Buscar

HERMENÊUTICA JURÍDICA - A construção de um conceito de objetividade

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 3, do total de 120 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 6, do total de 120 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 9, do total de 120 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Prévia do material em texto

BRUNO CAMILLOTO
Hermenêutica Jurídica
A construção de um conceito de objetividade
1a Edição
Ouro Preto - MG
2014
Hermenêutica Jurídica: A construção de um conceito de objetividade
Copyright©2014 - Bruno Camilloto
Proibida a reprodução total ou parcial deste livro, por qualquer meio ou sistema, 
sem prévio consentimento da editora, fi cando os infratores sujeitos às penalidades 
previstas em lei.
Todos os direitos desta edição são reservados à Livraria & Editora Ouro Preto.
Coordenação Editorial: Pollyanna Assis
Diagramação: Marcelo Henrique Batista
Imagem da capa: Reprodução do deus grego Hermes.
DADOS INTERNACIONAIS DE CATALOGAÇÃO NA PUBLICAÇÃO (CIP)
Camilloto, Bruno
 Hermenêutica Jurídica: A construção de um conceito de objetividade/Bruno 
Camilloto – Ouro Preto: Livraria & Editora Ouro Preto, 2014.
ISBN 978-85-68383-00-1
1. Direito 2. Hermenêutica Jurídica 3. Título 
 
CDD 340.0
Índices para Catálogo Sistemático
1. Direito
2. Hermenêutica Jurídica
3. Título
Livraria & Editora Ouro Preto
Rua: Cláudio Manoel, 15, Centro. Ouro Preto - MG
CEP: 35400-000
Telefone: 31 3551 1361
E-mail: editoraop@gmail.com
Impresso no Brasil
2014
BRUNO CAMILLOTO
Hermenêutica Jurídica
A construção de um conceito de objetividade
1a Edição
Professor de Direito da Universidade Federal de Ouro Preto
Doutorando em Teoria do Direito pela PUC-MG
Mestre em Filosofi a do Direito pela UFMG
Especialista e Graduado em Direito pela UFOP
Bolsista FAPEMIG e CAPES no curso de doutorado
Dedico este livro a 
Ludmilla S. B. Camilloto e Heitor Barros Camilloto.
DEDICATÓRIA
À Maria Imaculada Camilloto Arantes e Cícero Moreira Arantes, meus 
pais e primeiros professores, pelas lições de vida onde lecionaram valo-
res de convivência com o próximo. O reconhecimento do outro como 
alguém digno de nosso respeito é a base para o estabelecimento de uma 
ordem jurídica justa. Serei eternamente grato por alicerçarem minhas 
bases jurídicas através da ideia de justiça e pelo valor dado à educação.
À Braulio Camilloto e Júlia Furiati pela amizade e apoio.
Aos velhos amigos que, junto comigo, estão se tornando amigos velhos.
Aos novos amigos desejando que nos tornemos velhos amigos.
Ao Professor Dr. Alexandre Travessoni Gomes Trivisonno.
Aos meus ex-alunos Ramon M. da Silva, Henrique G. Neves e Vanessa 
N. Kaut.
Aos editores Paulo Lemos e Pollyana de Assis.
AGRADECIMENTOS
Dedicatória
Agradecimentos
Sumário
Prefácio
1. Apresentação
2. Direito, Interpretação e Hermenêutica
3. O problema do conhecimento
4. A teoria hermenêutica de Emilio Betti
5. A construção de um conceito de objetividade
6. As críticas e as possibilidades da objetividade no Direito
7. Bibliografia
15
21
29
45
71
95
107
SUMÁRIO
Prefácio
13
Tive a honra de orientar a Dissertação de Mestrado de Bruno Ca-
milloto, que foi defendida perante o Programa de Pós-Graduação 
em Direito da UFMG, em 2006, e que agora se publica sob o título 
Hermenêutica Jurídica: a construção de um conceito de objetivida-
de. Com alegria recebi o convite do autor para prefaciar essa impor-
tante publicação. Não seria apropriado, em um prefácio, resumir 
as ideias da obra prefaciada, pois ninguém pode melhor expor seu 
ponto de vista que o próprio autor. Assim, ao invés de realizar um 
sumário da concepção de Camilloto sobre a questão da objetividade 
no direito, prefiro fazer algumas considerações sobre o tema e sobre 
o modo como o autor o aborda.
A questão da objetividade se coloca no centro de uma das questões 
mais importantes da Teoria do Direito, a questão da aplicação do 
Direito, pois não se pode abordar como o direito é aplicado sem se 
abordar se o Direito permite qualquer interpretação ou se há limites 
que se impõem ao intérprete. 
Naturalmente, a possibilidade do controle racional da interpretação 
jurídica passa por uma análise conceitual do direito e de sua lingua-
gem: pode o signo ser interpretado livremente, sendo-lhe atribuído, 
subjetivamente, qualquer significado, ou há algo que exclui deter-
minadas interpretações? Entre dois extremos radicais, o objetivismo 
e o subjetivismo absolutos, situam-se a maioria das correntes que 
abordam a questão da objetividade: há uma relativa objetividade na 
interpretação de um texto normativo. 
Camilloto aborda essa fundamental questão da objetividade prin-
cipalmente a partir da teoria do italiano Emilio Betti, mas não se 
limita a ela. Aí se localizam já as duas primeiras virtudes do traba-
lho: a escolha do tema, a objetividade, e a escolha do autor central, 
Betti. E a escolha de Betti é importante não só em virtude de sua 
consistência teórica, mas também em virtude da existência de pou-
cos trabalhos, no Brasil, abordando sua obra.
14
Alexandre Travessoni Gomes Trivisonno
A isso se somam a competência, a clareza e a seriedade com que 
Camilloto aborda seu tema. A competência se percebe através da 
profundidade com que as questões centrais referentes à objetividade 
são abordadas. A clareza torna possível a compreensão das ideias 
do autor, e assim sua crítica. A seriedade se percebe principalmente 
pelo fato de Camilloto ter consultado a obra de Betti através da 
bibliografia original em língua italiana, sobretudo a Teoria Generale 
della Interpretazione.
É importante ressaltar que ao trazer ao público uma análise séria 
e competente sobre a objetividade, estudando várias teorias que 
dialogam sobre o tema, Camilloto não privilegia uma concepção 
em detrimento de outras, mas considera diversas abordagens. As-
sim, em Hermenêutica Jurídica: a construção de um conceito de 
objetividade, o Camilloto apresenta ao leitor uma relevante con-
tribuição científica sobre a discussão que envolve a objetividade na 
interpretação do direito.
APRESENTAÇÃO
CAPÍTULO
17
O presente livro nasceu do trabalho de dissertação de mestrado 
desenvolvido na Universidade Federal de Minas Gerais entre os 
anos de 2004 a 2006. Desde então, os argumentos centrais fo-
ram expostos e debatidos em alguns congressos e publicados na 
forma de artigos.
Da defesa da dissertação até o honroso convite da Livraria & Edito 
ra Ouro Preto para a publicação do livro transcorreram mais de oito 
anos. Não imaginávamos o que significaria a transformação daquele 
texto original. Depois da defesa e dos debates o texto ficou guarda-
do no arquivo. No meio de um processo de elaboração da tese de 
doutorado, o convite foi recebido com alegria e surpresa. O olhar do 
autor estava lançado para o futuro: a tese. A dissertação já era: passa-
do. E o convite concretizou o agora: presente. Eis o dilema: dividir 
o tempo entre a revisão do texto dissertativo e a construção da tese. 
Janela de oportunidades ou trabalho metodicamente (racionalmen-
te) planejado? Sem resposta correta, aceitamos o desafio proposto e 
abrimos o arquivo cujas ideias haviam sido construídas em outrora 
pelos mesmos dedos1.
O processo de revisão consistiu tanto na reestruturação tópica do 
texto quanto na transformação de seu conteúdo. Para dar mais con-
cisão, clareza e objetividade (que está no título e é objeto de estudo), 
procedeu-se a supressão de capítulos e parágrafos, alterou-se o lugar 
de alguns trechos, foram criados novos tópicos em razão de novas 
1ARANTES, Bruno Camilloto. A teoria hermenêutica de Emilio Betti. Fundamentos e Fron-
teiras do Direito, v. 01, n.01, p. 39-76, 2006. 
ARANTES, Bruno Camilloto; GOMES, Alexandre Travessoni. A teoria hermenêutica de 
Emílio Betti e a objetividade da hermenêutica jurídica. Revista da Faculdade de Direito. 
Universidade Federal de Minas Gerais, v. 49, p. 11-38, 2006. 
ARANTES, Bruno Camilloto. A teoria hermenêutica de Emílio Betti e a teoria do conhe-
cimento. In: I Congresso Mineiro de Filosofia do Direito,2007, Belo Horizonte. Bruno 
Camilloto Arantes, 2007. 
ARANTES, Bruno Camilloto. Hermenêutica Jurídica: a construção de um conceito de obje-
tividade à luz da teoria hermenêutica de Emílio Betti. In: XI Semana de Filosofia I Colóquio 
de Ontologia I Encontro Nacional de Pesquisa em Filosofia da UFU, 2006, Uberlândia. 
Bruno Camilloto Arantes, 2006.
18
ideias. Alterou-se o título original. Durante a edição, novas leituras 
e releituras de parte da bibliografia foram necessárias. Novos livros 
foram adquiridos e suas ideias incorporadas, especialmente dos au-
tores italianos que escreveram sobre a hermenêutica de Betti. As 
traduções foram realizadas livremente dos originais consultados na 
biblioteca da UFMG2 . 
Na dissertação manteve-se o texto original em italiano nas notas de 
rodapé para que a comunidade acadêmica tivesse a oportunidade 
de analisar a tradução. No livro omitiu-se o original preservando a 
tradução livre. Simultaneamente às transformações, manteve-se a 
argumentação central defendida naquela oportunidade.
Se não é possível dizer que esse livro é algo totalmente distinto do 
texto de 2006, tão pouco é possível dizer que ele é o mesmo texto. 
Eis a mutação: de dissertação para livro. Mutação que pressupõe 
o algo novo a partir do velho. Não é reedição do velho. Não é 
totalmente novo. Não é mais do mesmo. Afinal, o futuro não é 
mais o que era3.
O texto de 2006 representa um retrato do próprio amadurecimen-
to intelectual do autor. O texto de 2014 é a ampliação daquele o 
retrato realizado com o auxílio do zoom panorâmico das modernas 
câmeras digitais. A metáfora que talvez represente o momento é: 
esse livro é um espelho retrovisor futuro.
O livro versa sobre o conceito de objetividade e sua articulação com 
o Direito. Em Os Limites da Interpretação, Umberto Eco4 utiliza 
o seguinte exemplo: um senhor manda seu escravo entregar a um 
fidalgo amigo um cesto com 30 figos, juntamente com uma carta 
2A última edição da Teoria Generale della Interpretazione de Betti foi editada pela Giuffrè 
Editore em 1990. 
3ADAUTO, Novaes (org). O futuro não é mais o que era. São Paulo: Edições Sesc, SP, 2013.
4(2004).
19
Em conclusão, Eco6 sustenta que “O que quero dizer é que, embora 
separado do seu emissor, de seu discutível referente e de suas cir-
cunstâncias de produção, aquela mensagem ainda assim falaria de 
figos-em-um-cesto.”.
A partir da conclusão acima é possível pensar num conceito de ob-
jetividade que explicite limites à interpretação de textos feita pelo 
homem. Não é crível que um intérprete atribua a determinado texto 
[Mas] não teria o Direito de dizer que a mensagem pode signi-
ficar qualquer coisa. Pode significar muitas coisas, mas sentidos 
há que seria arriscado sugerir. Não creio que possa haver alguém 
tão mal-intencionado a ponto de inferir que a mensagem pudesse 
significar que Napoleão morreu em maio de 1821, mas contestar 
a leitura tão desviante também pode ser um ponto de partida ra-
zoável para concluirmos que pelo menos alguma coisa existe que a 
mensagem não efetivamente não pode dizer.
5(2004, XVII).
6(2004, p. XV).
onde descreve o conteúdo do cesto. Durante o trajeto, o escravo 
resolve comer alguns figos. Quando o escravo entrega o cesto e a 
carta ao fidalgo destinatário este o indaga sobre os figos faltantes. 
Entre o senhor que enviou os figos e escreveu a carta, o escravo que 
levou a carta e os figos e o fidalgo destinatário dos figos e da carta, 
o que está no epicentro de toda essa história é, exatamente, a carta, 
o conteúdo da carta e o conteúdo do cesto de figos. A carta (o con-
teúdo veiculado por ela) é(são) a(os) responsável(eis) pelo processo 
de comunicação entre o senhor e o fidalgo destinatário. Sobre as 
possibilidades de interpretação do conteúdo daquela carta, Eco5 diz 
que o destinatário:
20
qualquer sentido, tendo em vista que o texto possui um conjunto de 
sentidos inerentes à sua própria textualidade.
Na ciência do Direito a reflexão sobre os limites para a atividade do 
intérprete é imperiosa. É a busca por esses limites e por um conceito 
de objetividade que será desenvolvida nos capítulos deste livro. Se 
os livros são para ser feliz, como diz Márcia Tiburi, o autor espera 
que o leitor encontre uma leitura prazerosa e que de alguma forma, 
mesmo que minimamente, contribua para a reflexão sobre o tema.
DIREITO, INTERPRETAÇÃO 
E HERMENÊUTICA
CAPÍTULO
23
O Direito é uma ciência ocupada com a determinação das condutas 
dentro da sociedade e relacionada com a estruturação do poder. Sua 
dimensão axiológica revela que o Direito é inseparável da ideia de 
Justiça. Liberdade, igualdade, democracia, etc. são conceitos forja-
dos ao longo da história da humanidade, especialmente no Ociden-
te, e erguem-se como valores humanos racionalizados pelo pensar 
do homem. O Direito afirmar-se como a cristalização desses valores 
(ou ideais de Justiça) do homem concretizando alguma ideia de Jus-
tiça em determinado contextos histórico.
A compreensão dos valores sociais e das normas jurídicas é realizada 
pela atividade humana da interpretação. Interpretar é conhecer e 
aplicar algum sentido construído pela atividade racional humana. 
Bobbio7 alerta para as dificuldades de definição do termo:
Originalmente a palavra hermenêutica remete ao mensageiro 
Hermes, Deus grego responsável por levar mensagens de Zeus 
aos homens. Contudo, é no século XIX que o conceito de her-
menêutica passa a ser compreendido como a ciência que estuda 
o fenômeno da interpretação.
Mas o que significa interpretar? Este termo, com efeito, não 
é exclusivo da linguagem jurídica, sendo usado em muitos 
outros campos: assim se fala de interpretação das Escrituras 
Sagradas, de interpretação das inscrições arqueológicas, de 
interpretação literária, de interpretação musical...Pois bem, 
interpretar significa remontar do signo (signum) à coisa sig-
nificada (designatum), isto é, compreender o significado do 
signo, individualizando a coisa por este indicada.
7(1995, p. 212).
24
As “intencionalidades objetivadas” constituem, pois, o domínio 
próprio da interpretação, sendo possível afirmar-se que, funda-
mentalmente, a interpretação é; pelo seu simples pôr-se como tal; 
8(1992).
9Segundo BLEICHER (1992, p. 359) o Dasein é “o ente do domínio ôntico, caracte-
rizado pela sua preocupação com o seu próprio ser ontológico (Heidegger).”.
Com Bleicher8 entende-se o conceito de hermenêutica em três pers-
pectivas: (i) uma teoria hermenêutica, que se ocupa da estruturação 
epistemológica da interpretação; (ii) uma filosofia hermenêutica, 
que se preocupa com as questões existenciais da interpretação refe-
rentes ao Dasein9 (ser-aí) humano e (iii) uma hermenêutica crítica 
preocupada com os fatores extralingüísticos da interpretação.
Wilhelm Dilthey (1833-1911) propôs a divisão do conhecimento 
em “ciências do espírito” e “ciências da natureza”. As primeiras se 
referem às atividades culturais forjadas pelos homens e voltam-se à 
compreensão da experiência e do comportamento humano. A elas 
pertencem à hermenêutica como ciência da interpretação.
Emilio Betti (1890-1968) propõe a interpretação a partir de uma 
teoria que interessa de modo geral a todas as ciências do espírito. A 
Teoria Geral da Interpretação de Betti desperta interesse der alguns 
ramos do conhecimento como a linguística, a filologia, a sociologia, 
a teologia e, especialmente, o Direito.
A ciência do Direito é pensada e desenvolvida a partir conceito de 
fenômeno jurídico sendo este compreendido como as relações so-
ciais regulamentadas por regras jurídicas.
A hermenêutica tonar-se condição de possibilidade da ciência do 
Direito uma vez que a construção do pensamento jurídico é re-
alizada por meio da interpretação de intenções explicitadas por 
algum objeto.
25
A correlação entre estes doispressupostos, um atendendo a as-
pectos objetivos e o outro a aspectos subjetivos da interpretação, 
portanto, a correlação entre dogma e liberdade, nos leva a um 
novo pressuposto, ou seja, o caráter deontológico e normativo da 
Não há que se falar em Direito sem interpretação. Somente pelo ato 
cognoscitivo e interpretativo é que podemos desenvolver uma ciên-
cia jurídica. Contemporaneamente o princípio interpretatio cessat 
in claris não pode ser aceito uma vez que a interpretação é condição 
de possibilidade do Direito. A atividade interpretativa é condição 
sine qua non para o estabelecimento dos sentidos das normas ju-
rídicas e para a compreensão da ciência do Direito. No momento 
em que se afirma que uma norma é clara já houve manifestação do 
pensamento hermenêutico sobre algum texto normativo. Não existe 
norma clara sem interpretação.
A história revela que em alguns momentos históricos houve a proi-
bição da interpretação do Direito. Justiniano e Napoleão proibiram 
que a interpretação fosse feita sobre o Corpus Juris e sobre o Código 
Civil Francês, respectivamente.
Sendo o Direito um fenômeno hermenêutico (dependente da in-
terpretação), a ciência do Direito se preocupa com dois aspectos: (i) 
um de ordem subjetiva (o sujeito intérprete do Direito) e outro (ii) 
de ordem objetiva (o objeto a ser interpretado). Esses dois aspectos 
revelam uma clássica oposição, no Direito e na Filosofia, entre obje-
tividade e subjetividade:
10(REALE, 1992, p. 242).
 
um ato dirigido a algo em razão de alguém e vinculado às estrutu-
ras inerentes ao objeto interpretável10.
26
interpretação. A tensão entre dogma e liberdade é, na verdade, 
uma tensão entre a instauração de um critério objetivo e o arbí-
trio do intérprete11.
Diante da multiplicidade de possibilidades de compreensão, a pa-
lavra Hermenêutica será adotada como Teoria Geral da Interpreta-
ção. As questões da hermenêutica jurídica podem ser vislumbradas 
tanto pelo aspecto teórico quanto pelo aspecto prático. Como teo-
ria é necessário refletir sobre a estrutura do pensamento humano: 
como se desenvolve o processo de comunicação entre os homens 
ou, mais especificamente, como se estrutura o pensamento huma-
no em relação à interpretação do mundo que cerca esses homens. 
O estabelecimento do significado das normas de conduta previs-
tas pelo ordenamento jurídico torna-se uma necessidade inadiável 
na ciência do Direito. Como ressalta Megale12: “A perquerição do 
significado das coisas está sempre presente na atividade do intér-
prete, que, por isso mesmo, trabalha sobre signos.” Como práxis 
(razão prática) a ciência do Direito se envolve com o problema da 
distribuição de Justiça dentro do ambiente social na solução dos 
conflitos sociais. A Justiça está relacionada com a questão da deci-
dibilidade sobre o que é o Direito.
O conceito de Direito é articulado com problema da Justiça a partir 
da aplicação do sentido das normas de conduta na solução de um 
conflito social. Essa articulação é possível pela hermenêutica.
Precisa-se estabelecer um direcionamento para a atividade do intér-
prete do Direito. É necessário fixar as bases sobre as quais o jurista 
fundamentará sua atividade, especialmente no tocante à decisão de 
um conflito jurídico. A interpretação do Direito localiza-se diante 
da multiplicidade de possibilidades para seu existir:
11(FERRAZ JÚNIOR, 1980, p. 73).
12(2001, p. 36).
27
A constatação de que a ciência do Direito está relacionada direta-
mente com a Hermenêutica exige a reflexão sobre a complexa ativi-
dade de interpretação das normas jurídicas.
Frederich Scheleiermacher (1768-1834) surge como o grande filó-
sofo do século XIX que sistematizou o pensamento hermenêutico 
possibilitando o desenvolvimento da Hermenêutica como discipli-
na geral15. Voltado para a interpretação de textos sagrados, a obra de 
Scheleiermacher inaugura o as bases para se pensar a interpretação 
por meio de uma Teoria Geral.
A determinação das condutas previstas no ordenamento jurídico 
de certa sociedade depende do desenvolvimento de uma estrutura 
de pensamento e de um raciocínio pertinentes à concepção de 
Como deve haver um princípio dogmático que impeça o recuo ao 
infinito (pois uma interpretação cujos princípios fossem sempre 
abertos impediria a obtenção de uma decisão), ao mesmo tempo 
em que a sua identificação é materialmente aberta (vide a polêmica 
entre subjetivistas e objetivistas), notamos, então, que o ato inter-
pretativo tem um sentido problemático localizado nas múltiplas vias 
que podem ser escolhidas, o que manifesta a liberdade do intérprete 
como outro pressuposto básico da hermenêutica jurídica13.
Não é fácil esgotar nas palavras de um conceito o significado 
deste ‘composto insolúvel de elementos teoréticos e práticos, de 
conhecimentos e de ação, reprodutivos e produtivos, científicos 
e ultracientíficos, objetivos e subjetivos ao mesmo tempo’ a que 
se dá a denominação de interpretação da lei14.
13(FERRAZ JÚNIOR, 1980, p. 73).
14(MEGALE, 2001, p. 43)
15Para o aprofundamento sobre o pensamento de Scheleiermacher ver: COELHO (2003).
28
Direito daquela sociedade. Direito e Hermenêutica estão, nesse 
sentido, implicados mutuamente uma vez que o sentido norma-
tivo do texto legal dependerá da interpretação humana. Destaca-
-se, de início, a insuficiência do modelo de subsunção do fato à 
norma nos maços de uma perspectiva normativista16 para que o 
Direito seja aplicado.
A aplicação do Direito prescinde da interpretação e exige uma pre-
tensão de objetividade. A questão da objetividade torna-se central 
na hermenêutica jurídica. O problema que se coloca é se há possi-
bilidade de uma interpretação jurídica objetiva, ou seja, se existe 
uma objetividade que oriente a atividade do intérprete dentro da 
ciência do Direito ou, ao contrário, se o Direito pode ficar à mer-
cê do intérprete? Esta questão será problematizada tomando-se por 
orientação teórica o pensamento expresso na obra Teoria generalle 
della interpretazione, de Emilio Betti.
16O modelo normativista deve ser entendido aqui como aquele que prevê a supremacia da norma 
em relação aos outros elementos do Direito (fato e valor). Tal modelo é proposto por Kelsen 
na sua obra Teoria Pura do Direito. Todavia, o referido Autor é alvo de críticas que, no nosso 
entendimento, são, algumas vezes, infundadas. Kelsen não ignora que o fenômeno jurídico se 
constitua a partir de um fato, um valor e uma norma (teoria tridimensional de Reale (2003). Ele 
reconhece essa complexidade do Direito, mas se propõe a desenvolver uma teoria normativa, ou 
seja, o estudo do Direito a partir da norma jurídica. Em relação aos aspectos interpretativos da 
teoria de Kelsen, teremos a oportunidade de discuti-los mas adiante. Para o desenvolvimento do 
pensamento kelseniano ver: AFONSO (1984).
O PROBLEMA DO 
CONHECIMENTO
CAPÍTULO
31
Ao longo da história o ser humano se depara com questões como 
o que é o conhecimento? Como é possível conhecermos algo? Essas 
indagações remetem à história da filosofia e indicam uma busca in-
cessantemente por respostas que possam satisfazer a exigência racional 
do pensamento. Sobre as dificuldades a respeito do conceito de co-
nhecimento Megale17 adverte que
O conhecimento pode ser estruturado a partir de uma Teoria onde 
há (i) condições subjetivo-objetivas transcendentais e (ii) condições 
subjetivo-objetivas positivas. Quanto às condições subjetivo-obje-
tivas transcendentais têm-se, de forma ampla, a ontognoseologia18 
que se divide em gnoseologia (que trata das condições subjetivas) e 
ontologia (que trata das condições objetivas).
Primeiramente, o conhecimento consiste numa vivência psíquica 
– é o conhecimento do sujeito que conhece. Perante o sujeito estão 
os objetos conhecíveis. Assim, o conhecimento, do ponto de vista 
psíquico, natural,é vivência passível de descrever-se segundo as 
suas espécies e formas de conexão e investigar-se nas suas relações 
genéticas. Nesse sentido, conhecimento diz respeito a concepção 
da realidade, não à teoria do conhecimento.
Por outro lado, afirma HUSSERL, o conhecimento é, por es-
sência, conhecimento da objetividade, e é tal em virtude do 
sentido que lhe é imanente, com o qual se refere à objetividade.
17(2001, p. 26-27)
18Sobre a perspectiva ontognoseológica leciona Reale (2000, p. 48): A palavra Ontognoseologia 
foi por mim proposta por volta de 1945 (cf. “Preleções de Filosofia do Direito”, taquigrafadas 
naquele ano, p. 45) como a mais correspondente ao meu pensamento, e não saberia dizer se 
houve emprego anterior desse termo. Posteriormente, Andrea Mario Moschetti, em sua obra 
L’unità come Categoria, II, Situazione e Storia, Milão, 1960, desenvolve uma doutrina das 
categorias que pretende não seja “mera antologia nel senso classico tradizionale, ma uma sintesi 
ontognoseologica.”.
32
A adoção da teoria ontognoseológica19 implica no reconhecimento 
da ciência do Direito como uma ciência que se desenvolve ao longo 
da história do homem e se exterioriza através da experiência nos 
seguintes termos:
Como atividade do intelecto humano a interpretação está relacionada 
diretamente com problema do conhecimento. Nesse sentido, o pro-
cesso de conhecimento se ocorre através do processo de interpretação. 
A interpretação visa o significado das coisas que são representadas por 
signos. Quanto à relação entre a estruturação do conhecimento e da 
interpretação Eco21 adverte:
É dentro dessa compreensão integrante que o processo histórico-cul-
tural assinala os momentos da objetivação cognoscitiva, revelando-
-se como “experiência”, na qual se insere a “experiência do Direito”. 
Esta corresponde, pois, a um caso particular e a um momento da 
objetivação progressiva do espírito humano enquanto “infinitamente 
determinável” daquilo que se supõe fora dele como “natureza”, isto é, 
como dado não constituído, mas oferecido à fonte espiritual doadora 
de sentido, para só então se apresentar como objeto20.
Se, portanto, o problema filosófico da interpretação consiste em es-
tabelecerem-se as condições de interação entre nós e algo que nos é 
dado e cuja construção obedece a certas constrições (é o problema 
de Peirce, de Merleau-Ponty, de Piaget, das ciências cognitivas, mas 
afinal era também o problema de Kant – assim como é o problema da 
epistemologia de Popper e Kunh - verificar), não vejo por que não se 
deva manter a mesma atitude diante de textos produzidos pelos nos-
19Sobre a ontognoseologia voltada ao Direito, Reale (1992, p. 85) diz: A Ontognoseologia Jurí-
dica, tendo por fim determinação cognoscitiva do Direito, em sua integralidade, indaga de sua 
consistência ‘ôntica’ e da correlata estrutura “lógica”, isto é, dos pressupostos universais, ao mesmo 
tempo subjetivos e objetivos da realidade jurídica.
20(REALE, 1992, p. XXX-XXXI).
21(2004, p. XXI).
33
A atividade intelectual da interpretação está relacionada com signos 
e procura o significado das coisas. No momento em que o intérprete 
busca o significado das palavras articuladas em sentenças de um tex-
to está buscando o sentido daquele texto. Por outro lado, as palavras 
articuladas em expressões são os meios (formas) pelos quais o ho-
mem estabelece a comunicação com seu semelhante. A articulação 
da comunicação ocorre pela estruturação do pensamento humano.
O processo de comunicação exige uma intermediação entre duas 
pessoas para que elas se compreendam e alcancem um determinado 
sentido em conjunto, construído intersubjetivamente. Por sua vez, 
essa intermediação que permite a comunicação humana necessita 
de um instrumento material. Para o processo de comunicação se 
estabelecer é necessário que o homem utilize um mecanismo que 
lhe permita atingir seu semelhante.
Relacionando interpretação com conhecimento, Betti faz uma re-
tomada histórica do pensamento de Kant a respeito das condições 
de possibilidade do conhecimento. Kant analisa a faculdade do 
conhecer distinguindo duas formas de conhecimento: o empírico 
(concebido como conhecimento a posteriori) e o puro (concebido 
como conhecimento a priori). Kant está preocupado em estabele-
cer possibilidades, limites e esferas de aplicação do conhecimento.
No desenvolvimento de sua perspectiva, Kant propõe uma dife-
renciação entre objeto e a coisa em si. O objeto é a coisa no e 
para sujeito cognoscente. entre objeto e a coisa em si. O objeto é 
a coisa no e para sujeito cognoscente. A coisa em si é, como tal, 
inacessível ao sujeito. Surge uma teoria do conhecimento na qual 
a condição de possibilidade do conhecimento está no sujeito que 
conhece o objeto. É o sujeito, dotado de racionalidade, o autor do 
sos semelhantes e que de qualquer maneira, como a carta levada pelo 
escravo de Wilkins, estão já ali, antes mesmo de serem lidos – ainda 
que apenas sob forma de vestígios gramatológicos insignificantes para 
quem não lhes conjecture a origem.
34
Considerando que o processo de interpretação se vincula ao pro-
cesso de conhecimento, o pensamento de Kant ganha importância 
quanto às condições do conhecimento na medida em que estabe-
lece a centralidade do sujeito cognoscente dentro do processo de 
conhecimento. Como lembra Reale23:
A perspectiva da teoria do conhecimento de Kant pode ser 
vislumbrada na Hermenêutica Jurídica através o posiciona-
mento do intérprete frente à norma jurídica. O problema é 
verificar quais são as condições de possibilidade do sujeito 
22(1995, p. 82). 
23(2002a, p.77).
ato de conhecimento. Na perspectiva kantiana a ideia de repre-
sentação surge como forma de pensar racionalmente os objetos 
como diz Salgado22
Veremos, dentro em pouco, em que consistiu a revolução gnoseoló-
gica opera por Kant e qual o seu significado na História da Filosofia. 
Não é demais, no entanto, lembra agora que, antes de Kant, a Filoso-
fia Clássica vivia girando em torno de objetos, aos quais se subordina-
va essencialmente; enquanto que, no dizer de Kant, quem deve ficar 
fixo é o sujeito, em torno do qual deve girar o objeto, que somente é 
tal porque “posto” pelo sujeito.
As representações não criam o objeto; elas são, enquanto concor-
dam com o objeto na formação da síntese, condições dos objetos 
enquanto conhecidos. Condições de objetos e não das coisas, visto 
que os objetos são correlatos do sujeito, portanto a coisa no pro-
cesso de conhecimento, ou melhor, o fenômeno. Kant não fala da 
coisa, mas sempre do objeto, da coisa no sujeito.
35
Partindo da influência das condições de possibilidade do conhecimento 
estabelecidas por Kant, Betti pensou sobre as condições de possibilida-
de do ato interpretativo. A proposta teórica da Crítica da Razão Pura 
pressupôs uma razão pura que procurava as condições para o entendi-
mento das ciências naturais, supondo, assim, um sujeito cognoscente 
e um objeto natural cognoscível. Buscando estabelecer condições de 
possibilidade para o ato interpretativo, Betti identificou a forma re-
presentativa como elo entre dois sujeitos cognoscentes (duas espiri-
tualidades). Esse elo é aquilo que toma a forma material (objeto) e 
possibilita ao homem estabelecer a comunicação com seu semelhan-
te. Reale25 ressalta a necessidade da existência de uma ligação entre 
dois sujeitos no processo de comunicação:
A socialidade assim constituída graças a atos comunicativos de com-
preensão, como uma unidade superior de consciência entre pessoas, 
A “revolução copernicana” proposta pela Crítica kantiana parte de 
uma mudança de atitude que adota o sujeito cognoscente: o proble-
ma não é se se pode conhecer através da razão ou da experiência – 
questão em torno da qual se debatiam racionalistas e empiristas – mas 
sim como se pode conhecer, isto é, quais os limites doconhecimento, 
seja pelo lado racional, seja pelo empírico. A pergunta fundamental 
é: quais as condições de possibilidade da razão pura e da experiência, 
como existem elas em nós e diante de nós? Ou em outras palavras: 
como é possível ao aparato cognoscente do ser humano, que é interior 
e subjetivo, afirmar, negar ou transmitir algo sobre um mundo que é 
exterior a nós mesmos?
24(2002, p. 26).
25(1992, p. 22).
diante do texto normativo na busca do sentido da norma ju-
rídica. Como diz Adeodato24:
36
ou “o mundo das objetividades intersubjetivamente constituídas”, 
não pode ser “explicado” segundo leis naturais.
Na estruturação de sua teoria, Emilio Betti26 recorre a Kant adotando 
uma perspectiva da filosofia da consciência (que privilegia o modelo 
sujeito-objeto) e elabora uma teoria marcada pelo estudo das condi-
ções de possibilidades do ato interpretativo no sujeito cognoscente. 
Betti afirma que a teoria de Kant elaborada na Crítica da Razão Pura 
se limitou aos conhecimentos naturalísticos marcadamente pela cons-
tância e imutabilidade. Afastando-se dessa perspectiva, o estudo das 
condições de possibilidade da interpretação possui um caráter axioló-
gico, sendo, portanto, mutável e evolutiva27:
Finalmente, se a gnoseologia kantiana – dominada pelo fim de 
estabelecer as condições de possibilidade do conhecimento natu-
ralístico – parte da implícita premissa do caráter constante e imu-
tável das categorias lógicas, tal suposta constância não tem mais 
razão de ser em uma gnoseologia de juízo axiológico, onde se trata 
de estabelecer a possibilidade de um conhecimento das formações 
espirituais e a legitimidade de cânones interpretativos pelos quais 
se deva atingir a orientação28.
O conhecimento não é um espelho perfeito da realidade. Os seus 
objetos são determinados pela maneira como os compreendemos. 
A atribuição de significado às coisas pertence ao mundo inteligí-
vel onde é possível o uso e aplicação de conceitos racionalmente 
construídos. Assevera Salgado29 que “A coisa da natureza não tem 
26(1990a). 
27Betti adota uma concepção clássica de Direito no tocante ao conceito de evolução. Ele adota 
uma perspectiva de interpretação histórico-evolutiva do Direito que possibilita o intérprete acom-
panhar as alterações sofridas pelo ordenamento jurídico.
28(BETTI, 1990a, p. 31).
29(2003, p. 196).
37
significado. Só o homem, quando a torna obra de cultura, dota-a 
de significado. Este é exatamente o que o homem acrescenta à 
natureza para criar.”.
Explicita-se que o sentido depende da atividade interpretativa do ser 
humano. Logo, as possibilidades de conhecer estão no intérprete do 
Direito quando este se depara com os fatos e as normas buscando a 
aplicação do sentido normativo dentro de um caso concreto. For-
ma-se a relação sujeito-objeto que permitirá que os sentidos norma-
tivos sejam forjados a partir do confronto este os dois polos dessa 
relação. Conforme Lima Vaz30
A teoria da representação, portanto, na acepção com que aqui a 
entendemos, é uma teoria do conhecimento que confere novo 
estatuto gnosiológico à representação do objeto ou ao seu ser in-
tencional objetivo na imanência do sujeito cognoscente. Segundo 
o postulado fundamental dessa teoria, a representação deixa de 
ser apenas o sinal formal cuja mediação estabelece uma relação de 
identidade intencional do ato cognoscitivo com o objeto extra-
mental, como na concepção tomásica da species expressa. Ela se 
constitui o termo imediato, em i quod, da intenção cognoscitiva, 
fazendo surgir o difícil problema da relação, na ordem do conhe-
cimento, entre o sujeito cognoscente e o objeto no seu ser real, 
sendo esse subordinado à primazia da representação na medida em 
que o ser representado é, em si, primeiramente conhecido.
A cisão entre sujeito e objeto feita por Kant foi duramente criticada 
pelo pensamento filosófico contemporâneo. Todavia, pode-se visu-
alizar que a separação proposta por ele possui um caráter estrutural. 
A consideração da relação sujeito-objeto não é aceita pela corrente 
da hermenêutica filosófica de cunho gadameriano e heideggeriano 
30(1997, p. 162).
38
Kant propõe uma separação “idealística” como esquema de estru-
tura de pensamento humano a fim de tornar sua teoria possível. A 
relação estabelecida entre sujeito-objeto não é uma relação de oposi-
ção, mas de profunda dialética e interação sem a qual não se poderia 
estabelecer nenhuma relação entre os dois termos.
Isto porque as práticas hermenêutico-interpretativas vigorantes/ 
hegemônicas no campo da operacionalidade – incluindo aí dou-
trina e jurisprudência – ainda estão presas à dicotomia sujeito-
-objeto, carentes e/ou refratárias à viragem lingüística de cunho 
pragmatista-ontológico ocorrida contemporaneamente, onde a 
relação passa a ser sujeito-sujeito. Dito de outro modo, no campo 
jurídico brasileiro, a linguagem ainda tem um caráter secundário, 
uma terceira coisa que se interpõe entre o sujeito e o objeto, enfim, 
uma espécie de instrumento ou veículo condutor das “essências” e 
“corretas exegeses” dos textos legais.
As tentativas de solução desse problema estão na origem das di-
versas versões idealistas presentes ao longo da filosofia moderna e 
que erigem a representação como norma ou medida imanente ao 
sujeito da cognoscibilidade do objeto32.
desenvolvida por Streck. Desenvolvida a partir do pensamento de 
Heidegger, essa corrente reduz o problema do conhecimento à ques-
tão da linguagem como modo de ser do dasein (ser-aí-do-homem). 
Conforme Streck31, a linguagem passa a ser a maneira pela qual todo 
e qualquer ser se manifesta:
31(2004, p. 18).
32(LIMA VAZ, 1997, p. 162).
39
Acredita-se que a cisão produzida pelo pensamento kantiano possa 
servir de reflexão para a estruturação do conhecimento com a neces-
sária articulação dialética entre o sujeito e o objeto. Constata-se que 
após o pensamento de Kant há inúmeros desdobramentos das pers-
pectivas filosóficas para a teoria do conhecimento. O emprego da 
cisão kantiana (sujeito-objeto) se desdobra na necessidade de reco-
nhecer que o intérprete do Direito se depara com os fatos e com os 
textos normativos buscando construir um sentido normativo para 
ser aplicado em determinado conflito de interesse.
A ontologia se preocupa em estudar as características fundamentais 
do ser. A questão sobre o ser é, talvez, a mais velha questão da filo-
sofia ocidental. Uma ontologia voltada para a análise do Direito se 
depara com a questão: o que é o Direito? A pergunta situa-se dentro 
da Teoria Geral do Direito e da Filosofia do Direito. Mas, como vis-
to, se o Direito é um fenômeno interpretativo, a questão sobre o que 
é o Direito torna-se uma questão sobre a interpretação do Direito.
A teoria da tridimensionalidade propõe que o conceito de Direito 
seja compreendido dentro de três aspectos inseparáveis: fato, valor 
Pode-se afirmar a relação entre dois sujeitos ligados por um determinado 
objeto ocorre dentro de uma perspectiva dialética. A articulação estru-
tural da relação sujeito-objeto faz com que os dois elementos se tornem 
inseparáveis do processo de conhecimento como diz Miranda33:
A simples consideração da relação sujeito-objeto previne 
que a supressão de qualquer dos termos, só se levando em 
conta o conhecente, ou só se levando em conta o conheci-
do, falseia o problema e, em consequencia, a solução. Os 
dois termos não podem ser eliminados.
33(2005, p. 28).
40
Bobbio35 entende a experiência jurídica como uma experiência nor-
mativa. Norma jurídica é uma proposição prescritiva (pertencente 
à esfera da linguagem prescritiva) inserida numa fórmula jurídica 
garantida pelo poder público no âmbito do Estado. A Teoria Geral 
do Direito consagrou às normas jurídicas as características da bila-
teralidade, imperatividade, generalidade, abstração, coercibilidade eo instituto da sanção.
[Ora,] é evidente que não há só textos. E textos não são meros 
enunciados lingüísticos. O que há, então, são normas resultantes 
da interpretação de textos. Ou seja, também não há somente nor-
mas, pela simples razão de que nelas está contida a normatividade 
que abrange a realização concreta do Direito. A norma é o lócus do 
acontecer (Ereigen) da “problemático-judicativa realização concre-
ta do Direito” (Antonio Castanheira Neves)
34(2004b, p. 123).
35(2001).
e norma. Dentro dessa perspectiva, a questão ontológica do Direito 
será refletida no sob a ótica do ser da norma jurídica compreendida 
como resultante da atividade do intérprete (sujeito cognoscente) so-
bre o texto normativo. O intérprete; seja ele um jurista, um advoga-
do ou, um juiz; quando necessita solucionar um determinado pro-
blema (conflito dentro da sociedade entre os cidadãos - fato) recorre 
ao ordenamento jurídico à busca das regras de conduta que possam 
lhe dar a correlação com as condutas realizadas no plano dos fatos.
A relação entre norma e texto é estreita, mas seus conceitos são incon-
fundíveis. Trazendo à discussão a diferenciação entre norma e texto 
Streck34 afirma que
41
Com efeito, Kant vê a coisa em si como o ser verdadeiro que se 
esconde por trás das aparências, um ser noumenal e incognoscí-
vel por não se submeter às categorias do entendimento; Cohen e 
Natorp a reduzem a uma necessidade de caráter lógico dentro do 
processo de conhecimento, algo como um limite intransponível. 
Para eles nada é em si, a existência só tem sentido em função de 
um sujeito cognoscente: o objeto só se objetiva porque algum su-
jeito o põe como tal. O sujeito não apenas coloca o objeto diante 
de si, mas até o constitui, conferindo-lhe realidade: é de Cohen a 
afirmação, absurda para o senso comum, de que “somente o pen-
samento é capaz de produzir o ser”36.
Um exemplo da diferença entre norma e texto pode ser vislumbrado 
quando se lê o artigo 121 do Código Penal brasileiro que dispõe “Matar 
alguém: Pena de 6 a 20 anos”. O que está escrito no Código Penal é o 
texto do artigo. A norma irá depender da interpretação do leitor uma 
vez que será o sentido construído a partir daquele texto. Ao ler o texto 
percebe-se que o mesmo dispõe uma sanção para uma conduta proi-
bida: “não matar”. “Não matar” é a conduta esperada pelo legislador 
quando da elaboração normativa. Logo, a norma jurídica do artigo 121 
do Código Penal é “não matar”.
Percebe-se uma intensa relação entre o intérprete do Direito e a 
norma jurídica uma vez que esta é o sentido que aquele dá às pro-
posições normativas. Nesta relação deve-se levar em conta tanto o 
sujeito cognoscente quanto o objeto cognoscível. É fundada nessa 
relação que a pergunta sobre os limites da atividade do hermeneuta 
do Direito se coloca.
A busca pela objetividade no ato de interpretação passa pelo esta-
belecimento de certos limites à atividade interpretativa. Surge uma 
aporia: se o sujeito é o detentor das condições de possibilidade do co-
nhecimento, tais condições poderiam ser limitadas por algo exterior a 
ele? O objeto é capaz de limitar a atividade cognoscitiva do sujeito? A 
reposta da aporia pode ser percebida no desenvolvimento do pensa-
mento neokantiano da Escola de Marburgo:
36(ADEODADO, 2004, p. 41).
42
O Direito é um fenômeno cultural que se desenvolve ao longo da 
história. A realização do Direito depende de sua explicitação no 
âmbito da sociedade e relaciona-se com a concretização de uma 
ideia de Justiça. A historicidade do Direito revelará sua normati-
vidade que ganhará a objetividade na medida de sua estruturação 
num pensamento racional que possa ser compreendido pelos in-
divíduos. O desenvolvimento da relação sujeito-objeto ao longo 
37(REALE, 2002a, p. 126).
38(2002a, 126). 
O sujeito aprende algo como “objeto”, mas resta sempre algo a conhe-
cer; e, mais ainda, no ato mesmo de conhecer, algo se conserva hetero-
gêneo, em relação ao sujeito mesmo, por ser transcendente a ele e não se 
reduzir no âmbito do processo cognitivo.
A Escola de Marburgo entende que o sujeito conhece e constitui o 
objeto através do método. De acordo com esse pensamento pode-se 
afirmar que o sujeito cria o objeto.
Nessa doutrina, reconhece-se, como nos parece certo, a função 
criadora do sujeito, mas não a função absoluta na constituição 
ou produção do objeto, como sustentam, por exemplo, os neo-
-kantianos da Escola de Margurbo, para os quais o método é 
constitutivo do objeto37.
Kantianamente, ao sujeito nunca é dado conhecer a coisa em si, mas, 
sim, o objeto enquanto representação de algo perante o sujeito. O 
objeto é algo exterior e diferente ao sujeito, logo, heterônomo. É essa 
exteriorização (ou heteronomia) que nos permite afirmar a existência 
de limites ao ato de conhecimento. Mas isso não impede a aceitação 
de que as condições de possibilidade do conhecimento estejam no 
sujeito cognoscente. Para Reale38:
43
Há, portanto, uma objetivação dos objetos culturais produzidos 
pelo homem historicamente situado. Nesse sentido, o Direito é re-
sultante da objetivação histórica das normas de condutas sociais na 
conformação de uma sociedade justa. Com Reale40
Percebe-se que a atividade interpretativa na ciência do Direito rela-
ciona-se com a teoria do conhecimento que pressupõe a análise crí-
tica tanto em relação ao sujeito quanto em relação ao objeto. Tem-se 
que as condições de possibilidade do conhecimento jurídico estão 
Sem um meio espiritual para viver e expandir-se, então, o espírito 
pessoal não pode ser. Essa necessidade do outro, a intersubjetivida-
de, forma um contexto significativo que o sujeito não escolhe mas 
encontra previamente estabelecido por outros indivíduos. Esse 
contexto é, ele também, resultado de uma determinação ôntica a 
que todo espírito vivo se acha submetido, qual seja a separabilida-
de entre a própria pessoa e aquilo que ela exterioriza. É assim que 
o espírito objetivo se aparta do pessoal e que o espírito objetivado 
se separa tanto do pessoal quanto do objetivo.
Sob o estímulo de algo, e na medida e em função de condições 
subjetivas e histórico-sociais – pois o realismo ontognoseológico 
não olvida a inevitável condicionalidade social e histórica de todo 
conhecimento – o, sujeito, de certa maneira “põe” o objeto, que 
pode não corresponder integralmente a algo, mas a algo com certeza 
sempre correspondente.
da história faz surgir uma determinada objetividade no espírito 
humano. Como diz Adeodato39
39(2004, p. 195).
40(2002a, p.127).
44
Essa percepção abre caminho para um realismo gnosiológico que 
se articula em duas direções: (i) primeiro pressupõe que as condi-
ções de possibilidade do conhecimento estão no sujeito e simulta-
neamente (ii) considera que o objeto possui uma heteronomia em 
relação ao sujeito que não permita a este último atribuir qualquer 
sentido desconectado de sua realidade.
Em suma, o pensamento tem o poder de pôr estruturas lógicas 
em função de estruturas ônticas, de maneira que há sempre ne-
cessidade de determinar o método adequado ou correspondente 
a cada região ou a cada campo de realidade41.
41(REALE, 2002a, p. 127).
no sujeito na medida em que este toma a realidade que o cerca e, 
refletindo criticamente sobre ela, formula um conceito de Direito. 
Mas esse pensamento, construído pelo sujeito a respeito do conceito 
de Direito, deve levar em consideração àquela mesma realidade que 
serviu de base para a estruturação dessa forma de pensar.
Se o conhecimento humano está relacionado com o objeto a ser conhe-
cido, importa, ainda, adotar um método apropriado ao estudo desse 
objeto no sentido de dar cientificidade necessária ao conhecimento.
A TEORIA HERMENÊUTICA 
DE EMILIO BETTI
CAPÍTULO
47
Emilio Betti (1890-1968) foi jurista e professor de várias discipli-nas da Facoltà di Giurisprudenza delle Università di Roma e di 
Camerino dedicando parte de sua vida à elaboração e construção 
de uma teoria hermenêutica. Devido a envergadura intelectual de 
seu pensamento, sua teoria hermenêutica pode ser considerada 
uma teoria do conhecimento.
Alinhado à perspectiva teórica dos pensamentos hermenêuticos 
de Schleiermacher e Dilthey, Betti a compreende a Hermenêutica 
como um corpo geral de princípios metodológicos que subjazem à 
interpretação. Influenciado pela ética de Nicolai Hartmann e pela 
teoria do conhecimento de Kant, Betti desenvolve uma concepção 
de objetividade ideal e objetividade real. A primeira diz respeito ao 
pressuposto da experiência que, kantianamente, será denominado 
de condições de possibilidade para o entendimento. A segunda 
(objetividade real) constitui um dado fenomênico da experiência 
e pode ser entendida como a relação existente entre a situação e a 
resposta vivida por uma espiritualidade. A objetividade pretendida 
se fundamenta no processo espiritual de compreensão no qual um 
espírito é chamado a interagir (responder) com outro que lhe fala 
através de uma forma representativa.
O problema da interpretação, como forma de comunicação entre 
os homens, foi proposto por Betti44 nos seguintes termos:
Na elaboração das formas representativas o espírito humano mo-
difica a objetividade real do mundo sensível no processo de atua-
ção da objetividade ideal dos valores, e assim põe as premissas do 
problema da interpretação. Neste se trata, de retraduzir as formas 
representativas comunicadas e transmitidas no conteúdo do espí-
rito e do pensamento onde nasceram e que elas estão a representar: 
se trata, isto é, de retraduzir na objetividade ideal dos valores que 
nelas se dão uma existência fenomênica.
44 (1990a, p. 50).
48
Os problemas da interpretação e da compreensão não são mais do que 
um aspecto do problema geral do conhecimento. Por sua vez, o conheci-
mento é uma atividade espontânea dotada de energia inventiva (criativa), 
mas que exige a observância de um conjunto de regras que devem orien-
tar aquela atividade cognoscitiva. Essa ordenação objetiva, necessária ao 
processo de interpretação, implica tanto na (i) expressão de uma ideia a 
partir do processo de ordenação do mundo em objetos; apresentação de 
algo interno (por exemplo, intenções, sentido) como objeto significativo 
tendo em vista a investigação científica quanto (ii) no processo pelo qual 
um sujeito exterioriza uma intencionalidade através do uso da linguagem 
se tornando um objeto passível de atualização por outro sujeito.
Preocupado em desenvolver uma teoria do conhecimento que se propu-
sesse a garantir o êxito epistemológico da interpretação e em sistematizar 
e organizar a atividade interpretativa em todos os ramos do saber, Betti 
publicou em 1949 Interpretazione della legge e degli atti giuridici em 
que tratou de estabelecer uma teoria geral e dogmática da interpretação 
jurídica expondo problemas hermenêuticos que cercam a atividade inter-
pretativa dos juristas.
No ano de 1955, após oito anos de trabalho, Betti finalizou sua 
Teoria Generale Della Interpretazione que é um verdadeiro monu-
mento intelectual que demonstra toda a cultura do jurista italiano. 
A obra extrapola o campo jurídico na medida em que busca as pos-
sibilidades da teoria hermenêutica.
A importância de sua obra é evidenciada pelo esforço de Betti ao 
se encarregar de fazer a tradução para a língua alemã fomentando o 
debate com outros pensadores da hermenêutica, em especial, com 
seu grande interlocutor: Hans George Gadamer, autor de Verdade 
e Método45. O diálogo entre Betti e Gadamer será tratado ao longo 
do livro não de forma reconstrutiva, mas a partir de pontuações 
específicas das duas propostas hermenêuticas.
45Giuliano Grifò em nota introdutória à Teoria Generale della Interpretazione equipara o diálogo 
de Betti e Gadamer àquele ocorrido entre Savigny e Thibaut quando do movimento de codifica-
ção ocorrido na Alemanha na primeira metade do século XIX.
49
No momento da exteriorização de sua subjetividade o homem ma-
terializa sua intenção de modo a permitir sua captação e seu enten-
dimento por outro sujeito alheio à sua intencionalidade. A interpre-
tação envolve uma questão que pertence à região ôntica de algo, ou 
seja, algo tem que existir como algo para que o sujeito possa dele 
conhecê-lo. Sistematizam-se as ideias fundamentais da hermenêuti-
ca de Betti sob três aspectos: 1) o problema da compreensão; 2) o 
procedimento da compreensão; 3) os princípios fundamentais da 
epistemologia hermenêutica.
O primeiro relaciona-se com o confronto entre a subjetividade do 
intérprete e a objetividade do objeto. O segundo está ligado à for-
ma pela qual o procedimento da compreensão ocorre. Esse proce-
dimento é formado por três elementos: o sujeito autor que elabora 
a forma representativa; a forma representativa que é o objeto da 
A evolução da arte mostra, pois, um processo de assenhoreamen-
to da obra pelo significado. Não porém, total aniquilamento do 
significante, que sem este não haveria obra de arte. É a expressão 
do significado. Quando dizemos expressão, queremos dizer que o 
significado não é dado intuitivamente, em comércio mental dire-
to. Toda expressão é meio de comunicação. Comunicar é pôr um 
intermediário entre dois pontos. No caso humano, mediar duas 
mentes por um instrumento material46.
46(SALGADO, 2003, p. 197).
Concebido dentro das ciências do espírito, o Direito pertence ao 
mundo da cultura e racionalidade humanas. O homem, como espíri-
to subjetivo, toma consciência de si e de outrem pela sua capacidade 
racional de reflexão (pensamento). O processo de comunicação hu-
mana exige a exteriorizar da subjetividade do homem a fim de se fazer 
entender por seu semelhante.
50
Formas representativas são os meios pelos quais o espírito dotado 
de uma subjetividade explicita (traz ao mundo) certos valores que 
interpretação e, por último, o sujeito intérprete dessa forma repre-
sentativa. O terceiro aspecto é a proposta teórica de Emilio Betti 
para a fundamentação epistemológica da ciência da interpretação.
Sendo o homem dotado de espiritualidade47, a objetivação dessa 
torna-se um dos elementos centrais para a teoria bettiana. A forma 
representativa é entendida como o objeto que representa uma obje-
tivação de um sujeito. É a representação de uma intencionalidade.
Considerando o objeto da compreensão, Betti se preocupa com o 
desenvolvimento de um arcabouço instrumental no qual um deter-
minado espírito se manifesta permitindo estabelecer comunicação 
com outro espírito. A essa instrumentalidade material Betti chama 
forma representativa.
É pela forma representativa que um espírito dotado de consciência e 
experiência se comunica com outro espírito também portador consci-
ência e experiência. A forma representativa é a responsável pela obje-
tivação de alguma intencionalidade (ou vontade) subjetiva do sujeito 
que a elabora e é por meio dela que um intérprete consegue exercer 
sua atividade hermenêutica.
§ 1º. - Objeto da compreensão. Conceito de forma repre-
sentativa. – Onde quer que estejamos na presença de for-
mas sensíveis, através das quais outro espírito, nelas objeti-
vado, fala ao nosso, fazendo apelo para nossa inteligência 
(I), ali entra em movimento nossa atividade interpretativa 
para entender qual sentido têm aquelas formas, qual men-
sagem elas nos remetem, que coisa elas querem dizer48.
47Adota-se a concepção de BETTI (1990a, p. 06) que considera espiritualidade como a caracterís-
tica do homem de consciência e autoconsciência.
48(BETTI, 1990a, p. 59-60).
51
O espírito objetivo não se reduz a esse ser portador, porém, e segue 
sua própria dinâmica, ultrapassando o indivíduo, cujas relações 
com ele nem sempre são harmoniosas; com efeito, são freqüentesos conflitos entre o espírito objetivo e o espírito pessoa. Além da 
transmissibilidade, outra característica do espírito objetivo é sua 
historicidade, ele é criador e transmissor da história50.
passam a ter uma existência fenomênica. Essa existência fenomênica 
possui peculiar objetividade real que se dá no plano da experiência. 
Essa objetividade possui a capacidade de modificação do mundo 
sensível, sem a qual não seria possível nem as formas representativas 
e nem a existência sensível de um valor seria pensável.
A objetivação é a expressão de um valor que inicialmente está na sub-
jetividade do homem. O valor é algo inerente ao homem e que se 
realiza na experiência humana dentro da história evidenciando uma 
sensibilidade espiritual. Através da sensibilidade espiritual é que se 
opera uma estrutura mental que transcende o empírico e atinge o ser 
humano que tenha alcançado um grau de maturidade necessário à 
coparticipação daquele valor.
Dentro de sua historicidade49 o homem gera e cultiva seus valores con-
seguindo transmiti-los a seus sucessores. A transmissão desses valores às 
gerações futuras é feita por meio de formas. Esses valores tornam-se re-
presentações das formas física, psíquica e espiritual que nos são legadas 
por meio físico, sem o qual não seriam perceptíveis e inteligíveis.
O valor atribuído a esse meio físico transcende sua gênese quando se 
relaciona com outra gênese, isto é, o valor transcende a forma pela 
qual está consignado na medida em que é reconhecido por uma vi-
brante experiência de vida diferente daquela que o concretizou.
49Segundo Abbagnano (2003, p. 508), por historicidade deve-se entender “1. O modo de ser no 
mundo histórico ou de qualquer realidade histórica.”.
50(ADEODATO, 2002, p.196).
52
Este espírito vivo (pessoal e objetivo) é portador da história e cria-
dor da civilização. O espírito objetivado, que não é vivente, precisa 
do espírito vivo, ainda que não necessariamente aquele que o obje-
tivou, para fazer efetivamente parte do ser espiritual; um livro não 
é um livro sem a presença de um espírito pessoal que lhe perceba 
o sentido, assim como a lei é mera matéria morta sem o espírito 
objetivo que a concretize51. 
Com Bleicher52 “Em contrapartida, é igualmente importante insis-
tirmos no facto de uma interpretação ser possível apenas em face de 
formas representativas.”. As formas representativas assumem uma 
posição fundamental dentro da teoria de Betti sendo responsáveis 
pela intermediação na comunicação entre os homens permitindo o 
desenvolvimento do processo de conhecimento.
Sobre o processo de conhecimento Eco53 diz que “É através do pro-
cesso de interpretação que, cognitivamente, construímos mundos, 
atuais e possíveis.”. Percebe-se que todo o processo de conhecimen-
to acaba sendo uma interpretação da realidade. É a transposição da 
percepção imediata da realidade para o plano do pensamento. Nesse 
sentido, a captação da realidade é o primeiro momento do proces-
so de conhecimento sem, contudo, esgotar-se nele. Dependente da 
racionalidade humana, o processo de conhecimento alcança sua ple-
nitude a partir do pensamento sobre os dados reais.
Para que o conhecimento, enquanto ação do logos diante do real, 
se dê efetivamente, é necessário que aquele que conhece (sujeito 
cognoscente) se destaque, se separe da coisa. A partir do momento 
em que o logos afirma a existência da coisa, enquanto algo que 
dele é separado, dá-se conta do seu ser imediato diante de si e a 
transforma em objeto (objeto conhecido)54.
51(ADEODATO, 2002, p.204). 
52(1992, p. 81).
53(2004, p. XX).
54(DINIZ, 2002, p.197).
53
Isto significa que o processo de interpretação necessita de uma forma 
representativa pela qual uma espiritualidade (subjetividade) consig-
na intenções, vontades, sentimentos, etc., criando a possibilidade de 
uma relação dialética no processo de conhecimento.
Como processo dialético, o conhecimento nega a imediatidade 
do objeto, a sua mera aparência sensível para, uma vez o tendo 
elevado ao plano do pensar, atingir o momento totalizante da 
determinação do seu conceito, isto é, o plano do pensar refle-
tido sobre o objeto enquanto ser, onde se atinge a totalidade 
suprassumida que o caracteriza ser e ente.
A interpretação, portanto, é o momento dinâmico do conheci-
mento da realidade, é o ato de apreendê-la racionalmente, tal qual 
ela se apresente ao sujeito que conhece. Como atividade do logos 
– do ser humano, portanto – ela se dá, ela se exterioriza por meio 
de um processo discurssivo. Surgem, aí, duas conclusões:
a) o ato de interpretar se expressa por meio de signos;
b) o ato de interpretar, porque exteriorizado por signos, insere-se 
num contexto lingüístico-comunicativo e, portanto, cultural; com 
efeito, a atribuição de significados é uma característica essencial do 
agir noético do ser humano sobre a natureza:[..]56.
Sendo a forma representativa o objeto da compreensão, o processo 
de interpretação apresenta um caráter tríplice com os seguintes ele-
mentos: 1) sujeito que objetifica seu pensamento; 2) forma repre-
sentativa; e 3) intérprete.
A relação entre um e outro espírito tem sempre caráter triádico 
(38): o intérprete é chamado a entender o sentido, seja intencio-
nalmente, seja objetivamente reconhecível, ou seja, a comunicar 
com outra espiritualidade através das formas representativas nas 
quais elas tem-se objetivado. A comunicação entre os dois nunca é 
direta, mas sempre mediata por este termo intermediário55.
56(DINIZ, 2002, p. 197).
55(BETTI, 1990a, p.71).
54
A possibilidade de uma Teoria Geral da Interpretação encontra, no 
problema do conhecimento, uma afinidade com a materialização 
da intencionalidade de sujeito a fim de estabelecer a comunicação. 
Os signos sensíveis que são dados exteriores ao sujeito tais como a 
palavra, os escritos, os gestos, as construções, as figuras, os sons for-
mados musicalmente, os modos de conduta, os organismos sociais e 
as normas jurídicas. Tudo isso são objetivações do espírito humano 
que fala e comunica a outra espiritualidade.
Nessa perspectiva o processo de compreensão possui algumas carac-
terísticas comuns: 1) O processo de interpretação pressupõe uma 
postura de caráter emotivo que é dado por um específico interesse 
do intérprete e sua posição em face de um determinado proble-
ma; 2) O processo de interpretação pressupõe uma postura reflexiva 
cujas condições são datas pela percepção ou reevocação mnemônica 
das formas representativas. Existe uma distância temporal entre o 
57(BETTI, 1990a, p. 275). 
58(2003, p. 177).
No processo interpretativo surge o conflito entre a objetividade 
da forma representativa e a subjetividade do hermeneuta. Nesse 
confronto tem-se a questão dos limites para atuação do intérprete 
do Direito frente ao ordenamento jurídico.
Trata-se, na realidade, de se adequar o autor tanto pelo lado 
objetivo – no conhecimento da língua, como ele a conhecia, e 
não somente os seus leitores de origem (que tiveram que fazer 
um análogo esforço para se adequar a ele) - , quanto pelo lado 
subjetivo – no conhecimento da sua vida interior e exterior. 
Trata-se de enquadrar o escrito não só na personalidade do au-
tor, mas também na totalidade da língua e da época histórica a 
qual ele pertence, procurando entender os elementos por meio 
da totalidade e reciprocamente, isto por meio daqueles (27)57.
55
Assim, como Betti observa, é perfeitamente absurdo falar 
de uma objetctividade que não envolva a subjectividade 
do intérprete. Porém, a subjectividade do intérprete deve 
penetrar a estranheza e a alteridade do objecto, ou então 
o intérprete apenas projectar a sua própria subjectivida-
de no objeto de interpretação59.
intérprete e aquele que objetivou a forma representativa sendo ne-
cessário superar a distância entre esses dois sujeitos a fim de compre-
ender osignificado da objetivação de um espírito. Logo, ao contrá-
rio de adotar uma atitude passiva diante da forma representativa, o 
intérprete deve sempre estar empenhado em refletir sobre o sentido 
da forma representativa dentro de um contexto; e 3) O processo de 
interpretação pressupõe uma postura ética e reflexiva do intérpre-
te em relação ao objeto. Essa postura crítica configura-se em dois 
aspectos: (i) a abnegação de si mesmo e (ii) a abertura intelectiva e 
espiritual (uma disposição congenial e fraterna com a espiritualida-
de objetivada na forma representativa). Este aspecto configura uma 
postura de simpatia do intérprete pelo outro espírito que lhe fala 
através de uma objetivação (forma representativa).
Entende-se que existe equívocos quanto à análise da postura crí-
tica e reflexiva especialmente no tocante a abnegação de si mes-
mo. Sparemberger58 desconsidera essa postura ética e reflexiva 
(crítica) em Betti já que “Para BETTI, a interpretação ocorre, 
portanto, quando o sujeito se curva sobre uma forma representa-
tiva que contém aspectos de objetividade real e ideal.”.
A proposta de Betti não desconhece a subjetividade inerente a 
qualquer ser humano tendo em vista que as condições de possibili-
dade do conhecimento estão no sujeito. O autor também reconhe-
ce que a subjetividade do intérprete não pode ser ilimitada uma 
vez que a forma representativa possui uma objetividade limitadora 
da atividade do intérprete.
59(PALMER, 1999, 65).
56
Se realmente Betti condicionasse totalmente o sujeito ao objeto, não 
haveria necessidade de estabelecer os cânones referentes ao sujeito 
que, junto com os cânones do objeto, balizam metodologicamente 
todo o processo de interpretação. Caso a crítica subsista, Betti teria 
inviabilizando seu próprio pressuposto teórico (a teoria kantiana) 
onde o sujeito está no centro do sistema de conhecimento.
O processo de interpretação conclama o intérprete à realização de 
uma tarefa: identificar as razões de determinada forma representa-
tiva e não simplesmente reduzir sua gênese objetivada através de 
um simples nexo de causalidade. A liberdade do intérprete, como 
prerrogativa de qualquer ser humano, não é definível num senso 
puramente negativo e atomístico. Também não é uma faculdade 
da razão que possa ser utilizada de qualquer maneira. A liberdade 
interpretativa possui limites.
O ‘intérprete’, ao contrário, não tem diante de si algo indefini-
damente ‘objetivável’, mas sim algo que só pode ser re-criado 
ou re-presentado dentro dos limites daquilo que já se tornou 
objetivo por ato de outrem. Assim sendo, por mais que o in-
térprete possa desempenhar uma função criadora no ato de in-
terpretar, como efetivamente se dá, a sua ‘criação’ jamais pode 
ir além do ‘desenho intencional’ ou do horizonte daquele que 
lhe cabe compreender e expressar, sem que isto importe em 
considerá-lo sempre jungido à presumida intenção originária 
do autor da forma objetivada60.
60(REALE, 1992, p. 242-243).
A liberdade aparece em Betti como potência de autoderminação reta 
de uma lei de autonomia. A liberdade existe em um momento ante-
rior ao nexo de causalidade que está presente no ato de interpretação. 
Logo, liberdade e nexo de causalidade estão lado a lado no processo 
interpretativo sendo que este último transcende o primeiro.
57
O ato de interpretação não é um processo de criação que se inicia a 
partir do nada61.
É dessa correlação que resulta não ser o conhecimento nem 
cópia de algo dado, nem criação ex nihilo, mas antes uma sín-
tese prospectiva, no sentido de que é uma síntese que se dá 
com autoconsciência de sua implenitude, nos limites de uma 
“distinção” entre termos que jamais poderia deixar de subsistir, 
para se converter em “identidade”62.
O mesmo A. [Betti] acrescenta, porém, que, se de um lado as 
objetivações vinculam a liberdade do espírito que as interpreta, 
nem por isso deixam de provocar uma tendência a rebelar-se 
contra elas, do que resulta “uma luta representa uma dialética 
interior entre espírito atual e objetivações; um contínuo alter-
nar-se de atração e de repulsão, que chega a influir sobre o 
processo interpretativo mesmo, desviando o seu curso e modi-
ficando os seus resultados, o que faz pensar na fórmula mística 
“nec tecum vivere possum nec sine te”63.
O processo de interpretação se desenvolve nesse ambiente de tensão 
entre a objetividade da forma representativa e a subjetividade do in-
térprete64. Buscando garantir o êxito epistemológico do processo de 
interpretação, no terceiro capítulo da Teoria Geral da Interpretação 
Betti desenvolve uma metodologia própria apresentando seus câno-
nes hermenêuticos. Os cânones têm a pretensão de funcionar como 
regras que estão presentes em todos os processos de interpretação 
auxiliando o intérprete.
61Para BETTI (1991, p. 371) nem o artista nem o legislador criam ex nihilo, isto é, a partir do 
nada, sem fundamento ou razão determinante.
62(REALE, 2000, p. 53).
63(REALE, 1992, p. 243).
64“A existência de uma relação qualquer entre autor e intérprete constitui não só a base em que 
pode ocorrer a comunicação através do tempo e do espaço, mas também um problema óbvio para 
a objectividade dos resultados da interpretação. É sobre este problema da forma de reconciliar as 
“condições sujbectivas” com a “objectividade da compreensão”, que Betti se debruça na parte final 
das suas considerações epistemológicas.” (BLEICHER, 1992, p. 54)
58
No contexto da filosofia da consciência proposta por Kant, Betti 
classifica os cânones em função do objeto e do sujeito. Os cânones 
referentes ao objeto possuem a função de limitar a discricionarieda-
de da atividade do hermeneuta mitigando, por assim dizer, o grau 
de subjetividade da interpretação.
A função dos cânones referentes ao objeto, no contexto do Direi-
to, pode ser relacionada com o princípio da segurança jurídica66. 
Um dos objetivos da regulação das condutas pelo Direito é oferecer 
previsibilidade tanto para os cidadãos quanto para o poder públi-
co responsável pela coerção no âmbito do Estado. O princípio da 
segurança jurídica permite que os cidadãos tenham clareza sobre as 
regras de conduta de um determinado Estado. Os cânones referen-
tes ao objeto tentam preservar o princípio da segurança jurídica.
Os cânones referentes ao sujeito atendem outra necessidade da ci-
ência do Direito: a correção da decisão. Nesse ponto é que a teoria 
do conhecimento desenvolvida no pensamento de Emilio Betti faz 
uma interseção profunda na ciência do Direito. Ao se preocupar 
com a correção da decisão, Betti trata do problema crucial da Filo-
sofia do Direito: a Justiça.
Certo de que a Justiça é conceito dos mais discutidos na Filosofia 
do Direito, ao elaborar sua teoria Betti se preocupa tanto com a 
65(MEGALE, 2005, p. 160).
66Adota-se o princípio da segurança jurídica na perspectiva de SILVA (1996, p. 412): “A 
segurança jurídica consiste no “conjunto de condições que tornam possível às pessoas o co-
nhecimento antecipado e reflexivo das conseqüências diretas de seus atos e de seus fatos à luz 
da liberdade reconhecida.”
Na sua metodologia, Betti apresenta quatro cânones a serem 
observados pelo intérprete. Ressalte-se que estes não consti-
tuem formulações dos dias de hoje: o Direito Romano já os 
conhecia. Os jurisconsultos e magistrados punham-nos em 
prática, principalmente fundados em Celso, como se vê no Di-
gesto de Justiniano. Paulo igualmente não os desconheceu65.
59
segurança jurídica quanto com a correção da decisão (com a me-
dida de Justiça da decisão). Esta segunda questão surge no Direito 
quando da solução de um conflito social com a determinação da 
conduta (norma) que possui uma carga axiológica determinante.
O sentido da interpretação deve ser extraído do objeto (objetificado na 
forma representativa) e este deve ser respeitado em sua especificidadee 
suas características elementares. Como cânones do objeto têm-se:
a) Cânone da autonomia (ou da imanência do critério hermenêu-
tico): esse cânone tem por escopo consagrar a autonomia do objeto 
diante do intérprete. Tal autonomia pode ser vista também em rela-
ção ao próprio autor da forma representativa indicando que o obje-
to é algo distinto do ato de volição de seu criador. Se, por um lado, 
há uma profunda relação entre o autor da forma representativa e a 
sua objetivação (a própria forma representativa), por outro, a forma 
representativa ganha autonomia em relação ao seu criador colocan-
do-se no mundo para os demais sujeitos. O cânone da autonomia 
tem a função de estabelecer a razão ou racionalidade da forma repre-
sentativa a partir de sua própria estrutura e existência fenomênica.
A importância desse cânone está na relação do intérprete com a 
forma representativa. Dizer que um objeto (forma representativa) 
possui uma existência própria com características peculiares e ima-
nentes implica em reconhecer que ele possui um sentido que inde-
pende unicamente da vontade subjetiva do intérprete.
Na verdade, se as formas representativas que constituem o obje-
to da interpretação (§1), são essencialmente objetivações de uma 
espiritualidade, a qual nela foi introduzida, é claro que elas de-
vem ser entendidas segundo aquele espírito que está objetivado 
nelas, segundo aquele pensamento que nelas se tornam reconhe-
cível, não ainda segundo um espírito e um pensamento diferente, 
nem segundo um significado que a pura forma pode ser atribuído, 
quando se faça abstração da função representativa a qual seve ela 
respeito aquele espírito e aquele pensamento67.
67(BETTI,1990a,p. 305).
60
Na relação sujeito-objeto o cânone da autonomia possui a função de res-
saltar a existência própria do objeto em relação ao sujeito, sem, contu-
do, condicioná-lo de forma absoluta. É o sujeito que conhece o objeto. 
Contudo, tal conhecimento é limitado, objetivamente, por circunstâncias 
heterônomas ao próprio sujeito.
68(BETTI, 1949, p. 56).
69(BETTI, 1990a, p. 72).
O sentido não é algo criado ou construído pelo intérprete ao seu bel 
prazer, mas algo que deve ser construído a partir do objeto que se 
está interpretando.
Sendo a forma representativa uma objetivação de uma determinada 
espiritualidade é necessária a observância dessa objetivação para al-
cançarmos à compreensão desse objeto. Afasta-se, portanto, do pen-
samento voluntarista que conceitua a lei como um ato de vontade.
[...] por fim d) uma “discricionariedade” de caráter supletivo ou 
complementar, que sirva à adaptação e à especificação da norma a 
variabilidade da fatispecie concreta: exemplo código penal 132-133, 
e) à esta última discricionariedade, que encontra-se na função juris-
dicional, vem comparado a alguém a valorização conduzida com o 
critério da “noções elásticas” e dos “conceitos de valores”, ou seja, 
dos critérios dedutíveis da consciência social, em si extrajurídica, 
mas relevantes pelo tratamento jurídico (6) aos quais referenciam-se 
as normas jurídicas a serem interpretada e aplicadas (7)68.
A concepção voluntarista é essencialmente anti-histórica: considerar 
o Direito positivo como expressão de uma vontade cada vez exclusi-
va e acabada em si mesma, quer dizer por o Direito do lado de fora 
do fluir contínuo da história, e conseqüentemente, se a história é 
racionalidade, quer dizer tirar-se a possibilidade de racionaliza-lo69.
61
O objeto é objeto enquanto posto ou conhecido pelo sujeito e a coisa em 
si não é possível conhecer. A autonomia do objeto não está relacionada 
com a coisa em si, mas com fatores que condicionam o sujeito no conhe-
cimento da coisa em si enquanto objeto cognoscível pelo homem.
Ao tratar dos limites da interpretação traçados por este cânone, a 
teoria de Betti se funda na teoria axiológica de Nicolai Hartmann 
para fazer a conciliação entre a filosofia da consciência de Kant e seu 
cânone da autonomia. Tal conciliação é relacionada com os concei-
tos de objetividade ideal e objetividade real que serão tratados em 
capítulo seguinte.
b) Cânone da Totalidade e Coerência: o cânone da totalidade e da 
coerência prevê que o processo de interpretação deve observar qual 
a extensão do objeto que está sendo interpretado. No momento da 
atividade hermenêutica é necessário observar a dimensão da forma 
representativa. Betti71 fundamenta esse cânone no Evangelho de São 
Mateus, 9, 16-1772 informando que a coerência é uma exigência 
pressuposta a todo processo de compreensão73.
Se sujeito e objeto são termos que reciprocamente se implicam 
e se exigem, mantendo-se heterogêneos, entre os mesmos se es-
tabelece uma tensão pluridimensional somente suscetível de ser 
explicada à luz de uma dialética de implicação-polaridade, que, 
como será esclarecido oportunamente, insere-se no âmbito da 
dialética de complementariedade70.
70(REALE, 2000, p. 49).
71(1990a, p. 308).
72Sobre o fundamento bíblico para tal cânone temos: “Ninguém costura um remendo 
de pano novo numa roupa velha, porque esse pedaço rompe a roupa e o rasgão fica 
maior. Nem se coloca vinho novo em velhos recipientes de couro, porque do contrário 
eles arrebentam, o vinho escorre e os recipientes se estragam. Pelo contrário, põe-se 
vinho novo em recipientes novos e ambos se conservam.”
73“A exigência assim afirmada ou pressuposta poderia ser qualificada como o cânone da 
totalidade e coerência da consideração hermenêutica. Ele se faz presente na correlação 
que intercede entre as partes constitutivas do discurso, com em qualquer objetivação 
do pensamento, e a sua comum referencia a totalidade do qual falem ou ao qual se li-
gam: correlação e referência, que tornam possível a recíproca iluminação do significado 
entre o todo e os elementos constitutivos.”. (BETTI, 1990a, p. 308).
62
74Ordenamento jurídico é observado aqui na perspectiva de BOBBIO (1995, p. 198): A teoria do 
ordenamento se baseia em três caracteres fundamentais a ela atribuídos: a unidade, a coerência, a 
completude; são estas três características que fazem com que o Direito no seu conjunto seja um 
ordenamento e, portanto, um entidade nova, distinta das normas singulares que o constituem.
75(1990a).
O cânone da coerência e da totalidade remonta à ideia de círculo 
hermenêutico que é concebido como uma totalidade orgânica de 
algo que constitua um determinado objeto da atividade interpre-
tativa. Essa totalidade orgânica está ligada pelas partes, existindo, 
assim, uma relação circular entre o “todo” e as “partes” e vice-versa.
O cânone da totalidade e coerência pode ser relacionado, no âmbito 
do Direito, com a ideia de ordenamento jurídico74 que apresenta as 
características da unidade, da coerência e da completude. O ordena-
mento jurídico deve ser compreendido como um complexo de nor-
mas que possuem características peculiares. A ordem jurídica pressu-
põe uma organização hierárquica e sistematizada.
Em relação ao sujeito (intérprete) Betti75 propõe os seguintes cânones:
a) Cânone da atualidade do entendimento: relaciona-se com o in-
térprete da forma representativa e com sua capacidade de atualização 
da forma representativa. A função do cânone da atualidade é chamar 
o intérprete a refazer o caminho do autor da forma representativa 
reconstruindo-a e atualizando-a numa atividade intelectual (pensa-
mento) e, posteriormente, colocando-a em prática por uma ação (ou 
aplicação de um sentido normativo).
O intérprete, diante da forma representativa, interioriza-a na sua pró-
pria experiência por meio de uma transposição do círculo da própria 
vida espiritual que se dá em virtude da síntese com aquilo que é re-
conhecido e reconstruído. O cânone da atualidade possibilita que o 
intérprete se afaste de uma “objetividade ingênua” (denominação de 
Betti) que corresponderia a uma objetividade moldada pela

Outros materiais