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Resenha 3- Nu e Vestido

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O texto lido do autor Cesar Sabino é um dos nove artigos que compõem o livro “Nu & Vestido”. Seu artigo “Anabolizantes: Drogas de Apolo” baseia-se em anos de pesquisas feitas de grupos nas academias de musculação em bairros da Zona Norte do Rio de Janeiro. O grupo em destaque pelo autor é constituído de homens e mulheres que utilizam regularmente esteroides anabolizantes, ou seja, certo tipo de droga que se constitui de hormônios masculinos sintéticos, os quais proporcionam um elevado aumento da musculatura e também o surgimento de pêlos por todo o corpo e engrossamento da voz.
 O autor tem como objetivo compreender como funciona o mundo dessas pessoas que se baseiam na cultura do fisiculturismo e do body builder e relacionar o uso dos anabolizantes com a visão e o comportamento desses indivíduos. Além disso, pretende aprofundar o fato de que o uso dessas drogas tende a adesão de uma ética individualista, competitiva e masculinizante, relacionando-se também com as implicações que este fato representa para as sociedades de consumo da atualidade.
 Os anabolizantes acarretam tanto dependência psicológica, como também alteram o metabolismo orgânico. As pessoas com a obsessão de ficarem “saradas” acabam utilizando-se desses esteroides para estarem, de maneira rápida, com a melhor forma possível, com músculos e baixa porcentagem de adiposidade, sem levar em consideração os riscos que esses tipos de drogas podem acarretar. Esses usuários têm a necessidade de demonstrar uma espécie de masculinidade hegemônica, e para isso, querem ostentar um corpo sarado a qualquer custo.
 É bastante evidente que a mídia tem um papel definitivo na construção da identidade dos frequentadores assíduos de academias de musculação, como também nas milhares de pessoas não frequentadoras que têm de assistir aos corpos perfeitos expostos pela mídia e pela publicidade diariamente. Além de influenciar as pessoas para que fiquem em forma, a publicidade acaba manipulando os indivíduos para o consumo de diversos produtos de beleza.
 A mídia utiliza-se da beleza de modelos de revistas, de comerciais de TV, atrizes e outras personalidade para veicular a concepção de que mulheres magras, musculosas e exercitadas são bem sucedidas. Levando um número significativo de pessoas ao consumo de anabolizantes e produtos de beleza em busca da boa forma, que seria a chave do sucesso e da ascensão social. Vai muito além de uma simples forma física, chega a ser um fator que amplia as desigualdades sociais.
 A moda tem um papel significativo nesse contexto da forma física ideal. Ao utilizar-se de modelos extremamente magras, o estilista está implicitamente adotando um padrão, não só de beleza, mas também de elegância, como se as mulheres tivessem que ser igual às modelos para serem belas e elegantes. Os profissionais do setor da moda têm de revolucionar esse fato, é interessante que se faça o uso de diferentes modelagens para que não exista, ou pelo menos diminua significativamente essa questão do padrão da beleza.
 Foi realmente no século XXI que o uso de anabolizantes se tornou tão comum e tão frequente. No entanto, a busca obsessiva pela beleza e pela juventude sempre acompanhou a história da civilização humana. As substâncias com hormônios masculinos começaram a surgir a partir de pesquisas farmacêuticas no final do século XIX e começo do século XX. Em 1889, havia-se descoberto que injeções de líquidos extraídos de testículos de animais aumentavam a força física e a energia. A partir de então, vários outras pesquisas foram feitas com testículos de animais, mas foi somente em 1935 que a testosterona sintética havia sido inventada.
 O autor cita hedonismo e ascetismo para explicar a cultura do fisiculturismo, alegando que ambos estão interligados, assumindo a responsabilidade de que a diversão e o prazer juntam-se com o esforço e a disciplina. Ou seja, o pensamento de um fisiculturista, é o de que para estar em forma e se sentir bem e feliz é necessário que haja muito esforço ascético. 
 Pode ser feita uma comparação entre as drogas dionisíacas (maconha, cocaína, heroína), em que seus usuários passam a imagem de que são pessoas sem freios, beirando a loucura, e os anabolizantes, que seriam o inverso, seus usuários tentam construir a imagem de autodomínio, disciplina e racionalidade, através dos rígidos exercícios físicos. No entanto, eles não possuem tanta autodisciplina assim, já que o uso dos esteroides se torna um vício e uma obsessão em que parar de utilizá-los significa a perda da autonomia e de sua boa forma. 
 Portanto, as drogas dionisíacas e as apolíneas (anabolizantes) são ambas maléficas, a diferença está implícita na ideia que seus usuários conseguem perpassar para o restante da sociedade, através de seus comportamentos e até mesmo da aparência física. Os indivíduos que “tomam bomba” têm, em geral, o desejo de integração à cultura dominante, por isso aparentam ser muito belos e saudáveis. 
 Existem situações raras, em que usuários de drogas apolíneas também fazem uso das drogas dionisíacas, no entanto, eles têm um objetivo diferente dos usuários comuns dessas drogas, eles não pretendem “viajar” e sair de si. Eles alegam que a cocaína, por exemplo, pode ser utiliza com o objetivo de emagrecer, pois ela “tira a fome”, a maconha, pode ser utilizada para relaxar após um treino puxado. Nesses casos, a situação se torna ainda mais grave, pois o indivíduo está sujeito aos riscos causados por ambas as drogas.
 Ao contrário do que se pensa, a maioria dos usuários de drogas apolíneas são profissionais liberais, como advogados, engenheiros, administradores, estudantes universitários, etc. São pessoas 	que representam a camada social média carioca que buscam na ostentação da forma a demarcação das diferenças sociais, inscrevendo em seus corpos, as visões de mundo que remetem às relações de poder da sociedade. Diferentemente, dos fisiculturistas dos EUA, que são, em sua maioria, proveniente das classes baixas. Estes vêm no body building a possibilidade de ascensão social através do grande patrocínio de empresas de suplementos e de aparelhos de musculação.
 O vício de se tornar “bombado” é tão grande, que alguns homens acabam se sujeitando à prostituição homossexual, para que consigam pagar todos os anabolizantes que consomem, suprindo assim, sua necessidade de se tornar másculos e fortes. Esses seriam denominados os “enrustidos” que existem nas academias, que segundo alguns, são os gays que não se assumem, que fingem ser aquele tipo de homem com masculinidade hegemônica por causa do corpo musculoso, justamente para esconder sua bissexualidade ou homossexualidade.
 O fato que este artigo trás é preocupante, pois os indivíduos estão cada vez mais tentando se enquadrar nos padrões de beleza da atualidade. As pessoas sabem dos riscos que os anabolizantes podem causar, sabem que esse tido de droga pode até levar à morte. Entretanto, a obsessão de ter que estar em forma para que se consiga uma ascensão social é tão grande, que essas pessoas simplesmente assumem todos os riscos. O corpo tornou-se uma espécie de mercadoria, objeto descartável, podendo ser facilmente consumido e substituído por outro. É necessário que haja uma mudança radical para mudar essa realidade, e isso deveria vir, primeiramente, por parte da mídia, no entanto, essa ideologia está bem longe de ser concretizada.
BIBLIOGRAFIA
GOLDENBERG, Mirian (org) – (2007) NU & VESTIDO, SP/RJ. Ed. Record.
(pp. 139-188)
UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEARÁ
CENTRO DE HUMANIDADES
DEPARTAMENTO DE CIÊNCIAS SOCIAIS
CURSO DE DESIGN DE MODA
KÁTIA DOS SANTOS ESTEVÃES
RESENHA DO ARTIGO “ANABOLIZANTES: DROGAS DE APOLO”
FORTALEZA
2012

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