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ANÁLISE DOS CONTRATOS FILMES: O MERCADOR DE VENEZA E O AUTO DA COMPADECIDA Janete Wilke Bacharela em Direito Mediadora e conciliadora Nas obras “O mercador de Veneza” de Shakespeare e no “O auto da Compadecida” de Suassuna existem muitos pontos em comum, mas vamos comparar o contrato feito onde engloba o “dote” e o “casamento”. No enredo do “O mercador de Veneza”, Rosinha herda de sua avó uma porquinha com dinheiro dentro, como dote, para quando ela se casar. O pai de Pórcia, ao morrer, deixa para ela três arcas com o mesmo intuito, mas cada pretendente deverá escolher uma arca, se na arca escolhida estivesse escrito o nome de Pórcia o felizardo teria o direito de casar-se com ela e herdar toda sua fortuna, caso contrário deveria partir e jamais revelar a ninguém qual a arca escolhida. Antônio pede emprestado a Shylock (o judeu), o dinheiro que será utilizado por Bassânio, seu grande amigo, para conquistar Pórcia, e que Antônio promete pagar em três meses ao judeu. O Major Antônio Moraes, pai de Rosinha, achado que Chicó é muito rico (mas ele nada possui) concorda com o casamento com sua filha e exige o pagamento do dote para o dia do casamento. O judeu, como garantia da dívida, pede uma “libra de carne” de Antônio, caso o mesmo não honrasse a dívida. O Major pede uma “tira de couro” das costas de Chicó, se ele desonrar a dívida. No “O auto da Compadecida”, o tribunal de João Grilo é celestial, ele se vê morto diante de Deus e do diabo e em sua defesa A Virgem Maria. Já na obra de Shakespeare o julgamento de Antonio o tribunal é terreno e Shylock, o condena sem piedade. E Pórcia, vestida de homem, intercede por Antônio diante de todos inclusive de Shylock. Pórcia é dotada de grande astúcia, para salvar Antônio, auxiliada por Nerissa, ela utiliza-se de perspicácia, vai até o tribunal vestida de homem, e salva Antônio dizendo que no contrato fala-se de uma “libra de carne”, nada é mencionado sobre sangue, e, portanto, não pode haver sangue nessa retirada da “libra de carne”, o que é impossível. Assim, Shylock só poderia retirar a “libra de carne” de Antônio se nenhuma gota de sangue escorresse e que não poderia ser nada diferente de “uma libra”. Como isso não é possível, com esse argumento Pórcia salva Antônio. Para livrar Chicó da condenação, Rosinha, com o auxílio de João Grilo, se utiliza do mesmo argumento, dizendo ao Major Antônio Moraes que ele pode retirar a “tira de couro” das costas de Chicó desde que nenhuma gota de sangue escorra do mesmo, pois sangue não consta no contrato, e como isso é impossível Chicó livra-se da pena. O contrato que Antônio fez com o judeu é de Compra e Venda, bilateral, oneroso e comutativo. Ambas as partes concordaram com o preço e com o modo de pagamento. Constava também que o não cumprimento das condições do contrato haveria uma sanção. Como não estava especificado como seria retirada a “libra de carne”, Pórcia se valeu dessa brecha no contrato para livrá-lo do castigo. Já o contrato do Chicó foi de Doação de Casamento, sendo feita a doação antes do casamento e com a condição suspensiva de no dia do casamento ser realizado o pagamento do dote ou a retirada de uma “tira de couro”, nada constando, como no de Antônio sobre como seria realizado, portanto João Grilo exige que não verta uma gota sangue na retirada da tira. ANÁLISE DOS CONTRATOS FILMES: O MERCADOR DE VENEZA E O AUTO DA COMPADECIDA Janete Wilke Bacharela em Direito Mediadora e conciliadora Nas obras “O mercador de Veneza” de Shakespeare e no “O auto da Compadecida” de Suassuna existem muitos pontos em comum, mas vamos comparar o contrato feito onde engloba o “dote” e o “casamento”. No enredo do “O mercador de Veneza” , Rosinha herda de sua avó uma porquinha com dinheiro dentro, como dote, para quando ela se casar. O pai de Pórcia, ao morrer, deixa para ela três arcas com o mesmo intuito, mas cada pretendente deverá escolher uma arca, se na arca escolhida estivesse escrito o nome de Pórcia o felizardo teria o direito de casar - se com ela e herdar toda sua fortuna, caso contrário deveria partir e jamais revelar a ninguém qual a arca escolhida. Antônio pede emprestado a Shylock (o judeu), o dinheiro que será utilizado por Bassânio, seu grande am igo, para conquistar Pórcia, e que Antônio promete pagar em três meses ao judeu. O Major Antônio Moraes, pai de Rosinha, achado que Chicó é muito rico (mas ele nada possui) concorda com o casamento com sua filha e exige o pagamento do dote para o dia do ca samento. O judeu, como garantia da dívida, pede uma “libra de carne” de Antônio, caso o mesmo não honrasse a dívida . O Major pede uma “tira de couro” das costas de Chicó, se ele desonrar a dívida. No “O auto da Com padecida” , o tribunal de João Grilo é celestial, ele se vê morto diante de Deus e d o diabo e em sua defesa A Virgem Maria. Já n a obra de Shakespeare o julgamento de Antonio o tribunal é terreno e Shylock, o condena sem piedade. E Pórcia, vestida de homem, intercede por Antônio diante de todos inclusive de Shylock. Pórcia é dotada de grande astúcia , para salvar Antônio, auxiliada por Nerissa , ela utiliza - se de perspicácia , vai até o tribunal vestida de homem, e salva Antônio dizendo que no contrato fala - se de uma “libra de carne”, nada é mencionado sobre sangue, e, portanto, não pode haver sangue nessa retirada da “libra de carne”, o que é impossível. Assim, Shylock só poderia retirar a “libra de carne” de Antônio se nenhuma gota de sangue escorresse e que não poderia ser nada diferente de “uma libra”. Como isso não é possível, com esse argumento Pórcia salva Antônio. Para livrar Chicó da condenação, Rosinha, com o auxílio de João Grilo, se utiliza do mesmo argumento, dizendo ao Major Antônio Moraes que el e ANÁLISE DOS CONTRATOS FILMES: O MERCADOR DE VENEZA E O AUTO DA COMPADECIDA Janete Wilke Bacharela em Direito Mediadora e conciliadora Nas obras “O mercador de Veneza” de Shakespeare e no “O auto da Compadecida” de Suassuna existem muitos pontos em comum, mas vamos comparar o contrato feito onde engloba o “dote” e o “casamento”. No enredo do “O mercador de Veneza”, Rosinha herda de sua avó uma porquinha com dinheiro dentro, como dote, para quando ela se casar. O pai de Pórcia, ao morrer, deixa para ela três arcas com o mesmo intuito, mas cada pretendente deverá escolher uma arca, se na arca escolhida estivesse escrito o nome de Pórcia o felizardo teria o direito de casar-se com ela e herdar toda sua fortuna, caso contrário deveria partir e jamais revelar a ninguém qual a arca escolhida. Antônio pede emprestado a Shylock (o judeu), o dinheiro que será utilizado por Bassânio, seu grande amigo, para conquistar Pórcia, e que Antônio promete pagar em três meses ao judeu. O Major Antônio Moraes, pai de Rosinha, achado que Chicó é muito rico (mas ele nada possui) concorda com o casamento com sua filha e exige o pagamento do dote para o dia do casamento. O judeu, como garantia da dívida, pede uma “libra de carne” de Antônio, caso o mesmo não honrasse a dívida. O Major pede uma “tira de couro” das costas de Chicó, se ele desonrar a dívida. No “O auto da Compadecida”, o tribunal de João Grilo é celestial, ele se vê morto diante de Deus e do diabo e em sua defesa A Virgem Maria. Já na obra de Shakespeare o julgamento de Antonio o tribunal é terreno e Shylock, o condena sem piedade. E Pórcia, vestida de homem, intercede por Antônio diante de todos inclusive de Shylock. Pórcia é dotada de grande astúcia, para salvar Antônio, auxiliada por Nerissa, ela utiliza-se de perspicácia, vai até o tribunal vestida de homem, e salva Antônio dizendo que no contrato fala-se de uma “libra de carne”, nada é mencionado sobre sangue, e, portanto, não pode haver sangue nessa retirada da “libra de carne”, o que é impossível. Assim, Shylock sópoderia retirar a “libra de carne” de Antônio se nenhuma gota de sangue escorresse e que não poderia ser nada diferente de “uma libra”. Como isso não é possível, com esse argumento Pórcia salva Antônio. Para livrar Chicó da condenação, Rosinha, com o auxílio de João Grilo, se utiliza do mesmo argumento, dizendo ao Major Antônio Moraes que ele
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