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ARTIGO PC

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE UBERLÂNDIA 
4ª Semana do Servidor e 5ª Semana Acadêmica 
2008 – UFU 30 anos 
 
 
 
 
 
ATENDIMENTO ODONTOLÓGICO AO PACIENTE PORTADOR DE 
PARALISIA CEREBRAL 
 
Carla Silva Siqueira1 
Universidade Federal de Uberlândia. Faculdade de Odontologia – FOUFU, Av. Pará, 1720, CEP: 38900-405. Bairro 
Umuarama. Uberlândia, Minas Gerais, Brasil. 
carlassiqueira@yahoo.com.br 
 
Éverton Ribeiro Lelis1 
Universidade Federal de Uberlândia. 
evertonrlelis@yahoo.com.br 
 
Flaviana Soares Rocha2 
Universidade Federal de Uberlândia. 
flavianasoares.rocha@gmail.com 
 
Andrea Lopes de Siqueira3 
Universidade Federal de Uberlândia. 
andrea.lopesp@gmail.com 
 
Queuver Aparício de Carvalho3 
Universidade Federal de Uberlândia. 
qdcarvalho@gmail.com 
 
Maiza Segatto Cury3 
Universidade Federal de Uberlândia. 
maizasc@hotmail.com 
 
Resumo: O cirurgião-dentista deve ter conhecimento sobre os cuidados que deve ter quando se 
deparara com pacientes portadores de paralisia cerebral. Características gerais como: falta de 
destreza manual, dificuldade de comunicação, por exemplo, devem ser observadas com cuidado no 
momento do atendimento odontológico para que a manipulação bucal não prejudique o paciente. A 
paralisia cerebral é a desordem de maior importância das que afetam o Sistema Nervoso Central 
(SNC). Consiste de uma perturbação das funções somático-motoras causadas por uma lesão 
encefálica, tendo o início da incapacidade datando da primeira infância e de natureza não-
progressiva. Como principal objetivo do trabalho tem-se o de contribuir com o cirurgião-dentista 
que realiza atendimento em pacientes portadores de paralisia cerebral, delineando características 
clínicas, diagnóstico e as diversas formas de tratamento relacionando com o grau de 
comprometimento motor do paciente. Nestes termos, é importante que o profissional de saúde bucal 
tenha um conhecimento específico sobre a saúde geral e bucal dos pacientes portadores de 
paralisia cerebral para que o manejo dos mesmos seja feito com responsabilidade, atenção e 
sucesso. 
 
Palavras-chave: paralisia cerebral, controle de comportamento, atendimento odontológico. 
 
 
1
 Acadêmicos do curso de Odontologia. 
2
 Acadêmica do curso de Mestrado da FOUFU. 
3
 Cirurgiões-dentistas graduados na FOUFU. 
2 
1. INTRODUÇÃO 
 
A Paralisia Cerebral (PC) é definida como um prejuízo permanente do movimento ou 
postura resultante de uma desordem encefálica não progressiva. Pode ter como causa fatores 
hereditários ou eventos ocorridos durante a gravidez, parto, período neonatal ou durante os 
primeiros dois anos de vida (Araújo; Jaines, 1980). Estima-se que cerca de 5% dos casos são de 
natureza genética. Quando a causa encontra-se no período pré-natal (10-15%), esta é decorrente 
principalmente de infecções virais (rubéola, toxoplasmose, citomegalovírus), anóxia intra-uterina, 
toxemias gravídicas e radiação. As causas originadas no período natal ou perinatal (65-75%) 
acontecem por anóxia cerebral, prematuridade, traumatismo cerebral (hemorragia) e 
hiperbilirrubinemia. Aquelas de natureza pós-natal (10-15%) decorrem de traumatismo craniano, 
meningite e hidrocefalia (Bobath, 1989 ). Segundo Nelson, pode-se aceitar uma incidência de 1,2 a 
2,3 por mil crianças com idade escolar em países desenvolvidos, contudo, o Brasil reúne várias 
condições que favorecem a sua ocorrência, em maior escala (Araújo; Jaines, 1980). Os indivíduos 
com Paralisia Cerebral podem receber diferentes classificações dependendo do aspecto clínico que 
foi considerado. Sob o ponto de vista das alterações do tono muscular e no tipo de desordem do 
movimento esses pacientes são identificados como espástico; discinético ou atetóide; atáxico; 
hipotônico e misto (Donato, C.A., 1998). 
 Na maioria dos casos, além do prejuízo motor que está sempre presente, o paciente apresenta 
também danos associados que comprometem sua função intelectual, sensitiva, visual, auditiva, 
dentre outras. Já em 1893, Sigmund Freud publicava o texto ”Paralisia Cerebral Infantil”, em que 
destacava a importância de outros desvios que estavam associados aos distúrbios motores (Araújo; 
Jaines, 1980). Dentre as alterações mais freqüentes, encontram-se aquelas que podem interferir 
direta ou indiretamente, em maior ou menor grau na forma, função e estética do sistema 
estomatognático. Por exemplo, a deficiência mental, epilepsia, disfagia, distúrbios de via aéreas 
superiores e inferiores, xerostomia, padrão de respiração bucal, bruxismo, refluxo gastroesofágico 
(RGE), distúrbios da marcha e equilíbrio postural, etc. 
 Além desses desvios inerentes ao quadro clínico de PC, também podem constituir risco a 
saúde bucal desse grupo os fatores socioeconômicos como, baixo nível de renda familiar; alto grau 
de dependência do paciente nas Atividades de Vida Diária (AVD), características adversas do 
cuidador e a escassez de serviços odontológicos básicos e especializados, na rede pública e privada.
 
2. TIPOS DE PARALISIA CEREBRAL 
 
 Dependendo da localização das lesões e áreas do cérebro que foram afetadas, as 
manifestações podem ser diferentes. Há três formas (tipos) mais comuns e pode-se classificar um 
quarto tipo de Paralisia Cerebral que seria uma combinação de 2 ou mais formas. 
O córtex controla os pensamentos, os movimentos e as sensações. Uma anormalidade nela pode 
resultar na Paralisia Cerebral do tipo Espástica. Caracterizada por aumento e paralisia de tonicidade 
dos músculos. Pode haver um lado do corpo afetado (hemiparesia), os membros inferiores 
(diplegia), ou os 4 membros (quadriplegia). Os Gânglios da Base ajudam a organizar os 
movimentos finos e delicados. Uma anormalidade deles pode resultar na Paralisia tipo Atetóide. 
Caracterizada por distonia (variações da tonicidade muscular) e movimentos involuntários afetando 
o Sistema Extra-Piramidal. O cerebelo controla e coordena os movimentos, as posturas e nosso 
equilíbrio. Uma anormalidade nele pode resultar na PC tipo Atáxica. Esta se caracteriza por 
diminuição da tonicidade muscular, dificuldade para se equilibrar com descoordenação dos 
movimentos, podendo haver movimentos trêmulos das mãos e fala comprometida. Os tipos mistos 
de paralisia cerebral ocorrem com freqüência: quando a criança combina características dos vários 
quadros, embora tenha predominância maior de um deles. De acordo com os membros atingidos 
pelo comprometimento neuro-muscular podemos ter o grupo das displegias onde as crianças 
apresentam um comprometimento maior das extremidades inferiores do que das superiores; o grupo 
3 
das crianças com quadriplegia que apresenta um comprometimento do corpo todo e o grupo das 
hemiplegias onde a criança apresenta um dimídio (lado) do corpo comprometido. 
 
3. CAUSAS 
 
 Há 3 tipos de fatores que predominam, apesar de que as categorizações iniciais dos tipos de 
PC têm-se mostrado inconsistentes, pois uma única criança pode mudar de uma categoria 
diagnóstica para outra durante o processo de maturação. 
 
3.1 Fatores pré-natais 
 
São aqueles que aparecem antes do nascimento e citamos como principais causas: 
Alterações genéticas e/ou congênitas, sendo as mais importantes doenças infecciosas contraídas 
durante a gravidez (toxoplasmose, rubéola, herpes, sífilis), exposição prolongada e inadequada aos 
Raios-X, uso de drogas e/ou álcool durante a gravidez, hidrocefalia, hemorragias do período 
gestacional, eclampsia, diabetes gravídica, etc. 
 
3.2 Fatores peri-natais 
 
Os problemas seriam causados por complicações ocorridas no momento do parto, que 
causariam sofrimento fetal com baixa oxigenação cerebral e conseqüente lesão do Sistema Nervoso 
Central, um exemplo clássico é a falta de oxigênio. 
 
3.3 Fatores pós-natais 
 
Ocorrem após o nascimentoda criança e secundariamente a processos infecciosos do 
sistema nervoso central, principalmente encefalites e meningites, abscessos cerebrais, traumatismos 
cranianos, dentre outros. 
 
4. PREVENÇÃO 
 
 Acompanhamento pré-natal regular e boa assistência ao recém-nascido na sala de parto 
diminuem a possibilidade de certas crianças desenvolverem lesão cerebral permanente, por outro 
lado, muitas das crianças que superam situações críticas com a ajuda de recursos sofisticados das 
terapias intensivas neonatais modernas, principalmente os prematuros, sobrevivem, mas com 
seqüelas neurológicas. Portanto, apesar de ter havido uma evolução importante em termos do 
atendimento à gestante e ao recém-nascido na sala de parto, nos últimos 40 anos não houve uma 
redução significativa da prevalência da PC mesmo nos países desenvolvidos. 
 Todo esforço para que o período gestacional seja o mais saudável possível através da 
manutenção de uma boa nutrição e da eliminação do uso de álcool, fumo, drogas e medicações 
sabidamente teratogênicas deve ser feito, pois estas medidas estarão contribuindo para a prevenção 
de alguns tipos de PC. A rubéola congênita pode ser prevenida se a mulher for vacinada antes de se 
engravidar. Quanto à toxoplasmose materna, medidas de higiene, como não ingerir carnes mal 
cozidas ou verduras que possam estar contaminadas com fezes de gato são importantes. As 
gestantes com sorologia positiva devem ser adequadamente tratadas, diminuindo assim os riscos de 
infecção fetal. A incompatibilidade Rh pode ser facilmente prevenida (vacina anti-Rh+) e 
identificada. Quando a bilirrubina não conjugada no recém-nascido atinge níveis críticos, a criança 
deve ser submetida à ex-sanguíneo-transfusão (troca de parte do volume sanguíneo). O tratamento 
adequado da incompatibilidade sanguínea reduziu em muito a incidência da PC com movimentos 
involuntários. 
 
5. DIAGNÓSTICO 
4 
 
 O tipo de alteração do movimento observado está relacionado com a localização da lesão no 
cérebro e a gravidade das alterações depende da extensão da lesão. A PC é classificada de acordo 
com a alteração de movimento que predomina. Formas mistas são também observadas. Dificuldade 
de sucção, tônus muscular diminuído, alterações da postura e atraso para firmar a cabeça, sorrir e 
rolar são sinais precoces que chamam a atenção para a necessidade de avaliações mais detalhadas e 
acompanhamento neurológico. 
 A história clínica deve ser completa e o exame neurológico deve incluir a pesquisa dos 
reflexos primitivos (próprios do recém-nascido), porque a persistência de certos reflexos além dos 
seis meses de idade pode indicar presença de lesão cerebral. Reflexos são movimentos automáticos 
que o corpo faz em resposta a um estímulo específico. O reflexo primitivo mais conhecido é o 
reflexo de Moro que pode ser assim descrito: quando a criança é colocada deitada de costas em uma 
mesa sobre a palma da mão de quem examina, a retirada brusca da mão causa um movimento súbito 
da região cervical, o qual inicia a resposta que consiste inicialmente de abdução (abertura) e 
extensão dos braços com as mãos abertas seguida de adução (fechamento) dos braços como em um 
abraço. Este reflexo é normalmente observado no recém-nascido, mas com a maturação cerebral, 
respostas automáticas como estas são inibidas. O reflexo de Moro é apenas um dentre os vários 
comumente pesquisados pelo pediatra ou fisioterapeuta. Depois de colhida a história clínica e 
realizado o exame neurológico, o próximo passo é afastar a possibilidade de outras condições 
clínicas ou doenças que também evoluem com atraso do desenvolvimento neurológico ou alterações 
do movimento como as descritas anteriormente. Exames de laboratório (sangue e urina) ou 
neuroimagem (tomografia computadorizada ou ressonância magnética) poderão ser indicados de 
acordo com a história e as alterações encontradas ao exame neurológico. Estes exames, em muitas 
situações, esclarecem a causa da paralisia cerebral ou podem confirmar o diagnóstico de outras 
doenças. Em geral, o diagnóstico de paralisia cerebral sugere que o individuo em questão tem 
algum distúrbio central de postura e movimento. Além disso, o processo de identificação com 
freqüência mostra partes do corpo que estão primariamente envolvidas. 
 
6. TRATAMENTO 
 
 Não há medicamentos nem operações que possam curar uma paralisia cerebral, havendo, 
porém, diversas e inovadoras possibilidades de melhorar e minimizar seus efeitos. Estes progressos 
não são súbitos, mas demorados, avançando progressivamente e na dependência direta dos recursos 
tecnológicos, como o uso da Informática na EDUCAÇÃO e dos recursos terapêuticos colocados à 
disposição da comunidade. As crianças com PC têm muitos problemas, mas nem todos são 
relacionados com as lesões cerebrais. Citaremos apenas os que mais freqüentemente se manifestam. 
 
7. DESORDENS ASSOCIADAS 
 
7.1 Epilepsia 
 
É comum ocorrerem convulsões ou crises epilépticas, de maior ou menor intensidade e 
dentro das mais variadas formas desta manifestação neurológica, sendo mais comuns no período 
pré-escolar, estando associadas ao prognóstico e à evolução de outros problemas que atingem um 
paralisado cerebral. 
 
7.2 Deficiência Mental 
 
Com uma ocorrência de aproximadamente 50% dos casos, tem levado a distorções e 
preconceitos acerca dos potenciais destes portadores de deficiência, devendo-se diferenciar os 
diversos graus de comprometimento mental de cada criança, baseando-se em acompanhamento 
especializado e evolutivo das mesmas. 
5 
 
7.3 Deficiências Visuais 
 
Ocorrem casos de baixa-visão, estrabismos e erros de refração, que podem ser precocemente 
diagnosticados e tratados, com bom prognóstico oftalmológico, devendo-se intensificar sua 
diagnose com os novos avanços em tecnologia e a correção preventiva de danos com uso de lentes 
ainda nos primeiros anos de vida. 
 
7.4 Dificuldades de Aprendizagem 
 
As crianças com paralisia cerebral podem apresentar algum tipo de problema de 
aprendizagem, o que não significa que elas não possam ou não consigam aprender, necessitando 
apenas de recursos aprimorados de Educação Especial, integração social em Escolas Regulares, uso 
de Recursos Tecnológicos, a exemplo do uso de computadores e outros aparelhos informatizados 
para o estímulo e a busca de meios de comunicação e aprendizagem inovadores para eles. 
 
7.5 Dificuldades de Fala e Alimentação 
 
Devido à lesão cerebral ocorrida, muitas crianças com esta necessidade especial apresentam 
problemas de comunicação verbal e dificuldades para se alimentar, devido ao tônus flutuante dos 
músculos da face, o que prejudica a pronúncia das palavras com movimentos corretos, podendo-se 
recorrer a tratamentos especializados e orientação fonoaudiológica, a fim de minimizar e até 
resolver alguns destes distúrbios. E para as crianças que não falam, já contamos com os 
comunicadores alternativos e as linguagens através de símbolos. Desordens da sucção, mastigação e 
deglutição são comuns a estas crianças. Todos estes fatores contribuem para uma ingestão alimentar 
abaixo das necessidades. Além disso, muitas crianças com limitações motoras são mantidas por 
longos períodos com dietas próprias para bebês. A dieta deve ser planejada de acordo com as 
características clínicas e as limitações de cada criança. Por exemplo, para facilitar a deglutição e 
reduzir o refluxo de parte do conteúdo gástrico para o esôfago, recomenda-se manter a criança com 
a cabeça e o tronco em posição semi-elevada durante e por alguns minutos após cada refeição. Nas 
crianças com refluxo gastresofágico, as refeições devem ser de menor volume e oferecidas em 
intervalos de tempo menores para que não haja prejuízo do total de nutrientes ingeridos em um dia. 
As crianças com dificuldade para deglutirem líquidos, devem ser alimentadas com pequenos 
volumes de dietapastosa e de sucos engrossados com frutas e gelatinas procurando-se assim manter 
um bom nível de hidratação. 
 
8. TRATAMENTO ODONTOLÓGICO ESPECIALIZADO 
 
 Devido a problemas decorrentes de seu quadro, como a sialorréia (a baba incessante, por 
descontrole de musculatura oro-faríngea) há uma grande incidência de cáries, doença periodontal e 
má oclusão, que podem e devem ser prevenidas com um precoce atendimento a todas as crianças 
com PC, principalmente com a participação ativa dos pais ou parentes no processo de introdução de 
cuidados de higiene bucal e do tipo de alimentação, associados ao tratamento ambulatorial destes 
Pacientes Especiais. A melhor opção para as pessoas com Paralisias Cerebrais, quanto a um 
tratamento odontológico, é o desenvolvimento de um trabalho de Odontologia Preventiva, 
procurando-se orientar e conscientizar as famílias da necessidade de atendimento nesta área o mais 
cedo possível. O atendimento ambulatorial deve ser sempre realizado em conjunto com a família e 
por profissional capacitado. Estas pessoas têm uma necessidade aumentada para o cuidado 
preventivo odontológico; para prevenção de cárie e doenças periodontais. A maioria destes 
pacientes não apresenta plena capacidade de realizar seus cuidados bucais necessitando da ajuda de 
demais pessoas. A participação de familiares ou responsáveis nestes cuidados é fundamental para o 
sucesso do tratamento odontológico e para promoção da saúde bucal do paciente. A primeira 
6 
abordagem odontológica deve ser composta de uma aproximação com o paciente e familiares assim 
como o conhecimento das condições médicas preexistentes. Salienta-se que muitos destes pacientes 
apresentam complicações orgânicas. O melhor atendimento exige uma integração das áreas 
odontológica e médica, psicológica, social, etc. O dentista especialista realiza o exame 
bucodentário, avalia o comportamento do paciente, dos familiares, e o relacionamento entre ambos. 
Da mesma forma que para crianças normais, faz-se o condicionamento psicológico do paciente 
especial, para que se obtenha sua cooperação, antes de quaisquer outros recursos. A contenção 
física ou química somente é utilizada diante da ineficiência dos métodos psicológicos. Segundo 
Gargione, (1998), o atendimento odontológico em pacientes especiais, atualmente, pode ser feito 
em três modalidades: a normal, que é o atendimento em que existe a cooperação por parte do 
paciente, alternando-se somente o tipo de ambiente, instrumental e material odontológico a ser 
empregado; o condicionado, que utiliza técnicas de demonstração com todo o aparato odontológico, 
para que o paciente saiba, antes de ser atendido, o que será utilizado em sua boca, incluindo as de 
vibrações e ruídos que farão parte do atendimento proposto; e o sob contenção (mecânica, química, 
hipnose). Os pacientes que apresentem problemas graves no que se refere à cooperação e ao manejo 
devem ser considerados dentro do grupo com indicação para a contenção química e anestesia geral. 
Todo tratamento odontológico é considerado como parte de um programa permanente de saúde 
bucal. Dentro desse programa, as medidas preventivas e as restauradoras devem estar perfeitamente 
integradas, ficando na dependência de cada paciente, a predominância de umas sobre as outras. 
 
9. TRATAMENTOS INOVADORES E PESQUISAS 
 
9.1 Toxina botulímica 
 
 Após vários estudos e experiências controladas cientificamente, encontrou-se a utilização 
terapêutica desta toxina, transformando-a em um potencial e efetivo agente terapêutico para o 
tratamento de diversas síndromes neurológicas, inclusive as contrações musculares involuntárias, 
tão comuns aos portadores de Paralisias Cerebrais. 
 A terapêutica deve ser instituída por especialistas (neurologistas, fisiatras, ortopedistas, etc), 
por via intramuscular (injeções), em diluições salinas, sendo que a dose a ser injetada varia de caso 
a caso, dependendo da intensidade da contração muscular involuntária, da idade e da musculatura 
afetada do paciente. A indicação mais freqüente, em casos de paralisias cerebrais, são os músculos 
das extremidades inferiores (pernas, etc), que, quase sempre, interferem na marcha e na postura. O 
efeito das injeções deve ser monitorado por exames clínicos e por análise da marcha, ou dos ganhos 
e/ou melhoria da capacidade de relaxamento muscular adquirida após este tratamento. No Brasil, já 
contamos com sua utilização para tratamentos aplicados a diversos quadros, sendo que 
recentemente foi legislada a possibilidade de pagamento, através das Secretarias de Saúde, oriundo 
do Ministério da Saúde, para os pacientes que se dirigirem às Secretarias de Saúde mais próximas 
de sua residência, munidos de receita médica prescrevendo o produto, e um breve relatório escrito 
pelo especialista que acompanha o caso, descrevendo o distúrbio do movimento ou enfermidade, 
tempo de duração entre diagnóstico e início de tratamento e relacionando outros medicamentos que 
o paciente esteja tomando. 
 
9.2 Baclofen 
 
 Muitas das pessoas com Paralisias Cerebrais apresentam espasticidade e tem alterações e 
flutuações do tônus muscular, sendo portanto de interesse dos pesquisadores a descoberta de meios 
de tratar, controlar ou aliviar os sintomas decorrentes destas situações. 
 O Baclofen é uma substância que vem sendo empregada para o controle da espasticidade, 
principalmente por seus efeitos de relaxamento muscular e ação antiespasmódica. Porém provoca 
efeitos como: sedação, fraqueza, fadiga, aparecimento de alucinações e confusão mental, além de 
7 
dificuldades com o equilíbrio e a marcha. Em doses elevadas foram relatados casos de distúrbios 
respiratórios e de alterações renais e cardiológicas. 
 É um procedimento de custo elevado por ser necessária uma intervenção cirúrgica, e ainda 
pouco acessível em nossa realidade sócio-econômica, porém com indicações precisas para as 
pessoas com graves comprometimentos pela espasticidade, pela sua resultante a longo prazo (por 
exemplo um maior tempo de duração dos benefícios em relação à Toxina Botulínica). 
 
9.3 Equoterapia 
 
 A equoterapia (hipoterapia) é um tratamento com finalidades cinesioterápicas através do uso 
de cavalos, sob orientação e acompanhamento de profissionais da área de reabilitação, em processo 
de interdisciplinaridade com profissionais da equitação, saúde e educação. O cavalo é uma ajuda 
inovadora para que um ser humano, em interação com o meio ambiente, possa adquirir mais 
equilíbrio corporal e emocional. Sua principal resposta é a melhora da postura e do tônus muscular 
do usuário deste tratamento, porém há uma melhora global em termos de reabilitação, tornando a 
equoterapia um apoio indispensável para os quadros deficitários. Há ainda melhoras na coordenação 
temporo-espacial, consciência de esquema corporal e lateralidade, com reeducação de posturas e 
inibição de reflexos, com conseqüente relaxamento, o que pode ser muito útil para os casos de 
espasticidade e outras alterações de tônus muscular. Há sempre que considerar uma melhora da 
autonomia, da autoconfiança e da auto-estima de pessoas submetidas à equoterapia. 
 
10. FAMÍLIA E SOCIEDADE 
 
 Os pais das crianças com paralisia cerebral vivem um enorme problema no seu dia-a-dia, 
sentido uma profunda angústia na busca de uma cura impossível, frequentemente acompanhada por 
sentimentos de dúvida e ansiedade, marcados pela culpa por algo que poderia ter sido feito para 
evitar a lesão cerebral irreversível e pelo inevitável desapontamento pela lentidão dos progressos de 
reabilitação e as dificuldades de integração social. Para ajudar o desenvolvimento de um filho com 
paralisia cerebral aguarda-os uma tarefa exigente. Desde logo, os problemas são múltiplos: a 
criança é incapaz de segurar a cabeça, de se manter sentada, de caminhar ou, então, move-se de 
maneira descontrolada e insegura. O fisioterapeuta, aolongo de várias sessões de tratamento, 
ajudará os pais a melhor compreender os problemas da criança e a lidar com ela de forma mais 
adequada. Movimentar a criança deverá ser feito vagarosamente, dando-lhe oportunidade de se 
ajustar às mudanças de posição. O bebê poderá ter dificuldades em chamar a atenção do adulto. 
Caberá aos pais descobrir a melhor forma de integração, embora os técnicos os possam ajudar na 
descoberta do brincar, sorrir, falar, olhar/comunicar. Seguir-se-á toda uma fase de experiências 
sensoriais, através do brincar, por vezes com recurso a brinquedos adaptados a necessidades 
específicas. 
 A avaliação contínua ajudará a definir as necessidades específicas e as capacidades de cada 
criança, em cada momento, encaminhando-a para as várias estruturas de apoio - escola regular com 
ou sem apoio, centros e escolas de ensino especializado. Sempre que possível, a criança deficiente 
deverá freqüentar o ensino regular, embora, por vezes, possa ter necessidade de freqüentar, por 
períodos maiores ou menores, centros mais especializados, onde equipas transdisciplinares, 
intervindo junto da criança e da família, garantem um melhor desenvolvimento e a continuidade de 
cuidados específicos de que necessita, de maneira a tornar possível uma maior autonomia e uma 
integração mais completa na escola e na sociedade. ]Todas as crianças necessitam de contactos 
sociais para a descoberta da sua própria valorização e aceitação individual. É nesse sentido que os 
pais deverão levar os seus filhos com paralisia cerebral ao mercado, à feira, à loja, ao jardim, a casa 
dos amigos, à praia e ao campo. Visitas que devem ser acompanhadas com conversas sobre as 
novas experiências e complementadas com a participação em atividade de tempos livres e na 
convivência com a natureza. 
8 
 A criança deficiente deverá ser tratada como qualquer outro membro da família, evitando a 
super-proteção. Aos amigos e vizinhos deverá ser dita a verdade sobre a criança, o que certamente 
vai criar um círculo de pessoas dispostas a ajudar. Aliás, os pais deverão pedir e aceitar essas 
ajudas, repartindo os seus problemas. Os pais deverão ainda tentar que outras crianças brinquem 
com ela, explicando-lhes que aprecia a brincadeira, apesar de não poder mover-se como os outros. 
A integração na sociedade implica que a criança deve aprender o que deve e não deve fazer, mas a 
criança não deve ser criticada continuamente e estimulada para as atitudes corretas. A criança com 
paralisia cerebral tem o direito de crescer e ser ela própria. A ser tão independente quanto possível. 
É, sem dúvida, um enorme esforço que se exige aos pais, mas cada etapa de progresso, por pequena 
que seja, permite manter viva a esperança de haja um novo passo em frente. 
 
11. CONCLUSÃO 
 
 Considera-se que a inclusão do paciente com Necessidades Especiais no âmbito da 
odontologia seja um processo que passa não somente pelos meios de desenvolver e adaptar 
tecnologias que venha lhe favorecer, mas pela superação de preconceitos e estigmas que afastam a 
sociedade como um todo de reconhecer neste indivíduo um ser humano e sua integralidade. 
 
12. REFERÊNCIAS 
 
Araujo, E.G.; Jaines, L.T., 1980, “Vivendo o desafio: a libertação das deficiências físicas”. 2.ed. 
Ilus. José Raul Soares Winter. São Paulo, Loyola. 
Bobath, K.A., 1989, “Deficiência motora em pacientes com Paralisia Cerebral”, editora Manole, S. 
Paulo. 
Donato, C.A., 1998, “Desafiando a Síndrome de Down”. São Paulo : EDISPLAN. 
Unpred, D.A., 1994, “Fisioterapia Neurológica”, 1ª Edição, S. Paulo, Ed. Manole. 
Schwartzman, J.S., 2004, “Paralisia cerebral”. Arquivos Brasileiros de Paralisia Cerebral; 1(1): 4-7. 
Sabbagh-haddad, A.; Cipioni A.L.; Guaré R.O., 2001, “Pacientes Especiais”. In: Guedes-Pinto AC. 
Odontopediatria. São Paulo; Editora: Santos. 
Olney S.J.; Wright M.J., 1995, “Cerebral palsy”. In Campbell SK (Ed). Physical therapy for 
children. Philadelphia: Saunders:489-524. 
 
 
DENTISTRY TREATMENT OF CEREBRAL PALSY PATIENTS 
 
Carla Silva Siqueira 
Federal University of Uberlândia. School of Dentistry, Av. Pará, 1720, Zip Code: 38900-405, Uberlândia, Minas 
Gerais, Brazil. 
carlassiqueira@yahoo.com.br 
 
Éverton Ribeiro Lelis 
Federal University of Uberlândia. 
evertonrlelis@yahoo.com.br 
 
Flaviana Soares Rocha 
Federal University of Uberlândia. 
flavianasoares.rocha@gmail.com 
 
Andrea Lopes de Siqueira 
Federal University of Uberlândia. 
andrea.lopesp@gmail.com 
 
Queuver Aparício de Carvalho 
Federal University of Uberlândia. 
9 
qdcarvalho@gmail.com 
 
Maiza Segatto Cury 
Federal University of Uberlândia. 
maizasc@hotmail.com 
 
Abstract: The dentist must have knowledge about the care they should have when treating patients 
with cerebral palsy. General characteristics such as: lack of manual dexterity and difficulty of 
communication, should be observed carefully during dental exam for avoiding harmfull 
manipulation for the patient. The cerebral palsy is a disorder of the utmost importance affecting the 
Central Nervous System (CNS). It consists of a non-progressive disruption of somatic-motor 
functions caused by a brain injury and the onset of disability dating from the early childhood. The 
main objective of this work was to contribute with the dentist who performs care in patients with 
cerebral palsy, enumerating clinical features, diagnosis and treatment of various forms related to 
the degree of commitment engine of the patient. Accordingly, it is important that oral health 
professionals have specific knowledge on oral and general health of patients with cerebral palsy for 
that the management of these patients is done with responsibility, attention and success. 
 
Keywords: cerebral palsy, behavior´s control, dental exam.

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