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ENSAIO FINAL - SOCIOLOGIA 3 - NATANAEL BARBOSA - LIDELMAR JUNIOR

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIÁS (FCS)
LIDELMAR MOREIRA
NATANAEL BARBOSA SANTOS 
PERSPECTIVA CRÍTICA DA DEMOCRACIA CONTEMPORÂNEA E SUA PLURALIDADE 
GOIÂNIA 
2019
 
 RESUMO 
O seguinte trabalho, visa, em sincronia com autores discutidos no decorrer do curso Sociologia III, um mínimo esclarecimento, ou talvez apenas uma direção teórica de fenômenos políticos, suas causas/consequências, incluindo o contexto que possibilita de tal modo sua ascendência. Uma sociedade plural e complexa, cujo o exercício do poder é a partir da democracia representativa, enfrenta diversos obstáculos diante estruturas já estabelecidas precedentes a este ideal vigente, logo dialogando com Habermas e Mouffe, embasando nos textos propostos na questão para o trabalho, é possível além de compreender esse fenômeno político, aplicá-lo no presente. 
Palavras chave: Democracia, pluralismo e liberalismo.
INTRODUÇÃO
Este ensaio tem como objetivo analisar criticamente a ideia de democracia em uma sociedade plural e complexa. Para tal utilizamos de bases o texto de Santiago que chama “Quero matar meu vizinho”, onde ele mostra o ódio de um indivíduo de classe média alta com as forças antagônicas de poder em uma democracia e a vontade da eliminação de forma violenta essa força antagonista. Usaremos também o poema de Ianomami, que traz um evidenciamento do racismo no brasil e como as vidas negras não tem importância. Para analisar o texto e o poema e a relação com a ideia de democracia plural utilizaremos a autora Chantal Mouffe, que discorre sobre a questão da eliminação do antagonismo político e do pluralismo democrático e colocaremos também as ideias de Habermas onde ele traz a aliança do neoliberalismo com o neoconservadorismo 
PERSPECTIVA GERAL DE SANTIAGO E IANOMANI
 O conflito de ideias presente nos textos de Santiago e Ianomâmi, são relatos da realidade, enquanto sociedade, enquanto valores aplicados, também enquanto resultado de políticas aplicadas, por governos eleitos democraticamente, em um contexto que, a concentração de renda é evidente no país, justificada através de uma política elitista, seletiva para com os parâmetros de vida, e de como essa realidade de fato é concebida, ou para quem é transmitida.
 	Em ‘’Quero matar meu vizinho’’, é evidente uma realidade polarizada, que o país se direcionou há alguns anos, em um impasse de convergências políticas, na qual um sujeito em sua individualidade, e plena liberdade democrática, escolhe por aprofundar na ideia que política não resolve nada, e não vale a pena ser entendida, mas identificam problemas, a partir da sua concepção.
 ‘’Então quando vejo um mortadela, sinto ódio, sinto nojo, tenho vontade de pular no pescoço dele e esganar. Os mortadelas são todos ladrões. E ainda têm a cara de pau de ir para as ruas e chamar as pessoas de bem de coxinhas. Sim, sou coxinha e com muito orgulho! Trabalho duro para ter minhas coisas. Comprei um apartamento novo com o suor do meu rosto! Se tiro férias e viajo ao exterior com minha família, é com o suor do meu trabalho! Não devo nada a nenhum comunista! Sou coxinha, sou um cidadão de bem, e não gosto de mortadelas comunistas! ‘’
(SANTIAGO, Fernando. Quero matar meu vizinho)
 
Neste trecho do texto de Santiago vemos esse pensamento, onde há uma falsa noção de liberdade do indivíduo, entendendo que está agindo de forma autônoma e independente, mas está enganado, já que se trata de um padrão instaurado que tende para concentrar ainda mais os níveis de desigualdade sejam no campo econômico, seja no que tange a identidade, como é trago em ‘’Ninguém’’, poema de Dado Ianomâmi, que traz consigo a noção de uma corrente de valores ideias, que conservam valores arcaicos, o poema aborda o racismo estrutural presente na sociedade, um presidente dizer que ‘’o exército matou ninguém’’ é sinal de como esse ideal é a representação em um contexto ‘’democrático’’, no qual esse presidente foi eleito, propagando esse tipo de fala, essa bizarra concepção de moral.
Logo os fatos que os dois textos abordam, que se passam por corriqueiros quando não ganhando notoriedade nacional, são reflexos de uma estrutura baseada em valores os quais em algum momento da história foram subvertidos, ou reconhecidos como anti-democráticos, que estão voltando a tona, em um consenso sócio econômico, que tende a se repetir de certo modo, mas distorcido, como Marx menciona em ‘’O 18 de Brumário de Luís Bonaparte’’ 
 Em alguma passagem de suas obras, Hegel comenta que todos
 os grandes fatos e todos os grandes personagens da história mundial
 são encenados, por assim dizer, duas vezes. Ele se esqueceu de
 acrescentar: a primeira vez como tragédia, a segunda como farsa.
 (MARX, Karl. O 18 de Brumário de Luís Bonaparte, p.25)
O trabalho em questão, visa dialogar essa perspectiva que se instaura no plano real, no cotidiano, na estrutura representada enquanto para cada indivíduo, dentro de sua concepção de individualidade, atrelado simultaneamente com um padrão, uma tendência, ou talvez uma consequência, e correlacionar com os temas discutidos pelos autores estudados na unidade.
	
	
PERSPECTIVA DE CHANTAL MOUFFE
A autora Chantal Mouffe oferece uma interessante perspectiva sobre a problemática trazida pelo texto de Santiago. Mouffe em seu texto Democracia, cidadania e a
questão do pluralismo, traz uma análise sobre a atual forma como a democracia está presente na sociedade atual e diz também, em breves páginas, a forma que a democracia deveria ter, para a autora a democracia, como está presente na sociedade, está tomada pela erradicação do poder e do antagonismo e o liberalismo é o maior difusor desta visão, já que depois do fim do comunismo estourou inúmeros conflitos de natureza étnicos, religiosos e nacionalistas, fazendo com que os teóricos liberais entendessem o antagonismo político como pertencente ao passado e algo a ser eliminado da democracia.A autora também fala sobre o processo de individualização e de universalismo do liberalismo, onde a individualização faz com que os indivíduos pensem apenas em si e o universalismo, propagado pelo liberalismo, cria regras universais, ignorando toda a luta de minorias, já que entende o humano como livre independente de gênero, classe e raça, portando o indivíduo é livre para realizar seus desejos e visões individuais de bem. 
	Analisando o texto de Santiago na perspectiva de Mouffe podemos entender como a visão do personagem principal está ligado a ideia central do autor, já que o homem de classe média alta, em todo o texto mostra seu ódio pelo antagonismo político querendo destruí lo fora do jogo democrático, e desumanizando o indivíduo colocando-se como superior. A todo momento o personagem principal demonstra seu ódio pelo seu oponente e seu desejo de matá lo. 
No bar conversamos sobre os tempos difíceis. Até que um deles me sugeriu: - Porque não compra um rifle semiautomático e faz como um sniper? Um rifle semiautomático custa apenas US$ 12 mil dólares. Você vai poder eliminar um bando desses vagabundos. Não vão fazer falta alguma!
Todos nós rimos. A sugestão era boa. Claro, em alguns lugares do mundo matam até presidentes, porque não eliminar alguns vagabundos? Meu amigo tinha razão. Afinal, para que servem esses inúteis? Certamente não é pecado matar bandidos e mesmo pessoas suspeitas. Trata-se de sobrevivência. Gostei da ideia.
(SANTIAGO, Fernando. Quero matar meu vizinho)
No campo da política, isto pressupõe que o “outro” não
seja visto como um inimigo a ser destruído, mas como um “adversário”,
isto é, alguém com cujas idéias iremos lutar, mas cujo
direito de defender tais idéias não vamos questionar. Esta categoria
de adversário não elimina
o antagonismo, embora deva ser
distinguida da noção liberal de competidor com a qual é às vezes
identificada. Um adversário é um inimigo legítimo, um inimigo
com quem temos em comum uma adesão partilhada aos princípios
ético-políticos da democracia.
(MOUFFE,Chantal.Democracia, cidadania e a questão do pluralismo. Pg 16) 
	
	Este trecho do texto de Santiago é fundamental para vermos a análise descrita por Mouffe, onde o indivíduo entende o outro como inimigo e quer acabar com ele contrastando com a visão da autora que coloca a disputa democrática como a existência do antagonismo e a disputa política, não concordando com as suas ideias, mas defendendo o direito da presença de ideias diferentes onde há regras que contêm esse enfrentamento. Em suma, para Mouffe, o novo modelo de democracia proposto, deve ter por parte dos participantes, a aceitação de um único fundamento, os princípios éticos-políticos da democracia, ou seja, o direito de defender ideias sem que haja algum tipo de violência pela outra parte, mas sim o enfrentamento dentro do sistema de regras democrático.
 
 	Outro ponto de partida que a autora dá para entendermos a tomada da democracia pelo liberalismo é a ideia defendida pelos liberais, cidadania universal. Como citado acima é algo que universaliza os sujeitos e ignora os processos de desigualdades da sociedade. Esse processo é visível no poema de Dado Yanomami, onde fala sobre o caso em que o exército fuzilou um homem negro dentro do carro com 81 tiros. O poema traz a tona o racismo presente na sociedade e a não importância da vida negra para sociedade, usando a frase colocada pelo atual presidente, Jair Messias Bolsonaro, onde o mesmo se pronuncia sobre a morte do músico negro Evaldo Rosa dos Santos que foi brutalmente assassinado com 81 tiros pelo exército brasileiro, diz que o exército não matou ninguém. Tal afirmação evidencia o racismo presente na sociedade, já que ao chamar Evaldo de ninguém afirma que as vidas negras não tem relevância e como Ianomani diz só irão se importar quando um homem branco morrer, ai sera “alguem” morto. Essa ideia pode ser relacionada com o liberalismo, já que ele coloca a ideia de que todos os homens são iguais e portanto tem a mesma oportunidade na sociedade, desde de trabalho até a participação política, mas analisando entendemos que não, há uma gritante desigualdade, aqui no caso de raça, mas há inúmeras outras e essas desigualdades ferem diretamente a democracia, já que como a participação políticas desses indivíduos inferiorizados poderia existir? Como podemos fazer com a democracia lide com o fator plural da sociedade se ele se mantém vinculada a valores liberais que negam esse pluralismo?
PERSPECTIVA DE HABERMAS 
Habermas em ‘’A Nova Obscuridade’’, já em seu contexto, na segunda metade do séc. XX, se deparava com uma realidade pós guerra, na qual todas as utopias haviam perdido a credibilidade, em decorrência das últimas guerras, seja com o nazismo na Alemanha, o fascismo na Itália, o socialismo na U.R.S.S., como é citado pelo autor em uma passagem do texto ‘’o espírito do tempo se inflama na colisão entre o pensamento histórico e o utópico’’ (p. 210), de maneira qual, não se tratará de um conflito oposto de fato, mas uma imersão de valores, um misto de carga histórica mais pensamento utópico, a própria Revolução Francesa é um exemplo histórico.
A desilusão com a qual ele se depara em seu contexto, é pertinente na atualidade, porém ele explica fatores que possibilitam a causalidade dos mesmos; se nos deparamos com situações que são tidas como corriqueiras como é citado anteriormente nos textos propostos, uma sociedade polarizada, cujo uma onda neoconservadora associada a um neoliberalismo que são adaptações de conceitos que foram distorcidos no correr da história, já antes disso tudo ocorrer, esse ‘’fenômeno’’ era trago por Habermas como a nova obscuridade.
O conceito de bem-estar social, cada vez mais é concebido em uma perspectiva das liberdades individuais, que, dentro do sistema de produção capitalista, os indivíduos amparados por lei, ou melhor, por um estado, são iguais, possuem liberdade de ir e vir, são amplamente capazes de conseguir o bem estar social por si só através do sistema econômico vigente, ignorando, de certo modo, a coletividade na qual o trabalho poderia ser melhor aplicado/rentável.
 Por isso, gostaria de precisar minha tese no sentido de que a Nova Obscuridade faz parte de uma situação em que um programa em termos de Estado de bem-estar social, continuando a nutrir-se sempre da utopia da sociedade do trabalho, perde a força de abrir possibilidades futuras para uma vida coletivamente melhor e menos arriscada
 (HABERMAS, J. A Nova Obscuridade, Pequenos escritos políticos V p.218)
	
	Sinteticamente, em um contexto histórico, a nova obscuridade surge a partir da evocação de conceitos de moralidade ‘’do passado’’ atreladas ao conceito da produtividade em choque com a história em si, de certo modo, essa corrente anti-utopias acaba por se tornar uma utopia em si só, que hoje, é o neoliberalismo atrelado ao neoconservadorismo, no âmbito econômico da produtividade a ‘’liberdade do mercado’’, e no âmbito da moral, os ideais que são valorizado enquanto instituições como família, religião etc. Se torna plausível em uma sociedade bipartida, em que o autor cita em uma breve passagem:
 um lado vê a fonte de transtornos na força de trabalho monetarizada, o outro, na paralisia burocrática. Mas ambos os lados concordam em que os âmbitos de interação do mundo da vida carentes de proteção só podem ter um papel passivo diante os verdadeiros motores da modernização social, o Estado e a economia.
 (HABERMAS, J. A Nova Obscuridade, Pequenos escritos políticos V p.229)
Em suma, todos lutam em suas falas por democracia, em ‘’Quero matar meu vizinho’’, presenciamos essa nova obscuridade a todo momento, na polarização de ideais, na intolerância no que tange a liberdade política oposta, na afirmação do conceito da produtividade, ou em um contexto mais presente, o valor do suposto mérito, ou então em ‘’Ninguém’’ na fala de um presidente, que não reconhece a tragédia na atrocidade cometida pelo exército, presidente este que é resultado desse ‘’fenômeno’’ abordado por Habermas
CONSIDERAÇÕES FINAIS	
A democracia, ao decorrer do tempo, incorpora signos diversos e variados de acordo com o sistema vigente, de acordo com a corrente de ideias e ideais, com as identidades a serem representadas, valores transmitidos, enfim, um abrangente sem limites que permeabiliza todas as camadas do que se pode entender como humano.
	E podemos entender que a democracia que temos hoje não é, como Mouffe nos mostra, pluralista ele está imersa em uma concepção de liberalismo que erradica o antagonismo, que é essencial para uma democracia pluralista e podemos observar também como esses valores de bem comum entendem as diferenças e as desigualdades sociais, ignoradas completamente.	
	É de fato complexo, ‘’criar’’ ou sistematizar um conceito, uma ideia que resolveria todos os problemas de mal-estar social, porém a caminhos quais não são considerados a melhor das escolhas, e se tratam mais na verdade de consequências mediante a história e a experiência, como é trago por Habermas em a Nova Obscuridade ao enaltecer a polaridade em que a sociedade se encontra, e essa associação do neoliberalismo ao neoconservadorismo
 BIBLIOGRAFIA
MOUFFE, Chantal. Democracia, cidadania e a questão do pluralismo, 2003
HABERMAS, J. A Nova Obscuridade, Pequenos escritos políticos V, Unesp, 2015
Marx, Karl. O 18 de Brumário de Luís Bonaparte, Boitempo, 2011
Obs: como a pedido, a contribuição de cada esclarecida no trabalho, o resumo, corpo inicial do texto após a introdução, perspectiva de Habermas e conclusão por Lidelmar Moreira.
Capa, Introdução, perspectiva de Mouffe por Natanael Barbosa. Todas os parágrafos do texto sofreram alterações de ambos os autores.

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