Buscar

O Mercador de Veneza

Prévia do material em texto

Universidade do Oeste de Santa Catarina – UNOESC 
Campus Chapecó – SC 
Departamento de Engenharia Civil
Professor: João Alberto Gisi 
Acadêmico: Jean Marcos D. Tonello 
Disciplina: Deontologia
ANÁLISE DA OBRA: O MERCADOR DE VENEZA
“Nossas dúvidas são traidoras e nos fazem perder o que, com frequência, poderíamos ganhar, por simples medo de arriscar.”
William Shakespeare
Chapecó/SC
2019
O MERCADOR DE VENEZA: A ÉTICA NO CONTEXTO
A presente análise faz referência ao filme “O Mercador de Veneza”, tendo em vista as atitudes éticas dos personagens Antônio, Bassânio e Shylock. Ademais, buscou-se estabelecer um paralelo com trechos da peça original de William Shakespeare, os quais aparecem como citações durante esta resenha, com o objetivo de relacionar a obra cinematográfica e a obra literária, em ambos os contextos. 
O filme “O Mercador de Veneza”, originalmente intitulado “The Merchant of Venice”, foi produzido nos EUA e lançado em 2004. O drama foi dirigido por Michael Radfort e baseado na peça de William Shakespeare, renomado dramaturgo inglês. A obra de Shakespeare foi escrita entre 1596 e 1598 e classificada pelo próprio autor como uma comédia. Lembrando traços de outras comédias românticas do escritor, como “Sonhos de uma noite de verão”, o Mercador de Veneza também marca pelas cenas dramáticas.
O filme passa-se em Veneza, na Itália, no século XIV. No contexto da época, a cidade era uma das mais prósperas do mundo, graças a seu comércio. O início da narrativa se dá a partir dos problemas do personagem Bassânio, um jovem de origem nobre, porém, sem muitos patrimônios, que deseja casar-se com Pórcia, a herdeira do rico Belmont. Para conseguir se casar, o comerciante Bassânio precisa realizar uma viagem de três meses, mas não tem dinheiro para isso. Sendo assim, pede ao mercador Antônio que lhe empreste três mil ducados.
Antônio é um dos mais ricos comerciantes de Veneza e um homem muito bom, contudo, todo seu dinheiro está comprometido em empreendimentos no exterior. Então, Antônio explica ao amigo que não tem dinheiro para emprestar, uma vez que seus navios e bens estão no mar, mas se oferece como fiador caso Bassânio vá atrás de um empréstimo. 
Antônio: Sabes que está no mar quanto possuo. Dinheiro ora não tenho, nem disponho, nesta ocasião de nada que possa levantar qualquer soma. Sai a campo; põe à prova meu crédito em Veneza. Hei de espichá-lo ao último, contanto que te prepares para que em Belmonte vejas a bela Pórcia. Vai; informa-te por teu lado, como eu, onde há dinheiro para emprestar. Seria fato inédito nada obtermos agora com meu crédito (SHAKESPEARE, 1596 - 1598). 
Vendo que seu amigo mercador estava impossibilitado de ajudá-lo com dinheiro, mas, considerando a proposta de ser fiador de uma dívida feita a um terceiro, Bassânio contata Shylock, o judeu. Ao saber quem será o fiador, Shylock, que odeia o mercador Antônio, realiza uma proposta especial: se a dívida não for paga até a data combinada, cobrará do fiador um pedaço de sua própria carne. 
Shylock: Quero dar-vos prova dessa amizade. Acompanhai-me ao notário e assinai-me o documento da dívida, no qual, por brincadeira, declarado será que se no dia tal ou tal, em lugar também sabido, a quantia ou quantias não pagardes, concordar em cedeis, por equidade, uma libra de vossa bela carne, que do corpo vos há de ser cortada onde eu bem aprouver (SHAKESPEARE, 1596 - 1598). 
Bassânio não aceita as condições e não deseja pegar o dinheiro, contudo, Antônio consente e assina o contrato. 
Antônio: Palavra, aceito! Assinarei a dívida e declaro que um judeu pode ser até bondoso (SHAKESPEARE, 1596 - 1598). 
Bassâmio: Jamais assinareis, por minha causa, um documento desses; antes quero continuar a passar necessidade (SHAKESPEARE, 1596 - 1598). 
Antônio: Nada temas meu amigo, que eu não perco, daqui a dois meses, isto é, um mês antes de se vencer a letra, espero certo receber nove tantos do que vale (SHAKESPEARE, 1596 - 1598). 
Assim, com os recursos necessários, Bassânio viaja para Belmonte na tentativa de conquistar Pórcia. Em Belmonte, o pai da cobiçada herdeira prepara uma prova para seus pretendentes. Há três baús: um de ouro, um de prata e um de chumbo, o pretendente que escolher o baú certo poderá se casar com a jovem. Os primeiros pretendentes escolhem os baús de ouro e prata e são rejeitados. Bassânio, sem deixar se enganar pela aparência dos outros dois baús, escolhe o de chumbo e recebe a mão de Pórcia em casamento. 
Enquanto isso, em Veneza, Antônio descobre que todos os seus navios se perderam em alto-mar. Com isso, ele não tem mais dinheiro para pagar a dívida com Shylock, o qual resolve aproveitar-se da situação e vingar-se do mercador. Antônio é preso e levado para o tribunal. Antes de ser preso, o mercador escreve uma carta endereçada a Bessânio:
Carta de Antônio: “Querido Bassânio, todos os meus navios naufragaram, meus credores tornaram-se cruéis, minha situação financeira é desesperada, a letra que eu tenho com o judeu já está vencida, e uma vez que, pagando-a, não me será possível viver, ficam liquidadas todas as dívidas existentes entre mim e vós. Se ao menos eu vos visse antes de morrer! Contudo, nada de constrangimento; se o vosso amor não vos persuadir nesse sentido, minha carta não vos obrigará a vir (SHAKESPEARE, 1596 - 1598).
Em Belmonte, ao receber a carta de Antônio, Bassânio conta a Pórcia do acontecido, explicando sua dívida com o mercador.
Bessânio: [...] Ao declarar-vos que meus bens eram nada, deveria ter dito que eram menos do que nada. Porque, de fato, para obter os recursos, penhorei-me a um amigo mui querido e o penhorei ao seu pior inimigo [...] (SHAKESPEARE, 1596 - 1598). 
Para tentar ajudar seu amado Bassânio, Pórcia ofereceu-o uma quantidade de dinheiro bem além da qual tratava-se a dívida, na tentativa de salvar a vida do amigo Antônio. 
Pórcia: Que quantia deve ele a esse judeu? 
(SHAKESPEARE, 1596 - 1598).
Bassânio: Por minha causa, três mil ducados! 
(SHAKESPEARE, 1596 - 1598).
Pórcia: Como! Apenas isso? Pagai seis mil e tirai a letra; duplicai os seis mil e o resultado quadriplicai, contanto que um amigo de tão grande valor não perca um fio de cabelo por causa de Bessânio [...] Pretere tudo o mais, amor, e parte (SHAKESPEARE, 1596 - 1598).
Com o incentivo de Pórcia, Bessânio parte imediatamente de volta para Veneza. No tribunal, Bassânio oferece a Shylock o dobro do que havia pego emprestado, mas, o vingativo judeu exige o pedaço de carne do peito de Antônio. Quando tudo parece perdido, surge um jovem disfarçado de doutor e debate o caso com a corte. O doutor era Pórcia. 
O jovem doutor, primeiramente, pede a misericórdia a Shylock, mas ele não cede. Com isso, o doutor disfarçado permite que a dívida seja paga e que o judeu retire a libra de carne do mercador. Contudo, antes de Shylock cortá-lo, Pórcia aponta uma particularidade do contrato: Shylock pode retirar uma libra de carne de Antônio, mas não pode retirar o sangue. 
Pórcia: Um momentinho, apenas. Há mais alguma coisa. Pela letra, a sangue jus não tens; nem uma gota. São palavras expressas: “Uma libra de carne”. Tira, pois, o combinado: tua libra de carne. Mas se acaso derramares, no instante de a cortares, uma gota que seja, só, de sangue cristão, teus bens e tuas terras todas, pelas leis de Veneza, para o Estado passarão por direito (SHAKESPEARE, 1596 - 1598).
Assim, Shylock precisa aceitar a sua derrota. Diz que aceita a quantidade em dinheiro e pede para se retirar e encerrar o caso. Contudo, Pórcia argumenta, fundamentada nas leis de Veneza, que ele não pode mais aceitar o valor depois de ter recusado. Com isso, Antônio e Bessânio saem livres do tribunal e como pagamento ao falso juiz, o comerciante entrega-o, pela solicitação do mesmo, o anel ganhado de Pórcia.
	Ao voltarem para Belmonte, sem saber do disfarce de Pórcia, Bessânio explica a perca do anel e promete nunca mais quebrar nenhuma promessa. Antônio, como um novo ato de amizade, empenhasua alma na dívida:
Antônio: já empenhei uma vez o próprio corpo pela fortuna dele; e a não ter sido essa pessoa que ficou de posse do anel de vosso esposo, neste instante perdido ele estaria. Ora a própria alma me decido a empenhar, pela certeza de que, conscientemente, vosso esposo não quebrará jamais qualquer promessa (SHAKESPEARE, 1596 - 1598).
	Analisando o contexto do filme e a trajetória dos personagens, percebe-se que existem diversas situações nas quais a ética é colocada em prova. Pode-se ressaltar, principalmente, a questão do cumprimento ou não do contrato entre Antônio e Shylock, pois o judeu, para se vingar do mercador, não cederia a possibilidade de deixar de receber o prometido no acordo: um pedaço de carne de Antônio. 
	Shylock mantém este desejo de vingança mesmo depois de Bassânio ter oferecido o dobro do dinheiro penhorado, o que mostra seu caráter vingativo, ao alegar que a carne do inimigo valia mais do que o dinheiro penhorado. A partir do ponto de vista ético, Shylock deveria entender a situação posta e desfazer a pena do contrato, deixando de cortar a carne de Antônio, pois a vida e a integridade física deste é mais importante do que o dinheiro emprestado.
Contudo, o contrato fora reconhecido como sendo válido pelas leis de Veneza e pelas autoridades competentes, porque fora registrado. A solução apresentada por Pórcia, como doutor disfarçado, foi realizada a partir de um jogo de interpretação e isso permitiu reverter a situação, onde Antônio foi salvo. O mercador ainda mostrou seu caráter ético no tribunal, sendo justo e empático na condenação de Shylock. 
Além destes valores, o filme “O Mercador de Veneza” ainda transmite virtudes de amizade e companheirismo, relatando o valor das promessas e acordos realizados entre partes, os sentimentos de empatia e altruísmo, o poder das palavras, da justiça e da verdade. 
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
SHAKESPEARE, W; O mercador de Veneza. 1596-1598. Disponível em: http://www.ebooksbrasil.org/adobeebook/mercador.pdf Acesso em: 08 de novembro de 2019.
GOMES, E. F. F. V; “O mercador de Veneza” de William Shakespeare voltado ao direito. 2013. Disponível em:
https://erickfiuza.jusbrasil.com.br/artigos/435170329/o-mercador-de-veneza-de-william-shakespeare-voltado-ao-direito Acesso em: 08 de novembro de 2019. 
Bairro Seminário, Av. Nereu Ramos, 3777 D – fone: (49) 3319-2600 – www.unoesc.edu.br – CNPJ 84.592.369/0010-11 – CEP 89.813-000 – Chapecó-SC

Continue navegando