Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
U&E II - ORTOPEDIA 1 - Introdução sobre fraturas 2 - Fraturas expostas 3 - Complicações das fraturas 4 - Osteomielite e artrite séptica 5 - Fraturas proximais do fêmur 6 - Fraturas de pelve 7 - Trauma raquimedular 8 - Luxação do ombro 9 - Lesões menisco-ligamentares 10 - Entorse do tornozelo U&E II - ORTOPEDIA Medicina UFMG Thiago Nunes Turma 145 1 Thiago Nunes – UFMG 145 1 – Introdução sobre fraturas - As principais forças de trauma e suas fraturas associadas são: Angulação: transversa ou oblíqua Torção: espiral Tração: avulsão Compressão: impactada Classificação das fraturas - Utilizam-se parâmetros: 1. Lesão de pele e partes moles Fechada Exposta 2. Acometimento das corticais Completa Incompleta 3. Localização anatômica Epifisária Metafisária Diafisária 4. Acometimento articular Extra-articular Intra-articular parcial: há um segmento da articulação conectado à diáfise. Intra-articular total: há separação da diáfise com a articulação. 5. Configuração geométrica Transversa Oblíqua Espiral Avulsão Compressão 6. Traço da linha de fratura e segmentos Simples: traço único com somente 2 fragmentos. Cunha: no mínimo 3 fragmentos, porém mantendo contato entre os 2 principais. Complexa: ao menos 3 fragmentos, porém sem contato cortical entre os 2 fragmentos principais. Cominutiva: multifragmentada, podendo ser complexa ou não, a depender do contato entre os segmentos. Segmentar: forma-se um fragmento ósseo isolado e único. É complexa, mas não cominutiva. 7. Desvio ou alinhamento ósseo - Utiliza o segmento distal em relação ao proximal para definir o desvio: Sem desvio Angulada Cavalgada Rodada Desvio lateral Diástase 8. Etiopatogenia Trauma direto Trauma indireto Estresse Patológica OBS: Fratura em galho verde: é uma fratura incompleta e ocorre somente em crianças, devido ao periósteo que é grosso suficiente para evitar lesão das duas corticais. Para sua redução é necessário transformar cirurgicamente a fratura em completa. 2 Thiago Nunes – UFMG 145 Consolidação óssea Direta ou primária - Quando form-se osso diretamente, sem matriz cartilaginosa ou reparo intermediário. - Ocorre quando a estabilidade é perfeita, o que occore somente quando se usa placa e parafuso. - Ao RX, não se nota o calo ósseo Indireta ou secundária - É a mais comum. Antes de formar o osso, forma-se tecido fibrocartilaginoso intermediário. - Ocorre quando há estabilidade parcial, que ocorre na maioria dos métodos de tratamento. - Ao RX, nota-se o calo ósseo. - Possui 3 fases: a) Hematoma fraturário: imediato b) Calo mole: dura 2 semanas c) Calo duro: após 2 semanas até 9 meses. - Com 6 semanas há consolidação clínica. - Com 6 meses há consolidação radiológica. - O tempo máximo para consolidação radiológica é de 9 meses. Problemas na consolidação Consolidação viciosa - Quando a consolidação ocorre na posição de deformidade. Pseudoartrose - É a ausência de consolidação de fratura de 6 (aula Ubiratam) a 9 meses (OMS) após a fratura. - Principais causas são: fixação inadequada, osteomielite e necrose de fragmentos fraturários. - Há 2 tipos de pseudoartrose: Hipertrófica ou bem-vascularizada (sem estabilidade) - Distúrbio mecânico, com movimento no foco da fratura. - Por ser bem vascularizada, forma o calo ósseo. Atrófica ou avascularizada - Não forma o calo ósseo. Princípios do Tratamento geral de fraturas - Em caso de fraturas expostas, seguir recomendações específicas no próximo capítulo. Pré-hospitalar Imobilzação provisória com talas Hospitalar Analgesia venosa Redução da fratura Estabilização da redução Profilaxia antitrombótica Redução Redução Cirúrgica/Aberta/Cruenta - Indicada para fraturas cominutivas, instáveis (dor contínua ou desvio mantido após redução incurenta), intraarticulares ou expostas em sua maioria. 3 Thiago Nunes – UFMG 145 Redução Fechada/Incruenta - Há duas modalidades de redução incruenta: • Manipulação - 3 etapas: tração longitudinal > acentuação da deformidade > redução da deformidade - Indicações: Fratura diafisária fechada simples Fratura de falanges Fratura distal do rádio (Fratura de Colles) no adulto Fratura do úmero supracondiliana com desvio na criança • Tração contínua - Há duas técnicas de tração contínua: Cutânea: nas crianças. Esquelética: nos adultos, utilizando pino de Steinman ou fios de Kirschner. - Deve ser mantida por 2 semanas, com paciente internado, por isso é um método em desuso atualmente, preferindo redução cirúrgica se a tração contínua estiver indicada. - Fica guardada para casos em que o paciente deve aguardar a cirurgia, como instabilidade clínica ou espera de vaga no bloco cirúrgico. - Indicações tradicionais: Fratura diafisária do fêmur Fratura-luxação cervical Estabilização da redução/Osteossíntese Contenção externa - Uso de gesso ou órteses plásticas. - Tempo médio de 6 semanas, sendo de 3 semanas para falanges e 12 semanas para a tibia, por exemplo. - Indicações: Fraturas estáveis de membro superior Fraturas estáveis de tibia e fíbula - Complicações com gesso: isquemia distal, úlcera de pressão, instabilidade por quebra do gesso. Fixação externa - Indicações: Paciente crítico que não suportaria tratamento definitivo. Fraturas diafisárias expostas grau III B e III C Fraturas diafisárias cominutivas da tibia e da extrenudade distal do rádio. Fixação interna - Há diversas técnicas com indicações respectivas: • Placa e parafuso: fraturas epifisárias ou metafisárias, fraturas expostas grau I até III A ou em segundo tempo nas III B e III C. • Haste intramedular: fratura diafisária no fêmur ou fraturas expostas grau I até III A. A incisão é feita longe do foco de fratura. • Fios de Kirschner: fraturas articulares do pé, fratura distal cominutiva do rádio e em situações em que haja grande contaminação na ferida exposta. 4 Thiago Nunes – UFMG 145 2 - Fraturas expostas Definição: fratura associada a lesão de pele e partes moles permitindo contaminação do osso ou contato do hematoma fraturário com o meio externo. A presença de sangue com gotículas de gordura significa fratura exposta. Toda fratura exposta é no mínimo uma lesão contaminada. Classificação de Fraturas Expostas Classificação de Gustillo-Anderson. - Utiliza 4 fatores: extensão da ferida, nível de contaminação, lesão de partes moles e lesão óssea. - A energia do trauma é mais importante que a extensão da ferida (Ubiratam). Grau Ferida Contaminação Partes moles Lesão óssea I < 1 cm Mínima Mínima Simples, sem cominuição II 1 - 10 cm Moderada Moderada com lesão muscular Moderada cominuição III A > 10 cm Muito contaminada Grave com esmagamento Possível cobertura óssea III B Muito grave Requer reconstrução III C Muito grave com lesão vascular Requer reparo vascular - Em casos espciais, consideramos diretamente grau IIIA: PAF Ambiente rural Fraturas segmentares - Somente no grau I a ferida é causada de dentro para fora enquanto que nos graus II e III, é a própria energia do trauma que lesa a pele e partes moles, ou seja, de fora para dentro. - Fraturas tipo I têm prognóstico e tratamento semelhantes às fraturas fechadas, mas seu tratamento é quase sempre cirúrgico. - Nas lesões III B, é preciso de enxerto para cobrir o osso. - Incidência: III A > II > I > III C > III B Classificação de Tscherne- Utiliza apenas lesão de partes moles: C0: nenhuma lesão C1: escoriações C2: edema e hematomas C3: síndrome compartimental Abordagem inicial das fraturas expostas - O principal objetivo no tratamento inicial da fratura exposta é evitar a infecção! 1. Atendimento inicial ao politraumatizado - Pacientes com fraturas, até que se prove o contrário sofreram algum tipo de trauma e deverão ser atendidos inicialmente de acordo com o ATLS. - Fraturas não são notadas somente no “E” de exposição. No A pode haver fratura grave de face, no B de costelas, no C da pelve ou D cervical. - Após excluídas ou tratadas condições letais acima, no “E - exposure” faremos exposição e avaliar membros quanto a: Ectoscopia Feridas/soluções de continuidade Desvio - Fêmur proximal: rotação externa Palidez ou cianose distal Movimentação grosseira ativa 5 Thiago Nunes – UFMG 145 Palpação Foco de fratura Pulso distal Temperatura distal Percussão Reflexos tendinosos profundos 2. Curativo estéril e imobilização provisória - Sala de emergência não é o local de se reduzir ou desbridar fraturas expostas! - Após avaliação inicial, deve-se cobrir com gase estéril, passar o crepom e posicionar a tala de espuma para imobilização provisória. - Se o osso for visível, imobilizar na posição em que estiver, sem reduzir. 3. Antibioticoprofilaxia - Isolada a ATBprofilaxia não previne a infecção, sendo necessário também o desbridamento cirúrgico. - Ela deve ser iniciada ainda na avaliação primária. - Está indicada até em no máximo 6 horas, porque depois disso a lesão será considerada infectada e merecerá antibioticoterapia! - Recomendação: • Gustillo I e I: cefalosporina de 1ª geração (cefazolina), por 24 horas. • Gustillo III: cefalosporina de 1ª geração + aminoglicosídeo (gentamicina), por 48 horas. • Fratura exposta em ambiente rural: tratar como Gustillo III + penicinlina cristalina, por 48 horas. 4. Profilaxia antitetânica - Também deve ser inicicada na sala de emergência, durante a avaliação primária. - Se a vacina antitetânica estiver em dia e comprovada pelo cartão, não é necessária. 5. Avaliação radiológica - Para avaliar a extensão da lesão e possíveis abordagens cirúrgicas, não para diagnóstico, o qual é clínico! 6. Tratamento cirúrgico - O principal objetivo no tratamento da fratura exposta é prevenir que a contaminação se transforme em infecção, por isso é considerada urgência ortopédica e requer cirurgia em no máximo 6 horas! - Os princípios cirúrgicos na fratura exposta são: • Anestesia, assepsia e antisepsia • Exploração da ferida • Desbridamento - É a medida mais importante na redução da morbimortalidade • Lavagem mecânico-cirúrgica exaustiva com 10L de SOF • Redução • Estabilização precoce - I até III A: placa e parafuso ou haste intramedular de acordo com localização da fratura. - III B e III C: fixador externo provisório, depois fixador externo definitivo (Lisarov) ou placa e parafuso. • Fechamento da ferida - Tipo I: fechamento no ato cirúrgico. - Tipo II: fechamento imediato ou após 48 horas. - Tipo III: nunca fechar primariamente, somente após o second look, em 48 horas. OBS: no tipo II, temos melhores resultados no fechamento por segunda intenção com curativo à vácuo do que com fechamento por primeira intenção. 6 Thiago Nunes – UFMG 145 OBS: Lesão vascular importante somente deve ser reparada após fixação. Em caso de ausência de pulso ou evolução da lesão entre 3 e 6 horas, pode-se tentar um shunt provisório, proceder à fixação para então fazer a sutura/reparo vascular definitivo. OBS: Lesão de nervo não é urgente e pode ser abordada em segundo tempo, em até 15 dias, sem prejuízo prognóstico. Isso só não vale para lesão do N. Tibial com fratura da tíbia, que é um critério de amputação. Grau Ferida ATBprofilaxia Estabilização precoce Fechamento da pele I < 1 cm Cefalosporina 1ª geração 24 horas Placa e parafuso ou haste intramedular No ato cirúrgico II 1 - 10 cm A julgamento clínico III A > 10 cm Cefalosporina 1ª geração + aminoglicosídeo 48 horas Após 48 horas, se ausência de infecção III B Fixação externa III C Critérios de amputação Absolutos Fratura de tibia com lesão do N. Tibial (perda da sensibilidade plantar) Fratura expoxta tipo III com mais de 6 horas de isquemia Fratura exposta tipo III C extensa, que impossibilita reconstrução Relativos imediatos Politrauma com choque hemorrágico e risco de vida Idoso que não deambula Tardios Áreas extensas insensíveis Contraturas e dor crônica incapacitante Prótese potencialmente mais funcional que o membro Índice de MESS - Avalia 4 parâmetros para definir pela amputação ou não, sendo pontuado de 0 a 12: Lesão/Energia Choque hemorrágico Isquemia do membro Idade do paciente - MESS ≥ 7 = amputação do membro. - MESS < 7 = membro viável, fazer reparos e enxertos necessários. 7 Thiago Nunes – UFMG 145 3 - Complicações das fraturas Complicações precoces Embolia gordurosa Síndrome compartimental TVP e TEP Lesões vasculares Lesões neuromusculares Complicações tardias Osteomielite Artrite séptica Necrose avascular/asséptica Distrofia simpaticorreflexa/algodistrofia Consolidação anormal Embolia gordurosa - A embolia gordurosa ocorre entre 24 e 72 horas após a fratura, podendo surgir em até 2 semanas. - Os dois principais fatores de risco são fratura fechada de ossos longos e pelve. - Sinais e sintomas no paciente de risco: Taquidispneia súbita Petéquias disseminadas no tronco Confusão mental Alterações inespecíficas no Rx de Tórax - Tratamento é de suporte: oxigenioterapia e VNI. - A melhor medida é a prevenção com fixação precoce em até 24 horas após a fratura. Síndrome compartimental - É uma emergência ortopédica e requer fasciotomia imediatamente. - Risco aumentado em fraturas fechadas. Os compartimentos mais acometidos em ordem são: Anterior da perna: fratura diafisária da tibia Posterior do antebraço: fratura do rádio distal (Colles) Qualquer sítio: por esmagamento Anterior do antebraço: fratura supracondiliana do úmero - Ocorre quando: Pressão de perfusão muscular > 20 mmHg acima da PAD Pressão intracompartimental > 30 mmHg - O diagnóstico é clínico. - Os sinais e sintomas em evolução são lembrados pelos “5 Ps”: • Pain • Parestesia • Paresia/paralisia • Palidez • Pulseless - A parestesia é um sinal precoce, surgindo em até 2 horas e é transitória (neuropraxia). - A paresia surge após 4 horas e evolui para paralisia, representando dano permanente. - Hipoestesia e anestesia são sinais tardios, que ocorrem após a paralisia. - Palidez e ausência de pulso são sinais de comprometimento arterial. - Outros sinais e sintomas são: • Edema endurado • Tensão muscular - Tratamento: Retirada da imobilização Fasciotomia imediata extensa bilateral 8 Thiago Nunes – UFMG 145 Necrose avascular ou asséptica - Principais causas: • Fraturas epifisárias e metafisárias: colo de fêmur, côndilos do fêmur, platô tibial, cabeça do rádio, escafoide, semilunar e tálus • Iatrogênicas: redução com fixação interna mal posicionadas. • Clínicas: uso de corticoides, etilismo e etc. - O diagnóstico é suspeito por dor na articulação envolvida, que piora com movimentação e deve ser confirmado por exames de imagem: RMN > Cintilografia > TC > RX • RMN: sinal da dupla linha, que é patognomônico.• Cintilografia: hipercaptação ao redor de área de hipocaptação. • RX: só detecta sinais tardiamente, quando há fibrose e neoformação óssea. Principais sinais: Hiperdensidade óssea Sequestro ósseo Cistos ósseos Fratura subcondral Colapso Osteoartrose Tratamento Tratamento conservador - Área < 15% da cabeça femoral, em jovens assintomáticos. - Até estágio 3 na cabeça umeral. Descompressão óssea - Área < 15% da cabeça femoral, em lesões recentes diagnosticadas por RMN, nos jovens assintomáticos. Osteotomia - 15% < Área < 30% da cabeça femoral, com colapso parcial ou cistos, em jovens. Endoprótese - Área > 30% da cabeça femoral ou nos idosos, se área > 15%. Distrofia simpaticorreflexa ou algodistrofia - Há um estado crônico de hiperssensibilidade. - Sinais e sintomas surgem como dor inexplicável, edema, pele fria, úmida, lisa, moteada (eritrocianose) e brilhante. Depois evoluem para atrofia muscular, hiperpigmentação e osteoporose grave. - Tratamento com fisioterapia, analgesia, antidepressivos e corticoides. 9 Thiago Nunes – UFMG 145 3 - Osteomielite e Artrite Séptica Osteomielite - Sua fisiopatologia envolve infecção óssea, destruição tecidual, sequestro de fragmento ósseo, formação de biofilme e perpetuação da inflamação em um ciclo vicioso. Fatores de risco Uso de drogas injetáveis Cateter venoso central de longa permanência Endocardite infecciosa ITU e bacteriúria assintomática se prótese IVAS e infecções de pele Fraturas expostas Iatrogênica em cirurgias de coluna Classificação - A osteomielite pode ser aguda ou crônica. - O critério diferencial é radiológico: • Aguda: sem sequestro ósseo. • Crônica: com sequestro ósseo. Em geral, acima de 4 semanas. Osteomielite Aguda - Principal mecanismo se dá por disseminação hematogênica e monomicrobiana. - A porção óssea mais afetada é a metáfise. - As crianças pré-púberes são as mais acometidas por osteomielite aguda. - Localizações principais: • Adulto: osteomielite vertebral ou espondilodiscite. Associada com S. aureus ou Pseudomonas. • Criança: osteomielite na metáfise tibial e femoral. Associada com S. aureus ou Pneumococo - Sinais e sintomas: Dor intensa localizada Impotência funcional Febre e calafrios Trauma ou infecção recente Hipersensibilidade na palpação do processo espinhoso vertebral OBS: Osteomielite na Anemia falciforme: o principal germe é a Salmonella spp. Osteomielite crônica - Principal mecanismo é por contiguidade na osteomielite que surge após fratura exposta complicada ou mesmo no pé diabético. - Deve-se suspeitar sempre de osteomielite nos pacientes com consolidação retardada ou pseudoartrose. - Associada com infecção polimicrobiana por Estafilococos (aureus e coagulase negativo) e Gram-negativos anaeróbios. - Na presença de próteses, temos ainda associação com Pseudomonas. - Sinais e sintomas: Oligossintomáticos Dor crônica Anormalidades de consolidação - Pseudoartrose - Consolidação retardada Fístulas osteocutâneas 10 Thiago Nunes – UFMG 145 OBS: Osteomielite no Pé diabético: a visualização do osso sob uma ferida, o toque dele acessível por meio de qualquer intrumento explorador OU úlcera sobre proeminência óssea acima de 2 cm2 já indica alta suspeição de osteomielite crônica. Exames complementares Exames laboratoriais - São mais aplicáveis na osteomielite aguda, pois na crônica as provas inflamatórias costumam negativar: • Hemograma: possível leucocitose. • PCR >> 10. Útil para acompanhar à resposta ao tratamento agudo, reduzindo a partir de 48 horas. • VHS > 100. Inútil para acompanhamento. Pico tardio, reduzindo a partir de 5 dias. Exames de Imagem - Métodos possíveis e achados: • Radiografia simples - Baixa sensibilidade, fazendo diagnóstico tardiamente. - Achados: espessamento do periósteo, áreas de esclerose e áreas de lise. • TC: se RMN indisponível. • Cintilografia - Indicada para diagnóstico diferencial com celulite. Osteomielite: marcação em 3 fases. Celulite: marcação em 2 fases. • RMN - Método mais indicado, por ser mais sensível e específico, fazendo diagnóstico precoce. - Sinal de hiperintensidade em T2 (acúmulo de líquido) no interior da medula óssea. Diagnóstico Microbiológico - O padrão-ouro na confirmação diagnóstica da osteomielite é a biópsia por desbridamento cirúrgico ou punção, com cultura da amostra. OBS: tratamento empírico x cultura: normalmente, só se inicia o tratamento antibiótico empírico após a coleta do material ósseo para cultura! Somente em duas situações se inicia a ATBterapia antes da coleta: Infecção de partes moles Sepse Tratamento - Via de regra o tratamento da ostemielite independentemente de ser aguda ou crônica exige antibioticoterapia e cirurgia. - Duração sempre será longa, de no mínimo 6 semanas na osteomielite aguda e mínimo de 6 meses na osteomielite crônica, sendo recomendado um acesso venoso central inserido por veia periférica. Particularidades no tratamento Osteomielite aguda hematogênica - Tratamento cirúrgico: desbridamento. - Antibioticoterapia empírica intravenosa: • Baixo risco de MRSA: oxacicilina ou cefazolina • Alto risco de MRSA: vancomicina - Antibioticoterapia guiada por cultura e antibiograma por 6 semanas, parenteral. Oral apenas se tipo I. 11 Thiago Nunes – UFMG 145 Osteomielite após fratura exposta - Tratamento cirúrgico: desbridamento. - No caso de materiais de fixação interna ou próteses, há formação de biofilme. - As camadas do biofilme possuem bactérias diferentes, sendo que nas mais internas predominam os germes anaeróbios e mais resistentes. Logo, deve-se cobrir uma infecção polimicrobiana. - Antibioticoterapia empírica intravenosa: Vancomicina (MRSA) + Cefepime (Gram negativo e Pseudomonas) + Rifampicina (MRSA no biofilme, se fixação interna ou prótese). - Dispositivos de fixação inerna devem ser mantidos. Proceder desbridamento, ATBterapia empírica até a ATBterapia guiada por cultura, por 3 a 6 meses. Retirar fixadores, colher nova cultura e fazer um ciclo de ATB por 6 semanas, se necessário. - Próteses são mantidas ou retiradas de acordo com o tempo de evolução e cronicidade da osteomielite: ≥ 4 semanas: retirar prótese, desbridar, por espassador, manter ATBterapia guiada até revisão em 6 semanas, quando se deve repetir o processo. Manter ATBterapia por 6 meses. < 4 semanas: manter prótese, desbridar e manter ATBterapia guiada por no mínimo 6 semanas. Se Acinetobacter baumanii crescer na cultura, retirar prótese independentemente do tempo. Artrite séptica ou pioartrite - Incidência bi-modal, predominando abaixo de 2 anos ou entre 8 e 12 anos. O local mais comum é o joelho. - Sua etiologia mais comum é após bacteremia, mas pode ocorrer por lesões articulares traumáticas. - Quadro clínico: dor, calor, edema, rubor, redução da ADM e impotência funcional da articulação. Exames gerais Hemograma: leucocitose PCR >> 10 VHS > 100 Hemocultura se supeita de sepse Exames de imagem - Por se tratar de uma urgência ortopédica, devemos solicitar a radiografia simples da articulação. - Se dúvida a respeito de osteomielite aguda associada, solicitar RMN. Punção Diagnóstica - É o exame padrão-ouro na confirmação diagnóstica. Deve-se soliciar punção do líquido articular e os seguintes exames da punção: • Bioquímicos: ↓ glicose (50% menor que glicemia sérica) e ↑ proteínas • Citometria: ↑ leucócitos (NS > 85% sem prótese ou NS > 65% se prótesearticular) • Gram: possível identificação direta, mas improvável. • Cultura: com antibiograma Tratamento - Consiste em antibioticoterapia por 6 semanas e uma medida cirúrgica: • 24 horas, fazer artrotomia. • < 24 horas, fazer artroscopia. - Neonato e sintomas há menos de 24 horas, fazer aspiração por punção. 12 Thiago Nunes – UFMG 145 4 - Fraturas do fêmur proximal - Há 3 tipos de fraturas proximais do fêmur: • Fratura do colo femoral • Fratura transtrocanteriana • Fratura subtrocanteriana - As fraturas de colo e transtrocanteriana são as mais comuns e com mesma incidência. - Fraturas femorais, sempre serão cirúrgicas a menos que o paciente seja acamado e esteja sem dor. - Em relação à anatomia do fêmur proximal é importante saber que: Ângulo colo-diafisário é de aproximadamente 130° - As fraturas proximais causam redução desse ângulo. - Palwells classifica as fraturas de acordo com essa redução, sendo que quanto maior a redução, maior o risco de lesão vascular. A carga se distribui principalmente sobre a porção medial do colo femoral A principal artéria que irriga a cabeça e colo é a A. Circunflexa Medial A vascularização intracapsular é pobre enquanto que a extracapsular é rica. Quadro clínico - Fraturas proximais ocorrem principalmente em idosos, do sexo feminino, com traumas de baixa energia, como queda de própria altura. - Lembrar de sempre iniciar a avaliação pelo ATLS seguindo o ABCDE, para depois focar na fratura femoral. - Os principais achados são: Dor no quadril e coxa Membro encurtado e com rotação externa Claudicação se fratura sem desvio Impossibilidade apoio no chão se fratura com desvio Exames complementares - Solicitar radiografias sempre bilaterais para comparação, além de: • Rx de bacia em AP • Rx do quadril em AP real • Rx do quadril em Perfil com raios horizontais - Lembrar de solicitar exames laboratoriais e Rx de Tórax em AP para o risco cirúrgico. Não requer ECO, mesmo nos idosos com fator de risco cardiovascular. OBS: Osteoporose: se fratura de fêmur proximal, em paciente acima de 60 anos e com baixa energia, é mandatória confirmação de osteoporose. Há várias formas de confirmar, mas a principal é a densitometria óssea. Outras possibilidades são: Radiografia simples de quadril: Singh < 4 Índice de Dorr: espessura da cortical reduzida Fratura do colo femoral - É considerada uma fratura intracapsular, o que significa pior vascularização. - Complicações: 25% de mortalidade ; Instabilidade com desvio e Necrose avascular. - O encurtamento e rotação interna são menos evidentes que na fratura trantrocantérica, pois nesse caso o desvio é contido pelos ligamentos intraarticulares. 13 Thiago Nunes – UFMG 145 Classificação de Garden • Garden I: incompleta ou impactada. • Garden II: completa, sem desvio. • Garden III: desvio parcial em varo, causando redução do ângulo colo-diafisário • Garden IV: desvio ou deslocamento total. Tratamento - O tratamento é quase sempre cirúrgico, devendo ser realizado precocemente em até 12 horas se possível. • Tratamento conservador: em idosos acamados, com risco proibitivo, Garden I ou II e sem dor. • Fixação interna com placa e parafuso: jovens ou idosos ativos Garden I ou II (estáveis) • Redução fechada e fixação interna com haste bloqueada: jovens ou idosos ativos Garden III ou IV. • Endoprótese de quadril ou Artroplastia: acima de 65 anos e pouco ativos Garden III ou IV. - Artroplastia parcial: acima de 75 anos e menos ativos. - Artroplastia total: entre 65 e 75 anos e mais ativos. Garden Descrição Estabilidade Tratamento I Incompleta Estável Jovens: placa e parafuso deslizante Idosos com risco proibitivo e acamados: conservador II Completa sem desvio III Completa com desvio parcial Instável Jovens ou idosos ativos: haste intramedular bloqueada Idosos pouco ativos: hemiartroplastia ou artroplastia total IV Completa com desvio total Fratura transtrocanteriana ou intertrocantérica - É extracapsular e metafisária, logo as complicações são menores, possuindo melhor consolidação. - A rotação externa e encurtamento são mais evidentes, porque não há capsula para conter o desvio. - É mais comum a presença de equimoses locais. - Tratamento semre cirúrgico. - É uma urgência e não emergência como a fratura de colo, podendo aguardar até 48 horas para cirurgia. - A escolha é por fixação interna, com placa e parafuso. Fratura subtrocantérica - É a menos comum e sempre se deve investigar fratura patológica. - Classificação e tratamento: • Tipo I: traço não atinge o trocânter maior. Tratamento: haste intramedular bloqueada. • Tipo II: traço atinge o trocânter maior. Tratamento: placa com parafuso em ângulo fixo. Complicações - As principais são: Embolia gordurosa: precoce, surgindo entre 12 e 72 horas. Eventos tromboembólicos: tardios, surgindo por volta do 5° dia. Outras complicações da restrição ao leito: atelectasia, pneumonia, escara e ITU. 14 Thiago Nunes – UFMG 145 6 - Fraturas de pelve Mecanismo de trauma - Fraturas de pelve são causadas por traumas contusos de alta energia, principalmente por: • Colisão automobilística - Compressão ântero-posterior ou lateral. - Considerada de alta energia se acima de 40 km/hora • Queda de altura - Alta energia é considerada acima de 3m. - Compressão vertical • Atropelamento - Compressão e cisalhamento ântero-posterior ou lateral Avaliação diagnóstica Exame clínico inicial - Sempre seguir o ABCDE, mas de acordo com o estado do paciente e a energia, há 2 momentos de exame: • Avaliação primária no C: se o paciente estiver com qualquer alteração sugestiva de choque ou então em traumas de alta energia. • Avaliação secundária: na ausência de instabilidade hemodinâmica de trauma de alta energia. Inspeção Assimetria de comprimento nos membros inferiores, Rotação externa do membro Sinais de lesão uretral (equimose perineal, hemouretrorragia, dificuldade de urinar) Sinal de Destot: hematoma perineal, indicando lesão do assoalho pélvico. Sinal de Morell-Lavallé: equimose extensa na lateral da coxa, devido à fratura acetabular e necrose gordurosa. Palpação de instabilidade - Fazer uma única vez uma compressão delicada em busca de dor e crepitação, em 2 locais: Sínfise púbica: compressão AP. Cristas ilíacas: compressão AP e LM bilateralmente. Medidas de reanimação • Expansão volêmica: se paciente apresentar quaisquer alterações hemodinâmicas iniciais. • Mobilização: - Lençol amarrado ou cinta pélvica sobre os trocânteres devem ser usados se detectada instabilidade pélvica ao exame físico e o paciente estiver em choque. - Não se deve utilizar dispositivos de imobilização nas fraturas por compressão lateral, porque o espaço pélvico já está reduzido e haverá maior risco de lesão visceral. Medidas auxiliares da avaliação primária - No trauma pélvico de alta energia estão indicados: • Radiografia de tórax: há pneumoperitôneo? Pode indicar lesão abdominal. • FAST: há hemoperitôneo? Está indicado mesmo nos pacientes estáveis, pois se houver lesões abdominais, deverão ser tratadas primeiramente. No paciente estável, indicará laparotomia se presente líquido livre em ao menos 2 quadrantes com uma espessura de 1 cm ou mais. 15 Thiago Nunes – UFMG 145 • Radiografia de pelve em AP: para diagnóstico, classificação e decisão sobre a estabilização. • Cateterização vesical: somente deve-se tentar passar uma SVD se não houver sinais de lesão uretral e o paciente conseguir urinar. Avaliação secundária Visualizaçãodo dorso - Rotação em bloco, somente após a mobilização e procurar hematomas no dorso, flancos e glúteos. Toques - Na suspeita de fratura pélvica, deve-se fazer os toques e o sangue no dedo de luva indica lesão visceral: Toque retal: lembrar de avaliar se há cefalização da próstata. Toque vaginal: evitar em crianças. Exames secundários Uretrografia retrógrada - Está indicado na suspeita de lesão uretral: Hemouretrorragia Equimose perineal Dificuldade de urinar Cefalização prostática Cistostomia suprapúbica - Está indicada se lesão uretral confirmada por uretrografia retrógrada. Classificação de fratura pélvica Tipo Mecanismo Linha de fratura Consequência V. retroperitonial A Compressão Lateral Horizontal no pubis Rotação medial Reduz B Compressão AP Vertical no pubis Diástase do pubis Aumenta C Cisalhamento Vertical Junção sacro-ilíaca Desalinhamento da crista ilíaca Aumenta muito - Traumas que afetam a pelve posteriormente (ligamentos sacroilíacos) são considerados instáveis e associados a alto risco de sangramento. Classificação de Young e Burgess - Guardar que estáveis são apenas as fraturas Young-Burgess CAP e CL I. - A fratura em livro aberto ocorre quando há diástase > 2 cm da sínfise púbica. Fraturas expostas da pelve 16 Thiago Nunes – UFMG 145 - Se continuidade com uretra ou reto a fratura é chamada de exposta oculta e merece laparotomia exploradora. Se lesão retal (sangue no dedo de luva), precisa de colostomia. - Se exposta diretamente, a mortalidade é extrema. Contenção da hemorragia - O objetivo da imobilização é o tamponamento da hemorragia venosa. - Lesões CAP II, III e VS cursam com aumento do volume retroperitoneal, favorecendo a hemorragia. - Nas lesões CL, somente passar lençol sobre os trocânteres no pré-hospitalar até obtenção da radiografia pélvica, quando pode-se abrir mão do pelvic binder ou posicioná-lo frouxamente. Algoritmo de tratamento da fratura pélvica 1. Diagnóstico e classificação da fratura com radiografia de pelve em AP 2. Estabilização com cinta pélvica ou dispositivos posteriores em CAP III e CV 3. Exclusão de hemorragia intraperitoneal com FAST 4. Em caso de hemorragia persistente, identificar origem, se venosa ou arterial, com Angio-TC. 5. Venosa: no paciente estável fazer a fixação externa. No instável, o tamponamento pré-peritoneal. 6. Arterial: no paciente estável fazer a angioembolização e fixação externa. No instável, está indicado o controle de dano, também com tamponamento pré-peritoneal. - O tamponamento pré ou extraperitoneal envolve a colocação de 3 compressas laterais a bexiga. Tratamento cirúrgico ortopédico - Fraturas tipo B de Young-Burgerss em “livro aberto” > 2,5 cm sempre merecem tratamento cirúrgico. - Para controle de danos, preconiza-se retirar no bloco cirúrgico os dispositivos de imobilização somente após colocação do fixador externo temporário. - A posição ideal do fixador é sobre a asa do ilíaco. Se ela estiver fraturada, colocar sobre região supraacetabular. - O tempo ideal da cirurgia ortopédica definitiva na fratura de pelve, a janela de oportunidade, é entre 5 a 10 dias, devido ao menor risco de SIRS e infecção. 17 Thiago Nunes – UFMG 145 7 - Luxações do ombro - Há duas possibilidades de luxação no ombro: • Luxação glenoumeral • Luxação acromioclavicular - O diagnóstico é clinicorradiológico, confirmado pelo RX de ombro com aumento do espaço articular, nas seguintes incidências da série traumática de ombro: AP de ombro Perfil escapular Perfil axilar Luxação glenoumeral - É a luxação mais comum no corpo humano, sendo traumática na sua maioria. - Mecanismo principal de luxação: extensão, abdução e rotação externa do ombro. - O deslocamento mais comum é anterior. Quadro clínico Homem de 20 a 30 anos praticando esportes que demandam ampla movimentação do ombro. Sensação súbita de deslocamento, estalo ou fratura Dor intensa no ombro e incapacidade de sustentar o braço Membro em rotação externa, abdução, deslocado anteriormente Sinal do cabide ou depressão na lateral do ombro Complicações - A complicação mais temida é a lesão do nervo axilar, caracterizada por hipoestesia e parestesias na lateral do deltoide. São lesões por neuropraxia (transitórias). Tratamento - Envolve redução incruenta/fechada + mobilização com tipoia por 3 semanas + fisioterapia para ADM. - A redução deve ser o mais imediata, se possível com sedação e analgesia. - Manobras de redução: • Manobra de Stimson - É a primeira a ser tentada. - Paciente em decúbito ventral, sobre uma mesa, com o membro pendendo com peso amarrado, por até 15 minutos, se não reduzir, tentar a manobra de hipócrates modificada. • Manobra de Hipócrates - Paciente em decúbito dorsal, com tração do membro em abdução, apoiando o pé em sua axila. • Manobra de Hipócrates modificada - Paciente sentado, com tração do membro em abdução e contratração auxiliar na axila com pano. • Manobra de Kocher - Paciente em decúbito dorsal, aplicando força inferior no braço em rotação externa e abdução, com o cotovelo fletido. Após relocação, aplicar rotação interna e adução do braço. - Em caso de luxação traumática de alta energia, o tratamento será redução cirúrgica! 18 Thiago Nunes – UFMG 145 8 - Entorse de tornozelo Anatomia do tornozelo - Há 3 complexos ligamentares principais que podem sofrer entorse: • Lateral: ligamentos talofibular anterior (LTFA) e posterior (LFTP) + ligamento calcâneofibular (LCF). • Medial: ligamento deltoide (LD). • Sindesmose tibiofibular: ligamentos tibiofibulares anterior (LTA) e posterior (LTP). - Mecanismos de lesão: • Lateral: inversão + flexão plantar, ou seja, pé em supinação. • Alta/Sindesmótica: eversão + flexão dorsal, ou seja, pé em pronação + rotação interna da tibia. • Medial: eversão + posição neutra. Exames de imagem - Até o 3° dia da lesão, o exame clínico é mais sensível e específico que a RMN, a qual mostraria apenas edema. Depois disso, ela é melhor indicada. Critérios para solicitar Radiografias de Tornozelo ou Pé - O Rx está indicada se suspeita de fraturas associadas, quando há: Dor maleolar espontânea e à digitopressão Incapacidade de dar 4 passos Dor no antepé com dor a digitopressão na base do V metatarso Classificação das Entorses de Tornozelo - De acordo com testes de instabilidade e rotura ligamentar vista por aumento do espaço na radiografia: • Grau 1: estável com estiramento, sem rotura macroscópica. • Grau 2: instável, com rotura parcial. • Grau 3: instável, com rotura completa. Entorse lateral - É o mecanismo mais comum na entorse de tornozelo, em 90% dos casos. Isso porque o maleólo medial é menor que o lateral, possibilitando inversão ampla e lesão das estruturas ligamentares laterais. 19 Thiago Nunes – UFMG 145 - Mecanismo: inversão + flexão plantar, também chamado de trauma em supinação com lesão do LFTA e LFC. - Quadro clínico: Entorse por tropeção ou ao aterrisar ao solo em atividade esportiva como vôlei e basquete. Dor agravada por inversão do pé Testes de instabilidade lateral positivos - Teste da inclinação talar - Teste da gaveta anterior - Se indicada radiografia, deve-se posicionar o pé em: estresse em varo e posição de gaveta anterior. Entorse alta/sindesmótica - É o segundo tipo mais comum. - Mecanismo: eversão + flexão dorsal + rotação interna da tibia, também chamado de trauma em pronação. - Quadro clínico: Queda com pé em pronação Testede instabilidade da sindesmose tibiofibular: - Teste da compressão tibiofibular - Teste do estresse rotacional externo Entorse medial - É o tipo menos comum. - Mecanismo: eversão com pé em posição neutra, com lesão do ligamento deltoide. - Quadro clínico: Entorse em mulher usando salto alto que quebrou Teste de instabilidade medial positivo: - Teste do estresse rotacional Tratamento geral Terapia conservadora - Consiste no protocolo PRICE nas primeiras 72 horas: Proteção com muletas e BRACE de tornozelo para lesão lateral, pois é um restritor de inversão. Repouso Ice Compressão com bandas elásticas e tala Elevação Tratamento cirúrgico - Consiste no reparo ligamentar e tem indicações restritas a lesões mais graves: Fratura maleolar associada Ruptura da sindesmose tibiofibular Entorse lateral grau 3 em atletas 20 Thiago Nunes – UFMG 145 9 - Lesões fibrocartilaginosas do joelho - Das lesões ligamentares do joelho, na prática esportiva, a lesão mais comum é o ligamento colateral medial isoladamente. Lesões meniscais - Os meniscos possuem uma vascularização que chega pela periferia, sendo que quanto mais externa, melhor sua irrigação e mais vermelha é. Logo é dividido de externa para internamente em: Zona vermelha vermelha Zona vermelha Zona branca Zona branca branca - Isso é importante porque as lesões de zona branca não cicatrizam espontaneamente. Mecanismo de lesão - O menisco mais lesado é o menisco medial, pois é menos móvel, principalmente em seu corno posterior. - Os mecanismos são: • Menisco medial: pé fixo no chão + flexão do joelho + súbita rotação interna do fêmur • Menisco lateral: pé fixo no chão + flexão do joelho + súbita rotação externa do fêmur - O mecanismo de lesão do menisco lateral é o mesmo do LCA, por isso é muito comum a associação de lesão LCA + menisco lateral. - A lesão pode ser graduada em: Grau 1: estabilidade com estiramento sem rotura macroscópica. Grau 2: instabilidade, com rotura parcial. Grau 3: instabilidade total e rotura total. - Deve-se solicitar uma RMN para determinar o padrão da lesão, as quais aparecem como hipointensidade em T1 e T2. • Horizontal • Flapp • Radial • Longitudinal ou alça de balde - O padrão mais predominante em ambos os meniscos é horizontal, porém isoladamente em cada temos: Menisco medial: mais comum padrão longitudinal Menisco lateral: mais comum padrão radial OBS: lesões do menisco medial ocorrem comumente associadas com lesões crônicas do LCA enquanto que as lesões do menisco lateral se associam mais com lesões agudas do LCA Quadro clínico Dor súbita após mudança brusca de direção Alívio da dor por um momento, permitindo retorno ao exercício Dor volta em crescente e contínua Localização na interlinha articular Cisto pode ser palpado na interlinha articular Derrame articular não é imediato e aumenta ao longo do dia Testes de McMurray (corno posterior) e Appley positivos: - Rotação externa: menisco medial - Rotação interna: menisco lateral 21 Thiago Nunes – UFMG 145 Tratamento - Quase totalidade dos casos inicialmente é tratada conservadoramente por 2 a 4 semanas, segundo o acrônimo PRICE. - Depois de 4 semanas, se persistir a dor, está indicada a artroscopia. Há duas opções na artroscopia: • Sutura apenas: lesões na zona vermelha com menos de 2 meses. • Ressecção parcial: lesões na área branca ou lesões acima de 2 meses. Lesão do Ligamento Cruzado Anterior (LCA) - O LCA é o principal estabilizador do joelho, impedindo translação anterior da tibia e rotação externa do fêmur sobre a tibia. - Possui 2 feixes: ântero-medial, que é mais tenso e forte; e póstero-lateral, que é mais móvel. - No tratamento cirúrgico, a reconstrução é do feixe AM. Mecanismo de lesão - Mecanismo mais comum: pé fixo ao chão + semi-flexão do joelho em valgo + rotação externa do fêmur + rotação interna da tibia. - Esse é o mesmo mecanismo de lesão traumática do menisco lateral. OBS: Associações meniscais de lesão do LCA: • Lesão traumática/aguda: menisco lateral. • Degenerativa/crônica: menisco medial (lesão em alça de balde) Quadro clínico Jogador de futebol ou basquete Mudança brusca de direção Sensação de estalo com dor intensa e imediata Hematoma articular se forma rapidamente Perda imediata da função, não consegue nem apoiar no chão Diagnóstico Exame clínico - Testes de instabilidade positivos: • Lachman: translação > 5 mm • Gaveta anterior: translação > 5 mm • Pivot Shift/Ressalto: estalo por redução súbita da luxação a 30° Exames de imagem • RMN: se dúvida diagnóstica ou suspeita de associação de lesão meniscal. • Rx de Joelho: sempre que instabilidade estiver presente, pelo risco de avulsão da espinha da tibia. • Punção do líquido articular: hemartrose está presente em 75% dos casos. Se gotículas de gordura presentes, está associada avulsão óssea. Tratamento Tratamento conservador - Indicado em idosos ou pessoas sedentárias. Também indicado se lesão associada do LCA + LCM! - Consiste no PRICE por 1 a 2 semanas. 22 Thiago Nunes – UFMG 145 Tratamento cirúrgico - Indicado em jovens, atletas ou em idosos com instabilidade nas atividades de vida diária. - Outras indicações são lesões associadas: LCA + LCL LCA + menisco medial em alça de balde - Consiste na reconstrução artroscópica utilizando enxertos de tendão patelar, semitendíneo ou grácil. - Deve-se aguardar 3 semanas para esfriar o processo inflamatório e o paciente utilizará muletas por mais 3 semanas. 23 Thiago Nunes – UFMG 145 10 - Trauma raquimedular Neuroanatomia básica Coluna cervico-torácica - A coluna cervical alta (C1 - C2) possui um canal medular alargado, sendo incomum lesão medular, que costuma ser incompatível com a vida. - Lesões medulares x respiração: C1 - C3: para respiratória imediata, por perda do controle respiratório. C3 - C5: instabilidade respiratória progressiva, devido à lesão do N. Frênico. C6 - abaixo: hipoventilação, devido à perda da invervação da musculatura intercostal. - A inervação simpática origina acima de T6, por isso lesões acima deste segmento cursam com choque neurogênico. Coluna tóraco-lombar - O cone medular, formado pelos segmentos de T11 a L1, termina ao nível da vértebra L2. Lesões acima deste segmento cursam com síndrome de neurônio motor superior. - Abaixo dessa vértebra há a cauda equina, que é formada pelas raízes nervosas, de L3 até S5. Lesões da cauda equina cursam com síndrome do neurônio motor inferior. - 90% das fraturas de coluna, ocorrem entre os segmentos T12 e L2. Síndrome do Neurônio Motor Superior - É uma síndrome piramidal com os seguintes achados: Hiperreflexia Hipertonia Paralisia espástica Clônus Reflexos patológicos presentes: - Babinski: flexão dorsal/extensão do hálux ao estímulo cutâneo-plantar. - Hoffman: flexão e adução dos dedos da mão à flexão súbita da falange distal do dedo médio, presente se lesão cervical. Síndrome do Neurônio Motor Inferior - É uma síndrome extra-piramidal, com os seguintes achados: Hiporreflexia Hipotonia Paralisa flácida Avaliação inicial do paciente com suspeita de TRM Avaliação primária - Seguir sempre o ATLS com a regra do ABCDE e medidas de reanimação primária. O foco será dado na avaliação das complicações do TRM: • Airways: colarcervical com pescoço alinhado em posição neutra e verificar patência das v. aéreas. • Breathing: hipoventilação ou parada respiratória pode indicar TRM alto. • Circulation: choque no trauma sempre será hemorrágico, até que se prove o contrário, levantando possibilidade de choque neurogênico. • D: avaliar Glasgow, pupilas e movimentação grosseira de extremidades. 24 Thiago Nunes – UFMG 145 • E: expor e avaliar lesões de membros. O paciente deve ser mantido também com colar cervical e rodado em bloco na prancha rígida para ectoscopia e palpação da linha média dorsal cervical e do tronco. Avaliação secundária neurológica - Sumaria e rapidamente, suspeita-se de lesão medular no exame físico do paciente inconsciente pela ausência do reflexo cutaneoabdominal bilateralmente. Se isso ocorrer, é obrigatório testar a preservação sacral. - A avaliação neurológica deve ser feita por meio do ASIA escore, com os seguintes passos: 1. Nível da perda sensorial bilateralmente 2. Nível motor bilateralmente 3. Determinar nível neurológico: segmento distal com função motora e sensitiva normais bilateralmente. 4. Determinar se a lesão é completa ou incompleta: - Lesões incompletas possuem a preservação sacral, com ao menos uma das opções abaixo presentes: S1: sensibilidade do hálux S2-S3: contração anal voluntária e reflexo bulbocavernoso S4-S5: sensibilidade perianal - Graduação da força: 0: Paralisia total 1: Contração visível ou palpável 2: Movimento ativo sem gravidade no plano da articulação 3: Movimento ativo contra a gravidade 4: Movimento ativo contra alguma resistência 5: Movimento ativo normal contra resistência - Graduação da sensibilidade: 0: ausente 1: alterado (parestesia e hipoestesia) 2: normal Classificação de deficiência ASIA A. Completa: ausência de sensibilidade e motricidade, incluindo níveis sacrais. B. Incompleta: sensibilidade presente, mas motricidade ausente incluindo níveis sacrais. C. Incompleta: sensibilidade e motricidade presentes abaixo do nível neurológico, porém força útil afetada com menos de 50% dos grupos musculares vencendo a gravidade. D. Incompleta: sensibilidade e motricidade presentes abaixo do nível neurológico, apresentando força útil preservada, com mais de 50% dos grupos musculares vencendo a gravidade. E. Sem lesão: sensibilidade e motricidade normal em todos os níveis medulares. Exames complementares - Critérios para solicitar propedêutica radiológica e manter colar cervical: Paciente com suspeita de intoxicação alcoólica ou por drogas Qualquer rebaixamento do sensório ou ECG < 15 Dor à palpação da linha cervical média Amplitude de movimento cervical limitada Qualquer déficit neurológico - Na presença destes critérios o exame padrão-ouro indicado é a TC de coluna cervical. - Se presença de dor na coluna tóraco-lombar, está indicado o Rx de toda a coluna em AP e perfil, juntamente com o Rx de pelve em AP, de acordo com a energia do trauma. 25 Thiago Nunes – UFMG 145 - Pacientes sintomáticos com TC normal devem fazer prova dinâmica, para testar lesão ligamentar. Se negativa, solicita-se a RMN. Critérios de instabilidade Redução da altura do corpo vertebral > 50% Estenose do canal vertebral > 50% Déficit neurológico progressivo Lesões específicas Choque medular - Há interrupção funcional da medula caracterizada por: Arreflexia completa Ausência de reflexo bulbocavernoso. - O choque medular dura por volta de 24 a 48 horas e seu término é notável pela recuperação do reflexo bulbocavernoso, a partir de quando pode-se estabelecer prognóstico da lesão. Choque neurogênico - Ocorre em lesões medulares acima de T6, devido à origem das fibras simpáticas. - Diagnosticado no paciente com os seguintes sinais: TRM/TCE/Trauma de alta energia Hipotensão irresponsiva a volume Bradicardia - Tratamento: aminas vasoativas. Síndrome Medular Central - Mecanismo: hiperextensão (chicoteada), principalmente em idosos. - Sinais: perda sensitiva e motora na extremidades dos membros superiores, poupando os membros inferiores, pois sua localização na medula é mais lateral. - Tratamento: conservador, costuma regredir. Síndrome Medular Anterior - Mecanismo: retropulsão do disco intervertebral ou fragmentos ósseos para o canal medular. Tetraplegia: lesão do trato corticoespinhal Dissociação sensitiva: - Preserva sensibilidade tátil e proprioceptiva: fascíulos grácil e cuneiforme. - Perde sensibilidade térmica e dolorosa: trato espinotalâmico lateral. Síndrome de Brawn-Séquard - Mecanismo: lesão penetrante causando hemissecção medular. Hemiplegia ipsilateral Perda da propriocepção ipsilateral Perda a sensibilidade dolorosa contralateral - Exemplo: “o lado paralisado não sente dor, apenas o lado que movimenta”
Compartilhar