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Unidade 1 - Teorias da Constituição

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Professor VINICIUS DE CARVALHO MADEIRA
Mestre em Direito Constitucional pela Universidade de Coimbra - Portugal
Procurador Federal da Advocacia-Geral da União - AGU 
E-MAIL: vinicius.madeira@udf.edu.br
CONCEITOS DE “DIREITO”
 1) Direito é um domínio científico, isto é, o conjunto
ordenado de conhecimentos acerca de determinado
objeto: a ciência do direito (Jurisprudence);
 2) Direito é o conjunto das normas jurídicas vigentes
em determinado momento e lugar: é o que chamamos
de direito positivo (Law);
 3) Direito são as posições jurídicas individuais: é o
que chamamos de direitos subjetivos (Rights).
 Luís Roberto Barroso. Curso de Direito Constitucional Contemporâneo, 4ª Edição, Editora Saraiva, p. 70
OS RAMOS DO DIREITO
 O Direito é um sistema normativo de regras e princípios. É uma
ciência social que, como tal, é um conhecimento sistematizado
sobre as normas que regem a vida em sociedade. E não é apenas a
apresentação destas normas, mas também a investigação sobre o
valor e a eficácia destas normas.
 Daí a necessidade de se estudar critérios de interpretação do Direito
 Para facilitar o Estudo o Direito, que é uno, ele é dividido
didaticamente em vários ramos:
 Público (Constitucional, Administrativo, Urbanístico, Ambiental,
Econômico, Financeiro, Tributário, Processual, Penal,
Internacional)
 Social (do Trabalho, Previdenciário)
 Privado (Civil, Empresarial).
DIREITO CONSTITUCIONAL E 
CONSTITUIÇÃO
 O Direito Constitucional é o ramo do direito que estuda sistematicamente a
Constituição, que é a norma fundamental que regula um Estado. Ou seja, é o
ramo do Direito Público que expõe, interpreta e sistematiza os princípios e
normas fundamentais do Estado (José Afonso da Silva). Estado é a forma de
organização jurídica do poder soberano de um povo sobre um território.
 Direito Constitucional “é o conhecimento sistematizado da organização jurídica
fundamental do Estado, das regras jurídicas relativas à forma de Estado, à forma de
governo, ao modo de aquisição e exercício do poder, ao estabelecimento de seus
órgãos e aos limites de sua ação” (Manoel Gonçalves Ferreira Filho).
 Ou seja, antes de tudo, a Constituição apresenta dois traços marcantes:
“organização do Estado e limitação do poder estatal, por meio da previsão
de direitos e garantias fundamentais” (Alexandre de Moraes). Ela é
“garantia do existente e programa ou linha de direção para o futuro” (J.J.
Gomes Canotilho).
 “Uma Constituição não é um ato de governo, mas de um povo constituindo um
governo” (Thomas Paine, intelectual da revolução americana).
DIREITO CONSTITUCIONAL
 Uma das funções originais mais importantes da
Constituição foi a de limitar o Poder do Governante
em relações aos governados e garantir direitos ou
liberdades individuais: limites ao poder de tributar
do Estado; definições de competências; tripartição de
poderes (separação de poderes) freios e contrapesos;
formas de acesso ao poder; obrigatoriedade do devido
processo legal (o Estado não pode condenar ninguém
sem um processo justo antes); direito de propriedade.
 Depois surgiram normas dando acesso amplo ao voto,
direitos de credo livre.
DIREITO CONSTITUCIONAL E 
CONSTITUIÇÃO
O Direito Constitucional tem o
papel de ser o Direito da
Democracia
 « Un aspect plus vivant du droit constitutionnel est mettre en
relief le rôle du droit constitutionnel comme droit de la
démocratie » (Présentation de la Revue française de droit
constitutionnel).
CONSTITUIÇÃO
Segundo Canotilho, num conceito ideal
de constituição ela deve ser escrita e: (a)
consagrar um sistema de garantias da
liberdade; e (b) a divisão dos poderes;
 Ou seja: é um conjunto de direitos fundamentais e
da forma de garanti-los; e um conjunto de normas
de organização do poder político limitado e
moderado.
 Ela não cuida apenas do Estado, mas de toda a
sociedade.
DIREITO CONSTITUCIONAL
 DIVIDE-SE EM:
➢Direito Constitucional Positivo (da nossa
Constituição)
➢Direito Constitucional Comparado
➢Direito Constitucional Geral = Teoria
Geral do Direito Constitucional (Por exemplo:
conceito de Constituição e de Dir. Constitucional, suas classificações, poder
constituinte, interpretação das normas constitucionais).
SENTIDOS DAS CONSTITUIÇÕES
(SIGNIFICADOS DAS CONSTITUIÇÕES)
SENTIDO SOCIOLÓGICO: a Constituição é o somatório das forças
sociais formadoras do poder.
Ferdinand Lassalle: Para ele, a
Constituição será uma mera folha de
papel se não refletir as realidades sociais
do país. Ou seja, a Constituição seria a
soma dos fatores reais do poder que
formam e regem um determinado Estado.
É um sentido sociológico, porque esta
concepção despreza a força normativa
(Konrad Hesse) que uma Constituição
possa ter de mudar a realidade a partir do
texto escrito. Despreza a força do Direito.
SENTIDOS DAS CONSTITUIÇÕES
(SIGNIFICADOS DAS CONSTITUIÇÕES)
SENTIDO POLÍTICO: a Constitição regula e dá
legitimidade ao exercício do Poder segundo uma opção política.
➢ Carl Schmitt: Para ele o sentido político da Constituição é o mais
importante e quem o define é uma decisão política fundamental que
cria a Constituição como norma que rege o Poder num determinado
Estado.
➢ Schmitt defendia que o guardião da Constituição é o poder
constituído e não um tribunal constitucional, como defendia Hans
Kelsen.
➢ A posição de Schmitt será superada pelo neoconstitucionalismo,
quando se reconhecerá força normativa às normas constitucionais,
rompendo-se com a tradição de se tomar a Constituição como
documento mais político do que jurídico e subordinado apenas às
circunstâncias do parlamento e da Administração.
SENTIDOS DAS CONSTITUIÇÕES
(SIGNIFICADOS DAS CONSTITUIÇÕES)
SENTIDO JURÍDICO: a Constituição é o conjunto de regras e
princípios que organizam o Estado.
➢ A Constituição é a norma jurídica fundamental, a lei mais importante do Estado e
seu conteúdo principal. Assim, é o conjunto de regras e princípios que organizam o
Estado politicamente e socialmente em relação: à sua estrutura; forma de Estado e
de governo; regime político; modo de aquisição e exercício do poder;
estabelecimento de seus órgãos e fixação de suas competências; além de prever
direitos sociais e econômicos.
➢ Hans Kelsen é o principal idealizador do sentido jurídico da Constituição. Para ele a
Constituição é a norma hipotética fundamental (pré-existe à sua própria edição) que
dá origem e força à Constituição positiva que terá um sentido jurídico-positivo. Esta
Constituição posta não precisaria, para ele, estar fundamentada em nenhum argumento
filosófico, social ou político. Deveria, uma vez editada, ser simplesmente respeitada. Daí
Kelsen ter sido tachado de positivista.
➢ Foi Kelsen quem criou a ideia do escalonamento de normas. A Constituição é a
norma de hierarquia máxima e normas inferiores poderão ser declaradas
inconstituicionais por um tribunal constitucional.
TEORIAS CONSTITUCIONAIS MODERNAS
SENTIDOS MODERNOS DAS CONSTITUIÇÕES
(SIGNIFICADOS DAS CONSTITUIÇÕES)
 Constituição como garantia do status quo econômico e social (Ernst Forsthoff) = concepção
simplista.
 Constituição como instrumento de governo (Hennis) = seria uma simples lei processual que
regula processos e limites para a ação política.
 Constituição como processo público (Peter Häberle) = A constituição será sempre o resultado
(temporário) de um processo de interpretação conduzido à luz da publicidade. Esta interpretação deve
acontecer na república numa sociedade pluralista e aberta, em momentos de diálogo e de conflito, de
continuidade e descontinuidade. Só assim teremos uma Constituição aberta, de uma sociedade aberta e
verdadeiramente democrática.
 Constituição como legitimação do poder soberano do povo (Burdeau) = associa a
Constituição ao Estado de Direito. Os governantesdeixam de ser donos do poder para serem meros
prepostos do povo.
 Constituição como ordem jurídica fundamental, material e aberta, de determinada
comunidade (Konrad Hesse) = Para ele a Constituição é a ordem jurídica fundamental de uma
comunidade ou o plano estrutural para a conformação jurídica de uma comunidade, segundo certos
princípios fundamentais”. Hesse também desenvolve a ideia de que a Constituição tem uma força
normativa que acaba por impor à sociedade as normas nela escritas e que, eventualmente, não
correspondiam aos fatores reais de poder de que falava Lassale.
 Constituição como proteção dos direitos fundamentais das minorias contra o poder das
maiorias momentâneas (Ronald Dworkin, Bruce Ackerman) – Tal proteção muitas vezes tem de
ser feita pelo Judiciário, quando é chamado a declarar a inconstucionalidade de uma lei feita pelo
Legislativo, isto é, pela maioria dos representantes do povo.
ANTECEDENTES DA CONSTITUIÇÃO
 PRÉ-CONSTITUCIONALISMO – Hebreus e Gregos na antiguidade.
A partir da idade média: pactos, forais, contratos de colonização. Além
das leis fundamentais do reino e as doutrinas do pacto social.
 Pactos: documentos escritos celebrados entre monarcas e súditos
limitando o poder dos reis e dando direitos individuais aos súditos contra
eventuais arbitrariedades estatais.
 Origem > idade media, Inglaterra.
 O mais famoso pacto foi a Magna Charta Libertatum, de 1215, entre o rei
João sem Terra e seus súditos rebelados. Nele se previu o mandado de
segurança, a inviolabilidade do domicílio, o juiz natural, o devido processo
legal, o tribunal do Júri, e a anterioridade tributária.
 Outro pacto foi o Petition of Rights, de 1628, celebrado entre o Rei Carlos I
e seus súditos. Qualquer imposição de doações em favor do Estado teria que
ser aprovada pelo Parlamento.
 Há ainda o Bill of Rights, de 1689, talvez a primeira Constituição escrita da
história. Prevê um governo representativo (das camadas superiores do povo),
com imunidade parlamentar e regulamentação da criação de impostos.
ANTECEDENTES DA CONSTITUIÇÃO
 PRÉ-CONSTITUCIONALISMO –
 As doutrinas liberais do pacto social: Tais doutrinas
acreditavam que a sociedade estava fundamentada em um
pacto social, ainda que tácito, que se impunha aos
governantes, estabelecendo as regras para o exercício do
poder.
 O contrato social de HOBBES tinha no Leviatã o assegurador da
paz social, mas que tudo podia.
 LOCKE ensinava que o pacto social assegurava os direitos
naturais do homem (pre-existentes ao pacto)
 JEAN-JACQUES ROUSSEAU, no seu contrato social, às vésperas
da revolução francesa, também dizia que existia um contrato
social que assegurava direitos naturais aos homens.
O LIBERALISMO
 O liberalismo surgiu no final do absolutismo. Sua filosofia se concentra na
ideia de que o Poder do governante é limitado e o indivíduo tem liberdades que
devem ser respeitadas em face do Estado.
 No liberalismo clássico o Estado deve atuar apenas na segurança do país e dos
cidadãos (Estado mínimo, Estado não intervencionista), deixando ao indivíduo
e ao mercado toda a liberdade para conduzir “naturalmente” as relações sociais.
Aqui vigora a psicologia que considera os interesses materiais e sua satisfação
como importantes motivações do indivíduo. Os liberais de antes e de hoje
acreditam que a autonomia da vontade (a liberdade total para contratar sem
interferências do Estado) é o vetor que gerará o exercício pleno das
potencialidades dos indivíduos, o que acabará por beneficiar toda a sociedade.
 Para Norberto Bobbio, “o liberalismo é uma determinada concepção de Estado,
na qual o Estado tem poderes e funções limitadas, e como tal se contrapõe
tanto ao Estado absoluto quanto ao Estado que hoje chamamos de social”.
 O liberalismo positivou importantíssimos direitos fundamentais individuais
(vida, liberdade de credo, direito de propriedade a quem não era nobre); e no
campo político também significou uma limitação e divisão da autoridade, mas
o governo popular por ele criado se formulava, no início, pelo voto e pela
representação restrita apenas a cidadãos prósperos, que tinham posses.
LIBERALISMO
AS FASES DO 
*CONSTITUCIONALISMO*
1º FASE  CONSTITUCIONALISMO
INDIVIDUALISTA OU CLÁSSICO –
 No Século XVIII (e XIX), o triunfo do liberalismo*, movimento
filosófico, político e econômico, de inspiração iluminista, fez surgir
um novo modelo de Estado avesso ao absolutismo do poder do rei
e, portanto, propenso a limitá-lo.
 Além disso passou-se a defender uma não intervenção do Estado
na vida dos cidadãos (o laissez-faire).
 O Constitucionalismo clássico (ou individualista) surge justamente
da vitória das revoluções liberais burguesas e para atender aos ideais
liberais de limitação do poder e de explicitação das liberdades
individuais, sendo o direito de propriedade a mais importante delas.
É a vitória do indivíduo (com poder financeiro) contra Estado
Leviatã opressor.
AS FASES DO 
CONSTITUCIONALISMO
CONSTITUCIONALISMO INDIVIDUALISTA
OU CLÁSSICO – CONTINUAÇÃO
 Aqui surge a supremacia da lei (rule of the law), a separação de poderes (Montesquieu) e um
rol de direitos do homem.
 A Revolução Francesa é considerado o grande marco para o surgimento do Constitucionalismo.
 O objetivo das revoluções liberais era criar Estados Constitucionais. A Declaração de Direitos
do Homem e do Cidadão de 1789 dizia em seu art. 16: “Tout societé dans laquelle la garantie des
droits n’est pas assurée, ni la separation des pouvoirs déterminée n’a point de Constitution” = “toda
sociedade na qual não está assegurada a garantia dos direitos nem determinada a separação
dos poderes, não tem constituição”.
 Mas a primeira Constituição escrita é anterior à revolução francesa. É a
CONSTITUIÇÃO DOS ESTADOS UNIDOS DA AMÉRICA, de 1787 (We the
people). A primeira Constituição da França é de 1791, mesmo ano das 10 emendas à
Constituição americana que instituiu o Bill of Rights (vida, propriedade, liberdade
religiosa, liberdade de expressão, devido processo legal etc).
 O Constitucionalismo clássico está intimamente ligado às denominadas liberdades clássicas,
negativas [Benjamin Constant] ou formais, destinadas à proteção do indivíduo contra
eventuais arbitrariedades praticadas pelo Estado (DANTAS , Paulo Roberto).
AS FASES DO CONSTITUCIONALISMO
2ª FASE  CONSTITUCIONALISMO SOCIAL (ou
MODERNO).
 A partir do início do século XX e com as duas grandes guerras, a vinculação ao liberalismo
radical perde força em função da necessidade de as Constituições promoverem justiça social
entre os cidadãos.
 Tal movimento surge com os partidos socialistas e cristãos em todo o mundo e deve uma grande parte da sua força à revolução
socialista russa e chinesa que forçou os Estados capitalistas do ocidente a adotarem políticas que obrigavam uma intervenção do
Estado na vida privada em benefício de políticas sociais que o liberalismo puro não admitia. Por exemplo: a limitação da jornada de
trabalho que “interferia” na “liberdade” do industrial de explorar quem “quisesse ser explorado”; e outros dispositivos que
asseguravam alguma proteção ao mais fraco nas relações entre particulares, como o locatário, o consumidor, e o empregado.
 Ele coincide com o Estado social (Welfare State), iniciado com a Constituição Mexicana de
1917, e de Weimar (na Alemanha) em 1919.
 As Constituições passam a conter também um conjunto de direitos que impõem ao Estado a
prática de diversas ações visando à obtenção da igualdade substancial (não mais apenas
formal) entre os indivíduos. Surge agora a segunda dimensão dos direitos fundamentais,
ligados à igualdade material. Chama-se também de liberdades ativas (Benjamin Constant).
 Direitos de seguridade social
 Direitos trabalhistas
 Direitos à saúde e educação.
 É o chamado constitucionalismo moderno.As fases do Constitucionalismo
O POSITIVISMO
(FILOSOFIA QUE MOLDOU A 1ª FASE DO CONSTITUCIONALISMO E 
QUE DUROU ATÉ A 2ª FASE)
➢A partir do século XVI acreditou-se que o jusnaturalismo
(direito natural) seria capaz de conduzir o Direito segundo
princípios de justiça universalmente válidos.
➢Por ser considerado muito vago, metafísico e anticientífico, o
direito natural cedeu espaço, no final do século XIX e até a
metade do século XX, para o positivismo jurídico.
 O positivismo tentava igualar o Direito à norma e separava o
Direito da ética, da moral, da política e do conceito de justiça.
 O positivismo buscava a objetividade científica e afastou-se da
filosofia e de discussões sobre a justiça da lei.
 O Direito não precisava ser justo. A norma positivado tinha que
ser cumprida (dura lex sed lex).
As fases do Constitucionalismo 
O PÓS-POSITIVISMO
(FILOSOFIA QUE ENSEJOU O SURGIMENTO DA 3ª FASE DO CONSTITUCIONALISMO)
 A partir da metade do século XX, tentando compatibilizar o jusnaturalismo com o positivismo, surge o PÓS-
POSITIVISMO.
 O pós-positivismo busca ir além da legalidade estrita, mas não despreza o direito posto. Faz uma leitura
moral da Constituição e das leis, mas sem recorrer à metafísica (doutrina que tenta descrever e encontrar a essência
das coisas).
 Características do PÓS-POSITIVISMO:
 Na interpretação jurídica, dá importância aos valores, aos princípios;
 Reconhece normatividade aos princípios (princípios também são normas com
força cogente);
 Diferencia qualitativamente princípios e regras;
 Reabilita a filosofia de Kant da razão prática, defendendo a possibilidade de
encontrarmos na prática a melhor solução para um problema (os positivistas
acreditavam apenas na razão teórica, o papel do direito era apenas descrever o
direito posto e não justificá-lo).
 Reabilitação da importância da argumentação jurídica;
 Formação de uma nova hermenêutica;
 Desenvolvimento de uma teoria dos direitos fundamentais edificada sobre a
dignidade da pessoa humana.
 O pós-positivismo, então, promove a reaproximação entre o Direito e a ética.
AS FASES DO CONSTITUCIONALISMO
3ª FASE  NEOCONSTITUCIONALISMO
(ou modelo contemporâneo de constitucionalismo ou
simplemente pós-positivismo).*******
 Muitos autores defendem que vivemos agora uma evolução do
constitucionalismo moderno. O neoconstitucionalismo é um
movimento constitucional cujas características são:
1) Adoção do pós-positivismo = força cogente aos princípios. Tanto regras
como princípios são normas jurídicas que devem ser cumpridas.
2) Concessão de primazia ao princípio da dignidade da pessoa humana =
o ser humano é a razão de ser do próprio ordenamento jurídico e o Estado e
os demais particulares têm de respeitá-lo e respeitar sua autonomia, nunca
degradando a condição humana (ex. proibição do comércio de órgãos).
3) Reconhecimento definitivo da força normativa da Constituição = A
Constituição não regula mais apenas a política, mas também a vida privada
e todas as áreas da sociedade. E passa a ser a fonte das demais normas, as
quais devem sempre observá-la. Ou seja, as disposições constitucionais têm
um caráter vinculativo e obrigatório em todas as áreas do Direito. É A
CONSTITTUCIONALIZAÇÃO DO DIREITO (todos os demais
ramos do Direito passam a ser tratados pela Constituição).
AS FASES DO CONSTITUCIONALISMO
NEOCONSTITUCIONALISMO (continuação).*******
 Características do Neoconstitucionalismo (CONTINUAÇÃO)
4) Ampliação da jurisdição constitucional = o controle de constitucionalidade
das leis pelo judiciário está cada vez mais presente. As leis do anterior Estado
Legislativo não são mais intangíveis e cabe ao Judiciário resguardar o princípio da
supremacia da constituição e verificar se as leis infraconstitucionais estão de
acordo com o texto constitucional. Há inúmeras decisões judiciais sobre direito de
família, por exemplo, em que a Constituição suplanta o texto de códigos civis.
5) Desenvolvimento de uma nova dogmática da interpretação constitucional =
Tal dogmática se baseia nos seguintes princípios de interpretação: o da supremacia
da Constituição, o da presunção de constitucionalidade das normas e atos do Poder
Público, o da interpretação conforme a Constituição, o da unidade, o da
razoabilidade e o da efetividade.
 O neoconstitucionalismo surge para evitar que as normas constitucionais não
sejam meramente simbólicas (Marcelo Neves), isto é, não sirvam apenas como
retórica política ou álibi dos governantes. Há que haver a concretização dos
direitos previstos na Constituição (Pedro Lenza).
O NEOCONSTITUCIONALISMO
 O novo direito constitucional (ou neoconstitucionalismo) é, em
parte, produto do reencontro entre a ciência jurídica e a
filosofia do Direito. Para poderem beneficiar-se do amplo
instrumental do Direito, migrando do plano ético para o mundo
jurídico, os valores morais compartilhados por toda a
comunidade, em dado momento e lugar, materializam-se em
princípios, que passam a estar abrigados na Constituição,
explícita ou implicitamente*.
 Exemplos destes princípios: liberdade, igualdade, democracia,
República, separação de poderes, dignidade da pessoa humana,
razoabilidade.
* Para compreender este tema sobre pós-positivismo e neoconstitucionalismo sugiro a leitura do Capítulo
II, da Parte II do livro do Luís Roberto Barroso, Curso de Direito Constitucional Contemporâneo,
Editora Saraiva, 4ª Edição, 2013, especialmente as páginas 265 a 272.
UMA OUTRA PERSPECTIVA
TRANSCONSTITUCIONALISMO
 O "transconstitucionalismo" é termo cunhado pelo Prof. Marcelo Neves e
significa o entrelaçamento de ordens jurídicas diversas, tanto estatais como
transnacionais, internacionais e supranacionais, em torno dos mesmos
problemas de natureza constitucional. Ou seja, problemas de direitos
fundamentais e limitação de poder que são discutidos ao mesmo tempo por
tribunais de ordens diversas. Por exemplo, o comércio de pneus usados, que
envolve questões ambientais e de liberdade econômica. Essas questões são
discutidas ao mesmo tempo pela Organização Mundial do Comércio, pelo
Mercosul e pelo Supremo Tribunal Federal no Brasil. O fato de a mesma
questão de natureza constitucional ser enfrentada concomitantemente por
diversas ordens leva ao que ele chamou de transconstitucionalismo.
 O Brasil se acha, no momento, diante de um outro impasse gerado em razão deste
fenômeno, relativamente à persecução penal dos crimes praticados por agentes do
Estado durante a ditadura militar. Isso porque, ao analisar a questão, o Supremo
Tribunal Federal reconheceu a validade e constitucionalidade da Lei de Anistia,
assentando a impossibilidade de se levar a cabo a persecução penal em relação a
referidos crimes, mas a Corte Interamericana de Direito Humanos pensa diferente.
PENSAMENTO
Reflita sobre o que está dito abaixo
➢We are under a Constitution but the Constitution is what the judges
say it is (Juiz Hughes). Nós obedecemos à Constituição, mas ela é o
que os juízes dizem que ela é.
➢ Há muito que o mundo vive um processo de judicialização da
Constituição. Ou seja, convertem-se os problemas sócio-político-
constitucionais em problemas de aplicação judicial da constituição.
➢ Contudo, lembre-se: No geral, o processo político majoritário se move por
interesses, ao passo que a lógica democrática se inspira em valores. E, muitas
vezes, só restará o Judiciário para preservá-los (Luiz Roberto Barroso).
 Ementa de acórdão do Supremo Tribuna Federal : “ESTADO – LAICIDADE. O Brasil é uma república
laica, surgindo absolutamente neutro quanto às religiões. Considerações. FETO ANENCÉFALO –
INTERRUPÇÃO DA GRAVIDEZ – MULHER – LIBERDADE SEXUAL E REPRODUTIVA – SAÚDE –
DIGNIDADE – AUTODETERMINAÇÃO – DIREITOS FUNDAMENTAIS – CRIME – INEXISTÊNCIA.
Mostra-se inconstitucional interpretação de a interrupção da gravidez de feto anencéfalo serconduta
tipificada nos artigos 124, 126 e 128, incisos I e II, do Código Penal.
(ADPF 54, Relator(a): Min. MARCO AURÉLIO, Tribunal Pleno, julgado em 12/04/2012, ACÓRDÃO
ELETRÔNICO DJe-080 DIVULG 29-04-2013 PUBLIC 30-04-2013)
LEITURA OBRIGATÓRIA
 Leia o texto: Neoconstitucionalismo e Constitucionalização do
Direito - O triunfo tardio do Direito Constitucional no Brasil
 Luís Roberto Barroso
Disponível em: http://jus.com.br/artigos/7547/neoconstitucionalismo-
e-constitucionalizacao-do-direito
 Ou em: http://jus.com.br/artigos/7547
Ou na Biblioteca da UDF: BARROSO, Luís Roberto.
Neoconstitucionalismo e constitucionalização do direito: o triunfo
tardio do direito constitucional no Brasil. Interesse Público :
Revista Bimestral de Direito Público, São Paulo , v. 7, n. 33, p 13-54,
set./out. 2005.
É IMPORTANTE LER TAMBÉM OS CAPÍTULOS I E II DA
PARTE II, E O CAPÍTULO III DA PARTE I, DO LIVRO DO
BARROSO INDICADO NA BIBLIOGRAFIA.
ASSISTA AO FILME THE SQUARE
 Ver o filme The Square (disponível no Netflix). Documentário que
concorreu ao Oscar de 2014 sobre a recente revolução egípcia que derrubou
o ditador Mubarak, mas não conseguiu criar um novo regime que atenda
adequadamente aos anseios da revolução (traída pela junta militar do antigo
regime). Observar a preocupação dos revolucionários com a criação de
uma nova Constituição, elemento essencial para a verdadeira formação
de um Estado constitucional democrático de direito. Note que não adianta
apenas protestar, é preciso que haja propostas concretas para o “novo”.
 Veja o mal que uma ditadura faz. Perceba que o Egito hoje está há pelo
menos 25 anos atrasado em relação ao Brasil. Enquanto tentamos consolidar
direitos de terceira geração, como o meio ambiente e o casamento
homossexual, o Egito ainda luta por democracia e por uma Constituição
que dê estabilidade e novos programas e rumos ao país.
BONS ESTUDOS
Prof. Vinicius de Carvalho Madeira

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