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Física Básica D Paulo José Sena dos Santos Florianópolis, 2009 Universidade Federal de Santa Catarina Consórcio RediSul Campus Universitário – Trindade Caixa Postal 476 – CEP 88040-200 – Florianópolis – SC http://www.ead.ufsc.br – licenciatura@ead.ufsc.br Reitor Alvaro Toubes Prata Vice-Reitor Carlos Alberto Justo da Silva Secretário de Educação à Distância Cícero Barbosa Pró-Reitora de Ensino de Graduação Yara Maria Rauh Muller Pró-Reitora de Pesquisa e Extensão Débora Peres Menezes Pró-Reitor de Pós-Graduação Maria Lúcia de Barros Camargo Pró-Reitor de Desenvolvimento Humano e Social Luiz Henrique V. Silva Pró-Reitor de Infra-Estrutura João Batista Furtuoso Pró-Reitor de Assuntos Estudantis Cláudio José Amante Centro de Ciências da Educação Wilson Schmidt Centro de Ciências Físicas e Matemáticas Tarciso Antônio Grandi Centro de Filosofia e Ciências Humanas Roselane Neckel Instituições Consorciadas UDESC Universidade do Estado de Santa Catarina UEM Universidade Estadual de Maringá UFRGS Universidade Federal do Rio Grande do Sul UFSC Universidade Federal de Santa Catarina UFSM Universidade Federal de Santa Maria Cursos de Licenciatura na Modalidade à Distância Coordenação Acadêmica Física Sônia Maria S. Corrêa de Souza Cruz Coordenação de Ambiente Virtual Nereu Estanislau Burin Coordenação de Tutoria Rene B. Sander Coordenação de Infra-Estrutura e Pólos Vladimir Arthur Fey Comissão Editorial Demétrio Delizoicov Neto, Frederico F. de Souza Cruz, Gerson Renzetti Ouriques, José André Angotti, Nilo Kühlkamp, Silvio Luiz Souza Cunha. Coordenação Pedagógica das Licenciaturas à Distância UFSC/CED/CFM Coordenação Roseli Zen Cerny Núcleo de Formação Responsável Nilza Godoy Gomes Núcleo de Criação e Desenvolvimento de Material Responsável Isabella Benfica Barbosa Design Gráfico e Editorial Carlos Antonio Ramirez Righi Diogo Henrique Ropelato Mariana da Silva Produção Gráfica e Hipermídia Thiago Rocha Oliveira Design Instrucional Rodrigo Machado Cardoso Revisão Ortográfica Christiane Maria Nunes de Sousa Preparação de Gráficos Karina Silveira, Thiago Rocha Oliveira, Thiago Felipe Victorino, Ana Flávia Maestri, Lara Vanessa G. Soares, Lissa Capeleto, Rafael Queiroz de Oliveira Ilustrações Aberturas de Capítulos Bruno Martone Nucci Editoração Eletrônica Jessé Torres, Karina Silveira, Thiago Rocha Oliveira Copyright © 2009, Universidade Federal de Santa Catarina / Consórcio RediSul Nenhuma parte deste material poderá ser reproduzida, transmitida e gravada, por qual- quer meio eletrônico, por fotocópia e outros, sem a prévia autorização, por escrito, da Coordenação Acadêmica do Curso de Licenciatura em Física na Modalidade à Distância. Catalogação na fonte: Eleonora Milano Falcão Vieira S237f Santos, Paulo José Sena dos Física básica D / Paulo José Sena dos Santos. - Florianópolis : UFSC/ EAD/CED/CFM, 2009. 219p. ISBN 978-85-99379-26-4 1.Física. I. Título. CDU 53 Sumário Apresentação .................................................................... 9 1 Lei de Coulomb .............................................................11 1.1 Carga elétrica ........................................................................13 1.2 Condutores e isolantes .........................................................17 1.3 Lei de Coulomb .....................................................................19 Resumo ...................................................................................... 23 Bibliografia comentada ...............................................................26 2 O Campo Elétrico ......................................................... 27 2.1 Campo elétrico ......................................................................29 2.2 Campo elétrico produzido por uma carga pontual ............ 30 2.3 Campo elétrico devido a distribuições contínuas de cargas ............................................................ 33 2.4 Linhas de campo elétrico .....................................................43 2.5 Movimento de partículas carregadas em um campo elétrico uniforme .........................................45 2.6 Dipolo elétrico em um campo uniforme ............................. 46 Resumo ...................................................................................... 48 Bibliografia comentada ...............................................................52 3 Lei de Gauss ................................................................ 53 3.1 Fluxo ..................................................................................... 55 3.2 Fluxo elétrico ........................................................................ 56 3.3 Lei de Gauss ..........................................................................59 3.4 Aplicações da lei de Gauss a distribuições simétricas de carga ............................................................. 64 3.5 Cargas e campos elétricos nas superfícies condutoras .........................................................69 Resumo .......................................................................................79 Bibliografia comentada ...............................................................81 4 O potencial elétrico ...................................................... 83 4.1. Trabalho e energia potencial ............................................. 85 4.2. Diferença de potencial e potencial elétrico ....................... 86 4.3 Potencial elétrico de uma carga pontual ............................ 88 4.4 Potencial elétrico devido a distribuições contínuas de carga .............................................................. 90 4.5 Superfícies eqüipotenciais ................................................... 96 4.6 Cálculo do campo elétrico a partir do potencial ................ 96 4.7 Potencial elétrico de um condutor carregado ..................... 98 Resumo ...................................................................................... 99 Bibliografia Comentada ............................................................102 5 Capacitância .............................................................. 105 5.1 Capacitância ........................................................................107 5.2 Cálculos de capacitância ....................................................108 5.3 Associação de capacitores ................................................. 111 5.4 Energia armazenada em um capacitor .............................. 116 5.5 Dielétricos ........................................................................... 117 Resumo ..................................................................................... 119 Bibliografia comentada .............................................................122 6 Corrente elétrica e resistência ................................... 123 6.1 Corrente elétrica ..................................................................125 6.2 Resistência e leis de Ohm ...................................................128 6.3 Energia elétrica e potência .................................................130 6.4 Fonte de força eletromotriz (fonte fem ) ( ) ...................... 131 6.5 Associação de resistores ....................................................132 6.6. Leis de Kirchhoff ................................................................135 6.7 Circuitos RC .........................................................................138 Resumo .....................................................................................142 Bibliografia comentada .............................................................1487 Campo magnético ...................................................... 149 7.1 Um pouco de história .......................................................... 151 7.2 O campo magnético ............................................................152 7.3 Movimento de uma partícula carregada em um campo magnético ..................................................154 7.4 Aplicações do movimento de partículas carregadas em campos magnéticos..................................156 7.4.3 Cíclotrons ..........................................................................158 7.5 Força magnética sobre um condutor de corrente .............160 7.6 Torque sobre uma espira de corrente em um campo magnético uniforme .................................. 161 Resumo .....................................................................................163 Bibliografia comentada .............................................................167 8 Lei de Ampère ............................................................ 169 8.1 Lei de Biot-Savart ................................................................ 171 8.2 Força magnética sobre dois fios paralelos ......................... 176 8.3 Lei de Ampère .....................................................................178 8.4 Campo magnético de um solenóide ...................................179 Resumo ..................................................................................... 181 Bibliografia comentada .............................................................184 9 Lei de Faraday ............................................................ 185 9.1 Fluxo Magnético ..................................................................187 9.2 Lei de Faraday .....................................................................189 9.3 Aplicações das leis de Faraday ...........................................190 9.4 Lei de Lenz ..........................................................................193 9.5 Indutância ............................................................................194 9.6 Circuitos RL .........................................................................196 9.7 Energia armazenada em um campo magnético................199 Resumo .................................................................................... 200 Bibliografia comentada ............................................................ 204 10 Equações de Maxwell ............................................... 205 10.1 Introdução histórica ..........................................................207 10.2 Corrente de deslocamento de Maxwell ........................... 209 10.3 As equações de Maxwell .................................................. 210 10.4 Ondas eletromagnéticas ................................................... 210 Resumo ..................................................................................... 216 Bibliografia comentada ............................................................. 216 Referências ....................................................................219 Apresentação Este livro foi escrito para a disciplina de Física Básica D, do curso de Licen- ciatura a Distância em Física da Universidade Federal de Santa Catarina, que tem duração de 90 horas-aula. Conforme você poderá perceber, a presente obra procura, através de uma lin- guagem acessível, apresentar um pouco da Teoria Eletromagnética, com um grande número de exemplos resolvidos ao longo dos capítulos. No capítulo 1 será apresentado um pouco da história do eletromagnetismo, as propriedades das cargas elétricas e, ao final, a lei de Coulomb e algumas aplicações. A força elétrica, assim como a força gravitacional, é uma força de ação a dis- tância. Desse modo, as definições feitas no estudo da gravitação podem ser utilizadas no estudo da interação entre cargas elétricas. Assim, no capítulo 2 será definido o campo elétrico, que será calculado em distribuições pontuais e contínuas de cargas. No final do capítulo discutiremos o movimento de cargas pontuais e o comportamento de um dipolo elétrico em um campo elétrico. No capítulo 3 será mostrada uma nova forma de cálculo do campo elétrico em distribuições contínuas de cargas que apresentam um alto grau de sime- tria, através da lei de Gauss. No capítulo 4, através do trabalho realizado pela força elétrica e sua relação com a energia potencial, serão definidos o potencial elétrico e a diferença de potencial. Diversas aplicações, tais como cálculos de potencial em diversas distribuições de cargas e uma nova forma de calcular o campo elétrico, serão apresentadas. A discussão sobre o comportamento de um condutor em equi- líbrio eletrostático será finalizada. No capítulo 5 será discutida a capacitância (e os capacitores – dispositivos que armazenam energia através do armazenamento de cargas). No capítulo 6 serão apresentadas as definições de corrente elétrica e resis- tência. Além de aplicações na resolução de inicialmente de circuitos elétricos simples e circuitos que envolvam resistências e capacitores. No capítulo 7 será discutida a interação entre cargas em movimento e um campo magnético externo. Algumas aplicações tais como: filtro de velocida- des, espectrômetro de massa e o ciclotron também serão apresentadas. No capítulo 8 serão discutidas as leis de Biot-Savart e de Ampère. No capítulo 9 será abordado o fenômeno da indução eletromagnética e a lei de Faraday, que é fundamental no entendimento do funcionamento de mo- tores e geradores. Finalmente, no capítulo 10 serão apresentadas as equações de Maxwell, que sintetizam as leis do eletromagnetismo. Através dessas equações, Maxwell previu a existência de ondas eletromagnéticas, que mais tarde foram produ- zidas em laboratório por Hertz. Em virtude do desafio de estudar Física a distância, você deve estudar tanto a teoria quanto os exemplos com bastante atenção. Os exercícios propostos devem ser resolvidos e as dúvidas discutidas com o professor da disciplina, com os tutores nos pólos e com seus colegas de curso. Ao fim de cada capítulo também são apresentadas algumas referências. Mui- tas delas já devem ser conhecidas de outras disciplinas; outras, principal- mente as comentadas, apresentam uma conexão entre a teoria discutida e alguns fenômenos naturais. Alguns autores discutem também a respeito da história dessa apaixonante parte da Física Clássica. Espero que você goste e aproveite bastante este livro. Para finalizar, gostaria de agradecer ao Conselho Editorial pela revisão dessa obra e a Rodrigo Machado, que em algumas discussões contribuiu bastante para a feitura desse material. O autor. Lei de Coulomb1 13Lei de Coulomb 1 Lei de Coulomb 13 Com certeza você já está familiarizado com uma série de fenômenos que têm origem no comportamento de cargas elétricas. Alguns são naturais, como a incidência de raios em um dia de tempestade; outros são provocados, como o processo de carga em um gerador Van der Graff, presente em uma série de laboratórios e museus de ciências. Além disso, muitos aparelhos, em seu funcionamento, realizam a conversão da energia elétrica em outros tipos de energia. Começaremos este capítulo enunciando algumas proprie- dades da carga elétrica, tais como conservação e quanti- zação. Nossa discussão continuará com a diferenciação entre condutores e isolantes, e os diversos processos de transferência de carga (também chamados processos de eletrização). Finalmente, terminaremos este capítulo enunciando a lei de Coulomb e aplicando-a à resolução de algumas situações-problema. 1.1 Carga elétrica Várias experiências mostram a existência de forças entre corpos ele- tricamente carregados.Os gregos já observavam esses fenômenos por volta de 700 a.C. Eles descreveram que pedaços de âmbar, quando atritados, atraíam pequenos pedaços de palha e penas de animais. Em 1600, William Gilbert, em seu livro De Magnete, afirmou que cor- pos feitos de outros materiais (como o enxofre ou o vidro, por exem- plo) também podiam ser eletrizados por atrito. Pouco mais de cem anos após a publicação do tratado de Gilbert, em 1733, Charles du Fay mostrou que duas porções do mesmo material (âmbar por exemplo), ao serem eletrizadas por atrito com um tecido, se repeliam. Entretanto, o vidro, ao ser eletrizado por um tecido, atraía o âmbar. Esse fenômeno foi explicado considerando que existiam dois tipos de cargas denominados por du Fay de “vítrea” e “resinosa”. Mais Elektron, em grego. Charles François de Cisternay du Fay (1698 – 1739): químico francês especializado em eletricidade, mas também com trabalhos na botânica e sobre a propriedade óptica dos cristais. Morreu aos 41 anos de idade, em Paris, após uma breve enfermidade. 14 tarde, Benjamin Franklin chamou essas cargas de positiva e negativa, respectivamente. Essa experiência e outras feitas mais tarde mostraram uma importan- te propriedade das cargas elétricas: “Cargas de mesmo sinal se repelem, enquanto cargas de sinais contrários se atraem.” 1.1.1 Conservação da Carga Outra propriedade importante da carga elétrica é que: “Em um sistema isolado a carga total é sempre conser- vada.” Dessa forma, quando dois corpos neutros são esfregados entre si, não há criação de cargas, e sim a transferência de partículas negati- vamente carregadas de um corpo para outro. Um dos corpos ganha uma quantidade de carga negativa, enquanto o outro perde a mesma quantidade de carga, ficando positivamente carregado. Para determinar qual o sinal das cargas adquiridas pelos corpos, de- ve-se recorrer à série triboelétrica. Um exemplo desse tipo pode visto abaixo, na tabela 1.1. Ao se esfregarem dois materiais da tabela, as partículas negativas serão transferidas do material mais acima para o material mais abaixo. Série triboelétrica (+) Extremidade positiva da série Amianto Vidro Náilon Alumínio Papel Plástico Borracha de silicone (-) Extremidade negativa da série Tabela 1.1: Série triboelétrica. Em grego, tribos significa fricção. 15Lei de Coulomb Uma outra forma de se eletrizar corpos é através do contato. Nesse processo, os corpos são apenas colocados em contato, ocorrendo a transferência de cargas de um corpo para outro, conforme mostra a Figura 1.1. Figura 1.1: Eletrização por contato. Se dois condutores A e B , com cargas Aq e Bq , respectivamente, após o contato adquirirem cargas 'Aq e 'Bq , a conservação da carga implicará em: ' 'A B A Bq q q q+ = + . Caso os corpos sejam idênticos: 2 A Bq qq += ' ' A Bq q q= = . 1.1.2 Quantização da carga A matéria é composta por átomos eletricamente neutros. Cada átomo possui um núcleo maciço que contém prótons (partículas de carga positiva) e nêutrons (partículas sem carga). Em volta do núcleo existe uma quantidade de elétrons (partículas de carga negativa) em núme- ro igual ao de prótons no núcleo. O próton possui uma carga e+ , enquanto o elétron possui uma massa cerca de 2000 vezes menor, porém uma carga igual a e− . Desse modo, e é a menor carga que podemos encontrar livre na natureza. Esse valor é chamado carga elementar. Toda carga encontrada na natureza é um múltiplo inteiro da carga elementar, assim: 16 19 , 1, 2, ... 1,6 10 q n e n e C− = ⋅ = ± ± = × . A carga elétrica, no Sistema Internacional de Unidades, é medida em coulombs (C ). Esse valor foi obtido através de experimentos. Exemplo 1: Uma moeda de cobre ( 29Z = ) possui uma massa de 3 g . Qual é a carga elétrica total de todos os elétrons da moeda? (Massa molar do cobre 63,5 /g mol .) Resolução: Dicas para a resolução de problemas: 1. Ler cuidadosamente, procurando entender o que se pede. 2. Ler e anotar os dados fornecidos. 3. Fazer as figuras, localizando os elementos de carga, corrente etc., e apontar os respectivos vetores. 4. Comparar os dados anotados e o que se quer obter com teoria descrita no capítulo. 5. Substituir os valores dados nas respectivas fórmu- las. Sabemos que um mol de átomos de cobre possui 236,02 10 átomos× e 63,5 g . Desse modo, podemos escrever: 23 23 22 6,02 10 63,5 3 3 6,02 10 2,84 10 63,5 átomos g N átomos g g átomosN átomos g × − − − − − − − − − − − − − − − − − − ⋅ ×= = × . Lembramos que esse número de átomos é referente a uma moeda de 3g de cobre. O número de elétrons em um átomo de cobre é 29 . Em N átomos, temos: 22 2329 2,84 10 8,24 10n elétrons= ⋅ × = × . A carga total dos elétrons da moeda de cobre de 3 g é: A principal experiência foi a do norte-americano Robert Andrews Mílikan (1868–1953), realizada com minúsculas gotas de óleos eletrizadas submetidas a um campo elétrico. 17Lei de Coulomb 23 19 58, 24 10 1,6 10 1,32 10q n e C C−= ⋅ = − × ⋅ × = − × . Observamos que essa carga possui valor bastante elevado em relação à carga elétrica elementar. 1.2 Condutores e isolantes Em 1729, Stephen Gray constatou que cargas elétricas podiam ser transmitidas através de diferentes materiais, os quais foram chama- dos de condutores, e tendiam a permanecer retidas em outros, chama- dos isolantes. Hoje esses materiais são classificados de acordo com a habilidade das cargas de estarem, ou não, em movimento no interior do material. Desse modo: • Condutores – são materiais nos quais as cargas elétri- cas se deslocam de maneira relativamente livre. • Isolantes – são materiais nos quais as cargas elétricas não se deslocam livremente. Materiais como o vidro, a água destilada, a borracha, plásticos e gases em condições normais são isolantes. Quando uma barra de plástico, por exemplo, é carregada por atrito, apenas a área friccionada torna- se carregada. Já materiais como os metais, água contendo ácidos, bases ou sais em solução são condutores. Quando os metais são car- regados, por exemplo, as cargas distribuem-se por toda a superfície do material. Existe ainda uma terceira classe de materiais, de propriedades in- termediárias entre as dos condutores e dos isolantes, denominados semicondutores. No interior desses materiais existem menos cargas deslocando-se do que em um condutor. 1.2.1 Carga por indução Quando um condutor é conectado à Terra por meio de um fio condu- tor, diz-se que ele está aterrado. Considere uma esfera condutora não carregada (neutra) que esteja isolada (Figura 1.2 (a)). Aproxima-se uma haste isolante negativamente Stephen Gray (1666–1736): físico inglês. Esse é o mesmo princípio do aterramento utilizado em residências, onde se conecta toda a rede em uma haste fincada à Terra, objetivando escoamento de excesso de energia proveniente de sobretensões (relâmpagos, por exemplo). O termo terra é, às vezes, usado como sinônimo de referencial de um circuito, embora nesses casos não haja conexão direta ao solo. 18 carregada da esfera (Figura 1.2 (b)). A força de repulsão entre as cargas negativas provoca uma redistribuição das cargas no interior da esfera (polarização). Na região mais próxima da haste há uma concentração de cargas positivas, enquanto na região oposta há uma concentração de cargas negativas. Se o corpo for aterrado (Figura 1.2 (c)), alguns elétrons deixarão o corpo em direção à Terra. Se o fio for removido (Figura 1.2 (d) e 1.2 (e)), o corpo fica positivamente carregado. Figura 1.2 (a): Esfera inicialmente neutra. Figura 1.2 (b): A esfera inicialmente neutra é polarizadaem virtude da aproximação de uma haste carregada negativamente. Figura 1.2 (c): Quando a esfera é aterrada, parte das cargas negativas são transferi- das para a Terra. Figuras 1.2 (d) e (e): Ao se retirar a ligação com a Terra, a esfera fica positivamente carregada. A polarização de materiais elétricos é o acúmulo de cargas, ou seja, você acumula cargas positivas de um lado e negativas de outro, gerando um campo elétrico. Já o termo polarizabilidade representa à facilidade de distorção da configuração eletrônica de uma espécie, quando submetida a interação de um campo elétrico. 19Lei de Coulomb Esse processo, onde a haste de borracha não entra em contato com a esfera, é chamado indução eletrostática. Esse efeito explica como um pente atritado com o seu cabelo atrai pedaços pequenos de papel (Figura 1.3) e como um balão que seja atritado com seu cabelo pode ficar aderido a uma parede, entre outros fenômenos. Figura 1.3: Um pente carregado atrai pequenos pedaços de papel. 1.3 Lei de Coulomb As forças elétricas de atração (ou repulsão) entre corpos carregados foram estudadas por Charles A. Coulomb, utilizando uma balança de torção (semelhante à utilizada por Cavendish para medir a atração gravitacional entre dois corpos). Um esquema da balança de torção pode ser visto na Figura 1.4. Ele confirmou, a partir de suas experiências, em 1785, que a força elé- trica é proporcional ao valor das cargas e inversamente proporcional ao quadrado da distância de separação ( r ) entre elas. Assim, pode-se escrever: 1 2 2e q q F k r ⋅ = ⋅ , onde 9 2 29 10 /k Nm C= × é a constante eletrostática no vácuo. Essa constante pode ser escrita em termos da permissividade do vácuo 12 2 2 0 8,85 10 /C Nm −= × 0 1 4 k = ⋅ ⋅ . Charles Augustin de Coulomb (1736–1806): físico francês. Com um método experimental rigoroso e perspicaz, escreveu uma série de tratados sobre magnetismo e eletricidade. Em homenagem aos seus trabalhos, seu nome foi utilizado na definição de carga elétrica. Fibra q1q2 F Figura 1.4: Balança de torção. 20 Deve-se lembrar que a força é uma grandeza vetorial, assim a força eletrostática exercida por 1q em 2q pode ser escrita da forma 12 1 2 122 ˆ q q F k r r → ⋅ = , onde 12rˆ é um vetor unitário orientado de 1q para 2q , como mostra a Figura 1.5 (a). A partir da terceira lei de Newton, concluímos que a força elétrica exercida pela carga 2q sobre a carga 1q tem mesmo mó- dulo, mesma direção e sentido contrário à força exercida pela carga 1q sobre a 2q 12 21( )F F= − . Nas Figuras 1.5 (a) e (b), podemos observar a direção e o sentido das forças quando as cargas possuem mesmo sinal (repulsão) ou sinais contrários (atração). Se compararmos a Lei de Coulomb com a Lei de Newton para o mó- dulo da força gravitacional entre duas partículas de massa 1m e 2m , separadas por uma distância r : 1 2 2 m mF G r ⋅= , onde G é a constante gravitacional ( 11 2 26,67 10 /G Nm kg−= × ), vere- mos como são semelhantes. Quando estão presentes mais de duas partículas carregadas, como na Figura 1.6, a força resultante sobre qualquer partícula é igual à soma vetorial das forças devido a todas das outras partículas (princípio da superposição): 3 13 23F F F= + . r r q q q F3 3 32 31 2 1 Figura 1.6: A força resultante sobre a carga 3q é a soma vetorial das forças exercidas pelas cargas 1q e 2q . F21 F12 (b)q1 q2 (a)F21 q1 r12 q2 r ^ F12 Figura 1.5: Direção e sen- tido da força eletrostática entre corpos com cargas de (a) mesmo sinal e (b) sinais contrários. 21Lei de Coulomb Exemplo 2: A Figura 1.7 mostra três partículas carregadas presas nas respectivas posições por forças que não são mostradas. Qual é a força resultante na carga 1q ? Dados: 1 1, 2q C= − , 2 3,7q C= , 3 2,3q C= − , 12 15r cm= , 13 10r cm= e 32 = ° . r y x r13 q3 q 1 12 q2 F12 F13 θ θ Figura 1.7: Exemplo 2. Resolução: Na resolução desse exemplo podemos aplicar o princí- pio da superposição. Vamos começar calculando o módulo das forças que atuam sobre a carga 1q (os sinais foram levados em conta no mo- mento em que representamos as forças). 2 6 6 91 2 12 2 2 2 12 2 6 6 91 3 13 2 2 2 13 1,2 10 3,7 109 10 1,77 (0,15 ) 1,2 10 2,3 109 10 2,48 (0,10 ) q q Nm C CF k N r C m q q Nm C CF k N r C m − − − − ⋅ × ⋅ ×= = × = ⋅ × ⋅ ×= = × = Para a obtenção do módulo da força resultante, devemos utilizar os componentes da força 13F . Portanto: 1 12 13 12 13 1 12 13 13 sen32 3,08 0 cos32 2,10 o x x x o y y y F F F F F N F F F F N = + = + ⋅ = = + = − ⋅ = − A partir desses componentes, obtemos o módulo da força resultante sobre a carga 1q : 2 2 1 1 1 3,73x yF F F N= + = , e a orientação da força 1F é 34− ° (Figura 1.7 (b)) com o eixo x . 22 r 34° y x r13 q 3 q 1 12 q2 F12 F13 F1 θ θ Figura 1.7b: Exemplo 2. Exemplo 3: Três partículas carregadas encontram-se ao longo do eixo x , como na Figura 1.8. A partícula 1 15,0q C= está em 2,00x m= , enquanto a partícula com carga 2 6,00q C= está na origem. Onde deve ser colocada no eixo x uma partícula com carga negativa 3q , de maneira que a força resultante sobre ela seja nula? F23 F13 x 2,00 m 2,00 - xx q2 q3 q1 Figura 1.8: Exemplo 3. Resolução: Para que as forças exercidas pelas cargas 1q e 2q sobre 3q se anulem, devem ter sentidos opostos. Se a carga 3q for colocada à di- reita de 1q ou à esquerda de 2q , as forças terão o mesmo sentido (verifi- que com base no que foi discutido neste capítulo). Assim, 3q deverá ser colocada a uma distância x da origem (onde está colocada a carga 2q ). Conforme você dever ter visto em cursos anteriores, o módulo da força resultante nesse caso é igual à diferença dos módulos dos dois vetores: 1 3 2 3 3 13 23 13 23 2 20 (2,00 ) q q q qF F F F F k k x x ⋅ ⋅= − = ⇒ = ∴ = − . Como k e 3q são comuns aos dois termos, eles se anulam. Desse modo, o valor de x pode ser obtido. 23Lei de Coulomb 6 6 2 2 2 2 15 10 6 10 15 6 (4,00 4,00 ) (2,00 ) C C x x x x x − −× ×= ∴ ⋅ = ⋅ − ⋅ + ∴ − 29 24,0 24,0 0x x⋅ + ⋅ − = Resolvendo a equação de segundo grau acima, encontramos duas raí- zes. A positiva 0,775x m= e a negativa, que deve ser desprezada. Por que a raiz negativa deve ser desprezada nesse caso? Resumo Neste capítulo foi discutido que a carga elétrica é uma grandeza que apresenta as seguintes propriedades: Em um sistema fechado a carga elétrica total do sistema é con-• servada. Pode ser positiva ou negativa.• Cargas de mesmo sinal se repelem, enquanto cargas de sinais • contrários se atraem. A carga elétrica de um corpo é uma • grandeza quantizada (múltipla inteira da carga fundamental 191,6 10e C−= × ). q n e= ⋅ . As cargas elétricas podem ser transferidas de um corpo para outro por atrito, por contato ou por indução eletrostática. Nos processos de indução eletrostática e atrito, os corpos adquirem cargas de sinais opostos. Ao final da eletrização por contato, os corpos podem adquirir cargas de mesmo sinal. A lei de atração (ou repulsão) entre corpos carregados eletricamente foi descoberta em 1785, por Charles Augustin Coulomb. Seus experi- mentos mostraram que: A força é proporcional ao valor das cargas.• A força é inversamente proporcional ao quadrado da distância • de separação entre as cargas. Quando uma grandeza física, nesse caso, a carga elétrica, pode ter somente valores discretos (múltiplos inteiros de um valor fundamental)em vez de qualquer valor, dizemos que é uma grandeza quantizada. Por exemplo, uma partícula carregada poderá assumir os valores de carga igual a , , ou , mas não poderá ter valores como . 24 Dessa forma: 1 2 2 ˆ q qF k r r ⋅= , onde k é a constante eletrostática do meio (no vácuo 9 2 29 10 /k Nm C= × ) e rˆ é um vetor unitário na direção da reta que une as duas cargas. A constante eletrostática pode ser escrita em função de uma outra constante, a permissividade do meio ( 0 ) 0 1 4 k = . No vácuo (representada por 0ε ), a permissividade vale 12 2 28,85 10 /C Nm−× . Exercícios 1) Calcule o número de elétrons existentes em um pequeno alfinete de prata eletricamente neutro que tem massa 10,0 g . A prata tem 47 elétrons por átomo e sua massa molar é 107,87 /g mol . Resposta: 242,62 10× elétrons. 2) O elétron e o próton em um átomo de hidrogênio são separados, em média, por uma distância de aproximadamente 115,3 10 m−× . Encontre os valores da força eletrostática e da força gravitacional que as partícu- las exercem uma sobre a outra. Dados: 19| | | | 1,6 10próton elétronq q C −= = × , 271,67 10prótonm kg −= × e 319,11 10elétronm kg −= × . Respostas: 88, 2 10eF N −= × e 473,6 10gF N −= × . 3) Dois prótons em um núcleo atômico estão separados normalmen- te por uma distância de 152 10 m−× . A força elétrica de repulsão entre dois prótons é enorme, mas a força nuclear de atração é ainda maior, impedindo que o núcleo se desintegre. Qual é o valor da força elétri- ca de repulsão entre os dois prótons separados por uma distância de 152 10 m−× ? Resposta: 57,5 N . 4) Duas cargas fixas de 1,0 C e 3,0 C− estão separadas por uma 25Lei de Coulomb distância de 10cm . Onde deve ser colocada uma terceira carga, para que nenhuma força atue sobre ela? Resposta: a 14cm da carga positiva e a 24cm da carga negativa. 5) Duas pequenas esferas estão positivamente carregadas. O valor total das duas cargas é 55,0 10 C−× . As esferas repelem-se com uma força de 1,0 N , quando estão separadas por uma distância de 2,0 m . Nessas condições, determine a carga em cada uma das esferas. Resposta: 51, 2 10 C−× e 53,8 10 C−× . 6) Três cargas pontuais são colocadas nos vértices de um triângulo eqüilátero, como mostrado na Figura 1.9. Calcule a força elétrica re- sultante sobre a carga de 7,00 C . Resposta: 0,872 N a 330° . 7) Duas pequenas esferas condutoras de massa m estão suspensas por fios de seda de comprimento L e possuem a mesma carga q , como é mostrado na figura 1.10. Considerando que o ângulo é tão pequeno que a tg possa ser substituída por sen : (a) mostre que para essa aproximação no equilíbrio teremos: 1/32 02 q Lx m g = ⋅ ⋅ ⋅ ⋅ . (b) Sendo 120L cm= , 10,0m g= e 5,00x cm= , quanto vale q ? Resposta: 82, 4 10 C−± × . Bibliografia comentada NUSSENZVEIG, H. M. Curso de Física Básica. Vol. 3. São Paulo: Edgard Blücher, 1997. Nessa obra o autor discute a lei de Coulomb, apresentando, ao final do segundo capítulo, vários exercícios úteis para o nosso curso. L L x θ θ q q Figura 1.10: Exercício 7. 2,00 µC 7,00 µC 0,500 m - 4,00 µC y x 60,0° Figura 1.9: Exercício 6. 26 PIRES, A. S. T. A Evolução das Idéias da Física. São Paulo: Livraria da Física, 2008. Nesse livro o autor apresenta um pouco da história do desenvolvimento da Teoria Eletromagnética, dos antigos gregos até os experimentos realizados com éter, que supostamente desempenharam algum papel no desenvolvimento da Teoria da Relatividade, restrita anos mais tarde por Einstein. SERWAY, R. A. e JEWETT Jr., J. W. Princípios da Física. Vol. 3. São Pau- lo: Pioneira Thomson Learning, 2004. Nessa obra os autores propõem exercícios interessantes sobre a lei de Coulomb. O Campo Elétrico2 29O Campo Elétrico 2 O Campo Elétrico 29 No capítulo anterior, ao estudar sobre a lei de Coulomb, você deve ter percebido a similaridade entre essa lei e a lei da Gravitação Universal de Newton (ambas são leis que dependem do inverso do quadrado da distância). Ao discutir a Gravitação, foi definido o campo gravitacio- nal g . Desse modo, iniciaremos o capítulo definindo o campo elétrico e calculando esse campo para uma carga pontual. Em seguida, utilizaremos o campo da carga pon- tual e suas propriedades para calcular o campo elétrico de distribuições contínuas de cargas. Discutiremos tam- bém as linhas de campo elétrico, que foram propostas por Michael Faraday, muito utilizadas para visualizar padrões de campo elétrico produzidos por distribuições de cargas. Finalmente, discutiremos os movimentos de uma carga pontual e de dipolo elétrico em regiões onde existem cam- pos elétricos. 2.1 Campo elétrico O campo gravitacional ( g ) em um ponto foi definido anteriormente como a força gravitacional ( gF ), que age sobre uma partícula de mas- sa m, dividida pela massa da partícula: .g F g m = . De maneira similar, um campo elétrico em um ponto do espaço pode ser definido em termos da força elétrica que age em uma partícula de prova com carga 0q colocada nesse ponto (como existem dois tipos de carga, convenciona-se que uma partícula de prova tem sempre carga positiva). Essa carga de prova é pequena o bastante para não alterar a distribuição de carga responsável pelo campo elétrico. O campo elétrico ( E ) em um ponto do espaço é definido como a força elétrica ( eF ), que age sobre uma partícula de prova, colocada nesse ponto, dividida pela carga da partícula de prova: 30 0 eFE q = . No Sistema Internacional, o campo elétrico é medido em Newton por Coulomb ( /N C ). 2.2 Campo elétrico produzido por uma carga pontual Considere uma partícula de prova 0q localizada a uma distância r de uma partícula de carga q (Figuras 2.1(a) e 2.1(b)). De acordo com a lei de Coulomb, a força exercida na partícula de prova pela carga q é: 0 2 ˆ.e q qF k r r ⋅= ⋅ Conforme visto nas Figuras 1.5 (a) e (b) do capítulo anterior, se a carga q for positiva, a força sobre 0q apontará radialmente para fora a partir dela; se a carga q for negativa, a força sobre 0q apontará radialmente em direção a carga q . O campo elétrico criado por q no ponto onde a carga de prova é co- locada é: 2 0 ˆ.eF qE E k r q r = ⇒ = ⋅ Devido à definição do campo elétrico, se a carga q for positiva, o campo elétrico será também radial e apontará para fora a partir da carga. Se a carga q for negativa, o campo apontará em direção à car- ga (Figuras 2.1 (a) e (b)). q E q0 P r^ r (a) q q0 P r^ E (b) Figura 2.1: A direção e o sentido do campo elétrico produzido por uma carga q (a) positiva e (b) negativa a uma distância r da carga. Se traçarmos uma circunferência centrada na carga, o campo elétrico assumirá a direção do raio dessa circunferência; por esse motivo o denominamos radial 31O Campo Elétrico Para calcularmos o campo elétrico em um ponto devido a uma dis- tribuição de cargas pontuais num ponto qualquer, primeiramente cal- culamos o campo elétrico produzido individualmente por cada carga nesse ponto e, então, realizamos a soma vetorial (princípio da super- posição). 1 2 3 ...E E E E= + + + Exemplo 1: A Figura 2.2 mostra uma carga 1q de 1,5 Cµ e uma carga 2q de 2,3 Cµ . A primeira carga está na origem do eixo x e a segunda na posição x L= , onde 13L cm= . Em que ponto P ao longo do eixo x o campo elétrico é zero? x L q1 E1 E2P q2 Figura 2.2: Exemplo 1 Resolução: Conforme discutido no capítulo anterior, o campo elétri- co resultantenão pode ser nulo à esquerda de 1q nem à direita de 2q , pois nessas regiões os campos produzidos pelas cargas terão a mes- ma direção e o mesmo sentido. Desse modo, o campo será nulo em uma posição x à direita de 1q e à esquerda de 2q . Podemos escrever: 1 2 1 2 1 2 2 20 ( ) q qE E E E k k x x L + = ⇒ = ∴ = − . A constante k pode ser cancelada, pois aparece nos dois termos da equação. Assim: 6 6 2 2 2 2 2 2 2 2 2 1,5 10 C 2,3 10 C 1,5 (x 13) 2,3 x 1,5 (x 26 x 169) 2,3 x . x (x 13cm) 1,5 x 39 x 253,5 2,3 x 0,8 x 39 x 253,5 0 − −× ×= ∴ ⋅ − = ⋅ ∴ ⋅ − ⋅ + = ⋅ − ⋅ − ⋅ + = ⋅ ∴ ⋅ + ⋅ − = Resolvendo a equação de segundo grau acima, encontramos duas raí- zes: uma positiva 5,8x cm= e outra negativa, que será descartada. Faça uma análise e tente explicar o porquê do descarte da solução negativa. 32 Exemplo 2: Um dipolo elétrico é constituído por uma carga pontual q e por uma carga pontual q− separadas por uma distância 2a , como pode ser visto na Figura 2.3. Esse é um sistema importante, pois áto- mos e moléculas neutras comportam-se como um dipolo ao serem colocadas em um campo elétrico externo. Moléculas formadas atra- vés de ligações iônicas, como a molécula de cloreto de sódio ( NaCl ), formam dipolos permanentes. Encontre o módulo do campo elétrico resultante devido ao dipo-a) lo no ponto P da figura. Encontre o módulo do campo elétrico resultante considerando b) o ponto P muito distante do centro do dipolo (a uma distância y a>> ). Resolução: Na Figura 2.3 podemos ver um esquema representando o dipolo elétrico. Nesse esquema pode-se ver também os campos pro- duzidos pelas cargas q (campo 1E ) e q− (campo 2E ). P E1 E2 E y q aa q- y r x θ θ θ θ Figura 2.3: Dipolo elétrico do exemplo 3. O campo produzido pelas cargas têm módulo:1) 1 2 2 2 2 q qE E k k r y a = = = + . Ao decompor os campos, os componentes ao longo do eixo y 33O Campo Elétrico se anulam. Assim, o campo resultante no ponto P é: 1 2 2 2 2 2 2 2 1/2 2 2 3/22 cos 2 2 .( ) ( )x x q q a q aE E E k k k y a y a y a y a ⋅= + = ⋅ θ = ⋅ ⋅ = ⋅ + + + + Para pontos onde 2) y a>> , podemos escrever 2 2 2y a y+ ≈ . As- sim: 3 32 2 q a pE k k y y ⋅= ⋅ = ⋅ . Na expressão acima, o produto p q a= ⋅ é o módulo do vetor momento de dipolo. Esse vetor aponta da carga positiva para a carga negativa. Podemos ainda perceber que ao longo do eixo y o campo de um dipolo varia com 3 1 r , enquanto o campo da carga punti- forme varia com 2 1 r . Isso acontece porque nesses pontos os campos elétricos produzidos pelas cargas do dipolo quase se anulam. 2.3 Campo elétrico devido a distribuições contínuas de cargas Para se calcular o campo elétrico de uma distribuição contínua de cargas, utiliza-se o seguinte procedimento: Dividimos a distribuição de cargas em elementos pequenos, • cada um com uma pequena carga dq ; Calcula-se o campo elétrico devido a cada elemento (conside-• rando esse elemento como uma carga pontual); Calcula-se o campo resultante mediante a soma vetorial dos • campos produzidos pelos elementos. Exemplo 3: Um anel de raio a tem carga positiva uniforme, por uni- dade de comprimento, com uma carga total Q . Calcule o campo elé- trico em um ponto P no eixo do anel a uma distância x do seu centro (Figura 2.4 a). 34 1 dE² 2 dE¹ (b) dq dEx dE (a) P dE┴ x a r θ θ Figura 2.4 Calculo da Distribuição de Cargas em um anel. Resolução: Conforme discutido acima, um elemento de carga dq produz no ponto P um campo elétrico dE , de módulo: 2 2 2 dq dqdE k k r x a = ⋅ = ⋅ + . Na Figura 2.4 (a), podemos observar que esse campo tem dois com- ponentes. O primeiro paralelo ao eixo . O segundo perpendicular: . Por simetria (Figura 2.4 (b)), o com- ponente perpendicular de qualquer elemento é cancelado em virtude do componente perpendicular do elemento de carga oposto. Desse modo, o módulo do campo resultante no ponto P é: 2 2 2 2 2 2 1/2cos ( )x dq dq xE dE k k x a x a x a = = = ⋅ + + +∑ ∑ ∑ . Tirando as constantes do somatório: 2 2 3/2( ) xE k dq x a = ⋅ ⋅ + ∑ . Nessa situação, ao somar os elementos de carga dq , encontramos a carga total Q do anel. Observação: Em uma distribuição contínua de cargas, como o pre- sente caso, o somatório geralmente é feito através de técnicas de in- tegração. A soma acima poderia ser feita desta maneira: 35O Campo Elétrico Definindo a densidade linear de cargas λ como a razão entre a carga e o comprimento da distribuição l : Q l λ = . Dessa maneira, o elemento de carga dq pode ser escrito da forma: dq dl= λ ⋅ , onde dl é um comprimento de um arco infinitesimal de raio a e ân- gulo d : dl a d= ⋅ . O comprimento da circunferência é encontrado através do somatório dos elementos de arco de 0 a 2π . 2 2 2 3/2 0 2 2 2 3/2 0 2 2 2 3/2 0 2 2 3/2 ( ) ( ) ( ) 2 ( ) xk dl x a xk ad x a xk a x a x ak x a + + + = + ∫ ∫ , onde: 2Q a= λ π . E finalmente temos: 2 2 3/2( ) Q xE k x a ⋅= ⋅ + . De acordo com esse resultado, podemos concluir que: No centro do anel 1) . Se o ponto 2) P estiver muito longe do centro do anel ( x a>> ): 2 2 3/2 3 2( ) Qx a x E k x + → ⇒ = (campo produzido pela carga puntiforme) . Você consegue explicar esse resultado? 36 Exemplo 4: Um disco circular de raio a está carregado com uma carga Q uniformemente distribuída ao longo de sua superfície. Qual é o campo num ponto do eixo vertical que atravessa o disco em seu centro, a uma distância D do centro (Figura 2.5)? D P dEE dρ ρ O a ρ O a Figura 2.5: Disco uniformemente carregado. Resolução: Olhando a figura, podemos pensar no disco como forma- do por anéis de largura infinitesimal d e raio , variando de 0 a a . Cada anel tem uma carga dq , uniformemente distribuída em sua superfície. Nesse tipo de situação, é conveniente definir a densidade superficial de carga σ (carga/área da superfície): 2dq dq dA d dA = ∴ = ⋅ = ⋅ ⋅ ⋅ ⋅ . Do exemplo anterior, concluímos que o módulo do campo elétrico produzido pelo anel a uma distância D de seu centro ( dE ) é: 2 2 3/2 2 2 3/2 2 ( ) ( ) dq D d DdE k k D D ⋅ σ ⋅ ⋅π ⋅ρ ⋅ ρ ⋅= = +ρ +ρ . Como todas as contribuições têm a mesma direção, o campo elétrico resultante é obtido através do somatório dos campos produzidos pe- los anéis (raios variando de 0 a a ): 37O Campo Elétrico 2 2 3/ 2 2 2 3/ 2 2 2 1/ 20 0 0 2 2 2 ( ) ( ) ( ) a a ad D dE k k D k D D D D ⋅ ⋅ ⋅ ⋅ ⋅ ⋅ ⋅= = ⋅ ⋅ ⋅ ⋅ = ⋅ ⋅ ⋅ ⋅ + + + ∫ ∫ Lembrando que: 0 1 4 k = ⋅π⋅ε . Podemos escrever: 2 2 1/2 0 1 2 ( ) DE D a σ= − ⋅ε + . Se considerarmos um ponto muito próximo do disco ( a →∞ ): 0 2 E σ= ⋅ε (campo elétrico produzido por um plano infinito uniformemente carregado) Observações: Se a carga sobre o plano infinito for positiva, o campo elétrico • para pontos acima da superfície tem direção vertical, sentido para cima. Ao passarmos para a parte de baixo, o campo elétri- co sofre uma descontinuidade, passando a apontar para baixo. • No exemplo anterior, definimos a densidade superficial de carga (σ ). Podemos ainda definir a densidade volumétrica de carga (carga/volume) e a densidade linear de carga λ (carga/compri- mento). Exemplo 5: Calcule o campo elétrico produzido por uma distribui- ção linear de cargas λ , de comprimento l , no ponto P localizado, perpendicularmente acimada distância média da distribuição. Veja Figura 2.6. 38 dEy dEx dE 0 y P x dx dq = λ.dx r = √ x² + y² θ ℓ 2 — ℓ 2 — θ Figura 2.6: Exemplo 5. Resolução: Cada elemento de carga à esquerda e à direita tem seu análogo e contribui de forma igual no ponto P . Portanto, as compo- nentes xdE se cancelam. Logo: 2cos ,y dqdE dE dE k r = = . Assim: 2 2cos cosy dq dxdE k k r r = = /2 2/2 cos l y l dxE k r − = ∫ ou /2 20 2 cos l y dxE k r = ∫ , se observarmos, essa integral possui três variáveis x , r e . Deve- mos colocar tudo como função de uma variável só: ou x , ou . /2 2 20 2 cos ( ) l y dxE k y x = +∫ . (2.1) Da figura: 2 2 cos y y x = + . 39O Campo Elétrico Logo: /2 2 2 3/20 2 ( ) l y ydxE k y x = +∫ . Podemos utilizar uma tabela de integrais para resolvê-la ou tentar simplificá-la, como: 2 2 sen x y x = + e 2 2tg . tg sec secx dxx y y dx d y d = ⇒ = ⇒ = ⇒ = . Também de cos : 2 2 2 2 2 2( ) seccos yy x y + = = . Logo, em (2.1): 2 2 2 sec2 cos secy y dE k y = ∫ . Resta: 2 cosy kE d y = ∫ . Observe que excluímos os limites, pois trocamos as variáveis. Assim: para 0 0l = ⇒ = ° ; para 12 ll = ⇒ = . 40 0 y P 1θ ℓ 2 — ℓ 2 — √ y² + ²ℓ 2 —( ) Figura 2.7: Exemplo 5 Logo: 1 0 2 cosy kE d y = ∫ 12 seny kE y = 1 1 2 2 2 2sen , sen 2 y l kE y ly = = + . Logo: 1 2 2 2 2 1 , 2 1 [4 ] 2 y k lE Q l y y l = = + . Finalizando: 1 2 2 2 2 [4 ] y kQE y y l = + . 41O Campo Elétrico Exemplo 6: Para o mesmo enunciado do Exemplo 5, calcule agora o campo elétrico no ponto P da Figura 2.8: dEy dEx dE y P x dq = λ.dx r = √ x² + y² ; r² = x² + y² θ θ ℓ dx Figura 2.8: Exemplo 6 Resolução: Note que no presente caso teremos que calcular também a componente xdE . A componente ydE possui a mesma expressão sem o fator 2: 1 1 2 2 sen , seny k lE y y l = = + . Logo: 2 2 ,y k lE Q l y y l = = + . A componente xdE : 2 2 20 2 2 3/20 sen , sen ( ) l x l x dx xE k r y x xdxE k x y = = + = + ∫ ∫ . A presente integral pode ser diretamente resolvida, ou simplificada, como no problema anterior. Podemos resolver diretamente pela subs- tituição direta: 42 2 2 2u x y du xdx= + ⇒ = . Logo: 3 2 3/20 1 2 1 2 2 2 0 1 1 2 2 2 22 2 1 2 2 2 1 2 2 1 1 12 ( )2 1 1 1 1 ( ) ( ) 1 1 ( ) l x l x x x k du kE u du u kE u k x y E k k y yl y l y E k y l y − − = = ⇒ ⇒ = = − ⇒ − + ⇒ = − − = − ⇒ + + ⇒ = − + ∫ ∫ . Ou simplificando, como no exemplo anterior: y P r = √ ℓ² + y² θ1 ℓ Figura 2.9: Exemplo 6 1 2 2 2 sec sen secx y dE k y = ∫ 1 senx kE d y = ∫ 0 ( cos ) 1x kE y − 43O Campo Elétrico 1 1 2 2 ( cos 1), cosx k yE y l y = − + = + 2 2 1 x k yE y yl y = − + + 1 2 2 2 1 1 ( ) xE k y l y = − + . 2.4 Linhas de campo elétrico Muitas vezes é conveniente visualizar o comportamento do campo elétrico através das linhas de campo (ou de força). É importante res- saltar a relação entre as linhas de campo e o vetor campo elétrico em uma determinada região: O vetor campo elétrico em uma região do espaço é tangente às • linhas de campo nessa região; O número de linhas de campo em uma região é proporcional ao • módulo do vetor campo elétrico nessa região. Essas propriedades podem ser vistas na Figura 2.10. A densidade de linhas ao longo da superfície A é maior do que ao longo da super- fície B . Portanto, podemos concluir que o campo elétrico ao longo da superfície A tem módulo maior que o campo elétrico ao longo da superfície B . A B Figura 2.10: Linhas de campo através de duas superfícies A e B 44 Para cargas pontuais, podemos observar que em qualquer ponto pró- ximo a uma carga positiva, uma carga de prova será repelida e, como conseqüência, as linhas de campo divergem da carga positiva. Do mes- mo modo, em qualquer ponto próximo a uma carga negativa, uma carga de prova será atraída, e por esse motivo as linhas de campo convergem para uma carga negativa. Na Figura 2.11 podemos observar as linhas de campo produzidas por cargas puntiformes. (b) (c)(a) -qq Figura 2.11: Linhas de campo produzidas por cargas (a) positiva e (b) negativa. (c) Pequenos filamentos de fibra suspensos em óleo se alinham com o campo elétrico. Para um sistema de cargas pontuais, como mostradas nas Figuras 2.12 e 2.13, as linhas de campo saem das cargas positivas e chegam às cargas negativas. É importantíssimo ainda observar que duas ou mais linhas de campo não se cruzam em um ponto do espaço. (a) (b) Figura 2.12: (a) Linhas de campo em um dipolo elétrico. (b) Filamentos de fibra sus- pensos em óleo alinhados com o campo elétrico produzido por um dipolo elétrico. 45O Campo Elétrico (a) (b) Figura 2.13: (a) Linhas de campo produzidas por um par de cargas de mesmo sinal. (b) Filamentos de fibra suspensos em óleo alinhados com o campo produzido pelas cargas. 2.5 Movimento de partículas carregadas em um campo elétrico uniforme Um campo elétrico em uma região será uniforme quando seu módu- lo, direção e sentido continuarem os mesmos em todos os pontos da região. Quando uma partícula de carga q e massa m é colocada em um campo elétrico uniforme, a força elétrica sobre a carga é dada pela equação F q E= ⋅ . Se essa força for a resultante, a aceleração da partícula será: e q ER F m a q E a m ⋅= ∴ ⋅ = ⋅ ∴ = . Essa aceleração é constante, portanto a partícula estará em movimen- to retilíneo uniformemente variado. Se a partícula tiver carga positiva, a força elétrica sobre a carga terá o sentido do campo; se a carga for negativa, a força terá sentido contrário ao campo (Figura 2.14). 46 FE FE E Figura 2.14: Cargas aceleradas em um campo elétrico uniforme. Exemplo 7: Um elétron entra em uma região onde existe um campo elétrico uniforme de módulo 200 /E N C= . Encontre o módulo da aceleração do elétron enquanto ele estiver no campo elétrico. A mas- sa do elétron é igual a 319,11 10 kg−× . Resolução: Conforme discutido acima, a aceleração do elétron é: 19 13 2 31 1,6 10 200 / 3,51 10 / 9,11 10 q E C N Ca m s m kg − − ⋅ × ⋅= = = × × . 2.6 Dipolo elétrico em um campo uniforme Conforme discutido anteriormente, no Exemplo 2, embora os átomos e moléculas sejam eletricamente neutros, ambos são afetados por campos elétricos. Em algumas moléculas, denominadas polares, os centros de cargas positivas e negativas não coincidem. Essas molécu- las possuem um momento de dipolo permanente. Quando uma dessas moléculas é colocada em uma região onde existe um campo elétrico uniforme, como na Figura 2.15, não há uma força resultante sobre ela, mas um torque, que faz a molécula girar em torno de seu centro. Num campo elétrico não uniforme (Figura 2.16), a molécula sofre a ação de uma força resultante, em virtude da diferença do campo nas posições ocupadas pelos centros de cargas. Como exemplo de moléculapolar podemos citar a água. 47O Campo Elétrico L E F1 F2 q q+ - θ Figura 2.15: Forças que atuam sobre os centros de cargas positiva e negativa em um dipolo elétrico imerso em um campo elétrico uniforme. E F2 q q+ - F1 Figura 2.16: Forças que atuam sobre os centros de cargas positiva e negativa em um dipolo elétrico imerso em um campo elétrico não uniforme. Na Figura 2.15 temos um dipolo imerso em um campo elétrico unifor- me. O vetor momento de dipolo ( )p forma um ângulo com o campo elétrico. As forças que atuam sobre as cargas que formam o dipolo são: 1F q E= ⋅ e 2F q E= − ⋅ . Como o campo é uniforme, as forças têm mesmo módulo, porém sentidos opostos, e desse modo a força resultante sobre o dipolo é nula. Entretanto, as forças atuam em ex- tremidades diferentes, ocasionando um torque responsável pelo giro do dipolo no sentido do alinhamento entre o momento de dipolo e o campo elétrico. Assim: 48 1 2 1 22 2 L LF sen F sen q E L sen p E sen = + = ⋅ ⋅ + ⋅ ⋅ = ⋅ ⋅ ⋅ = ⋅ ⋅ Onde p q L= ⋅ é o vetor momento de dipolo. Convenientemente, po- demos escrever o torque como o produto vetorial do momento de di- polo pelo campo elétrico p Eτ = × . Resumo De maneira semelhante ao campo gravitacional, pode-se definir o campo elétrico produzido por uma carga q como: 0 eFE q = , onde 0q é uma carga de prova colocada a uma distância r da carga pontual q . Desse modo, esse campo elétrico pode ser reescrito como: 2 ˆ qE k r r = . Na equação acima, rˆ é o vetor unitário que possui a direção da reta que une a carga ao ponto onde se deseja determinar o campo. Como conseqüência da definição de campo elétrico, observa-se que ele diverge para uma carga positiva e converge para uma carga negativa. Para se determinar o campo elétrico produzido por uma distribuição de cargas pontuais, deve-se calcular o campo de carga isoladamente e depois somar esses campos (princípio da superposição): 1 2 3 ...E E E E= + + + Um procedimento semelhante deve ser utilizado para calcular o cam- po elétrico devido a uma distribuição contínua de carga. Em primeiro lugar, divide-se essa distribuição em elementos de carga dq . Depois, 49O Campo Elétrico calcula-se o campo devido a cada elemento. Finalmente, somam-se (utilizando o princípio da superposição) os campos desses elementos (geralmente esse somatório é transformado em uma integral). Quando uma carga elétrica é abandonada em uma região onde existe um campo elétrico uniforme, ela é acelerada no sentido do campo se for positiva, ou em sentido contrário ao campo se for negativa. Se a atração gravitacional e as forças de resistência forem desprezadas, esse movimento será uniformemente variado. Foi discutido o comportamento de um dipolo elétrico (sistema forma- do por duas cargas de mesmo módulo e sinais contrários separadas por uma distância d ) em um campo elétrico. O campo elétrico produ- zido por um dipolo a uma distância r de seu centro tem módulo: 3 2kpE r = , onde p q d= ⋅ é o módulo do vetor momento de dipolo. Esse vetor tem direção sobre a reta que une as duas cargas do dipolo e aponta da carga positiva para a negativa. Quando esse dipolo estiver em uma região onde existe um campo elétrico uniforme, o dipolo tende a se alinhar com o campo, ou seja, sofre um torque dado por: p Eτ = × . Exercícios 1) Uma carga de 4,0 Cµ está na origem. Qual é o módulo do campo elétrico sobre o eixo x em (a) 6x m= e (b) 10x m= ? (Respostas: (a) 1000 /N C e (b) 360 /N C .) 2) A carga 1 6,0q nC= está sobre o eixo dos y em 3y cm= + , e a carga 2 6,0q nC= − está sobre o eixo dos y em 3y cm= − . Qual é o módulo e a direção do campo elétrico sobre o eixo dos a) x em 4x cm= ? 50 Qual é a força exercida sobre uma carga puntiforme de b) 2 nC colocada sobre o eixo dos x em 4x cm= ? (Respostas: (a) ˆ25900 /j N C− e (b) ˆ51800 /j N C− .) ( 91 1 10n nano −= = ) 3) A haste de comprimento , da Figura 2.12, tem uma densidade linear de carga uniforme λ e uma carga total Q . Calcule o campo elétrico em um ponto P ao longo do eixo da haste, à distância a de uma das extremidades. (Resposta: QE k a ( a) = ⋅ + ). y P a dx dq = λdx x x ℓ Figura 2.17: Exercício 3 4) Ao se calcular a aceleração de um elétron ou de outras partículas carregadas, a razão entre a carga e a massa (carga específica) da par- tícula é importante. Calcule a) e m no caso de um elétron. Qual é o módulo e a direção da aceleração de um elétron num b) campo elétrico uniforme de módulo 100 /N C ? A mecânica não-relativística só pode ser usada se a velocidade c) escalar do elétron for significativamente menor que a velocida- de da luz c . Calcule o tempo necessário para que um elétron, partindo do repouso, num campo elétrico de módulo 100 /N C , atinja a velocidade de 0,01c . Qual a distância percorrida pelo elétron no intervalo de tempo d) calculado? 51O Campo Elétrico (Respostas: (a) 111,76 10 /C kg× , (b) 16 21,76 10 /m s× na mes- ma direção e em sentido contrário ao campo, (c) 0,17us e (d) 25,6 cm ). 5) Um dipolo, com momento 0,5e nm , está colocado num campo elétrico uniforme de intensidade 44 10 /N C× . Qual é o valor do tor- que sobre o dipolo quando o dipolo está paralelo ao campo elétrico, a) o dipolo está perpendicular ao campo elétrico e b) o dipolo faz um ângulo de c) 30° com o campo elétrico? 6) Quatro cargas elétricas de módulos iguais estão dispostas nos vértices de um quadrado de lado L , conforme mostra a figura 2.13. Mostre que o campo elétrico no ponto médio de um lado do quadrado está na direção do lado, apontando para a carga negativa, e tem mó- dulo E dado por: 2 8 51 25 qE k L = − . - q - q + q + q Figura2.18: Exercício 6. 52 Bibliografia comentada ALONSO, M.; FINN, E. J. Física um Curso Universitário. Vol. 2. São Pau- lo: Edgard Blücher. Nos capítulos 14 e 16 desse livro, os autores discutem a interação elétrica e a lei de Gauss, apresentando uma grande variedade de exercícios. NUSSENZVEIG, H. M. Curso de Física Básica. Vol. 3. São Paulo: Edgard Blücher, 1997. No terceiro capítulo dessa obra, o autor discute o vetor campo elétrico e a lei de Gauss, apresentando diversos exercícios. SERWAY, R. A.; JEWETT Jr., J. W. Princípios da Física. Vol. 3. São Paulo: Pioneira Thomson Learning, 2004. Nessa obra, os autores propõem exercícios interessantes sobre campo elétrico e a lei de Gauss. Lei de Gauss3 55Lei de Gauss 3 Lei de Gauss 55 No capítulo anterior, ao calcular campos elétricos produ- zidos por distribuições contínuas de cargas, você deve ter percebido que em diversas situações esse tipo de cálculo não é simples de ser executado. Nas situações que envolvem um alto grau de simetria (sis- temas esféricos, cilíndricos e planos), podemos fazer o cálculo do campo elétrico utilizando a lei de Gauss. Esse tipo de cálculo envolve a determinação do fluxo elétrico através de uma superfície. No início deste capítulo definiremos fluxo elétrico e enun- ciaremos a lei de Gauss. Em seguida, aplicaremos a lei de Gauss a distribuições contínuas de cargas, resolven- do problemas que envolvam alto grau de simetria. Final- mente, discutiremos o comportamento de condutores em equilíbrio eletrostático. 3.1 Fluxo Ao injetarmos tinta em um fluido em movimento, podemos observar as linhas de escoamento do líquido (Figura 3.1). Um efeito semelhante pode ser obtido com a fumaça no interior de um tubo de vento (Figura 3.2). Essas linhas de corrente são os caminhos traçados por pequenos ele-mentos de fluido, e apresentam as seguintes propriedades: O vetor velocidade é sempre tangente a uma linha de corrente;• Duas linhas de corrente jamais se cruzam.• Figura 3.1: Linhas de escoa- mento de um fluido em tor- no de um cilindro reveladas por tinta colorida. Figura 3.2: Linhas de escoamento reveladas por fumaça no interior de um tubo de vento. 56 Perceba a similaridade entre as linhas de corrente e as linhas de cam- po discutidas no capítulo anterior. Na Figura 3.3 podemos observar duas seções transversais de áreas 1A e 2A , por onde passam linhas de corrente. Durante um pequeno intervalo de tempo passará uma quantidade de fluido na superfície de área 1A . Se o fluido em questão for incompressível, a mesma quanti- dade de fluido passará pela superfície de área 2A . Desse modo, o fluxo ou vazão do fluido pode ser definido como o volume de fluido que escoa através de uma superfície de área A por unidade de tempo, portanto: A vΦ = ⋅ , onde A é a área da superfície e v é a velocidade do fluido ao passar pela superfície. B C A1 A2 Figura 3.3 Linhas de corrente através de duas superfícies de áreas 1A e 2A . 3.2 Fluxo elétrico Na Figura 3.4 podemos ver uma superfície de área A colocada per- pendicularmente a um campo elétrico uniforme. Analogamente à hi- drodinâmica, podemos definir o fluxo elétrico através da superfície de área A como: E AΦ = ⋅ , que, no Sistema Internacional, é medido em 2 /Nm C . 57Lei de Gauss E Área = A Figura 3.4: Linhas de campo uniforme penetrando em uma superfície de área A colocada perpendicularmente ao campo. Se a superfície não estiver colocada perpendicularmente ao campo, como na Figura 3.5, o número de linhas que cruzam essa superfície é o mesmo que cruza uma área projetada 'A . A partir da figura per- cebemos que as áreas estão relacionadas pela equação 'A A cos= ⋅ θ . Como o fluxo através da área A é o mesmo através da área 'A , pois o número de linhas de campo que cruzam a superfície é o mesmo, temos: 'E A E A cosΦ = ⋅ = ⋅ ⋅ θ . θ θ E A' = A cos θ A Normal Figura 3.5: Linhas de campo para um campo elétrico uniforme através de uma área A que faz um ângulo θ em relação ao campo. Da Figuras 3.4 e 3.5 concluímos que o fluxo será máximo quando a superfície for perpendicular ao campo, ou seja, quando a reta normal à superfície for paralela ao campo ( 0θ = ° ). 58 Em situações mais gerais, o vetor campo elétrico pode variar ao longo da superfície. Nesse caso, para calcularmos o fluxo através da super- fície, devemos dividir a superfície em diversos elementos (um deles pode ser visto na Figura 3.6), calcular o fluxo em cada um e somar os fluxos através das superfícies infinitesimais. Ao dividir a superfície da Figura 3.6 em um grande número de pequenos elementos de superfí- cie de área A∆ , o fluxo através de cada superfície é: i i i i i iE A cos E A∆Φ = ⋅∆ ⋅ θ = ⋅∆ , onde iA∆ é um vetor cujo módulo representa a área do elemento de superfície e a direção é perpendicular à superfície. Somando o fluxo em todos os elementos, encontramos o fluxo através da superfície. 0i i iA i lim E A E dA ∆ → Φ = ⋅∆ = ⋅∑ ∫ . ∆Ai θi Ei Figura 3.6: Campo elétrico faz um ângulo iθ com a normal à superfície de área iA∆ . Finalmente, quando a superfície for uma superfície fechada, como a da figura 3.7, o fluxo através da superfície fechada pode ser calculado através da expressão: , se // 0º nE dA E dA E dA cos E dA→ ⋅ = ⋅ = , onde nE é a componente de E normal à superfície e o símbolo re- presenta uma integral sobre uma superfície fechada. Em se tratando de uma distribuição contínua, o somatório é escrito na forma de uma integral. 59Lei de Gauss 3 1 3 2 1 E EE∆Ai ∆Ai ∆Ai θiθi 2 Figura 3.7: Uma superfície fechada em um campo elétrico. Os vetores iA∆ são normais à superfície e apontam para fora. Esse fluxo pode ser positivo (1), zero (2) ou negativo (3). 3.3 Lei de Gauss Agora vamos encontrar a relação entre o fluxo elétrico através de uma superfície fechada e a carga no interior da superfície. Essa relação é conhecida como lei de Gauss, e é bastante utilizada no cálculo do campo elétrico de distribuições contínuas de carga. Na Figura 3.8 (a) podemos ver as linhas de campo através de duas superfícies, uma arbitrária e outra esférica, que englobam a carga. Como o número de linhas de campo que saem das duas superfícies é a mesma, o fluxo elétrico é o mesmo para as duas superfícies. Desse modo, é mais simples calcular o fluxo elétrico através da esfera de raio R , devido às condições de simetria da esfera. A esfera é mais simétri- ca que uma superfície arbitrária. 60 Q (a) (b) + Q R ++ Q RR dA E dAE // Figura 3.8: (a) O número de linhas de campo que passam através das duas superfí- cies é o mesmo, portanto o fluxo elétrico através das superfícies é igual. (b) Desse modo, o fluxo elétrico pode ser facilmente calculado utilizando a superfície esférica. O módulo do campo elétrico da carga Q que se encontra no centro da superfície gaussiana na figura 3.8(b) é: 2n QE k R = . O fluxo resultante através da superfície é: . O componente do campo elétrico na direção do vetor normal ao ele- mento de área dA pode ser retirado do somatório (da integral), pois tem módulo constante ao longo da superfície de raio R . A integral de dA ao longo da superfície corresponde à área da superfície, que para uma esfera de raio R , vale 24 R . O fluxo elétrico através da superfí- cie será, então: 2 2 4 4 Qk R kQ R Φ = π = π . Lembrando que: 0 1 4 k = πε . 61Lei de Gauss A expressão para o fluxo pode ser reescrita da forma: 0 QΦ = ε . É importante lembrar que esse fluxo é independente da forma da superfície. Nesse caso, a escolha de uma superfície esférica ape- nas simplificou o cálculo. Assim, o fluxo é facilmente calculado em situações com um elevado grau de simetria. Esse resultado pode ser estendido a uma distribuição de carga qualquer, como a distribuição da Figura 3.9. Nessa situação, a carga que aparece na expressão para o fluxo é a carga líquida (ou total) no interior da superfície. q1 q2q1 q2 q3 S Figura 3.9: O fluxo elétrico através da superfície S depende apenas da carga líquida ( 1 2q q+ ) no interior da superfície. Portanto: “O fluxo elétrico através de uma superfície fechada é pro- porcional à carga líquida (total) no interior da superfície.” O enunciado acima é conhecido como lei de Gauss, que pode ser es- crita formalmente como: . Exemplo 1: Na Figura 3.10 estão representadas três superfícies: S , 'S e ''S , que envolvem três cargas 1q , 2q e 3q . Determine o fluxo elétrico em cada superfície. 62 q1 q3 q2 S S'' S' Figura 3.10: Exemplo 1. Resolução: A superfície S engloba a carga 1q , e desse modo, o fluxo elétrico através dessa superfície será: 1 0 qΦ = ε . A superfície 'S engloba as cargas 2q e 3q , e portanto, o fluxo através dessa superfície será: 2 3 0 0 ' totalq q q+Φ = = ε ε . No interior da superfície ''S não há carga, assim: '' 0Φ = . Exemplo 2: Um campo elétrico vale ˆE (200 N / C)i= na região em que 0x > , e ˆE ( 200 N / C) i= − na região em que 0x < . Uma superfí- cie cilíndrica imaginária com comprimento de 20cm e raio 5R cm= tem seu centro geométrico na origem e seu eixo, coincidente com o eixo x , de modo que uma de suas extremidades está em 10x cm= + e a outra em 10x cm= − (Figura 3.11). (a) Qual é o valor do fluxo elétrico que atravessa toda a superfície fechada definida pelo cilindro? (b) Qual é a carga resultante no interior da superfície fechada?63Lei de Gauss z n^ E y x n^ n^ E A A E Figura 3.11: Exemplo 2. Resolução: (a) Para resolver esse item, devemos calcular o fluxo no corpo e nas extremidades do cilindro. Com o objetivo de facilitar esse cálculo, vamos definir um vetor unitário ( nˆ ) normal à superfície. Des- sa forma, o vetor A pode ser escrito como ˆA n⋅ . O fluxo no corpo do cilindro é: ˆ 90 0ocorpo E A E nA E A cosΦ = ⋅ = ⋅ = ⋅ ⋅ = . Na extremidade direita o fluxo é: 2 2ˆ 0 200 (0,05 ) 1,57odireita N NmE A E nA E A cos m C C Φ = ⋅ = ⋅ = ⋅ ⋅ = ⋅π ⋅ = . Na extremidade esquerda o fluxo é: 2 2ˆ 0 200 (0,05 ) 1,57oesquerda N NmE A E nA E A cos m C C Φ = ⋅ = ⋅ = ⋅ ⋅ = ⋅π ⋅ = . O fluxo elétrico através da superfície é igual a: 2 3,14corpo direita esquerda Nm C Φ = Φ +Φ +Φ = . (b) Usando a lei de Gauss, podemos escrever: 2 2 12 11 0 2 0 8,85 10 3,14 2,78 10q C Nmq C CNm − −Φ = ⇒ = ε ⋅Φ = × ⋅ = × ε . 64 3.4 Aplicações da lei de Gauss a distribuições simétricas de carga A lei de Gauss pode ser utilizada para calcular o campo elétrico atra- vés de qualquer superfície. Entretanto, conforme comentamos na se- ção anterior, o fluxo pode ser facilmente calculado em superfícies com um elevado grau de simetria. Por elevado grau de simetria podemos entender as simetrias esférica, plana e cilíndrica. Nessa seção vamos aplicar a lei de Gauss para o cálculo do campo elétrico em algumas distribuições de carga. Para efetuarmos esse cál- culo, devemos primeiramente escolher uma superfície que englobará a distribuição. Essa superfície deve ser escolhida de forma a aprovei- tar a simetria da distribuição. Quando isto é observado, o vetor cam- po elétrico tem módulo constante ao longo da superfície e a direção do vetor unitário normal ( nˆ ) à superfície. Portanto, o produto escalar entre o campo elétrico e o vetor normal será igual ao módulo do cam- po, que poderá sair da integral. E a resolução da integral será igual à área da superfície gaussiana. Exemplo 3: Campo elétrico devido a uma carga pontual - Usando a lei de Gauss, determine o campo elétrico devido a uma carga pontual q isolada. Resolução: Conforme discutido anteriormente, devemos escolher uma superfície gaussiana com um elevado grau de simetria. Aqui es- colheremos uma superfície esférica de raio r , centrada na carga (Fi- gura 3.12). Superfície gaussiana E r q + r qq + dA Figura 3.12: A superfície gaussiana é uma esfera de raio r centrada na carga. O fluxo elétrico através da superfície é: chamada superfície gaussiana 65Lei de Gauss , pois // 0ºE dA E dA E dA cos→ ⋅ = ⋅ . Como o campo elétrico tem módulo constante ao longo da superfí- cie: , que é o campo elétrico obtido no capítulo anterior, a partir da lei de Coulomb. Exemplo 4: Uma distribuição de carga com simetria esférica - Uma esfera sólida isolante de raio a tem uma densidade volumétrica de carga uniforme ρ e uma carga positiva total q . (a) Calcule a magni- tude do campo elétrico em um ponto fora da esfera. (b) Determine o módulo do campo elétrico em um ponto dentro da esfera. Resolução: (a) Como o problema tem simetria esférica, a superfí- cie gaussiana escolhida será uma esfera de raio r ( r a> ), de mesmo centro que a esfera sólida, como mostra a Figura 3.13a. Resolvendo o problema da mesma forma que o exemplo 3, obtemos: 2 qE k r = . Ou seja, o campo elétrico é equivalente ao de uma carga pontual. (b) A superfície gaussiana será uma esfera de raio r ( r a< ) concên- trica à esfera sólida (Figura 3.13b). O volume da superfície gaussiana é menor que o volume da esfera. Desse modo, a carga contida no inte- rior da superfície gaussiana será: 34 3 interna interna q q V r V ρ = ⇒ = ρ = ρ π . Em virtude da simetria, o campo elétrico tem módulo constante ao longo da superfície gaussiana, e a mesma direção e sentido do vetor - Área da superfície da casca esférica. 66 normal à superfície. Dessa forma: . Da expressão encontrada acima, podemos concluir que no interior da esfera o campo elétrico varia linearmente com o raio r . O gráfico do campo elétrico em função da distância r pode ser visto na figura 3.14. r a r a (a) (b) Esfera (superfície) gaussiana Esfera (superfície) gaussiana r a r Figura 3.13: Superfícies gaussianas (a) fora e (b) dentro da esfera sólida de raio a . E a a r E keQ r2= Figura 3.14: O gráfico acima mostra o comportamento do campo elétrico em fun- ção da distância r . Exemplo 5: Uma distribuição de carga com simetria cilíndrica - En- contre o campo elétrico a uma distância r de uma linha de carga positiva, de comprimento infinito, com uma densidade linear de carga λ constante (Figura 3.15). 67Lei de Gauss Resolução: Em virtude da simetria do problema, o vetor campo elé- trico é perpendicular à linha carregada e orientado para fora. A sime- tria do problema é, portanto, cilíndrica. A superfície gaussiana esco- lhida será um cilindro de raio r e altura L , coaxial à linha carregada, como mostra a Figura 3.15. + + + + + + r E dAℓ Superfície gaussiana Figura 3.15: A linha infinita carregada envolvida pela superfície gaussiana. A carga elétrica no interior da superfície gaussiana é: . O fluxo elétrico através da superfície é: . Como o módulo do campo elétrico é constante ao longo da superfície: . Nesse tipo de distribuição, o campo elétrico é inversamente propor- cional à distância r . Se a linha de carga não for infinita, a lei de Gauss não pode ser utilizada, pois o campo elétrico não será constante ao longo da superfície gaussiana. 68 Exemplo 6: Uma folha plana não condutora eletricamente carregada - Calcule o campo elétrico devido a um plano infinito não condutor, com carga positiva por unidade de área σ uniforme. Resolução: Uma superfície plana pode ser considerada infinita quan- do estivermos calculando o campo elétrico em um ponto muito próxi- mo à superfície e ao centro do plano. Em virtude da simetria, o campo elétrico deve ser perpendicular à superfície do plano, como mostra a Figura 3.16. A superfície gaussiana escolhida será um pequeno cilindro de eixo perpendicular ao plano, cujas extremidades têm área A . Na superfície lateral o produto escalar é cos 0º 0E dA E dA⋅ = ⋅ ⋅ = . Logo, só as tampas contribuem para o calculo do E total. + + + + + + + + ++ + + + + + + + + + + + + + + + + + ++ + + + + + + + E A E Cilindro gaussiano Superfície gaussiana= Figura 3.16: Direção e sentido do campo elétrico produzido por um plano infinito uniformemente carregado. A carga no interior da superfície gaussiana é dada por: interior interior q q A A σ = ⇒ = σ . O fluxo elétrico é: . Como o campo é constante ao longo das extremidades da superfície: . 69Lei de Gauss É importante lembrar que há fluxo elétrico nos dois lados da superfí- cie gaussiana. Por esse motivo, o resultado da integral é igual a 2A (devido às duas extremidades de área A ). 3.5 Cargas e campos elétricos nas superfícies condutoras Um condutor possui um número grande de cargas que podem se mo- ver livremente em seu interior. Quando esse condutor é submetido a um campo elétrico externo, essas cargas passam a se mover de acordo com a orientação do campo. Para manter essas cargas nes- se movimento ordenado, é necessário uma fonte externa de energia, conforme será discutido no Capítulo 6. Dessa forma, na ausência desse campo externo, o campo elétrico no interior do condutor é nulo. Diz-se, então, que o condutor está em equilíbrio eletrostático. Suponha um condutor de forma qualquer, em equilíbrio eletrostático,
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