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História O Estado Moderno e o Pensamento Político

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História
 O Estado Moderno e o Pensamento Político
Trabalho final
O trabalho tem como finalidade estabelecer análises críticas e revisões bibliográficas sobre o livro escrito por Thomas Hobbes de Malmesbur, Leviatã ou Matéria, Palavra e Poder de um Governo Eclesiástico e Civil com o enfoque nas duas primeiras partes do livro. O objetivo é perceber contradições e trazer diferentes problemáticas sobre o mesmo livro, contextualizando essas diferentes percepções.
Publicado pela primeira vez no ano de 1651, o comumente chamado de O Leviatã, é considerado uma das principais obras políticas e filosóficas cuja influência pode ser notada na criação da posterior ciência política.
Thomas Hobbes nasceu em Westport na Inglaterra, no dia 5 de abril de 1588. Seu pai fazia parte do clero anglicano e toda sua vida foi marcada pela forte influência da monarquia inglesa. Hobbes iniciou seus estudos em Malmesbury (cidade ao sul da Inglaterra) e em 1608, será nomeado tutor de William Cavendish e com ele viajará por países como França, Itália e Alemanha permitindo o contato diferentes realidades e conjunturas políticas. Anos mais tarde, ele retorna à Inglaterra para aprofundar-se nos estudos clássicos e mantém contato com filósofos como Francis Bacon. No ano de 1648, é nomeado tutor do futuro Carlos II (Príncipe de Gales) e se muda para Paris, três anos mais tarde volta mais uma vez para a Inglaterra e publica O Leviatã. 
De acordo com dicionários, Leviatã significa uma criatura de proporções enormes e muito frequente no imaginário dos europeus que se aventuravam nas navegações durante o período da Idade Média. Há referências também do Leviatã na Bíblia, foi retratado pela primeira vez no Antigo Testamento, no livro de Jó: “Poderás pescar o Leviatã com anzol e atar-lhe a língua com uma corda? Serás capaz de passar-lhe um junco pelas narinas, ou perfurar-lhe as mandíbulas com um gancho? ” (Livro de Jó 40,25-26) Bíblia de Jerusalém. ”
De acordo com essa passagem, o Leviatã seria uma espécie de demônio representante do quinto pecado capital, a inveja. Ainda de acordo com o Antigo Testamento se trataria de um “monstro que se representa sob a forma de crocodilo, segundo a mitologia fenícia” (Velho Testamento, 1857: 614).  É comum também a caracterização do mesmo como dragão marinho, serpente ou até mesmo, um polvo. 
Fazendo referência a essa criatura mística, Thomas Hobbes, com a edição de Andrew Crooke, intitula uma de suas mais importantes obras sobre a estrutura da sociedade e o pensamento político moderno. Sendo assim, Hobbes acabou recebendo críticas que o acusavam de ceticismo e até mesmo ateísmo por parte da Igreja católica por levar em consideração que as crenças sobrenaturais são, na verdade, construídas. 
É fundamental ressaltar o contexto em que Thomas Hobbes desenvolveu a escrita do Leviatã. No ano de 1648 foi assinado uma série de tratados que ficaram conhecidos como Paz Westphalia em Osnabrück (Alemanha) entre Fernando III, Sacro Imperador Romano-Germânico, os demais príncipes alemães, França e Suécia que tinha como pauta o fim da Guerra dos Trinta anos. Esse episódio terá implicações diretas nos princípios que caracterizam o Estado Moderno e em conceitos como o de soberania, questão da territorialidade, igualdade jurídica. De maneira geral, concepções de autonomia, poder e autoridade começam a serem pensadas e serão muito importantes para o desenvolvimento acadêmico e do pensamento político de Hobbes.
Na primeira parte do livro que tem como subtítulo “ A respeito do homem”, é feita uma análise social mais ampla tendo como foco a figura do homem e seu cotidiano, suas sensações, paixões e seus sentimentos. Um ponto fundamental para a compreensão é a noção de Estado Natural ou o Estado de natureza. Para Hobbes, este estado seria o momento em que o conflito e a guerra seria característica central do agrupamento humano sem regulamentação, colocando os homens dentra de uma lógica social incapazes de ser organizar e estabelecer relações cooperativas entre si. Hobbes não necessariamente molda o homem natural como mau e sim como não sociável nesse sentido, percebe-se uma tentativa de convencimento de que a regência e condução por terceiros, além de necessárias, é algo positivo.  
No capítulo VI, da obra Leviatã, intitulado: “Da origem interna dos movimentos voluntários vulgarmente chamados paixões; e da linguagem que os exprime”, Hobbes tem a preocupação de apresentar a singularidade do homem em relação aos demais animais, o diferencia por exemplo de formigas que possuem de complexidade social. Aborda o conceito de paixão sendo algo complexo e fruto de reações indiretas e influenciadas por juízos antecedentes, ou seja, são ligadas a experiências acumuladas que estão na esfera da imaginação, sendo, portanto, não inerentes ao homem.
Esse ponto primordial nos estudos de Thomas Hobbes, o Estado de Natureza, é de maneira geral, moldada como amoral tendo como base as leis positivas que determinarão ações como corretas ou incorretas. A característica vaidosa do homem e a necessidade de se mostrar influente e melhor que os demais (disputas intelectuais) torna concebível o sentimento de vingança e orgulho ferido uma vez que o homem terá como objetivo satisfazer suas próprias paixões seguindo uma lógica egoísta.
Hobbes não considera a possibilidade da partilha de objetos disputados nem o consentimento de igualdade (embora considere todos os homens iguais por natureza e movidos pelas paixões de maneira semelhante). Mas, a necessidade de uma autopreservação gera conflito uma vez que partes de diferentes crenças. Isso nos remete mais uma vez e facilita a compreensão de que a conduta do homem não se baseia em propositalmente prejudicar terceiros (por prazer) mas sim, a vontade de assegurar sua própria preservação.
O medo também é temática abordada no livro e é inserida como um dos principais elementos que moldam a conduta humana e seu posicionamento político. Esse medo seria o da morte violenta que seria provável de acontecer apenas em um Estado de Natureza, reafirmando assim, a necessidade de transferência de liberdade particular em prol de sua própria segurança, instituindo o Estado Moderno. As leis naturais de Hobbes possuem um caráter maniqueísta que oscilam de um polo “bom” para um polo “ruim”, nesse sentido, aparece a existência de paixões benéficas como a da gratidão, piedade e humildade. Não existe um descarte das influências positivas dessas paixões para o estabelecimento da paz (que seria o grande propósito de uma organização política), mas elas são postas como insuficientes. Apenas com a presença da autoridade política ela poderia de fato ser alcançada.
Assim, a constituição de uma sociedade política e o estabelecimento de códigos de leis seriam as únicas formas possíveis para o estabelecimento da paz. Em suma, Hobbes utiliza desse recurso metodológico hipotético para criar um contexto em que a figura de um monarca seja necessária e lógica pois não seria lógico o homem optar por uma condição caótica, instável e conflituosa. Em contrapartida, a busca da paz seria uma atitude racional sendo ela feita via estabelecimento de uma autoridade e o controle dos corpos. Por essa razão, o homem se torna coagido a obedecer às leis. Para Norberto Bobbio, filósofo político italiano: “O objetivo da paz, para Hobbes, é extraído do estudo positivo da natureza humana, o qual mostra que o homem, dominado pelo instinto de conservação, considera a vida como o valor supremo” (Bobbio 1, p. 106). O canadense Crawford Brough Macpherson em sua publicação “A teoria política do individualismo possessivo: de Hobbes a Locke”, acredita que a visão comumente adotada que o estado psicológico humano o coloca na posição de aceitar um Estado Soberano é simplista. Ele coloca em questionamento se de fato Hobbes confirma a necessidade de uma autonomia, para isso fornece contrapontos. Por exemplo, não é explícito que Hobbes se refere condição natural da humanidade, como oposto de civilizado. Considerando o Estado de Natureza hipotético
é de se pensar que o homem ao qual ele se refere já sofreu impactos e foi moldado por uma lógica civilizatória que tem como característica a autoridade e um poder comum que é capaz de impor normas e condutas. Seria, portanto, um homem já social que teria retornado para um Estado mais primitivo. Ainda de acordo com os estudos de Macpherson, Hobbes, ao construir essa primeira parte do livro baseada em uma análise filosófica e psicológica, propositalmente, faz o leitor de O Leviatã esquecer-se que essa análise teve como origem condutas de seres civilizados, usando o recurso de mesclar as características do estado inicial de natureza dos seres com a dos seres civilizados. Apenas nos capítulos dez e onze de O Leviatã, Hobbes deixa mais evidente uma transição do ser como máquina una e o ser como máquina dentro de uma teia de relações sociais. É nesse contexto que serão acentuadas as noções de poder e as reflexões sobre o Estado de guerra (capítulo treze). É interessante notar como Hobbes classifica inicialmente o poder como neutro e em seguida como natural, sendo na verdade fruto de uma comparação: “O poder natural é a iminência das faculdades do corpo ou do espírito; extraordinária força, beleza, prudência, capacidade, eloqüência, liberalidade ou nobreza” (HOBBES, Thomas. Leviatã.ou matéria, forma e poder de um Estado eclesiástico e civil. Trad. João Paulo Monteiro e Maria Beatriz Nizza da Silva. São Paulo: Nova Cultural, 1997, pg 40). Ou seja, não provém das capacidades individuais (como poderia ser entendido na definição do poder neutro) mas sim, proveniente de um desequilíbrio de forças sejam elas defensivas ou ofensivas contra terceiros.
A partir do capítulo XVII, o autor introduz a segunda parte da obra: Sobre o Estado, nela, existe uma descrição de como seria o Estado Leviatã e que permite o leitor notar a afirmação da teoria contratualista também abordada por Rousseau e Locke em prol de um modelo absolutista. Nessa parte, ele mostra causas, geração e definição de um Estado. O autor se preocupa em trazer para reflexão a figura do soberano que possui controle de um Estado de aquisição seja pela autoridade, seja pelo uso da força (guerras de conquista territorial). E a tentativa de caracterizar o soberano como fonte única das leis, justo e bem-intencionados que coloca sempre os interesses públicos acima dos interesses pessoais. A figura do monarca detentor do poder absoluto é constantemente enaltecida. Apesar de Hobbes reconhecer o direito à propriedade ele sugere a intervenção desse soberano na partilha justa dos bens e da terra. Emerge, portanto, uma brecha a crítica pois só será possível pensar em liberdade desses súditos se o conceito de propriedade de estendesse para além do material, como por exemplo um sentimento de pertença. Caso contrário essa submissão ao soberano poderia parecer até mesmo defesa por parte de Hobbes, de um sistema de escravidão que é rejeitado por ele com a premissa que essa ideia é fruto da imaginação. A noção de liberdade para Thomas Hobbes seria na verdade uma ausência de oposição e estaria no campo de ação que as leis permitem. Portanto, a liberdade de ações e do potencial humano de ação teria na verdade limitações: respeito ao soberano e as leis criadas por ele. A teoria contratualista mais uma vez é validada sendo ela fundamental para alcançar a segurança e o bem-estar de todos, uma vez, que a figura do súdito está livre dos perigos. O status de civil seria estabelecido tendo como base a potência racional do homem acrescido de caráter jurídico que faz possível a transição para um ser civil.
Fato é que a divisão do poder entre assembleias, um corpo administrativo e jurídico leva necessariamente a insurreição, portanto, a figura indivisível do monarca é posta como a mais segura e estável de todas. Para essa defesa do sistema monárquico, Hobbes utiliza de argumentos como: o monarca não discordaria de si mesmo isso tornaria a aprovação de leis mais rápidas e eficientes, o monarca teria interesse de favorecer poucas pessoas e que a monarquia permite o Estado não se dissolver nunca graças ao mecanismo da hereditariedade combinado com a indicação do tutor sucessor. Nesse último caso, Hobbes corrobora com a ideia da imortalidade do Leviatã (tendo um apelo espiritual que será adiante abordado), sendo esse cargo executivo imortal, apenas o ser humano como pessoa poderia ser classificado como mortal. Esse governante forte seria detentor apenas de poder laico pois teria um apelo racional e o não controle do lado também espiritual (ceticismo). Nesse sentido, os diversos cleros poderiam ser uma ameaça a autoridade do soberano ao pretenderem o controle do âmbito espiritual. Por esse motivo, uso da palavra laica não deve ser compreendida em termos atuais para evitar anacronismos, uma vez que existe essa defesa do poder temporal e espiritual desenvolvida anteriormente e todo o ideal imaginário do corpo do soberano. 
O caráter indivisível e absoluto do monarca para Hobbes é compartilhado pelo jurista francês Jean Bodin que, considera que esse soberano está submetido as certas leis constitucionais, sendo elas as leis naturais: como a relação de poder entre pais e filhos e elementos como temperatura e umidade e a disposição dos astros no céu. Para eles, é exatamente esse caráter absoluto (unum et idem) que permite nomear esse monarca, um soberano.
Por outro lado, a filosofia de Rousseau se diverge de Hobbes, pois para ele o Estado de natureza é na verdade um momento de paz e não de guerra. Além disso, como desenvolvido neste trabalho, a expansão do poder do monarca para Hobbes é um processo ativo, é pensado, não é algo natural; partindo de outra lógica, para Rousseau esse processo aconteceu por acaso e acabou criando a figura de um homem subjugado. Emergindo, assim, outra diferença entre esses estudiosos: Hobbes acredita na inerente capacidade do ser humano de querer demonstrar superioridade e possuir um lado egoísta e age segundo a lógica do medo e da glória, já para Rousseau, a piedade e o amor de si são sentimentos naturais, para ele, cuidar de si não excluía a preocupação com o bem-estar dos outros.
De maneira geral, O Leviatã colocou em questionamento um pressuposto filosófico que os seres livres são movidos pela razão pois até então, era admitido que agir por via do estímulo das paixões não era agir como homem livre. Os estudos de Thomas Hobbes serão revisados, analisados e criticados por uma série de pesquisadores ao longo dos séculos e isso comprova sua influência para o desenvolvimento da ciência política ocidental. Várias serão as análises que o rotulam como monarquista, e levando em consideração o setor privado, de fato não há dúvidas deste objetivo de defesa absolutista em sua obra. É interessante notar uma posição até mesmo progressista ao sustentar uma tese desse caráter em uma teoria contratualista. Além disso, acrescenta-se questionamentos acerca da figura do Leviatã pois ainda que alcance a paz interna que supostamente é o principal objetivo de toda a criação da dinâmica de dominação, qual seria então, o limite para a dinâmica externa? Nesse sentido, o Leviatã permitiu que Thomas Hobbes fosse apontado como percursor de uma lógica imperialista burguesa mesmo que de maneira precoce e a abertura para mais questionamentos e reflexões acerca dos conceitos de autoridade, segurança e o desejo do soberano de ampliar seus territórios
Bibliografia
HOBBES, Thomas. Leviatã.ou matéria, forma e poder de um Estado eclesiástico e civil. Trad. João Paulo Monteiro e Maria Beatriz Nizza da Silva. São Paulo: Nova Cultural, 1997. (Col. Os Pensadores). 
SKINNER, Quentin. (1999) Razão e retórica na filosofia de Hobbes. São Paulo, Unesp. 
TUCK, Richard. (1989) Hobbes. Oxford, Oxford University Press. 
BOBBIO, Norberto. Thomas Hobbes. 4ª ed. Trad. Carlos Nelson Coutinho. Rio de Janeiro: Campus, 1991. 
MACPHERSON, C. B. A teoria política do individualismo possessivo: de Hobbes a Locke. Trad. Nelson 
RIBEIRO,
Renato J. Ao leitor sem medo: Hobbes escrevendo contra o seu tempo. 2ª ed. Belo Horizonte: Ed. UFMG, 2004
BODIN, Jean. Os Seis livros da República. Livro Segundo. São Paulo: Ícone, 2011.

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