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Trabalho Direito Empresarial - Resumo de filme - O Mercador de Veneza

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RESUMO DO FILME “O MERCADOR DE VENEZA”
	O filme, baseado na peça homônima escrita por William Shakespeare, se passa na cidade de Veneza no contexto histórico do século XVI, no qual, como já evidenciado logo no início da película, os judeus conviviam com as mais diversas mazelas em razão de sua religião, pois eram marginalizados pela sociedade veneziana — majoritariamente cristã —, sendo obrigados a viver em “guetos” e a usar vestimentas distintitivas todas as vezes que saíssem destes, além de não poderem ter propriedades, razão pela qual muitos praticavam a usura, que, na concepção cristã, era veementemente reprovada.
	Após uma rápida elucidação do contexto histórico, se inicia o desenrolar da narrativa principal da obra, protagonizada por três personagens principais: Antonio, um mercador veneziano que abominava os judeus; Bassânio, um jovem de origem nobre, que, entretanto, possuía incontáveis dívidas devido aos gastos excessivos; e Shylock, um rico judeu, notabilizado na sociedade veneziana pela prática da usura.
	Bassânio, envidividado, vai até seu caro amigo Antonio e pede a quantia de três mil ducados por empréstimo, para que possa realizar seu objetivo de viajar até Belmonte e conquistar a jovem e bela Pórcia, herdeira de uma grande fortuna. Entretanto, Antonio, mesmo sendo um comerciante rico e de boa reputação perante a alta sociedade, não podia efetuar o empréstimo, pois todo seu patrimônio estava empregado em diversas mercadorias e embarcações que estavam no mar. Diante de tal impossibilidade, Antônio sugere a Bassânio que tente, se utilizando de seu crédito, conseguir um empréstimo nas praças públicas de Veneza.
	Bassânio acata a sugestão do amigo, razão pela qual se encontra com Shylock, o judeu usurário, para o qual solicita o empréstimo, com o prazo de três meses, sendo Antonio o seu fiador. Inicialmente, Shylock relutou em aceitar a proposta, pois possuía desavenças pretéritas com Antonio, principalmente em razão do notório antissemitismo do renomado mercador. Após uma difícil negociação, o judeu acaba por mudar de opinião e aceita conceder o empréstimo, porém, ao invés de estipular a habitual cobrança de juros para garantir o adimplemento, exigiu que Antonio desse como garantia uma libra de sua carne, que seria cortada pelo próprio Shylock, de qualquer parte do corpo que o judeu tivesse preferência. Apesar do espanto de Bassânio, o mercador firma o contrato sem pestanejar, demonstrando grande confiança, já que acreditava que seus empreendimentos marítimos seriam bem sucedidos.
	Com o empréstimo acertado, Bassânio, acompanhado de seu tresloucado amigo Graciano, parte rumo a Belmonte para conquistar Pórcia e tentar “ganhar sua mão”. É importante ressaltar que a jovem não podia escolher seu marido, pois os pretendentes tinham que se sujeitar a um desafio imposto por seu finado pai, que consistia em escolher um baú entre três disponíveis, sendo um deles o “correto”, o qual continha um retrato de Pórcia. Bassânio, na sua vez, escolhe o baú de chumbo, e, ao abrí-lo, se deparou com o retrato da jovem, se tornando o primeiro dos incontáveis pretendentes dela a sair exitoso do desafio. 
	Momentos antes da cerimônia matrimonial, Bassânio se encontrava aflito, pois recebera uma carta melancólica de Antonio, aduzindo que não tinha condições de pagar a dívida com Shylock, pois todos seus empreendimentos e mercadorias se perderam no mar, e o prazo de três meses estava se esgotando, razão pela qual ocorreria um julgamento concernente ao adimplemento do contrato firmado com o judeu. Devido à situação, foi realizada uma abreviada cerimônia de casamento, na qual, além de Pórcia e Bassânio, também se casaram Graciano e Nerissa, criada de Pórcia.
	Encerrada a cerimônia, Bassânio parte para Veneza acompanhado de Graciano, tendo Pórcia lhe disponibilizado uma quantia quase que ilimitada de ducados, com o intuito de que fosse quitada a dívida com Shylock. Após a saída da dupla, Pórcia e Nerissa, sem que eles soubessem, também decidiram rumar para Veneza, e, para influir no resultado do julgamento, se disfarçaram como dois homens, supostos advogados, com Nerissa exercendo um papel de “auxiliar”.
	O aguardado julgamento atraiu uma inflamada multidão para o Tribunal de Veneza. Shylock, desde o início, exigiu a execução do contrato, afirmando que, caso o Tribunal tomasse decisão contrária ao que foi estipulado no pacto, estaria dando origem a uma grande insegurança jurídica. Após infrutíferos pedidos de clemência ao judeu, Bassânio chega à corte e oferece a quantia de seis mil ducados ao judeu – o dobro da quantia devida por Antonio -, porém tal oferta é recusada.
	Em meio à incerteza e angústia que tomavam o Tribunal, Pórcia, utilizando seu disfarce, se apresenta à corte com o nome de Baltazar, um suposto advogado de renome que se coloca à disposição para auxiliar no julgamento, tentando demover Shylock da ideia de exigir a garantia, oferecendo-lhe uma quantia ainda maior de dinheiro, o que não surtiu efeito. Com isso, o Duque, sabendo que negar o pedido de Shylock traria perigosas consequências jurídicas, teve de dar a sentença favorável a ele, que afiava de maneira contínua seu facão, se preparando para cumprir a garantia.
	Contudo, quando o usurário já se aproximava de Antonio para retirar sua carne, Pórcia intervém de forma providencial, ao notar e expor a todos os presentes na corte uma “brecha” no contrato, pois foi acordado entre as partes apenas que a carne de Antonio poderia ser retirada, não mencionando gotas de sangue, e caso Shylock acabasse por derramar qualquer uma delas, se configuraria tentativa de homicídio contra um cristão, conduta que tem como sanção a apreensão dos bens.
	Portanto, de maneira repentina, a situação se tornou desfavorável para Shylock, que tenta voltar atrás e aceitar as ofertas pretéritas de Bassânio, o que não foi possível. Acrescenta-se ainda que, pelo fato de ser judeu, Shylock sofreria penalidades extremamente gravosas por tentar tirar a vida de um cristão, e, apesar de ter sua vida poupada pelo Duque, ainda deveria transferir metade dos seus bens para o Estado, e a outra metade para Antonio, que abre mão de receber sua parte, porém impõe duas condições custosas para o judeu — que as aceita — ao determinar que o mesmo deveria se converter para o cristianismo, além de deixar toda sua propridade, por meio de testamento, para sua filha Jessica, com a qual tinha uma relação estremecida, já que ela fugiu do “gueto” para viver um romance com um cristão.
	Por fim, após o julgamento, Pórcia e Nerissa, ainda disfarçadas como advogados, pedem para Bassânio e Graciano a entrega dos seus anéis de casamento como forma de agradecimento pelo desfecho positivo da sentença. Ambos relutam em entregar os anéis, porém o fazem, sem saberem, entretanto, que os estavam entregando para suas próprias esposas. 
	Diante disso, quando retornam para Belmonte, Bassânio e Graciano são acusados de traição por suas amadas, por terem cedido seus anéis, porém, para alívio de ambos, elas revelam o disfarce logo em seguida. Antonio, na parte derradeira da história, também recebe a ótima notícia de que parte de seus navios estavam intactos, isto é, não estava falido como pensara anteriormente. 
BREVE ANÁLISE JURÍDICA
	A obra cinematográfica analisada possui inegável relação com importantes aspectos do âmbito jurídico, principalmente no que diz respeito à teoria geral dos contratos, sendo identificáveis dois dos princípios contratuais basilares.
	Um deles, e o principal, é o princípio da autonomia da vontade, que possuía especial relevância nas sociedades liberais mais antigas — como Veneza, no contexto retratado na obra —, em que se pregava uma intervenção estatal mínima, próxima da inexistência, nas relações individiuais, sociais e econômicas, com enfoque quase que exclusivo na proteção do direito à vida e da liberdade dos cidadãos apenas. Tal princípio se caracteriza pela liberdade conferida às partes para contratar, sendo a livre vontade delas, desde que manifestada sem vícios de consentimento,o elemento principal de constituição do contrato. 
	Decorrente da noção de autonomia da vontade, tem-se também o princípio da força obrigatória do contrato, notabilizado pelo famoso brocardo jurídico “pacta sunt servanda” (os pactos devem ser cumpridos), que preconiza que os contratos devem ser cumpridos nos exatos termos definidos pela vontade livre das partes contratantes.
	Em “O Mercador de Veneza”, ambos os princípios contratuais descritos podem ser ilustrados pelo contrato firmado entre Antonio e Shylock e seus desdobramentos, especialmente no julgamento, com o grande valor dado ao que foi estipulado no contrato. Tal valorização da livre vontade das partes contratantes, assim como a não intervenção nas relações individuais, se denotam pelo temor de todos, inclusive do Duque, que presidia o tribunal, em negar a execução do contrato, por mais que a cláusula fosse completamente estapafúrdia – como era no caso -, tendo sido necessária uma defesa brilhante de Pórcia para evitar que Shylok retirasse a carne de Antonio.
	Aliás, é interessante apontar que Shylok, após exigir veementemente que o princípio da força obrigatória produzisse efeitos, para que pudesse retirar uma libra da carne de Antonio, acabou sendo “vítima” de seu próprio desejo. Isto porque, Pórcia, ao fazer uso de uma interpretação literal (ou gramatical) do contrato, defendeu que o contrato fosse cumprido em seus exatos termos, usando, então, o argumento de que não havia menção alguma no pacto relativa às gotas de sangue de Antonio, apenas à carne, da qual Shylock poderia retirar uma libra apenas, e que, caso fosse derramada qualquer gota de sangue de Antonio, o judeu estaria atentando contra a vida de um cristão.
	Por fim, relativamente ao princípio da autonomia da vontade, é importante ponderar, também, que este, apesar de ter sido considerado regra absoluta em diversos ordenamentos jurídicos durante séculos, vem, com o passar do tempo, sendo substituído pelo princípio da autonomia privada, mais adequado, de forma geral, ao Estado de bem-estar social, e, mais especificamente, ao dirigismo contratual, que é pautado por uma maior intervenção estatal nos contratos, podendo ser citado como um exemplo o Código Civil de 2002, que estipula a nulidade absoluta de cláusulas consideradas abusivas.
	Encerrando essa breve análise e reflexão jurídica, pode-se inferir, portanto, que o princípio da autonomia privada, ao contrário do princípio da autonomia da vontade, não leva em conta apenas a livre vontades das partes para a formação do contrato, já que considera também relevantes fatores de ordem psicológica, política, social e econômica. As partes contratantes, obviamente, continuam tendo o direito de determinar seus próprios interesses ao estabelecer o pacto, porém devem lidar com limitações em normas de ordem pública, com especial atenção para os princípios sociais contratuais, como ressaltado pelo eminente doutrinador Flávio Tartuce.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:
TARTUCE, Flávio. Manual de Direito Civil. 7ª edição. São Paulo: Editora Forense, 2017.

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