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76
Unidade II
Unidade II
3 ESTRUTURAS SOCIAIS E FUNDIÁRIAS: ONDE ESTÁ O RURAL?
O País inventou a fórmula simples da coerção laboral do homem livre: se a 
terra fosse livre, o trabalho tinha que ser escravo; se o trabalho fosse livre, 
a terra tinha que ser escrava (MARTINS, 1986, p. 3).
[…]
O fato singular de que a economia do café, no Brasil, tenha florescido 
com base no trabalho escravo e tenha tido um segundo desenvolvimento 
espetacular com base no trabalho livre constitui referência sociológica de 
fundamental relevância para o estudo crítico de um dos complicados temas 
das ciências sociais nesse cenário peculiar: o da transição de um modo de 
produção a outro (p. 4).
Antônio Candido representou a parentela brasileira sob a forma 
de círculos concêntricos: o núcleo seria formado pela família do 
“patriarca” (ou do “coronel”), seguindo-os vários círculos concêntricos 
com parentes, agregados, etc. Acreditamos que o esquema geométrico 
mais adequado seja o da pirâmide truncada, formada internamente 
de camadas sociais sobrepostas, divididas entre si pelo dinheiro e pelo 
prestígio, pois mostra claramente a subordinação de umas camadas a 
outras (QUEIROZ, 1976, p. 189).
3.1 O mapa do texto
Agora, estamos pensando principalmente com a cabeça. As soluções pelo labor que acabamos de ver 
suscitam sua própria superação intelectual. E como disse Hannah Arendt, embora a superação tenha se 
dado como disjunção do social completo em que o atendimento de nossa própria natureza devesse ser 
mais do que suficiente, quisemos mais. Sempre flertamos com o ideal fáustico!
Situados, procuramos as pessoas e suas coisas no campo e na cidade, como organismos vivemos, e 
daí passamos a elaborar e a estruturar tais experiências; diremos que com a cabeça; mesmo que o corpo 
todo seja pensante, a cabeça é, no senso comum, articuladora dos estímulos, dados e informações; plano 
da razão técnica, razão prática: construções comuns (utensílios, abrigos) e respostas míticas para a 
existência. Estamos falando de soluções corporais, mesmo ao nos referirmos ao intelecto, no nível básico 
da sobrevivência, espiritual e físico.
77
SOCIOLOGIA RURAL E URBANA
Gostamos desse caminho analítico (muito ao gosto de Merleau-Ponty) e as práticas, as 
inteligências práticas de criação, de soluções imediatas de problemas da existência, como criar, 
cultivar, coletar etc., trazem-nos o engenho humano na elaboração/construção de equipamentos, 
desenvolvimento de recursos tecnológicos gerais e específicos; a caminho do intelectual, é mais 
operacional que reflexivo.
Agir para resolver problemas no mundo da vida, bem abaixo do fluxo dos pensamentos; das 
experiências da vida, avançamos um pouco para as experiências sobre a vida, sobre o modo de processar 
os recursos necessários no curso do labor. Cabeça é a “parte” eleita do corpo-sujeito percipiente das 
respostas comportamentais no plano do irrefletido.
É assim que o exercício da razão (metaforicamente na cabeça) leva às realizações técnicas humanas, 
em prolongamento das mais elementares já engendradas nos labores, nessa dimensão humana há a 
articulação de capacidades, virtualidades e realizações da vida coletiva, pequenas em aglomerações ou 
aldeias (MUMFORD, 1965, p. 13-15).
A vida coletiva evoca evolução de meios, mas também alienação progressiva do habitante político da 
pólis, dos vizinhos nos bairros das paróquias, à cidade de distritos vazios e exíguos de intersubjetividade 
direta, nas bases de novas vivências empobrecidas de trocas mais imediatas.
As estruturas do título emergem como organização e disposição dos habitantes, seus endereços e 
espaços que lhes permeiam. E delas, de suas configurações e conteúdos atuais, perguntamos ao longo 
do texto como poderemos tecer novas estratégias para melhorar as coisas, com os olhares, as visões e 
buscas necessárias, respostas econômicas e organizacionais, alternativas.
É assim que o ser humano, ao viver e fazer, estabelece relações ambientais e culturais valorizando 
suas relações sociais; e organiza formas de trabalho como valor e relações que se territorializam na 
variedade de hábitats como soluções socioespaciais: vida tradicionalmente nos meios rurais e nas 
cidades, animadas pelo processo de urbanização.
3.2 Procurando as pessoas e seus modos de vida
Segundo Mazoyer (2010); Haviland (2011); Mumford (1965); e Pinsky (2011), a vida humana se 
manifesta, desde sua aurora até os dias de hoje, como interações multidimensionais de cunho social 
entre pessoas, de modo que as combinações das condições espaço-temporais específicas explicariam a 
diversidade de expressões sociais da existência. Nesse caso, todos os agrupamentos, sejam do neolítico 
ou da contemporaneidade, apresentam-se como elaborações e construções determinadas pelo trabalho 
que realizam obrigatoriamente como cobrança da vida pela permanência.
O que parece evoluir na espécie homo é a busca do humano (uma existência distintiva entre os 
demais seres), por uma busca dessa humanidade, que se expressa primeiro como intuição das diferenças 
nas formas de sobrevivência, tanto como coletores, agricultores e domesticadores e transformadores, 
até degenerar na cultura antropocêntrica hegemônica.
78
Unidade II
Portanto, mais importante do que fazer etnografia de povoados ou de regiões rural-agrárias de um 
lado, ou de aglomerações urbano-citadinas de outro – como forma de hipostasia dos fluxos temporais 
ou monumentalização da história –, é entender as interações humanas como aparentes miscelâneas.
Muito desse amálgama humano (cidades e campos interpenetrando-se, espacial e temporalmente, 
nas formas tão diversas quantas sociedades existem) se deve à complexificação de processos 
de várias dimensões sociais, como industrialização (econômica), urbanização, metropolização 
(sociológico-geográficas), socialização e sociabilidade (sociologia e antropologia), institucionalização e 
poder (ciência política), globalização ou reticulação ou enredamento de informação, objetos e pessoas 
(para o pensamento interdisciplinar).
Apoiamos nosso raciocínio de junção em Raymond Williams (1989), mais especificamente quando 
o autor considera tanto sua experiência de habitante de área rural quanto das vidas de seu pai e de seu 
avô. Tais experiências patrilineares, trazidas pelas recordações de Raymond Williams, são carregadas 
de afetividade, evocativas de sua memória com forte acento geográfico, ao modo de uma cartografia 
emocional bastante detalhada em decorrência de suas vivências atravessadas pela espacialidade das 
localizações das atividades dos familiares que ele herda de suas raízes parentais.
A afetividade é enaltecida pela patrilinearidade, quando conta do avô, do pai, passando por ele 
mesmo, cujas historicidade e territorialidade conhecidas lhes permitem atribuir valores sentimentais 
aos lugares ocupados e desocupados por moradia e trabalho dos protagonistas de sua narrativa, 
reconhecendo valores diversos, inclusive monetários. Aborda a transformação territorializada das redes 
pessoais, institucionais e corporativas constituídas pelos sujeitos de sua história pessoal.
A genealogia dramática de Williams (1989) liga vertical e horizontalmente os lugares, constituindo 
lugaridades – ou microterritorialidades, no sentido de essências empregado por Holzer (2013) – pelas 
biografias de seus familiares mais próximos que conectam campos e cidades, com a mediação simbólica 
da aldeia em que também ele próprio morou, que lhe possibilitou vivenciar essas realidades conceituadas.
Tais alusões põem-nos a pensar sobre o quanto até mesmo o trivial nos escapa: o que é o condomínio 
ou a rua em que moramos? Muito menos conhecemos os ingredientes e a profusão de aditivos artificiais 
do que compramos nos supermercados e o que comemos nas cadeias de fast-food.
Vamos considerar algumas teorias sobre os espaços sociais rurais e urbanos:as ciências sociais 
(sociologia e suas interfaces com a geografia, antropologia, demografia e com as ciências políticas) e 
suas linhas de pesquisa das relações nas cidades, nos campos de moradia e cultivo e de seus vínculos.
3.3 Cultivando e criando o mundo: além da coleta
As regiões do mundo nas quais os grupos humanos, vivendo exclusivamente 
da predação de espécies selvagens, transformaram-se em sociedades vivendo 
principalmente de exploração de espécies domésticas, são finalmente pouco 
numerosas, não muito difundidas e bastante afastadas umas das outras. 
Elas constituíam o que chamamos centros de origem da revolução agrícola 
79
SOCIOLOGIA RURAL E URBANA
neolítica, entendendo que o termo “centro” designa uma área, e não um 
ponto de origem. A partir de alguns desses centros, que nomearemos centros 
irradiantes, a agricultura, em seguida, se estendeu para a maior parte das 
regiões do mundo (MAZOYER, 2010, p. 100).
Neste momento do texto, em que o rural distingue-se do agrário, tomamos contato com perdas de 
ritos e tradições, atropelados por processos políticos de aplanamento social travestidos, fantasiados de 
modernização jurídica dos costumes. E fazemos, então, uma guinada em direção à dimensão econômica 
da sociedade, falamos de atividades agrárias como setor produtivo, além de modo de vida, dos negócios 
do campesinato histórico ao trabalhador rural moderno, há muitas mudanças, como as descritas nos 
trabalhos de Margarida Maria Moura, como Os camponeses, Os deserdados da terra e Os herdeiros da 
terra. Margarida Maria Moura busca práticas sociais e saberes produtivos próprios ao modo de vida 
camponês – embora muitos acadêmicos neguem sua existência – e os apresenta. Ela os registra e 
descreve sua dinâmica diante de relações capitalistas de produção, ávidas por assimilação, incorporação 
ou subordinação de tudo que estiver no caminho da reprodução ampliada do capital.
Em Os deserdados da terra, são minuciosamente estudadas as formas de desqualificação por meio 
da incorporação das relações camponesas aos mercados de trabalho capitalistas, que vão violentamente 
assalariá-los.
Entram em cena também os circuitos produtivos agrários e urbanos, suas interdependências: funções 
(extrativas, agropecuárias, comerciais, industriais) e escalas (local, regional e internacional) clássicas e 
modernas. A vida urbana como dependente das áreas produtivas e as novas propostas de produção 
agrária nas cidades (hortas urbanas, por exemplo).
Tais circuitos são viabilizadores da produção e implicam também uma discussão sobre as ocupações 
e migrações, os movimentos populacionais que constituem as tais estruturas. Trata-se de trabalhadores 
do campo e da cidade: novas figuras trabalhistas e localizações de atividades que, como vimos em Maria 
José Carneiro (2000), formam a miríade de agentes e grupos econômicos.
Alguns termos dos estudos sobre os espaços rurais são muito importantes, embora sejam também 
obstáculos ao conhecimento; como é o caso de aldeamento, área rural, vila, cidade, metrópole, por exemplo.
O trabalho das pessoas dá-se nos lugares, nos campos e nas cidades, representado ou regulado pelas 
necessidades e pelas figuras jurídicas.
Para reforçar o raciocínio das estreitas relações entre as estruturas sociais e fundiárias, evocamos 
mais uma vez Ratzel, que posiciona o Estado como sustentáculo da ligação orgânica dos homens com o 
solo (isto é, a sociedade com seu ambiente, suas paisagens e até mesmo pátria) e, além disso.
Ratzel fazia, então, a crítica das ciências que tratavam o homem, em 
particular a sociologia, e que ignoravam sua ligação com a terra. Assim diz 
“… quer seja o homem considerado isoladamente ou em grupo (família, 
tribo ou Estado), por toda parte em que se observar, se encontrará algum 
80
Unidade II
pedaço de terra que pertence ou à sua pessoa ou ao grupo de que ele faz 
parte. Quanto ao que diz respeito ao Estado, a geografia política, após longo 
tempo, se habituou a fazer entrar em consideração a dimensão do território 
ao lado da cifra da população”.
Mas, não só a sociedade e o Estado têm uma base territorial, mas com estas 
se relacionam. Por isso, diz Ratzel, “a sociedade é o intermediário pelo qual 
o Estado se une ao solo. Segue-se que as relações da sociedade com o solo 
afetam a natureza do Estado em qualquer fase do seu desenvolvimento que 
se considere” (SILVA, 1984, p. 104).
Apesar de Henri Lefebvre defender uma visão de realização plena de urbanização das cidades 
(desprestigiando o universo rural), serve-nos sua perspectiva revolucionária, inconformista diante da 
normatização da vida social.
Lefebvre auxilia-nos com sua reflexão sobre o rural e o urbano como produtos de processos sociais 
mais amplos (1978; 2001).
Do rural ao urbano
Quantos dos nossos cidadãos, intelectuais, e até mesmo os historiadores ou sociólogos, 
percorrem nossas cidades e descobrem sua face original ou incerta extraída de sua monotonia 
ou admirando o que houver de pitoresco, e estão cientes de que essas pessoas não podem 
ser reduzidas a um amontoado acidental de homens, animais e coisas, que seu exame revela 
uma organização complexa, uma estrutura?
O estudo de uma aglomeração rural, em qualquer país, descobre equilíbrios dos mais sutis 
do que em princípio se poderia esperar: são proporcionais às extensões das terras de trabalho, 
florestas, pastagens e dos grupos de seres vivos que sobrevivem de seu pedaço da Terra. Este 
estudo, quando passa dos simples fatos objetivos aos fatos humanos que lhes dizem respeito, 
também descobre que as proporções materiais, sem serem explícita e racionalmente procuradas 
pelos homens, não são obtidas cega e mecanicamente, demonstrando uma consciência difícil 
de entender e ainda mais difícil de definir. Há aqui uma curiosa mistura de prudência, iniciativa, 
desconfiança, credulidade, rotina: sabedoria camponesa.
A análise descobre, finalmente, fissuras nessa ordem, incertezas nessa sabedoria, 
desequilíbrios mais ou menos duráveis, devidos a causas mais ou menos profundas, como: 
problemas, necessidades, tendências, conflitos, adaptações ou inadaptações. Esse organismo, 
que nem sempre somos capazes de ver, nos é dado, no entanto, olhando, com sua estrutura 
e seu horizonte. Enquanto isso, a consciência dessa comunidade organizada dissimula-se na 
vida dos indivíduos que dela participam: a realidade sensível é tão secreta quanto imediata. 
Organização e consciência contêm e continuam sua história; apresentam um passado. Neste 
lugar qualquer, existiu e viveu uma pacata vila situada numa colina, existiu muito antes das 
cidades tão conhecidas, únicas em manter e monopolizar hoje nossas esperanças e sonhos! 
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SOCIOLOGIA RURAL E URBANA
Esta cidade, que há muito está mergulhada em uma paz cinzenta e reticente, sustentou 
lutas ardentes contra senhores, príncipes ou reis. Pouco se manteve desse passado, nada 
permanece. Nada e, no entanto, tudo: a forma mesma da cidade.
Adaptado de: Lefebvre (1978, p. 19-20).
Lefebvre (2001) ajuda-nos a trazer também a cidade, pois suas preocupações com a interpretação 
das relações sociais punham-no diante de suas expressões espaciais e, portanto, mais do que entender 
a vida nos campos e nas cidades, queria era entender os processos socioespaciais que se moldavam com 
os espaços que as atividades humanas ocupavam, aproximando criticamente sua sociologia da filosofia 
e da geografia (LEFEBVRE, 1978).
Em O direito à cidade, de 2001, Lefebvre traz o mote das garantias que será retomado nos últimos 
anos de maneira mais visível, com os movimentos Occupy de reivindicações alternativas e de mais 
espaço político pelo mundo afora, além da maior evidência no centro nervoso das finanças mundiais, 
em Wall Street, principalmente, por David Harvey, em seu Cidades rebeldes (2013), como explica:
A atual onda de movimentos juvenis em todo o mundo,desde a cidade do 
Cairo até Madrid ou Santiago do Chile – para não falar da rebelião nas ruas 
de Londres, seguida pelo movimento Occupy. Wall Street iniciado na cidade 
de Nova York e que logo se estendeu a inumeráveis cidades estadunidenses 
e de todo o mundo – sugere que haja algo político no ar das cidades que se 
debatem por expressar-se (HARVEY, 2013, p. 173, tradução nossa).
Em seus trabalhos mais recentes, Harvey coloca o pensamento de Lefebvre como pedra fundamental 
do seu próprio, acompanhando, assim, Lefebvre em suas advertências quanto à necessidade de alertar 
o leitor quanto ao excesso de normatização da vida social. Em O direito à cidade, Lefebvre explica esse 
ponto de vista:
Porque muito provavelmente cada leitor já terá em mente um conjunto de 
ideias sistematizadas ou em vias de sistematização. Muito provavelmente, 
cada leitor procura um ‘sistema’ ou encontrou o seu ‘sistema’. O sistema está 
na moda, tanto no pensamento quanto nas terminologias e na linguagem. 
Ora, todo sistema tende a aprisionar a reflexão, a fechar os horizontes. Este 
livro deseja romper os sistemas, não para substituí-los por um outro sistema, 
mas para abrir o pensamento e a ação na direção de possibilidades que 
mostrem novos horizontes e caminhos. É contra uma forma de reflexão que 
tende para o formalismo que um pensamento que tende para a abertura 
trava o seu combate (LEFEBVRE, 2001, p. 9).
Segundo Lefebvre (2001), para apresentar e expor a problemática urbana, impõe-se como 
ponto de partida incontestável o processo de industrialização que, há um século e meio, é o motor 
caracteristicamente moderno das transformações na sociedade. O autor ainda afirma:
82
Unidade II
Se distinguirmos o indutor e o induzido, pode-se dizer que o processo 
de industrialização é indutor e que se pode contar entre os induzidos 
os problemas relativos ao crescimento e à planificação, as questões 
referentes à cidade e ao desenvolvimento da realidade urbana, sem 
omitir a crescente importância dos lazeres e das questões relativas à 
“cultura” (LEFEBVRE, 2001, p. 11).
Embora Lefebvre atribua papel central à industrialização moderna para explicar a urbanização, 
afirma que ela “não tem por consequência, inevitavelmente, o termo ‘sociedade industrial’, se 
quisermos defini-la” (LEFEBVRE, 2001, p. 11). Acrescentamos que também não poderíamos rotular 
a sociedade contemporânea de pós-industrial, dada sua função fundamental tanto nas cadeias 
produtivas, circuitos econômicos, quanto nos fundamentos da vida humana, que transforma 
necessidades e matéria em energia e emoções. Vejamos um pouco mais da questão, nas palavras 
de Lefebvre:
Ainda que a urbanização e a problemática do urbano figurem entre 
os efeitos induzidos e não entre as causas ou razões indutoras, as 
preocupações que essas palavras indicam se acentuam de tal modo que 
se pode definir como sociedade urbana a realidade social que nasce à 
nossa volta. Esta definição contém uma característica que se toma de 
capital importância.
A industrialização fornece o ponto de partida da reflexão sobre nossa 
época. Ora, a Cidade preexiste à industrialização. Esta é uma observação 
em si mesma banal, mas cujas implicações não foram inteiramente 
formuladas. As criações urbanas mais eminentes, as obras mais “belas” 
da vida urbana (“belas”, como geralmente se diz, porque são antes 
obras do que produtos) datam de épocas anteriores à industrialização. 
Houve a cidade oriental (ligada ao modo de produção asiático), a cidade 
arcaica (grega ou romana, ligada à posse de escravos), depois a cidade 
medieval (numa situação complexa: inserida em relações feudais, mas 
em luta contra a feudalidade da terra). A cidade oriental e arcaica 
foi essencialmente política: a cidade medieval, sem perder o caráter 
político, foi principalmente comercial, artesanal, bancária. Ela integrou 
os mercadores outrora quase nômades, relegados para fora da cidade 
(LEFEBVRE, 2001, p. 11).
3.4 Cidades gigantes
O século XX nos trouxe fenômenos de metropolização, principalmente das cidades da periferia do 
capitalismo. Essas megacidades, segundo Alves (2015), podem ser associadas a estruturas genéricas 
concentradas e concentradoras de propriedade e das diversas formas de capital, são muito bem 
representadas pela instância de governança internacional, o Fórum Econômico Mundial (FEM). Segue 
trecho do texto para ilustrar.
83
SOCIOLOGIA RURAL E URBANA
A urbanização e o crescimento das megacidades
A revista britânica The Economist publicou um mapa interativo com a evolução da 
urbanização mundial e das cidades globais no mundo entre 1950 e 2030. Em 1950, 7 em 
cada 10 habitantes viviam em áreas rurais (70,4%).
Dos 29,6% habitantes das zonas urbanas, a maior quantidade (17,7%) vivia 
em cidades com menos de 300 mil habitantes. As cidades entre 300 mil e 500 mil 
habitantes abarcavam apenas 2% da população mundial. As cidades entre 500 mil 
e um milhão de habitantes abarcavam 2,6% da população mundial. Aquelas entre 1 milhão e 
5 milhões de habitantes abrigavam 5,1% da população mundial. As cidades entre 5 milhões 
e 10 milhões de habitantes absorviam 1,3% da população mundial.
Em 1950, as megacidades, aquelas com mais de 10 milhões de habitantes, abarcavam 
somente 0,9% da população mundial. Somente as áreas metropolitanas de Nova Iorque e 
Tóquio estavam classificadas nesta última categoria. O maior município do Brasil, em 1950, 
era a cidade do Rio de Janeiro, com 2,4 milhões de habitantes, superando São Paulo que 
tinha 2,2 milhões de habitantes.
No ano 2000, a percentagem da população rural caiu para 53,4%. Dos 46,6% 
habitantes das zonas urbanas na virada do milênio, a maior quantidade (21,9%) ainda 
vivia em cidades com menos de 300 mil habitantes. As cidades entre 300 mil e 500 mil 
 habitantes passaram a abarcar 3,1% da população mundial. As cidades entre 500 mil e 
1 milhão de habitantes abarcavam 4,3% da população mundial. Aquelas entre 1 milhão 
e 5 milhões de habitantes abrigavam 9,8% da população mundial. As cidades entre 
5 milhões e 10 milhões de habitantes absorviam 3,4% da população mundial. 
As megacidades, aquelas com mais de 10 milhões de habitantes, deram um grande salto 
para 4,2% da população mundial.
A China e a Índia foram os países que apresentaram o maior número de megacidades 
no ano 2000. Na América Latina, as áreas metropolitanas do México, São Paulo, Rio de 
Janeiro e Buenos Aires passaram a ser consideradas megacidades, assim como a cidade 
do Cairo na África.
As projeções para o ano 2030 indicam uma maioria da população urbana 
(60%) sobre a rural (40%), sendo que 23% deve estar nas cidades com menos de 
300 mil habitantes. As cidades entre 300 mil e 500 mil habitantes devem abarcar 
3,8% da população mundial. As cidades entre 500 mil e um milhão de habitantes 
devem absorver 6,1% da população mundial. Aquelas entre 1 milhão e 5 milhões de 
habitantes devem abrigar 13,4% da população mundial. As cidades entre 5 milhões 
e 10 milhões de habitantes devem ser abrigo de 5,2% da população mundial. As 
megacidades com mais de 10 milhões de habitantes devem chegar à casa de 8,6% da 
população mundial.
84
Unidade II
Quase 9% da população mundial viverá nas 41 megacidades (aqueles com mais de 
10 milhões de habitantes) em 2030. A Ásia será responsável por mais da metade das 
29 megacidades do mundo. Mas é na África que deve ocorrer o maior crescimento 
demográfico e a urbanização mais rápida. Kinshasa, capital da República Democrática 
do Congo, verá a sua população aumentar cem vezes a partir de 200 mil habitantes em 
1950 para cerca de 20 milhões de habitantes na projeção para 2030. Lagos, a cidade 
mais populosa da Nigéria, terá mais de 24 milhões de residentes em 2030, assim como 
Cairo no Egito.
Como mostraram outros autores, a transição urbana acontece de forma 
sincrônica com a transição demográfica, sendoque ambas abrem uma grande 
janela de oportunidade para a melhoria das condições de vida de todos os cidadãos 
do mundo. Por exemplo, a esperança de vida ao nascer da população mundial 
passou de 47 anos no quinquênio 1950-55 para 70 anos no quinquênio 2010-15. 
A mortalidade infantil caiu de 135 por mil para 37 por mil no mesmo período. 
Também houve aumento da renda e dos níveis educacionais dos habitantes do 
globo neste período. Portanto, o processo de urbanização e de crescimento das 
megacidades tem sido acompanhado por maiores direitos e avanços de cidadania 
em relação àqueles das populações rurais.
Porém, o crescimento exponencial da população e da economia tem provocado 
uma deterioração das condições ambientais do planeta, o que já está comprometendo 
o futuro do progresso civilizacional, diante de uma natureza devastada. Diversos 
estudos mostram que a concentração urbana é menos danosa do que o espraiamento 
demográfico suburbano e rural. Mas os desafios gerados pela especulação imobiliária, 
pela imobilidade urbana, pela segregação habitacional, pela demanda de serviços 
ambientais e pela poluição exigem soluções urgentes para evitar que as grandes cidades 
virem um barril de pólvora, que pode explodir detonando as condições de vida humana 
e não humana do planeta.
Adaptado de: Alves (2015).
Dado tamanho dinamismo e agigantamento, assuntos como a relação população e recursos 
torna-se o grande mote do nosso tempo. O texto anterior coloca questões acerca dessa problemática 
da quantidade, à qual acrescentamos a da distribuição e do acesso; isto é, a própria questão fundiária, 
aqui, sempre presente, permeando nosso livro-texto.
Estruturas fundiária e social entrecruzam-se nas paisagens (onde há trabalho, de que tipo, quanto 
e como promove acesso ao seu produto), aí sendo lidas as intenções e os pactos sociais responsáveis 
pelos resultados, que, no caso do Brasil, são profundamente desoladores, apesar das melhorias 
(insustentáveis sem educação política básica).
85
SOCIOLOGIA RURAL E URBANA
 Saiba mais
A questão agrária brasileira articula-se às questões fundiária e da pobreza, 
por isso é fundamental estudá-las. As políticas territoriais estão na base da 
geografia da produção e da distribuição de produtos, sendo as mais importantes 
à compreensão do modelo de propriedade brasileira a lei portuguesa de 
concessão de sesmarias, de 1375, Lei de Terras de 1850 e Estatuto da Terra de 
1964. Seguem referências de quatro abordagens sobre o tema:
HOLSTON, J. Cidadanias insurgentes: disjunções da democracia e da 
modernidade no Brasil. São Paulo: Companhia das Letras, 2013.
JAHNEL, T. C. As leis de terras no Brasil. Boletim Paulista de Geografia. 
São Paulo, AGB. n. 65, p. 105-116, 1987. Disponível em: <http://www.agb.
org.br/publicacoes/index.php/boletim-paulista/article/view/968/860>. 
Acesso em: 21 maio 2019.
MARTINS, J. S. A questão agrária brasileira e o papel do MST. In: STEDILE, 
J. P. (Org.). A reforma agrária e a luta do MST. Petrópolis: Vozes, 1997.
OSÓRIO, S. L. Na terra, as raízes do atraso. História Viva, n. 1, p. 72-77, 
nov. 2003.
É muito importante compreender de que forma o tema do acesso à terra é atual. A sociologia deve 
procurar as associações ao redor da propriedade e do trabalho, bem como a gama de significados 
ou nexos que emergem dessas relações; isto é, vínculos em vários níveis e com formas e motivações 
diferentes, como processos mutuamente interferentes. É assim que o trabalho remete ao tempo livre, às 
festas, às práticas religiosas, à vida em família, lazeres, convivência, além de demais padrões.
Veremos agora a agroindústria puxando a locomotiva da economia, com seus modelos característicos 
de modo controvertido de produção e de trabalho.
3.5 Rural agrário e os horizontes do urbano
É preciso que se diga: somente pensamos cidade e campo em termos regionais, pedindo assim 
ajuda aos conhecimentos clássicos da geografia. Cidade e campo são, do ponto de vista territorial, 
regiões de nossa estrutura municipal e federativa. Os termos da produção envolvem a lida com o espaço 
geográfico quanto às transformações que vão da matéria na natureza à apropriação social dos recursos 
no território.
Sauer (1992) trata das distorções do nomos na ocupação e na transformação da terra e na 
evolução das paisagens pelos usos da agricultura e da pecuária comerciais, ajudando-nos a 
86
Unidade II
explicitar a gênese do processo de concentração de capital de sobrevalorização do alimento num 
mundo faminto e mal alimentado.
O autor vai ao âmago da sustentabilidade, já na década de 1950, questionando as bases do 
desenvolvimento e o teor da insustentabilidade ambiental:
Será que precisamos perguntar se ainda há o problema da escassez de 
recursos, um equilíbrio ecológico que alteramos ou [do qual] desdenhamos, 
colocando em risco o futuro? Foi astuto o Wordsworth da primeira era 
industrial dizendo que “ao obter e gastar recursos, esgotamos nossas 
possibilidades?” São nossas habilidades recém-descobertas de transformação 
do mundo, tão bem-sucedidas no curto prazo, adequadas e utilizadas com 
sabedoria, para além da responsabilidade das pessoas que vivem hoje em 
dia? Com que propósitos estamos comprometendo o mundo com um ritmo 
crescente de mudanças? (SAUER, 1992, p. 21).
O autor lança seu olhar arguto sobre nosso modelo de desenvolvimento, sublinhando que o forte 
aumento na produção nos últimos anos é devido somente em parte a uma melhor recuperação 
ambiental, com uso mais eficiente de energia e substituição das fontes escassas pelas abundantes. 
Em essência, temos esgotado mais rapidamente os recursos acessíveis que conhecemos. Então, não 
deveríamos admitir que muito do que chamamos de produção não é apenas extração?
Mesmo aqueles chamados de recursos renováveis não estão sendo renovados. Apesar de uma 
melhor utilização e substituição, o cultivo de madeira, por exemplo, segue ainda atrasado em relação à 
exploração e às perdas; as florestas e os extratos mais baixos estão sendo explorados, e a deterioração de 
áreas florestais é difundida. Grande parte do mundo está em um período de demanda de madeira, sem 
meios conhecidos de substituição (SAUER, 1992). Há alternativas sustentáveis de materiais desenvolvidos 
nas últimas décadas, mas sem efetivamente entrar no mercado por outra razão que não a lucratividade, 
como é o caso emblemático de nossas embalagens de tetra pak, PET e plásticos em geral.
A agricultura comercial requer um grande capital de giro e depende de um alto grau de mecanização 
e adubação. Estimativas apontam que grandes parcelas do lucro líquido das fazendas vão para a compra 
de equipamentos duráveis, necessários ou não. Quanto mais se converte a produção agropecuária 
tradicional em indústria e negócio, menos resta da antiga atividade com a qual o homem vivia em 
harmonia com a sua terra. Falamos com satisfação de liberar a população rural da fazenda para a “vida 
livre” nas cidades (esse é o imaginário e a voz generalizada dos cientistas do fenômeno urbano, nem 
sempre confirmados na vida efetiva do migrante), e contabilizamos uma economia de horas em pessoas 
ocupadas em unidades de produção nas fazendas e em áreas plantadas; resultantes da tecnificação das 
atividades agrárias associada aos modelos de titulação e propriedade da terra (dependência financeira 
dos canais de crédito e subsídios governamentais). Em algumas áreas, o agricultor fazendeiro está se 
tornando um morador da cidade, que contrata uma equipe por curtos períodos para plantio, cultivo 
e colheita. O aparato produtivo, tudo aquilo que caracteriza historicamente uma fazenda como 
unidade produtiva, do jardim ao estábulo, celeiro, currais e muitos lotes de cultivo da fazenda estão 
desaparecendo em muitas regiões, junto com um modo de vida, enquanto as famílias de agricultores 
87
SOCIOLOGIA RURAL E URBANA
tornam-setão dependentes do merceeiro, do açougueiro, do padeiro, do leiteiro e do vendedor de 
combustível como os seus conterrâneos da cidade. Trata-se de profundas alterações nas paisagens e 
nas modalidades de trabalho, isto é, na própria divisão territorial do trabalho, distribuindo as atividades 
conforme novas atribuições externas (das grandes sedes do capital) de papéis das categorias profissionais 
(o camponês, antes fundamental, cede lugar a funcionários, a equipes contratadas por empreitada e 
mesmo terceirizadas); mudança de peso das próprias áreas produtivas nas economias local, regional e 
nacional, cada vez mais globalizadas.
Ao se tornar de fato capital, a fazenda, na forma de terras e benfeitorias, exige a manutenção de 
registos nos livros de contabilidade sobre os ativos e riscos, o agricultor passa a ser o operador de uma 
fábrica especializada em produtos, seja ao ar livre ou não, preocupados com a maximização dos lucros. 
O aumento da demanda por capital de giro exige retornos crescentes em dinheiro; talvez isso seja o que 
queiramos dizer com as designações “intensiva” e “científica” da agricultura de extração em um grau 
crescente (SAUER, 1992).
Os atuais excedentes agrícolas não são prova de que a produção de alimentos não é mais um 
problema ou que deixará de ser o maior problema no mundo. Nossa produção tem sido assegurada 
aos custos e riscos imprudentes com finalidade de ganho imediato, que substituiu as velhas atitudes 
de viver com a terra. A mudança ganhou força especialmente quando motores substituíram animais de 
tração. A terra, antes usada para produzir aveia e outros alimentos para animais, estava disponível para 
cultivar mais milho, soja, algodão e outras culturas em grande parte para a venda e remessa.
A rotação tradicional de cereais – aveia – trevo, que protege a cobertura do solo e mantém o balanço 
de nitrogênio, começou a se desintegrar. A soja plantada moderadamente em 1920, principalmente como 
alimento, se tornou uma importante cultura de rendimento. O esgotamento de culturas e exposição do 
solo teve impulso na mudança para a agricultura mecanizada; uma pequena parte das melhores terras 
é utilizada para pastagem e feno; menos estrume animal e resíduos vegetais que são retornados aos 
campos. Sauer (1992) segue expondo razões, não contra a mecanização, mas contra a mudança de 
filosofia da produção, esta que atrela modelos de produção, gestão e instrumentos, como fertilizantes 
industriais, muitas vezes proibidos em outros países.
A própria ideia de atividades agropecuárias sustentáveis ambientalmente rejeita os aditivos químicos 
nocivos à saúde, tendo a vida humana como gabarito da reflexão (ética, antes mesmo da jurídica) e da 
ação (gerenciar, lavrar a terra, criar animais).
Os chamados cultivos em fileiras são os de maior expressão comercial, demandando cuidados durante 
a maior parte de seu período de crescimento. Portanto, oferecem pouca proteção à superfície à medida 
que crescem, e praticamente nenhuma depois de serem colhidos. Situação ideal seria aquela alcançada 
com os estratos, protegendo-se mutuamente. “Nossa agricultura comercial (ou convencional) em geral é 
mantida em expansão através do aumento da exploração da fertilidade dos solos” (SAUER, 1992, p. 22).
O modelo agrário que temos expande suas fronteiras graças às possibilidades de compra de fontes 
de nitrogênio, fósforo, potássio e enxofre, reiterando os padrões agroquímicos; esse modo de viver e 
produzir não aprende com o ambiente, mas sobre ele, externamente.
88
Unidade II
3.6 Modelos agrários atuais de produção
Os modelos agrários de produção funcionam como sistemas agrícolas e pecuários que combinam 
técnicas e tradições locais como expressão das relações entre ser humano e meio rural (agropecuária) 
e urbano (hortas urbanas e experiências de cultivos residenciais). Aos modelos estão associados perfis 
característicos de habitante e trabalhador.
Há o sistema extensivo, método mais utilizado e ainda empregado, antigo como os roçados e as plantations. 
Há também o intensivo, presente em algumas áreas do Sul e do Sudeste do País. A tais modelos correspondem 
estruturas fundiárias (organização e porte do terreno) e sociais (modo de vida, o habitar e as relações sociais).
A seguir, vê-se uma lista dos métodos mais comuns empregados nas atividades agrícolas, com suas 
respectivas organizações fundiárias.
• Intensivo: agricultura voltada para o comércio, com uso permanente do solo, rotação de culturas 
(por exemplo: soja, milho, trigo e pasto), uso de tecnologia, fertilizantes e defensivos agrícolas, seleção 
de espécies e sementes, mecanização, mão de obra pouco numerosa, mas abundante (mais do que o 
necessário para um sistema mecanizado), além do predomínio de pequenas e médias propriedades.
• Extensivo: agricultura voltada para subsistência (alimentação básica voltada para o mercado 
interno – milho, feijão, arroz, mandioca, pequenas criações, horticultura etc.). Predomínio das 
grandes propriedades com pequenos espaços cedidos a terceiros mediante o uso da meiação 
(também meação); arrendamento ou posse; uso de técnicas arcaicas de plantio; coivara (queimada); 
rotação de solos (roças itinerantes); equipamentos rústicos (enxada, foice, arado); carência de 
insumos (falta de adubo, fertilizante e sementes selecionadas) e mão de obra escassa, insuficiente 
(mesmo sendo mais numerosa do que no sistema intensivo).
• Plantations: monocultura tropical (cana, café, algodão, cacau, laranja, seringueira) com produção 
voltada para a agroindústria e/ou exportação; grandes propriedades; mão de obra assalariada, 
numerosa e barata; uso de tecnologia, insumos e rendimento elevado. Recentemente, se expande 
no Brasil a silvicultura, que consiste no plantio de árvores com produção voltada para indústria de 
papel, celulose, móveis, lenha e madeira de construção.
3.7 Formas de exploração da terra
As formas de exploração de terra podem ser classificadas das seguintes maneiras:
• Exploração direta: normalmente, pelo próprio dono e sua família. Como a maioria das propriedades 
é de tamanho reduzido, a exploração é feita diretamente pelo proprietário.
• Exploração indireta: feita por meio de parceria (meiação ou terça). O proprietário entra com a terra 
e o capital, enquanto o produtor entra com o trabalho e a técnica de produção, dividindo os riscos;
• Exploração por arrendamento: aluguel da terra baseado em acordo, entre arrendador e 
arrendatário, que atribui os riscos da produção ao arrendatário;
89
SOCIOLOGIA RURAL E URBANA
• Exploração por ocupação, posse: o ocupante busca o benefício da usucapião ou grilagem de 
terra, que consiste na ocupação mediante o uso de documentação fraudulenta;
• Agronegócio: grandes empreendimentos agropecuários, com o uso de novas tecnologias; 
pesquisas agronômicas; assessoramento de órgãos públicos, como a Embrapa; além de apoio 
de tecnopolos aliando universidades e produção, como a Escola Superior Luiz de Queiroz (USP 
Piracicaba), Unicamp, USP Ribeirão e Institutos da Unesp, entre outros no País.
 Saiba mais
Os contratos de arrendamento e parceria rural são instrumentos 
criados pelo Estatuto da Terra e de uso comum no meio agrícola. Apesar de 
parecidos, possuem uma diferença fundamental em seu conceito.
A principal diferença entre eles está descrita no Decreto nº 59.566/66, 
que regulamenta parte do Estatuto da Terra, e que conceitua cada um 
desses contratos da seguinte forma: “Art. 3º Arrendamento rural é o 
contrato agrário pelo qual uma pessoa se obriga a ceder à outra, por 
tempo determinado ou não, o uso e gozo de imóvel rural, parte ou partes 
do mesmo, incluindo, ou não, outros bens, benfeitorias e ou facilidades, com 
o objetivo de nele ser exercida atividade de exploração agrícola, pecuária, 
agroindustrial, extrativa ou mista, mediante certa retribuição ou aluguel , 
observados os limites percentuaisda Lei” (BRASIL, 1966).
Portanto, quando há a figura da remuneração (aluguel) por preço 
certo, líquido e predeterminado, independente dos riscos ou do lucro do 
arrendatário, se tem o arrendamento rural. Por exemplo, o contrato que 
prevê o pagamento de oito sacas de soja por hectare arrendado. Neste caso, 
ainda que o arrendatário tenha prejuízo, é devido o valor do arrendamento.
Já no caso da parceria rural, há o requisito da partilha de riscos, dos 
frutos, produtos ou lucros que as partes estipularem. É uma espécie de 
sociedade capital-trabalho, onde o dono da terra entra com o imóvel e 
o parceiro com o trabalho, partilhando os lucros ou prejuízos que o 
empreendimento possa ter.
LUZ, T. B. S. Conceitos e diferenças: contrato de arrendamento X parceria 
rural. Direito Rural, 17 jun. 2015. Disponível em: <https://direitorural.com.
br/diferencas-entre-contrato-de-arrendamento-x-parceria-rural/>. Acesso 
em: 14 jun. 2019.
90
Unidade II
Há anos de debates e inúmeros estudos sobre o significado normativo do Estatuto da Terra, tomado 
como instrumento modernizador (precarizador) das relações originais de trabalho, com a finalidade de 
incorporá-las ao mercado capitalista de trabalho assalariado, bem como expulsar esses trabalhadores 
de suas condições de moradia por herança, agregação, entre inúmeras formas arcaicas (no sentido 
literal, não pejorativo), com figuras jurídicas de violência. Pensamento exposto com maestria por 
Margarida Maria Moura, nos livros, palestras e aulas citados neste livro-texto.
3.8 Tipos de lavouras
Podemos classificar os tipos de lavoura em:
• Permanente: cultivo geralmente arbóreo do qual se obtém muitas safras ao longo de muitos 
anos. Por exemplo: café, laranja, cacau, manga, uva, algodão arbóreo etc.
• Temporária: cultivo geralmente herbáceo do qual se obtém uma única safra por plantio. Por 
exemplo: trigo, soja, milho, sorgo, feijão, arroz, cana, algodão herbáceo etc.
A maior quantidade de terras ocupadas destina-se às pastagens, seguida pelas matas e florestas e, 
em menor proporção, às lavouras. Tais indicadores permitem falar em subaproveitamento do espaço 
agrário, embora tenha sido observado no período de aferição do censo um aumento nas áreas dedicadas 
às lavouras (IBGE, 2009).
Em 2007, o produto de maior destaque na produção brasileira foi a cana-de-açúcar, com 
mais de 470 milhões de toneladas; enquanto o 2º lugar foi da soja, com mais de 50 milhões 
de toneladas; e o 3º lugar, o milho, com 40 milhões de toneladas. Na safra de 2007/2008, a 
produção da cana-de-açúcar atingiu o recorde de 550 milhões de toneladas, com um crescimento 
aproximado de 15%.
A área aproveitável total do Brasil seria de 269 milhões de hectares, dos quais 68,7 milhões em 
estabelecimentos familiares (25,5%) e 200,3 milhões não familiares (74,5%) (IBGE, 2009).
Nas últimas décadas, destaca-se uma melhoria na utilização do espaço agrário brasileiro a partir do 
avanço de cultivos de pastagens, grãos e outros produtos da lavoura temporária e do reflorestamento 
associado à silvicultura.
O estudo que nos parece mais interessante acerca dessa composição produtiva é a sua correlação 
com as diferentes relações sociais efetivas e possíveis.
3.9 Relações de trabalho
A problemática quanto à qualidade de vida no campo está vinculada às relações de trabalho e 
ao tipo de empreendimento rural: pequeno proprietário; grandes empresas; assalariados temporários; 
parceiros (trabalham em terra alheia); arrendatários.
91
SOCIOLOGIA RURAL E URBANA
Assim, as formas predominantes de relação são capitalistas (assalariadas e contratos de trabalho) e 
outras, não capitalistas, mas que se subordinam ao sistema. Já vimos como essa relação de incorporação 
no mercado de trabalho capitalista, como espécie de formalização, reveste-se de violência.
Entretanto, como no meio rural brasileiro, poucos são os proprietários das terras nas quais 
trabalham, essa situação acaba gerando os conflitos pela posse da terra envolvendo posseiros, indígenas, 
proprietários e, no caso da Amazônia, os seringueiros.
A falta de solução para o problema da terra tem contribuído para multiplicar os conflitos. Os camponeses, 
sem terra para cultivar, migram em busca de novas áreas ou constituem grupos invasores que são objeto 
de violência e repressão policial, o que agrava a situação no meio rural.
3.10 Principais produtos agrícolas
3.10.1 Principais lavouras
As mais tradicionais são as de produtos de subsistência: mandioca, milho, feijão e arroz, que são hoje 
disseminados em todo o País. No entanto, os cinco produtos tradicionais voltados para a exportação e 
para a agroindústria são a cana, o tabaco, o café, o cacau e o algodão.
 Observação
A cada produto principal temos culturas associadas, portanto, há 
tradições e tecnologias específicas conforme a região e a classe social 
considerada; ou melhor: as classes sociais produzem e reproduzem seus 
mundos e, juntas, as sínteses coletivas em lugares e regiões das mais 
variadas escalas.
Um produto ingressado no País apenas no século XX foi a soja, que, em conjunto com a cana, 
é o que mais se expande no território. Há inúmeras implicações sociológicas dessas determinações 
mercantis de abertura de áreas de cultivo com produtos de apelo econômico; principalmente no que 
tange ao valor das vocações produtivas regionais, determinações que não afetam apenas relações 
produtivas, mas o universo psicossocial por inteiro. O que é o lugar cujas produções são exóticas, 
cultural e ambientalmente?
Muitos dos cultivares cuja demanda é externa nem fazem parte de dietas locais. Qual é a extensão 
das consequências dessas “escolhas” de plantio e criação?
92
Unidade II
Tabela 1
Produto 
2004/05
Produção
Milhão (t)
Área colhida
Milhão (ha)
Maiores produtores 
safra 2004/2005
IBGE 2006
Cana 422,9 5,80 SP (60%), PR, MG, AL
Soja 51,18 22,94 MT (35%), PR, GO, MS
Milho 35,11 11,5 PR (24%), MG, MT, SP
Mandioca 25,87 1,90 PA (18%), BA, PR, MA
Laranja 17,85 0,80 SP (81%), BA, SE, MG
Arroz 13,2 3,91 RS (46%), MT, SC, MA 
Banana 6,70 0,49 PR (18%), BA, RS, PA
Trigo 4,65 2,36 PR (59%), RS, MS, SP
Algodão 3,66 1,25 MT (46%), BA, GO, SP
Tomate 3,43 0,62 GO (23%), SP, MG, RJ
Feijão 3,02 3,75 PR (19%), MG, BA, SP
Café 2,74 2,32 MG (47%), ES, SP, BA
Coco 2,07 0,29 BA (36%), PA, CE, PE
Sorgo 1,5 0,79 GO (33%), MG, SP, MT
Abacaxi 1,52 0,61 PB (22%), PA, MG, SP
Uva 1,23 0,73 RS (40%), SP, PE, PR
Maçã 0,85 0,35 SC (60%), RS, PR, SP
Cacau 0,21 0,66 BA (66%), PA, RO, ES
Adaptada de: IBGE (2009).
 Saiba mais
Podemos ver as áreas produtoras no mapa a seguir. Para observação 
detalhada, pode ser bastante ampliado em um dos documentos que o replicou. 
Reiteramos que a produção diz respeito a regiões e modos de vida característicos.
FOOD AND AGRICULTURE ORGANIZATION OF THE UNITED NATIONS (FAO). The 
state of Brazil’s biodiversity for food and agriculture, dez. 2017, p. 27. Disponível 
em: <http://www.fao.org/3/CA3475EN/ca3475en.pdf>. Acesso em: 14 jun. 2019.
3.10.2 Culturas permanentes
São aquelas de longa duração, que podem proporcionar colheitas por vários anos sucessivos, sem 
necessidade de novos plantios. Exemplo: café, cacau, laranja, uva, algodão arbóreo, maçã. Mato Grosso 
(Sinop, Sorriso) e Goiás (Rio Verde) destacam-se pela produção de soja e milho, com uso de tecnologia 
de ponta e rotação de culturas, o que permite que se utilize a terra o ano inteiro. Há alternância entre 
os cultivos de soja, milho, capim e a pecuária e, de novo, a soja retorna.
93
SOCIOLOGIA RURAL E URBANA
Os seguintes cultivares são testemunhos biológicos da história da ocupação e das variadas formas e 
relações de trabalho realizado. São histórias de sobrevivência, de poder, de cativeiro e de liberdade; e no 
caso brasileiro, mais que tudo, de concentração.
 LembreteÉ preciso que saibamos que, assim como cada espécie cultivada 
envolveu uma “civilização”, no sentido aproximado de que havia classes 
e cadeias produtivas internacionais associadas pelo produto com hábitos 
decorrentes, também cada propriedade rural de grande porte (a regra entre 
os cidadãos, exceto escravos, portanto) era um microcosmo social, como 
conta detalhadamente Margarida Maria Moura, José de Souza Martins e 
Antônio Candido, entre outros citados neste livro-texto.
3.10.3 Cana‑de‑açúcar
Cultivada inicialmente a partir do século XVI no litoral paulista, sem obter sucesso, foi implantada 
na Zona da Mata do Nordeste.
A zona canavieira nordestina se estende do Rio Grande do Norte ao Recôncavo Baiano, onde o clima 
tropical úmido, o fértil solo de massapé, a maior proximidade do mercado europeu e o uso da mão de 
obra escrava formada por africanos foram fatores que favoreceram a cultura canavieira, principalmente 
em Pernambuco, Alagoas e Bahia.
Com a expulsão dos holandeses nos meados do século XVII, a produção da cana entrou em decadência. Após 
1930, cresce a produção da cana na Depressão Periférica Paulista e na região de Campos – RJ, onde grande parte 
da produção destinava-se ao consumo interno, enquanto o açúcar da Zona da Mata voltava-se para a exportação.
No Brasil, são áreas de maior produção: São Paulo, na Depressão Periférica; Norte do Paraná; Zona da 
Mata nordestina (PE e AL), além do Triângulo Mineiro e Zona da Mata Mineira (MG) e região de Campos 
no norte do estado do Rio de Janeiro.
A cana está presente em todas as regiões, mas São Paulo lidera a produção, com cerca de 60% do 
total, seguido por Paraná, Minas Gerais e Alagoas. A cultura teve sua extensão atrelada ao aumento da 
demanda do açúcar e álcool. O Brasil se destaca como maior produtor mundial de açúcar (19%) e o 
segundo em etanol, após os EUA, com 36%.
Em 1975 foi criado o Proálcool (Programa Nacional do Álcool), visando à expansão do cultivo da 
cana para a produção do álcool-combustível, a fim de reduzir a importação do petróleo, que sofria a sua 
primeira grande crise em 1974.
Na atualidade, a expansão do cultivo está associada à necessidade de melhoria nas condições 
atmosféricas, com a substituição gradativa dos combustíveis fósseis pelo biocombustível.
94
Unidade II
A safra de 2007/2008 alcançou novo recorde na produção da cana, com cerca de 550 milhões de 
toneladas/anuais, mantendo o Brasil como o maior produtor mundial e exporta, sobretudo, para os 
Estados Unidos, Confederação dos Estados Independentes (CEI) e restante da Europa. As principais áreas 
produtoras no estado de São Paulo são apresentadas no Censo agropecuário do IBGE (2009), nas versões 
consolidadas, de 2006 (publicada em 2009) e nas preliminares de 2017.
3.10.4 Café
Foi introduzido no País já no século XVIII, da Guiana Francesa para o Pará. Porém só começou a ter 
importância comercial a partir do cultivo ao longo do Vale do Paraíba do Sul entre RJ e SP, ainda na 
primeira metade do século XIX. Após 1850, alcança a região de Campinas – SP e se expande em direção 
às manchas de terra roxa ao longo das Ferrovias Mogiana, Paulista e Sorocabana, até chegar ao norte 
do Paraná.
A cafeicultura do século XIX ao XX segue uma rota pelo Vale do Paraíba, norte, noroeste e oeste 
paulista, e a fase mais recente em direção ao sul de Minas Gerais, Espírito Santo e Rio de Janeiro. 
Já no início do século XX, o Brasil sofre as primeiras crises de superprodução, os problemas da retração 
do mercado durante a Primeira Guerra Mundial e o crash na Bolsa de Valores de Nova York, em 1929 
(IBGE, 2009).
Principais crises na economia cafeeira:
• 1ª crise: 1905/1909 – superprodução;
• 2ª crise: 1917 – causada por perturbações trazidas pela Primeira Guerra Mundial;
• 3ª crise: 1921 – problemas de preço no comércio internacional;
• 4ª crise: 1930 – a mais séria, decorrente da queda da Bolsa de Valores de Nova York. A consequência 
foi a queima de todo o café estocado.
Em 1937, foi criado, durante o governo de Getúlio Vargas, o IBC (Instituto Brasileiro do Café), para 
controlar a produção e promover o bom desempenho do produto dentro da economia.
O Brasil é o maior produtor mundial de café, importante gerador de riquezas desde o início da 
sua produção. Podemos classificá-lo em termos de espécies cultivadas. O café arábica apresenta bom 
desenvolvimento em terrenos acima de 900 metros de altitude e produz uma bebida de melhor qualidade. 
O estado de Minas Gerais é o maior produtor de café arábica.
O café canephora (robusta ou conilon), mais precoce, resistente e produtivo, é cultivado em terrenos 
baixos, principalmente na região de São Gabriel da Palha – ES, com plantas de maior envergadura. 
Segundo dados do Censo Agropecuário 2006, a produção de café em grão teve um crescimento de 
26%, com redução na área, o que foi compensado pelo maior rendimento médio (IBGE, 2009).
95
SOCIOLOGIA RURAL E URBANA
Após 1970, com o aumento das taxas de juros e as constantes quebras de safra decorrentes das geadas 
em períodos de floração em áreas do sul de São Paulo e norte do Paraná, o café migra para outras terras. 
As terras altas do sul de Minas Gerais, Triângulo Mineiro e Zona da Mata Mineira se especializaram na 
produção do café arábica e outros cafés finos (gourmet), mais aceitos no mercado mundial.
Por isso, Minas Gerais alcançou o 1º lugar na produção, seguido do Espírito Santo, cujas terras baixas 
e de clima mais quente favorecem o cultivo do café conilon, ou robusta, assim chamado devido ao forte 
aroma e à sua tintura. As principais áreas produtoras no estado de São Paulo estão representadas no 
mapa da Produção Agrícola Brasileira.
Atualmente, a tendência de expansão se faz para fora da área de ação de geada, ou seja, para Minas 
Gerais, Mato Grosso do Sul, Bahia e Espírito Santo.
A expansão do café acarretou sensíveis transformações na vida econômica das regiões meridionais 
do Brasil. No campo demográfico, o café imprimiu as seguintes características: povoamento do Brasil 
Centro-Meridional, com a formação de frentes pioneiras; estímulo aos fluxos migratórios para o Brasil, 
principalmente de italianos (SP); estímulo às migrações internas de outras regiões para o Sudeste e 
criação e desenvolvimento de ampla rede de cidades.
No setor de transportes, os efeitos da cafeicultura foram o desenvolvimento de uma rede ferroviária, 
sobretudo no estado de São Paulo (Cia. Mogiana de Estradas de Ferro, Cia. Paulista, Cia. Araraquarense, 
Cia. Santos–Jundiaí e Cia. Sorocabana, hoje privatizadas) e o aparelhamento do porto de Santos, sendo 
que os principais portos exportadores de café são: Santos – SP; Paranaguá – PR e Rio de Janeiro – RJ.
O Brasil permanece como o maior produtor mundial, com 2,74 milhões de toneladas em 2007, 
destacando-se Minas Gerais, com 47% da produção nacional, Espírito Santo, São Paulo e Bahia como 
os maiores produtores nacionais.
3.10.5 Cacau
Originário da floresta amazônica, o cacaueiro é um arbusto adaptado à sombra das grandes árvores, 
em áreas de clima quente e úmido. Encontrou melhores condições de cultivo nos solos argilosos do 
litoral sul da Bahia, onde há o clima quente e úmido o ano todo, e o sombreamento propiciado pela 
manutenção das árvores mais copadas da Mata Atlântica.
A safra baiana tem importante participação na produção brasileira, enfrentando crises de produção 
devido aos fungos da vassoura-de-bruxa que atacam os cacaueiros, perdendo-se a produtividade 
(SANTOS FILHO, 2014).
O solo arenoso da Amazônia desfavorece o cultivo do cacau devido ao processo de lixiviação. 
A Bahia sempre foi o maior produtor nacional, com mais de 66% da produção. Os portos de 
Malhado (Ilhéus) e Salvador se destacam na exportação do produto, enquanto Itabuna é o maior 
centro comercial de cacau na região.
96
Unidade II
Os estados do Espírito Santo, Rondônia ePará também apresentam destaque na Organização das 
Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO), organismo da ONU que, em 2011, apresentou 
os maiores produtores mundiais: Costa do Marfim, Indonésia, Gana, Camarões, Brasil, Nigéria e Malásia.
A Comissão Executiva do Plano da Lavoura Cacaueira (Ceplac) é uma autarquia que vem desenvolvendo 
estudos para a lavoura do cacau, introduzindo técnicas de enxertia e clonagem para resistir ao fungo da 
vassoura-de-bruxa. Além do manejo adequado dos produtores.
O Brasil está entre os maiores produtores mundiais de cacau, embora tenha reduzido a participação 
e não seja autossuficiente. A cultura foi revitalizada na Amazônia, principalmente nas áreas de frentes 
pioneiras de colonização, ampliando a produção na Bahia, Pará e Espírito Santo.
Os principais compradores do cacau brasileiro são, entre outros mercados, Europa, Estados Unidos, 
Japão e Argentina, sendo o Pará exportador do cacau orgânico para países da Europa.
Há outros cultivos importantes que devem ser estudados e mapeados, como:
• Soja: com um total de 51,18 milhões de toneladas, ocupando 22,9 milhões de hectares, a soja 
destaca-se como o principal produto em grão desenvolvido no Brasil, ocupando a maior área 
plantada. Apenas a cana-de-açúcar, com 550 milhões de toneladas, supera a produção da soja em 
volume, mas ocupa uma área mais reduzida (5,8 milhões ha). O Brasil alcançou a 2ª posição mundial 
na produção da soja, após os EUA. A China, que era a 2ª produtora, foi superada pelo Brasil e pela 
Argentina. Em 2006, o Brasil exportava principalmente soja e ferro para o mercado chinês.
• Algodão: o Paraná liderou a produção do algodão herbáceo por toda a década de 1980 e pela maior parte 
da década de 1990, mas foi superado pela produção do Mato Grosso. Em 2007, a produção nacional do 
algodão herbáceo atingiu o patamar de 1,25 milhões de toneladas, das quais o Mato Grosso concentra 
46%, seguido da Bahia, Goiás e São Paulo. A atual produção do Paraná é muito reduzida.
• Trigo: em 2007, a produção do trigo alcançou os 4,60 milhões de toneladas, destacando-se o 
Paraná como o maior produtor, seguido do Rio Grande do Sul, Mato Grosso do Sul e São Paulo. Os 
estados do Sul (Paraná e Rio Grande do Sul) produzem cerca de 80% da produção nacional.
• Milho: em 2007, o total da produção foi de 35,1 milhões de toneladas, superado apenas pela soja, 
tanto em volume da produção quanto em área plantada (11,5 ha). Os estados do Centro-Sul – PR, 
MG, MT e SP – se destacam na produção brasileira.
• Arroz: a safra do arroz em 2006 chegou a 13,2 milhões de toneladas, em uma área plantada de 3,9 
milhões de hectares. Em São Paulo, é tradicional a produção nos Vales dos Rios Ribeira de Iguape 
e Paraíba do Sul.
• Banana: no Brasil, a bananicultura é uma atividade bem distribuída nos diversos estados. A safra 
de 2006 chegou a 6,7 milhões de toneladas, destacando o Paraná como o maior produtor, com 
18% do total nacional, seguido da Bahia, Rio Grande do Sul e Paraná.
97
SOCIOLOGIA RURAL E URBANA
• Laranja: desde a segunda metade da década de 1980 e por toda a década de 1990, o Brasil liderou 
a produção mundial de laranja, por exportar o suco concentrado para diferentes mercados do 
Hemisfério Norte. Em 2006, a safra da laranja alcançou 17,8 milhões de toneladas, destacando-se 
São Paulo, com cerca de 80% da produção nacional, seguido da Bahia, Sergipe e Minas Gerais.
• Fruticultura: irrigada no Vale do São Francisco, a fruticultura na região destaca-se, principalmente, 
com a produção de mamão (1.800 ha), manga (1.620 ha), cítrus (1.078 ha), goiaba (360 ha) e 
coco (990 ha), entre outras, o que representa uma receita anual superior a 100 milhões de reais. 
A produção abastece o mercado nacional, principalmente Sul e Sudeste, e exporta limão, manga 
e mamão para França, Inglaterra, Canadá e Holanda. O cultivo da manga e da uva concentra-se 
no Vale do São Francisco, com produção voltada para exportação, destacando-se Juazeiro (BA) 
e Petrolina (PE) como grandes produtores.
3.11 Atividade pecuária
Bem como os cultivares importantes de nossa história, com aspectos positivos (ligados a crescimento 
econômico) e negativos (manejo das propriedades associado à escravidão, por exemplo), temos uma 
importante distribuição da cultura do criador de gado e, claro, do vaqueiro.
Em todas as regiões do País houve disseminação dos rebanhos. Manuel Correa de Andrade faz 
importante geografia e sociologia dessa ocupação do território colonial português desde que ocupava 
somente a faixa litorânea até sua lenta migração para os sertões, primeiramente no Nordeste, mais tarde 
ao Sudeste e Sul.
O início da atividade pecuarista, tanto no sul como no norte do País, esteve prioritariamente vinculado 
ao propósito da colonização territorial. Apenas subsidiariamente prestava-se ao objetivo de alimentar a 
pequena mão de obra utilizada na atividade criatória e os contingentes civis e militares engajados nas 
missões colonizadoras e de ampliação de fronteiras.
Durante o século XVIII, a Campanha Gaúcha passou a ser área de criação de mulas e bovinos, com 
produção voltada para o abastecimento de carne de charque (salgada) e mulas para o transporte do 
ouro na região da mineração em Minas Gerais. O transporte da carne se dava em lombos de mulas, por 
meio de caminhos de tropeiros que ligavam a Campanha Gaúcha à região da mineração.
 Lembrete
É fundamental que se reconheça a importância da identidade entre 
estrutura fundiária e social, pois não é possível separá-las nas interpretações. 
A configuração de uma é uma face da outra.
No que se refere ao rebanho de bovinos brasileiro, segundo o IBGE (2009), em 31 de dezembro 
de 2006, ele era de 171,6 milhões de cabeças; houve um crescimento de 12,1% em relação ao Censo 
Agropecuário de 1996.
98
Unidade II
Tabela 2 – Estabelecimentos e efetivo bovino, total e diferença 
entre os Censos Agropecuários de 1996 e 2006, segundo as 
grandes regiões e unidades da federação – 1996/2006
Grandes regiões 
e unidades da 
Federação
Efetivo bovino
Estabelecimentos Número de cabeças
Diferença 1996/2006
Absoluta Relativa (%)
Estabelecimentos Número de cabeças Estabelecimentos
Número de 
cabeças
Brasil 2.673.176 171.613.337 (‑) 25.021 18.555.062 (‑) 0,9 12,1
Norte 227.585 31.336.290 41.609 14.059.669 22,4 81,4
Rondônia 63.273 8.490.822 8.503 4.553.531 15,5 115,7
Acre 18.626 1.721.660 5.497 874.452 41,9 103,2
Amazonas 13.782 1.154.269 444 420.359 3,3 57,3
Roraima 4.732 480.704 301 80.765 6,8 20,2
Pará 83.163 13.354.858 20.531 7.274.427 32,8 119,6
Amapá 661 57.728 28 (-) 1.972 4,4 (-) 3,3
Tocantins 43.348 6.076.249 6.305 858.107 17,0 16,4
Nordeste 972.729 25.326.270 18.908 2.484.542 2,0 10,9
Maranhão 93.263 5.592.007 (-) 2.438 1.689.398 (-) 2,5 43,3
Piauí 75.469 1.560.552 4.928 (-) 143.837 7,0 (-) 8,4
Ceará 124.456 2.105.441 (-) 6.347 (-) 277.033 (-) 4,9 (-) 11,6
Rio Grande do Norte 47.480 878.037 (-) 94 (-) 76.310 (-) 0,2 (-) 8,0
Paraíba 92.024 1.313.662 10.829 (-) 14.164 13,3 (-) 1,1
Pernambuco 140.226 1.861.570 8.014 (-) 69.102 6,1 (-) 3,6
Alagoas 44.905 886.244 1.868 (-) 82.218 4,3 (-) 8,5
Sergipe 40.663 899.298 2.636 (-) 41.698 6,9 (-) 4,4
Bahia 314.243 10.229.459 (-) 488 1.499.506 (-) 0,2 17,2
Sudeste 542.363 34.059.932 (‑) 24.323 (‑) 1.893.965 (‑) 4,3 (‑) 5,3
Minas Gerais 352.726 19.911.193 (-) 8.137 (-) 133.423 (-) 2,3 (-) 0,7
Espírito Santo 30.935 1.791.501 (-) 5.164 2.753 (-) 14,3 0,2
Rio de Janeiro 30.464 1.924.217 842 110.474 2,8 6,1
São Paulo 128.238 10.433.021 (-) 11.864 (-) 1.873.769 (-) 8,5 (-) 15,2
Sul 688.605 23.364.051 (‑) 98.647 (‑) 2.855.482 (‑) 12,5 (‑) 10,9
Paraná 211.366 9.053.801 (-) 31.794 (-) 847.084 (-) 13,1 (-) 8,6
Santa Catarina 147.338 3.126.002 (-) 31.981 28.651 (-) 17,8 0,9
Rio Grande do Sul 329.901 11.184.248 (-) 34.872 (-) 2.037.049(-) 9,6 (-) 15,4
Centro‑Oeste 241.894 57.526.794 37.432 6.760.298 18,3 13,3
Mato Grosso do Sul 48.274 20.379.721 8.314 625.365 20,8 3,2
Mato Grosso 81.374 19.807.559 19.126 5.369.424 30,7 37,2
Goiás 110.649 17.259.625 9.631 771.235 9,5 4,7
Distrito Federal 1.597 79.889 361 (-) 5.726 29,2 (-) 6,7
Fonte: IBGE (2009, p. 155).
99
SOCIOLOGIA RURAL E URBANA
Algumas informações importantes sobre a pecuária leiteira estão contidas na tabela a seguir:
Tabela 3 – Ranking dos estados da federação na produção de leite 
e taxa de crescimento da atividade no período de 1999 a 2008
Ranking Posição Produção (litros) Crescimento
Estado 1999 2008 1999 2008 (1999‑2008)
Minas Gerais 1º 1º 5.801.063 7.657.305 32%
Goiás 2º 3º 2.066.405 2.873.541 39%
Rio Grande do Sul 3º 2º 1.974.663 3.314.573 68%
São Paulo 4º 6º 1.913.499 1.579.742 -17%
Paraná 5º 4º 1.724.918 2.827.931 64%
Santa Catarina 6º 5º 906.540 2.125.856 134,50%
Bahia 7º 7º 672.394 952.414 42%
Rio de Janeiro 8º 13º 457.736 475.592 4%
Mato Grosso 9º 10º 411.391 656.558 59,50%
Mato Grosso do Sul 10º 12º 409.045 496.045 21%
Rondônia 11º 9º 408.750 723.108 77%
Pernambuco 15º 8º 266.172 725.786 173%
Fonte: Sebrae (2010, p. 8).
Atentando à produção nacional por estado, nota-se a superioridade de Minas Gerais em relação 
aos demais estados federados. “Com um crescimento de 32% no período de 1999 a 2008, esse estado é 
responsável por 25% da produção brasileira ou mais de 7 bilhões de litros de leite produzidos” (SEBRAE, 
2010, p. 8). Comparando com o segundo maior produtor, o Rio Grande do Sul, com 3,3 bilhões de litros, 
fica ainda mais evidente a referida superioridade.
O campo e a cidade, como categorias geográficas, sociológicas, econômicas (em oposição ao caráter 
jurídico, que se acentua) vêm perdendo a clareza de suas demarcações por fronteiras e paisagens antes 
muito distintas: cada vez mais nas cidades inserem-se atividades agrárias, e costumes rurais se imiscuem 
no modo de vida estritamente urbano, enquanto o campo torna-se progressivamente urbanizado. Essa 
característica está bastante presente nas cidades austríacas, com a uva; e nas japonesas com os cultivares 
básicos, como arroz e folhas, em plena área urbana.
4 TRABALHO, INSTITUTOS E INSTRUMENTOS DE CONTROLE SOCIAL: ESTADO 
E DEMAIS AGENTES
Nesse princípio de século XXI, com os aproximadamente seis bilhões 
de seres humanos com que conta o planeta, por volta da metade vive 
na pobreza, com um poder aquisitivo equivalente a menos de dois 
dólares americanos por dia. Perto de dois bilhões sofrem de graves 
carências de ferro, iodo, vitamina A, de outras vitaminas ou minerais 
(aproximadamente 1,5 bilhões de indivíduos têm carência de ferro, 740 
100
Unidade II
milhões têm carência de iodo, 200 milhões de vitamina A, de acordo com 
a Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura). 
Mais de um bilhão de pessoas não têm acesso à água potável e por 
volta de 840 milhões são vítimas de subnutrição, o que significa que 
elas nem sempre dispõem de ração alimentar suficiente para cobrir suas 
necessidades energéticas básicas, em outras palavras, que elas têm fome 
quase todos os dias (De acordo com a FAO, há por volta de 800 milhões de 
pessoas subnutridas nos países em desenvolvimento, ou seja, quase um a 
cada cinco indivíduos, 30 milhões nos países em transição (anteriormente 
com economia planificada) e 10 milhões nos países desenvolvidos. 
Esses números, que são incertos, devem ser considerados como ordens 
de grandeza).
Quanto aos surtos de fome que eclodem aqui e ali quando há uma 
seca, inundação, tempestade, doença das plantas, dos animais ou dos 
homens, ou ainda da guerra, elas não deixam de ser, por outro lado, a 
consequência última da pobreza e da subnutrição. Na verdade, esses 
acidentes climáticos, biológicos ou políticos levam à fome apenas as 
regiões do mundo em que amplas camadas da população sofrem já 
de uma pobreza e de uma insegurança alimentar tão grandes que não 
dispõem dos meios para lutar de maneira eficaz contra essas catástrofes 
e suas consequências.
Essa situação dramática, que não é nova, não está, tampouco, em vias 
de melhorar. Certamente, a parte da população subnutrida dentro da 
população mundial total diminuiu no decorrer das três últimas décadas 
do século XX, mas o número de pessoas subnutridas no mundo não 
baixou nem um pouco. É por isso que mais de oitenta chefes de Estado 
e de governo, reunidos em Roma em 1996 para a Cúpula Mundial da 
Alimentação, comprometeram-se a “realizar um esforço constante a fi m 
de erradicar a fome em todos os países e, de imediato, de reduzir pela 
metade o número de pessoas subnutridas daqui até mais tardar 2015”. 
Isso levava a considerar que o mundo contaria ainda com cerca de 400 
milhões de pessoas subnutridas em 2015. Mas os meios mobilizados para 
essa finalidade, não tendo sido nem tão significativos nem tão eficazes 
quanto o previsto, cinco anos depois, em 2001, foi preciso reconhecer que 
o mundo contaria ainda com 600 a 700 milhões de subnutridos em 2015 e 
que, nesse ritmo, seria necessário mais de um século para ver desaparecer 
essa catástrofe.
Dessa forma, mesmo reforçados, os meios convencionais de luta contra 
a fome mostraram-se, uma vez mais, incapazes de suplantá-la em um 
prazo suficientemente curto para ser moralmente aceitável, socialmente 
suportável e politicamente tolerável. Para reduzir a pobreza extrema, 
101
SOCIOLOGIA RURAL E URBANA
que chega até a fome e, às vezes, à penúria e à morte, não basta tratar 
dos sintomas mais alarmantes desses males, é preciso combater suas 
causas profundas e, para isso, é preciso apelar para outras análises e 
outros meios.
Para começar, é preciso levar em consideração o fato essencial de que 
aproximadamente três quartos dos indivíduos subnutridos do mundo 
pertencem ao mundo rural. Homens do campo pobres, dentre os quais 
encontramos, majoritariamente, camponeses particularmente mal 
equipados, instalados em regiões desfavoráveis e em situação difícil, assim 
como trabalhadores agrícolas, artesãos e comerciantes que vivem em 
contato com eles e que são tão pobres quanto eles. Quanto aos outros 
subnutridos, muitos são ex-camponeses recentemente forçados pela miséria 
a irem para os campos de refugiados ou periferias urbanas subequipadas e 
subindustrializadas, nas quais eles ainda não puderam encontrar meios de 
subsistência satisfatórios. E como o número de pobres e famintos dos campos 
não diminui em nada, mesmo que ele caia anualmente em muitas dezenas 
de milhões de pessoas em virtude do êxodo rural, é preciso deduzir daí que 
um número mais ou menos igual de novos pobres e famintos forma-se todo 
ano nos campos.
A maioria das pessoas que tem fome no mundo não é, portanto, de 
consumidores urbanos compradores de alimento, mas de camponeses 
produtores e vendedores de produtos agrícolas. E seu número elevado não 
é uma simples herança do passado, mas o resultado de um processo, bem 
atual, de empobrecimento extremo de centenas de milhões de camponeses 
sem recursos (MAZOYER, 2010, p. 26-27).
4.1 Criar e/ou produzir
Em nosso mapa corporal, começamos com os pés no chão, situados, assumindo nossas atividades 
mais elementares de organismos e apontamos a cabeça como centro da arquitetura de soluções 
organizacionais ainda simples. Agora, chegamos às posições da mente, não de uma mente, mas das 
mentes de todos interligadas.
Mente, aqui, representa a institucionalização como síntese das ações e regras sociais; daí que um 
conjunto de mentes é uma instituição articulada, que incorpora (no sentido literal) o organismo, os 
pés situados e a cabeça de nosso mapa; são construtos sociais conectados por intersubjetividades. 
Há uma ossatura do social, e há também ligações “invisíveis” entre as pessoas: instituições. Estado como 
regulação modernadas forças sociais. Surgimentos e declínios dos agentes.
O nível mental ou institucional como resultado das contradições com as operações anteriores é 
fluxo de sínteses entre relações vitais e ideias. E são elas, as instituições sociais:
102
Unidade II
• abstrações, quando estão fechadas (ignoradas) para todos quantos não sejam seus criadores, 
sendo restritivas;
• construções comuns, coletivas, dos saberes, de respostas míticas àquelas de caráter científico, das 
técnicas institucionalizadas às tecnologias em redes, busca incessante de controle da natureza 
(reduzida à sistema como ambiente).
Trata-se, portanto, de institucionalização das práticas sociais situadas, das soluções específicas 
e gerais (associações, organizações as mais diversas, daquelas em escalas locais àquelas nos planos 
nacional e supranacional, como FAO, OIT – Organização Internacional do Trabalho).
As mentes nas sociedades capitalistas de poder concentrado tendem a certa fragmentação das 
consciências de papel e de estrutura; nível expresso nas distâncias que mantém das associações, redes, 
tidas como abstrações, além do horizonte das economias de mercado com foco na financeirização, com 
decorrente economia internacional com crescimentos dependentes, com assimetrias também crescentes 
e espaços de normas e demais abstrações oriundas de ordens cada vez mais distantes dos fins das 
cadeias de informações e comandos; fins físicos, onde se encontraria consumidores ou cidadãos; fins 
morais, como objetivo ético das ações e serviços econômicos, por exemplo.
O labor como atividades simples e o trabalho social desfigurado em sua unidade, domado e 
instrumentalizado, institucionaliza-se nos horários rígidos de nossos compromissos metropolitanos, 
nos cardápios, no tempo linear do descarte dos vividos, “labor quase vestigial”, sob os auspícios das 
facilidades tecnológicas de registros banalizados, de vozes, imagens, textos.
Perda de consciência estrutural promovida pela reprodução de comportamentos 
desorganizados, por princípios de desintegração e de estilhaçamento dos saberes dos mestres 
e trabalhadores conhecedores de seu ofício, no exercício das atividades produtivas. Aqui (na 
mente) vislumbramos o momento de elaboração desse projeto, enquanto no próximo capítulo 
aproximamo-nos das mãos sendo adestradas na execução de tarefas, não de modo contextual, 
consciente e coerente.
O projeto em voga, continuamente prometendo um mundo melhor, vem com nome “modernização”; 
“modernização” das atividades tradicionais, leia-se “descaracterização”, viabilizadas pelas “famílias de 
inovações” do momento e em prol do grupo dominante, de algum modo posicionados no Estado. É 
assim que se reduz o complexo universo rural-urbano a circuitos produtivos e gente estereotipada 
de macacão, galochas e sotaque interiorano como habitantes do campo; o jeca de outros tempos. 
Reduz-se, como estamos vendo, ao tomar camponês ou lavrador por agricultor ou trabalhador rural, 
com enquadramento na legislação trabalhista (redução profissional); reduz-se ao tomar habitante por 
agricultor (redução filosófica, deslocando o existencial/existente da ontologia para as operações de 
planejamento, mercadologia e de cartografia).
O citadino também é alvo de reduções e deformações; tomado como cosmopolita e mais sabido que 
o “interiorano”, mais para corroborar as imagens de marketing e classes estatísticas de mercado.
103
SOCIOLOGIA RURAL E URBANA
Modernizações redundam nas intenções que subjazem às mentes interligadas, as redes, com 
propósitos de propagação dos princípios e procedimentos do capitalismo em reprodução interescalar.
4.2 Políticas de manutenção da força de trabalho
Trabalho é relação coletiva que articula os seres humanos em todas as dimensões sociais. O ser 
social privado, seja individual ou corporativo, atua junto com o Estado de maneiras das mais diversas 
nas várias partes do mundo, com algumas características marcantes em cada território nacional. Dentro 
dos países, também é bastante heterogêneo, pois, como vimos, segue a história da apropriação dos 
ecossistemas e, no caso do Brasil, está na base da própria configuração do Estado-territorial.
A atribuição de relevância analítica (para estudar a sociedade) e ontológica (como condição de 
existência da própria coletividade) ao trabalho não significa que sejamos reduzidos a esse âmbito, não 
quando somos muito mais do que seres produtores: sentimos, associamo-nos com laços dos mais diversos.
É claro que ao nos candidatarmos a vagas de emprego, por exemplo, estaremos submetendo nossas 
habilidades e competências às demandas fracionadas exigidas; agentes contratam partes e como partes 
na relação oferecemos partes de nós. Em todas as organizações sociais estaremos em partes, estaremos 
aos pedaços. São as faces requeridas nas relações, algumas delas requerendo mais de nós, outras, com 
demandas as mais específicas; são os “termos operacionais de uma racionalidade parcial”.
Não se trata, portanto, de discutir a precedência das ações sociais, pois, sem dúvida, quer seja política, 
econômica, geográfica, biológica, sociológica; todas as dimensões sociais são integradoras do humano, 
tornam-nos inteiros; todas.
O Estado é o agente privilegiado, regulador das relações sociais e do jogo no qual está incluído junto 
com os demais agentes sociais, privados, corporativos paraestatais que, em nosso caso, é caraterizado 
por uma imensa desigualdade entre os grupos e por conflitos gerados por interesses distintos.
Já apresentamos algumas definições de Estado em tópicos anteriores, e o que ora se faz necessário 
é discutir a força e as fraquezas dessa entidade ubíqua; presente de alguma maneira na vida das 
pessoas. Sua presença deveria ser sempre favorável aos habitantes de um lugar ou região, entretanto, 
também pode causar transtornos: o Estado é, desse modo, poder de atribuição pública; embora possa se 
comportar de outro modo, como instrumento privado.
4.3 Estado: figura de poder e política consolidada historicamente
Imersos nas formas-Estado, compreenderemos facilmente que as 
sociedades indígenas recorram a poderosos mecanismos para inibir o pleno 
desenvolvimento delas – que já estão lá e atuam, presentes na aparente 
ausência. Da mesma forma e inversamente, as sociedades indígenas nos 
concederão as grades de inteligibilidade para que compreendamos a 
atuação das forças antiEstado entre nós, inibidas e, contudo, presentes na 
aparente ausência. Tudo estará em tudo e reciprocamente […]: Estado entre 
104
Unidade II
os indígenas; antiEstado entre nós; Clastres nos dilemas da antropologia 
contemporânea e às avessas (BARBOSA, 2004, p. 533-534).
Aproveitamos o diapasão das citações em epígrafe e seguimos pelos olhares disciplinares que miram 
os principais traços e as bases do Estado; traços radicais, como aqueles trazidos pelos antropólogos 
(Maurice Godelier e de Pierre Clastres), geógrafos (como Paul Claval), sofisticados, como o da sociologia 
de Pierre Bourdieu. Suas colocações abrem caminho para os cientistas políticos (politólogos) e para 
economistas (como Robert Heilbroner, da economia política).
É preciso que se diga, alinhando-nos com Atilio A. Borón (1994), que houve expansões e retrações 
históricas das estruturas estatais, o que é corroborado pelas afirmações que destacamos de Paul Claval.
Atilio A. Borón acusa certa negação de sua realidade, principalmente no caso dos britânicos, 
advertindo que “a realidade social existe independentemente de nossas capacidades intelectuais para 
apreendê-la” (1994, p. 244). O autor menciona o positivismo reinante (em David Easton, por exemplo), 
que considera imprestáveis poder e Estado ao desenvolvimento da pesquisa política. Claro, posto que 
não são tangíveis, a não ser como expressão de relações: são tipos, emergem com as forças sociais.
Borón (1994) fala de formações estatais tardias (Alemanhae Itália) em contraposição às anglo-saxãs 
(Estados Unidos da América e Reino Unido), nas quais a iniciativa burguesa inibiu o aparato estatal.
O Estado, que desde os anos 1930 foi um meio ideal de lidar com a crise, 
foi convertido ideologicamente no “bode expiatório” e concebido como o 
fator que o originou. Antes, nos fatídicos anos 1930, isso fazia parte da 
solução. Agora se tornou – nas versões mais ululantes do neoliberalismo – a 
totalidade do problema (BORÓN, 1994, p. 187).
Quanto à América Latina, sistema tributário pauperizador e não devolutivo, Borón acentua:
Números sobre a tendência dos salários reais falam por si sobre o alcance 
do processo de pauperização sofrido por vastos setores das populares 
classes latino-americanas. É evidente que esta regressão salarial deve ter 
um impacto profundo, tanto na economia como na política de nossos 
países. Mas o que gostaríamos de destacar com esses dados é a magnitude 
da lacuna que separa as necessidades humanas básicas – de crescentes 
contingentes da população – da capacidade efetiva de intervenção do 
Estado suscetível de produzir políticas compensatórias ou corretivas dos 
desequilíbrios gerados pelo capitalismo selvagem. Isso pode ser expresso 
graficamente com a metáfora das tesouras: as demandas geradas na 
sociedade civil, as insatisfações, as privações e os sofrimentos provocados 
tanto pela crise como pelos testes neoliberais postos em prática na região 
deram origem a uma verdadeira barragem de reivindicações, facilitada, por 
outro lado, pelo clima permissivo das sociedades que reiniciam sua longa 
marcha rumo à democracia. Nestas condições, no entanto, a mesma crise 
105
SOCIOLOGIA RURAL E URBANA
que potencializa as renovadas demandas sociais reduz significativamente as 
capacidades do Estado para produzir as políticas necessárias para resolver, 
ou pelo menos aliviar, as dificuldades aludidas. O resultado é um acúmulo 
alarmante de tensões que poderiam levar a um quadro de ingovernabilidade 
generalizada do regime democrático, sua deslegitimação acelerada e sua 
provável desestabilização, com os riscos de uma inesperada reintegração de 
governos autoritários de diferentes tipos (BORÓN, 1994, p. 195).
Atilio A. Borón (1994, p. 200) faz considerações sobre as dívidas externas insustentáveis “que a 
América Latina não pode pagar”, promovendo transferências de gigantescas quantias (97-99) e 
acrescenta a mais importante das constatações de seu livro, que “estes dados [o levantamento exaustivo 
apresentado] demonstram, apesar da gritaria neoliberal, a persistente importância do Estado e do gasto 
social nos capitalismos metropolitanos”.
Numa análise mais pormenorizada, pode-se comprovar que nem o presidente 
Ronald Reagan nem a primeira-ministra Margaret Thatcher cumpriram suas 
promessas de efetivar cortes drásticos nos orçamentos fiscais. Se algo foi 
provado com a sua gestão é que mesmo o discurso mais neoliberal não 
conseguiu ressuscitar os mortos diligentemente enterrados por Keynes há 
mais de meio século. Os ideólogos e propagandistas das virtudes do mercado 
podem falar, mas suas palavras desaparecem no ar antes da verdade 
efetiva das coisas. Se o Estado continua a pesar na economia, é porque a 
acumulação capitalista foi “estatificada” e exige cada vez mais o apoio dos 
poderes públicos para sobreviver. A história do défice fenomenal do governo 
dos EUA é demasiado conhecida para se repetir mais uma vez: em 1985, era 
equivalente a 5,3% do PIB, enquanto a do Reino Unido, por outro lado, era 
de 3,1%. Como os déficits aberrantemente keynesianos se reconciliam com 
um discurso dogmaticamente neoliberal? (BORÓN, 1994, p. 201).
Para nossa “perplexidade” diante das declarações sobre a agonia e morte do Estado, pesquisadores 
sustentam o seguinte: “como resultado do declínio das políticas econômicas neoliberais e da crise que 
atravessam a maioria das economias latino-americanas, o papel econômico do Estado se verá fortalecido” 
(BORÓN, 1994, p. 203).
Claudia Costin define de modo bem direto Estado, Estado nacional e suas partes principais.
Em sua versão moderna, o Estado contém um conjunto de organismos de 
decisão (Parlamento e governo) e de execução (Administração Pública). 
Nessa concepção, a organização estatal possui uma dimensão legiferante, 
associada à produção de normas que regerão a vida social, e uma dimensão 
administrativa, associada ao cotidiano da gestão das instituições e das 
relações políticas. Assim, o Estado é mais amplo que o governo ou que a 
Administração Pública, como veremos um pouco mais adiante.
106
Unidade II
Numa outra classificação, o Estado é integrado por três poderes, a que 
correspondem três funções básicas: o Legislativo, o Executivo e o Judiciário. 
O primeiro estabelece as leis a serem seguidas por uma sociedade. O Executivo, por 
sua vez, tem por responsabilidade impor e fiscalizar a aplicação dessas leis, 
além de regulamentar, nas bases por elas previstas, a legislação aprovada 
pelo Legislativo, implementar políticas públicas, coletar impostos para o 
desempenho das funções do Estado e de seus componentes. O Judiciário, por 
fim, detém a capacidade de julgar, na maioria dos casos, a correta aplicação 
da lei e das penas correspondentes a seu desrespeito.
Investido desses três poderes, o Estado possui um caráter ambíguo: designa 
o comando da comunidade, como autoridade soberana que se exerce sobre 
um povo e um território determinados e, ao mesmo tempo, representa, 
por meio de uma pessoa que o encarna, a Nação. Essa pessoa é o chefe 
de Estado, correspondente, num país como o nosso, ao presidente, e, num 
regime monarquista como o inglês, ao rei ou à rainha.
[…]
Bresser-Pereira (2004, p. 4) estabelece uma distinção entre Estado-nação 
e Estado. Para ele, enquanto o Estado-nação é o “ente político soberano 
no concerto das demais nações, o Estado é a organização que, dentro 
desse país” tem o poder de legislar e tributar a sociedade. O autor associa 
ao Estado tanto uma dimensão de organização com “poder extroverso 
sobre a sociedade que lhe dá origem e legitimidade” quanto o sistema 
constitucional-legal, “dotado de coercibilidade sobre todos os membros do 
Estado nacional” (COSTIN, 2010, p. 8-15).
O Estado brasileiro possui uma administração pública, fixada pelo Decreto-lei n. 200 de 1967:
Uma definição operacional de Administração Pública decorre do que vimos 
anteriormente sobre o Estado. Inclui o conjunto de órgãos, funcionários 
e procedimentos utilizados pelos três poderes que integram o Estado, para 
realizar suas funções econômicas e os papéis que a sociedade lhe atribuiu no 
momento histórico em consideração. Assim, temos dois qualificativos para 
associar a esta afirmação: a Administração Pública não existe só no Executivo 
e ela muda constantemente, pois as expectativas da sociedade em relação a 
ela e às disputas que se fazem na esfera política para fazer valer propostas 
diferentes de atuação estatal também são cambiantes (COSTIN, 2010, p. 27).
Claudia Costin cita Bresser-Pereira para tipificar a Administração Pública em três formas históricas:
Segundo Bresser-Pereira (1998, p. 20-22), há três formas de administrar o 
Estado: a administração patrimonialista, a administração pública burocrática 
107
SOCIOLOGIA RURAL E URBANA
e a administração pública gerencial, que outros autores chamam de 
pós-burocrática. O autor tira o qualificativo de pública da administração 
patrimonialista, pois esta não visaria o interesse público (2010, p. 31).
A autora também apresenta em seu livro os modos básicos de alimentação do aparelho estatal, pela 
via tributos, e de gastos públicos, via orçamento.
 Saiba mais
Entre inúmeros autores, há dois textos bastante didáticos sobre o papel 
do Estado da qual vimos falando. Um tem ênfase na dimensão econômica; 
outro, na dimensão política:
HEILBRONER, R. Natureza e lógicado capitalismo. São Paulo: Ática, 1988.
BORÓN, A. Estado, capitalismo e democracia na América Latina. Rio de 
Janeiro: Paz e Terra, 1994.
O Estado deve ser analisado como agente complexo que representa, contém ou deveria conter 
todos os demais.
 Observação
O Estado, normalmente também chamado de Estado territorial ou 
Estado nacional, não é algo natural, é histórico e, portanto, tem data de 
nascimento. O Estado-nação, nos moldes convencionais, nasce na Europa 
com a formação dos reinos modernos, que se transformaram nos países 
que conhecemos, sejam eles ainda monarquias como o Reino Unido, ou 
republicanos, como França, Espanha, Portugal, Rússia.
 Resumo
Das colocações teóricas do primeiro tópico e das situações concretas 
trabalhadas no segundo, nesta unidade passamos pelos usos ou atividades 
(que reúnem o ser humano e o ambiente ainda num território colonial 
português), delineando as formas dos agentes públicos e privados 
(Estado, corporações e demais cidadãos, sejam eles investidores ou 
não) já sob as normas de um Estado brasileiro, mais efetivo no controle 
da ocupação e dos usos e costumes.
108
Unidade II
Exploramos a desigualdade social, os interesses e conflitos, a questão da 
segurança e da violência real e percebida.
Vimos que as soluções privadas, em si mesmas, são normalmente parciais e 
dualistas, enquanto as públicas são portadoras de legitimidade. Há muitas crenças, 
idílios e distorções nas causas da segregação socioespacial. O foco é político.
Em seguida, faz-se um balanço entre o trabalho coletivo e o ser social 
privado, corporativo; a configuração econômica do Estado-territorial/nacional. 
As estruturas sociais e fundiárias são trazidas numa perspectiva histórica e 
regional da propriedade e mediação territorial. O foco é econômico.
O direito à terra, no campo e na cidade, é apresentado por meio de 
costumes e leis, reformas e planos reguladores das relações sociais com 
base nas noções de público (riqueza da vida social) e privado (relações 
sociais degradadas), correlacionando (equiparando) as estruturas social 
e fundiária. Destaque para os grupos políticos.
Apresenta-se a produção agrária como modo de vida e como negócio: 
campesinato histórico e trabalhador rural moderno; como porta para refletir 
sobre os circuitos produtivos agrários e urbanos, suas interdependências: 
funções (extrativas, agropecuárias, comerciais, industriais) e escalas 
(local, regional e internacional) clássicas e modernas. A vida urbana como 
dependente das áreas produtivas e as novas propostas de “produção agrária 
nas cidades” (hortas urbanas, por exemplo), bem como as ocupações e 
migrações, os movimentos populacionais constituem as tais estruturas.
 Exercícios
Questão 1. (Cefet-PR, adaptada) Alguns historiadores afirmam que as consequências do modelo de 
colonização adotado pelos portugueses (conquista, para sermos mais precisos) para a exploração do Brasil 
são ainda muito perceptíveis (devastação do meio ambiente, exploração do trabalhador rural, conflitos rurais, 
etc.). Esse modelo é conhecido como plantation ou plantagem, e suas principais características originais são:
A) Minifúndio, monocultura, mão de obra escrava.
B) Latifúndio, mão de obra assalariada, policultura.
C) Latifúndio, policultura, mão de obra escrava.
D) Latifúndio, mão de obra escrava, monocultura.
E) Latifúndio, trabalho assalariado, monocultura.
Resposta correta: alternativa D.
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SOCIOLOGIA RURAL E URBANA
Análise das alternativas
A) Alternativa incorreta.
Justificativa: as culturas apresentadas não são de pequenas proporções, e sim o contrário.
B) Alternativa incorreta.
Justificativa: é mão de obra escrava e monocultura. Aliás, tanto a sociologia (Jessé de Souza), quanto 
a antropologia (Margarida Maria Moura) e a história (Mary Del Priore, Lilia Schwarcz, Thales Guaracy) 
estão resgatando as continuidades estruturais do colonialismo, explicativas de nossos maiores 
problemas como nação.
C) Alternativa incorreta.
Justificativa: eram monoculturas.
D) Alternativa correta.
Justificativa: a alternativa está correta, pois de fato as plantations reuniam as condições nela 
mencionadas. O perfil da propriedade rural era de latifundiários em decorrência de toda a vastidão 
de terras à disposição de uma classe, a livre. A opção de monocultura era fruto da própria inserção 
especializada no capitalismo.
E) Alternativa incorreta.
Justificativa: é mão de obra escrava.
Questão 2. (UERJ 2010, adaptada)
Figura 5
110
Unidade II
A charge de Miguel Paiva, publicada no dia da promulgação da atual Constituição brasileira, aponta 
para a contradição entre realidade social e garantias legais.
No Brasil, o acesso aos direitos de cidadania é limitado fundamentalmente pelo seguinte fator:
A) Formação profissional.
B) Demanda habitacional.
C) Distribuição da riqueza.
D) Crescimento da população.
E) Garantias constitucionais indevidas.
Resolução desta questão na plataforma.

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