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As reflexões sobre o Brasil nos meados do século XX: subdesenvolvimento e dependência

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Sociologia 
 
 
 
 
 
 
AS REFLEXÕES SOBRE O BRASIL NOS MEADOS 
DO SÉCULO XX: SUBDESENVOLVIMENTO E 
DEPENDÊNCIA 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
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Sumário 
 
Introdução ...........................................................................................................................................2 
Objetivos ..............................................................................................................................................2 
1. Os anos 1950 e 1960: auge e decadência do nacional-desenvolvimentismo e do 
populismo ............................................................................................................................................2 
2. Subdesenvolvimento e dependência.......................................................................................3 
2.1 Quem foram Celso Furtado e Fernando Henrique Cardoso? .......................................3 
2.2 As teorias do subdesenvolvimento e da dependência. .................................................4 
Exercícios .............................................................................................................................................6 
Gabarito ...............................................................................................................................................7 
Resumo ................................................................................................................................................8 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
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Introdução 
Na aula passada, estudamos o tema da relação entre escravidão e racismo. 
Mais especificamente, examinamos a contribuição sociológica de Florestan 
Fernandes a respeito deles. 
Nesta aula aprenderemos sobre outro debate decisivo do pensamento 
brasileiro: aquele que envolve subdesenvolvimento e dependência. Para isso, 
estudaremos o contexto histórico no qual ele se fortalece, os anos 1950 e 1960, 
momento de ascensão e queda do chamado nacional-desenvolvimentismo. Em 
seguida, vamos conhecer brevemente as trajetórias do economista Celso Furtado e 
do sociólogo Fernando Henrique Cardoso. 
Depois, examinaremos os aspectos centrais da teoria do 
subdesenvolvimento, tal como elaborada por Furtado, e da teoria da dependência, 
formulada por Cardoso em parceria com o sociólogo chileno Enzo Faletto. 
Objetivos 
• Caracterizar as condições históricas em que surgiram as chamadas 
“interpretações do Brasil” formuladas nas décadas de 1950 e 1960. 
• Introduzir os principais aspectos das teorias sobre o desenvolvimento 
brasileiro formuladas por Celso Furtado e Fernando Henrique Cardoso. 
 
 
1. Os anos 1950 e 1960: auge e decadência do nacional-
desenvolvimentismo e do populismo 
Com a Revolução de 1930, à qual se conjugou a crise da produção cafeeira 
nacional devido à crise mundial de 1929, houve decisivas reorientações na economia 
e na política brasileira. 
A partir de então, Vargas imprimiu uma orientação ao Estado brasileiro, que 
visava colaborar para a industrialização do país, e começou-se a refletir sobre os 
principais obstáculos para o seu desenvolvimento. 
Entre as questões suscitadas nesse período estavam aquelas relativas ao 
lugar da economia brasileira na divisão internacional do trabalho e aos produtos 
produzidos por ela. As respostas encontradas para tais questão deveriam convergir 
para promover o processo de industrialização do país, visto, naquela altura, como a 
forma pela qual o país poderia superar o seu “atraso”. 
 
 
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Os debates em torno dessa questão dominaram os debates políticos e 
acadêmicos do período compreendido entre 1930 e 1964. De fato, se observarmos os 
dados, veremos que uma marca desse período, apesar das orientações divergentes 
dos diferentes governos pelos quais o país passou, foi a intensificação do processo 
de industrialização e de urbanização do país sob a orientação do Estado. 
Integrados à vida democrática inaugurada em 1946, os novos populares se 
vinculavam aos líderes políticos, dos quais o primeiro grande representante foi o 
próprio Getúlio Vargas, que, depois de deixar o posto de ditador do país, foi eleito 
presidente em 1950 – foi o período em que o populismo vigorou. 
No plano acadêmico, a questão da modernização do país era o tema-chave 
das Sociologias praticadas na Universidade de São Paulo (USP), sob a coordenação 
de Florestan Fernandes, no Instituto Superior de Estudos Brasileiros (ISEB), sediado 
no Rio de Janeiro. 
Uma das marcas do período dos anos 1950, também conhecido como “anos 
dourados”, foi a internacionalização da cultura brasileira, marcada por certo 
otimismo com o futuro do país. 
A divulgação internacional da Bossa Nova e da arquitetura modernista, bem 
como a construção de Brasília e as imagens sorridentes de Juscelino Kubitschek, 
marcaram o período. Porém, no final dos anos 1950, a economia brasileira começou 
a sofrer com a inflação e com o endividamento externo, o que prenunciava os 
momentos de crise pelos quais o país passaria no início da década de 1960. 
 
2. Subdesenvolvimento e dependência. 
2.1 Quem foram Celso Furtado e Fernando Henrique Cardoso? 
Celso Furtado nasceu em Pombal (PB) no ano de 1920. Formou-se em Direito 
na Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Tempos depois, mudou-se para 
Paris, onde defendeu seu doutorado em Economia na Universidade de Paris-
Sorbonne. 
Em seguida, passou a trabalhar na Comissão Econômica para a América 
Latina (CEPAL), órgão das Organização das Nações Unidas (ONU), instituição na qual, 
junto com o economista argentino Raúl Prebisch, criou um pensamento econômico 
inovador que ficou conhecido como “estruturalismo latino-americano”. 
Quando morava na Inglaterra escreveu o seu livro mais conhecido, Formação 
Econômica do Brasil (1958). Foi autor de diversas obras, além de ter exercido diversas 
funções públicas, entre as quais podemos destacar: a chefia da Superintendência de 
Desenvolvimento do Nordeste (SUDENE) no governo de Juscelino Kubitschek, 
 
 
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ministro do Planejamento do governo de João Goulart e ministro da Cultura do 
governo de José Sarney. Faleceu em 2004. 
Fernando Henrique Cardoso nasceu no Rio de Janeiro (RJ) em 1931. Formou-
se em Ciências Sociais pela Universidade de São Paulo (USP), instituição na qual fez 
seus estudos de pós-graduação sob a orientação de Florestan Fernandes. Exilou-se 
no Chile depois do golpe militar de 1964, onde escreveu seu livro mais famoso, em 
parceria com Enzo Falleto, Dependência e desenvolvimento na América Latina (1968), 
no momento em que trabalhava na CEPAL. 
A seguir, mudou-se para lecionar na França, de onde retornou para disputar a 
cátedra de Política na USP. Aposentado compulsoriamente pelo AI-5, fundou, junto 
com outros intelectuais, o Centro Brasileiro de Análise e Planejamento (CEBRAP). 
 Intelectual atuante no período da redemocratização, tornou-se senador pelo 
Movimento Democrático Brasileiro (MDB). 
Foi um dos fundadores do Partido da Social-Democracia Brasileira (PSDB), 
ministro da Fazenda do governo Itamar Franco, no qual se notabilizou como figura 
articuladora principal do Plano Real, e Presidente da República durante o período de 
1995-2002. 
 
 
 
01 02 
Celso Furtado F. H. Cardoso 
 
2.2 As teorias do subdesenvolvimento e da dependência. 
Celso Furtado foi o principal elaborador do termo “subdesenvolvimento” 
para explicar a formação históricada economia brasileira. Até o surgimento dessa 
teoria, pensava-se que o subdesenvolvimento era um estágio inferior de 
desenvolvimento. 
 
 
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A partir da formulação de Furtado, estabeleceu-se o entendimento de que o 
subdesenvolvimento era uma forma peculiar de desenvolvimento. Ou seja: um país 
podia se desenvolver de forma subdesenvolvida. 
Segundo o economista paraibano, a origem do subdesenvolvimento 
brasileiro seria o processo de colonização. Com o chamado “exclusivo 
metropolitano” e depois com a instauração do liberalismo econômico sob influência 
inglesa, a economia brasileira teria sempre estabelecido trocas desiguais em favor 
dos países ricos. 
Contrariando uma das teses clássicas da economia política liberal, a tese das 
“vantagens comparativas” de Furtado argumentava que o intercâmbio de 
mercadorias com valores agregados diferentes prejudicava sempre o país produtor 
de produtos primários. 
Portanto, para deixarmos essa condição para trás, era preciso uma ação 
planejadora do Estado que coordenasse a economia brasileira a fim de colaborar 
para evitar o seu desfavorecimento nas trocas internacionais. 
Isso poderia ser feito de diversos modos: com o estabelecimento de tarifas 
diferenciadas para produtos estrangeiros (a fim de estimular a produção nacional), 
com o investimento em infraestrutura (o que poderia baratear a produção de certos 
bens), com o barateamento do crédito para produtores nacionais, entre outros. 
 
DICA DE FILME 
 
 
 
 
 
 
Fernando Henrique Cardoso tornou-se um célebre a partir da formulação 
daquela que ficou conhecida como a “teoria da dependência”. 
Foram três as principais contribuições dessa teoria para a sociologia 
brasileira e latino-americana. A primeira é a ideia de que as formas de 
desenvolvimento adotadas pelos países latino-americanos dependiam dos 
Como você deve ter reparado, existem alguns pontos de 
contato muito interessantes entre as perspectivas de 
Celso Furtado e Caio Prado Júnior. 
A esse respeito, vale a pena ver o programa “Quem 
Somos nós?”, da Casa do Saber, que contou com a 
participação do professor Alexandre Saes (USP), que 
discorreu sobre o tema. 
 
 
 
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resultados dos conflitos políticos presentes neles. Assim, o desenvolvimento deveria 
ser entendido como um problema econômico e político. 
A segunda contribuição de Cardoso e Faletto foi a ideia de que a dependência 
econômica dos países latino-americanos não aparece apenas sob a forma do 
imperialismo como se pensava tradicionalmente – invasões militares estrangeiras ou 
a presença autoritária de empresas multinacionais. Segundo eles, a dependência 
econômica é introjetada nas próprias relações políticas dos países latino-
americanos, uma vez que os representantes de suas forças políticas estabelecem 
relações interessadas com as condições de dependência. 
Por fim, a outra grande contribuição da “teoria da dependência” de Cardoso e 
Falleto esteve em perceber, já no final dos anos 1950, o início do processo de 
“globalização”. Naquela altura, os dois sociólogos o chamavam de 
“internacionalização do mercado interno”, nomenclatura que descreve o momento 
marcado pela forte chegada da produção de multinacionais nos países 
subdesenvolvidos. 
Segundo eles, esse novo momento do capitalismo mundial alteraria 
definitivamente as formas de desenvolvimento que conhecíamos até então. 
 
 
SAIBA MAIS! 
 
 
 
Exercícios 
1. (UEL / 2005) “O processo de integração econômica dos próximos decênios, se por 
um lado exigirá a ruptura de formas arcaicas de aproveitamento de recursos em 
certas regiões, por outro requererá uma visão de conjunto do aproveitamento de 
recursos e fatores no país. A oferta crescente de alimentos nas zonas urbanas, 
exigidas pela industrialização, a incorporação de novas terras e os translados inter-
regionais de mão-de-obra, são aspectos de um mesmo problema de redistribuição 
geográfica de fatores. Na medida em que avance essa redistribuição, a incorporação 
Para saber mais sobre a teoria da dependência de 
Fernando Henrique Cardoso e a sua relação com a 
Sociologia, ver o artigo “Notas sobre o surgimento da 
Sociologia Política em São Paulo”, do prof. Brasílio 
Sallum Jr (USP). 
 
 
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de novas terras e recursos naturais permitirá um aproveitamento mais racional da 
mão-de-obra disponível no país, mediante menores inversões de capital por unidade 
de produto”. 
(FURTADO, Celso. Formação Econômica do Brasil. São Paulo: Nacional, 1980. p. 242.) 
 
De acordo com o texto, é correto afirmar que o autor se refere à relação entre: 
a) Modernização, trabalho e capitalismo. 
b) Diversidade cultural, imigração e monocultura. 
c) Blocos econômicos, agroindústria e concentração de renda. 
d) Latifúndio, produção em massa, empreendedorismo. 
e) Renda per capita, concentração regional e agronegócio. 
 
2. (Cásper Líbero - 2005) A morte de Celso Furtado marcou o fim de uma época de 
ouro do pensamento econômico e social brasileiro. O grande pensador foi ligado à 
escola de pensamento econômico que ficou conhecida como: 
 
a) Monetarista. 
b) Neoliberal. 
c) Liberal. 
d) Cepalina. 
e) Mercantilista. 
 
Gabarito 
1. Resposta correta: A. 
Segundo o que estudamos, o trecho sinaliza a necessidade de coordenação do 
trabalho e do capitalismo brasileiro em prol da modernização do país. 
 
2. Resposta correta: D. 
Como vimos, Furtado elaborou sua teoria do subdesenvolvimento a partir de 
seus vínculos com a CEPAL, instituição na qual trabalhou durante a parte mais 
criativa de sua vida intelectual. 
 
 
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Resumo 
O período inaugurado com a Revolução de 1930 é marcado pela 
intensificação do nacionalismo econômico e cultural. Uma das principais questões 
suscitadas por essa reorientação política dizia respeito aos entraves para a 
industrialização do país e os meios de superá-los. Entre 1930-1964, essa questão 
dominou o debate político e intelectual brasileiro. Entre os principais autores que 
refletiram sobre isso foram Celso Furtado e Fernando Henrique Cardoso. 
Celso Furtado foi o principal elaborador da categoria “subdesenvolvimento” 
para explicar a história da economia brasileira. Segundo ele, o subdesenvolvimento 
brasileiro teria origem no intercâmbio desigual entre a produção local (primária e de 
baixo valor agregado) e concentradora de renda e a produção internacional 
(produtos manufaturados e de alto valor agregado) que marca a história colonial, 
bem como a fase imperial e republicana do país. 
Contrariando um dos postulados da economia política liberal, Furtado 
defendeu a tese de que essa situação só poderia ser alteada por meio da ação 
planejadora do Estado. 
Fernando Henrique Cardoso foi um dos principais teóricos da “dependência”, 
conceito através do qual sintetizava três ideias: a) a forma do desenvolvimento dos 
países latino-americanos dependia das lutas políticas internas a eles; b) a 
dependência em relação aos países centrais era internalizada nas relações políticas 
dos países latino-americanos; c) já no final dos anos 1950 seria possível identificar 
uma nova etapa do capitalismo mundial, marcada pela chegada de capitais 
produtivos na periferia do capitalismo. 
 
 
 
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Referências bibliográficas 
CARDOSO, Fernando Henrique e FALLETO, Enzo. Dependência e desenvolvimento na América Latina. Rio de 
Janeiro: Zahar, 1973. 
 
FURTADO, Celso. Formação Econômica do Brasil. São Paulo: Nacional, 1980. 
Referências imagéticas 
Figura 1. WIKIPÉDIA. Disponível em: https://pt.wikipedia.org/wiki/Celso_Furtado#/media/File:Celso_Furtado.tif 
(Acessoem 20/01/2019, às 11h50min 
 
Figura 2. WIKIPÉDIA. Disponível em: 
https://pt.wikipedia.org/wiki/Fernando_Henrique_Cardoso#/media/File:Fernando_Henrique_Cardoso_durante_
a_d%C3%A9cada_de_1970.jpg (Acesso em 20/01/2019, às 11h55min)

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