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1 Introdução à Ciência e Tecnologia dos Materiais Estrutura Atômica e Ligação Interatômica – Capítulo 2 Cursos de Graduação em Engenharia de Produção, Mecânica e Civil Introdução A lagartixa possui um número extremamente elevado de pêlos microscopicamente pequenos sobre cada uma das plantas de seus dedos. Quando os pêlos entram em contato com uma superfície, são estabelecidas pequenas forças de atração (forças de Van der Waals) entre as moléculas de seus pêlos e as moléculas da superfície. 2 Por que estudar a estrutura atômica? � Quando um material é tensionado, a força de atração entre os átomos resiste à tensão e controla a deformação e a fratura. � A condutividade elétrica resulta da mobilidade dos elétrons associados a um átomo. � A oxidação dos metais é causada pela difusão de átomos metálicos ou de oxigênio através da superfície, formando o óxido. Conceitos Fundamentais � Átomo = núcleo (prótons+nêutrons) envolvido por elétrons em movimento. Prótons Nêutrons Elétrons Carga (C) 1,60x10-19 Nula -1,60x10-19 Massa (kg) 1,67x10-27 1,67x10-27 9,11x10-31 Núcleo tem volume reduzido: a força repulsiva dos prótons é muito intensa. Isto faz do núcleo uma região de instabilidade intrínseca. Para que haja estabilidade, é necessário que exista uma outra força que balanceie a força eletrostática dos prótons: os nêutrons, que também agem como separadores de prótons, o que diminui a força eletrostática repulsiva entre eles. Os nêutrons são necessários, pois do contrário os núcleos seriam instáveis. 3 Conceitos Fundamentais � Cada elemento químico é caracterizado pelo número de prótons em seu núcleo: número atômico (Z). Corresponde a um número inteiro positivo entre 1 (hidrogênio) e 92 (urânio). Para um átomo eletricamente neutro: Z = número de prótons no núcleo = número de elétrons � Massa atômica (A): corresponde à soma das massas dos prótons e dos nêutrons no interior do núcleo de um átomo. A = mp + mN = Z + N Conceitos Fundamentais � O número atômico (Z) é igual para todos os átomos de um mesmo elemento, mas o número de nêutrons (N) pode ser variável. Isótopos Átomos de um mesmo elemento que possuem massas atômicas diferentes. � O peso atômico (g/mol), nestes casos, corresponde a média ponderada das massas atômicas dos isótopos do átomo que ocorrem naturalmente, onde os pesos da média são a abundância de cada isótopo na natureza. 4 Conceitos Fundamentais Configurações eletrônicas � Configuração eletrônica: Maneira como os elétrons se distribuem nos estados eletrônicos (valores de energia permitidos). � Princípio da Energia Mínima: Os elétrons estão distribuídos nos estados de menor energia, de modo a que a energia do átomo seja mínima (o átomo está no estado fundamental e é mais estável). � Se os átomos estiverem excitados, haverá elétrons em níveis de energia superiores, quando podiam estar em estados com menor energia. 5 Configurações eletrônicas � Princípio da exclusão de Pauli Cada estado só pode acomodar 2 elétrons com spins opostos. Representação esquemática dos estados energéticos preenchidos e do menor estado energético não preenchido para um átomo de sódio. Configurações eletrônicas � Nem todos os estados eletrônicos possíveis em um átomo estão preenchidos com elétrons. Representação esquemática dos estados energéticos preenchidos e do menor estado energético não preenchido para um átomo de sódio. � Em geral, os elétrons ocupam, os estados energéticos possíveis mais baixos nas camadas e subcamadas. Neste caso, diz-se que o átomo está no seu estado fundamental. 6 Configurações eletrônicas Configurações eletrônicas de átomos no estado fundamental (os elétrons estão todos nos estados de menor energia): Configurações eletrônicas � Elétrons de valência: são aqueles que ocupam a camada mais externa. São extremamente importantes, pois participam da ligação entre os átomos para formar agregados atômicos e moleculares, além de determinarem muitas propriedades físicas e químicas dos sólidos. 7 Configurações eletrônicas � Configuração eletrônica estável: os estados dentro da camada de valência estão completamente preenchidos. � Alguns átomos dos elementos que não possuem configuração estável podem assumir tal configuração. Ganho / Perda / Compartilhamento de elétrons A Tabela Periódica � Organização de acordo com a configuração eletrônica (ordem crescente de Z); � Períodos (linhas) e famílias (colunas); � Elementos de um mesmo grupo (coluna) possuem propriedades químicas e físicas similares. Por que? 8 Os períodos indicam o valor de n. A Tabela Periódica como guia para a configuração eletrônica 9 A Tabela Periódica � Grupo 0: gases nobres (inertes); � Grupo VIIA: falta 1 elétron (halogênios); � Grupo VIA: faltam 2 elétrons; � Grupo IIA: sobram 2 elétrons (metais alcalinos terrosos); � Grupo IA: sobra 1 elétron (metais alcalinos); � Entre IIIA, IVA e VA: características intermediárias entre metais e ametais; � Entre IIIB e IIB: metais de transição (estados eletrônicos d parcialmente preenchidos). A Tabela Periódica � Eletropositividade: tendência de ceder elétrons. � Eletronegatividade: tendência a aceitar elétrons. 10 Forças e energias de ligação Considerando-se 2 átomos isolados: � Grandes distâncias: interações desprezíveis � Menores distâncias: um exerce força sobre o outro. Atrativa Repulsiva De acordo com a distância entre eles Forças e energias de ligação � Quando as camadas eletrônicas mais externas começam a se sobrepor, uma forte força repulsiva começa a atuar. Ftotal = Fatrativa + Frepulsiva � Se os átomos são aproximados até uma distância de equilíbrio (r0 ): Fatrativa = Frepulsiva ↔ Ftotal = 0 � Para muitos átomos r0 = 0,3 nm. 11 Forças e energias de ligação � Algumas vezes é mais conveniente trabalhar com as energias potenciais entre dois átomos no lugar das forças entre eles. A força repulsiva aumenta consideravelmente para distâncias muito menores que as forças de atração. 12 Forças e energias de ligação � A energia de ligação para dois átomos (E0) corresponde à energia no ponto de mínimo e representa a energia que seria necessária para separar esses dois átomos até uma distância de separação infinita ou para criar uma ligação. � A mesma ideia é válida para materiais sólidos, onde muitos átomos interagem entre si. Forças e energias de ligação � A magnitude da energia de ligação e a forma da curva de energia em função da separação interatômica variam de material para material e ambas dependem do tipo da ligação atômica, além de influenciar em suas propriedades. � Exemplo: Materiais com alta energia de ligação apresentam alto ponto de fusão e baixo coeficiente de expansão térmica. 13 Ligações interatômicas � As propriedades de qualquer material dependem das ligações interatômicas presentes. � A natureza da ligação depende das estruturas eletrônicas dos átomos constituintes. � Para cada tipo, a ligação envolve necessariamente os elétrons de valência. � Ligações primárias (sólidos e moléculas) e secundárias (líquidos e gases). Ligações interatômicas Ligações Interatômicas Primárias Secundárias Iônica Covalente Metálica Dipolo induzido Dipolo permanente - Dipolo induzido Dipolo permanente 14 Ligações interatômicas primárias � Entre metais e não-metais; � Os átomos participantes ganham e cedem elétrons, tornando- se íons; Exemplo: NaCl Ligação Iônica Ligações interatômicas primárias Ligação Iônica Representação esquemática da ligação iônica no cloreto de sódio. 15 Ligações interatômicasprimárias � Ligação não direcional: magnitude da ligação é igual em todas as direções ao redor de um íon (1 carga – é atraída por todas as cargas + e vice versa) Ligação Iônica Organização do sistema em um arranjo tridimensional onde os íons de carga + possuem como vizinhos mais próximos íons de carga - Ligações interatômicas primárias Cristais do sal NaCl. 16 Ligações interatômicas primárias � Ligação predominante nos materiais cerâmicos; � Energia de ligação relativamente alta: entre 600 e 1500 kJ/mol; � Materiais iônicos são duros, frágeis, isolantes térmicos e elétricos e possuem alto ponto de fusão. Ligação Iônica Ligações interatômicas primárias � Entre átomos de eletronegatividades próximas. � Compartilhamento de elétrons entre átomos adjacentes. � Considera-se que os elétrons compartilhados pertencem a ambos os átomos (fusão dos orbitais externos). Ligação Covalente Exemplo: Metano (CH4) 17 Ligações interatômicas primárias � Carbono: 4 elétrons de valência � Hidrogênio: 1 elétron de valência � A molécula resultante tem apenas uma pequena atração pelas moléculas adjacentes (Tc=- 161ºC). Ligação Covalente Representação esquemática da ligação covalente em uma molécula de metano. Ligações interatômicas primárias � Ligação direcional: ocorre entre átomos específicos e pode existir apenas na direção entre um átomo e outro que participa do compartilhamento dos elétrons. Ocorre em ângulos específicos, de acordo com o material. Ligação Covalente Exemplo: Silício 18 Ligações interatômicas primárias � Podem ser muito fortes (diamante: Tf > 3550ºC) ou muito fracas (bismuto: Tf = 270ºC). � Polímeros possuem este tipo de ligação: longa cadeia de átomos de carbono ligados entre si por ligações covalentes. Ligação Covalente Ligações interatômicas primárias � É possível a existência de ligações interatômicas que são parcialmente iônicas e parcialmente covalentes. � Para um composto, o grau de cada tipo de ligação depende da diferença entre as eletronegatividades de seus constituintes. ↑ diferença de eletronegatividade ↑ caráter iônico 19 Ligações interatômicas primárias � O percentual de caráter iônico de uma ligação entre dois elementos A e B (onde A é o elemento mais eletronegativo) pode ser calculado pela seguinte expressão: % caráter iônico = {1 – exp [-(0,25)(XA-XB)²]}x100 Onde XA e XB são as eletronegatividades dos respectivos elementos. Ligações interatômicas primárias � Encontrada nos metais e suas ligas; � Os elétrons de valência não estão ligados a um átomo em particular, mas se encontram livres para se movimentar por todo o metal; � Não direcional; � Pode ser fraca ou forte, variando entre 68 e 850 kJ/mol; � Metais são bons condutores de calor e eletricidade. Ligação Metálica 20 Ligações interatômicas primárias � Ideia: nuvem de elétrons + núcleos iônicos positivos (com carga equivalente à carga total dos elétrons de valência por átomo) � Elétrons livres protegem os núcleos iônicos das forças repulsivas e os mantém unidos. Ligação Metálica Ligações interatômicas secundárias: Van der Waals � Fracas em relação às primárias: E~10 kJ/mol; � Presentes em praticamente todos os átomos ou moléculas, mas só são evidentes para os gases inertes e entre moléculas em estruturas moleculares ligadas de forma covalente; � Exemplos: a ligação entre as moléculas poliméricas, ligações entre gases, ligações entre camadas de materiais de estrutura folheada. 21 Ligações interatômicas secundárias: Van der Waals No policloreto de vinila (PVC), os átomos de cloro unidos à cadeia polimérica possuem carga negativa, ao passo que os átomos de hidrogênio têm carga positiva. Ligações interatômicas secundárias: Van der Waals � Surgem a partir da interação entre dipolos elétricos adjacentes. (Dipolo = separação espacial (espontânea ou induzida) entre as cargas positivas e negativas em um átomo ou molécula). Representação esquemática da ligação de Van der Waals entre dois dipolos. 22 Ligações interatômicas secundárias: Van der Waals � (a) átomo eletricamente simétrico. � (b) criação do dipolo a partir de movimentações dos átomos, que podem causar distorções instantâneas e de curta duração na simetria elétrica. Ligações de dipolo induzido flutuante Ligações interatômicas secundárias: Van der Waals � Um dipolo pode induzir outro dipolo no átomo adjacente, resultando na atração (ligação) entre os dipolos. � A força resultante desta atração é conhecida como força de van der Waals. � São as ligações mais fracas entre as ligações secundárias. Ligações de dipolo induzido flutuante 23 Ligações interatômicas secundárias: Van der Waals � Moléculas polares: possuem dipolos permanentes devido ao arranjo assimétrico que possuem. � Estas moléculas podem induzir dipolos em moléculas apolares adjacentes, resultando em uma ligação. � Magnitude desta ligação é maior do que aquela associada aos dipolos induzidos flutuantes. Ligações entre moléculas polares e dipolos induzidos Ligações interatômicas secundárias: Van der Waals � Exemplo: HCl 24 Ligações interatômicas secundárias: Van der Waals � Entre moléculas polares adjacentes. � A energia de ligação é maior do que aquelas nas ligações que envolvem dipolos induzidos. � Tipo mais forte: ponte de hidrogênio (F, O, N). Ligações de dipolos permanentes Ligações interatômicas secundárias: Van der Waals Exemplo: Ligação H-F Extremidade da ligação contendo hidrogênio é essencialmente um próton isolado Ligações de dipolos permanentes Exerce uma grande força de atração sobre a extremidade negativa da molécula adjacente 25 Ligações interatômicas secundárias: Van der Waals � Exemplo: água (solvente universal) Energias de ligação e temperatura de fusão para várias substâncias 26 Referências � Callister Jr, W.D. Ciência e Engenharia de Materiais: Uma Introdução. 7a ed. Rio de Janeiro: LTC, 2008, 705 p. � Askeland, D. R.; Fulay, P. P.;Wright, W. J. The Science and Engineering of Materials. Stamford: Cengage Learning, 2011, 949 9p. � Shackelford, J. F. Ciência dos Materiais. 6ª ed. São Paulo: Pearson, 2008. � Van Vlack, Lawrence H. Princípios de ciência dos materiais. Tradução de Luiz Paulo Camargo Ferrão. São Paulo: Edgard Blücher, 2004. 427p.
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