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O MERCADOR DE VENEZA RESUMO E ANÁLISE JURÍDICA - CONTRATOS A história O Mercador de Veneza se passa no século XVI e o tema da peça escrita pelo dramaturgo inglês William Shakespeare tem como ponto central um contrato celebrado entre um agiota judeu Shylock e o mercador Antônio. Este contrato nasceu quando Bassânio, amigo de Antônio, procurou o agiota, porque precisava de dinheiro para uma viagem que faria com o intuito de conquistar Pórcia, herdeira de Belmonte. Esta obra provoca questionamentos jurídicos sobre a formação e a consequência de um contrato não cumprido, além de despertar, aguçar, provocar o operador do Direito no momento da argumentação. Pórcia era uma moça muito rica e que seu pai deixara um testamento com desejo de casá-la com aquele que encontrasse a foto dela em umas das três caixas (ouro, prata e chumbo). Bassânio não tinha patrimônio, muito menos recursos para concorrer com outros pretendentes a esposo de Pórcia, logo pediu empréstimo de três mil ducados (contrato principal) para serem pagos em três meses ao agiota Shylock e a garantia (contrato acessório) do pagamento estaria a cargo de seu amigo e mercador Antônio que tornara seu fiador. A partir daí ocorrera o vínculo jurídico obrigacional quando Antônio se torna devedor de uma prestação de dar em face de Shylock seu credor que pratica um empréstimo sem juros, neste caso em específico; vislumbrando nesta formação do contrato o princípio da autonomia da vontade, ou seja, houve a manifestação de vontade das partes e o princípio da obrigatoriedade do contrato, classicamente denominado pacta sunt servanda. Caso Antônio não cumprisse o acordado no prazo estipulado, Shylock receberia como garantia uma libra da carne de Antônio, que seria um momento oportuno de se vingar do comerciante que o desprezava no mercado por ser judeu. Bassânio não queria pegar o empréstimo nesta condição, mas Antônio consentiu e anuiu ao contrato. Diga-se de passagem, que os judeus nesta época eram discriminados e proibidos de possuir propriedades, fazendo da agiotagem como ganho de vida e Shylock realiza empréstimos a juros, mas neste caso ele não impôs esta condição. 2 Antônio não pode emprestar diretamente o dinheiro a Bassânio porque investira todos seus bens numa expedição marítima e estava tranquilo quanto ao cumprimento do contrato acreditando quitar até mesmo antes do prazo, porém aconteceu o inesperado: seus bens e navio se perderam no mar. Poderíamos classificar este tipo de contrato com base normativa do Direito Civil Brasileiro como sendo bilateral, oneroso, consensual, comutativo, porém com ressalvas acerca dos elementos constitutivos do contrato no que ser refere ao pressuposto de validade quanto ao objeto da garantia que é configurada como inidônea, ilícita e impossível. O art.13 do Código Civil Brasileiro diz: “salvo por exigência médica, é defeso o ato de disposição do próprio corpo, quando importar diminuição permanente da integridade física, ou contrariar os bons costumes”, ou seja, é proibido oferecer o corpo como garantia de pagamento de dívida; proteção esta referendada pela Constituição Federal de 1988 em seu art,1º, III, que trata sobre a dignidade humana como preceito fundamental. Continuando..., Shylock ao saber da insolvência de Antônio e que o prazo havia findado buscou a garantia acordada no caso de descumprimento da obrigação que seria “uma libra de carne de seu devedor” – Antônio. Vale salientar que os navios de Antônio representavam todo o seu patrimônio. Na verdade, Shylock desejava que Antônio não conseguisse quitar sua dívida para assim vingar-se “dentro dos preceitos legais da época”, não incorrendo no erro de fazer “justiça” com as próprias mãos. Shylock recorreu à justiça para que o acordo fosse cumprido restando a Antônio ser preso e levado a julgamento. Bassânio, já casado com Pórcia, soube que seu amigo Antônio seria julgado. Pórcia ao saber da forte amizade entre eles, resolveu dar o valor do empréstimo em dobro para que a dívida fosse quitada. Ao chegar no tribunal, Bassânio ofereceu o dobro do pagamento da dívida, mas Shylock com sede de vingança e má-fé recusa a oferta, pois disse que o contrato deve ser executado conforme as cláusulas pactuadas, ou seja, o contrato faz lei entre as partes de maneira absoluta na visão do credor; visão esta contrária se fosse tratada sob a ótica do ordenamento jurídico brasileiro, pois este contrato não fez lei entre as parte frente ao desequilíbrio entre os direitos e obrigações entre as partes, além do contrato de garantia ser ilícita. Porém, Pórcia juntamente com sua empregada, disfarçada de homem, vai ao Tribunal e atua como advogado de defesa de Antônio com pseudônimo de Baltazar. 3 Pórcia (Baltazar) ao interpretar de forma literal o contrato disse que o acordo celebrado era válido se, e somente se Shylock retirasse o pedaço da carne do devedor sem que derramasse uma gota de sangue, senão estaria extrapolando o que foi acordado. No final, Shylock por sua má-fé e maldade em não aceitar o pagamento da dívida em dobro, foi punido pela perda de parte de seus bens em favor do Estado e do devedor, visto que era impossível retirar um pedaço de carne sem derramar uma gota de sangue. Trazendo esta obra à orbita jurídica brasileira, o contrato celebrado estaria nulo de pleno direito por não atender a sua função social, inobservância ao princípio da boa-fé objetiva, fere vários preceitos Constitucionais, Civis acima já mencionados, adicionado ao art.186 do Código Civil que diz: “aquele que, por ação ou omissão voluntária, negligência ou imprudência, violar direito e causar dano a outrem, ainda que exclusivamente moral, comete ato ilícito”, sem falar na esfera Penal como lesão corporal grave ou homicídio. FONTE: O Mercador de Veneza. Título Original: The Merchandt of Venice. Gênero: Drama. Lançamento (EUA): 2004.Distribuição: Sony Pictures Classics/California Filmes. Direção: Michael Radford, baseado em peça teatral de William Shakespeare Novo curso de direito civil, volume 4: contratos/ Pablo Stolze Gagliano, Rodolfo Pamplona Filho. – 3. Ed. unificada. - São Paulo: Saraiva Educação, 2020.
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