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PRINCÍPIOS E PRÁTICAS EM TDAH 15 Epidemiologia José Hércules Golfeto e Genário Alves Barbosa INTRODUÇÃO A prevalência do transtorno de déficit de atenção/hiperatividade (TDAH) deveria ser facilmente conhecida, porque, quando um transtorno é comum em medicina, seu diagnóstico em geral é feito prontamente e, em conseqüência, sua prevalência é de fácil detecção. Entretanto, isso não ocorre com o TDAH. Um ponto importante a ser assinalado é que esse transtorno, apesar de muitís- simo comum, tem sua prevalência em função da precisão diagnóstica. Na lite- ratura, o TDAH é freqüentemente descrito de maneira não-objetiva quanto à sua delimitação e ao uso de critérios para se fazer o diagnóstico, influenciando os dados de prevalência. Jensen (2000) descreve os vários obstáculos que difi- cultam sua apropriada identificação e a obtenção de dados cientificamente válidos sobre sua evolução, etiologia, prevalência e tratamento. Será que o TDAH deve ser conceitualizado como transtorno ou faz parte do extremo de um continuum do desenvolvimento normal? Na última década grandes avanços foram obtidos nessa área. O quadro clínico está melhor definido. As co-morbidades têm sido mais detalhadas. Vá- rios fatores etiológicos têm sido mais investigados, particularmente na área biológica, como anormalidades nos circuitos subcórtico-frontais. As pesquisas genéticas, embora não tenham encontrado genes definitivos na etiologia desse transtorno, apresentam investigações promissoras (ver capítulo sobre etiologia). Também fatores de risco ambientais têm sido pesquisados e associados à fragi- lidade genética. A prevalência do TDAH varia nos diferentes países, bem como dentro de um mesmo país. Por exemplo, nos Estados Unidos, as taxas de prevalência estão entre 3 e 6%; na Nova Zelândia, entre 2 e 6,7%; na Alemanha, 8,7%; no Japão, 7,7%; na China, 8,9%; na Inglaterra, 1%; em Taiwan, 9%; na Itália, 4% (Arnold e Jensen, 1999; Baumgaertel e cols., 1995; Esser e cols., 1990; Galluci 1 16 LUIS AUGUSTO ROHDE & PAULO MATTOS e cols., 1993; Wong e cols., 1993). Tais diferenças resultam das desigualdades metodológicas entre os estudos, como: – procedimentos de seleção que incluem diferentes tipos de crianças e amostras (clínicas, populacionais); – diferentes escalas de avaliação para determinar a taxa de prevalência, bem como uma seleção arbitrária do ponto exato de corte, como 1, 1,5 ou 2,0 desvios padrão acima da média (Sacristán, 1998; Brown, 2001); – idades diferentes das crianças amostradas nos vários estudos; – tipos diferentes de entrevista diagnóstica (estruturada, semi-estrutu- rada, livre); – tipos diferentes de delineamento dos estudos; – uso de critérios diagnósticos diferentes (por exemplo, alguns estudos de prevalência exigem que o TDAH seja global, isto é, que esteja pre- sente em mais de uma situação, outros não); – uso de diferentes fontes de informação (paciente, pais, professores). Embora todos os fatores anteriormente listados sejam importantes, a maior causa dessas diferenças epidemiológicas reside precisamente nos critérios dis- tintos utilizados para seu diagnóstico (Graetz e cols., 2001), sendo que esses critérios requerem informações clínicas sobre o comportamento do paciente em casa e na escola. Além disso, para a realização de estudos epidemiológicos, deve-se recor- rer inicialmente ao uso de instrumentos estandardizados aplicados, inclusive, aos professores. É precisamente na coleta de informações que se observa uma das dificuldades: a confiabilidade dos estudos epidemiológicos. Outro problema metodológico importante é derivado do conceito de “caso”. Uma investigação epidemiológica realizada com critérios metodológicos bem- definidos poderá detectar a presença de um determinado diagnóstico na popu- lação geral estudada. Contudo, uma alta proporção dos sujeitos dessa popula- ção talvez não tenha tido nenhuma atenção assistencial, ou por dificuldade de acesso aos dispositivos assistenciais, ou porque a sintomatologia quantita- tivamente considerada não afeta a vida cotidiana desses sujeitos, ou, ainda, pelo grau de tolerância dos adultos e amigos para com as condutas que podem ser consideradas como patológicas. Segundo Pino e Praxedes (1993), todos esses fatores interferem na amostragem. Os maiores conhecimentos sobre o TDAH provêm de estudos feitos na população de idade escolar de ensino fundamental. O número de investiga- ções científicas encontradas nas idades pré-escolar, adolescente e adulta é sig- nificativamente menor. PRINCÍPIOS E PRÁTICAS EM TDAH 17 Técnicas de avaliação científica como os estudos longitudinais, retrospec- tivos e estudo de caso podem mostrar que os sintomas do TDAH mudam com a idade e se modificam com o tempo. Assim, Biederman e colaboradores (2000) demonstram, em uma amostra inicial de 140 meninos com TDAH e 120 meni- nos considerados normais, que a idade está associada significativamente com o declínio nos sintomas totais do TDAH. A porcentagem de indivíduos com remissão variou consideravelmente com a definição usada (alta para remissão sindromática e baixa para remissão funcional). A prevalência da remissão de desatenção foi menor que a escala de remissão dos sintomas de hiperatividade e impulsividade. Isso foi aparentemente mais observado para as definições sindromáticas e sintomáticas de remissão e menos para a definição funcional de remissão, como podemos observar nos gráficos a seguir: 18 LUIS AUGUSTO ROHDE & PAULO MATTOS TIPOS DE ESTUDO Três tipos básicos de estudo podem auxiliar na determinação de aspectos epidemiológicos do TDAH, são eles: os estudos de caso, os longitudinais e os retrospectivos. Independentemente do tipo de estudo, a noção de normalidade é fundamental, embora muitas vezes seja de difícil definição. Deve-se fazer uma avaliação para indicar se um determinado comportamento de crianças pode ser comparado com o de um outro grupo de crianças da mesma faixa etária e sexo. É o chamado enfoque normativo. O estudo de caso consiste na cuidadosa e minuciosa descrição, por um ou mais médicos, do diagnóstico, da evolução e do transtorno de um paciente. É o tipo mais básico de estudo clínico, e tem grande tradição na medicina. Esse estudo pode ser realizado em séries temporais, já que as medidas podem ser tomadas ao longo de um determinado tempo. A partir de um controle rigoroso, é possível obter a validade interna, que é a capacidade da amostragem de permitir assumir, no final do estudo, qual a direção e o valor das relações causais observadas. Nesse estudo, a validade externa não é grande, já que não se pode generalizar a partir de sujeitos únicos, mas pode ser aumentada me- diante a repetição do estudo com diferentes casos. Trata-se de um modelo de pesquisa pouco utilizado com pacientes com TDAH, segundo a literatura. As desvantagens desse tipo de estudo são as informações originais incompletas; má memória das informações; a escolha não-aleatória dos casos, além do lon- go tempo de pesquisa. Em estudo realizado no nosso meio, Golfeto (1997a) exemplifica a utilidade do estudo de caso para o acompanhamento de pacien- tes com TDAH ao longo do tempo. Johnston (1996) chamou a atenção para a necessidade da realização de estudos retrospectivos do TDAH, pois poucos analisam a vida pregressa dessas crianças e a de seus pais. Entretanto, os estudos retrospectivos apresentam pro- blemas metodológicos de difícil resolução. Examinando prontuários antigos, pre- cisamos decidir quais crianças pertenceram ao grupo do TDAH. Obviamente, as características de tal grupo não podem ser especificadas tão acuradamente como aquelas de um grupo diagnosticado no momento da pesquisa pelos critérios do DSM-III-R, DSM-IV ou da CID-10 (APA, 1987 e 1994; OMS, 1993). Estudos longitudinais com grupo-controle seriam os mais adequados para nos dar maior precisão da definição do TDAH, bem como das diferenças deacordo com sexo e etapas do desenvolvimento (Barbosa e Gaião, 2001). Entre- tanto, são mais difíceis de ser implementados logisticamente e de custo muito mais elevado (ver, na seqüência, a descrição dos estudos longitudinais no TDAH). ESCALAS DE AVALIAÇÃO McClure e Gordon (1994) enfatizaram a importância dos estudos epide- miológicos do TDAH, principalmente usando instrumentos de rastreio disponí- PRINCÍPIOS E PRÁTICAS EM TDAH 19 veis à comunidade científica. O uso destas escalas ou questionários apresenta, em linhas gerais, as seguintes vantagens: permite a homogeinização das infor- mações; possibilita a quantificação dos sintomas; estabelece perfis estereotipa- dos, permite a economia de tempo e é de fácil manejo. É importante que a escala utilizada apresente uma linguagem acessível à população a que se des- tina, devendo, ainda, constituir-se de itens compatíveis com a sintomatologia pesquisada. Esses instrumentos podem ser aplicados utilizando o ponto de corte, o que vai permitir detectar, a princípio, crianças “prováveis positivas” para esses transtornos, facilitando assim a avaliação diagnóstica que será realizada pelo especialista, mediante cuidadosa história clínica contada por pais e professo- res (Hernandez, 1989). As escalas de avaliação não são instrumentos de diagnóstico porque so- frem de uma baixa especificidade e sensibilidade, sendo úteis para as pesqui- sas de porcentagem da sintomatologia e no rastreio diagnóstico da sintoma- tologia do transtorno. O uso de escalas de triagem esbarra no limite clínico, pois a hiperatividade ocorre em outros transtornos psiquiátricos além do TDAH, facilitando, assim, a detecção de casos falso-positivos. Além disso, são poucos os instrumentos validados e normatizados para a população brasileira. Barbosa e Gaião (1997) fizeram um estudo cujo objetivo era analisar o fator hiperatividade em crianças utilizando o questionário de Conners para pais e professores. A taxa de prevalência da sintomatologia hipercinética en- contrada foi de 3%. Concluíram que esse instrumento apresenta boa confiabi- lidade, consistência interna e validade de construto. Segundo Cohen e colaboradores (1994), os estudos da prevalência do TDAH têm particularidades sensíveis e nuanças metodológicas, incluindo quem responde aos questionários e quais as discrepâncias que existem entre as res- postas de pais e professores, ou crianças, quando os dados são combinados. O uso de múltiplos informantes tem-se tornado uma ferramenta epidemiológica essencial para a avaliação do TDAH. Contudo, quando se faz pesquisa com várias fontes, essas podem torná-la pouco prática, e até mesmo impossível. Os relatos de várias fontes de informações são pouco estudados, o que torna a credibilidade dessas informações desconhecida. Os professores podem ser, a princípio, informantes úteis, pois são capazes de dar informações diárias das crianças acerca do nível de desenvolvimento e, assim, ter referências sobre as estruturas para a avaliação do déficit de atenção e comportamentos inadequa- dos. As informações obtidas por meio dos pais e professores são muito usadas em pesquisas para rastrear os sintomas de TDAH. No entanto, quando os da- dos de pais e professores são combinados, somente poucos achados sobre prevalência são coincidentes, como demonstram os trabalhos de Breton e cola- boradores (1999). O questionário de Conners foi elaborado na Austrália em 1969, e há 30 anos, aproximadamente, tem sido utilizado por pesquisadores para rastrear e estabelecer a taxa de prevalência da sintomatologia do TDAH. Desde então, 20 LUIS AUGUSTO ROHDE & PAULO MATTOS diversas versões abreviadas têm sido utilizadas em vários estudos (Conners e cols., 1997). Brito, em 1987, realizou um estudo no Brasil utilizando o Conners Abbre- viated Teacher Rating Scale (CATRS), com 10 itens derivados das escalas originais, para padronizá-la à população brasileira. Nesse estudo, o autor relata que, ao comparar seus resultados com os resultados de outros pesqui- sadores internacionais, constatou que as diferenças dos itens dessa escala são mínimas, o que não justifica mudanças a fim de aplicá-la na população nacional. A versão brasileira abreviada do questionário de Conners para pais e pro- fessores foi adaptada por Barbosa e Gouveia (1993) e Barbosa (1997), a partir da versão original inglesa abreviada de Conners, também já revisada por Goyette e colaboradores (1976). A escala de Brown (1996) para o transtorno de déficit de atenção para adolescentes e adultos acessa sintomas do TDAH que já estão reconhecidos no sistema de diagnóstico estabelecido pela Associação Americana de Psiquiatria (DSM-IV) e também inclui vários outros sintomas que ainda não estão incorpo- rados no DSM-IV. Outras duas escalas de amplo espectro também bastante utilizadas no estudo do TDAH são: a) a entrevista diagnóstica infantil revisada (DISC-R) de Shaffer e colaboradores (1983). Esta escala é aplicada em sujeitos de 6 a 18 anos de idade, em pais e professores e tem como finalidade buscar um melhor critério de ajuste e precisão ao DSM-III-R. A outra escala é: b) um inventário de comportamento infantil (CBCL) elaborado por Achenbach e Edelbrock (ver Achenbach e cols., 1987). Ela é aplicada em sujeitos de 4 a 17 anos de idade, a fim de verificar habilidades sociais, alterações emocionais e de comportamen- to (depressão, hiperatividade, ansiedade). Algumas perguntas são importantes em relação ao uso dessas escalas em pesquisas: pais e professores respondem com confiança o questionário? Esses questionários levam em conta se as crianças sofreram vários tipos de riscos que as levam a ter transtornos comportamentais? Entre esses riscos, podemos ci- tar: abuso sexual, rejeição, abandono, privações e uso de drogas entre seus familiares. Até que ponto pais e professores têm conhecimento dos problemas comportamentais para responder tais questionários? Qual a real validade des- ses rastreios diagnósticos? A despeito da heterogeneidade do TDAH, existem consideráveis associações co-mórbidas que persistem substancialmente até a vida adulta. O quanto essas variáveis interferem nos resultados das taxas de prevalência? PRINCÍPIOS E PRÁTICAS EM TDAH 21 PREVALÊNCIA DO TDAH O DSM-IV estima a prevalência entre 5 e 13% nas crianças em idade esco- lar. Embora a literatura indique que o uso dos critérios do DSM-IV aumenta a prevalência do transtorno em relação às versões prévias (DSM-III-R e DSM-III) (Baumgaertel e cols., 1995), Brown e colaboradores (2001) mostram que a prevalência em crianças, utilizando-se os critérios diagnósticos do DSM-III-R, foi de 10,3%, e, quando foi utilizado o DSM-IV, de 6,8%. Para mostrar as taxas de prevalência do TDAH, destacamos alguns trabalhos epidemiológicos em diferentes países. O estudo sobre prevalência do TDAH de Baumgaertel e colaboradores (1995), realizado na Alemanha, encontrou cifras que variaram de 9,6 a 17,8%, utilizando critérios diagnósticos do DSM-III-R e do DSM-IV, respectivamente. Vale lembrar que nesse estudo foi utilizado apenas o critério A dos DSMs, ou seja, a lista de sintomas, portanto, encontraram-se prevalências superestimadas. Outro estudo, realizado em Iowa, por Lindgren e colaboradores (1990), com uma amostra constituída de 4.032 escolares, detectou a prevalência de 6,1%. Nesse estudo, os autores utilizaram o questionário de Conners nas ver- sões abreviadas para pais e professores como instrumento de rastreamento, e depois o DSM-III-R como critério diagnóstico. Rowland e colaboradores (2001) estudaram o TDAH em um grupo de 424 crianças em escolas primárias do 1o ao 5o ano por meio de escala de com- portamento respondida pelos professores. Aplicaram entrevistas estruturadas para os pais, que responderam por telefone. O critério diagnóstico foi o DSM- IV. Obtiveram, como resultado, pelo rastreamento, 16% de crianças com sintomatologia do TDAH. Emexames feitos por profissionais em saúde mental nesse estudo, a taxa foi de 12,7% dos casos. Os estudos americanos melhor controlados sugerem taxas entre 2,5 e 8%, dependendo do tipo de TDAH: se predominantemente desatento ou se hipera- tivo/impulsivo ou ainda se do tipo misto, incluída a composição socioeconômi- ca na amostra (Rowland, 2001). Na Espanha, Mardomingo-Sanz (1996) detectou, aplicando critérios do DSM- III-R, a taxa de prevalência de 5,6% para o TDAH em uma amostra de 245 crianças em idade escolar. Em outro estudo, Wicks-Nelson e Israel (1997) obtive- ram uma prevalência de TDAH que variou de 4 a 20% em amostra populacional espanhola. Quando utilizaram os critérios do DSM-III-R, as taxas de prevalência, em uma população escolar, oscilaram entre 15 e 20%, sendo o questionário de Conners para pais e professores o instrumento de rastreio utilizado. Scahill e Schwab-Stone (2000) condensaram o resultado de 13 estudos epidemiológicos em que foram usadas entrevistas diretas, tendo o DSM-III e o 22 LUIS AUGUSTO ROHDE & PAULO MATTOS DSM-III-R como critérios diagnósticos para o TDAH. Os estudos foram realiza- dos em duas etapas. O rastreamento de amostragem foi feito na primeira etapa aplicando-se o CBCL, respondido pelos pais. Na segunda etapa, as crianças que foram rastreadas como portadoras de sintomatologia de TDAH foram submeti- das à investigação clínica. O resultado mostrou que a prevalência do TDAH variou de 1,9 a 14,4%. Segundo Rohde e colaboradores (1999b), quando se usam critérios diag- nósticos cuidadosos e diagnóstico clínico, as pesquisas apontam mais semelhan- ças do que diferenças nos estudos realizados. Esses autores usaram o DSM-IV como critério diagnóstico para o TDAH em uma amostra de 1.013 adolescentes brasileiros, de 12 a 14 anos de idade. Na fase de diagnóstico, um psiquiatra infantil aplicou todo o critério do DSM-IV para TDAH. A prevalência do transtor- no achada nessa amostra foi de 5,8% e, segundo o estudo, é muito semelhante aos resultados encontrados em outras culturas. Como mencionado, a estimativa de prevalência de acordo com o infor- mante é importante, pois as taxas podem ser diferentes. Por exemplo, quando se usa como informantes a criança e os pais, a taxa de prevalência pode ser diferente de quando são utilizados somente os pais. Jensen e colaboradores (1995 e 1999), em seus estudos, mostraram que as taxas de prevalência varia- vam de acordo com as fontes de informações, assim, quando os informantes foram pais e crianças, a taxa de prevalência foi de 15,1%, entretanto, quando os informantes foram somente os pais, a taxa de prevalência foi de 11,9%. Quando as fontes de informação foram pais, professores e médicos, as taxas de prevalência variaram de 1 a 3%. Portanto, a estimativa de prevalência pode diminuir quando se usa mais de uma fonte para coleta de dados. As alterações encontradas entre os diferentes DSMs causam um substan- cial impacto nos estudos da prevalência do TDAH. Isso torna especialmente problemática a classificação do TDAH no sentido de mostrar quais os sujeitos que estão acima ou abaixo de um determinado ponto de corte, como relatam Scahill e Schwab-Stone (2000). Esses autores, estudando uma amostra de 450 crianças entre 6 e 11 anos de idade, demonstraram que as crianças que esta- vam apenas um pouco abaixo do limiar de sintomas dos critérios da DSM-III-R para o TDAH tinham comprometimentos funcionais significativos em relação àquelas que apresentavam poucos sintomas de TDAH. A terceira conseqüência tem relação com o comprometimento funcional, pois este influencia na variação da prevalência dos estudos transversais. Está claro que a não-inclusão do comprometimento funcional nas definições de ca- sos conduz à alta estimativa de prevalência. PRINCÍPIOS E PRÁTICAS EM TDAH 23 CARACTERÍSTICAS CLÍNICAS E PSICOSSOCIAIS RELACIONADAS COM O TDAH Sexo e idade Em amostras clínicas, os estudos encontravam uma proporção de nove meninos para uma menina. Estudos comunitários sugeriam uma taxa de qua- tro meninos para cada menina. Assim, Brown e colaboradores (2001) mostram que é alta a prevalência em meninos, em torno de 9,2%, enquanto em meninas a taxa é de 3%. O DSM-III estimava a prevalência de TDAH em 10,1% dos meninos e 3,3% das meninas na faixa etária entre 4 a 11 anos de idade e em 7,3% dos meninos e 3,4% das meninas na faixa etária entre 12 e 16 anos de idade (Szatmari e cols., 1989). Em uma comunidade de Nova York, Cohen e colaboradores (1994), utilizando como critério diagnóstico o DSM-II-R, encon- traram taxas de prevalência de 8,5% em meninas e 17,1% em meninos na faixa etária de 10 a 13 anos, 6,5% em meninas e 11,4% em meninos na faixa etária entre 14 e 16 anos de idade; e 6,2% em meninas e 5,8% em meninos na faixa etária entre 17 e 20 anos de idade, segundo relato de AACAP (1997). No nosso meio, Brito (1995) demonstrou, nas avaliações dos professores, que meninos tinham taxas de prevalência do transtorno maiores do que meninas. Esser e colaboradores (1990) fizeram um estudo longitudinal com 356 crianças de 8 anos de idade. Os pais e as crianças responderam aos questioná- rios de Conners. Foram rastreadas 216 crianças com idade de 8 anos. Os pes- quisadores aplicaram entrevistas estruturadas nos pais e as 216 crianças foram submetidas a exames neurológicos, neuropsicológicos e testes de habilidades específicas. A amostra final foi de 108 crianças; 8,3% de meninos com TDAH e 0% de meninas. A prevalência de sintomas hipercinéticos foi de 34,3% em meninos e 26,9% em meninas; a prevalência de impulsividade foi 24,2% em meninos e 19,4% em meninas; a prevalência para a desatenção foi de 24,1% em meninos e 10,2% em meninas. Esses pacientes foram reexaminados aos 13 anos de idade, e os dados apontaram 3% de meninos com TDAH e 0% das meninas, sendo que a amostra foi de 95 meninos e 96 meninas. A prevalência para o sintoma de hiperatividade foi de 18% nos meninos e de 4% nas meni- nas. Os sintomas de desatenção e impulsividade não foram detectados. Entretanto, alguns estudos tendem a mostrar que a taxa de prevalência do TDAH é semelhante entre os sexos. Breen e Altepeter (1990), em estudo sobre diferenças comportamentais e cognitivas entre meninos e meninas com TDAH, observaram que não houve diferença significativa entre os sexos. Esse 24 LUIS AUGUSTO ROHDE & PAULO MATTOS foi o primeiro trabalho a divergir dos pesquisadores da época, quando, segun- do Gaião (2001), ainda não se predizia a igualdade da freqüência do TDAH em ambos os sexos. No Brasil, Gaião (2001) encontrou a prevalência de 3,7% para a sinto- matologia hipercinética, utilizando o questionário de Conners, que tem como critério diagnóstico a CID-10 (ver capítulo sobre TDAH em meninas). Essa pesquisadora concluiu que a sintomatologia hipercinética está presente, na mesma intensidade e freqüência, tanto em meninas como em meninos. Por outro lado, os adultos parecem ser mais tolerantes com a hiperatividade femi- nina. Este é um tema que necessita ser investigado para determinar sua influ- ência na estimativa da prevalência. Em outro estudo, Barbosa e Gaião (1997) encontraram, em uma amostra de 979 escolares de 7 a 14 anos, que a relação entre menino e menina foi de 1,7:1. Rohde e colaboradores (1999a), em pes- quisa com adolescentes, mostram uma relação entre os sexos de aproximada- mente 1:1, ou seja, 47,8% para meninos e 52,5% para meninas. Breton e colaboradores (1999) mostram a relação de dois meninos para uma menina. Esses autores comentam que a maior proporção em meninos pode ser resultado da associação de comportamentos diruptivos que levariam a uma maior procura de atendimento. Outro fato que pode levar a uma maior proporção do sexo masculino é a relação entre os diferentes tipos do TDAH e suas co-morbidades. Para o tipo predominantemente desatento, a relação é de dois meninos para uma menina. O tipo desatento estáfracamente associado com o comportamento diruptivo. A relação é de cinco meninos para uma meni- na, quando o tipo é hiperativo/impulsivo, na qual a taxa do transtorno desafi- ador de oposição é de 19%. Guardiola e colaboradores (2000) pesquisaram a taxa de prevalência do TDAH em 484 estudantes do primeiro grau, utilizando critérios diagnósticos do DSM-IV e neuropsicológicos. A taxa de prevalência foi de 18% consideran- do os critérios do DSM-IV, de 3,5% considerando os critérios neuropsicológicos e de 3,9% considerando a persistência motora. A prevalência foi maior nas crianças com 7 anos e 7 meses de idade. Esses autores sugerem que os critérios diagnósticos do DSM-IV superestimam os resultados, pois muitas crianças diagnosticadas pelo DSM-IV seriam excluídas pelos critérios neuropsicológi- cos. Cabe ressaltar que tais critérios neuropsicológicos nunca tiveram a sua validade de construto avaliada em outros estudos, e que os critérios do DSM-IV não foram aplicados por profissional de saúde mental especializado. Apenas a lista de sintomas foi derivada de entrevista com os professores. Relatam, ain- da, que o TDAH é mais prevalente em meninos quando se usa o DSM-IV, e esta diferença não é encontrada quando é usado o critério neuropsicológico. Segundo Cantwell (1996) e Biederman (1999), as meninas são subdiag- nosticadas porque têm poucos sintomas de agressividade/impulsividade, bai- xas taxas de transtorno de conduta e alto nível de co-morbidade com trans- torno de humor e ansiedade. Desse modo, a idade diagnóstica tende a ser mais avançada em relação aos meninos. Segundo os mesmos autores, o tipo PRINCÍPIOS E PRÁTICAS EM TDAH 25 combinado em meninas é mais freqüente em relação ao tipo desatento, e o de menor freqüência é o tipo hiperativo/impulsivo, conforme demonstra o gráfico a seguir: Biederman e colaboradores (2002) relatam que existe uma substancial discrepância na comparação entre o sexo dos portadores de TDAH. Essa rela- ção pode chegar a 10 para 1 nas amostras clínicas, e até 3 para 1 nas amostras populacionais. Esses pesquisadores sugerem que as diferenças entre os sexos podem ser operantes na expressão fenotípica do TDAH. Os autores estudaram sistematicamente o impacto do sexo nas características do TDAH em um grupo de crianças encaminhadas para a clínica. Foram incluídos, nesse estudo, 140 meninos e 140 meninas com TDAH, e 120 meninos e 122 meninas sem TDAH, como grupo-controle. Todos os sujeitos foram submetidos a uma entrevista diagnóstica estruturada e a uma bateria de exames neuropsicológicos para os tipos de TDAH. Obtiveram os seguintes dados como resultado: o sexo feminino estava mais associado ao tipo predominantemente desatento em relação ao sexo masculino; os meninos apresentavam mais distúrbios de aprendizagem e outros problemas de comportamento escolar em relação às meninas. As meni- nas com TDAH tinham o menor risco de co-morbidade com transtorno bipolar, transtorno de conduta e transtorno desafiador de oposição em relação aos meninos. A baixa probabilidade de as meninas apresentarem desordens psiqui- átricas, cognitivas e comprometimentos funcionais, em relação aos meninos, poderia resultar do gênero. Essas diferenças influem no cálculo de prevalência entre os sexos. 26 LUIS AUGUSTO ROHDE & PAULO MATTOS Robison e colaboradores (2002) avaliaram a taxa de diagnóstico de TDAH em consultórios clínicos em uma amostra nacional de crianças de 5 a 18 anos de idade nos Estados Unidos, entre os anos de 1990 e 1998. O diagnóstico do TDAH nessa amostra aumentou de 947.208, em 1990, para 3.234.180, em 1998. O diagnóstico de TDAH em meninas triplicou dos anos 1991/1992 para 1997/1998, enquanto, no sexo masculino, o aumento foi de 2,2 vezes. A taxa de prescrição de estimulantes para o tratamento de TDAH também aumentou significativamente entre as crianças na faixa etária de 5 a 18 anos, sendo o aumento mais acentuado também em meninas. Idade É importante afirmar que as diferentes faixas etárias teriam influência fundamental nos cálculos das taxas de prevalência. Como mencionado ante- riormente, existe maior número de pesquisas epidemiológicas na faixa etária dos 7 aos 14 anos de idade do que em outras, provavelmente pela maior faci- lidade de se diferenciar as crianças portadoras de TDAH em relação às demais nessa faixa etária. Entretanto, Kadesjo e colaboradores (2001) estudaram 132 crianças com TDAH na faixa etária de 3 a 7 anos, comparando-as com 131 crianças sem TDAH. Esses dois grupos foram submetidos ao pareamento por idade, sexo e nível socioeconômico. Poucas crianças com TDAH, 6%, pareciam ser “normais” no que concerne ao nível de atividade e de atenção em exames clínicos. Esses autores chamam atenção para a possibilidade de diagnóstico mesmo em idade pré-escolar, embora diagnosticar o transtorno seja mais difícil nessa faixa etária em razão da atividade motora normalmente aumentada nessa fase do desen- volvimento (Golfeto, 1997a e b). Os sintomas podem persistir na adolescência e na vida adulta, e nesse pe- ríodo etário o diagnóstico torna-se mais difícil. Um fator complicador no diag- nóstico para o TDAH na adolescência e na vida adulta é que as co-morbidades do TDAH são mais facilmente identificadas como o problema principal ou mais grave. Tal fato dificulta o uso de técnicas metodológicas para calcular a taxa de prevalência desse transtorno na população (Mannuzza e cols., 1998). Em um estudo sobre TDAH, com 15 anos de duração, Weiss e Hechtman (1993) referiram que 66% das crianças diagnosticadas com TDAH, quando adultas, continuavam apresentando, de forma total ou parcial, déficit de aten- ção. Lambert e colaboradores (1987), em um estudo epidemiológico, demons- traram que, cinco anos depois, 43% das crianças diagnosticadas com TDAH ainda apresentavam hiperatividade, enquanto Gittelman e colaboradores (1985), em um estudo prospectivo com adolescentes e adultos masculinos, todos diagnosticados no passado com TDAH, encontraram 32% destes com déficit de atenção e hiperatividade. Weiss e colaboradores (2000) mostram porcentagem de persistência de 60%; Barkley e colaboradores (1990) sugerem PRINCÍPIOS E PRÁTICAS EM TDAH 27 porcentagem de persistência em torno 65%; Hart e colaboradores (1994) indi- cam porcentagem de persistência um pouco acima de 60%; e Biederman e colaboradores (1996) mostram porcentagem de persistência maior do que 80%. Os estudos longitudinais de Wender (2001) mostraram taxa de prevalência entre 2 e 7% de TDAH em adultos, numa proporção de dois homens para uma mulher. Esse mesmo autor estima que de 60 a 70% das crianças que apresenta- vam TDAH continuam com esse diagnóstico na vida adulta. Concluímos, assim, que a persistência desses transtornos, apesar de estu- dos de prevalência distintos, confirma-se com uma cifra elevada (ver gráfico a seguir). Portanto, o pressuposto de que o transtorno desapareceria com a entrada na adolescência não tem suporte na literatura científica. Percebe-se, ainda, que a persistência do transtorno na vida adulta pode estar associada a um prognóstico ruim para esses pacientes. Babinsky e Lambert (1999) estudaram a relação entre TDAH, transtorno de conduta na infância e atividades criminais, utilizando o DSM-IV como critério diagnóstico. A amos- tra constou de 230 crianças do sexo masculino e 75 do sexo feminino, com idade média de 9 anos. Esses indivíduos foram estudados prospectivamente e os resultados foram comparados com os de grupo-controle, constituído por 360 presidiários, com idade média de 26 anos. Os dados foram colhidos por meio de entrevistas com os pais e os professores das crianças, e entrevistas com os presidiários. Os resultados dessa pesquisa mostram que o TDAH tipo hipe- rativo/impulsivo e os problemas de conduta na infância ocorreram indepen- 28 LUIS AUGUSTO ROHDE & PAULO MATTOS dentemente, bem como predizem risco de encarceramento parameninos e não para meninas. Ambos predispõem à criminalidade na vida adulta. A história de vida das crianças com TDAH do tipo hiperativo/impulsivo associa-se a alto risco para comportamentos anti-sociais. Crianças com transtornos de conduta têm alto risco para atitudes criminais mais graves, como assaltos, roubos e uso de armas, enquanto os hiperativos/impulsivos têm risco para atividades crimi- nais menos graves, tais como vandalismo e agressões físicas. FATORES DE RISCO A verificação de fatores de risco é fundamental nos estudos epidemiológicos sobre o TDAH e será abordada no capítulo sobre etiologia. Variáveis sociodemo- gráficas como raça, número de irmãos, idade dos pais, nível cultural familiar, transtornos psiquiátricos na família, conduta agressiva dos pais, transtorno mental materno e fatores de risco pré e perinatais são importantes. Desse modo, as taxas de prevalência podem variar significativamente em diferentes ambi- entes sociais (Livingston, 1999). Entretanto, os estudos mais consistentes com o grupo-controle em relação aos fatores de risco na literatura sobre o transtor- no são escassos. Segundo Wolraich e colaboradores (1996), a determinação dos fatores psicossociais que estão associados com o TDAH provém de informações funda- mentais sobre sua distribuição nas populações. Assim, o papel da influência psicossocial nos transtornos é, há muito tempo, de interesse na epidemiologia psiquiátrica. Um dos primeiros estudos apontados na literatura é a correlação positiva entre baixo nível socioeconômico e hiperatividade e agressividade, porém sem correlação com a taxa de desatenção. Scahill e Schwab-Stone (2000), em um estudo com 2.679 crianças na faixa etária de 4 a 16 anos, identificaram fortes associações psicossociais com o TDAH após realizarem pareamento com a idade e o sexo, tais como residên- cia urbana, única paternidade, desintegração familiar e história de doença psi- quiátrica nos pais. Scahill e colaboradores (1999), estudando 449 crianças da zona rural, observaram que o TDAH está associado a múltiplas mudanças familiares, bai- xa renda familiar, crianças que vivem em lugar superpovoado, história de do- ença psiquiátrica materna e famílias desestruturadas. Segundo Baptiste (1998), ocorre uma maior prevalência de hemorragia vaginal, pré-eclampsia e 20% de prematuridade e baixo peso ao nascer nas crianças com TDAH. Segundo esse autor, fatores de risco como anóxia, encefalites, traumatismo craniano e intoxicações por chumbo e monóxido de carbono podem estar associados a alguns casos de TDAH. Segundo Smucker e Hedayat (2001), é importante explorar a história psicossocial da família. O impacto de fatores psicossociais, tais como pobreza, desintegração social e eventos traumáticos, foi ainda pouco pesquisado. As PRINCÍPIOS E PRÁTICAS EM TDAH 29 adversidades impostas por certos fatores psicossociais aumentam os riscos para o TDAH ou o TDAH aumenta os riscos de adversidades psicossociais? São ne- cessários, ainda, estudos longitudinais que incluam análise da vulnerabilidade genética e adversidades sociais para ajudar a entender melhor esses achados. COMENTÁRIOS FINAIS A epidemiologia em psiquiatria é mais complexa do que a epidemiologia em outras áreas da medicina, como a das moléstias infecciosas, por exemplo. Ao refletir sobre a peculiaridade do ser humano, de ser único e individual, iremos nos deparar com inúmeras variáveis que nos levarão a incontáveis vie- ses. Como lidar com essas variáveis e vieses? Escalas são utilizadas para coletar dados. Será que ao somar esses resulta- dos não se está somando o que não se pode somar? Será que não se está comparando resultados que são incomparáveis? Diferentes pesquisas, que têm utilizado as mesmas escalas, com os mes- mos desvios padrão, são comparadas com resultados de outras pesquisas no que se refere à idade, ao sexo e às condições socioeconômicas. Esperava-se que tal comparação fornecesse resultados semelhantes. Será que estas escalas po- dem conduzir os sujeitos das diferentes pesquisas a dar respostas semelhan- tes? E, portanto, levar a resultados semelhantes? Os critérios diagnósticos são os mesmos, assim como o ponto de corte. O especialista faz o diagnóstico e pode induzir os pacientes em suas respostas. É difícil a pesquisa em que o especialista está num experimento cego, ou seja, ele não é isento de conheci- mentos prévios. O método nem sempre leva a resultados semelhantes, como demonstramos neste capítulo, portanto, as pesquisas são conduzidas para um conjunto de informações controvertidas. As pesquisas epidemiológicas nos fornecem acúmulos de resultados que apontam para novas pesquisas que têm como meta identificar essas controvér- sias e, se possível, chegar a conclusões unânimes, amplificar as informações e diminuir o redutivismo dos números. Com a introdução da computação, a pesquisa epidemiológica sofreu uma verdadeira revolução graças à possibilidade de aumento da capacidade dos bancos de dados, além da criação de técnicas de análises estatísticas. A compu- tação também tornou possível o aperfeiçoamento dos testes de significância estatística, cada vez mais precisos e específicos. Essa análise, em estudo de casos, poderia ser a solução para evitar pesquisas muito estruturadas e diver- gentes? E a análise poderia abrir caminho para pesquisas em situações mais abrangentes? A epidemiologia deve desenvolver técnicas de pesquisa mais apuradas para detectar as inúmeras possibilidades que cada ser humano traz dentro de si e de estabelecer relações com o meio ambiente. Assim, abre-se a possibilida- de de uma “epidemiologia clínica” da saúde mental coletiva menos biológica. 30 LUIS AUGUSTO ROHDE & PAULO MATTOS REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS AACAP OFFICIAL ACTION, Practice parameters for the assessment and treatment of children, adolescents, and adults with attention-deficit/hyperactivity disorder. J. Am. Acad. Child Adolesc. Psychiatry, v.36, n.10, p.85-112, Oct., 1997. ACHENBACH, T.M.; McCONAUGHY, S. H.; HOWELL, C. T. Child/adolescent behavioral and emotional problems: implications of cross-informant correlations for situational specificity. Psychol. 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