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Interdisciplinaridade na EPT -

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A Interdisciplinaridade no contexto da EPT
Celso Augusto O. C. da Silva
Oliveira e Santos (2017) estabelecem um diálogo com vários autores que dissertam sobre o conceito de interdisciplinaridade, concluindo que existem várias definições para a temática. Para a produção deste texto elegemos alguns argumentos que nos ajudam a pensar a interdisciplinaridade no contexto da EPT. São apontamentos necessários e importantes. O principal argumento que podemos atribuir é a superação de práticas fragmentadoras assentadas num modelo de ensino que comporta o currículo separado por disciplinas que não se relacionam. 
*Japiassu (1976) atribui uma “patologia” epistemológica a fragmentação do saber provocado por um excesso de especialização das disciplinas científicas, complementando da seguinte forma “o saber fragmentado, em migalhas, pulverizado em multiplicidade crescente de especialistas, em que cada um se fecha como que para fugir ao verdadeiro conhecimento”. (*JAPIASSU, 1976, p. 40)
	*Fazenda (2011) e *Santomé (1998) também elegem o conceito de interdisciplinaridade enquanto prerrogativa de superar a visão fragmentada do conhecimento. Os autores apontam outro argumento válido para considerar a interdisciplinaridade nas práticas educativas, pautando que é uma “atitude interdisciplinar” situada no campo da ação e da intencionalidade. É uma atitude que busca construir ligações entre os conhecimentos, contextualizando situações concretas e reais, espaço o qual as ciências dialoguem permitindo novas formas de interpretação e compreensão da realidade. 
	*Luck (2010) conceitua a interdisciplinaridade enquanto metodologia de superação da fragmentação do conhecimento, proporcionando uma formação integral do educando ao propiciar a contextualização.
	Uma outra perspectiva em relação a interdisciplinaridade relaciona-se com a concepção histórica da produção do conhecimento. O conhecimento é produzido historicamente por homens e mulheres devido as suas necessidades existenciais. Assim sendo, “a interdisciplinaridade se impõe pela própria forma do homem produzir-se enquanto ser social e enquanto sujeito” *(FRIGOTTO, 2017, p. 37)
Assim sendo, o termo Interdisciplinaridade emerge nesse sentido, em contraposição a fragmentação do saber e na contextualização dos conhecimentos com realidade vivenciada pelos educandos, buscando a conexão dos saberes enquanto unidade que considere as relações entre os conhecimentos produzidos historicamente pela humanidade na totalidade/complexidade dos fenômenos sociais. 
Pensando no currículo escolar e consequentemente na práxis educativa em EPT, a interdisciplinaridade implica em mudanças nas formas tradicionais de ensino. Nesse sentido, e na perspectiva do Ensino Médio Integrado que prevê a integração da educação básica com a educação profissional, em contraposição a uma educação com uma estrutura dualista (formação para o trabalho intelectual x formação para o trabalho manual), a interdisciplinaridade é um recurso que deve consubstanciar um currículo integrado para uma formação integral.
A ideia de formação integrada como está apresentado acima, faz referência a unificação de todos os potenciais humanos, como ser histórico e capaz de se apropriar dos conhecimentos historicamente construídos. De superação da dualidade formativa, da compreensão da totalidade dos fenômenos, de como a produção da sociedade está organicamente vinculada ao processo educativo
Nesta direção, Ramos (2008) pauta que a construção do ensino médio integrado deve considerar a integração de conhecimentos gerais e específicos com a totalidade. A noção de totalidade dos fenômenos sociais é inerente ao ensino médio integrado. Teoria e prática são indissociáveis, os conhecimentos gerais e técnicos (Intelectual/prático) devem ser uma unidade só, dialogando com o contexto dos alunos, relacionando-se ao mundo do trabalho e a vida, no mundo real, concreto e dialético. Nessa perspectiva (Ramos, 2008, p. 15) nos esclarece que,
A historicidade dos fenômenos e do conhecimento dá vida aos conteúdos de ensino, pois foram os cientistas e grupos sociais do passado que desenvolveram determinadas teorias, mas eles representam o movimento da humanidade em busca do saber. Portanto, expressam a nossa capacidade, como seres humanos, de produzirmos conhecimentos e tomarmos decisões quanto aos destinos de nós mesmos. A compreensão dessa lógica nos permite nos ver como sujeitos e não como objetos de uma trama social que desconhecemos; nos permite nos ver, portanto, como intelectuais e como potenciais dirigentes dos rumos que nossas vidas e que a sociedade pode vir a tomar.	
		Nesse sentido, os professores e suas respectivas áreas de conhecimento são fundamentais. Araújo e Frigotto (2015) em artigo intitulado Práticas Pedagógicas e Ensino Integrado, fazem uma análise sobre o ensino integrado e chegam a algumas proposições: que é fundamental que os professores na relação com os alunos precisam ter um compromisso ético-político com a formação dos trabalhadores; a articulação desse compromisso tem que estar alinhada com um projeto de transformação social. Também elegem princípios norteadores: a contextualização, interdisciplinaridade e o compromisso com a transformação social. 
		
Ambos, professores e estudante, são sujeitos da prática pedagógica. Se a função principal do educador é mediar a relação entre cultura elaborada e o educando, dando direção à aprendizagem, este exercício só terá possibilidades de produzir autonomia discente e o reconhecimento da realidade social se orientada por um projeto-pedagógico de transformação da realidade. (ARAÙJO e FRIGOTTO, 2015, p. 74)
		*Freire (1987) nos orienta nessa direção também, de praticar uma educação que se contraponha a fragmentação dos conhecimentos e puramente mecânica, uma educação “bancária”. Estipula alguns princípios norteadores que dialogam com a interdisciplinaridade: dialogicidade, problematização, contextualização e coletividade.
		Nessa perspectiva, ganha centralidade a construção de currículo integrado. E o currículo é espaço de contradições, de luta de classes, como nos afirma (GADOTTI, 1992, p. 150 citado por Araújo e Frigotto, 2015, p. 70) “[...] é correia de transmissão da ideologia oficial [...] e, ao mesmo tempo, uma ameaça à ordem estabelecida por oferecer a possibilidade de contribuir para a libertação [...] refletindo a exploração e a luta contra a exploração. ”
		A superação da visão utilitarista e fragmentada da educação básica e profissional, de formação para atender o mercado de trabalho é o objetivo do ensino médio integrado, e nessa direção, trabalhar de forma interdisciplinar torna-se um horizonte a percorrer. A práxis social dos jovens de nossa sociedade atual, do mundo real e concreto, deve ser orientada nos princípios elencados acima, possibilitando uma práxis educativa emancipadora.
ARAUJO, R. M.; FRIGOTTO, G. Práticas pedagógicas e ensino integrado. Revista Educação em Questão, v. 52, n. 38, p. 61-80, 15 ago. 2015. Disponível em: https://periodicos.ufrn.br/educacaoemquestao/article/view/7956
OLIVEIRA, E. B.; SANTOS F. N. Pressupostos e definições em Interdisciplinaridade: diálogo com alguns autores. Revista Interdisciplinaridade. São Paulo, nº 11, p. 73-87, out. 2017. Disponivel em: http://revistas.pucsp.br/index.php/interdisciplinaridade. 
* (as citações utilizadas no texto foram retiradas desta referência)
RAMOS, Marise. Concepção do Ensino Médio Integrado. 2008. Disponível em:<http://forumeja.org.br/go/sites/forumeja.org.br.go/files/concepcao_do_ensino_medio_integrado5.pdf>

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