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352985511-O-Custo-Das-Decicoes-Arquitetonicas

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Juan Luis 
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Juan Luis Mascaró 
sa edição 
Porto Alegre, 201 O 
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Projeto Gráfico 
Ale andre Si•nõe Petty 
luise Martins da Silva 
Dados internacionais de Catulogação na Publicélçao (CIP) 
M395c Mascaró,.Juan Luis 
O custo das decisões arquitetônicas I Juan Luis Mascaró - sa ed. - Porto Alegre- Masquatro Editora, 201 O. 192 P 
ISBN 978-85-99897-06-5 
, 
l. Custos da construçao . 2. Projeto arquitetônico - Custos. 3. Arqu itetura- Decisões- Aspectos econônlicos. 
t. Titulo 
CDU 69.003.12 
E proibida a reprodução total ou mesmo parcial desta obra sem o consentimento prévio do Editor. 
• 
SUMÁRIO 
, 
PRO LOGO DA QUARTA EDIÇÃO.......................................... 7 3.2 Variação do custo dos ambientes em função de 
suas formas ................................................................. 61 
-lNTRODUÇAO . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . g 
• • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • 3.3 Variação do custo em função das variações de 
comprimento e largura da planta ............................... 63 
1. ASPECTOS HlSTÓRICOS ...................................................... 13 3.3.1 Variação do comprimento ................................... 63 . 
3.3.2 Variação na largura ............................................. 65 
2_ CONCEITOS GERAIS ......................................................... 35 3.3.3 Algumas conclusões a partir da combinação de 
2.1 Estrutura conceitual geométrica de um edifício ........... 35 variações nas dimensões da pfanta ..................... 66 
2.2 Elementos Básicos de um edifício ................................. 39 3.3.4 lei da forma .. ............ .. ...... /1> ••••••••••••••••• _ •••••••••••••••••• 70 
2.3 Análise do custo dos componentes de um edifício ....... 41 
, 
3.4 Areas e suas relações geométricas otimizadas nas 
2.4 Lei do tamanho nas edificações ................................. .. 47 plantas ........................................................................ lO 
, 
3.4.1 Areas mínimas para cada função ...... ...... ............ 70 
3. \NFLUÊNClA DA FORMA DA PLANTA E DA ÁREA NO 3.4.2 Relações entre as áreas das unidades J 
CUSTO TOTAL DO EDIFÍCI0 ..................................................... 49 h b" . . a ltactonals ·······-··························· ·· .. ······· .. ········72 
3.1 Variação do custo do edifício em função da sua 3.4.3 Superposição de funções nas habitações .............. 72 
fornna ................................................. 50 • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • 3.4.4 Relações geométricas dentro do prédro ............... 73 
3. 1 .'1 Aspectos teóricos ........................................ · .... · .. ·. 50 
3.1 .2 O índice de compacidade ..................................... 53 4. INFLUÊNCIA DA VARIAÇÃO DA ALTURA DO EDIFÍCIO NOS 
3.1 .~ Algun1as int rpretaçôes irnportantes do índice de SEUS CUSTOS ........................... , .......................................... , ......... 77 
com pacidatle ..................................... · .. · · ·. · · · ·. ·. · · · · · 60 4.1 Introdução ............................................... ~ ................. ,77 
4.2 Variação do custo de construção da estrutura 5.1 .3.2 Influência térmica dos isolantes ......................... 125 
resistente em função da altura .................................. 80 5.1.3.3. Influência econômica do isolamento térmíco ..... 127 
4.2.1 Variações do custo dos pilares e paredes 5.1.3.4 Influência energética do isolamento térmico ...... 128 
portantes ............................................................ 80 5.1.3.5 Influência do isolamento térmico no conforto ....... 130 
4.2.2 Outros aspectos econômicos da estrutura 5 2 Sacadas ..... ................................................. 131 . . .............. . 
resistente ............................................................ 88 5.3 Aberturas .................................................................. 135 
4.3 Var\ação do custo de construção segundo o tipo de 5.3.1 Portas ................................................................. 135 
função ....................................................................... 91 5.3.2 Janelas ............................................................... 136 
4.3.1 Fundação direta ................................................. 93 5.4 Pisos e Revestimentos ................................................ 137 
4.3.2 Fundação indireta .............................................. 95 5.4.1 Pisos interiores ................................................... 137 
4.4 Variação do custo de construção pelo aumento da 5.4.2 Revestimento e pintura de paredes interiores .... 138 
quantidade de fachadas ............................................ 98 5.4.3 Revestimento e pinturas de paredes exteriores .. 138 
4 .5 Aumento do custo financeiro em função da altura ... 101 
4 .6 Variação do custo total do edifício por outras causas . 1 03 
4. 7 Conjunto das variações de custo ............................... 11 O 
6 CI R cu LAÇA- o ...................... 141 . . ............................................... . 
6 1 Corredores .................... 141 • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • 
4.8 A tucratividade das obras ............. .. ............. ...... ........ 115 
4.8.1 Maximização da lucratividade ............................ 116 
6.1 .1 Aspectos gerais .................................................. 141 
6 .1 .2 Tipos de corredores ............................................ 142 
5. COMPONENTES DOS EDIFÍCIOS E SEUS CUSTOS .............. 119 
5.1 Coberturas e paredes ................................................ 119 
5.1.1 Custo das coberturas .......................................... 119 
5.1.2 Custo das paredes .............................. ...... ..... ..... 120 
5.1.3 O envo\vente dos edifidos e seu isolamento 
térmico .... . ... . .. ........ ... .. .. 123 
. . .................................. . 
6 2 Elevadores ..................... 145 • • ••••••••••••••••••••••••••••••••••••••••••• 
6 .2.1 Aspectos gerais .................................................. 145 
6.2 .2 Custo em relação a t1pos de elevadores ............. 146 
6.2.3 Participação das partes dos custos dos 
. 151 elevadores .......................................................... . 
5.1.3 .1 Conceltos básicos ....................................... 123 
6.2.4 Os custos dos elevadores em relação à tipologla 
d d'f ' . . ............ 153 Os e I I C I Os ..•........... . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . ... . 
6.2.5 Economia de elevadores e tipo,ogias de 
d'f . e I tCIOS ................................................ · ............... 154 
7. TlPOLOG\AS HAB\TACIONAlS- CUSTOS E HABITABILIDADE ... 157 
7.1 Aspectos Gerais ...... o .............................. o ....... o ... o ... o ... 157 
7 .2 Análise dos tipos de edifícios residenciais ................. 161 
7 .2.1 Edifício (quase) quadrado .................................. 161 
7 .2.2 Edifício laminar .................................................. 161 
7 .2.2.1 Edifício laminar com corredor lateral ......... 167 
7 .2.2.2 Edifício laminar com apartamentos em mais de 
um pavimento .......................................... .... ..... 171 
7 .2.3 As Formas Abertas ................ 00 ....................... ..... 173 
• 
8. AVALIAÇÕESECONÔMICAS SIMPLIFICADAS .................... 177 
8.1 Avaliação simplificada do custo de uma edificação ... 177 
802 Avaliação econômica de estruturas ........ 00 ................. 180 
, 
803 I ndice de eficiência econômica de projeto ................ 181 
804 Organização da produção .......... 00 o .... o• ...................... 182 
8.4.1 Comparação de sistemas construtivos .............. . 182 
8.4.2 Determinação aproximada do tamanho das 
equipes que devem executar a obra e dos custos 
dos equipamentos .. .............. .. ........... ... ........... 184 
8.3.3 Avaliação simplificada do avanço de uma obra .... 185 
8.5 Estimativa do preço normal de venda e outros 
valores de interesse comercia f ............ 00 ................... 187 
BIBLIOGRAFIA . .. ..... .... ·· ········ ........ o ••••••••••• 189 . . . . . . . . .. . . . . . . . . . . . . . . . 
• 
Uma diferença já incorporada na quarta edição é 0 
conceito de "perímetro econômico" no índice de com-
pacidade, que permite incluir o custo das arestas, o 
que faz que este indicador esteja muito mais próximo 
da realidade e seja mais prático. 
Entretanto, a maior diferença nestas duas últimas 
edições em relação ás anteriores é a incorporação de 
diversas obras, particularmente algumas conhecidas 
como paradigmáticas da arquitetura moderna, para 
explicar os diferentes conceitos de economia da arqui-
tetura no decorrer dos diferentes capítulos. 
Nas edições anteriores a maioria das ob~as ~stava ~o 
final. Sua análise somente quantitativa preJu-
anexo . · d"f" dicava a avaliação do ponto de vista qualitatiVO, . I •-
cultando de alguma forma a aplicação dos conceitos 
econômicos desenvolvidos no livro. 
Nestas edições obras de le Corbusier, Mies van Der 
Rohe, Alva r Aalto, Richard Neutra, entre outros gran-
des mestres da arquitetura, são analisados no decorrer 
dos capítulos. 
Finalmente, nesta edição a grande novidade é o de-
senvolvimento do índice de eficiência econômica do 
projeto, que nas suas diferentes versões - da mais 
simples a mais elaborada e complexa permite resumir 
num indicar só todos os custos erros econômicos da 
geometria do projeto. 
Porto Alegre, maio de 201 O 
7 
--w ----• o ---=- - _.:ew<.- .... = 11 9 
INTRODUÇÃO 
En1bora gera,n1et1te se conheça muito pouco a res-
peito das relações entre as decisões de projeto e 
o custo total do edifício, elas existem e são muito 
claras. En1 momentos como o atual, os produtos são 
reavaliados sob diversos pontos de vista, tornando-se 
indispensável analisar os aspectos econômicos das 
decisões arquitetônicas, bem como sua influência 
no custo do produto final: os edifícios. Parece-nos 
não só oportuno, mas também muito adequado, já 
que tem sido uma característica dos países em vias 
de desenvolvimento, pensar seriamente em refor-
mular critérios e programas em voga nos momentos 
mais críticos da sua história sócio-econômica, talvez 
justamente obrigado pelas limitações econômicas 
que caracterizam as crises (apesar de elas sempre 
existiren'l). 
A grande diferença não está na ausência de limita-
ções, mas na forma e intensidade com que efas se 
apresentam, além das considerações que merecem de 
nós e da maneira que nos afetam. Essas situações 
conjunturais nos permitem novas abordagens de 
temas tradicionais, oferecendo a possibilidade de 
estudá--los e, por quê não, de que sejam aceitas no-
vas propostas realizadas, nem sempre novas, mas, 
sobretudo, oportunas. 
Assim, delineados os porquês, passaremos a realizar 
a análise proposta, com a intenção de auxiliar 
o trabalho criativo dos projetistas e nunca de 
limitá-lo. 
Em consequência do habitual desconhecimento da 
influência relativa de cada uma das variáveis no custo 
9 
total da obra, quando, como é frequente, nos depa-
rarnos cotn limitações orçamentárias muito grandes, 
in1ediatamente tratamos de limitar e economizar to-
dos os itens possiveis, resultando, muitas vezes, perdas 
de qualidade sensivelmente mais significativas que a 
economia obtida, diminuindo, ao invés de aumentar, 
a relação qualidade-custo. 
O arquiteto acha-se impossibilitado de controlar 
economicamente cada uma das decisões do projeto 
porque desconhece não apenas sua influência no 
custo total, mas também suas inter-relações. Não 
pode, por exemplo, comparar economicamente, de 
forma simples, duas alternativas muito comuns para 
edifícios de vários andares em altura, como o uso de 
um corredor para acesso às unidades de habitação, 
empregando um vestíbulo de distribuição central 
com outro edifício que tenha unidades habitacionais 
equivalentes, mas com várias colunas de circulação 
vertical, de forma que se elimine o corredor interior. 
Com o conhecimento convencional de custos, isso só 
pode ser feito pela comparação final dos orçamentos 
completos dos dois projetos. Essa análise requer um 
processo muito trabalhoso e pressupõe a existência 
de projetos completos ou, pelo menos, de anteproje-
tos detalhados para que se possa realizar o cômputo 
métrico e o orçamento das duas alternativas. Se usás-
semos esse procedimento para cada •Jma das decisões 
arquitetônicas adotadas, o método seria muito lento 
e, o que é pior, limitado, porque permitiria compa-
rar, de cada vez, apenas duas alternativas de seleção 
para determinada parte ou função do edifício. E se 
existissem mais de duas alternativas? E quando, no 
contexto de alguma delas, existissem variantes ou 
combinações (o que é muito frequente na arquitetura) 
das alternativas básicas? 
A comparação de projetos alternativos por meio 
de orçamentos completos apresenta-se não só tra-
balhosa mas também insuficiente. Para avaliar as 
decisões de projeto do ponto de vista econômico, 
devemos usar uma metodologia que nos permita 
analisá-la uma a uma, à medida que vão sendo 
adotadas . O mais adequado, para isso, consiste 
O CUSTO DAS DECISÕES ARQUITETÔNI CAS 
em dividir o edifício em elementos e partes funcio-
nais, estudando os custo relativos de cada parte 
e, comprando·os, tomar consciência dos prováveis 
custos de cada alternativa. Aparecem três leis eco-
nôrnicas que condicionam as decisões geométricas 
dos arquitetos e que serão estudadas no presente 
livro, elas são: 
- Lei do tamanho (dos espaços e volumes) 
- Lei da forma (dos espaços e volumes) 
- lei da altura (dos espaços e volumes) 
Num projeto qualquer o arquiteto toma permanen-
temente decisões que se regem por uma, duas, ou 
como na maioria dos casos, as três leis em forma 
combinada. 
O custo, desde o ponto de vista geométrico, depende 
de como essas leis interagem entre si, podendo, assim, 
dizer: A cada traço um custo. 
O CUSTO DAS DECISÕES ARQUITEfÓNICAS 
Capítulo 1 
ASPECTOS 
Sempre existiu uma estreita relação entre a história geral 
do homem e seu progresso técnico-econômico. O Im-
pério Romano, por exemplo, baseou-se nas descobertas 
de seus engenheiros, incluindo os construtores de estra-
das, tanto quanto nos mais abstratos conceitos de lei e 
dever. A expansão da Europa no século XVI dependeu 
da existência de novos meios para cruzar os oceanos, 
bem como da vontade de fazê-lo. No mesmo sentido, 
as mudanças políticas, muito rápidas e numerosas nesse 
século, participaram de forma determinante na evolução 
tecno\ógica-econômica e foram influenciadas por ela. 
o uso racional das formas e materiai de construção 
tem sido uma das características mais importantes dos 
edifícios e dos assentamentos vernaculares, geralmen-
,.. . 
te produzidos em situações de escassez ec?n?mrca, 
na qual a necessidade de sobreviver e de ot1m1zar ao 
máximo os recursos disponíveis era tão grande que 
exercia forte influência nas decisões arquitetonicas. 
ASPE CTO S HI STÓ RI CO S 
HISTÓRICOS 
O de~erdício não formava parte da tradição dessas 
culturas, gue deixaram exemplos paradigmátícosde 
edificações economicamente corretas, (fig. 1.1 ). 
Figura 1. 1: Povoado sobre palafitas com habitações de seçao og1val, 
galeria e passarela frontal. Ilhas lidei almirantazgo'', Mefanesia. 
Fonte: CORNOLDI & LOS, 1982. 
1 3 
Esse período é urn dos momentos em que a arquitetu-
ra pode ser considerada como veículo de implicações 
técnicas, emblemática de sua época. A relação entre 
a arquitetura e as inovações técnicas é integrada, re-
presentativa dos valores que estruturam a realidade 
da época e capaz de produzir signos representativos 
de tais valores. 
Tanto do ponto de vista econômico como técnico, 
. ....... ~ 
é possível afirmar que o pedreiro foi o artesão da 
edificação mais importante .da época. Seu trabalho 
exemplifica bem a organização da edificação. Descre-
veremos o caso da Inglaterra: en1bora o gótico tivesse 
chegado tardiamente, já no século XIV se trabalhava 
com todos os tipos de pedras inglesas. Para poupar 
o difícil transporte da época, a pedra era lavrada na 
pedreira, sempre que possível, a qual era o lugar de 
aprendizado habitual dos pedreiros e, inclusive, dos 
mestres-de-obras, os quais trabalhavam junto aos 
homens que supervisionavam. Havia três categorias 
de operários: os "free masons", capacitados para 
trabalhar a pedra, especialmente arenosa e calcária, 
que podia ser cortada em qualquer direção; os "rough-
masons", que enquadravam a pedra e faziam cortes 
retos; e os serventes, que a carregavam. Assim, por 
14 
exemplo, para levantar materiais pesados, era usada 
uma simples cábrea com uma pofé fixa e um torno 
enquanto andaimes consistiam somente em madei-
ras amarradas e vigas apoiadas em buracos feitos na 
parede (fig . 1.2). 
Os pedreiros, canteiros e carpinteiros que acompanha-
vam os cruzados constituíam uma espécie de enge-
nheiros militares que se encarregavam da construção 
de pontes, templos e fortificações e que usavam uma 
geometria própria do corte de pedras na estereotomia, 
a qual fundamenta a técnica de construção das igrejas 
góticas. Eram artesãos itinerantes que projetavam, 
construíam e executavam trabalhos de manutenção e 
reparo, manejavam a aritmética e a geometria, podiam 
desenhar plantas e cortes. Isso explica a unidade de 
pensamento e ação materializada na arquitetura e na 
·relação inovação/produção, cuja figura típica é Villard 
de Honnecourt. 
Na história da economia aparece um grande intervalo 
entre o frutífero século XIII e a introdução da imprensa 
de tipos móveis, por exemplo. Na verdade, trata-se de 
un1 intervalo só em aparência, porque as idéias e téc-
nicas continuaram a se desenvolver. Mas os cem anos 
transcorridos entre 1350 e 1440 apresentaram poucos 
capít ulo 1 
O CUSTO DAS DECISÕES ARQUITETÔNICAS 
Figura 1.2: Edifício eclesiástico em construção, de uma 
miniatura de 1460. Fonte: Derry & Williams, 1987 · 
desenvolvimentos técnicos importantes; o ritmo de 
mudança econômica foi mais lento que antes de 1350 
e ainda mais lento do que seria depois de 1450. 
A organização corporativa funcionou vantajosamente, 
de fato, na fase da expansão da economia medieval, 
quando o desenvolvimento produtivo proporcionava 
um objetivo comum a todos os grupos empenhados 
na corporação, inclusive o combate conjunto para tirar 
o poder político das hierarquias feudais. 
1 Po .s-
A Europa começou a se recuperar do geríodo de 
deca_dência,e essa recuperação foi mais notável na 
Itália, onde surgiu com marcante predominância no 
comércio. As fábricas de tecidos de Flandres e as ex-
portações de lã da Inglaterra eram controladas por 
comerciantes e banqueiros italianos. A crescente 
riqueza das cidades do norte italiano, onde os 
comerciantes moravam (especialmente Florença), 
deram um vigoroso estímulo ao desenvolvimento 
das belas artes e da engenharia. Executaram-se nu-
merosas construções~ incluindo canais, drenagens, 
portos e fortificações, além de edificações. [)Je_sse am-
biente desenvolveram-se as matemáticas e os estudos 
acadêmicos sobre arquitetura. Grandes esforços foram 
dedicados à compreensão das civilizações antigas de 
1 5 
O CUSTO DA) DECISOES ARQUITETÔNICAS 
gregos e ron1anos, fatos irnportantes para a enge-
nharia e as artes gráficas (já que gregos e romanos 
deixaran1 considerável literatura). 
A segunda metade do século XVI, especialmente na 
\tália, assiste um grande aumento dos livros técni-
cosJ que eram de caráter prático e ofereciam grande 
variedade de projetos para aumentar eficiência do 
trabalho manual ou para substituí-lo por energia 
mecânica. Entretanto, não avançaram além dos tem-
po helenísticos: no conjunto, seus dispositivos eram 
primitivos exercícios iniciais de n1ecanização. Não se 
tentou mecanizar a produção talvez porque, com os 
grêmios ainda vigentes, era impossível convertê-la em 
realidade. Mecanizar a produção significava dividir o 
trabalho em operações componentes, fato estranho 
para a organização gremial. Seria preciso mudar a 
relações de produção para poder mudar as formas 
de produção. Essa mudança se anuncia através de 
alguns acontecimentos relevantes da época, tais como 
decompor elementos complexo em suas partes para 
logo uni-los numa mesma resultante: caso do para-
lelogramo de forças. 
O período mais importante, deste ponto de vista, foi 0 
transcorrido durante o século XVII e começo do século 
1 6 
XVIII. Foi predominantemente, durante esse período 
que grupos de artesãos foram reunidos em oficinas, 
constituindo o início da produção fabril, que mais 
-tarde foi chamada de manufatureira. Esta situação 
refletia a ''evidente necessidade econômica" de org~­
nizar a produsão sobre bases mais "racionais" que as 
utilizadas anteriormente, em resposta às crescentes 
possibilidades comerciais que se abriram. 
No curso de uma geração, os grêmios tinham sido 
debilitados, os monopólios comerciais derrotados e os 
impostos reduzidos, assim como os lucros. A acumu-
lação de capital e sua disponibilidade internacional, 
assim como o impulso dado ao comércio internacional 
foram fatores importantes para o desenvolvimento da 
tecnologia, junto com o sistema de leis sobre patentes 
em diferentes países. 
As corporações de ofício foram extintas. legalmente. 
a partir do século XVIII. As formulações políticas em 
. b sia manu a 
vêm ao encontro dos tnteresses da urgue d se 
. . - d m mercado on e turetra para a caractenzaçao eu . para 
. , b Jh " Era preCiso. 
negociava a mercadona tra a 0 · zação 
.d ela organr 
tanto, romper os entraves mantt 05 P . eraçao 
. tânc•a a suP gremial. Assumern grande tmpor 
caP'tulo 1 
"' O cUSTO DAS DECISÕES ARQUIT ETO NI CAS 
histórica da organização corporativa do trabalho, 
ass\m como as novas maneiras de transmissão do 
conhecimento técnico, que rompem a disciplina e os 
segredos corporativos. 
Se olharmos o sécu\o XlX tentando identificar as pecu-
\iaridades da época, a primeira coisa que observamos 
é a nova paisagem a\tamente desenvolvida e dinâmica, 
onde tem \ugar a experiência moderna. Trata-se de 
uma paisagem de engenhos a vapor, fábricas meca-
nizadas, ferrovias, amplas zonas industriais, prolíferas 
cidades que cresceram rapidamente, nem sempre com 
consequências favoráveis para o ser humano; jornais, 
diários, telégrafos, telefones e outros instrumentos de 
"mídia" que se comunicam em escala cada vez maior; 
Estados nacionais cada vez mais fortes; movimentos 
sociais de massa que lutam contra as modernizações 
impostas de cima para baixo, contando só com seus 
meios de modernização de baixo para cima; um mer-
cado mundial que tudo abrange, em crescente expan-
são, capaz de um terrível desperdício e devastação, 
capaz de tudo exceto solidez e estabilidade. 
Todos os grandes modernistas do século XIX atacaram 
esse an1biente con1 paixão, embora se sentissem à 
vontade em meio a tudo isso, senstveisàs novas pos-
ASPECTOS HISTÓRlCOS 
sibilidades, positivos ainda em suas negaçoes radicais, 
irônicos nos seus momentos de maior seriedade e 
profundidade. 
A tendência arquitetônica que coincide com a difu-
são do concreto armado é o "protorracionaHsmo", 
que aproveita as possibilidades dos materiais para 
conseguir seu programa de simplificação e de máxi-
ma eco_nomia, marcado por orientações de natureza 
estética e sociológica. Pode ser considerado como 
um estilo fundamentalmente reducionista. Herdou 
a redução das arquiteturas a construção própria das 
realizações dos engenheiros do século XIX, em cuja li-
nha está Perret; a redução estilística do "Art Nouveau", 
cuja contribuição é a tendência que acaba na "obs-
tinação"; a redução "econômica" de todos os estilos 
precedentes, do neoclássico em diante, acrescentando 
motiv_ações sócio-produtivas e estético-psicológicas. 
A matar parte da produção deste período já não vê 
a beleza do ~xemplar isolado, mas como um ato que 
leva e~ consideração "outras coisas": loos afirma que 
a arquitetura se extrapola do campo da arte desde que 
assu~e uma função prática; o objetivo de Perret é a 
quah.dade da construção; Garnier tenta enquadrar a 
arquitetura na urbanística; Behrens tenta, entre outras 
1 7 
, · , ar 
·teto" nica à edificação tndustnal. forma arqut 
O final do século X\X e o inicio do XX foram carac-
terizados por forte especulação imobiliária. As ~ovas 
torças econômicas que controlavam a ~orma~ao da 
odade tinham como única fina \idade o 1nvestHnento 
, . de capitais com lucros os mais elevados poss1ve1s, 
~ obt\dos através da utilização máxima das áreas e to-
ta\ \\berdade em responder a normas ou obrigações 
de qualquer tipo. O problema aparente frequente-
mente era resolvido mediante um pacto tácito, no 
qua\ o investidor aceitava a\gumas imposições (por 
exemplo, sobre o alinhamento das ruas) em troca de 
altos índices de construção, muitas vezes chegando 
a ser autêntico índices de aproveitamento intensivo 
do solo urbano . Em Nova York, por exemplo, em 
1879, o projeto vencedor de um concurso de uma 
habitação modelo responde ao máximo benefício de 
construtor em detrimento das condições de higiene. 
Segundo esse modelo (fig. 1.3), nos anos sucessivos 
foram construídos quarteirões inteiros com edifícios 
de 5 a 6 pavimentos, sem preocupações mínimas 
com a insolação ou a ventilação, mas o lucro máximo 
(CAMBI et ai, 1992). 
1 8 
Figura 1.3: Zona de especulação imobiliária, com apartamentos tipo 
"Dumbell" em Nova Iorque. Fonte; CAMBI et ai, 1992. 
" I, tica ' . , ,, nua ts No fmal do seculo XIX aparece a ma ""nuais 
em me( tratados que tendem a se converterem 
1
;
55
[1o, 
, . -o e transn , tecnrcos e práticas de fácil compreensa _ ·sten,a .. 
I (nao 51 dos quais fizeram parte, de forma casua - exernP1°· 
. ) . mo por tlca , alguns aspectos econôm1cos co ' 
O CUSTO DAS DECISÓES ARQUITETÔNICAS 
a proposta de habitações de cinco pavimentos como 
sendo as mais econômicas paraconstruir em terrenos 
urbanos de preço e\evado (Boldi, 191 O). 
Entre os arquitetos que trabalhavam na Europa antes 
dos anos 20, manifestava-se a tendência mundial de 
renovação da atividade profissional que não somente 
seguia o desenvolvimento tecnológico e econômico, 
mas também estava vinculada a ação política. Para 
e\es, além de julgar o que tinha sido construído, deve-
ria ser estudada, também, a composição construtiva, 
ou seja, se os materiais escolhidos correspondiam à 
hipótese da máxima poupança e do mínimo desper-
dício; se foram usados os avanços tecnológicos e 
quais foram as consequências financeiras produzidas. 
Enfim, se o projeto do edifício satisfazia às exigên-
cias sociais e financeiras daqueles que o habitariam 
(TAUT, 1914). 
Habitação é o tema ao qual se dedicam importantes 
arquitetos na primeira metade do século XX, motiva-
dos pela situação criada com a Primeira Guerra Mun-
dial, caracterizadas pelos danos físicos à edificação, 
pela extensão das contradições (derivadas das neces-
sidades de desenvolvimento) e pela reestruturação 
urbana, assim como pela necessidade de alojamento 
' ASPECTOS HISTORICOS 
em constante aumento como consequéncia da ace-
lerada urbanização. 
No concurso para Spandau-Haselhorst (1920) surge o 
tipo da casa de vários andares em forma de lâmina, já 
concebido nas pesquisas de Walter Gropius e Mareei 
Breuer e que, mais tarde, se transformaria nos con-
juntos residenciais de baixo custo, característicos do 
pós-guerra. Gropius apresenta para o concurso dife-
rentes projetos com diversas tipologias: casas baixas, 
médias e altas (fig. 1.4), com o objetivo de verificar 
e comparar a eficiência de cada uma, chegando a 
demonstrar que as melhores condições do ponto de 
vista econômico, higiênico e urbanístico se obtinham 
utilizando blocos de 12 pavimentos ao invés dos de 
2 e 5 andares. 
Em 1928, Mies Van der Rohe dirige a realização da 
exposição intitulada Weissenholsedlung e convida a 
participar os arquitetos da vanguarda européia. 
Mies assume o bloco em linha de quatro andares 
com escada lateral que serve a duas habitações 
por andar e inaugura o uso da estrutura de aço, 
que lhe permite reduzir ao máximo o tamanho dos 
pilares ao longo das paredes no interior dos espa-
1 9 
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Figura 1.4: Walter Gropius: elementos do concurso para o bairro de Spandau-Haselhorst, Berlim, 1929. Fonte: BATT\STl, 1980. 
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ços habitáveis . Com a rígida estereotomia definida 
pela estrutura metálica, os carpas da escada e das 
paredes de divisão entre os corpos da alvenaria 
contíguos desenvolvem uma ampla experiência 
bilidade in-distributiva para demonstrar a adapta aços 
. enta terr terior (fig. 1.5) . O últ1mo andar apres to ;m-
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Figura 1.5: Weissenhofsiedlung, Stuttgart, 1927. Implantação original, plantas baixas e vista, arquiteto Mies Van der Rohe. 
2 1 
ASPECTOS HISTÓRICOS o 
O <. US1 0 DAS DEC ISÕES ARQU ITETÕNICAS 
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Figura 1.6: Cas Dr. Curutthet, do arquiteto Le Corbusier, na cidadE? de La Plata, Argentina. 
22 
O U TO DA DEC tSó r S AH QU 11t; 1 ÓNI CAS 
por prot ger un1a das superfície n1ais expostas 
do edifício. 
le Corbusier, com sua habitaçao em altura, dispõe de 
· ~ " , . 
un1a ocasrao para por en1 prattca e fazer de dornínio 
público os "cinco pontos" anunciados no ano anterior: 
uso dos pilotis, cobertura-jardim, planta livre, janela 
alongada e fachada livre. Entre outros princípios e 
através da aplicação destes, é proposto conseguir a 
melhor iluminação de cada ambiente, reduzindo ao 
, . 
m1n1mo as zonas de sombra e permitindo o máximo 
de exposição ao sol em relação a seu movimento apa-
rente, não dispor unicamente da janela alongada, mas 
também dos fechamentos contínuos de vidro (fig. 1.6). 
Os Congressos CIAM incorporam oficialmente os as-
pectos econôrnicos da construção à temática oficial. 
No Congresso de Bruxelas analisam-se os "métodos 
da construção racional", considerando, sob este título, 
não somente os dados técnicos da construção propria-
mente dita (o edifício considerado isoladamente), mas 
os dados técnico-econômicos da edificação de novos 
conjuntos mais convenientes dos diferentes edifícios. 
Le Corbusier, que no Congresso expõe 17 tabelas de 
"la ville radieuse" (1964), relaciona os três "momen-
ASPECTOS HISTORICOStos" entre si: o crescirnen to das intervenções polariza .. 
se errl relação à escolha do tipo mais conveniente de 
edifício (habitações altas, médias ou baixas) para os 
novos bairros econômicos. A conveniência depende 
dos custos, mas também está relacionada com aspec-
tos (ou valorações) sociológicas e higiênicas (AYMO-
NINO, cit). Kaufmann e Bóhrn declararam, na sua aná-
lise comparada das tipologias construtivas, que seria 
útil prescindir de todas as propostas que apresentam 
algum problema de insolação e ventilação, com a 
qual Gropius concorda e acrescenta a definição do 
racional como mais econômico, considerando prio-
ritariamente as necessidades psicológicas e socjais, 
além das econômicas. Baseando-se nestes critérios 
e levando em consideração os resultados obtidos no 
ano anterior com o CIAM de Frankfurt em 1929 (que 
fixa o nível mínimo vital entre 40m 2 a 42m 2, para 
4-5 camas como padrão agregativo-compositivo), os 
debates tendem a definir as tipologias de edifíc1os 
(habitações em fita), propondo-se, para o bloco de 
apartamentos para aluguel, o tipo de edifício com 
corredor como sendo o mais econômjco, para 12 a 
14 pavimentos, pela pequena incidência de escadas 
e elevadores (AYMONJNO, 1976). Superam-se as 
, . 
Jimitações estabelecidas pelas normas t~cn1c~s cons-
trutivas, particularmente aquelas relativas a altura 
23 
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• 
O CUSTO DAS DECISÕES ARQUITETÔNICAS 
máxima dos edifícios, por serem um anacronismo em 
relação aos esboços econômico-distributivos (os edi-
fícios laminares de dez andares considerados como 
ótimos) ou mais estrita. mente técnicos (estruturas em 
aço e concreto armado). 
Os temas econômicos discutidos em Frankfurt e em 
Bruxelas permaneceram invariáveis durante os 30 
anos sucessivos. Ainda hoje se discute qual seria a 
solução adequada para a inter-relação das decisões 
econômicas com as técnico-arquitetônicas. Não 
foram construídos em quantidades significativas 
protótipos ótimos ou produções massivas de mo-
delos experimentais. Pelo contrário, difundiu-se 
a solução "média" (edifícios de 4 a 5 pavimentos 
com dois apartamentos por núcleo de escada) que 
tinha sido a mais criticada nos Congressos CIAM; 
provável (e curiosamente), por motivos diferentes 
em cada país, essa solução tem correspondido a 
exigência genéricas de economia (materiais tradicio-
nais, fracionamento da produção e outras razões) 
e de sociabilidade (nem individual nem coletiva) 
que tem caracterizado a proposta l/média" dada ao 
problema de habitação após os debates e tentativas 
dos anos 20. 
24 
, 
Figura 1.7: " Rua corredor" proposta para os "redents", Le 
Corbusier. 
Fonte: CORNOLDI & LOS, 1982. 
capítulo 1 
O "US f O DA DEC I ()~ AH Q UII [ f Ó NI CA 
No lU 01 gr ,..o lntern cion( I d Arquit t urd Moderna 
r lizad n1 Fr nkfurt, n1 1929, nun1erosos tr ba-
lhos ap1eset1t dos e11focan1 aspectos econômicos da 
dific ão. Ernst May (1929) questiona o preconceito 
e istente sobre habitações pequenas, fundamentado 
em preocupações econômicas (quanto maior é o espaço 
da habitação, n1aior é o seu preço unitário, dificultando 
sua possibilidade de aluguel) e, também, em aspectos 
de caráter higiênico e psicológico. Sua proposta é 
construir habitações pequenas, sadias e habitáveis, com 
a\uguel acessível. Ou seja, habitações para o "mínimo 
nivel de vida" e que satisfaçam as necessidades de 
· grande parcela da população, assim como aplicar todas 
as medidas de organização e racionalização técnica e, 
paralelamente, reduzir a taxa de juros dos empréstimos 
hipotecários. Uma posição que hoje continua vigente. 
Já Wa\ter Gropius (1929), apesar de desenvolver o 
f undamento sociológico da habitação mínima, tam-
,.. . 
bém realiza considerações sobre aspectos economl-
cos. Lembra que os higienistas têm constatado que 
o homem, provido das melhores possibilidades de 
ventilação e de iluminação natural, precisa - do ponto 
de vista biológico - de somente uma reduzida quan-
tidade de espaço habitável, particularmente se suas 
instalações estão bern organizadas. Fornecer Juz n -
tural, sol, ar e calor é cientificamente mais importante 
e economicamente mais barato (com o preço da terra 
normal) que aumentar o espaço. Então, a regra deve 
ser: aumentar as janelas, diminuir o espaço. Afirma 
ser sadia a tendência de controlar a densidade das 
cidades, pois pode ser regulada a densidade de um 
bairro sem limitar a altura dos edifícios, estabelecendo 
uma relação quantitativa entre superfície habitável ou 
volume construído e a superfície edificável. Realiza 
uma comparação entre construções de blocos para-
lelos alternados em fileiras orientadas norte-sul com 
diferentes números de pavimentos (2 a 1 O} com as 
seguintes conclusões (fig. 1.8): 
• Adotando a mesma superfície edificável e o mesmo 
ângulo de incidência solar, ou seja, as mesmas rela-
ções de insolação (para um ângulo de incidência de 
30°), o número de camas cresce com o número de 
pavimentos. 
• Adotando o mesmo ângulo de incidência solar com 
, . d.f. , I empregada rmJnUI tamanho da superf1c1e e I 1cave 
com o aumento do número de pavimentos: 
25 
O CU 1 O DA DE CISOE ARQUI fE I ÔNI CAS 
• Adotando a rnesn1a sup rfície edificável e o n1esrno 
nurnero de carnas, o àngulo de incidência solar é nle-
nor ou aun1enta o nún1ero de pavimentos, ou seja, a 
insolação das fachadas é rnais favorável: 
Tern1ina com uma frase tão atual como importante: 
" ... as experiências realizadas em diferentes países 
den1onstram que existe uma lacuna entre os custos 
de construção de habitação e os ingressos médios 
da família, não sendo difícil satisfazer a demanda de 
habitações populares ... ". 
Le Corbusier e Jeanneret (1929) enfocam os aspectos 
econômicos da arquitetura através da pobreza e das 
inf\uências de técnicas tradicionais, denominando-as 
de "procedimentos híbridos caros por não economizar 
nem o material nem o esforço, não correspondendo 
às condições severas da economia geral. Os materiais 
modernos, o aço e o concerto armado permitem 
realizar com precisão a função importante do edifí-
cio e obter planta e fachadas livres. O equipamento 
racional (resposta à função biológica) implica numa 
economia enorme de superfície habitável de volume" . 
A habitação equipada racionalmente, corn elementos 
de série fabricados pelas grandes indústrias, traz junto 
26 
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Figura 1.8: Comparaçao entre rentabilidade na construç( 0. e.m 
blocos em fita com diferentes números de pavin1entos, GropJUS 
Fonte: AYMONINO, 1976. 
capítulo 1 
• 
O CUSTO DAS DECISÕES ARQUITETÔNICAS 
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Figura 1.9: Hipótese I - Comparação entre rentabilidade na 
construção em blocos ern fita com diferentes números de 
pavirnentos, Gropius. 
Fonte: AYMONJNO, 1976. 
ASPECTOS HISTÓRICOS 
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Número de PavimentosFigura 1.1 O: Hipótese 2 - Comparação entre rentabilidade 
na construção em blocos em fita com diferentes números de 
pavimentos, Gropius. 
Fonte: AYMONINO, 1976. 
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O CUSTO DAS DECISÕES ARQUITETÔNICAS 
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Número de Pavtmentos 
Figura 1.1 1: Hipótese 3 - Comparação entre rentabilidade 
na construção em blocos em fitas com diferentes números de 
pavin1entos, Gropius. 
Fonte: AYMONINO, 1976. 
28 
uma economia considerável em gastos de execução 
e construção. Admitem que estas propostas podem 
ser mais caras que as tradicionais, mas opinam que 
esse fato paradoxal, cuja origem eles atribuem à 
desorganização momentânea da indústria, deve ser 
tolerado nesse período deficitário que, de qualquer 
forma deve passar. Finalmente, associam o baratea-
mento da edificação à produção em série dos carros 
da época- critério que seria retomado no pós-guerra 
com a pré-fabricação. E ilustram, através de um grá-
fico trazido dos Estados Unidos por, Walter Gropius 
(fig. 1.12) a falta de sincronismo entre a indústria de 
transformação e a de construção. 
O gráfico mostra que no período de 1913 a 1928, nos 
EUA, as habitações aumentaram 200°/o os seus custos, 
enquanto que o nível geral de preço só cresceu 150o/o 
e, no mesmo período, a indústria automobilística, em 
geral, diminuiu 22°/o os seus custos. A Ford, a fábrica 
mais moderna da época, reduziu seus custos em soo/o, 
fazendo com que mais e mais, as famílias comprassem 
mais automóveis e menos habitações. 
Um conceito complementar é de particular inte· 
resse é aquele que afirma que " ... a circulação 
capítulo 1 
O CUSTO DAS DEC ISÕES ARQUITETÔNICAS 
exata, econômica, rá pida é a chave da a rquitetura 
contemporânea ... ", mostrando especial sensibi-
lidade para os aspectos econômicos do projeto 
arqu itetônico. 
Mas é no Ul Congresso Internacional de Arquitetura 
Moderna, realizado m Bruxelas em 1930, que os 
aspectos econômicos da edificação torna-se tema 
central dos quatro apresentados. Sob o título de 
"Métodos Construtivos Racionais. Habitações baixas, 
médias e altas", Bõehm e Kaufmann (1930) analisam 
os custos totais de construção de habitação de 1 a 
14 pavimentos para as condições de Frankfurt. Gro-
pius (1930) também analisa a economia do edifício 
isolado em altura, mas acentuando o critério físico 
que demonstra que " .. o edifício moderno comuni-
tário bem organizado não deve considerar-se como 
um mal necessário, mas como representante de um 
verdadeiro marco ajustando biologicamente à vida 
de nosso tempo .. . ". 
Em relação à cidade - e nisso Gropius coincide com 
le Corbusier e com os holandeses - o objetivo não 
seria a "dissolução" mas a "agregação". Crescem 
as distâncias e as alturas dos edifícios, mas também 
crescem as zonas verdes, de maneira que na cidade "a 
ASPE CTOS HISTÓRICO S 
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Figura 1 .12: Níveis de preços americanos para a. produç~o de 
habitações, automóveis e nível geral do custo de v1da, grafteado 
pelo arquiteto Walter Gropius. 
Fonte: AYMONINO, 1976. 
vivência da natureza seja cotidiana não somente um 
acontecimento dominical". A base do planejamento 
de Gropius está nos edifícios em fileiras conveniente-
mente distanciados (fig. 1.13). 
29 
O CUSTO DAS DEC ISÕES ARQUITETÔ NI CAS 
Le Corbuslcr (1930) propõe a transformação de 80°/o 
do solo urbano em parques e zonas de lazer e espor-
te, antieconôn1ico pelos custos de infraestrutura e de 
manutenção da área pública. 
Neutra (1930) informa que nos Estados Unidos as 
possibilidades oferecidas pelo edifício em altura para 
a habitação popular massiva também não são utiliza-
das. Este tipo de realização também encontra entraves 
nos regulan1entos técnicos de construção, que não 
levam em consideração a orientação das fachadas, 
a densidade e o ângulo de incidência solar, mas que 
estão presos a uma trama viária já estabelecida, com 
limitação rígida das alturas edificáveis (qualificação 
urbanística por zonas). Segundo ele, toda a economia 
da construção sofre, nesse momento (assim como 
hoje), as consequênc1as do atraso da aplicação das 
possibilidades técnicas disponíveis em outros setores. 
Como curiosidade comentamos algumas dificuldades 
para chegar a princípios con1uns encontrados pelos 
arquitetos palestrantes desse Congresso: o problerna 
dos elevadores. Bõehm e Kaufmann adotam uma 
velocidade de 0,5 m/seg; Neutra, acostumado às 
condições americanas, estima uma velocidade 6 vezes 
superior; Le Corbusier imagina o elevador como um 
30 
meio de transporte comum, com capacidade de 30 a 
40 pessoas. Evidentemente, isso conduz a resultados 
totalmente diferentes, mostrando a necessidade de 
estabelecer bases iguais para as realizações, situaçao 
difícil de ser alcançada perante as diferentes realidades 
técnico-econômicas de cada país de origem. 
A experiência descrita termina seu ciclo histórico 
com a Segunda Guerra Mundial, já que na fase da 
~ . . 
"reconstrução" os programas necessarros serram 
elaborados rapidan1ente e realizados de maneira 
sumária, juntamente com o inicio de um novo tipo 
de especulação que tende a produzir edifícios à 
" . 
margem de qualquer normativa e plano organ1co. 
Entretanto, em curto espaço de tempo, houve 
nova orientação à intervenção do setor público, 
que- atuando como apoio financeiro e normativo 
- acaba por condicionar a quantidade e a qualida-
de da edificação. Simultaneamente à introdução 
dos padrões dimensionais e as leis que fixam as 
, 
modalidades para ter acesso aos financiamentos,, e 
publicado um conjunto de manuais sobre repert~ ­
rios tipológicos para edifícios de habitação, pn.ncr-
~ nômK05 Pai mente mas tambem sobre aspectos eco 
' · de da construção. Um bom exemplo deste trpo 
capitu lo 1 
O CUSTO DAS DE CISÕES ARQ UI TE TÔN ICAS 
Fig .. 1.1 ~: W~lte~ Gropi~s. Pr~jeto de blocos de habitações para a urbanização de uma beira rio. Todas as 
hab1taçoes d1spoem de 1gual Insolação. 
Fonte: AYMONINO, 1976. 
publicação é o livro de Candiani (1951 ), editado na 
Itália. Na segunda edição, o "L' Economia nel cons-
to dei fabbricati. Manual i di composizione e tecnica 
nell ' architettura moderna" está dividido em três 
capítulos, o primeiro dedicado a "L ' Economia 
nella progettazione", o segundo a "L' Economia 
nella esecuzione" e o terceiro a "L ' Economia nella 
~onduzione". levando em consideração o desafio 
Imposto pela construção, principalmente de habi-
tações e da reconstrução européia, o autor afirma 
ASPECTOS HISTÓRICOS 
que os aspectos econômicos da edificação serão 
incorporados aos já tradicionais técnicos e sociais, 
podendo ser os mais importantes pelos volumes de 
obra a serem construídos e pelos altos preços do 
mercado. É interessante apontar aqui que os con-
ceitos econômicos do projeto são desenvolvidos 
tanto para temas como número de locais e altura 
do edifício, circulações e instalações, como para 
a ergonomia dos espaços e seus equipamentos, 
ilustrando as preocupações da época. 
3 1 
O CUS TO DA S DEC I SÕES ARQUITETÔNICAS 
Ainda antes do final da década de 1960, fJcou c~aro 
que o grande surto econômico que imperava ap~s a 
Segunda Guerra Mundial estava chegando ao se~ f.1m. 
A combinação de inflação e estagnação tecnolog1ca, 
muito clara na construção, associada a uma crise ener-
gética de caráter mundial, em pleno desenvolv~men~o, 
estava fadada a cobrar seu tributo, embora n1nguem 
pudesse prever, no início da década de 70, a dimensãoque ela teria (CAMBI et aJ, 1992). 
A visão das pessoas do mundo moderno e suas possibi-
lidades passaram a ser reformutadas. Os horizontes de 
expansão e o crescimento se contraíram bruscamente. 
Após serem alin1entadas durante décadas com energia 
"barata e abundante", as sociedades modernas e seus 
produtos, incluindo a edificação, teriam que apren-
der com rapidez como utilizar suas limitadas fontes 
de energia para proteger os recursos em declínio e 
para evitar que o mundo ruísse (teoricamente). Foi 
desse processo de pensamento e busca de soluções, 
recén1 iniciado, que surgiu a arquitetura dos anos 70, 
entendida como arte socialr com solicitações de mais 
política e menos planejamento. O esforço realizado 
pelo pensamento arquitetônico durante esse período 
continuou a se dedicar a contrarrestar os excessos do 
suprarracionalismo da década anterior e a tentar esbo-
32 
çar um modelo espaço-temporal que compatibilizasse 
racionalidade e intuição. 
Mas, após a inevitável estagnação inicial, se produz 
uma salutar rebelião, tanto entre os empresários 
I 
como na administração pública. Animados pela 
necessidade de encontrar soluções econômicas e 
de realização imediata, redescobrem-se os sistemas 
construtivos tradicionais mais apropriados a pequenas 
empresas artesanais em relação a qualquer tipo de 
pré-fabricação, já comprovados seu fracasso técnico-
econômico. Adquire força numa direção linguística 
que conduz a soluções construtivas "vernaculares" 
e tecidos urbanos que se inspiram nas estruturas 
das cidades medievais. Atribui-se importância às 
intervenções de "reutilização" urbana, privilegiando 
o sistema de saneamento em relação à reconstrução 
total (CAMBI et al, 1992). 
Os estudos sobre a economia da edificação, retomados 
no segundo pós-guerra, aprofundam-se nas décadas 
seguintes. No final dos anos 70 e início dos anos 80, 
temas como o gerenciamento e o "marketing" da 
indústria da construção são objetos de seminários e 
publicações. Aparecem os programas computacionais 
para estimar custos de construção e realizar projetos, 
capítulo 1 
O CUS TO DAS DECISÕES AR QU ITETÔ NICAS 
assim con1o os estudos de viabilidade econômica . A 
subcontratação como estratégia competitiva, a pro-
dutividade, o desperdício nas obras, a qualidade de 
projeto e construção são temas dos anos 90. 
No final do século passado, e em nosso meio aca-
dêmico, como afirmou Silva ( 1992), a questão da 
ap\icabH\dade dos critérios de economia da constru-
ção insere-se no debate sobre o ensino do projeto 
arquitetônico de forma polêmica e contraditória. 
\sto ocorre porque, no plano puramente lógico, 
há unanimidade em considerar que a economia da 
construção é indiscutivelmente um atributo; obter 
• 
o máximo de resultados com o menor dispêndio de 
ASPEC10S HISTÓRICOS 
recursos é uma atitude racional. Assim, dific ilmente 
se encontrará uma doutrina arquitetônica que refu te 
a necessidade ou conveniência de se adotarem, no 
projeto arquitetônico, aqueles critérios de racionali-
zação construtiva. Na prática do ensino de projeto, 
entretanto, negligenciar-se o exame daqueles aspec-
tos morfológicos do edifício devido às preocupações 
com a economia construtiva. Aparentemente há con-
vicção, nem sempre respaldada por uma sustentação 
teórica consistente, de que a excelência arquitetônica 
e a economia da construção não são convergentes. 
Esta convicção traz uma contradição e é a raiz de uma 
polêmica na esfera da crítica arquitetônica. 
33 
O CUSTO DAS DECISÕES ARQUITETÓNICAS 
Capítulo 2 
CONCEITOS GERAIS 
2.1 Estrutura conceitual geométrica de 
um edifício 
Na maioria dos casos, do ponto de vista geométrico, 
o edifício é um conjunto de planos horizontais em 
interseção com outros planos verticais, como mostra a 
figura 2.1. Este agrupamento de planos horizontais e 
verticais é o que compõe os espaços projetados. Como 
esses espaços devem ter acessos, há de se prever um 
"mecanismo de chegada", tanto no plano horizontal 
como no vertical, ao que habitualmente chamamos 
de "circulação" e que, tal qual os espaços úteis,deve 
se rea\izar com materiais e elementos construtivos. 
Cada uma dessas decisões adotadas pelo arquiteto 
em seu projeto significa uma opção para solucionar 
um ou vários aspectos da obra; são decisões que, de 
a\guma maneira, condicionam o comportamento e o 
desempenho de todo 0 edifício, tanto funcional como 
economicamente. o modo de estudar os planos bási-
CONCE\TOS GERA\S 
-
Figura 2.1: Edifício reduzido a um conjunto de planos que se 
interceptam formando os espaços aos quais se agregam as 
instalações 
35 
O CUSTO DAS DECISÕES ARQUITETÔNICAS 
cos que con1põe o ed\fic\o é um típico exemp\o do que 
ioi d\to, particularmente do ponto de vista econômico. 
O aumento do vão entre planos horizontais ocasiona 
ma\ores custos nos p\anos verticais dos acessos. ldên-
t\co rac\oc\n\o pode-se fazer para os planos verticais. 
M\es Van Der Rohe materia\iza este critério de sim-
plicidade e economia em forma magnífica no seu 
pavi\hão de Barce\ona como mostram as fotografias 
da figura 2.2. 
' . 
Figura 2.2: PavHhão Miler Van Der Rohe em Barcelona, excelente exemplo de economia da construção através da pureza geometrrca. 
36 
' tu I o 2 caP 1 
O CUSTO DAS DECISOES ARQUilf;:TÓNJCAS 
A pureza geometrica do pavilhão sem uma série de 
cort e recortes com seus consequentes incrementos 
de c~sto, mostra como a qualidade arquitetônica do 
nlovrn1e~to moderno esta junto com a economia da 
construçao. 
A emblemática casa da cascata de Wrigth da fig. 2.3 é 
outro exemplo perfeito de planos horizontais entrecru-
zados com planos verticais. Parte de sua incomum beleza 
vem justamente de sua clara e simples geometria em 
contraste com a exuberância da vegetação que a rodeia. 
Mas nem todos os planos verticais e horizontais têm os 
mesmos custos: aqueles que envolvem o edifício nor-
malmente são mais caros que os equivalentes internos. 
Por isso, é conveniente obter o volume necessário com 
a mínima superfície exposta ao exterior, não só pelo 
maior custo de construção mas também pelo custo 
de manutenção e uso. Os planos exteriores sofrerão a 
agressividade do clima e do meio ambiente, devendo 
estar preparados para perdurar e conservar através do 
tempo as qualidades que garantem a segurança e a 
habitabilidade do edifício. 
O preço do último plano horizontal, a cobertura, é cer-
tamente, 20 ou 30°/o maior do que o custo dos planos 
CONCEITOS GERAIS 
Figura 2.3: Casa da cascata de Frank Lloyd Wrigth excelente 
exemplo de beleza através do contraste da simplicidade geometnca 
com a exuberância da vegetação que a rode1a. 
37 
O CUSTO DAS DE CISÕE S A RQ UIT ETÔN ICAS 
interiores em alguns t ipos de edifícios, enquanto o 
custo dos planos vert icais externos chega, em muitos 
casos, a ser de três a cinco vezes maior do que o dos 
vert icais internos. 
A dife rença de função dos diferentes planos verti-
cais, justifica diferentes morfologias que otimizem as 
relações custo-benefício de cada plano. Morfologias 
que só serão possíveis a partir de uma estrutura inde-
pendente como foi a proposta de Le Corbusier para a 
residência Dom-Ino, figura 2.4. 
Esses simples conceitos sobre relação de custo dos 
planos exteriores com seus equivalentes interiores 
indicam que os recursos geométricos para reduzir 
a superfície do edifício em contato com o exterior 
devem ser centrados, sobretudo, nos planos exterio-
res verticais, sendo que os horizontais, em geral, só 
apresentam maiores custos significativos quando o 
a • , • plano em contato com o terreno extgtr caractensttcas 
especiais para sua execução devidas, por exemplo, à 
baixa resistência mecânica do solo. 
No que diz respeito ás possíveis formas do edifício, 
temos o seguinte: o maior volume contidodentro 
de determinada superfície geométrica é dado pela 
38 
....,-"~ 
/ ·---..___ 
-·--
-----
• 
-. ~---
---
---
--
• 
' 1 
Figura 2.4: Proposta de estrutura independente com c~n~r:~o 
armado para a residência Dom- Ino que introduz a idéia de dlv1sona 
e de fachadas leves abrindo o caminho para que arquitetos façam 
escolha da morfologia dos planos verticais dentro de uma extensão 
grande de alternativas tecnológicas, conseguindo m:lhorar 
relações custo - benefício que as preexistentes do mov1mento 
moderno. 
esfera, seguido pelo cilindro e, finalmente, pelo 
, . d as formas cubo. A med1da que nos afastamos ess . 
f , · extenor básicas aumenta a relação entre super rc1e 
' d con-
e v o lu me e, conseq uentemente, os custos 0 . 
f f r aqur que junto. Apesar disso, é importante en a rza 
cap ítu lo 2 
O CUSTO DAS DECISÕES ARQUITETÔNICAS 
não d~v:m?s preferir tais for mas apenas por serem 
as ma1s md1cadas economicamente, pois isso traria 
consequências desastrosas para os projetos, assim 
como projet ar formas baseadas somente em fatores 
estét icos o u em "duvidosas liberdades criativas" . Já 
fo i mencio nado que a intenção deste livro é aumen-
ta r em quantidade e qualidade as informações que 
o arquiteto dispõe como base para suas decisões 
de projetos, sem mistificar a importância absoluta 
dos novos dados e critérios oferecidos, mas, pelo 
contrário, integrá-los os já tradicionais e com as 
novidades que constantemente se incorporam ao 
trabalho arquitetônico. Não duvidamos que a inter-
pretação de caráter sintético, feita mediante a aná-
lise dos aspectos econômicos da arquitetura, seja 
o resultado mais importante que se possa esperar 
como resposta da incorporação desses conceitos. 
• 
Não podemos deixar de reconhecer que a economia, 
ao contrário da estética, tem interpretações mais 
homogêneas e aceitação mais geral (quem não 
entende de menores custos?). Reconhecendo esta 
pequena vantagem e conscientes do valor que tem 
cada uma das variáveis de projeto é que desenvol-
vemos os diferentes aspectos do tema. 
CONCEiTOS GERA IS 
2.2 Elementos Básicos de um edifício 
Do ponto de vista do custo, um edifício pode ser di-
vidido em duas partes básicas: 
a) os espaços projetados e 
b) os equipamentos necessários para que o edifício 
possa cumprir sua função . 
Analisando economicamente cada uma dessas partes 
vemos que suas variações se comportam de form a 
diferente, apesar de estarem, construtivamente, 
fortemente ligadas entre si. Assim, por exemplo, o 
custo da circulação vertical de um edifício varia fun-
damentalmente se o projeto prevê (ou não) o uso de 
elevadores; o custo da instalação sanitária é função 
direta do número de banheiros com que conta a 
edificação, etc. Isso é tão característico e claro que, 
em muitos casos, a ausência (ou presença} de alguns 
destes equipamentos é usada para indicar a categoria 
e o nível sócio-econômico do edifício, sendo que, a 
partir desse parâmetro, é possível estimar seu custo 
global por metro quadrado construído. Entretanto, o 
custo dos espaços construídos é função direta de suas 
medidas, sem exceção alguma. 
39 
O CUSTO DAS DECI)OES ARQUITETÔNICAS 
Poden1os dizer então, que o custo desses espaços 
dependerá, fundamentalmente, das resoluções di-
mensionais adotadas para o edifício: comprimento, 
largura, altura do pé-direito, número de pavimentos, 
etc. Em todos esses itens pode-se admitir a variação 
de custos como sendo contínua e dependendo es-
sencialmente do custo da construção. Seus custos de 
manutenção e uso são bastante pequenos, podem 
ser previstos com bastante facilidade, podendo ser 
programados antecipadamente a manutencão ne-
~ 
cessá ria para que o edifício alcance, realmente, a vida 
útil prevista. 
O custo dos equipamentos, ao contrário, depende 
de decisões dicotômicas (sim ou não), ainda que as 
decisões dimensionais também influam, neste caso, 
com peso muito inferior. Porém, mais importante 
que os custos de construção e instalação dos equipa-
mentos são seus custos de manutenção e uso, muito 
mais difíceis de se prever, pois na maioria dos casos a 
manutenção que se fará não será do tipo preventivo 
e sim corretivo, efetuando-se quando se apresentem 
os defeitos e afetando (o que é mais grave) não só a 
instalação propriamente dita mas também as partes 
do edifício que a contém. 
40 
A falta de manutenção dos espaços construídos levará 
I 
no longo prazo, ao edifício a deixar de cumprir suas 
funções, enquanto uma instalação sem conservação 
permanente e reparação imediata pode torná-lo não 
só inabitável em poucas horas, como também causar 
danos muito mais significativos que o simples custo 
da reparação da instalação deteriorada. 
Enfocando o problema do ponto de vista quantitativo, 
pode-se afirmar que, segundo estudos realizados pelo 
CSTB (Centre Scientifique et Technique du Bâtiment, 
Paris), para edifícios habitacionais na França (tabela 
11.1 ), os espaços e suas vedações são responsáveis por 
7 5°/o do custo da construção do edifício, sendo que os 
equipamentos representam os 25°/o restantes. 
Já os custos de manutenção e uso distribuem-se de 
maneira diferente: 
-Equipamento e instalações: de 60 a 70°/o (incluindo o 
gasto de energia para fazê-los funcionar e excluind? 
a energia usada para tarefas de cozinha e para ilumi-
nação dos locais). 
-Elementos restantes: de 30 a 40o/o, aplicados funda-
. - de pintura, mentalmente, às reparações e repostçoes 
cobertura, portas e janelas. 
capítulo 2 
O CUSTO DAS DECISÕES ARQUITETÔNICAS 
Tabela 11 . 1 
Participa_ção n1édia de espaços e instalações nos custos de 
construçao e manutenção durante toda a vida útil de um ed'f 'c· 
h b. . l I I 10 a 1taetona 
custos construção manutenção 
custo dos 
espaços 75°/o 30 a 40°/o 
custo das 25o/o 60 a 70°/o instalações 
total 1 00°/o 1 00°/o 
Fonte: Centre Scientifique et Technique du Bâtiment, Paris. 
Sintetizando, podemos dizer que as decisões sobre os 
equipamentos e instalações são essencialmente dico-
tômicas, e que, se for grande o custo de instalação, 
maior ainda será o de manutenção e uso. As decisões 
de dimensionamento dos espaços e seus componentes 
crescem de forma gradual e direta em relação a seus 
tamanhos, sendo de interesse fundamental o custo 
- , 
de construção, já que o de manutenção e uso nao so 
será menos crítico que o das instalações como tam-
bém possível de ser adiado durante períodos mais ou 
menos longos. 
CONCEITOS GERAIS 
2.3 Análise do custo dos componentes 
de um edifício 
/ 
E de particular interesse, após analisar de forma con-
ceitual os custos dos planos funcionais do edifício, fa-
zer um breve comentário sobre a importância relativa 
que o custo de cada um deles tem na composição do 
custo total, tentando mostrá-lo não só quantitativa-
mente (aspecto bastante conhecido), mas também 
associado a possíveis decisões alternativas de projeto 
que o arquiteto pode tomar, informando-o sobre os 
elementos construtivos que, do ponto de vista eco-
nômico, podem ser mais fáceis e adequados de serem 
estudados alternativamente. 
Para que a avaliação seja feita de modo correto, é im -
portante que a análise econômica e as consequentes 
decisões de projeto sejam realizadas considerando-se, 
para todos os itens variáveis, o Custo Total Atualizado 
(GA}, ou seja, o somatório dos custos de construção, 
manutenção e uso para a vida útil do edifício, sendo 
esses últimos atualizados no tempo, ou seja, trazidos 
até o presente através do desconto de taxas de juro. 
Uma proposta para a definição e composição dos 
diferentes tipos de custo encontra-se no modelo de 
41 
O CUSTO DAS DECISÕES ARQUITETÔNICAS 
avaliação econômica funcional elaborado por nós, que 
se ap\\ca para conjuntos habitacionais de interesse 
,sociat (MASCARO et aL, 1976). 
Lamentavelmente em nossos países, o estudo sobre 
custos de manutenção e uso dos diferentes tipos de 
ed\fícios não tem recebido a mínima atenção indis-
pensável para que sejam conhecidos adequadamente, 
ainda que seja apenas de maneira aproximada. 
A tabe\a \\.2 apresenta os custos de construção da 
mane\ra ma\s conhecida e convencionaL A partir da 
reorganização de seus dados, de forma mais adequada 
para nossa aná\ise, obtém-se a tabela U.3, a partir da 
qua\ podemos comprovar que, arredondando valores, 
para fac\\\tar a conceituação, os planos horizontais 
representam aproximadamente 25°/o do custo total 
do edifício, os verticais 45°/o, as instalações 25°/o e o 
canteiro de obras 5°/o. Podemos concluir o seguinte: 
a) Os arquitetos e engenheiros têm poucas alterna-
tivas econômicas para os p\anos horizontais, porque 
as duas terças partes de seu custo são formadas pela 
estrutura resistente geralmente de concreto, para a 
qua\ se apresentam poucas possibilidades de substitui-
ção. Podem apenas estudar alternativas para os pisos 
42 
e contra pisos, o que significa, de forma aproximada, 
um quarto a um décimo respectivamente do valor 
total dos planos horizontais interiores. Também pode 
fazê-lo para a cobertura, com todos os seus compo-
nentes, talvez o mais crítico dos planos horizontais. 
Mas aqui as alternativas devem restringir-se àquelas 
• • 1\ • 
que cumprem com eficiência e economia as ex1genc1as 
• 
relativas às solicitações climáticas e estruturaiS. 
o I 
b} Os planos verticais, ao contrário, apresentam 1 Tlu~ 
meras alternativas, tanto para o desenho quanto para 
o uso de materiais. 
Os 45°/o do custo total de construção que representam 
têm, aproximadamente, a seguinte distribuição: entre 
um terço e a metade para as paredes exteriores, entre 
dois terços e a metade para as divisórias interiores. 
- . . I te sendo Essas proporçoes podem vanar sens1ve men ' 
. . dem chegar que, em casos extremos, as pnmerras po d 
. , . . . o das segun as. 
a um custo unrtano murto supenor a 
• 
. . . dividuaiS 
c) As anstalações complementares gera•s e •n rto 
do custo total, dependem, em grande parte, e 
sões dicotômicas, con1o já foi dito. 
'tu I o 2 
caP 1 
O CUSTO DAS DECISÕES ARQUITETÔNICAS 
Tabela 11.2 
Participaçao média percentual de cada b . 
d - d ru nca no custo de c t -e pa rao e acabamento médio ons ruçao de um edifício habitacional de 7 a g · . . 
. pavimentos sobre pllotJs, sem subsolo 
Rubrica Participação Observações média (0/o} 
Instalações Provisórias 2,60 Não inclui grandes movimentos de terra . 
Fundações 5,00 Supondo-se um terreno de qualidade média. 
Alvenarias 8,00 Considerando-se tijolos furados. 
Estrutura resistente 18,00 Considerando-se concreto maciço. A participação aumenta com a altura 
Cobertura 2,50 Telhas de barro sem vitrificar sobre madeiramento e forro de lambris 
Instalações elétrica e 
7,1 o Considera-se um circuito para cada 12m2 de piso. telefônica 
Instalações sanitária e gás 8,40 Não compreende louças e metais. Sem artefatos de gás. 
Pisos 6,84 Carpete nos dormitórios, cerâmica nas áreas molhadas e madeira econômica no estar. 
Aparelhos sanitários 4,38 Louças e metais de qualidade A, porém econômicos . 
Aberturas 8,55 Considerando-se madeira de lei ou alumínio anodizado. ' 
Revestimentos internos 9,50 Compreende chapisco, embaço, reboco e azulejo até o forro, classe A nos sant1ários 
Revestimentos externos 6,36 Compreende chapisco, emboço, recebo e um material econômico em mais de 1/3 da fachada 
Pintura 5,48 Considerando-se massa corrida e PVA nas partes interna e externa e tinta óleo nas aberturas 
Vidro 1,42 Espessura de 3mm 
Acabamentos e limpeza 1,42 Pequenos acabamentos não computados e limpeza final. da obra 
Elevador 4,45 Elevador de 45m/min para cada 2 aptos., máquina de CA, cabma em aço e porta automát ica 
t - fpos de edifícios pode ser consultada na Tabela Vlll.4. 
Nota: A partici pação n1édia de cada rubrica nos custos para ou ros 1 
43 
CO N CE ITOS G ERAIS 
, .. ::::v r • =- a i)**' -- '"' "' 
• 
O CUSTO DAS DECISÓES ARQUITETÔ NI CAS~~~~~~~~~~~~~~~~~~~-
Podemos concluir que se uma habitação é a soma 
• 
de planos horizontais e verticais, além de insta-
. , . lações e equ1pan1entos necessanos para que os 
espaços curnpram sua função, e que os planos ho-
rizontais representam apenas 25°/o dos custos, ao 
passo que os verticais 45°/o, o mais lógico, quando 
se quer economizar é reduzir estes últimos, seja 
eliminando paredes ou encontrando alternativas 
mais econômicas para elas. A redução de superfí-
cies horizontais trará, de fato, reduções nos custos 
muito menores do que usualmente se supõe, já que 
eles representam apenas 25°/o do total. A redução 
de custos pela redução dos planos verticais qua-
litativa e quantitativamente pode ser muito mais 
. . , 
tmportante Ja que eles representam 45°/o dos custos 
totais. O problema não é só o fator metros quadra-
dos construídos, mas também, fundamentalmente, 
a forma como são desenhadas essas superfícies, ou 
seja, o tradicional problema de quantidade versus 
qualidade do projeto. 
Por exemplo, é muito comum pensar que uma redução 
de 1. 0°/o de superfície construída representa redução 
equivalente no custo total da construção. Isso não é 
44 
verdade, já que as instalações (25°/o do custo) prati-
camente não sofrem modificações nem tampouco as 
divisórias, as quais não diminuem seu custo proporcio-
nalmente à redução da superfície. Segue um exemplo 
bem simples desse importante conceito, já que mais 
tarde ele será tema de um capítulo completo. Supo .. 
nha um quadrado de 1m x 1m, com área de 1m2, seu 
perímetro é de 4m. Uma diminuição de 1 0°/o de sua 
área resultará 0,9m2, correspondendo a uma redução 
no perímetro de: 
p' = 4\IA' = 4~0,9'= 3,80m 
A área diminui em: 
I ,O- 0,9 X I 00 = I 0% 
I ,O 
E o perímetro se reduz em: 
4,00-3,80 X (QQ = 5% 
4,00 
Como se pode ver, o perímetro diminui a metade da 
área da planta. 
cap ítulo 2 
O CUSTO DAS DECISÕES ARQUITETÔNICAS 
Tabela 11.3 
Cornpos,cão do custo total do edifício da tabela 11.1 segundo 1 
h . . . . . , p anos onzonta1s, verttcats e tnstalações, em edificações habitacionais. 
Classificação do 
elemento 
Elementos que 
formam os pla-
nos horizontais 
Elementos que 
formam os pla-
nos verticais 
Instalações 
Instalações pro-
visórias, limpeza 
da obra e outros 
trabalhos não 
considerados 
Composição 
Parte horizontal da es-
trutura e das fundações, 
telhado, pisos e parte 
horizontal dos revesti-
mentos e da pintura. 
Parte vertical da estru-
tura e das fundações, 
alvenarias, aberturas, 
revestimentos interno e 
externo, parte vertical da 
pintura. 
Elétrica, telefônica, 
hidráulica, gás, louças e 
metais e elevador 
CONCEITOS GERAIS 
Participa-
ção (0/o) 
26,79 
44,84 
24,33 
4,02 
A redução de 1 Oo/o na área percutirá nos custos da 
seguinte maneira: 
a) Nos 25o/o diretamente ligados à superfície (planos 
horizontais), 1 0°/o a menos corresponderá a uma 
economia de 2,5°/o. 
b) nos 45o/o relativos ao perímetro (planos verticais), 
que só diminui 5°/o, a economia será de 2,2°/o. 
c) o custo restante é praticamente independente da 
superfície. 
A redução total de custo é de 4, 7°/o, representando 
menos que a metade da porcentagem de diminuição 
da superfície (nesse caso, de 1 O o/o). Estudos realizados 
pelo CSTB (Paris), em 72 edifícios de apartamentos 
do tipo econômico, onde todas as unidades têm o 
mesmo número de quartos demonstram variação de 
custo por metro quadrado (tabela 11.4 e figura 2.5) 
que permitem reduzir preços totais relativos para as 
habitações, como informa a tabela 11.5. 
A partir daí podemos deduzir que aumentos ou dimi-
nuições de certa porcentagem da superfícieem uma 
habitação correspondem aumentos ou diminuições 
45 
O CUSTO DAS DECISÕES ARQUITETÔNICAS 
Tabe\a 11.4 
Variação do custo de construção por metro quadrado de planta, 
en1 função da variação da superfície 
(1) Superfície da 
Habitação (m2) 
40 
50 
60 
70 
80 
90 
(2) Custo do m2, tomando como 
base o correspondente a 60m2 ( 0/o) 
127 
11 o 
100 
90 
85 
80 
Fonte: Centre Scientifique et Techique du Bâtn1ent, Paris, 1970-72. 
Nota: 
1. Todas as unidades de habitação incluídas na tabela têm sala de 
estar/jantar, dois dormitórios, un1 banheiro e cozinha. 
2 . Na co\una (2) da Tabela lL4 e (2) e (3) da Tabela 11.5 os 
valores foram reduzidos a índices tomando como 100 o valor 
co.rrespondente ao apartarnento de 60n12 . 
menores que a metade nos custos da construção (en-
tre 40 e 50°/o, mais precisamente). Os estudos teóricos 
de Jarle (Finlândia), Bowley e Corlett (Inglaterra) dão 
cifras um pouco maiores (de 5 a 6°/o do total quando 
a superfície cresce 1 0°/o e vice-versa). 
46 
- 130 
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90 
ao 
~ 
I 
I 
f 
I 
90 70 
30 40 50 60 70 80 1 
Superfície construída por apartamento ( m) 
Figura 2.5: Variação do custo do metro quadrado construido em 
função da superfície por apartamento. 
· de ha-Esses estudos se referem a diferentes t1pos . , . 
b · - .f .,. té ed rf1oos ttaçoes, desde unidades un1 am• 1ares a 
, · t entos por de quatro andares com vanos aparam . , d' inulçoes 
andar. Na prática, esses aumentos e un au-
f dos enl de superfície podem ser trans orma 
capítu lo 2 
• 
O CUSTO DAS DECISÕES ARQUITETÔNICAS 
mentos e diminuições de largura e comprimento 
dos edifícios. 
Tabela 11.5 
Variação do custo de construção de unidades de habitação em 
função da superfície por unidade. 
(2) Superfície (3) Custo da 
unidade tomando como (1} Superfície tomando como base a (m2) base o correspondente a 
correspondente a 60m2 (0/o) 60m2 
40 67 85 
50 83 92 
60 100 100 
70 116 105 
80 133 113 
90 150 120 
O estudo de CSTB resumido na Tabela 11.5 mostra a lei 
do tamanho quando informa que: 
-apartamentos que diminuíram de 60m2 para 40m2 
têm redução de área de 33o/o enquanto seus custos se 
reduzem em apenas 1 5°/o (menos da metade); 
CONCEITOS GERAIS 
-apartamentos que aumentaram de 60m2 para 90m2 
com acréscimo de 50°/o de área tiveram incremento 
de custo de apenas 20o/o (também menos da metade). 
2.4 Lei do tamanho nas edificações 
Como resumo podemos dizer que há uma lei do tama-
nho que nos diz que aumento (ou redução) nas áreas 
construídas em X0/o levarão a aumentos (ou redução) 
de X/2°/o nos custos (ou ainda menos) como vemos 
na figura 2.6. 
., 
REDUÇAO 
DE ÁREA 
-REDUÇAO 
DE CUSTOS 
X% X% 2 
Figura 2.6: lei do tamanho 
47 
O CUSTO DAS DECISÕES ARQUITETÔNICAS 
Capítulo 3 
" 
NO CUSTO TOTAL DO EDIFÍCIO 
No capítulo 2, indicamos as porcentagens correspon-
dentes às participações, no custo total do edifício 
I 
dos planos horizontais (25°/o), planos verticais (45o/o), 
instalações em geral (25°/o), canteiro de obras e outros 
trabalhos preparatórios (5°/o}, mostrando, assim, a 
• A • a 
tmportancta assum1da pelos planos verticais (paredes, 
fachadas, divisórias, etc.) no custo total de construção. 
Como foi dito anteriormente, esse valor de 45°/o é ape-
nas uma média, podendo variar dentro de um espectro 
bastante amplo. São três os fatores que condicionam 
a porcentagem indicada: 
a) Os materiais, componentes e sistemas construtivos 
empregados na construção fazem com que o custo 
por m2 de parede seja variável. Basta ver rapidamente 
uma lista dos materiais existentes no mercado para 
identificar as alternativas (qualitativas e quantitativas) 
de que dispomos para construir uma parede. 
b) O tamanho médio dos locais, que determina a 
quantidade média de paredes por m2 construído. 
Embora menos considerado que o anterior, é um fator 
tão importante quanto ele. 
c) A forma dos compartimentos e do edifício, ou seja, 
seu grau de compacidade (fator de economia ainda 
menos considerado) que, como no caso anterior, in-
fluencia fortemente na quantidade média de paredes 
por m2 construído. 
Na majoria dos casos, quando nos preocupamos 
com a ,redução dos custos, diminuímos a qualidade 
através da escolha de materiais e do tipo de execução 
do prédio e, pouquíssimas vezes, por meio da forma 
e dimensão dos locais. Quando fazemos isso, o faze-
mos de maneira equivocada, aplicando conceitos que 
podem estar difundidos, mas que não são corretos, 
como, por exemplo, supor que a simples dimrnuição 
lNFLUÊNCIA DA FORMA DA PLANTA E DA ÁREA NO CUSTO TOTAL DO EDIFICIO 49 
O CUSTO DAS DECISÕES ARQUITETÔNICAS 
do tamanho de uma habitação reduza proporcional-
snente o seu custo. 
A influência do tamanho médio dos locais no custo de 
construção é relativamente fácil de intuir e calcular, ne-
, . . 
cessitando apenas urn pouco de prat1ca. Torna-se ma1s 
difícil, no entanto, imaginar a influência que a forn~a dos 
locais e do edifício exercem sobre os custos. Este tema é 
tão irnportante e complexo que numerosas instituições 
em diferentes países do mundo o estão estudando. 
3.1 Variação do custo do edifício em 
função da sua forma 
3.1.1 Aspectos teóricos 
Algumas análises geométricas muito simples e apa-
rentemente triviais podem nos ajudar a esclarecer 
as idéias expostas. Analisaremos uma série de for-
nlas alternativas na planta de um edifício de um só 
compartimento. A forn1a mais compacta é a circular, 
seguindo-se a planta quadrada, até chegar à planta 
retangular alongada. 
Levando em conta nossos costumes e problemas prá-
ticos de execução, devemos deixar de lado a forma cir-
50 
cu lar para considerações econômicas, considerando-as 
a partir do quadrado, o que implica não considerar as 
formas hexagonais, pouco estudadas e menos ainda 
- " . aproveitadas na construçao economtca. 
Tabela 111.1 
Quantidades de paredes necessárias para envolver diversas formas 
geométricas de plantas de edifícios 
, 
Períme- Relações Are a Forma da Planta I lado maior (ml) tro (m) Penmetro • 
Lado menor - Area 
Circular 100 35,44 0,35 -
Quadrada 1 O x 1 O 100 40,00 0,40 1 
5 X 20 100 50,00 0,50 4 
Retan- 4 X 25 100 58,00 0,58 6,25 
guiar 2 X 50 100 104,00 1,04 25 
1 X 100 100 202,00 2,02 100 
Na tabela 111.1 podemos observar o resultado da aná-
lise das relações entre a superfície, o perímetro e 05 
lados de uma série de figuras, todas elas com 100m2 
de superfície. O perímetro, que no nosso exemplo 
representa a quantidade de paredes, é forternente 
. d · lar Para crescente, segundo a forma, partrndo a c~rcu · 
5 
'do e 2 metros lineares de parede por m2 construi ' 
capitulo 3 
O CUSlO DA'i DECISÕES ARQUITETÔNI CAS 
n1etro- lineares de parede por rn 2 para o retângulo 
de forn1a mais alongada. As forrnas intermediárias 
re tantes necC'ssitam de quantidades de paredes com-
preendtdas entre esses valores extremos para fechar 
a superfície. 
o cu 2,00 
'- ·-
.., u Q) , _ 
E't: 
,_ cu 
@ §- 1.04 
Cl..V) 
0,55 
0,50 
0,40 
0,35 
I 
, 
'iJI" 
2 4 6,25 I O 25 50 I 00 
Lado maior 
Lado menor 
Figura 3.1: Quantidade de metros lineares de parede necessarios para 
envolver uma superiície de 1 OOn12 ern funçao da forma da planta. 
A fig . 3.1 ilustra, para uma rnesma superfície, a re-
lação entre lado maior/lado menor, na horizontal, 
e o perímetro, na vertical. Podemos observar corno 
a necessidade de usar paredes aumenta à n1edida 
que a forma da planta se apresenta mais alongada. 
Recordando que uma boa parte dos custos de cons-
trução (em média 45o/o)

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