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UNIDADE I – Princípios Norteadores do Código Civil	
I.1 – O ideal “Realeano”:
Miguel REALE (“pai do ‘CC’ atual”) - objetivo = implantar um diploma cultural capaz de solucionar concretamente os conflitos da sociedade contemporânea – inspiração – sistema civil alemão aberto e oxigenado por cláusulas gerais – fixam princípios civis fundamentais gerais – princípio = começo, início, a base fundamental em que se apoiam as demais normas que serão aplicadas in concreto
Nosso “CC” atual, baseado na experiência do “CC/16”, no ideal Realeano e no direito civil constitucional possui um “tripé principiológico” fundado na “CF/88”:
	ETICI// (BOA-FÉ)
	SOCIABILI// (FUNÇÃO SOCIAL)
	OPERABILI//
I.2 – Os princípios norteadores do “CC/02” em espécie:
Etici// ou boa-fé – Origem – § 242 do “BGB” (“CC” alemão) – no Brasil ela começa a ser reconhecida em idos de 1970, mas somente é positivada no “CDC” em 1990, e depois no atual “CC”
exige conduta conforme as boas práticas (vide art. 113, 422, “CC”)[1: Nesse sentido o Enunciado n.º 363 das “JDCCJF”: “Art. 422: Os princípios da probidade e da confiança são de ordem pública, sendo obrigação da parte lesada apenas demonstrar a existência da violação.”]
não tolera práticas abusivas (vide art. 187, “CC”)
admite a revisão das relações jurídicas para ajustá-la a esse ethos (art. 478 e 884, “CC”)
A boa-fé incide em 03 esferas:[2: Que serve de vetor comportamental como limitação de práticas à ela contrárias, assim como integra todas as relações, e, por isso mesmo, servindo à interpretação dos casos a serem examinados pelo estudioso e o operador do Direito.]
	INTERPRETAÇÃO
	CRIAÇÃO
	INIBIÇÃO AOS ABUSOS
	releva a dignidade da pessoa humana (art. 1.º, III, “CF/88”), impondo a ética ao fazer refletir como se agiria do outro lado da RJ, sendo o guia para desvendar a ajustar a real intenção das partes – vide art. 112, “CC”, inclusive nos casos de inércia - a supressio se traduz na supressão de 1 direito pelo seu não exercício durante certo tempo, gerando legítima expectativa da outra parte no sentido de que a ele se renunciou (mesmo sem ter havido a prescrição ou decadência), surgindo para a outra parte, em razão disso, a surrectio (vide art. 330, “CC”)
	impõe deveres anexos ao contrato, como os de zelo, probidade, cuidado, cooperação, coerência, em todas as suas etapas, seja antes de sua formação, a sua falta conduz à responsabilidade civil por culpa in contrahendo, seja após o seu término (post pactum finitum)- - pelo nemo venire contra factum proprium se proíbe obter proveito de um comportamento contraditório – ex: se levo 1 mercadoria consignada e fico com ela indefinidamente, não posso simplesmente pretender devolvê-la[3: “Conta-corrente. Apropriação do saldo pelo banco credor. Numerário destinado ao pagamento de salários. Abuso de direito. Boa fé. Age com abuso de direito e viola a boa fé o banco que, invocando cláusula contratual constante do contrato de financiamento, cobra-se lançando mão do numerário depositado pela correntista em conta destinada ao pagamento de salários de seus empregados, cujo numerário teria sido obtido junto ao BNDES. A cláusula que permite esse procedimento é mais abusiva do que a cláusula mandato, pois, enquanto esta autoriza apenas a constituição do título, aquela permite a cobrança pelos próprios meios do credor, nos valores e no momento por ele escolhidos.” (STJ, Ac., 4.ª Turma, REsp. 25.052-3/SP, rel. Min. Ruy Rosado de Aguiar Jr., v.u., j. 19.10.2000. DJU 18.12.2000, p.203).][4: “RECURSO ESPECIAL. CIVIL E PROCESSUAL CIVIL. VIOLAÇÃO DO ARTIGO 535 DO CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL. AUSÊNCIA. DECLARATÓRIOS PROCRASTINATÓRIOS. MULTA. CABIMENTO. CONTRATO. FASE DE TRATATIVAS. VIOLAÇÃO DO PRINCÍPIO DA BOA-FÉ. DANOS MATERIAIS. SÚMULA Nº 7/STJ. 1. Não há falar em negativa de prestação jurisdicional se o tribunal de origem motiva adequadamente sua decisão, solucionando a controvérsia com a aplicação do direito que entende cabível à hipótese, apenas não no sentido pretendido pela parte. 2. "No caso, não se pode afastar a aplicação da multa do art. 538 do CPC, pois, considerando-se que a pretensão de rediscussão da lide pela via dos embargos declaratórios, sem a demonstração de quaisquer dos vícios de sua norma de regência, é sabidamente inadequada, o que os torna protelatórios, a merecerem a multa prevista no artigo 538, parágrafo único, do CPC' (EDcl no AgRg no Ag 1.115.325/RS, Rel. Min.Maria Isabel Gallotti, Quarta Turma, DJe 4/11/2011). 3. A responsabilidade pré-contratual não decorre do fato de a tratativa ter sido rompida e o contrato não ter sido concluído, mas do fato de uma das partes ter gerado à outra, além da expectativa legítima de que o contrato seria concluído, efetivo prejuízo material. 4. As instâncias de origem, soberanas na análise das circunstâncias fáticas da causa, reconheceram que houve o consentimento prévio mútuo, a afronta à boa-fé objetiva com o rompimento ilegítimo das tratativas, o prejuízo e a relação de causalidade entre a ruptura das tratativas e o dano sofrido. A desconstituição do acórdão, como pretendido pela recorrente, ensejaria incursão no acervo fático da causa, o que, como consabido, é vedado nesta instância especial (Súmula nº 7/STJ). 5. Recurso especial não provido.” (REsp. 1.051.065/AM - Relator(a): Ministro RICARDO VILLAS BÔAS CUEVA - TERCEIRA TURMA - Data do Julgamento: 21/02/2013 - Data da Publicação/Fonte: DJe 27/02/2013).][5: Vide o Enunciado n.º 170 das “JDCCJF”: “Art. 422: A boa-fé objetiva deve ser observada pelas partes na fase de negociações preliminares e após a execução do contrato, quando tal exigência decorrer da natureza do contrato.”][6: “AGRAVO REGIMENTAL NO AGRAVO EM RECURSO ESPECIAL. SEGURO DE VIDA. IDOSOS. RESCISÃO UNILATERAL IMOTIVADA APÓS ANOS DE RENOVAÇÃO. DANOS MORAIS. CABIMENTO. JUROS DE MORA. TERMO INICIAL. PRECEDENTES. 1. A jurisprudência desta Corte já se posicionou no sentido de que "a rescisão imotivada do contrato, em especial quando efetivada por meio de conduta desleal e abusiva - violadora dos princípios da boa-fé objetiva, da função social do contrato e da responsabilidade pós-contratual - confere à parte prejudicada o direito à indenização por danos materiais e morais". (REsp. 1.255.315/SP, Rel. Min. Nancy Andrighi). 2. A egrégia Segunda Seção firmou o entendimento de que, "no caso de dano moral puro, a quantificação do valor da indenização, objeto da condenação judicial, só se dar após o pronunciamento judicial, em nada altera a existência da mora do devedor, configurada desde o evento danoso. A adoção de orientação diversa, ademais, ou seja, de que o início da fluência dos juros moratórios se iniciasse a partir do trânsito em julgado, incentivaria o recorrismo por parte do devedor e tornaria o lesado, cujo dano sofrido já tinha o devedor obrigação de reparar desde a data do ato ilícito, obrigado a suportar delongas decorrentes do andamento do processo e, mesmo de eventuais manobras processuais protelatórias, no sentido de adiar a incidência de juros moratórios" (REsp 1.132.866/SP, Rel. p/ Acórdão Min. Sidnei Beneti). 3. Agravo regimental não provido.” (AgRg no AREsp 193.379/RS - Relator(a): Ministro RICARDO VILLAS BÔAS CUEVA - TERCEIRA TURMA - Data do Julgamento: 02/05/2013 - Data da Publicação/Fonte: DJe 09/05/2013).][7: Nesse sentido o Enunciado n.º 25 das “JDCCJF”: “Art. 422: O art. 422 do Código Civil não inviabiliza a aplicação pelo julgador do princípio da boa-fé nas fases pré-contratual e pós-contratual.”]
	serve como dever de não abusar (as normas sobre boa-fé devem ser confrontadas com o art. 187, “CC”) - não pode o agente aproveitar-se dos benefícios oriundos do atuar abusivo pelo tu quoque, incumbindo ao mitigar o próprio prejuízo (incorpora-se a doutrina norte americana do duty to mitigate the loss)-, tal como se observa, por exemplo, no campo dos contratos de seguro (vide art. 769 e 771, “CC”)[8: Significa a quebra de confiança, baseada na famosa expressão de Júlio César ao constatar a traição de Brutus, proferindo: “Tu quoque,
Brute?”, ou seja, “Até tu, Brutus?”][9: vide Enunciado 539 das “JDCCJF”: “O abuso de direito é uma categoria jurídica autônoma em relação à responsabilidade civil. Por isso, o exercício abusivo de posições jurídicas desafia controle independentemente de dano.” Ou seja, mesmo que não haja dano, a vítima do abuso pode submetê-lo ao controle judicial simplesmente porque hoje ele é considerado um ilícito contrário à ideologia do “sistema civil”.][10: Inspirado no art. 77 da Convenção de Viena sobre a venda internacional de mercadorias de 1980.][11: Enunciado n.º 169, das “JDCCJF”: “o princípio da boa fé objetiva deve levar o credor a evitar o agravamento do próprio prejuízo.”][12: Ex.: não é porque pago seguro que estou autorizado a atravessar um “sinal vermelho”.]
O resultado dessa “nova” forma de agir é a materialização da função social da propriedade (art. 5.º, XXIII, “CF/88”), dos contratos e das empresas (art. 170, III, “CF/88”), impedindo a ausência de solidarie//, os abusos deliberados (art. 187, “CC”), os excessos de vantagens que o liberalismo admitia, estabelecendo verdadeira simbiose entre esse princípio e o da sociabili//
Sociali// (ou Sociabili//) ou da função social = realiza o triunfo da pessoa humana, do eu coletivo e funcional sobre o individualismo medievo: 
A pessoa humana é o centro do ordenamento jurídico brasileiro (vide art. 1.º, III, “CF/88”)
Ela está na sociedade, portanto, o direito atende a um “eu social” (eu me importo com os outros que devem se importar comigo)
A função social impõe 1 análise funcionalizante de cada caso apresentado
Institutos como: proprie//, contrato, empresa, posse, etc. devem ser funcionais ou funcionalizados (vide art. 113 e 421, 1.239 e ss. “CC”)[13: “DIREITO DAS SUCESSÕES. REVOGAÇÃO DE CLÁUSULAS DE INALIENABILIDADE, INCOMUNICABILIDADE E IMPENHORABILIDADE IMPOSTAS POR TESTAMENTO. FUNÇÃO SOCIAL DA PROPRIEDADE. DIGNIDADE DA PESSOA HUMANA. SITUAÇÃO EXCEPCIONAL DE NECESSIDADE FINANCEIRA. FLEXIBILIZAÇÃO DA VEDAÇÃO CONTIDA NO ART. 1.676 DO CC/16. POSSIBILIDADE. 1. Se a alienação do imóvel gravado permite uma melhor adequação do patrimônio à sua função social e possibilita ao herdeiro sua sobrevivência e bem-estar, a comercialização do bem vai ao encontro do propósito do testador, que era, em princípio, o de amparar adequadamente o beneficiário das cláusulas de inalienabilidade, impenhorabilidade e incomunicabilidade. 2. A vedação contida no art. 1.676 do CC/16 poderá ser amenizada sempre que for verificada a presença de situação excepcional de necessidade financeira, apta a recomendar a liberação das restrições instituídas pelo testador. 3. Recurso especial a que se nega provimento.” (REsp. 1.158.679/MG - Relator(a): Ministra NANCY ANDRIGHI - TERCEIRA TURMA - Data do Julgamento: 07/04/2011 - Data da Publicação/Fonte: DJe 15/04/2011, RBDFS, vol. 22, p. 130).]
No âmbito da função social dos contratos, por ex.: repudia-se o contrato que descumpre a sua função social como o de seguro que expõe o segurado a situação de desamparo, quando deveria garantir sua proteção, como se deu com a famigerada cláusula de tempo de internação em “UTI’s” – o “STJ” acabou “sumulando” a questão obrigando o plano de saúde a manter o paciente internado enquanto fosse necessário à salvaguarda de sua vida, enquanto valor constitucional supremo e inviolável (art. 5.º, caput, “CF/88”)
Na função social da empresa, admite-se a penhora que varia de 0 a 30% da renda empresarial, de acordo com as circunstâncias comprovadas, a fim de atender funcionalmente, de um lado, ao interesse do credor, e, de outro lado, se preserva percentual relevante para evitar a crise empresarial
Na função social da família, substitui-se a noção oitocentista de família-patrimônio pelo de família-instrumento. Por exemplo, o art. 1.857, “CC/02”, trata dos limites da testamentaria (disposição testamentária). O “STJ” enfrentou a questão no REsp. n.º 196, de 08/08/89, sob a Relatoria do saudoso Ministro Sálvio de Figueiredo Teixeira (RSTJ n.º 3/1.075), onde se admitiu a testamentaria em favor da convivente (ou seja, a que vive em legítima união estável, à luz do art. 226, § 3.º, “CF/88”) ao passo que a mesma testamentaria não é admitida à concubina (que vive em união “adulterina”, ou seja, concubinato com pessoa casada)
Operabili// = instrumento de solução pontual e efetiva dos conflitos a partir da utilidade concreta das normas:[14: Relembra TARTUCE a outra função do princípio da operabilidade, tal como imaginado por REALE, que consiste em definir, conceituar institutos para melhor operação do sistema civil, tais como prescrição, decadência, abuso de direito, dentre outros.]
mais que preciosismo ou purismo abstrato, a norma deve concretizar sua função, sendo ela plástica e moldável às reais necessidades dos jurisdicionados (o sistema atual é um sistema de interpretação aberto – a norma de solução do caso concreto não incide sozinha, mais do que isso, se estabelece um diálogo constante e inevitável dela com as cláusulas gerais de boa-fé e de função social em todos os campos civis)
o juiz não é mais a mera “boca da (letra fria da) lei”, mas sim, um intérprete constante e criativo que estabelece um diálogo constante entre o “CC” e esses “princípios” da boa-fé e da função social, especialmente, com a “CF/88”, atingindo o máximo de performance das normas do ordenamento – busca-se com isso um misto ideal de segurança e flexibili//
I.3 - A CONCRETIZAÇÃO DESSES PRINCÍPIOS:
de nada vale a intentio legis se ela não for efetivada na prática – na nossa jurisprudência, felizmente, encontramos ressonância ao ideal “Realeano” aplicando efetivamente os princípios cunhados no “CC”:
“APELAÇÃO CÍVEL. AÇÃO CIVIL PÚBLICA AJUIZADA PELO MINISTÉRIO PÚBLICO. Exclusão de cobertura de custeio de tratamento para câncer através de quimioterapia via oral de uso domiciliar. Descabimento. Violação da boa-fé objetiva, bem como da função social do contrato. Previsão de cobertura para a patologia em questão. Impossibilidade de vedação quanto à forma de tratamento. Dignidade da pessoa humana que deve ser respeitada diante do tratamento mais moderno que proporciona melhora na qualidade de vida do doente, reduzindo o tempo de internação. Cláusula nula por manifesta abusividade. Efeito erga omnes conforme previsão do artigo 103 do CDC. Lei especial. Possibilidade de condenação em honorários advocatícios sucumbenciais. Artigo 20 do CPC. Vencido, em parte mínima, o desembargador relator que entendia pela aplicação analógica do disposto no artigo 18 da lei 7.347/1985, Reformando a sentença de procedência apenas para excluir a obrigatoriedade pelo pagamento dos honorários. Recurso conhecido e desprovido.” (TJRJ – Ap. Civ. 0051403-54.2010.8.19.0001 – Rel.: DES. CLAUDIO DE MELLO TAVARES – DECIMA PRIMEIRA CAMARA CIVEL – Julgamento: 05/12/2012). (Destaques nossos).[15: Eis aí o Princípio da Etici//.][16: Eis aí o Princípio da Sociabili//.][17: Eis aí o Princípio da Operabili//.]

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