
5 
Em relação às datas e horários das aulas, vocês estão livres para sugerirem 
e daí eu buscarei me adequar. Se não der, aviso logo e, então, a gente acerta de outro 
jeito. De todo modo, já esquematizei os planos de aula com base num cronograma que 
considero viável. Afirmo que não dá para trabalhar todo o conteúdo em somente uma 
aula de revisão, então já proponho articularmos 3 aulas de monitoria para a VP1, e 4 
aulas (2+2) para a VP2 e VF, sendo que provavelmente a última revisão será feita no 
último dia de aula normal da disciplina antes da prova. 
As revisões à parte do horário de aula – as iniciais – servirão para 
delinearmos os assuntos de forma mais apropriada e a última para fecharmos pontos 
importantes que podem se tornar um problema na hora da prova. Costumo tentar 
destacar bem objetivamente o que é ideal vocês estudarem para as provas e como 
responder as questões de forma adequada e simples. 
De antemão, peço que me mantenham informado sobre quaisquer 
apontamentos feitos pelo professor em sala de aula que não constarem nesta apostila, 
pois, como notarão, não sou muito de comparecer às aulas (pior do que fantasma), 
sendo importante esse apoio de vocês. 
 
Referências bibliográficas 
Definitivamente, em relação ao conteúdo da disciplina de Direito Penal 
IV, não há livro que abarque o conteúdo por completo, haja vista o fato de que os 
livros que abordam legislação penal especial, não tratam de Crimes contra a 
Administração Pública e Crimes contra a Dignidade Sexual e vice-versa. 
Sendo assim, utilizei diversas obras acadêmicas como referência, desde 
manuais e livros específicos até monografias, dissertações e teses, além de uma 
trabalhosa captação de jurisprudências, analisando-se, por exemplo, diversos acórdãos, 
coletando, assim, o cotejo entre o entendimento jurisprudencial e o assunto estudado. 
Importa expor que ao decorrer da apostila vocês perceberão que em vários 
momentos eu discordo da doutrina1, mas faço críticas à legislação e me coloco em 
desarranjo com as decisões majoritárias dos tribunais, porém sempre estará destacado, 
claramente, que se trata de opinião minha e qual é a melhor forma de responder na 
prova, seja de acordo com o professor ou expondo que existe divergência. 
Há registros mais densos e subjetivos da matéria em geral, todavia são mais 
presentes os enquadramentos objetivos e específicos para as verificações parciais, 
atividades complementares e provas de concurso público. 
Portanto, não vou sugerir genericamente um livro para seguirem como 
manual, até porque se fosse assim eu sequer teria feito esta apostila. De toda maneira, 
vou aconselhando, durante a nossa caminhada acadêmica, autores que tratam melhor 
sobre determinados temas. 
 
1 Discordar aqui não tem somente uma perspectivade achar que deveria ser de outro jeito, mas de expor 
a vocês que determinados entendimentos não são plenamente aceitos nos tribunais ou que existem 
divergências significativas em alguns temas, pelo que não se deve generalizar os posicionamentos 
doutrinários, como se fossem unificados. 
 
 
 P á g i n a 6 | 448 
6 
 
Principais inovações no conteúdo 
Algumas mudanças foram realizadas, tomando como base as inovações 
legislativas, as oscilações jurisprudenciais, um aprofundamento maior de minha parte 
em determinados temas, as questões de atividade complementar e de prova, além de 
posicionamentos do professor da disciplina durante o semestre passado. 
Em relação aos Crimes Hediondos, a Lei n.º 13.497/2017, de 27/10/2017, 
acrescentou a posse ou porte ilegal de arma de fogo de uso restrito no rol de crimes 
hediondos. Ademais, distingui sequestro de extorsão mediante sequestro, além de falar 
sobre a lesão corporal dolosa de natureza gravíssima e lesão seguida de morte contra 
agentes de segurança pública, crime hediondo que esqueci de citar no semestre 
passado. 
Quanto à Lei de Drogas, incluí escritos sobre delação premiada e 
inimputabilidade penal, que foram questões da Atividade Complementar da VP1 do 
semestre passado. 
No que diz respeito ao Juizado Especial Criminal, adicionei um quadro 
esquemático com todo o rito processual relativo aos crimes de menor potencial 
ofensivo (rito sumaríssimo). 
Alguns pontos foram colocados na parte de Execução Penal, visando 
abranger mais detalhes da Lei n.º 7.210/1984, tais como a previsão de monitoração 
eletrônica e jurisprudências recentes do Superior Tribunal de Justiça a respeito de 
sanções disciplinares. 
Abordei a possibilidade de utilização da agressão como meio de desacato, 
além de registrar que o patrocínio a interesse próprio dentro da administração pública 
não configura o crime de advocacia administrativa. Ambas foram questões da VF de 
2017.2. 
Ademais, retirei alguns equívocos de minha parte, como o entendimento 
sobre a natureza jurídicas dos crimes de responsabilidade previstos no Decreto-Lei n.º 
201/1967, que descaracteriza o crime de emprego irregular de verbas públicas quando 
cometido por prefeito municipal ou vereador. 
Optei por não opinar sobre o possível cancelamento da Súmula n.º 512 
do STJ em relação ao tratamento hediondo do tráfico privilegiado. Já vi professores de 
Direito Penal falando que tal entendimento sumular foi automaticamente cancelado 
com o julgamento do HC n.º 118.533, porém discordo totalmente. 
Revisei a parte de coesão textual e formatação estrutural no que pude 
fazer. 
 
Conceitos fundamentais do Direito Penal 
Inicialmente, precisamos destacar, mesmo que brevemente, alguns 
conceitos dos quais iremos trabalhar durante o semestre, sendo de valiosa serventia o 
entendimento dos mesmos, haja vista que em muitas ocasiões vocês apenas aplicarão 
as considerações gerais aos tipos penais, ou seja, a cada crime. 
 
 
 P á g i n a 7 | 448 
7 
Os crimes são classificados sob diversas formas, a depender do objeto que 
se está tratando. 
Por exemplo, quanto ao potencial ofensivo, temos que os crimes podem 
ser elencados da seguinte maneira: de menor potencial ofensivo, de médio potencial 
ofensivo, de elevado potencial ofensivo e hediondos, sendo este último a única espécie 
em que não se delimita elo tempo previsto de pena. Tal entendimento será importante 
para compreender a noção de crimes hediondos, primeiro assunto a ser tratado para a 
VP1. 
Quanto ao sujeito que pratica o delito, os crimes podem ser comuns, 
próprios e de mão própria. Os crimes comuns podem ser praticados por qualquer 
pessoa, ou seja, não exigência específica na lei em relação ao sujeito ativo. Os crimes 
próprios são aqueles em que há uma qualidade especial do sujeito que comete o crime, 
como é o caso dos crimes funcionais, que são os crimes praticados por funcionário 
público contra a administração pública em geral, portanto o fato do agente ser 
funcionário público faz toda a diferença para a caracterização do crime. Os crimes de 
mão própria, por sua vez, se determinam pela peculiaridade de só poderem ser 
praticados pela pessoa indicada na própria lei, implicando em impossibilidade de 
coautoria, embora o caso do advogado no crime de falso testemunho tem sido uma 
exceção. 
Em relação ao momento que o crime se consuma, temos crimes materiais 
e crimes formais. Os crimes materiais são aqueles em que só se configuram com a 
ocorrência do resultado naturalístico, enquanto os crimes formais independem dessa 
hipótese. Isso será importante para a aplicabilidade da Súmula Vinculante n.º 24 do 
STF em relação aos crimes contra a ordem tributária. 
Crimes unissubjetivos são aqueles praticados por uma pessoa apenas, 
embora se admita o concurso de agentes, ao passo de que plurissubjetivos exigem a 
pluralidade de agentes. 
O crime unissubsistente se realiza com apenas um ato, enquanto o crime 
plurissubsistente tem sua conduta fracionada em uma sequência de atos, admitindo, 
assim, a tentativa. 
Tecnicamente, tipos penais são estruturas dogmáticas em que se amoldam 
as condutas escolhidas legalmente para se configurarem como lesivas a algum bem 
jurídico e, assim, fazer incidir a repressão penal. Em palavras mais simples, é o que está 
na lei, ou seja, é a descrição do crime no artigo, sendo necessária a subsunção (encaixe) 
dos fatos ao tipo penal. 
Normas penais em branco são disposições cuja sanção é determinada, 
permanecendo indeterminado o seu conteúdo, pois sua exequibilidade depende do 
complemento de outras normas jurídicas ou da futura expedição de certos atos 
administrativos, como veremos melhor na parte da apostila que aborda a Lei de 
Drogas. 
 
29/01/2018 
 
 
 P á g i n a 8 | 448 
8 
PLANO DE AULA 
AULA N.º 01 
28/02/2018 
CRIMES HEDIONDOS E LEI DE DROGAS 
Manhã: 11h15 às 12h15. 
Noite: 17h45 às 18h45. 
 
 
Roteiro dos assuntos 
Definição e previsão normativa (legal e 
constitucional) de crime hediondo; 
Sistemas adotados para a 
caracterização de crimes hediondos; 
Restrições constitucionais e legais; 
Histórico da progressão de regime 
prisional; 
Livramento condicional; 
Prisão temporária; 
Recurso criminal; 
Substituição por pena privativa de 
liberdade; 
Suspensão condicional da pena; 
Associação criminosa e colaboração 
premiada; 
Grupo de extermínio e homicídio 
qualificado; 
Latrocínio; 
Extorsões 
Crimes contra a liberdade sexual; 
Epidemia com resultado morte; 
Alteração criminosa de produtos 
destinados a fins terapêuticos; 
Favorecimento de prostituição infantil; 
Genocídio; 
Tráfico de drogas; 
Nova Lei de Drogas; 
 Distinções legais entre usuário e 
traficante; 
Crimes em espécie; 
 Descriminalização do porte para 
consumo próprio. 
Marcha da Maconha. 
Norma penal em branco heterogênea 
Flagrante preparado. 
Desapropriação confiscatória 
Princípio da transcendentalidade. 
Princípio da alternatividade. 
Princípio da insignificância. 
Procedimento criminal. 
 
 
 
 
 
 
Observações 
✎ A Lei de Crimes Hediondos é pequena. Os principais pontos estão evidenciados no 
material de leitura de forma objetiva. Vocês precisam se ligar nas restrições que caracterizam 
os crimes hediondos, ou seja, aquilo que os tornam diferentes dos crimes comuns. Já a Lei 
de Drogas é um pouco mais extensa e possui debates jurisprudenciais que não resultaram, 
ainda, em pacificação de entendimento, o que exige bastante atenção.P á g i n a 9 | 448 
9 
Anotações de aula 
 
 
 
 P á g i n a 10 | 448 
10 
PLANO DE AULA 
AULA N.º 02 
14/03/2018 
CRIMES TRIBUTÁRIOS E ABUSO DE AUTORIDADE 
Manhã: 11h15 às 12h15. 
Noite: 17h45 às 18h45. 
 
Roteiro dos assuntos 
Direito Penal Econômico; 
Evolução histórica da sonegação fiscal; 
Restrições constitucionais e legais; 
Crimes tributários formais e materiais; 
Súmula Vinculante n.º 24; 
Princípio da insignificância; 
Inexigibilidade de conduta diversa; 
Parcelamento débito; 
Pagamento da dívida tributária; 
Objetividade jurídica; 
Sujeito ativo; 
Direito de representação; 
Responsabilidade administrativa; 
Procedimento criminal; 
Competência jurisdicional; 
Liberdade de locomoção; 
Sigilo da correspondência; 
Incolumidade física do indivíduo; 
Vexame ou constrangimento. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Observações 
✎ As súmulas jurisprudenciais são, sem dúvida, as partes mais importantes dessa matéria, de 
modo que ambas as legislações são curtas. A Lei de Crimes contra a Ordem Tributária 
também aborda os crimes contra a ordem econômica e contra as relações de consumo, 
porém não coloquei nada sobre isso, tendo em vista que não lembro do Prof.º Mário 
Albuquerque tecer comentários formalmente a respeito na sala de aula. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 P á g i n a 11 | 448 
11 
Anotações de aula 
 
 
 
 P á g i n a 12 | 448 
12 
PLANO DE AULA 
AULA N.º 03 
18/04/2018 
JUIZADOS ESPECIAIS CRIMINAIS, CRIMES AMBIENTAIS E EXECUÇÃO 
PENAL 
Manhã: 11h15 às 12h15. 
Noite: 17h45 às 18h45. 
 
Roteiro dos assuntos 
Princípios dos Juizados; 
Medidas descarcerizadoras; 
Competência jurisdicional; 
Rito sumaríssimo; 
Composição dos danos civis; 
Transação penal; 
Suspensão condicional do processo; 
Tríplice responsabilização; 
Responsabilidade penal da pessoa 
jurídica; 
Sistema de dupla imputação; 
Princípio do poluidor-pagador; 
Princípio da insignificância; 
Competência jurisdicional; 
Circusntâncias agravantes e atenuantes; 
Denúncia genérica; 
Apreensão de bens; 
Fundamentos da execução penal; 
Princípios jurídicos; 
Execução da pena em 2ª instância; 
Finalidade da pena criminal; 
Assistências ao preso; 
Regime de trabalho; 
Direitos e deveres; 
Faltas disciplinares e sanções; 
Remição da Pena 
Regime Disciplinar Diferenciado; 
 

 
 
 
 
Observações 
✎ Normalmente, Juizados Especiais Criminais é o assunto que menos cai nas provas, porém 
é necessário se atentar, sobretudo, às medidas despenalizadoras (composição dos danos civis, 
transação penal e suspensão condicional do processo). Historicamente, a incidência de 
questões sobre crimes ambientais na VP2 é elevada, mesmo sendo o assunto do trabalho 
complementar. A Lei de Execução Penal é muito grande, mas segue uma lógica que se vocês 
entenderem, facilitará bastante na resolução de qualquer questão. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 P á g i n a 13 | 448 
13 
Anotações de aula 
 
 
 
 P á g i n a 14 | 448 
14 
PLANO DE AULA 
AULA N.º 04 
06/06/2018 
CRIMES CONTRA A ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA E CRIMES CONTRA A 
DIGNIDADE SEXUAL 
Manhã: 11h15 às 12h15. 
Noite: 17h45 às 18h45. 
 
Roteiro dos assuntos 
Estrutura dos crimes contra a 
administração pública; 
Agente público; 
Crimes funcionais próprios e 
impróprios; 
Princípio da insignificância; 
Rito processual; 
Espécies de Peculato; 
Concussão e Excesso de exação; 
Corrupção ativa e passiva; 
Advocacia administrativa; 
Emprego irregular de verbas públicas; 
Contrabando, Descaminho e 
Sonegação de Contribuição previdenciária; 
Usurpação de função pública e 
exercício ilegalmente antecipado ou 
prolongado; 
Resistência, Desobediência e Desacato; 
Prevaricação própria e imprópria; 
Autoacusação falsa, denunciação 
caluniosa e comunicação falsa de crime; 
Favorecimento real e pessoal; 
Falso testemunho e patrocínio infiel; 
Tráfico de influência e Exploração de 
prestígio; 
Fuga de pessoa presa e arrebatamento 
de preso; 
Ação penal; 
Corpo de delito; 
Prazo decadencial para retratação; 
Estupro; 
Violência sexual mediante fraude; 
Assédio sexual; 
Estupro de vulnerável; 
 
 

 
 
 
 
Observações 
✎ Creio que crimes contra a administração pública é o tema que o Prof.º Mário Albuquerque 
mais gosta e como são muitos artigos, vocês podem escorregar em determinados detalhes na 
hora da prova, portanto tenham cuidado. Crimes contra a dignidade sexual não deve ser 
assunto da prova, mas vamos abordar para todos os efeitos. 
 
 
 
 
 
 
 
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15 
Anotações de aula 
 
 
 
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16 
CRIMES HEDIONDOS 
 
 
SUMÁRIO 
1. Aspectos gerais; 1.1. Definição de crime hediondo; 1.2. Constituição Federal e o escopo da hediondez; 1.3. 
Tratamento diferenciado; 1.3.1. Crimes hediondos e direito penal do inimigo; 1.4. Recurso de apelação criminal; 
1.5. Peculiaridade na prisão temporária; 1.6. O mais ou menos confuso livramento condicional; 1.7. A questão 
da substituição da pena privativa de liberdade; 1.8. Suspensão condicional da pena; 1.9. Breves comentários 
sobre associação criminosa e colaboração premiada; 1.10. Resumo dos aspectos gerais; 2. Crimes em espécie; 
2.1. Grupo de extermínio e homicídio qualificado; 2.2. O rotineiro latrocínio; 2.3. Extorsões diversas como 
crimes hediondos; 2.4. Crimes contra a liberdade sexual; 2.5. Epidemia com resultado morte; 2.6. Alteração 
criminosa de produto destinado a fins terapêuticos; 2.7. Favorecimento de prostituição de criança; 2.8. O tão 
falado genocídio; 2.9. A polêmica inclusão do porte de arma de fogo; 2.10. Lesões contra agentes de segurança 
pública; 3. Crimes assemelhados a hediondos; 3.1. O clássico tráfico de drogas; 3.2. A prática de tortura; 3.3. 
O famigerado terrorismo. 
 
EMENTA 
Linhas gerais do crime hediondo e seus efeitos 
graves. O crime hediondo é um tipo de crime 
altamente reprovável, previsto no art. 5º, XLIII, CF 
(impõe as restrições de ordem constitucional) e 
regulamentado pela Lei n.º 8.072/1990, resultando em 
efeitos punitivos a mais – presentes no art 2.º – para o 
agente criminoso (impõe restrições de ordem legal). 
Ordenamento jurídico brasileiro e a adesão ao 
sistema legal. O Brasil adota o sistema legal com 
relação aos crimes hediondos, ou seja, são crimes 
hediondos aqueles previstos na legislação penal 
extravagante, portanto o Juiz Criminal não pode 
ampliar o rol de crimes hediondos, que é taxativo 
(numerus clausus). 
Impossibilidade de obrigatoriedade do 
cumprimento inicial da pena criminal em regime 
fechado. A Lei n.º 11.464/2007 implementou, na Lei 
de Crimes Hediondos, rigorosa previsão de 
obrigatoriedade para o condenado cumprir inicialmente 
a pena dele em regime fechado (art. 2º, §1º, da Lei n.º 
8.072/1990), o que foi considerado inconstitucional 
pelo STF a partir do HC n.º 111.840. 
Mais rigor para a progressão de regime. O antigo 
art. 2º, §1º, da Lei de Crimes Hediondos estabelecia que 
o condenado deveria cumprir sua pena em regime 
integralmente fechado, o que despertou várias críticas, 
vindo a ser permitida a concessão para progressão de 
regime a partir do HC nº 82.959-7 (2006). A Lei n.º 
11.464/2007, por sua vez, inovou ao regulamentar de 
vez a possibilidadede progressão de regime para crimes 
hediondos, embora aumentou o tempo em relação à Lei 
de Execução Penal (art. 112) como requisito objetivo 
para o êxito progressivo. 
 
 
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17 
Críticas ao tratamento diferenciado para os crimes 
hediondos. A flexibilização de garantias para os 
condenados em crimes hediondos faz lembrar a 
doutrina do direito penal do inimigo, idealizada por 
Jakobs na Alemanha e difundida no mundo todo após 
1985. 
Apelação criminal sem distinção em relação aos 
crimes comuns. O recurso de apelação criminal no 
caso de crimes hediondos não difere dos crimes 
comuns, ou seja, o condenado pode recorrer em 
liberdade. 
O livramento condicional nos casos de crimes 
hediondos. A Lei de Crimes Hediondos trouxe o 
inciso V ao art. 83 do CP, dificultando o livramento 
condicional nos casos de crimes hediondos. A polêmica 
reside na previsão legal de que se o apenado for 
reincidente em crimes hediondos, não terá direito ao 
livramento condicional. 
Crime hediondo como qualificadora para a 
associação criminosa. O art. 288 do CP ganhou uma 
qualificadora com o art. 8º da Lei de Crimes Hediondos. 
Crimes em espécie. Os crimes hediondos são todos 
previstos no art. 1º da Lei n.º 8.072/1990, assim como 
os assemelhados a hediondos (tráfico de drogas, tortura 
e terrorismo) são abordados na Constituição Federal 
(art. 5º, XLIII, CF), respeitadas as peculiaridades de 
cada crime, sobretudo quando se trata de modalidade 
culposa ou quando não envolve morte da vítima. 
Inclusão de novo crime hediondo em 2017. A posse 
ou porte ilegal de arma de fogo de uso restrito (art. 16, 
Lei n.º 10.826/2003 é o mais novo crime incluso no rol 
de crimes hediondos (art. 1º, parágrafo único, segunda 
parte, Lei n.º 8.072/1990). 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Fortaleza, CE. 
 
 
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18 
MATERIAL DE LEITURA 
Verificação Parcial I 
 
“(...) reflects denunciation and retribution in 
sentencing heinous murders, which are very 
important sentencing principles for serious and 
violent crime.”2 
[Punishing the most heinous crimes – Analisys and 
recommendations related to Bill C-53, de Benjamin 
Perrin] 
 
 
1. ASPECTOS GERAIS 
 
1.1. DEFINIÇÃO DE CRIME HEDIONDO 
Crime hediondo é uma espécie classificatória de crime prevista no direito 
penal brasileiro, em que se considera grave determinado delito, que resulta em 
peculiaridades severas (restrições a mais) na repressão daquele que o injusto penal. 
Sua previsão legal abrange a Constituição Federal, o Código Penal e, 
principalmente, a Lei n.º 8.072/1990. 
Basicamente, faz parte da classificação escalonada dos crimes quanto ao 
potencial ofensivo: 
a) Crimes de bagatela: consistem em condutas que atingem o bem jurídico 
protegido de modo inexpressivo, ou seja, aplica-se o princípio da 
insignificância. 
b) Crimes de pouco potencial ofensivo: significam as contravenções penais e 
os crimes em que a pena máxima cominada não ultrapassa 2 anos, portanto, 
sujeitos aos institutos despenalizadores previstos na Lei n.º 9.099/1995 
(Juizados Especiais). 
c) Crimes de médio potencial ofensivo: são infrações cuja pena máxima é 
superior a 2 anos, mas a pena mínima não excede 1 ano, assim admitindo-se 
a suspensão condicional do processo. 
d) Crimes de elevado potencial ofensivo: apresentam-se como crimes cuja pena 
mínima excede 1 ano e a pena máxima excede 2 anos. 
e) Crimes hediondos: são crimes rotulados por legislação específica, 
disciplinados por regime relativamente próprio e delimitador de garantias. 
 
2 Trecho de documento técnico produzido pelo Prof.º Benjamin Perrin, da Petter A. Allard School of Law, 
The University of British Columbia, para justificar as alterações legislativas no código penal canadense, 
dando tratamento mais duro aos chamados crimes hediondos (heinous crimes). 
 
 
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19 
A imensa maioria da doutrina e dos tribunais brasileiros adotam o 
chamado sistema legal para definir quais crimes serão considerados hediondos, ou 
seja, são assim classificados apenas aqueles previstos no art. 1º da Lei n.º 8.072/1990. 
 
1.2. CONSTITUIÇÃO FEDERAL E O ESCOPO DA HEDIONDEZ 
A Constituição Federal traz em seu art. 5º, XLIII, a chamada previsão 
constitucional de crimes hediondos, porém não define os crimes em espécie, 
apenas colocando algumas modalidades de crime como inafiançáveis e insuscetíveis à 
graça ou anistia, inclusive os crimes hediondos definidos na legislação 
infraconstitucional3 já citada. 
“Art. 5º. Todos são iguais perante a lei, sem distinção 
de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e 
aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade 
do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança 
e à propriedade, nos termos seguintes: 
[..] 
XLIII - a lei considerará crimes inafiançáveis e 
insuscetíveis de graça ou anistia a prática da tortura, 
o tráfico ilícito de entorpecentes e drogas afins, o terrorismo 
e os definidos como crimes hediondos, por eles 
respondendo os mandantes, os executores e os que, 
podendo evitá-los, se omitirem.” 
[Constituição Federal do Brasil, 1988] 
 
Portanto, como instrumento de fixação, temos que os aspectos iniciais 
mais importantes em relação aos crimes hediondos são os seguintes: 
a) A previsão normativa para os crimes hediondos é constitucional, mas é a Lei 
n.º 8.072/1990 que diz quais crimes serão considerados hediondos; 
b) Os crimes que constam no inciso XLIII, do art. 5º, CF, são equiparados 
aos crimes hediondos (não são hediondos propriamente ditos); 
c) O sistema legal (adotado no Brasil) é, justamente, o conjunto jurídico que 
impossibilita o magistrado dizer, a partir do caso concreto, que tal crime é 
ou não hediondo, ou seja, não permitindo discricionariedade como na 
hipótese de um sistema judicial. 
 
 
 
3 A Lei n.º 8.072/1990 é mais um exemplo do desastre que é a política criminal brasileira, no sentido de 
que a produção de leis penais é mais uma resposta desesperada à pressão midiática, misturada ao anseio 
social por Justiça, do que resultado de sofisticadas técnicas legislativas. É o que vemos no voto do Min. 
Marco Aurélio no julgamento do HC n.º 69.657-1, quando ele ficou como voto vencido, juntamente com 
o Min. Sepúlveda Pertence: “(...) Conforme salientado na melhor doutrina, a Lei n.º 8.072/90 contém 
preceitos que fazem pressupor a não observância de uma coerente política criminal, mas que foi editada 
sob o clima da emoção, como se no aumento da pena e no rigor do regime estivessem os únicos meios 
de afastar-se o elevado índice de criminalidade”. 
 
 
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20 
1.3. TRATAMENTO DIFERENCIADO 
As consequências diferenciadas (tratamento mais rigoroso) para aqueles 
que cometem crimes hediondos estão previstas no art. 2º da Lei n.º 8.072/1990. São 
as seguintes: 
 Inafiançabilidade (não pode pagar fiança)4 e insuscetibilidade à graça, anistia 
ou indulto (art. 107, II, CP e arts. 187-193, LEP); 
 Cumprimento da pena em regime integralmente fechado (consequência 
atualmente inexistente); 
 Cumprimento inicial da pena obrigatoriamente em regime fechado 
(consequência atualmente inexistente); 
 Dificuldade na progressão de regime, sendo possível essa passagem em 2/5 
do tempo da pena se o condenado for primário e 3/5 se o condenado for 
reincidente; 
 Mais tempo para conseguiro livramento condicional, que para os crimes 
hediondos será de mais de 2/3 da pena cumprida como requisito objetivo 
para a concessão desse direito subjetivo do apenado; 
 Alargamento do prazo permitido para prisão temporária, ficando em até 30 
dias, prorrogável por mais 30 dias caso haja comprovada necessidade. 
Temos que 2 dessas consequências, marcadas adiante com “✔”, serão aqui 
abordadas logo de cara: 
✔ Em relação à progressão de regime, cabe dizer que até 2007 não 
tínhamos dispositivo normativo permitindo a progressão de regime para o condenado 
em crime hediondo, pois a Lei n.º 8.072/1990 (Lei de Crimes Hediondos) dispunha 
de um parágrafo de artigo (§1º do art. 2º) determinando que o apenado deveria cumprir 
sua pena em regime integralmente fechado. 
As brigas na Justiça Criminal foram muitas a partir de 1990, até que em 
2006 o STF finalmente decidiu, incidenter tantum, no julgamento do HC n.º 82.959-
756, sob a relatoria do Min. Marco Aurélio, que o §1º do art. 2º da Lei de Crimes 
Hediondos é inconstitucional por estar em desacordo com princípios 
constitucionais. 
 
4 A fiança não pode ser utilizada como instrumento de obtenção de liberdade provisória, embora esta 
possa ser alcançada em crimes hediondos. No caso de crimes hediondos, somente a autoridade judicial 
poderá conceder esse tipo de liberdade, sendo vedado à autoridade policial. Em princípio, no tráfico de 
drogas, nem mesmo a liberdade provisória sem fiança poderia ser concedida (art. 44, segunda parte, da 
Lei n.º 11.343/2006), mas desde o HC n.º 104.339 que essa ideia não é mais considerada no direito 
brasileiro. 
5 O relator do caso foi o Min. Marco Aurélio, que, anteriormente, no julgamento do HC n.º 69.657-1, já 
havia se posicionado no sentido de atribuir conflito entre o §1º do art. 2º da Lei de Crimes Hediondos e a 
Constituição Federal, de modo que se baseou nos princípios constitucionais da individualização da pena 
e da dignidade da pessoa humana. 
6 Habeas Corpus impetrado em defesa do paciente Oseas de Campos, condenado por atentado violento 
ao pudor com violência presumida, pelo advogado Roberto Delmanto Júnior, sócio-administrador do 
escritório Delmanto Advocacia Criminal, localizado em São Paulo e fortemente atuante desde 1935. 
 
 
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21 
Entre 2006 e 2007, os condenados por crimes hediondos passaram a ter 
o mesmo prazo dos crimes comuns para a progressão de regime, ou seja, obedecendo 
aos ditames da Lei de Execução Pena, já que o dispositivo que disciplinava a matéria 
na Lei de Crimes Hediondos tinha ido por água abaixo com a decisão do STF. 
Foi somente com a Lei n.º 11.464/2007 que se trouxe para a Lei n.º 
8.072/1990 uma nova previsão legal, agora permitindo a progressão de regime, porém 
com uma maior quantidade mínima de cumprimento de pena em comparação 
com o disposto na Lei de Execução Penal (LEP). 
Na LEP, a metodologia encontrada diz que é requisito objetivo para ter 
direito à progressão, o cumprimento de pelo menos 1/6 da pena. 
“Art. 112. A pena privativa de liberdade será 
executada em forma progressiva com a transferência 
para regime menos rigoroso, a ser determinada pelo 
juiz, quando o preso tiver cumprido ao menos 
um sexto da pena no regime anterior e ostentar 
bom comportamento carcerário, comprovado pelo 
diretor do estabelecimento, respeitadas as normas 
que vedam a progressão.” (Lei de Execução Penal). 
 
Já na nova configuração da Lei de Crimes Hediondos, o requisito objetivo 
é o cumprimento de 2/5 do tempo da pena, enquanto o tempo de 3/5 (art. 2º, §2º, 
parte 2, da Lei n.º 8.072/1990) é referente à reincidência simples, ou seja, não é 
necessário que sejam dois ou mais crimes hediondos, mas apenas um deles. 
O requisito subjetivo, tanto para os crimes comuns como para os crimes 
hediondos, é o bom comportamento carcerário, comprovado pelo diretor do 
estabelecimento prisional. 
A Súmula n.º 471 do STJ evidencia que os crimes cometidos antes da 
vigência da alteração legislativa de 2007 (Lei n.º 11.464/2007) estarão sujeitos à 
norma do art. 112 da LEP (o que é bom para o condenado), incidindo a reprimenda 
mais severa da nova lei – de 2007 – apenas nos crimes cometidos em período posterior 
a ela. 
“Os condenados por crimes hediondos ou 
assemelhados cometidos antes da vigência da Lei n. 
11.464/2007 sujeitam-se ao disposto no art. 112 da 
Lei n. 7.210/1984 (Lei de Execução Penal) para a 
progressão de regime prisional”. (Súmula 471, STJ). 
 
Dessa forma, ponto interessante é a evolução histórica desse quesito da 
progressão de regime prisional nos casos de crimes hediondos. 
Momento 1: Em 1984, a Lei de Execuções 
Penais disciplina, em seu art. 112, como deve ser 
feita a progressão de regime no caso dos crimes 
em geral, haja vista ainda não haver a 
denominação de crimes hediondos no 
ordenamento jurídico brasileiro. 
 
 
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22 
Momento 2: Em 1990, a Lei de Crimes 
Hediondos traz no §1º do art. 2º a previsão de 
que o condenado por cometer crime hediondo 
deve cumprir sua pena em regime integralmente 
fechado. 
Momento 3: Em 2006, o Supremo Tribunal 
Federal julga o HC n.º nº 82.959-7 e declara a 
inconstitucionalidade (efeitos oponíveis a todos – 
erga omnes) do dispositivo que vedava a 
progressão de regime prisional para os apenados 
por crimes hediondos, o que ficou consolidado 
no Informativo n.º 417 do STF. 
Momento 4: Em 2007, com a publicação da 
Nova Lei de Crimes Hediondos, o art. 2º passa a 
ter uma nova configuração, ou seja, permitindo a 
progressão de regime por lei, mas dificultando 
para os agentes de crimes hediondos em relação 
ao tempo previsto na Lei de Execuções Penais. 
✔ A questão polêmica a partir de 2007 (publicação da Lei n.º 11.464/2007) 
passou a ser a obrigatoriedade para o apenado em cumprir inicialmente a pena 
imposta em regime fechado, advindo do novo art. 2º da Lei de Crimes Hediondos, 
gerando bastante polêmica e várias projeções judiciais que buscaram ao longo dos anos 
derrubar essa aberração legal. 
O STF, no julgamento do HC n.º 111.8407, de relatoria do Min. Dias 
Toffoli, consolidou seu entendimento no sentido de declarar que o art. 2º, §1º, da Lei 
n.º 8.072/1990 viola o princípio da individualização da pena (art. 5º, XLVI, CF/88), 
afrontando o art. 33, §2º, alínea B, do Código Penal8. 
Portanto, não é constitucional essa previsão de que o condenado 
deverá cumprir sua pena inicialmente em regime fechado pelo cometimento de 
um crime hediondo, inclusive pela aplicação da Súmula n.º 611, do STF, assim escrita: 
 
“Transitada em julgado a sentença condenatória, 
compete ao juízo das execuções a aplicação de lei 
mais benigna.” (Súmula n.º 611, STF). 
 
 
7 A Defensoria Pública/ES impetrou esse Habeas Corpus com o objetivo de que o paciente Edmar Lopes 
Feliciano, condenado a uma pena de 06 anos por tráfico de drogas (equiparado a hediondo), iniciasse o 
cumprimento da sua pena em regime semiaberto, de acordo com o preenchimento dos requisitos do art. 
33, §2º, alínea B, Código Penal. O Min. Dias Toffoli disse em seu voto: “(...) penso que deve ser superado 
o disposto na Lei dos Crimes Hediondos (obrigatoriedade de início do cumprimento de pena no regime 
fechado) para aqueles que preencham todos os demais requisitos previstos no art. 33, §§ 2º, b, e 3º, do 
CP, admitindo-se o início do cumprimento de pena em regime diverso do fechado”. 
8 O dispositivo normativo em destaque traz a possibilidade de cumprimento da pena de reclusão em três 
regimes iniciais:fechado, semiaberto ou aberto. Adota-se a perspectiva de que o condenado que não é 
reincidente, cuja pena seja superior a 4 anos e não exceda 8 anos, poderá cumpri-la, inicialmente, em 
regime semiaberto, o que bate de frente com o art. 2º, §1º, da Lei n.º 8.072/1990. 
 
 
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23 
A Súmula n.º 26, do STF, é ainda mais precisa com relação a esse ponto, 
não trazendo dúvida quanto ao questionamento dessa questão polêmica envolvendo o 
regime fechado como regime inicial obrigatório para os condenados por crimes 
hediondos. 
“Para efeito de progressão de regime no 
cumprimento de pena por crime hediondo, ou 
equiparado, o juízo da execução observará a 
inconstitucionalidade do art. 2º da Lei nº 8.072, de 
25 de julho de 1990, sem prejuízo de avaliar se o 
condenado preenche, ou não, os requisitos objetivos 
e subjetivos do benefício, podendo determinar, para 
tal fim, de modo fundamentado, a realização de 
exame criminológico.” (Súmula n.º 26, STF). 
 
1.3.1. CRIMES HEDIONDOS E DIREITO PENAL DO INIMIGO 
Mesmo que indiretamente, esse tratamento diferenciado dado aos crimes 
hediondos é um espelho do que uma determinada doutrina emergente no mundo na 
década de 1990 defende para essa dita forma de criminalidade. 
A ideia geral é que certos criminosos são tão cruéis e violentos que o 
direito penal e processual penal deve atuar distinguindo-os das pessoas comuns, 
colocando esses indivíduos como inimigos da sociedade. 
O epicentro dessa doutrina está na Alemanha, com desenvolvimento a 
partir dos trabalhos de Günther Jakobs (Rheinische Friedrich-Wilhelms-Universität), que 
em 1985 publica um artigo científico intitulado Kriminalisierung im Vorfeld einer 
Rechtsgutsverletzung, expondo ao mundo a diferença entre cidadãos (Bürgerstrafrecht) 
e inimigos (Feindstrafrecht). 
Em parte, é, justamente, o que ocorre com a visão que se colocou em cima 
dos crimes hediondos, como expressa parte da doutrina: 
“(...) a impossibilidade de progressão de regime nos 
crimes hediondos é nada mais nada menos que 
expressão do Direito penal do inimigo de Jakobs, 
que sustenta a tese de que alguns criminosos devem 
ser tratados não como cidadãos, sim, como inimigos. 
Que o autor de crime hediondo seja tratado de modo 
diferente e com mais rigor é razoável, mas nem ele, 
nem ninguém pode ser tratado como inimigo.” 
[STF Admite Progressão de Regime nos Crimes 
Hediondos II, por Luiz Flávio Gomes]. 
 
1.4. RECURSO DE APELAÇÃO CRIMINAL 
No caso de o condenado recorrer à sentença que julgou pela sua 
culpabilidade em crime hediondo, o procedimento deverá ser o mesmo dos casos de 
crimes comuns, haja vista que a possibilidade de efeito suspensivo (quando o recurso 
criminal cessa os efeitos da sentença enquanto o mesmo não é reapreciado) é positiva, 
sendo, então, possível a liberdade enquanto tramita o recurso, declarada em decisão 
fundamentada. 
 
 
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24 
É importante ressaltar que somente a gravidade abstrata do crime não 
justifica prisão preventiva, ou seja, caso o Ministério Público não queira esperar a 
sentença para ver o réu preso, pode pedir logo a decretação de prisão preventiva, mas 
não é correto fundamentar o seu pedido em cima do fato do crime ser considerado 
hediondo, portanto muito grave. 
 
1.5. PECULIARIDADE NA PRISÃO TEMPORÁRIA 
Em relação à prisão temporária, a diferença do crime hediondo para o 
crime comum é que neste o prazo será de 05 dias, prorrogável por mais 05 dias, 
conforme a Lei n.º 7.960/1989. 
Já no que diz respeito aos crimes hediondos, o art. 2º, §4º, da Lei n.º 
8.072/1990, traz um aumento na quantidade de dias, sendo o prazo de 30 dias, 
prorrogável por igual período (30 + 30), em caso de extrema e comprovada 
necessidade. 
 
1.6. O MAIS OU MENOS CONFUSO LIVRAMENTO CONDICIONAL 
O livramento condicional é um direito conquistado pelo condenado9, 
colocando-o em liberdade antes da execução total da sentença, devido ao cumprimento 
de determinadas exigências estabelecidas legalmente. 
Os requisitos objetivos estão presentes no art. 83, I e II, do Código Penal. 
Trata-se do tempo de cumprimento da pena. 
“Art. 83. O juiz poderá conceder livramento 
condicional ao condenado a pena privativa de 
liberdade igual ou superior a 2 (dois) anos, desde 
que: 
I - cumprida mais de um terço da pena se o 
condenado não for reincidente em crime doloso e 
tiver bons antecedentes; 
II - cumprida mais da metade se o condenado for 
reincidente em crime doloso.” 
(...) 
V - cumpridos mais de dois terços da pena, nos 
casos de condenação por crime hediondo, prática de 
tortura, tráfico ilícito de entorpecentes e drogas 
afins, tráfico de pessoas e terrorismo, se o apenado 
não for reincidente específico em crimes dessa 
natureza.” (Código Penal brasileiro). 
 
9 O Brasil adota um modelo progressivo no que tange a execução penal, ou seja, busca não atingir o 
confinado do sistema penitenciário de forma contrária à perspectiva de reeducação. Noutras palavras, é 
como se fosse uma preparação para a soltura completa do apenado. Se este cometer deslize enquanto 
tiver sob o livramento condicional, voltará à prisão. 
 
 
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25 
Tais requisitos (I e II) são para os crimes comuns. Há uma distinção de 
tempo para o condenado reincidente, dificultando mais a sua saída através desse 
instituto jurídico-penal (livramento condicional). 
Em relação aos crimes hediondos, a Lei n.º 8.072/1990 alterou o art. 83 
do Código Penal para inserir o inciso V, que aduz exatamente um tempo diferenciado 
(maior) para os crimes considerados hediondos e os equiparados a estes. 
 Sendo assim, percebe-se que o tratamento dado aos sujeitos que praticam 
crimes hediondos é mais severo, pois, logo de cara, é mais difícil conseguir a liberdade 
condicional quando o condenado não for reincidente e se for reincidente, basta que os 
crimes sejam hediondos para que assim não caiba o benefício do livramento 
condicional1011. 
A polêmica ocorre nessa vedação ao livramento condicional se, por 
exemplo, o indivíduo cometeu um latrocínio (hediondo) e um estupro (hediondo), 
sendo condenado nos dois crimes, ficando essa pessoa sem o direito ao livramento 
condicional. 
Os tribunais, majoritariamente, entendem dessa forma: 
 
“Agravo em Execução. Livramento condicional. 
Ausência de requisito objetivo. Reincidente 
específico em crime hediondo. Violação ao princípio 
da individualização da pena. Inocorrência. 
A vedação legal à concessão do livramento 
condicional ao reincidente específico em crime 
hediondo não ofende ao princípio da 
individualização da pena, consistindo, ao contrário, 
em medida adequada para atender aos fins 
repressivos da reprimenda.” 
[TJMG. AGEPN 10521090838249001. 3ª Câmara 
Criminal. Rel.ª: Maria Luíza de Marilac. Julgamento: 
11/03/2014]. 
*********************************************** 
“Agravo em Execução. Livramento condicional. 
Reincidente específico. 1. O agravante mostra 
inconformidade com a negativa de concessão ao 
livramento condicional, dizendo haver violação 
aos princípios da individualização da pena e da 
dignidade da pessoa humana a negativa aos 
reincidentes específicos. 2. Segundo o teor do art. 83, 
V, do CP, reforçado em entendimento 
jurisprudencial do STJ, é vedada a concessão do 
livramento condicional ao réu reincidente 
específico em crime hediondo ou a ele 
 
10 No caso da chamada Lei de Drogas (Lei n.º11.343/2006), a questão do livramento condicional é 
impossibilitada apenas na hipótese de reincidência específica, ou seja, no caso de cometimento de pelo 
menos mais de uma vez o crime de tráfico de drogas (equiparado a hediondo). 
11 Em entendimento recente, a 12ª Câmara Criminal do Tribunal de Justiça de São Paulo decidiu que o 
condenado reincidente em crime hediondo tem direito ao livramento condicional, por analogia à 
permissão na progressão de regime. 
 
 
 P á g i n a 26 | 448 
26 
equiparado. Precedentes. Agravo não provido.” 
[TJRS. Agravo n.º 70054001920. 1ª Câmara 
Criminal. Rel.: Julio Cesar Finger. Julgamento: 
19/06/2013) 
 
No entanto, os críticos alegam várias coisas, mas a principal é que houve 
uma derrogação tácita dessa vedação ao livramento condicional com a declaração de 
inconstitucionalidade do dispositivo na Lei de Crimes Hediondos que dispunha sobre 
a obrigatoriedade de cumprimento inicial da pena criminal em regime fechado. 
Existe jurisprudência nesse sentido, ficando evidente de que não se trata 
de uma questão pacífica. Por exemplo, em 2012, a 5ª Câmara Criminal do Tribunal de 
Justiça do Estado do Rio de Janeiro (TJRJ) entendeu que “(...) vedar ao reincidente 
específico o direito ao livramento condicional implica em retirar-lhe o direito de 
que o juiz da execução penal aprecie sua condição de retornar ao convívio 
social, ferindo, portanto, o princípio da individualização da pena, previsto no 
artigo 5.º, XLVI da Constituição da República” – Processo judicial n.º 0053756-
02.2012.8.19.0000. 
 De todo modo, para fins de entendimento majoritário atual, se a pessoa 
cometeu um crime hediondo, foi condenada, e voltou a cometer novo crime hediondo 
ou equiparado a este, não terá direito ao livramento condicional. 
 
1.7. A QUESTÃO DA SUBSTITUIÇÃO DE PENA PRIVATIVA DE 
LIBERDADE 
O tratamento dado aos crimes hediondos e assemelhados é o mesmo no 
caso de crimes comuns, ou seja, sujeitam-se aos requisitos do art. 44 do Código Penal. 
No entanto, o inciso I desta norma diz que a pena criminal aplicada não 
pode ultrapassar 4 anos. Sendo assim, a imensa maioria dos crimes hediondos não são 
abrangidos pela possibilidade de substituição da pena privativa de liberdade por pena 
restritiva de direitos12. 
Ponto relevante é a vedação da Lei de Drogas (art. 44, §4º, Lei n.º 
11.343/2006) à substituição de pena privativa de liberdade, mas o STF decidiu, no HC 
n.º 97.256, que tal proibição é inconstitucional, de modo que é possível essa 
substituição. 
 
1.8. SUSPENSÃO CONDICIONAL DA PENA 
O art. 77 do Código Penal disciplina a suspensão condicional da pena, que 
também é cabível no caso de crime hediondo, embora pela gravidade das penas 
 
12 Os crimes do art. 33 da Lei de Drogas possuem período mínimo de reclusão de 5 anos, mas com o §4º 
do mesmo dispositivo, há possibilidade de redução da pena, de modo que esse artigo é, praticamente, a 
única exceção. 
 
 
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27 
cominadas em abstrato, temos que apenas o estupro, na forma tentada, é que pode ser 
alvo desse instituto jurídico. 
A Lei de Drogas, por sua vez, proíbe que seus crimes sofram incidência 
da suspensão condicional da pena, o que é polêmico, sobretudo após a declaração 
incidental de inconstitucionalidade da vedação à substituição de pena privativa de 
liberdade. 
O STF tem se posicionado de maneira a proibir esse instituto 
(insuscetibilidade do sursis) para os casos de crimes assemelhados a hediondos 
presentes na Lei de Drogas. É o conteúdo do Informativo n.º 639, em cima do HC n.º 
101.919: 
Em conclusão de julgamento, a 1ª Turma denegou, 
por maioria, habeas corpus em que se pleiteava a 
suspensão condicional da pena a condenado 
pela prática do crime de tráfico ilícito de 
entorpecentes (Lei 11.343/2006, art. 33) — v. 
Informativo 624. Reputou-se não se poder cogitar 
do benefício devido à vedação expressa contida 
no art. 44 do referido diploma (“Os crimes previstos 
nos arts. 33, caput e § 1º, e 34 a 37 desta Lei são 
inafiançáveis e insuscetíveis de sursis, graça, indulto, 
anistia e liberdade provisória, vedada a conversão de 
suas penas em restritivas de direitos”). (...) Vencido 
o Min. Dias Toffoli, que deferia a ordem ao 
aplicar o mesmo entendimento fixado pelo 
Plenário, que declarara incidentalmente a 
inconstitucionalidade do óbice da substituição 
da pena privativa de liberdade por restritiva de 
direito em crime de tráfico ilícito de droga. 
[HC 101919/MG. Relator: Min. Marco Aurélio. 
Data de Julgamento: 06/09/2011]. 
 
1.9. BREVES COMENTÁRIOS SOBRE ASSOCIAÇÃO CRIMINOSA E 
COLABORAÇÃO PREMIADA 
O art. 8º da Lei n.º 8.072/1990 traz uma hipótese de qualificadora em si 
mesmo para o art. 288 do Código Penal, ou seja, a associação criminosa que objetiva 
cometer crime hediondo é qualificada, aumentando o período de reclusão, ficando 
entre 3 a 6 anos, ao invés de 1 a 3 anos, normalmente. 
Já o parágrafo único do mesmo artigo diz que se o participante da 
associação criminosa entregar os comparsas e conseguir, assim, desmantelar o grupo, 
terá sua pena reduzida (causa de diminuição de pena) de um a dois terços (uma espécie 
de colaboração premiada). 
 
1.10. RESUMO DOS ASPECTOS GERAIS 
De forma bastante objetiva, temos que os aspectos gerais podem ser 
registrados da seguinte forma: 
 
 
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28 
01. Os crimes hediondos foram regulamentados pela Lei n.º 
8.072/1990, dando alcance à previsão constitucional encontrada 
no art. 5º, XLIII, CF/88; 
02. O sistema jurídico de interpretação adotado, 
majoritariamente, no Brasil é o sistema legal, em que o Juiz de 
Criminal deverá ficar adstrito ao rol taxativo de crimes hediondos; 
03. A Lei n.º 11.464/2007 é importante, pois alterou parte 
considerável da Lei nº 8.072/1990; 
04. As restrições a mais para quem comete crime hediondo são: 
não pode ser libertado com pagamento de fiança, não pode receber 
graça, anistia ou indulto, precisa de mais tempo cumprindo a pena 
para conseguir a progressão de regime prisional, caso esse crime 
tenha sido cometido após a vigência da Lei n.º 11.464/2007, além 
de poder ficar mais tempo como preso temporário e necessitar de 
mais tempo para o livramento condicional, caso não seja 
reincidente específico; 
05. A obrigatoriedade de cumprimento inicial em regime fechado 
para o apenado que foi condenado por crime hediondo é 
largamente considerado inconstitucional na atualidade; 
06. A progressão de regime no caso de crime hediondo é mais 
demorada, sendo 2/5 o mínimo cumprido para o condenado 
mudar para regime mais benéfico, e 3/5 se houver reincidência 
simples; 
07. Não há óbice específico para que o autor de crime hediondo 
possa recorrer em liberdade; 
08. O prazo da prisão temporária em crime hediondo é maior, 
sendo de até 30 dias, prorrogável por mais 30 dias; 
09. Para obter o livramento condicional em caso de cometimento 
de crime hediondo, se a pessoa não for reincidente, o tempo 
mínimo é de 2/3 + 1 dia da pena cumprida (requisito objetivo), 
enquanto se o apenado for reincidente (mais de um crime 
hediondo) não conseguirá o livramento condicional; 
10. A substituição da pena restritiva de liberdade por pena 
restritiva de direitos é possível no caso de crime hediondo, assim 
como a suspensão condicional da pena, que só encontra óbice nos 
crimes assemelhados a hediondos presentes na Lei de Drogas; 
11. A Lei n.º 8.072/1990 traz em seu art. 8º uma qualificadora 
para o crime de associação criminosa(art. 288, CP) e a 
possibilidade da chamada delação premiada. 
 
2. CRIMES EM ESPÉCIE 
Reitera-se, desde já, que os crimes hediondos são aqueles previstos no art. 
1º da Lei n.º 8.072/1990, estando espalhados no Código Penal, ao passo de que os 
assemelhados ou equiparados a hediondos estão previstos na Constituição Federal, 
mais precisamente no inciso XLIII do art. 5º. 
 
 
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29 
2.1. GRUPO DE EXTERMÍNIO E HOMICÍDIO QUALIFICADO 
Caso clássico de crime hediondo é o homicídio praticado em atividade 
típica de grupo de extermínio (art. 121, §6°, CP)13, algo bastante comum no Brasil. Da 
mesma forma, incide a característica de crime hediondo em qualquer homicídio 
qualificado14 (art. 121, §2º, I ao VII, CP). 
Ponto importante a ser destacado é que a Lei n.º 13.104/2015 trouxe a 
figura típica do feminicídio junto ao inciso VI do §2º, art. 121, Código Penal. A Lei n.º 
13.142/2015, por sua vez, inovou o mesmo parágrafo, trazendo o inciso VII para criar 
a qualificadora de crime cometido contra determinadas autoridades15. 
O crime de homicídio privilegiado (art. 121, §1º, CP) é uma causa de 
diminuição de pena e não pode ser considerado hediondo. 
Uma polêmica antes recorrente é a de crimes que são, ao mesmo tempo, 
privilegiados e qualificados (homicídio privilegiado-qualificado). Ocorre que nesses 
casos os crimes não devem ser considerados hediondos16, pois, embora o homicídio 
qualificado seja integrante do rol taxativo dos crimes hediondos, o homicídio 
privilegiado-qualificado é considerado, primeiramente, privilegiado (circunstância 
subjetiva), e, posteriormente, atingido pela qualificadora (circunstância objetiva). 
Outro fundamento para não se considerar o homicídio privilegiado-
qualificado como crime hediondo é o fato de que esta forma não causa, 
hipoteticamente, repulsa à sociedade, ou seja, já que para ser privilegiado, deve estar 
revestido de intenção nobre, que não causa indignação ou aversão do corpo social. 
Para fins de conhecimento histórico, registra-se que o homicídio 
qualificado foi considerado hediondo apena com a vigência da Lei n.º 8.930/1994, que 
alterou o art. 1º da Lei de Crimes Hediondos. 
 
2.2. O ROTINEIRO LATROCÍNIO 
O latrocínio é um dos crimes mais conhecidos de todos, estando tipificado 
no art. 157, §3º, parte final, do Código Penal, sendo considerado crime hediondo. 
O latrocínio ocorre quando o indivíduo vai assaltar e desse roubo ocorre 
a morte da vítima, tanto no caso de roubo acontecer antes da morte ou da morte ser 
um instrumento para a realização do assalto, a depender do ânimo do agente 
criminoso. 
 
13 O homicídio através da formação de grupo de extermínio funciona como uma causa de aumento de 
pena. Trata-se de um homicídio simples. 
14 Nos EUA, o homicídio considerado hediondo é uma forma justificadora (aggravating factors for 
homicide) para a realização da pena de morte (death penalty), nos termos do 18 U.S. Code § 3592. 
15 O homicídio, a lesão corporal gravíssima e a lesão corporal seguida de morte contra as autoridades 
previstas nos arts. 142 e 144 da Constituição Federal, integrantes do sistema prisional e da Força Nacional 
de Segurança Pública, no exercício da função ou em decorrência dela, estão no bojo dos crimes hediondos 
e assemelhados. 
16 Corrobora com esse entendimento os julgamentos do STJ nos HCs ns.º 36.317, 41.579, 43.043. 
 
 
 P á g i n a 30 | 448 
30 
O latrocínio na forma tentada (quando houver morte e subtração tentada) 
também é admitido como crime hediondo. 
 
2.3. EXTORSÕES DIVERSAS COMO CRIMES HEDIONDOS 
De início, é importante destacar que a distinção de crimes que podem ser 
confundidos: 
 
A extorsão abrange a conduta de constranger alguém, mediante violência 
ou grave ameaça, a fazer ou deixar de fazer algo, com o intuito de obter vantagem 
econômica. É a chamada extorsão simples (art. 158, caput, CP), não sendo crime 
hediondo. 
Já a extorsão qualificada pela morte, disposta no Código Penal através 
do art. 158, §3º, segunda parte, CP), é mais um exemplo de crime hediondo. 
A Lei n.º 8.072/1990 também traz a previsão de hediondez para o crime 
de extorsão mediante sequestro, em todas suas modalidades (art. 159, CP). Se o 
crime for cometido em concurso de agentes, o indivíduo que denunciar à autoridade, 
facilitando a libertação da vítima, terá sua pena reduzida de um a dois terços (art. 159, 
§4º, CP). 
Portanto, percebam que a extorsão mediante sequestro será crime 
hediondo mesmo em sua forma simples. Além disso, esse crime estará consumado 
com a privação da liberdade de locomoção da vítima por espaço de tempo 
juridicamente relevante, sendo dispensável que o criminoso obtenha, efetivamente, a 
vantagem pretendida. 
Existe polêmica com relação à figura do art. 158, §3º, primeira parte, do 
Código Penal, conhecida como sequestro-relâmpago. Alguns doutrinadores 
entendem que não faz parte da definição legal de crime hediondo, já outros acham que 
sim. O entendimento majoritário é que se houve o resultado morte, é hediondo, já se 
o resultado for lesão grave, não é hediondo. 
O sequestro propriamente dito (art. 148, CP) não é crime hediondo, 
consistindo na privação da liberdade de alguém mediante sequestro ou cárcere privado, 
o que dispensa a conduta de extorquir a vítima. 
A extorsão indireta (art. 160, CP), por sua vez, relaciona-se com a exigência 
ou recebimento, como garantia de dívida e abusando da situação de alguém, de 
documento que pode dar causa a procedimento criminal contra a vítima ou contra 
terceiro. Não é crime hediondo. 
 
Sequestro e cárcere privado 
(art. 148, CP)
Extorsão indireta (art. 160, CP)
Extorsão (art. 158, CP)
Extorsão mediante sequestro 
(art. 159, CP)
Crimes parecidos
 
 
 P á g i n a 31 | 448 
31 
2.4. CRIMES CONTRA A LIBERDADE SEXUAL 
Qualquer forma de estupro17 é considerada como crime hediondo (HC 
89.554), com previsão nos incisos V e VI da Lei n.º 8.072/1990. Portanto, temos que 
o estupro comum (art. 213, caput e §§ 1º e 2º, CP) e o estupro de vulnerável (art. 217-
A, caput e §§1º ao 4º, CP) são exemplos de crime hediondo. 
Há divergência jurisprudencial em relação aos crimes de estupro e 
atentado violento ao pudor cometidos antes da vigência da Lei n.º 12.015/2009, que 
alterou, substancialmente, os crimes contra a dignidade sexual. 
“Habeas corpus. Atentado violento ao pudor, 
cometido mediante violência presumida. Conduta 
anterior à Lei 12.015/2009. Afastamento da 
hediondez. Agravante da reincidência. 
Constitucionalidade. Roubo circunstanciado. 
Emprego de arma. Necessidade de apreensão. 
Afastamento da causa de aumento. 1. A partir do 
julgamento do Habeas Corpus 88.664/GO, houve 
uma mudança no entendimento da Sexta Turma, para 
que não mais se considerassem hediondos os crimes 
de estupro ou atentado violento ao pudor praticados 
antes da Lei 12.015/2009 quando cometidos 
mediante violência presumida.” [HC 128.648]. 
 
“Os crimes de estupro e atentado violento ao pudor 
praticados anteriormente à Lei n° 12.015/2009, ainda 
que mediante violência presumida, configuram crimes 
hediondos. Precedentes desta Corte e do Supremo 
Tribunal Federal. 2. Embargos de divergência 
acolhidos a fim de reconhecer a hediondez do crime 
praticado pelo Embargado.” [EREsp n.º 1225387]. 
 
2.5. EPIDEMIA COM RESULTADO MORTE 
O indivíduo que causar epidemia, mediante a propagação de germes 
patogênicos (art. 267, §1º, CP), ocasionando a morte da vítima, terá cometido crime 
hediondo, conforme o incisoVII da Lei n.º 8.072/1990. Em outras palavras, é a 
provocação intencional de surto de uma doença que atinge grande número de 
pessoas em determinado local ou região. 
De outro modo, entende-se que a epidemia causada culposamente (sem o 
dolo) não é considerada crime hediondo, ainda que provoque a morte de alguém 
(art. 267, §2º, CP). 
 
 
17 O Strafgesetzbuch (StGB – Código Penal da Alemanha) passou a tipificar de forma mais abrangente o 
crime de estupro (Vergewaltigung), através do §177, com base na campanha feminista nacional 
intitulada Nein heißt Nein (princípio do não é não). 
 
 
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32 
2.6. ALTERAÇÃO CRIMINOSA DE PRODUTO DESTINADO A FINS 
TERAPÊUTICOS 
O inciso VII-A da Lei n.º 8.072/1990 traz como crimes hediondos os 
previstos no art. 273 do Código Penal, abrangendo a modalidade, com período 
estimado de reclusão entre 10 a 15 anos, embora tal pena prevista tenha sido alterada 
para 5 a 15 anos (HC n.º 239.363). 
O bem jurídico tutelado por essa norma penal é a saúde pública. O crime 
estará consumado ou configurado no momento em que o agente corrompe, falsifica, 
adultera ou altera o produto, independentemente de qualquer resultado lesivo (crime 
formal). 
A modalidade culposa (art. 273, §2º, CP) não é considerada crime 
hediondo. 
 
2.7. FAVORECIMENTO DE PROSTITUIÇÃO DE CRIANÇA 
A Lei n.º 12.978/2014 incluiu o inciso VIII no §1º do art. 1º da Lei n.º 
8.072/1990, para tratar como hediondo o crime de favorecimento da prostituição ou 
de outra forma de exploração sexual de criança ou adolescente ou de vulnerável, nos 
termos do art. 218-B, caput e §§ 1º e 2º, do Código Penal. 
 
2.8. O TÃO FALADO GENOCÍDIO 
O genocídio (art. 1º, Lei n.º 2.889/1956) também é crime hediondo (art. 
1º, parágrafo único, primeira parte, Lei n.º 8.072/1990), abrangendo a intenção de 
destruir, no todo ou em parte, grupo nacional, étnico, racial ou religioso, a partir das 
seguintes condutas alternativas: 1-) matar membros do grupo; 2-) causar lesão grave à 
integridade física ou mental em membros do grupo; 3-) submeter intencionalmente o 
grupo a condições de existência capazes de ocasionar-lhe a destruição física total ou 
parcial; 4-) adotar medidas destinadas a impedir os nascimentos no seio do grupo; 5-) 
efetuar a transferência forçada de crianças do grupo para outro grupo. 
A conduta deve ser dirigida à destruição de membros de determinado 
grupo nacional, étnico, religioso ou racial, sendo irrelevante se o resultado atingiu 
apenas um indivíduo. 
O sujeito ativo pode ser qualquer pessoa, ou seja, não é necessário ser um 
líder político ou comandante militar. Ocorre que se o crime for cometido por 
governante ou funcionário público a pena é aumentada em um terço (art. 4º, Lei n.º 
2.889/1956). 
Trata-se de crime delito comum, permanente, plurissubjetivo e 
pluriofensivo. 
Por fim, cabe dizer que a Lei n.º 8.072/1990 também inclui como crimes 
hediondos a associação para o genocídio e a incitação ao genocídio (arts. 2º e 3º, Lei 
n.º 2.889/1956), referindo-se a estes como se fossem o genocídio propriamente dito. 
 
 
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33 
Ao meu ver, o legislador errou, a uma, porque não são a mesma coisa que 
genocídio, a duas, porque pelo sentido das outras tipificações de hediondez (alguns 
dos crimes hediondos que vimos precisam do resultado morte) e pela própria 
reprimenda vista nas penas previstas, é um exagero considerá-los hediondos. 
De todo modo, a legislação expressa que também são crimes hediondos. 
 
2.9. A POLÊMICA INCLUSÃO DO PORTE DE ARMA DE FOGO 
O mais novo crime incluído como hediondo (art. 1º, parágrafo único, 
segunda parte, CP) é a posse ou porte ilegal de arma de fogo de uso restrito (art. 16, 
Lei n.º 10.826/2003, CP). A inserção se deu através da Lei n.º 13.497/2017. 
Há uma generalização por parte da população em relação aos crimes do 
Estatuto do Desarmamento. Uma dica é, inicialmente, identificar qual arma está com 
a pessoa (uso permitido ou restrito) e, posteriormente, quais condições (posse ou 
porte). 
Se for arma de uso permitido, precisa-se saber se está no interior da 
residência ou no local de trabalho (caracteriza a posse) ou, ainda, se está com a pessoa 
em outros locais (caracteriza o porte). Para o primeiro caso (art. 12, Lei n.º 
10.826/2003, CP), a pena é menor – de 1 a 3 anos, enquanto no segundo caso é entre 
2 a 4 anos. Em ambos os casos descritos não se tratam de crimes hediondos. 
Já na hipótese da arma de uso restrito, não importa se é posse ou porte, 
estaremos diante de um crime só, justamente o crime hediondo citado no início deste 
subtópico. 
Deve-se observar o Decreto n.º 3.665/2000 para saber se a arma é de uso 
permitido (art. 17) ou de uso restrito (art. 16). 
 
2.10. LESÕES CONTRA AGENTES DE SEGURANÇA PÚBLICA 
A Lei n.º 13.142/2015 adicionou 2 modalidades de lesão corporal ao rol 
de crimes hediondos, ao que se observa o caráter específico do sujeito passivo. 
A primeira coisa a se fazer é identificar se houve lesão corporal dolosa de 
natureza gravíssima (art. 129, §2º, CP) ou lesão corporal seguida de morte (art. 129, 
§3º, CP). Qualquer uma das 2 é suficiente, mas precisam se destinar a determinadas 
pessoas para se configurar crime hediondo. 
Estou falando da autoridade ou agente descrito nos arts. 142 e 144 da 
Constituição Federal, dos integrantes do sistema prisional e da Força Nacional de 
Segurança Pública, no exercício da função ou em decorrência dela, ou contra os seus 
cônjuges, companheiros ou parentes consanguíneos até terceiro grau, em razão da 
condição funcional. 
Um absurdo, ao meu ver, a inclusão do inciso I-A ao art. 1º da Lei n.º 
8.072/1990. 
 
 
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34 
3. CRIMES ASSEMELHADOS A HEDIONDOS 
 
3.1. O CLÁSSICO TRÁFICO DE DROGAS 
A Lei de Drogas (Lei n.º 11.343/2006) capitula diversos crimes, sendo 
importante destacar quais deles são considerados assemelhados a hediondos. Os 
crimes que se sujeitam aos efeitos da hediondez são, certamente, aqueles previstos no 
art. 33, caput e §1º, sendo afastada a equiparação em relação aos crimes abrangidos 
pelos §§2º e 3º. 
Ponto relevante é que até pouco tempo, o tráfico privilegiado (art. 33, §4º, 
Lei n.º 11.343/2006) era equiparado aos crimes hediondos, mas em 2016 o STF julgou 
de forma a beneficiar os requisitos do tráfico privilegiado: agente que seja primário, de 
bons antecedentes, não se dedique às atividades criminosas, nem integre organização 
criminosa. O STJ ainda entende que é assemelhado a hediondo.18 
As condutas estabelecidas pelos arts. 34 e 36 também são consideradas 
como crimes equiparados hediondos, de modo que os demais artigos (arts. 3519, 37, 38 
e 39) não são compreendidos como tráfico de drogas, sendo, assim, afastados das 
restrições próprias dos crimes hediondos. 
 
3.2. A PRÁTICA DE TORTURA 
A tortura tem previsão legal na Lei n.º 9.455/1997, sendo equiparada a 
crime hediondo apenas nas formas do art. 1º, inciso I e §1º. A chamada tortura por 
omissão, embora existente no §2º do art. 1º, não é equiparada a crime hediondo. 
Se da prática de tortura acontece a morte da vítima, haverá tortura 
qualificada, mas para que assim seja configurada é necessário que o resultado seja 
indesejado, em outras palavras, não pode ser com dolo, pois deste modo seria um 
homicídio qualificado. 
 
3.3. O FAMIGERADO TERRORISMO 
O crime de terrorismo, tipificado pela Lei n.º 13.260/2016, mais 
precisamente nos arts. 2º ao 6º, também é considerado crime equiparado a

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