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Recuperação Judicial e Falência - Parte 7 (Falência)

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FALÊNCIA
Conceito: Processo de execução coletiva movido contra um devedor, empresário, Empresa Individual de Responsabilidade Limitada ou sociedade empresária, atingindo seu patrimônio para uma venda forçada, partilhando o resultado, proporcionalmente, entre os credores.
Reconhecimento jurídico da inviabilidade da empresa.
Sujeitos da falência
O empresário.
A sociedade empresária.
A EIRELI
Não estão sujeitas à falência – art. 1º da LFRE:
Empresas públicas e sociedades de economia mista;
Instituições financeiras públicas e privadas.
Cooperativas de crédito.
Consórcios.
Entidades de previdência complementar.
Sociedades operadoras de planos de assistência à saúde.
Sociedades seguradoras.
Sociedades de capitalização.
Outras entidades legalmente equiparadas às anteriores.
Disposições gerais:
O estado patrimonial do devedor que possui ativo inferior ao passivo é denominado insolvência econômica ou insolvabilidade.
Entretanto, para que seja decretada a falência, a insolvência não pode ser vista em sua acepção econômica, ou seja, caracterizada pela insuficiência do ativo para o pagamento do passivo, mas sim compreendida pelo sentido jurídico.
Assim, para fins de decretação da falência, o pressuposto da insolvência não se caracteriza por um estado patrimonial, mas pela ocorrência de um dos fatos previstos em lei como ensejadores da quebra: se a sociedade empresária, sem justificativa:
For impontual no cumprimento de obrigação líquida (art. 94, I).
Pela execução frustrada (art. 94, II).
Pela prática de ato de falência (art. 94, III).
Hipóteses legais da caracterização da falência:
Causas – Insolvência do devedor – art. 94:
Sempre presumida (art. 94):
Impontualidade:
Quando o devedor, sem relevante razão de direito, não paga, no vencimento, obrigação líquida materializada em título ou títulos executivos protestados, cuja soma ultrapasse o equivalente a 40 salários mínimos.
Não basta o atraso, é preciso que a impontualidade seja injustificada.
Execução frustrada:
Quando o devedor, executado por qualquer quantia líquida, não paga, não deposita, não nomeia à penhora bens suficientes dentro do prazo legal.
Prática de atos de falência – quando o devedor:
Procede à liquidação precipitada de seus ativos ou lança mão de meio ruinoso ou fraudulento para realizar pagamentos;
Realiza ou tenta realizar, com o objetivo de fraudar credores ou retardar pagamentos, negócio simulado ou alienação de parte ou da totalidade de seu ativo a terceiro, credor ou não;
Transfere estabelecimento a terceiro, credor ou não, sem o consentimento de todos os credores e sem ficar com bens suficientes para solver seu passivo;
Simula a transferência de seu principal estabelecimento com o objetivo de burlar a legislação ou fiscalização para prejudicar credor;
Dá ou reforça garantia à credor por dívida contraída anteriormente sem ficar com bens livres e desembaraçados suficientes para saldar seu passivo;
Ausenta-se sem deixar representante habilitado e com recursos suficientes para pagar os credores, abandona o estabelecimento ou tenta ocultar-se de seu domicílio, do local de sua sede ou de seu principal estabelecimento;
Deixar de cumprir, no prazo estabelecido, obrigação assumida no plano de recuperação judicial.
Fases:
Preliminar ou declaratória:
Início do procedimento;
Requerimento da falência do devedor;
Estende-se até a sentença prolatória da falência;
Arrecadação de bens e classificação de créditos:
Tem por finalidade a exata definição do ativo e do passivo do devedor:
Arrecadação e avaliação dos bens integrantes da massa falida;
Habilitação dos créditos existentes contra o falido;
Elaboração do quadro geral de credores.
Liquidação ou satisfativa:
Deve refletir o ativo e o passivo;
Representa o escopo fundamental da falência:
Venda judicial dos bens integrantes do ativo da massa falida e o pagamento proporcional aos credores, conforme a ordem estabelecida pela LFRE.
Juízo falimentar:
Será o do principal estabelecimento do devedor.
Do local onde se concentra o maior volume de negócios.
Também conhecido como “juízo universal”.
Todas as ações referentes aos bens e interesses da massa serão processadas por esse juízo.
Exceções:
Ações não reguladas pela Lei de Falências;
Ações que demandam quantia ilíquida;
Reclamações trabalhistas;
Execuções tributárias;
Ações de conhecimento em que é parte a União;
Requerentes da falência – art. 97:
Próprio devedor empresário (autofalência);
Qualquer credor;
Se empresário, provar a condição de regular.
O cônjuge sobrevivente;
Os herdeiros do devedor;
O inventariante.
O sócio ou acionista da sociedade;
O credor não domiciliado no Brasil, desde que preste caução.
Rito falimentar:
O pedido de falência segue rito diferente em função de seu autor:
Se a falência for requerida pelo credor ou sócio minoritário, o rito segue os preceitos dos artigos 94 a 96 e 98. (Nesse caso, o pedido de falência observa um procedimento judicial típico, isto é, contencioso).
Já em caso de autofalência, o pedido segue o rito dos artigos 105 a 107 da LFRE, de natureza não contenciosa.
Quando o pedido de falência tem como base a impontualidade injustificada, a petição inicial deve ser instruída obrigatoriamente com o título acompanhado do instrumento de protesto.
Se fundado na tríplice omissão, a lei exige, na instrução, a certidão expedida pelo juízo em que se processa a execução frustrada.
Sendo ato de falência o fundamento do pedido, a lei determina que se descrevam os fatos que caracterizam, juntando-se as provas que houver e especificando-se que serão produzidas no decorrer do processo.
Prazo da defesa do requerido:
O prazo para a defesa do requerido é de 10 dias, contado da citação.
Nesse mesmo prazo, a sociedade empresária requerida poderá elidir a falência, depositando o valor da obrigação em atraso (depósito elisivo).
Elidido o pedido de falência com o depósito judicial do valor reclamado, converte-se em inequívoca medida judicial de cobrança, já que a instauração do concurso universal dos credores está por completo impossibilitada.
Hipóteses em que não será declarada a falência – art. 96:
Falsidade de título;
Prescrição;
Nulidade de obrigação ou de título;
Pagamento da dívida;
Qualquer outro fato que extinga ou suspenda obrigação ou não legitime a cobrança de título;
Vício em protesto ou em seu instrumento;
Apresentação de pedido de recuperação judicial no prazo da contestação, observados os requisitos do art. 51 desta Lei;
Cessação das atividades empresariais mais de 2 (dois) anos antes do pedido de falência, comprovada por documento hábil do Registro Público de Empresas, o qual não prevalecerá contra prova de exercício posterior ao ato registrado.
Responsabilidade dos sócios:
Solidária e ilimitada (em nome coletivo, sócios comanditados):
Terão sua falência decretada.
Ficarão sujeitos aos mesmos efeitos jurídicos em relação à sociedade.
Responsabilidade limitada, controladores e administradores:
Apurada no próprio juízo da falência.
A ação de responsabilização prescreve em dois anos, contados do trânsito em julgado do encerramento da falência.
Protesto:
Sempre obrigatório.
Defesa do devedor impontual – art. 98:
Uma vez citado, o devedor poderá, em dez dias:
Depositar a importância equivalente a seu débito, sem contestar.
Extingue-se o processo.
Depositar e apresentar defesa.
Extingue-se o processo.
Não depositar, limitando-se a apresentar defesa.
Terá sua falência declarada.
Sentença denegatória:
Na sentença denegatória de falência, o juiz apreciou o mérito e julgou improcedente o pedido do credor.
Nesse caso, o recurso será o de apelação.
Termo legal:
Proferida a sentença declaratória, o juiz fixará o termo legal da falência, considerando suspeitos os atos praticados pelo falido.
O termo legal poderá retroagir no prazo máximo de 90 dias, contados:
Do pedido de falência;
Do pedido de recuperação judicial;
Do primeiro protesto por falta de pagamento, excluindo-se os protestos que tenham sido cancelados;
Efeitos da sentença declaratória:
Quanto aos direitos dos credores:
Vencimento por antecipação das obrigações do falido – art. 77.
Suspensão das ações e execuções;
Suspensão da cobrança de juros.
Quanto à pessoa do falido – art. 104:
Assinar nos autos, termo de comparecimento, desde que intimado;
Depositar em cartório, seus livros obrigatórios, no ato da assinatura do termo de comparecimento, a fim de que sejam entregues ao administrador judicial;
Não se ausentar da comarca sem motivo justo e comunicação expressa ao juiz e sem deixar representante;
Comparecer a todos os atos de falência;
Entregar, sem demora, todos os bens, livros e demais documentos ao administrador judicial;
Prestar informações reclamadas pelo juiz;
Auxiliar o administrador judicial.
Quanto aos bens do falido:
A falência atinge todos os bens do devedor, inclusive direitos e ações (art. 108).
Não são atingíveis:
Os absolutamente impenhoráveis.
Os bens necessários ao exercício da profissão do falido.
Os bens dotais e particulares da mulher e dos filhos do falido.
O falido não perde a propriedade dos bens, ficando apenas impossibilitado de administrá-los ou deles dispor.
Lacração do estabelecimento:
O estabelecimento empresarial será lacrado sempre que houver risco para a execução da arrecadação ou conservação dos bens da massa falida ou dos interesses dos credores (art. 109).
Conteúdo da sentença declaratória:
A sentença declaratória da falência deve ter o conteúdo genérico de qualquer sentença judicial e o específico que a lei falimentar lhe prescreve.
Deverá o juiz ao julgar procedente o pedido de falência, observar o disposto no CPC:
relatório, com o resumo do pedido e da resposta, e as principais ocorrências da fase pré-falimentar;
os fundamentos adotados para o exame das questões de fato e de direito;
dispositivo legal que embasa a decisão.
Também deve conter na sentença declaratória da falência (art. 99 da LFRE):
A síntese do pedido, a identificação do falido, bem como a designação dos representantes legais (os administradores das sociedades limitadas e os diretores das anônimas);
o termo legal da falência;
determinação ao falido que entregue em cartório a relação dos seus credores;
explicitará o prazo para as habilitações de crédito;
ordem de suspensão das ações e execuções contra o falido;
a proibição da prática de atos de disposição ou oneração de bens do falido sem prévia autorização judicial;
as diligências a serem adotadas para salvaguarda dos interesses das partes envolvidas, incluindo a prisão preventiva dos representantes legais da sociedade devedora, se presentes elementos que indiquem a prática de crime falimentar;
ordem à Junta Comercial para a anotação da falência;
nomeação do administrador judicial;
determinação de expedição de ofícios a órgãos e repartições públicas ou entidades que, de acordo com o perfil do falido, possam fornecer informações sobre os bens e direitos deste;
ordem de lacração do estabelecimento do falido, se houver risco à execução da arrecadação ou preservação dos bens da massa ou interesses dos credores;
autorização para a continuação provisória da empresa com o administrador judicial, se considerar cabível;
se for o caso, convocação da Assembleia dos Credores para a constituição do Comitê; e
determinação da intimação do Ministério Público e expedição de cartas às Fazendas Públicas Federal e de todos os Estados e Municípios em que o devedor tiver estabelecimento, para conhecimento da falência.
Direitos do falido (art. 103, p.u.):
Fiscalizar a administração da massa.
Requerer medidas acautelatórias dos bens arrecadados.
Intervir, como assistente, nas ações em que a massa for parte ou interessada.
Interpor recursos admitidos em lei.
Requerer o que entender útil à defesa dos seus direitos.
Autofalência:
Quando se tratar de autofalência (art. 105), o pedido da sociedade empresária devedora deve ser instruído com extensa lista de documentos prevista em lei:
Demonstrações contábeis dos 3 exercícios e especialmente levantadas para o pedido.
Relação dos credores.
Inventário dos bens e direitos do ativo acompanhado dos documentos comprobatórios de propriedade.
Registro na Junta Comercial, em sendo irregular o exercício da atividade empresarial pela sociedade requerente, por falta de registro, a indicação e qualificação de todos os sócios acompanhada da relação de seus bens.
Livros obrigatórios e documentos contábeis legalmente exigidos.
Relação dos administradores, diretores e representantes legais dos últimos 5 anos.
Apresentada a petição inicial de autofalência, o juiz deve decretar a quebra, mesmo que a petição não esteja devidamente instruída. Poderá deixar de fazê-lo em caso de desistência tempestiva, ou seja, retratação apresentada pela própria sociedade antes que o juiz decrete a quebra (ato de vontade).
Ministério Público
Também é autorizado, pelo art. 30, § 2º, a requerer a substituição do administrador judicial ou dos membros do Comitê, se nomeados com inobservância dos preceitos da LFRE.
Outros exemplos de previsão legal da intervenção do MP são os arts. 59, 104, 142, 143, 154, 163 e 187 da LFRE.
Arrecadação dos bens – art. 108:
O administrador judicial, quando nomeado, providenciará a arrecadação dos bens do falido, em favor da massa.
É um momento determinante da falência, ante o perigo de desvio físico dos bens existentes no estabelecimento do falido ou mesmo daqueles a serem arrecadados em outros locais.
Tais bens formarão os chamados de “massa falida objetiva”:
Conjunto de bens e direitos que integram o patrimônio do falido.
A outra ponta é composta pelo que se denomina “massa falida subjetiva”:
Composta pelos direitos de crédito e de outra natureza a serem exigidos pelos respectivos titulares e a serem satisfeitos pela força da massa falida objetiva.
O perigo de desvio desses bens é muito acentuado, a tal ponto que consagrou-se o hábito de, no mesmo momento em que os autos baixavam a cartório com a sentença declaratória de falência, expedir-se mandado de lacração, cumprido imediatamente pelo oficial de justiça (art. 109).
O administrador judicial é responsável pela guarda e conservação dos bens, podendo escolher pessoa que, sob sua responsabilidade, assuma esse encargo.
O próprio falido ou qualquer dos seus representantes pode ser nomeado depositário dos bens, ressaltando-se que a responsabilidade permanece com o administrador.
O falido poderá acompanhar a arrecadação e a avaliação.
Ante o princípio da presunção da inocência, o falido deve ser visto como pessoa que, pelos azares da atividade empresarial, que é eminentemente de risco, chegou a uma situação de falência.
Por isso, o próprio falido tem interesse em que o andamento da falência se dê a forma mais produtiva possível, tendo prerrogativa e acompanhar tanto a arrecadação quanto a avaliação.
Os bens absolutamente impenhoráveis não serão arrecadados.
O bem dado em garantia real deve ser vendido judicialmente e o valor da venda deve ser entregue ao credor.
Inventário e laudo de avaliação – art. 110:
O auto de arrecadação, composto pelo inventário e pelo respectivo laudo de avaliação dos bens, será assinado pelo administrador judicial, pelo falido ou seus representantes e por outras pessoas que auxiliarem ou presenciarem o ato.
Geralmente, o auto de arrecadação é elaborado pelos oficiais de justiça designados para a diligência, sendo os únicos participantes do ato.
Em nome da cautela, os juízes determinam a ida de dois oficiais para tal tipo de diligência.
Se estiverem presentes o administrador, o falido, o próprio representante do Ministério Público ou pessoas auxiliando ou presenciando o ato, devem ser colhidas as respectivas assinaturas.
Não sendo possível a avaliação do bem no ato da arrecadação, o administrador judicial requererá ao juiz a concessão de prazo para apresentação do laudo de avaliação, que não poderá exceder 30 dias, contatos da apresentação do auto de arrecadação.
Serão referidos no inventário:
Os livros obrigatórios e os facultativos;
Dinheiro, papéis, títulos de crédito, documentos e outros bens da massa falida;
Bens da massa falida em poder de terceiro, a título de guarda depósito, penhor ou retenção;
Bens indicados como propriedade de terceiros ou reclamados por estes, mencionando-se essa circunstância.
Arrecadado o bem, a este terceiro competirá valer-se do disposto no art. 85 (pedido de restituição) para pedir a restituição ou, alternativamente e se couber, valer-se do disposto no art. 93, para propor embargos de terceiro.
Quando possível, os bens deverão ser individualizados.
Em relação aos bens imóveis, o administrador judicial, no prazo de 15 dias após a arrecadação, exibirá as certidões de registro, extraídas posteriormente à decretação da falência, com todas as indicações que nele constarem.
Compra e adjudicação dos bens pelos credores – art. 111:
O juiz poderá autorizar os credores, de forma individual ou coletiva, em razão dos custos e no interesse da massa falida, a adquirir ou adjudicar, de imediato, os bens arrecadados, pelo valor da avaliação, atendida a regra de classificação e preferência entre eles, ouvido o Comitê.
Requer a concordância de todos os credores.
Remoção dos bens arrecadados – art. 112:
Os bens arrecadados poderão ser removidos, desde que haja necessidade de sua melhor guarda e conservação, hipótese em que permanecerão em depósito sob responsabilidade do administrador judicial, mediante compromisso.
Sempre sob a fiscalização do juiz e do comitê.
Venda antecipada de bens – art. 113:
Os bens perecíveis, deterioráveis, sujeitos à considerável desvalorização ou que sejam de conservação arriscada ou dispendiosa, poderão ser vendidos antecipadamente, após a arrecadação e a avaliação, mediante autorização judicial, ouvidos o Comitê, e o falido, no prazo de 48 horas.
Os bens arrecadados devem ser depositados em local seguro, sob reponsabilidade do administrador judicial;
Mas o administrador judicial poderá pedir autorização ao juiz para a venda imediata de bens que corram riscos de perda ou desvalorização;
O pedido deverá ser autuado em apartado para que não se prejudique o regular andamento da falência;
Não só o administrador, mas qualquer credor, individualmente ou em conjunto, pode requerer a providência da venda antecipada, se não houver a iniciativa do administrador;
Nessa hipótese, o juiz mandara ouvir o administrador, que justificará a posição que irá adotar.
Produção de renda para a massa falida – art. 114:
O administrador judicial poderá alugar ou celebrar outro contrato referente aos bens da massa falida, com o objetivo de produzir renda para a massa falida, mediante autorização do Comitê.
O art. 99 determina que o juiz, se entender o caso, se pronuncie na sentença que decretar a falência sobre a continuação provisória das atividades do falido com o administrador judicial.
O art. Acima prevê uma forma de continuação do negócio, embora não faça menção expressa a isso.
Poderá o administrador, com autorização do Comitê, se existir, e autorização prévia do juiz, celebrar contratos que poderão propiciar a continuação do negócio, além de outros tipos de contrato que possam ter interesse para a massa.
Tais contratos não geram direito de preferência na compra e não pode importar disposição total ou parcial dos bens.
O bem objeto da contratação poderá ser alienado a qualquer tempo, independentemente do prazo contratado, rescindindo-se, sem direito a multa, o contrato realizado, salvo se houver anuência do adquirente.
Dos efeitos da decretação da falência sobre as obrigações do devedor:
O art. 115 delimita que a decretação da falência sujeita todos os credores, que somente poderão exercer os seus direitos sobre os bens do falido e do sócio ilimitadamente responsável na forma que Lei de Falência prescrever.
A decretação da falência suspende (art. 116):
O exercício do direito de retenção sobre os bens sujeitos à arrecadação, os quais deverão ser entregues ao administrador judicial.
O exercício do direito de retirada ou de recebimento do valor de suas quotas ou ações, por parte dos sócios da sociedade falida.
O contratante pode interpelar o administrador judicial, no prazo de até 90 (noventa) dias, contado da assinatura do termo de sua nomeação, para que, dentro de 10 (dez) dias, declare se cumpre ou não o contrato.
A declaração negativa ou o silêncio do administrador judicial confere ao contraente o direito à indenização, cujo valor, apurado em processo ordinário, constituirá crédito quirografário.
O administrador judicial, mediante autorização do Comitê, poderá dar cumprimento a contrato unilateral se esse fato reduzir ou evitar o aumento do passivo da massa falida ou for necessário à manutenção e preservação de seus ativos, realizando o pagamento da prestação pela qual está obrigada (art. 118).
Regras prevalentes nas relações contratuais (art. 119):
O vendedor não pode obstar a entrega das coisas expedidas ao devedor e ainda em trânsito, se o comprador, antes do requerimento da falência, as tiver revendido, sem fraude, à vista das faturas e conhecimentos de transporte, entregues ou remetidos pelo vendedor.
Se o devedor vendeu coisas compostas e o administrador judicial resolver não continuar a execução do contrato, poderá o comprador pôr à disposição da massa falida as coisas já recebidas, pedindo perdas e danos.
Não tendo o devedor entregue coisa móvel ou prestado serviço que vendera ou contratara a prestações, e resolvendo o administrador judicial não executar o contrato, o crédito relativo ao valor pago será habilitado na classe própria.
O administrador judicial, ouvido o Comitê, restituirá a coisa móvel comprada pelo devedor com reserva de domínio do vendedor se resolver não continuar a execução do contrato, exigindo a devolução, nos termos do contrato, dos valores pagos.
Tratando-se de coisas vendidas a termo, que tenham cotação em bolsa ou mercado, e não se executando o contrato pela efetiva entrega daquelas e pagamento do preço, prestar-se-á a diferença entre a cotação do dia do contrato e a da época da liquidação em bolsa ou mercado.
Na promessa de compra e venda de imóveis, aplicar-se-á a legislação respectiva.
A falência do locador não resolve o contrato de locação e, na falência do locatário, o administrador judicial pode, a qualquer tempo, denunciar o contrato.
Caso haja acordo para compensação e liquidação de obrigações no âmbito do sistema financeiro nacional, nos termos da legislação vigente, a parte não falida poderá considerar o contrato vencido antecipadamente, hipótese em que será liquidado na forma estabelecida em regulamento, admitindo-se a compensação de eventual crédito que venha a ser apurado em favor do falido com créditos detidos pelo contratante.
Os patrimônios de afetação, constituídos para cumprimento de destinação específica, obedecerão ao disposto na legislação respectiva, permanecendo seus bens, direitos e obrigações separados dos do falido até o advento do respectivo termo ou até o cumprimento de sua finalidade, ocasião em que o administrador judicial arrecadará o saldo a favor da massa falida ou inscreverá na classe própria o crédito que contra ela remanescer.
Patrimônio de afetação:
A incorporação imobiliária acontece quando é realizada uma atividade com o intuito de promover a construção, com fins de alienação (venda/negociação) total ou parcial de edificações compostas de unidades autônomas. E durante esse processo de incorporação é que se enquadra o instituto da afetação. O patrimônio de afetação veio para diferenciar o patrimônio do incorporador do patrimônio do empreendimento, uma vez que, o bem destinado passa a ter exclusividade para as obrigações relacionadas à incorporação.
Pedido de restituição – art. 85:
O proprietário de bem arrecadado no processo de falência ou que se encontre em poder do devedor na data da decretação da falência poderá pedir sua restituição.
Também pode ser pedida a restituição de coisa vendida a crédito e entregue ao devedor nos 15 (quinze) dias anteriores ao requerimento de sua falência,
se ainda não alienada.
Restituição em dinheiro – art. 86:
Se a coisa não mais existir ao tempo do pedido de restituição, hipótese em que o requerente receberá o valor da avaliação do bem, ou, no caso de ter ocorrido sua venda, o respectivo preço, em ambos os casos no valor atualizado.
Da importância entregue ao devedor, em moeda corrente nacional, decorrente de adiantamento a contrato de câmbio para exportação, desde que o prazo total da operação, inclusive eventuais prorrogações, não exceda o previsto nas normas específicas da autoridade competente.
As restituições de que trata este artigo somente serão efetuadas após o pagamento previsto no art. 151 da Lei.
Processamento do pedido de restituição:
O pedido de restituição deverá ser fundamentado e descreverá a coisa reclamada (art. 87).
O juiz mandará autuar em separado o requerimento com os documentos que o instruírem e determinará a intimação do falido, do Comitê, dos credores e do administrador judicial para que, no prazo sucessivo de 5 (cinco) dias, se manifestem, valendo como contestação a manifestação contrária à restituição.
Contestado o pedido e deferidas as provas porventura requeridas, o juiz designará audiência de instrução e julgamento, se necessária.
A sentença que reconhecer o direito do requerente determinará a entrega da coisa no prazo de 48 (quarenta e oito) horas (art. 88).
Caso não haja contestação, a massa não será condenada ao pagamento de honorários advocatícios.
A sentença que negar a restituição, quando for o caso, incluirá o requerente no quadro-geral de credores, na classificação que lhe couber, na forma da Lei (art. 89).
Da sentença que julgar o pedido de restituição caberá apelação sem efeito suspensivo (art. 90).
O autor do pedido de restituição que pretender receber o bem ou a quantia reclamada antes do trânsito em julgado da sentença prestará caução.
O pedido de restituição suspende a disponibilidade da coisa até o trânsito em julgado (art. 91).
Quando diversos requerentes houverem de ser satisfeitos em dinheiro e não existir saldo suficiente para o pagamento integral, far-se-á rateio proporcional entre eles.
O requerente que tiver obtido êxito no seu pedido ressarcirá a massa falida ou a quem tiver suportado as despesas de conservação da coisa reclamada (art. 92).
Nos casos em que não couber pedido de restituição, fica resguardado o direito dos credores de propor embargos de terceiros, observada a legislação processual civil (art. 93).
INEFICÁCIA E REVOGAÇÃO DE ATOS PRATICADOS ANTES DA FALÊNCIA
Revogação dos atos praticados pelo falido antes da falência:
Atos ineficazes – art. 129.
Diz respeito aos efeitos do ato.
Eficácia:
Capacidade de um ato produzir resultados na esfera jurídica das pessoas, concedendo-lhes vantagens ou impondo-lhes desvantagens.
O ato ineficaz não é considerado nulo, pois pode vincular os agentes, sendo válido perante estes, e sendo ineficaz perante terceiros.
Exemplo: o negócio da venda de um imóvel por um menor de 10 anos de idade é nulo. Já a venda do imóvel, feita por pessoa maior e capaz que está sendo executada, é ineficaz se feita em fraude de execução. No entanto, se paga a dívida, a venda permanece válida.
Atos revogáveis – art. 130
Praticados pelo falido com a intenção de fraudar credores.
Atos ineficazes:
Art. 129. São ineficazes em relação à massa falida, tenha ou não o contratante conhecimento do estado de crise econômico-financeira do devedor, seja ou não intenção deste fraudar credores:
I – o pagamento de dívidas não vencidas realizado pelo devedor dentro do termo legal, por qualquer meio extintivo do direito de crédito, ainda que pelo desconto do próprio título;
O termo legal (Inciso II do art. 99) deve ser declarado pelo juiz, no momento que decreta a falência.
Visa proteger a massa contra o conluio do devedor que, antes de falir, paga credores de seu círculo, mesmo que a dívida não esteja vencida.
II – o pagamento de dívidas vencidas e exigíveis realizado dentro do termo legal, por qualquer forma que não seja a prevista pelo contrato;
Evita-se um favorecimento que, se fosse permitido, esvaziaria a massa.
III – a constituição de direito real de garantia, inclusive a retenção, dentro do termo legal, tratando-se de dívida contraída anteriormente; se os bens dados em hipoteca forem objeto de outras posteriores, a massa falida receberá a parte que devia caber ao credor da hipoteca revogada;
A dívida contraída antes do termo legal não pode ser garantida por penhor, hipoteca ou anticrese, com a garantia dada posteriormente.
Se a hipoteca é constituída dentro do termo legal para garantir dívida contraída antes do termo, não produz efeito para a massa, sendo ineficaz.
No entanto, mesmo declarada a ineficácia desta hipoteca, pode haver outras hipotecas regularmente constituídas após o momento em que foi instituída a que foi revogada.
Nesse caso, o bem responderá pelas hipotecas posteriores, porém só depois que vier para a massa o valor relativo à hipoteca ineficaz
Ou seja, o credor da hipoteca eficaz apenas receberá o que sobrar após a massa receber o valor correspondente a hipoteca ineficaz.
IV – a prática de atos a título gratuito, desde 2 (dois) anos antes da decretação da falência;
O patrimônio do devedor é garantia geral do credor, que por isso mesmo não pode dele dispor gratuitamente, a menos que fique com bens suficientes no ativo para plena satisfação do passivo.
V – a renúncia à herança ou a legado, até 2 (dois) anos antes da decretação da falência;
Renúncia prevista no art. 1.806 do CC/2002.
Visa evitar que o empresário venha a fraudar a massa, renunciando a direitos nos dois anos que antecedem o decreto de falência.
O art. 1.813 do CC/2002 estabelece que, se acaso a renúncia à herança vier a prejudicar credores, estes poderão, com autorização judicial, aceitá-la em nome do renunciante.
No caso da falência, não há necessidade de aplicação da regra, porque a renúncia é tida por ineficaz e não atinge o direito dos credores.
VI – a venda ou transferência de estabelecimento feita sem o consentimento expresso ou o pagamento de todos os credores, a esse tempo existentes, não tendo restado ao devedor bens suficientes para solver o seu passivo, salvo se, no prazo de 30 (trinta) dias, não houver oposição dos credores, após serem devidamente notificados, judicialmente ou pelo oficial do registro de títulos e documentos;
Já comentado quando das hipóteses de prática de atos de falência (art. 94).
Trata-se da alienação ou trespasse do estabelecimento prevista nos arts. 1.144 e 1.145 do CC/2002.
Tal venda é feita quando ainda não havia ocorrido a falência.
Em tal caso, a venda é ineficaz relativamente à massa, e estabelecimento será arrecadado.
A arrecadação apenas não ocorrerá se a venda tiver contado com o consentimento expresso ou tácito do credor ou pagamento de todos os credores. 
 VII – os registros de direitos reais e de transferência de propriedade entre vivos, por título oneroso ou gratuito, ou a averbação relativa a imóveis realizados após a decretação da falência, salvo se tiver havido prenotação anterior.
Art. 215 da Lei de Registros Públicos – Lei nº 6.015/1973: “São nulos os registros efetuados após sentença e abertura de falência, ou do termo legal nele fixado, salvo se a apresentação tiver sido feita anteriormente”.
Prenotação é a anotação prévia e provisória no protocolo, feita por oficial de registro público de um título apresentado para registro.
Temos então que todo título protocolado está automaticamente prenotado, passando a gozar de prioridade no registro em relação àquele protocolado posteriormente (Artigo 186 da Lei nº. 6015/1973).
A prenotação é válida por 30 dias, incluído o dia do lançamento no protocolo.
Uma vez cancelada (prenotação), não se convalida. Isto quer dizer que, caso o título venha a ser devolvido para cumprimento de exigências e vier a ser reapresentado após os 30 dias do ingresso inicial, receberá um novo número de protocolo.
Parágrafo único. A ineficácia poderá ser declarada de ofício
pelo juiz, alegada em defesa ou pleiteada mediante ação própria ou incidentalmente no curso do processo.
Tratando-se de ineficácia prevista nos sete incisos do art. 129, esta pode ser declarada pelo juiz, por simples decisão interlocutória prolatada nos autos da falência.
A ineficácia também pode ser alegada em matéria de defesa, que no caso seria a ação revocatória, nos casos em que o pedido exija uma dilação probatória maior, não passível de produção para o simples pedido de declaração de ineficácia por decisão interlocutória.
Atos revogáveis – art. 130:
Art. 130. São revogáveis os atos praticados com a intenção de prejudicar credores, provando-se o conluio fraudulento entre o devedor e o terceiro que com ele contratar e o efetivo prejuízo sofrido pela massa falida.
São revogáveis os atos praticados com a intenção de prejudicar credores, provando-se o conluio fraudulento entre o devedor e o terceiro que com ele contratar e o efetivo prejuízo sofrido pela massa falida.
Atos ineficazes: podem ser revertidos independentemente de perquirição sobre fraude (art. 129).
Reversão.
Atos revogáveis – os atos que, para serem revertidos, exigem a prova de fraude.
Ação revocatória.
Esta diferenciação traz consequência processual, ou seja, reversão, no caso do art. 129, por simples decisão interlocutória; reversão, no caso do art. 130, por ação revocatória.
Se o réu da ação revocatória provar que não houve prejuízo para a massa, a ação revocatória deverá ser julgada improcedente.
Dessa forma, a ação revocatória deve ser normalmente ajuizada, desde que presente o conluio fraudulento, que será provado durante o andamento do feito.
Também como defesa o réu poderá alegar e a ele competirá provar, a inexistência de qualquer prejuízo para a massa.
Tanto o devedor quanto o terceiro devem ter agido com fraude ao praticar o ato.
A demonstração da fraude é indispensável e, no campo da prova, todos os meios legais, bem como os moralmente legítimos são hábeis.
Atos realizados no plano de recuperação judicial – art. 131:
Art. 131. Nenhum dos atos referidos nos incisos I a III e VI do art. 129 desta Lei que tenham sido previstos e realizados na forma definida no plano de recuperação judicial será declarado ineficaz ou revogado.
Nenhum dos atos referidos nos incisos referidos do. 129 da Lei será declarado ineficaz ou revogado, desde que ausente a prova de fraude.
São eles:
I – o pagamento de dívidas não vencidas realizado pelo devedor dentro do termo legal, por qualquer meio extintivo do direito de crédito, ainda que pelo desconto do próprio título;
II – o pagamento de dívidas vencidas e exigíveis realizado dentro do termo legal, por qualquer forma que não seja a prevista pelo contrato; 
III – a constituição de direito real de garantia, inclusive a retenção, dentro do termo legal, tratando-se de dívida contraída anteriormente; se os bens dados em hipoteca forem objeto de outras posteriores, a massa falida receberá a parte que devia caber ao credor da hipoteca revogada; 
VI – a venda ou transferência de estabelecimento feita sem o consentimento expresso ou o pagamento de todos os credores, a esse tempo existentes, não tendo restado ao devedor bens suficientes para solver o seu passivo, salvo se, no prazo de 30 (trinta) dias, não houver oposição dos credores, após serem devidamente notificados, judicialmente ou pelo oficial do registro de títulos e documentos. 
Ação revocatória – art. 132:
Art. 132. A ação revocatória, de que trata o art. 130 desta Lei, deverá ser proposta pelo administrador judicial, por qualquer credor ou pelo Ministério Público no prazo de 3 (três) anos contado da decretação da falência.
A ação revocatória deverá ser proposta pelo administrador judicial, por qualquer credor ou pelo Ministério Público no prazo de 3 (três) anos contado da decretação da falência.
Instrumento adequado para reaver os bens transferidos a terceiros.
Deve ser proposta pelo administrador judicial, por qualquer credor ou pelo Ministério Público.
Prazo: Três anos, a contar da decretação da falência (art. 132).
Correrá no juízo falimentar.
Pessoas legitimadas para o polo passivo da ação revocatória – art. 133:
A ação revocatória pode ser promovida:
Contra todos os que figuraram no ato ou que por efeito dele foram pagos, garantidos ou beneficiados.
Contra os terceiros adquirentes, se tiveram conhecimento, ao se criar o direito, da intenção do devedor de prejudicar os credores.
Contra os herdeiros ou legatários das pessoas indicadas nos itens acima.
Prazo: Três anos, a contar da decretação da falência (art. 132).
Ato praticado com base em decisão judicial – art. 138:
O ato pode ser declarado ineficaz ou revogado, ainda que praticado com base em decisão judicial, observado o disposto no artigo 31 da Lei.
Revogado ato ou declarada sua ineficácia, ficará rescindida a sentença que o motivou.
Juízo da ação revocatória – art. 134:
Art. 134. A ação revocatória correrá perante o juízo da falência e obedecerá ao procedimento ordinário previsto na Lei no 5.869, de 11 de janeiro de 1973 - Código de Processo Civil.
A ação é de rito ordinário, corre ante o juízo da falência em autos apartados.
O prazo decadencial é de três anos.
Efeitos da procedência do pedido – art. 135:
Art. 135. A sentença que julgar procedente a ação revocatória determinará o retorno dos bens à massa falida em espécie, com todos os acessórios, ou o valor de mercado, acrescidos das perdas e danos.
Parágrafo único. Da sentença cabe apelação.
Restabelece a possibilidade executiva sobre o bem que fora objeto do negócio, bem como passa a ser suscetível de arrecadação.
Acaso inexistente o bem, ou por qualquer motivo impossível a sua arrecadação, o réu da ação responderá com todos os seus bens particulares pelo valor correspondente.
A apelação será recebida em ambos os efeitos.
Contratante de boa-fé – art. 136:
Art. 136. Reconhecida a ineficácia ou julgada procedente a ação revocatória, as partes retornarão ao estado anterior, e o contratante de boa-fé terá direito à restituição dos bens ou valores entregues ao devedor.
§ 1º. Na hipótese de securitização de créditos do devedor, não será declarada a ineficácia ou revogado o ato de cessão em prejuízo dos direitos dos portadores de valores mobiliários emitidos pelo securitizador.
§ 2º. É garantido ao terceiro de boa-fé, a qualquer tempo, propor ação por perdas e danos contra o devedor ou seus garantes.
O artigo complementa o art. 130 (conluio entre o devedor e o terceiro).
Aqui trata-se do terceiro de boa-fé, que perdeu o bem adquirido do devedor falido.
O terceiro prejudicado poderá, a qualquer tempo, propor ação por perdas e danos contra o devedor, seus avalistas e/ou fiadores.
A execução poderá recair sobre os bens pessoais do devedor.
O § 1º. diz respeito aos investimentos no mercado imobiliário de imóveis em construção, pois há a garantia, mesmo em caso de falência da construtora.
Medidas preventivas – art. 137:
Art. 137. O juiz poderá, a requerimento do autor da ação revocatória, ordenar, como medida preventiva, na forma da lei processual civil, o sequestro dos bens retirados do patrimônio do devedor que estejam em poder de terceiros.
O sequestro visa apreender o bem e deixá-lo sob a guarda do depositário judicial, para evitar o seu perecimento, e garantir o resultado final do que vier a ser determinado judicialmente.
O juiz pode se valer dessa medida, sem embargo da existência de procedimento cautelar específico no novo CPC.
VERIFICAÇÃO DOS CRÉDITOS
Art. 7º da LRE: 
Atribui ao administrador judicial o dever de verificação dos créditos, tanto na recuperação quanto na falência.
Base:
Livros contábeis;
Documentos do devedor;
Documentos apresentados pelos credores.
Podendo recorrer a profissionais especializados para tal fim.
A sentença de decretação de falência ordena ao falido a apresentação da relação de credores, no prazo de 5 dias.
Verificada qualquer irregularidade, o §1º do art. 7º estabelece o prazo de 15 dias para que os credores apresentem suas
habilitações, quando houver omissão de algum crédito, ou divergências quanto aos créditos relacionados.
Habilitação dos créditos:
Declaração do devedor.
Pedido formulado pelo credor.
Levantamentos realizados pelo administrador judicial.
Declaração de crédito e impugnação:
A lei determina que cada credor não relacionado deve apresentar um pedido de habilitação próprio, o qual poderá, conforme o caso, abrigar mais de um crédito.
Não sendo possível pedidos de habilitação de mais de um credor, em conjunto.
A habilitação ou divergência devem ser apresentadas ao administrador judicial, que irá elaborar um edital contendo a relação de credores.
Publicado o edital, poderá ser apresentada impugnação contra a relação de credores.
Autuada em separado, junto aos documentos e a indicação das provas.
Se necessário, o juiz deverá indicar as provas e designar audiência.
Nesse momento, o procedimento de habilitação deixa de ser administrativo e passa a ser jurisdicional.
Pessoas legitimadas a impugnar:
Comitê de Credores
Qualquer credor
O devedor e/ou seus sócios
O MP
Processamento do pedido de impugnação:
Os credores que tiverem créditos impugnados deverão ser ouvidos no prazo de cinco dias (art. 11 da LRE), assim como o administrador judicial, que deverá apresentar um laudo, se for o caso, e todas as informações referentes ao pedido constantes nos documentos da empresa.
As impugnações dirigidas aos créditos trabalhistas deverão ser processadas perante a Justiça do Trabalho.
Não havendo necessidade de provas, o juiz poderá julgar conforme o estado do processo.
De qualquer forma, o juiz proferirá sentença que decidirá sobre o pedido.
Tal sentença tem caráter eminentemente declaratório, pois não modifica a relação jurídica existente entre o credor e o devedor, limitando-se a definir qual seja o valor e a classificação do crédito, na data de decretação da falência.
Após, o crédito será incluído no quadro geral de credores.
Que será homologado pelo juiz, com base na relação apresentada pelo administrador judicial.
O recurso cabível para a decisão sobre a impugnação é o AGRAVO (na forma do art. 1.003 do CPC/2015).
Prazo: 15 dias
Recebido o Agravo, o relator poderá conceder efeito suspensivo à decisão que reconhece o crédito ou determinar a inscrição ou modificação do seu valor ou classificação no quadro geral de credores, para fins de voto em assembleia geral (art. 17 da LRE).
O agravo possui também o efeito devolutivo, porém de modo diferido, pois é permitido ao juiz a quo a possibilidade de rever sua decisão, devendo comunicar ao relator tal decisão.
Classificação dos créditos:
O prazo estabelecido no art. 7º, §1º da LRE para apresentação das declarações de crédito não é decadencial.
Os credores retardatários poderão ser aceitos, mas terão de integrar o processo de falência no estado em que se encontra.
Se já houver rateios, não haverá repetição dos valores na falência.
Os credores podem pedir reserva de bens enquanto buscam a declaração de seus créditos, o que poderá ou não ser acatado pelo juiz da falência.
Os pedidos de habilitação apresentados após o decurso de prazo contado da publicação do edital são considerados retardatários.
As habilitações retardatárias serão recebidas como impugnação e processadas na forma de ação incidental (art. 10, § 5º da LRE).
São direcionadas ao juiz e não ao administrador judicial, tendo natureza contenciosa.
A decisão que homologa o quadro geral declara o direito de crédito, define sua legitimidade, valor e classificação, produz coisa julgada formal, impedindo que possa ser objeto de nova decisão por outro juiz.
Se o juiz extinguiu o processo de impugnação, sem apreciação do mérito, houve apenas a coisa julgada formal.
O art. 19 da LRE permite que, a qualquer tempo, enquanto não estiver encerrado o processo de recuperação ou da falência, seja revisto o quadro geral de credores.
Classificação dos créditos – art. 83:
I. Os créditos derivados da legislação do trabalho, limitados a 150 (cento e cinquenta) salários-mínimos por credor, e os decorrentes de acidentes de trabalho.
II. Créditos com garantia real até o limite do valor do bem gravado.
III. Créditos tributários, independentemente da sua natureza e tempo de constituição, excetuada as multas tributárias.
IV. Créditos com privilégio especial, a saber:
Os previstos no art. 964 da Lei no 10.406, de 10 de janeiro de 2002. (Código Civil)
Os assim definidos em outras leis civis e comerciais, salvo disposição contrária desta Lei.
Aqueles a cujos titulares a lei confira o direito de retenção sobre a coisa dada em garantia.
Aqueles em favor dos microempreendedores individuais e das microempresas e empresas de pequeno porte de que trata a Lei Complementar n. 123, de 14 de dezembro de 2006 (Incluído pela Lei Complementar no 147, de 2014).
V. Créditos com privilégio geral, a saber:
Os previstos no art. 965 da Lei n. 10.406, de 10 de janeiro de 2002;
Os previstos no parágrafo único do art. 67 da LRE.
Os assim definidos em outras leis civis e comerciais, salvo disposição contrária desta Lei;
VI. Créditos quirografários, a saber:
Aqueles não previstos nos demais incisos no presente artigo.
Os saldos dos créditos não cobertos pelo produto da alienação dos bens vinculados ao seu pagamento.
Os saldos dos créditos derivados da legislação do trabalho que excederem o limite estabelecido no inciso I do caput deste artigo.
VII. As multas contratuais e as penas pecuniárias por infração das leis penais ou administrativas, inclusive as multas tributárias.
VIII. Créditos com privilégio geral, a saber:
Os assim previstos em lei ou em contrato;
Os créditos dos sócios e dos administradores sem vínculo empregatício.
Código Civil – art. 964:
Art. 964. Têm privilégio especial: 
I - sobre a coisa arrecadada e liquidada, o credor de custas e despesas judiciais feitas com a arrecadação e liquidação; 
II - sobre a coisa salvada, o credor por despesas de salvamento; 
III - sobre a coisa beneficiada, o credor por benfeitorias necessárias ou úteis; 
IV - sobre os prédios rústicos ou urbanos, fábricas, oficinas, ou quaisquer outras construções, o credor de materiais, dinheiro, ou serviços para a sua edificação, reconstrução, ou melhoramento; 
V - sobre os frutos agrícolas, o credor por sementes, instrumentos e serviços à cultura, ou à colheita; 
VI - sobre as alfaias e utensílios de uso doméstico, nos prédios rústicos ou urbanos, o credor de aluguéis, quanto às prestações do ano corrente e do anterior; 
VII - sobre os exemplares da obra existente na massa do editor, o autor dela, ou seus legítimos representantes, pelo crédito fundado contra aquele no contrato da edição; 
VIII - sobre o produto da colheita, para a qual houver concorrido com o seu trabalho, e precipuamente a quaisquer outros créditos, ainda que reais, o trabalhador agrícola, quanto à dívida dos seus salários. 
IX - sobre os produtos do abate, o credor por animais.
Realização do ativo – art. 139:
Após a arrecadação dos bens e juntada do respectivo auto de arrecadação ao processo de falência, será dado início à realização do ativo.
Ou seja, sua alienação.
Converter-se-á os ativos em moeda, a fim de efetuar o pagamento do passivo.
Porém, há uma série de providências a serem realizadas previamente para que se proceda a venda.
É necessário ponderar sobre a alienação da empresa como um todo ou de determinados estabelecimentos.
Há também a prévia avaliação dos bens, bem como a decisão sobre a venda separada dos ativos.
A alienação cabe inteiramente ao administrador judicial que deve promovê-la em atenção ao plano de venda.
Modalidades de alienação dos bens – art. 140:
Ordem de preferência:
I. Alienação da empresa, com a venda de seus estabelecimentos em bloco.
II. Alienação da empresa, com a venda de suas filiais ou unidades produtivas isoladamente.
III. Alienação em bloco dos bens que integram cada um dos estabelecimentos do devedor.
IV. Alienação dos bens individualmente considerados.
Tal ordem não é aleatória, mas sistemática,
e encontra respaldo na própria diretriz principiológica assumida por lei.
Por um lado, expressam uma ordem decrescente de aptidão para gerar valores altos na liquidação, ou seja, a primeira é a mais rentável e a última a menos capaz de satisfatoriamente converter ativos para a solvência do passivo.
Além disso, o escalonamento dos modos de liquidação contribui para a limitação do poder discricionário do administrador judicial.
Também o interesse geral da preservação da empresa-atividade justifica a preferência às formas de liquidação dos ativos que facilitem o exercício da atividade empresarial, por meio da alienação de bens realizada pelo empresário.
Consequências da alienação – art. 141:
O objeto da alienação estará livre de qualquer ônus e não haverá sucessão do arrematante nas obrigações do devedor, inclusive as de natureza tributária, as derivadas da legislação do trabalho e as decorrentes de acidentes de trabalho.
Exceto quando o arrematante for:
Sócio da sociedade falida, ou sociedade controlada pelo falido.
Parente, em linha reta ou colateral até o 4º (quarto) grau, consanguíneo ou afim, do falido ou de sócio da sociedade falida.
Identificado como agente do falido com o objetivo de fraudar a sucessão.
Empregados do devedor contratados pelo arrematante serão admitidos mediante novos contratos de trabalho e o arrematante não responde por obrigações decorrentes do contrato anterior.
Modalidades da alienação – art. 142:
O juiz, ouvido o administrador judicial e atendendo à orientação do Comitê, se houver, ordenará que se proceda à alienação do ativo em uma das seguintes modalidades:
I. Leilão, por lances orais;
II. Propostas fechadas;
III. Pregão.
A realização da alienação em quaisquer das modalidades será antecedida por publicação de anúncio em jornal de ampla circulação, com 15 (quinze) dias de antecedência, em se tratando de bens móveis, e com 30 (trinta) dias na alienação da empresa ou de bens imóveis, facultada a divulgação por outros meios que contribuam para o amplo conhecimento da venda.
Impugnações – art. 143:
Em qualquer das modalidades de alienação referidas no art. 142 da Lei, poderão ser apresentadas impugnações por quaisquer credores, pelo devedor ou pelo Ministério Público.
Prazo: 48 (quarenta e oito) horas da arrematação.
Hipótese em que os autos serão conclusos ao juiz, que, no prazo de 5 (cinco) dias, decidirá sobre as impugnações e, julgando-as improcedentes, ordenará a entrega dos bens ao arrematante, respeitadas as condições estabelecidas no edital.
Outras modalidades de alienação – art. 144:
Havendo motivos justificados, o juiz poderá autorizar, mediante requerimento fundamentado do administrador judicial ou do Comitê, modalidades de alienação judicial diversas das previstas no art. 142 da Lei.
Assembleia Geral de Credores – art. 145:
O juiz homologará qualquer outra modalidade de realização do ativo, desde que aprovada pela assembleia-geral de credores, inclusive com a constituição de sociedade de credores ou dos empregados do próprio devedor, com a participação, se necessária, dos atuais sócios ou de terceiros.
No caso de constituição de sociedade formada por empregados do próprio devedor, estes poderão utilizar créditos derivados da legislação do trabalho para a aquisição ou arrendamento da empresa.
Não sendo aprovada pela assembleia-geral a proposta alternativa para a realização do ativo, caberá ao juiz decidir a forma que será adotada, levando em conta a manifestação do administrador judicial e do Comitê.
Pagamento dos credores:
As importâncias recebidas com a liquidação do ativo serão destinadas ao pagamento dos credores, atendendo à classificação do art. 83.
Os pagamentos serão realizados por meio de cheques ou mandados judiciais.
Os credores terão um prazo fixado pelo juiz para fazer o levantamento dos cheques.
Caso os credores não levantem a importância no prazo fixado, serão intimados para fazê-lo em 60 dias, sob pena de decair o direito.
Se todos os credores já estiverem pagos, o dinheiro não resgatado será restituído ao falido.
Encerramento da falência:
Prestação de contas pelo administrador judicial, no prazo de 30 dias (art. 154).
Julgamento das contas do administrador judicial.
Apresentação de relatório final, no prazo de 10 dias (art. 155).
Juiz encerra a falência, por sentença.
Da sentença que encerra a falência, cabe apelação.
Extinção das obrigações do falido – art. 158:
Pagamento de todos os créditos.
Pagamento, depois de realizado todo o ativo, de mais de 50% do passivo quirografário.
Decurso de 5 anos, contado do encerramento da falência, se o falido não tiver sido condenado por prática de crime falimentar.
Decurso de prazo de 10 anos, contado do encerramento da falência, se o falido tiver sido condenado por prática de crime falimentar.

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