Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
Acadêmica: Maria Beatriz S. Albuquerque O gênero Mycobacterium compartilha muitas características comuns com os gêneros Corynebacterium e Actinomyces. Dentre essas, estão a produção de ácidos graxos de cadeia longa ramificados, extremamente raros, denominados ácidos micólicos, e o conteúdo genômico de bases Guanina-Citosina. As micobactérias são aeróbias estritas, consideradas fracamente Gram-positivas; são micro-organismos pequenos em forma de bastão que não possuem flagelos, não formam esporos, não produzem toxinas e não possuem cápsula. Diferem das demais bactérias numa série de aspectos, muitos dos quais relacionados às propriedades da parede celular. São micro-organismos intracelulares, que infectam e proliferam-se no interior de macrófagos. A velocidade de crescimento entre as espécies é bastante variável, diferenciando-as entre os grupos de crescimento lento, moderado e rápido. Da mesma forma que existe uma variação na velocidade de crescimento, entre espécies micobacterianas, ocorre também uma variação na temperatura ótima de crescimento. As espécies que crescem em temperaturas inferiores a 37ºC causam geralmente apenas infecções cutâneas, uma vez que a temperatura da pele é inferior à de regiões mais profundas do corpo. Acredita-se que M. leprae esteja nesta relação, já que o micro-organismo aparenta apresentar preferência por colonizar extremidades corporais, onde a temperatura é relativamente menor. Outra propriedade compartilhada entre as micobactérias que as distingue das demais bactérias refere-se à retenção de fucsina básica pela parede celular, mesmo na presença de álcool e ácido, conferindo-lhes a designação de bacilos álcool-ácido resistentes (BAAR). Tem-se observado que as manifestações clínicas de infecções micobacterianas decorrem da resposta imunológica do hospedeiro à infecção e aos antígenos que portam. Essas infecções são, geralmente, acompanhadas por hipersensibilidade do tipo tardia, envolvendo imunidade mediada por células. As micobactérias produzem uma parede celular de estrutura extremamente singular, na qual o peptídeoglicano contém ácido N- glicolilmurâmico em vez de ácido N-acetilmurâmico, geralmente encontrado na maioria das outras bactérias. M. tuberculosis possui uma das paredes mais perme- áveis a agentes antimicobacterianos hidrofílicos, enquanto as outras espécies são mais resistentes às drogas com esta propriedade. Acadêmica: Maria Beatriz S. Albuquerque Representação esquemática da parede celular de micobactéria. A membrana citoplasmática é encapsulada pela camada de peptídeoglicano. A espinha dorsal do peptideoglicano está ligado ao arabinogalactano através de ligações fosfodiéster. Outro importante componente associado de maneira não covalente a parede celular é o lipoarabinomanano (LAM) que é um fator imunogênico e é visto na figura ligado a membrana citoplasmática por uma ligação fosfatidilinositol. TUBERCULOSE A tuberculose humana é uma doença infecto-contagiosa causada por algumas micobactérias do “Complexo Mycobacterium tuberculosis”, incluindo M. bovis, M. africanum e, principalmente, M. tuberculosis. A principal maneira de transmissão dá-se através de partículas infectantes. Em pacientes com tuberculose ativa, a tosse caracteriza sintoma de inflamação pulmonar crônica, além de ser o principal mecanismo de disseminação do micro-organismo para novos hospedeiros. Esses expelidos pela tosse, espirro ou perdigotos são propelidos do pulmão para o ar, podendo permanecer em suspensão durante algumas horas; é uma doença altamente contagiosa. Na maioria das pessoas infectadas, os bacilos inalados são fagocitados por macrófagos alveolares, e podem seguir dois caminhos: são eliminados ou se multiplicam no interior dos macrófagos, em lesões localizadas chamadas tubérculos. Os processos patológicos e inflamatórios produzem características como enfraquecimento, febre, perda de peso, sudorese noturna, dor no peito, insuficiência respiratória, tosse (com pouca ou nenhuma produção de escarro), e, quando ocorre o rompimento de um vaso sanguíneo, a tuberculose pulmonar pode causar a hemoptíse. Mycobacterium turbeculosis O M. tuberculosis é o principal agente etiológico da tuberculose no homem. O bacilo apresenta variação de 0,3 a 0,6 µm de diâmetro e comprimento de 1,0 a 4,0 µm. É um patógeno intracelular de macrófagos, que estabelece sua infecção preferencialmente no sistema pulmonar; tem a ação regulada pelo sistema imune do hospedeiro e, na maioria das vezes, é condicionado a um estado de dormência. O tempo de geração é de aproximadamente 24 horas, tanto em meio sintético, como em animais infectados. O crescimento do organismo em ambiente laboratorial evidencia a formação de colônias com superfície seca e rugosa e, para que as mesmas se tornem visíveis, são necessárias de 3 a 4 semanas de crescimento em placa. • Sistema imunológico: A resposta imune é a principal responsável pela defesa contra a infecção do bacilo da tuberculose. Entretanto, tratando-se de infecções micobacterianas, a resposta imunológica do hospedeiro também está associada a danos teciduais, devido à formação de granulomas e necrose. Vários dos sintomas da tuberculose, incluindo a destruição tecidual que eventualmente liquefaz porções infectadas do pulmão, são preferivelmente mediados pela resposta Acadêmica: Maria Beatriz S. Albuquerque imune do hospedeiro contra o bacilo ao invés da virulência bacteriana propriamente dita. M. tuberculosis infecta primeiramente macrófagos, residindo dentro de vacúolos ligados à membrana, os fagossomos. • Dormência e reativação: A tuberculose latente caracteriza-se por ser uma síndrome clínica decorrente da exposição ao M. tuberculosis, do estabelecimento da infecção e da geração de resposta imune do hospedeiro para controlar o bacilo, forçando-o a um estado de quiescência no tecido infectado. Caracteriza-se por uma redução do metabolismo bacteriano, decorrente da ação da resposta imune celular, que de certa forma contém, mas não erradica, a infecção. Ao contrário da doença ativa, a tuberculose latente não se caracteriza como uma doença infecciosa e, portanto, não representa um risco de saúde pública. Condições imunossupressivas comprometem a eficácia do sistema imune, permitindo a reativação do bacilo até então dormente, e levando o indivíduo a desenvolver tuberculose ativa, frequentemente muitas décadas após a infecção inicial. Pode-se dizer que a infecção por HIV alterou drasticamente a epidemiologia e a história natural da tuberculose, causando um aumento na sua dinâmica de transmissão, morbidade e mortalidade. O diagnóstico de tuberculose entre pacientes HIV positivos tornou- se mais difícil devido a fatores como: falsos negativos nos testes de tuberculina; achados atípicos em raios-X torácicos de tuberculose pulmonar; quadro pulmonar com esfregaço de escarro negativo para BAAR; tuberculose extrapulmonar. É evidente que a epidemia de HIV favorece o surgimento de linhagens do bacilo resistentes a drogas em pacientes co-infectados, uma vez que, nestes casos, há um maior índice de abandono do tratamento, além de facilitar uma rápida disseminação destas linhagens para outras pessoas. • Diagnóstico: O teste de tuberculina (PPD) pode ser utilizado para detectar uma infecção de muitos anos atrás, ou mesmo de origem recente, sendo a única maneira de diagnosticar uma infecção latente, pela reação de hipersensibilidade do tipo tardia desenvolvida contra antígenos micobacterianos. Conhecido como teste de Mantoux, consistena injeção intradérmica de 0,1 mL de tuberculina na face anterior do antebraço. O teste é considerado positivo para pacientes que desenvolvem uma área endurecida de pelo menos 5mm de diâmetro no local da injeção após 48 horas. Entretanto, a vacinação com BCG (Bacilo de Calmette e Guérin) também produz reatividade ao PPD. Diferentemente de outros patógenos, não é possível diferenciar adequadamente cepas de M. tuberculosis usando métodos fenotípicos. Admite-se que a transmissão horizontal de genes seja um evento raro e que a variabilidade genética de M. tuberculosis resulte principalmente de mutações pontuais, pequenas inserções e deleções mediadas por elementos móveis, como as sequências de inserção, grandes deleções que caracterizam diferentes subespécies dentro do Complexo M. tuberculosis e variações no número de sequências repetidas distribuídas no genoma. Acadêmica: Maria Beatriz S. Albuquerque HANSENÍASE A lepra ou doença de Hansen, hanseníase, é infecto-contagiosa, causada somente pelo M. leprae, a única bactéria patogênica conhecida por invadir o sistema nervoso periférico. Ela afeta predominantemente a pele, as vias aéreas superiores, o sistema nervoso periférico e os olhos. A colonização no sistema nervoso causa modificações patológicas como degeneração axonal, fibrose aumentada, e desmielinização. A falta de produção de mielina pelas células de Schwann e sua destruição mediada por reações imunes do hospedeiro, induzem lesões nervosas, perda sensorial e desfiguração, características típicas da lepra. Não se sabe exatamente o mecanismo utilizado pelo bacilo para invadir os nervos. Sabe-se, no entanto, que, uma vez dentro do nervo, este patógeno coloniza as células de Schwann de fibras não mielinizadas. A doença pode causar sequelas graves como cegueira, a partir de complicações oculares, como iritis, sinequia posterior, catarata, lagoftalmose e ulceração córnea, entre outras. O M. leprae é um organismo de baixa patogenicidade, uma vez que somente algumas das pessoas supostamente infectadas desenvolvem a doença. Essa incide principalmente em indivíduos com idade variando de 10 a 20 anos, sendo mais comum no sexo masculino. As lesões encontram-se predominantemente nas superfícies mais frias do corpo, como a mucosa nasal e extremidades dos nervos periféricos (cotovelos, pulsos, joelhos e tornozelos). Acredita-se que o período de incubação para o desenvolvimento da doença varie entre 8 a 12 anos. Mycobacterium leprae O bacilo causador da lepra apresenta um tamanho médio variando entre 0,3 a 0,5 µm de diâmetro e 4,0 a 7,0 µm de comprimento. A temperatura ótima de crescimento é de aproximadamente 30ºC e, portanto, o micro-organismo infecta preferencialmente áreas “mais frias” do corpo humano. Sua parede é altamente complexa, contendo proteínas, glicolipídeos fenólicos, peptídeoglicano, arabinogalactano e ácidos micólicos. Ainda, sua propriedade BAAR é mais fraca que a das demais espécies micobacterianas. Uma característica fundamental do M. leprae é sua habilidade em sobreviver e crescer dentro de macrófagos. O bacilo de Hansen não pode ser cultivado em meio sintético (laboratorial), não seguindo, portanto, os postulados de Koch. Desta forma, aparenta ser um patógeno intracelular obrigatório que requer o macrófago do hospedeiro para sua sobrevivência e propagação. • Transmissão: Aparentemente, a transmissão do M. leprae ocorre pelo envolvimento das vias aéreas superiores, onde a mucosa nasal possui um papel central. Pacientes com lepra multibacilar representam a principal fonte de infecção, através da disseminação (meio de saída) de uma enorme carga bacilar para o meio. A doença é transmitida entre pessoas pelo convívio de susceptíveis e doentes. Novamente, a infecção propriamente dita (meio de entrada) parece envolver principalmente a mucosa nasal, e muitas vezes é influenciada pela integridade da mesma, onde pequenas Acadêmica: Maria Beatriz S. Albuquerque lesões geradas por condições climáticas e infecções respiratórias facilitam o estabelecimento da infecção. Em uma minoria de indivíduos infectados, entretanto, ocorre a propagação de bacilos para nervos periféricos e pele, onde são fagocitados por células de Schwann e macrófagos.
Compartilhar