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Professor VINICIUS DE CARVALHO MADEIRA Mestre em Direito Constitucional pela Universidade de Coimbra - Portugal Procurador Federal da Advocacia-Geral da União - AGU E-MAIL: vinicius.madeira@udf.edu.br CONCEITOS DE “DIREITO” 1) Direito é um domínio científico, isto é, o conjunto ordenado de conhecimentos acerca de determinado objeto: a ciência do direito (Jurisprudence); 2) Direito é o conjunto das normas jurídicas vigentes em determinado momento e lugar: é o que chamamos de direito positivo (Law); 3) Direito são as posições jurídicas individuais: é o que chamamos de direitos subjetivos (Rights). Luís Roberto Barroso. Curso de Direito Constitucional Contemporâneo, 4ª Edição, Editora Saraiva, p. 70 OS RAMOS DO DIREITO O Direito é um sistema normativo de regras e princípios. É uma ciência social que, como tal, é um conhecimento sistematizado sobre as normas que regem a vida em sociedade. E não é apenas a apresentação destas normas, mas também a investigação sobre o valor e a eficácia destas normas. Daí a necessidade de se estudar critérios de interpretação do Direito Para facilitar o Estudo o Direito, que é uno, ele é dividido didaticamente em vários ramos: Público (Constitucional, Administrativo, Urbanístico, Ambiental, Econômico, Financeiro, Tributário, Processual, Penal, Internacional) Social (do Trabalho, Previdenciário) Privado (Civil, Empresarial). DIREITO CONSTITUCIONAL E CONSTITUIÇÃO O Direito Constitucional é o ramo do direito que estuda sistematicamente a Constituição, que é a norma fundamental que regula um Estado. Ou seja, é o ramo do Direito Público que expõe, interpreta e sistematiza os princípios e normas fundamentais do Estado (José Afonso da Silva). Estado é a forma de organização jurídica do poder soberano de um povo sobre um território. Direito Constitucional “é o conhecimento sistematizado da organização jurídica fundamental do Estado, das regras jurídicas relativas à forma de Estado, à forma de governo, ao modo de aquisição e exercício do poder, ao estabelecimento de seus órgãos e aos limites de sua ação” (Manoel Gonçalves Ferreira Filho). Ou seja, antes de tudo, a Constituição apresenta dois traços marcantes: “organização do Estado e limitação do poder estatal, por meio da previsão de direitos e garantias fundamentais” (Alexandre de Moraes). Ela é “garantia do existente e programa ou linha de direção para o futuro” (J.J. Gomes Canotilho). “Uma Constituição não é um ato de governo, mas de um povo constituindo um governo” (Thomas Paine, intelectual da revolução americana). DIREITO CONSTITUCIONAL Uma das funções originais mais importantes da Constituição foi a de limitar o Poder do Governante em relações aos governados e garantir direitos ou liberdades individuais: limites ao poder de tributar do Estado; definições de competências; tripartição de poderes (separação de poderes) freios e contrapesos; formas de acesso ao poder; obrigatoriedade do devido processo legal (o Estado não pode condenar ninguém sem um processo justo antes); direito de propriedade. Depois surgiram normas dando acesso amplo ao voto, direitos de credo livre. DIREITO CONSTITUCIONAL E CONSTITUIÇÃO O Direito Constitucional tem o papel de ser o Direito da Democracia « Un aspect plus vivant du droit constitutionnel est mettre en relief le rôle du droit constitutionnel comme droit de la démocratie » (Présentation de la Revue française de droit constitutionnel). CONSTITUIÇÃO Segundo Canotilho, num conceito ideal de constituição ela deve ser escrita e: (a) consagrar um sistema de garantias da liberdade; e (b) a divisão dos poderes; Ou seja: é um conjunto de direitos fundamentais e da forma de garanti-los; e um conjunto de normas de organização do poder político limitado e moderado. Ela não cuida apenas do Estado, mas de toda a sociedade. DIREITO CONSTITUCIONAL DIVIDE-SE EM: ➢Direito Constitucional Positivo (da nossa Constituição) ➢Direito Constitucional Comparado ➢Direito Constitucional Geral = Teoria Geral do Direito Constitucional (Por exemplo: conceito de Constituição e de Dir. Constitucional, suas classificações, poder constituinte, interpretação das normas constitucionais). SENTIDOS DAS CONSTITUIÇÕES (SIGNIFICADOS DAS CONSTITUIÇÕES) SENTIDO SOCIOLÓGICO: a Constituição é o somatório das forças sociais formadoras do poder. Ferdinand Lassalle: Para ele, a Constituição será uma mera folha de papel se não refletir as realidades sociais do país. Ou seja, a Constituição seria a soma dos fatores reais do poder que formam e regem um determinado Estado. É um sentido sociológico, porque esta concepção despreza a força normativa (Konrad Hesse) que uma Constituição possa ter de mudar a realidade a partir do texto escrito. Despreza a força do Direito. SENTIDOS DAS CONSTITUIÇÕES (SIGNIFICADOS DAS CONSTITUIÇÕES) SENTIDO POLÍTICO: a Constitição regula e dá legitimidade ao exercício do Poder segundo uma opção política. ➢ Carl Schmitt: Para ele o sentido político da Constituição é o mais importante e quem o define é uma decisão política fundamental que cria a Constituição como norma que rege o Poder num determinado Estado. ➢ Schmitt defendia que o guardião da Constituição é o poder constituído e não um tribunal constitucional, como defendia Hans Kelsen. ➢ A posição de Schmitt será superada pelo neoconstitucionalismo, quando se reconhecerá força normativa às normas constitucionais, rompendo-se com a tradição de se tomar a Constituição como documento mais político do que jurídico e subordinado apenas às circunstâncias do parlamento e da Administração. SENTIDOS DAS CONSTITUIÇÕES (SIGNIFICADOS DAS CONSTITUIÇÕES) SENTIDO JURÍDICO: a Constituição é o conjunto de regras e princípios que organizam o Estado. ➢ A Constituição é a norma jurídica fundamental, a lei mais importante do Estado e seu conteúdo principal. Assim, é o conjunto de regras e princípios que organizam o Estado politicamente e socialmente em relação: à sua estrutura; forma de Estado e de governo; regime político; modo de aquisição e exercício do poder; estabelecimento de seus órgãos e fixação de suas competências; além de prever direitos sociais e econômicos. ➢ Hans Kelsen é o principal idealizador do sentido jurídico da Constituição. Para ele a Constituição é a norma hipotética fundamental (pré-existe à sua própria edição) que dá origem e força à Constituição positiva que terá um sentido jurídico-positivo. Esta Constituição posta não precisaria, para ele, estar fundamentada em nenhum argumento filosófico, social ou político. Deveria, uma vez editada, ser simplesmente respeitada. Daí Kelsen ter sido tachado de positivista. ➢ Foi Kelsen quem criou a ideia do escalonamento de normas. A Constituição é a norma de hierarquia máxima e normas inferiores poderão ser declaradas inconstituicionais por um tribunal constitucional. TEORIAS CONSTITUCIONAIS MODERNAS SENTIDOS MODERNOS DAS CONSTITUIÇÕES (SIGNIFICADOS DAS CONSTITUIÇÕES) Constituição como garantia do status quo econômico e social (Ernst Forsthoff) = concepção simplista. Constituição como instrumento de governo (Hennis) = seria uma simples lei processual que regula processos e limites para a ação política. Constituição como processo público (Peter Häberle) = A constituição será sempre o resultado (temporário) de um processo de interpretação conduzido à luz da publicidade. Esta interpretação deve acontecer na república numa sociedade pluralista e aberta, em momentos de diálogo e de conflito, de continuidade e descontinuidade. Só assim teremos uma Constituição aberta, de uma sociedade aberta e verdadeiramente democrática. Constituição como legitimação do poder soberano do povo (Burdeau) = associa a Constituição ao Estado de Direito. Os governantesdeixam de ser donos do poder para serem meros prepostos do povo. Constituição como ordem jurídica fundamental, material e aberta, de determinada comunidade (Konrad Hesse) = Para ele a Constituição é a ordem jurídica fundamental de uma comunidade ou o plano estrutural para a conformação jurídica de uma comunidade, segundo certos princípios fundamentais”. Hesse também desenvolve a ideia de que a Constituição tem uma força normativa que acaba por impor à sociedade as normas nela escritas e que, eventualmente, não correspondiam aos fatores reais de poder de que falava Lassale. Constituição como proteção dos direitos fundamentais das minorias contra o poder das maiorias momentâneas (Ronald Dworkin, Bruce Ackerman) – Tal proteção muitas vezes tem de ser feita pelo Judiciário, quando é chamado a declarar a inconstucionalidade de uma lei feita pelo Legislativo, isto é, pela maioria dos representantes do povo. ANTECEDENTES DA CONSTITUIÇÃO PRÉ-CONSTITUCIONALISMO – Hebreus e Gregos na antiguidade. A partir da idade média: pactos, forais, contratos de colonização. Além das leis fundamentais do reino e as doutrinas do pacto social. Pactos: documentos escritos celebrados entre monarcas e súditos limitando o poder dos reis e dando direitos individuais aos súditos contra eventuais arbitrariedades estatais. Origem > idade media, Inglaterra. O mais famoso pacto foi a Magna Charta Libertatum, de 1215, entre o rei João sem Terra e seus súditos rebelados. Nele se previu o mandado de segurança, a inviolabilidade do domicílio, o juiz natural, o devido processo legal, o tribunal do Júri, e a anterioridade tributária. Outro pacto foi o Petition of Rights, de 1628, celebrado entre o Rei Carlos I e seus súditos. Qualquer imposição de doações em favor do Estado teria que ser aprovada pelo Parlamento. Há ainda o Bill of Rights, de 1689, talvez a primeira Constituição escrita da história. Prevê um governo representativo (das camadas superiores do povo), com imunidade parlamentar e regulamentação da criação de impostos. ANTECEDENTES DA CONSTITUIÇÃO PRÉ-CONSTITUCIONALISMO – As doutrinas liberais do pacto social: Tais doutrinas acreditavam que a sociedade estava fundamentada em um pacto social, ainda que tácito, que se impunha aos governantes, estabelecendo as regras para o exercício do poder. O contrato social de HOBBES tinha no Leviatã o assegurador da paz social, mas que tudo podia. LOCKE ensinava que o pacto social assegurava os direitos naturais do homem (pre-existentes ao pacto) JEAN-JACQUES ROUSSEAU, no seu contrato social, às vésperas da revolução francesa, também dizia que existia um contrato social que assegurava direitos naturais aos homens. O LIBERALISMO O liberalismo surgiu no final do absolutismo. Sua filosofia se concentra na ideia de que o Poder do governante é limitado e o indivíduo tem liberdades que devem ser respeitadas em face do Estado. No liberalismo clássico o Estado deve atuar apenas na segurança do país e dos cidadãos (Estado mínimo, Estado não intervencionista), deixando ao indivíduo e ao mercado toda a liberdade para conduzir “naturalmente” as relações sociais. Aqui vigora a psicologia que considera os interesses materiais e sua satisfação como importantes motivações do indivíduo. Os liberais de antes e de hoje acreditam que a autonomia da vontade (a liberdade total para contratar sem interferências do Estado) é o vetor que gerará o exercício pleno das potencialidades dos indivíduos, o que acabará por beneficiar toda a sociedade. Para Norberto Bobbio, “o liberalismo é uma determinada concepção de Estado, na qual o Estado tem poderes e funções limitadas, e como tal se contrapõe tanto ao Estado absoluto quanto ao Estado que hoje chamamos de social”. O liberalismo positivou importantíssimos direitos fundamentais individuais (vida, liberdade de credo, direito de propriedade a quem não era nobre); e no campo político também significou uma limitação e divisão da autoridade, mas o governo popular por ele criado se formulava, no início, pelo voto e pela representação restrita apenas a cidadãos prósperos, que tinham posses. LIBERALISMO AS FASES DO *CONSTITUCIONALISMO* 1º FASE CONSTITUCIONALISMO INDIVIDUALISTA OU CLÁSSICO – No Século XVIII (e XIX), o triunfo do liberalismo*, movimento filosófico, político e econômico, de inspiração iluminista, fez surgir um novo modelo de Estado avesso ao absolutismo do poder do rei e, portanto, propenso a limitá-lo. Além disso passou-se a defender uma não intervenção do Estado na vida dos cidadãos (o laissez-faire). O Constitucionalismo clássico (ou individualista) surge justamente da vitória das revoluções liberais burguesas e para atender aos ideais liberais de limitação do poder e de explicitação das liberdades individuais, sendo o direito de propriedade a mais importante delas. É a vitória do indivíduo (com poder financeiro) contra Estado Leviatã opressor. AS FASES DO CONSTITUCIONALISMO CONSTITUCIONALISMO INDIVIDUALISTA OU CLÁSSICO – CONTINUAÇÃO Aqui surge a supremacia da lei (rule of the law), a separação de poderes (Montesquieu) e um rol de direitos do homem. A Revolução Francesa é considerado o grande marco para o surgimento do Constitucionalismo. O objetivo das revoluções liberais era criar Estados Constitucionais. A Declaração de Direitos do Homem e do Cidadão de 1789 dizia em seu art. 16: “Tout societé dans laquelle la garantie des droits n’est pas assurée, ni la separation des pouvoirs déterminée n’a point de Constitution” = “toda sociedade na qual não está assegurada a garantia dos direitos nem determinada a separação dos poderes, não tem constituição”. Mas a primeira Constituição escrita é anterior à revolução francesa. É a CONSTITUIÇÃO DOS ESTADOS UNIDOS DA AMÉRICA, de 1787 (We the people). A primeira Constituição da França é de 1791, mesmo ano das 10 emendas à Constituição americana que instituiu o Bill of Rights (vida, propriedade, liberdade religiosa, liberdade de expressão, devido processo legal etc). O Constitucionalismo clássico está intimamente ligado às denominadas liberdades clássicas, negativas [Benjamin Constant] ou formais, destinadas à proteção do indivíduo contra eventuais arbitrariedades praticadas pelo Estado (DANTAS , Paulo Roberto). AS FASES DO CONSTITUCIONALISMO 2ª FASE CONSTITUCIONALISMO SOCIAL (ou MODERNO). A partir do início do século XX e com as duas grandes guerras, a vinculação ao liberalismo radical perde força em função da necessidade de as Constituições promoverem justiça social entre os cidadãos. Tal movimento surge com os partidos socialistas e cristãos em todo o mundo e deve uma grande parte da sua força à revolução socialista russa e chinesa que forçou os Estados capitalistas do ocidente a adotarem políticas que obrigavam uma intervenção do Estado na vida privada em benefício de políticas sociais que o liberalismo puro não admitia. Por exemplo: a limitação da jornada de trabalho que “interferia” na “liberdade” do industrial de explorar quem “quisesse ser explorado”; e outros dispositivos que asseguravam alguma proteção ao mais fraco nas relações entre particulares, como o locatário, o consumidor, e o empregado. Ele coincide com o Estado social (Welfare State), iniciado com a Constituição Mexicana de 1917, e de Weimar (na Alemanha) em 1919. As Constituições passam a conter também um conjunto de direitos que impõem ao Estado a prática de diversas ações visando à obtenção da igualdade substancial (não mais apenas formal) entre os indivíduos. Surge agora a segunda dimensão dos direitos fundamentais, ligados à igualdade material. Chama-se também de liberdades ativas (Benjamin Constant). Direitos de seguridade social Direitos trabalhistas Direitos à saúde e educação. É o chamado constitucionalismo moderno.As fases do Constitucionalismo O POSITIVISMO (FILOSOFIA QUE MOLDOU A 1ª FASE DO CONSTITUCIONALISMO E QUE DUROU ATÉ A 2ª FASE) ➢A partir do século XVI acreditou-se que o jusnaturalismo (direito natural) seria capaz de conduzir o Direito segundo princípios de justiça universalmente válidos. ➢Por ser considerado muito vago, metafísico e anticientífico, o direito natural cedeu espaço, no final do século XIX e até a metade do século XX, para o positivismo jurídico. O positivismo tentava igualar o Direito à norma e separava o Direito da ética, da moral, da política e do conceito de justiça. O positivismo buscava a objetividade científica e afastou-se da filosofia e de discussões sobre a justiça da lei. O Direito não precisava ser justo. A norma positivado tinha que ser cumprida (dura lex sed lex). As fases do Constitucionalismo O PÓS-POSITIVISMO (FILOSOFIA QUE ENSEJOU O SURGIMENTO DA 3ª FASE DO CONSTITUCIONALISMO) A partir da metade do século XX, tentando compatibilizar o jusnaturalismo com o positivismo, surge o PÓS- POSITIVISMO. O pós-positivismo busca ir além da legalidade estrita, mas não despreza o direito posto. Faz uma leitura moral da Constituição e das leis, mas sem recorrer à metafísica (doutrina que tenta descrever e encontrar a essência das coisas). Características do PÓS-POSITIVISMO: Na interpretação jurídica, dá importância aos valores, aos princípios; Reconhece normatividade aos princípios (princípios também são normas com força cogente); Diferencia qualitativamente princípios e regras; Reabilita a filosofia de Kant da razão prática, defendendo a possibilidade de encontrarmos na prática a melhor solução para um problema (os positivistas acreditavam apenas na razão teórica, o papel do direito era apenas descrever o direito posto e não justificá-lo). Reabilitação da importância da argumentação jurídica; Formação de uma nova hermenêutica; Desenvolvimento de uma teoria dos direitos fundamentais edificada sobre a dignidade da pessoa humana. O pós-positivismo, então, promove a reaproximação entre o Direito e a ética. AS FASES DO CONSTITUCIONALISMO 3ª FASE NEOCONSTITUCIONALISMO (ou modelo contemporâneo de constitucionalismo ou simplemente pós-positivismo).******* Muitos autores defendem que vivemos agora uma evolução do constitucionalismo moderno. O neoconstitucionalismo é um movimento constitucional cujas características são: 1) Adoção do pós-positivismo = força cogente aos princípios. Tanto regras como princípios são normas jurídicas que devem ser cumpridas. 2) Concessão de primazia ao princípio da dignidade da pessoa humana = o ser humano é a razão de ser do próprio ordenamento jurídico e o Estado e os demais particulares têm de respeitá-lo e respeitar sua autonomia, nunca degradando a condição humana (ex. proibição do comércio de órgãos). 3) Reconhecimento definitivo da força normativa da Constituição = A Constituição não regula mais apenas a política, mas também a vida privada e todas as áreas da sociedade. E passa a ser a fonte das demais normas, as quais devem sempre observá-la. Ou seja, as disposições constitucionais têm um caráter vinculativo e obrigatório em todas as áreas do Direito. É A CONSTITTUCIONALIZAÇÃO DO DIREITO (todos os demais ramos do Direito passam a ser tratados pela Constituição). AS FASES DO CONSTITUCIONALISMO NEOCONSTITUCIONALISMO (continuação).******* Características do Neoconstitucionalismo (CONTINUAÇÃO) 4) Ampliação da jurisdição constitucional = o controle de constitucionalidade das leis pelo judiciário está cada vez mais presente. As leis do anterior Estado Legislativo não são mais intangíveis e cabe ao Judiciário resguardar o princípio da supremacia da constituição e verificar se as leis infraconstitucionais estão de acordo com o texto constitucional. Há inúmeras decisões judiciais sobre direito de família, por exemplo, em que a Constituição suplanta o texto de códigos civis. 5) Desenvolvimento de uma nova dogmática da interpretação constitucional = Tal dogmática se baseia nos seguintes princípios de interpretação: o da supremacia da Constituição, o da presunção de constitucionalidade das normas e atos do Poder Público, o da interpretação conforme a Constituição, o da unidade, o da razoabilidade e o da efetividade. O neoconstitucionalismo surge para evitar que as normas constitucionais não sejam meramente simbólicas (Marcelo Neves), isto é, não sirvam apenas como retórica política ou álibi dos governantes. Há que haver a concretização dos direitos previstos na Constituição (Pedro Lenza). O NEOCONSTITUCIONALISMO O novo direito constitucional (ou neoconstitucionalismo) é, em parte, produto do reencontro entre a ciência jurídica e a filosofia do Direito. Para poderem beneficiar-se do amplo instrumental do Direito, migrando do plano ético para o mundo jurídico, os valores morais compartilhados por toda a comunidade, em dado momento e lugar, materializam-se em princípios, que passam a estar abrigados na Constituição, explícita ou implicitamente*. Exemplos destes princípios: liberdade, igualdade, democracia, República, separação de poderes, dignidade da pessoa humana, razoabilidade. * Para compreender este tema sobre pós-positivismo e neoconstitucionalismo sugiro a leitura do Capítulo II, da Parte II do livro do Luís Roberto Barroso, Curso de Direito Constitucional Contemporâneo, Editora Saraiva, 4ª Edição, 2013, especialmente as páginas 265 a 272. UMA OUTRA PERSPECTIVA TRANSCONSTITUCIONALISMO O "transconstitucionalismo" é termo cunhado pelo Prof. Marcelo Neves e significa o entrelaçamento de ordens jurídicas diversas, tanto estatais como transnacionais, internacionais e supranacionais, em torno dos mesmos problemas de natureza constitucional. Ou seja, problemas de direitos fundamentais e limitação de poder que são discutidos ao mesmo tempo por tribunais de ordens diversas. Por exemplo, o comércio de pneus usados, que envolve questões ambientais e de liberdade econômica. Essas questões são discutidas ao mesmo tempo pela Organização Mundial do Comércio, pelo Mercosul e pelo Supremo Tribunal Federal no Brasil. O fato de a mesma questão de natureza constitucional ser enfrentada concomitantemente por diversas ordens leva ao que ele chamou de transconstitucionalismo. O Brasil se acha, no momento, diante de um outro impasse gerado em razão deste fenômeno, relativamente à persecução penal dos crimes praticados por agentes do Estado durante a ditadura militar. Isso porque, ao analisar a questão, o Supremo Tribunal Federal reconheceu a validade e constitucionalidade da Lei de Anistia, assentando a impossibilidade de se levar a cabo a persecução penal em relação a referidos crimes, mas a Corte Interamericana de Direito Humanos pensa diferente. PENSAMENTO Reflita sobre o que está dito abaixo ➢We are under a Constitution but the Constitution is what the judges say it is (Juiz Hughes). Nós obedecemos à Constituição, mas ela é o que os juízes dizem que ela é. ➢ Há muito que o mundo vive um processo de judicialização da Constituição. Ou seja, convertem-se os problemas sócio-político- constitucionais em problemas de aplicação judicial da constituição. ➢ Contudo, lembre-se: No geral, o processo político majoritário se move por interesses, ao passo que a lógica democrática se inspira em valores. E, muitas vezes, só restará o Judiciário para preservá-los (Luiz Roberto Barroso). Ementa de acórdão do Supremo Tribuna Federal : “ESTADO – LAICIDADE. O Brasil é uma república laica, surgindo absolutamente neutro quanto às religiões. Considerações. FETO ANENCÉFALO – INTERRUPÇÃO DA GRAVIDEZ – MULHER – LIBERDADE SEXUAL E REPRODUTIVA – SAÚDE – DIGNIDADE – AUTODETERMINAÇÃO – DIREITOS FUNDAMENTAIS – CRIME – INEXISTÊNCIA. Mostra-se inconstitucional interpretação de a interrupção da gravidez de feto anencéfalo serconduta tipificada nos artigos 124, 126 e 128, incisos I e II, do Código Penal. (ADPF 54, Relator(a): Min. MARCO AURÉLIO, Tribunal Pleno, julgado em 12/04/2012, ACÓRDÃO ELETRÔNICO DJe-080 DIVULG 29-04-2013 PUBLIC 30-04-2013) LEITURA OBRIGATÓRIA Leia o texto: Neoconstitucionalismo e Constitucionalização do Direito - O triunfo tardio do Direito Constitucional no Brasil Luís Roberto Barroso Disponível em: http://jus.com.br/artigos/7547/neoconstitucionalismo- e-constitucionalizacao-do-direito Ou em: http://jus.com.br/artigos/7547 Ou na Biblioteca da UDF: BARROSO, Luís Roberto. Neoconstitucionalismo e constitucionalização do direito: o triunfo tardio do direito constitucional no Brasil. Interesse Público : Revista Bimestral de Direito Público, São Paulo , v. 7, n. 33, p 13-54, set./out. 2005. É IMPORTANTE LER TAMBÉM OS CAPÍTULOS I E II DA PARTE II, E O CAPÍTULO III DA PARTE I, DO LIVRO DO BARROSO INDICADO NA BIBLIOGRAFIA. ASSISTA AO FILME THE SQUARE Ver o filme The Square (disponível no Netflix). Documentário que concorreu ao Oscar de 2014 sobre a recente revolução egípcia que derrubou o ditador Mubarak, mas não conseguiu criar um novo regime que atenda adequadamente aos anseios da revolução (traída pela junta militar do antigo regime). Observar a preocupação dos revolucionários com a criação de uma nova Constituição, elemento essencial para a verdadeira formação de um Estado constitucional democrático de direito. Note que não adianta apenas protestar, é preciso que haja propostas concretas para o “novo”. Veja o mal que uma ditadura faz. Perceba que o Egito hoje está há pelo menos 25 anos atrasado em relação ao Brasil. Enquanto tentamos consolidar direitos de terceira geração, como o meio ambiente e o casamento homossexual, o Egito ainda luta por democracia e por uma Constituição que dê estabilidade e novos programas e rumos ao país. BONS ESTUDOS Prof. Vinicius de Carvalho Madeira
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