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4. AÇÃO PENAL 
 
4.1. Introdução 
 
A “ação” é classificada como o direito público, subjetivo e abstrato de se pedir ao Estado-Juiz a prestação 
da tutela jurisdicional para o reconhecimento, manutenção ou defesa de um direito. É através da ação que se de-
duz uma pretensão, provocando o Judiciário para o exercício da jurisdição, visando à aplicação da lei ao caso 
concreto. 
A jurisdição, uma vez provocada por meio da ação, passa a atuar através do processo. 
O processo penal de conhecimento, dependendo da pretensão deduzida, poderá ser de natureza conde-
natória, declaratória, constitutiva e, ainda, para alguns, mandamental. 
Devemos lembrar que a revisão criminal, o habeas corpus, o mandado de segurança, e a ação de reabili-
tação são espécies de ação, porém, em nenhum deles vislumbramos pretensão condenatória. Estes institutos 
são considerados ações autônomas de impugnação e não recursos, muito embora o CPP/1941 as considere, 
equivocadamente, como tal. 
A revisão criminal é uma ação constitutiva negativa, na qual se pretende a desconstituição da coisa julga-
da. Já o habeas corpus e o mandado de segurança podem ser declaratórios ou constitutivos. Quanto à ação de 
reabilitação, muitos a consideram declaratória, outros constitutiva. 
Entretanto, quando ouvimos a expressão AÇÃO PENAL, de imediato nos vem à mente a ação penal de 
natureza condenatória, através da qual o autor pretende a satisfação do direito de punir do Estado. 
Isso mesmo! Devemos sempre lembrar que o direito de punir é estatal, motivo pelo qual o art. 100 do CP 
dispõe que “toda ação penal é pública, salvo quando a lei expressamente a declara privativa do ofendido”. Tam-
bém por este mesmo motivo a Constituição de 1988, em seu art. 129, I, entregou a titularidade da ação penal pú-
blica, privativamente, ao Ministério Público, que “personifica” o Estado-sociedade na relação jurídico-processual 
penal. Daí falarmos que o Ministério Público presenta (e não representa) o Estado, já que é o próprio Estado em 
juízo, exercendo o direito de ação, deduzindo sua pretensão punitiva. 
 
4.2. Da legitimidade para a ação penal condenatória 
 
Como vimos, o Ministério Público “é o próprio Estado” no exercício do direito de ação, deduzindo sua pre-
tensão punitiva. Fala-se, neste caso, em legitimidade ordinária para o exercício do direito de ação penal. 
Através da leitura do mesmo art. 100 do CP, percebemos que, em determinados casos, excepcionalmen-
te, o direito de ação é entregue ao ofendido (vítima), surgindo assim a legitimidade extraordinária da vítima para o 
exercício do direito de ação. 
Legitimidade Ordinária: É do próprio Estado, que exerce sua legitimidade através do Ministério Público. 
Por isso, podemos dizer que o legitimado ordinário é o Ministério Público, que deduz em juízo pretensão punitiva 
que lhe pertence. 
Legitimidade Extraordinária: Nos crimes de ação penal de iniciativa privada, o direito de ação é entre-
gue ao ofendido/vítima, que detém legitimidade extraordinária para, em seu próprio nome, deduzir uma pretensão 
punitiva que, em verdade, pertence ao Estado (já que, como antes dito, o direito de punir é estatal). A vítima, nos 
casos de ação penal privada, é a legitimada extraordinária. 
Substituição Processual: Quando a vítima exerce a legitimidade extraordinária que lhe foi concedida pe-
la lei, oferecendo a queixa crime, através da qual requer, ao final da petição, o julgamento da procedência do pe-
dido, com fins de aplicação da sanção penal, está deduzindo em juízo pretensão punitiva que em verdade perten-
ce ao Estado. Assim, a vítima, ao exercer a legitimidade que lhe foi legalmente deferida, figura como substituta 
processual do Estado, já que deduz em nome próprio pretensão punitiva que pertence a este. 
Representante legal: No Processo Penal, o representante legal é alguém que, em nome da vítima, vai 
buscar direito que pertence ao Estado (direito de punir). Ou seja, nas hipóteses de ação penal privada, muito em-
bora a lei tenha conferido a legitimidade extraordinária à vítima, nem sempre ela detém legitimidade processual 
que lhe permita exercer o direito de ação. Nos casos de incapacidade da vítima, seja por ser ela menor de 18 
(dezoito) anos - o Processo Penal utiliza este critério cronológico -, seja por outros motivos de incapacidade, deve-
rá ela estar representada. A figura do representante legal supre a ilegitimidade processual da vítima tanto nas 
hipóteses de ação penal privada como na ação penal pública condicionada à representação. A falta de represen-
tação legal, quando se faz necessária, caracteriza-se como falta de um pressuposto processual de validade; po-
dendo ser regularizada até a sentença. 
Sucessão Processual: Trata o art. 31 do CPP dos sucessores processuais. Quando a vítima, legitimada 
extraordinária, morre ou é declarada ausente, a legitimidade para o exercício do direito de ação passa ao cônjuge, 
 
 
 
 
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ascendente, descendente ou irmão. Para a maioria dos autores, o rol do art. 31 é taxativo e, muito embora pareça 
hoje uma incoerência, não se pode incluir neste rol a figura do convivente em união estável. Muitas críticas exis-
tem a este posicionamento. Além disso, devemos estar atentos ao art. 36 do CPP, que indica existir uma preva-
lência na ordem sucessória. Mas o que isso significa? Caso o cônjuge, após a morte do ofendido, não queira 
exercer o direito de queixa, poderá o filho exercê-lo? Sim, pode! Prevalência na ordem sucessória não significa 
exclusão. 
Representação Legal Subsidiária: Muitas vezes o ofendido é menor de 18 (dezoito) anos ou por outro 
motivo incapaz e não possui representante legal. Ou ainda há casos em que o representante tem interesses con-
flitantes com os do representado. Nestes casos, o art. 33 do CPP prevê a nomeação de um curador especial pelo 
Juiz. Este curador especial é o representante legal subsidiário. 
Legitimidade Concorrente: Atualmente, duas são as hipóteses de legitimidade concorrente no Processo 
Penal. A primeira é a que ocorre na ação penal privada subsidiária da pública: quando o Ministério Público fica 
inerte, desrespeitando o prazo previsto no art. 46, caput, do CPP, ofendendo a obrigatoriedade da ação penal, 
surge para a vítima legitimidade para a queixa subsidiária, por um prazo de seis meses, contados da inércia do 
Ministério Público. Entretanto, o prazo do referido art. 46 é impróprio, não preclui, ainda sendo possível ao Ministé-
rio Público, mesmo após o prazo, o oferecimento da denúncia, a promoção de arquivamento ou a devolução dos 
autos à delegacia para a continuidade das investigações. Assim, nos casos em que possível a ação penal privada 
subsidiária, ocorre legitimidade concorrente entre o legitimado extraordinário (vítima) e o legitimado ordinário (Mi-
nistério Público), prevalecendo na titularidade da ação aquele que agir primeiro. O segundo caso está consagrado 
no enunciado da Súmula 714 do STF, que dispõe: “É concorrente a legitimidade do ofendido, mediante queixa, e 
do ministério público, condicionada à representação do ofendido, para a ação penal por crime contra a honra de 
servidor público em razão do exercício de suas funções.” 
No caso do menor de 18 (dezoito) anos vir a completar a maioridade (18) durante o decurso do prazo de-
cadencial já em curso para o seu representante legal, de acordo com entendimento dominante, embora o prazo 
decadencial do representante já estivesse em curso, a vítima, ao completar 18 anos, terá, a partir desta data, seis 
meses para o oferecimento da queixa crime. 
 
4.3. Condições para o regular exercício do direito de ação 
 
No Processo Penal, muitos autores, com amparo no posicionamento do professor Afrânio Silva Jardim, 
considerama justa causa como uma quarta condição da ação. O tema é controverso, sendo certo que outros 
autores a encaram como um requisito necessário ao exercício do direito de ação e à própria análise das condi-
ções decorrentes da Teoria Geral do Processo, mas não propriamente como uma condição. 
Requisito ou condição, é certo que a justa causa se faz necessária ao oferecimento de uma denúncia ou 
queixa que tenham chance de recebimento, o que foi consagrado pela nova redação do art. 395 do CPP (alterada 
pela Lei no. 11.719/2008), qual seja: a denúncia ou queixa será rejeitada quando: for manifestamente inepta; faltar 
pressuposto processual ou condição para o exercício da ação penal; ou faltar justa causa para o exercício da ação 
penal. 
Art. 395. A denúncia ou queixa será rejeitada quando: 
I - for manifestamente inepta; 
II - faltar pressuposto processual ou condição para o exercício da ação penal; ou 
III - faltar justa causa para o exercício da ação penal. 
 
 
Justa Causa é a existência de lastro ou suporte probatório mínimo (prova da existência do crime e indícios 
suficientes de autoria) extraído de peças de informação, de forma a se evitar uma acusação temerária. 
 
4.4. Diferenças entre as Ações Penais Pública e Privada: princípios regentes 
 
A principal distinção entre as ações penais de iniciativa pública e privada dá-se exatamente na legitimida-
de para o exercício do direito de ação, que, como já visto, encontra-se, na ação penal pública, nas mãos do pró-
prio Estado, através do Ministério Público, e, na ação penal privada, foi entregue extraordinariamente à vítima. 
Da mesma forma, distinguem-se ação penal pública e privada em razão do nome da exordial ou petição 
inicial, chamada de denúncia no primeiro caso, e de queixa crime no segundo. Entretanto, denúncia e queixa 
devem conter os mesmos requisitos intrínsecos para o seu recebimento, conforme se extrai do art. 41 do CPP. 
 
Art. 41. A denúncia ou queixa conterá a exposição do fato criminoso, com todas as suas circunstân-
cias, a qualificação do acusado ou esclarecimentos pelos quais se possa identificá-lo, a classificação 
do crime e, quando necessário, o rol das testemunhas. 
 
 
 
 
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Contudo, a grande distinção entre as ações penais pública e privada surge na análise dos princípios que 
as regem, conforme se pode observar na tabela abaixo: 
 
Princípios da Ação Penal Pública Princípios da Ação Penal Privada 
Oficialidade – 
Obrigatoriedade (ou Legalidade) 
Oportunidade ou Conveniência (discriciona-
riedade) 
Indisponibilidade Disponibilidade 
(In)divisibilidade Indivisibilidade *** 
Intranscendência Intranscendência 
 
***A indivisibilidade da ação penal privada impede a utilização de critérios de vingança pessoal, devendo o 
Ministério Público atuar como órgão fiscalizador. 
Problema surge na definição de como deverá o Ministério Público intervir, para o que surgem correntes 
doutrinárias distintas. 
 
Sintetizando as correntes doutrinárias... 
1ª. corrente: atualmente minoritária 
Inquérito Queixa Ministério Público Juiz 
Indícios de 
autoria em 
face de ‘A’ e 
‘B’ 
Oferecida so-
mente em face 
de ‘A’ 
Diante dos indícios de autoria em face 
de ‘B’, o MP, como custos†legis† e fiscal 
da indivisibilidade da ação penal priva-
da, deve aditar a queixa para incluir o 
mesmo no polo passivo da ação penal. 
Referido aditamento decorre dos arts. 
48 c/c 45 do CPP. 
Recebe a queixa e o 
aditamento, instau-
rando-se o processo 
em face de ‘A’ e ‘B’. 
 
2ª. corrente: Até pouco tempo considerada MAJORITÁRIA 
Inquérito Queixa Ministério Público Juiz 
Indícios de 
autoria em 
face de ‘A’ e 
‘B’ 
Oferecida so-
mente em face 
de ‘A’ 
Verificando que existem indícios sufici-
entes de autoria também em face de ‘B’, 
sem que a vítima querelante o tenha 
incluído na queixa crime, o MP opina 
pela renúncia tácita em favor de B, que, 
na forma do art. 49 do CPP, deve ser 
estendida a A. 
Declara extinta a pu-
nibilidade de A e B 
pela renúncia tácita. 
 
3ª. corrente: Cada vez mais adotada, e recentemente utilizada pelo STJ no julgamento do HC 
186.405/RJ 
Inquérito Queixa Ministério Público Juiz 
Indícios de 
autoria em 
face de ‘A’ e 
‘B’ 
Oferecida so-
mente em face 
de ‘A’ 
Não havendo como verificar se a exclu-
são de B teria ocorrido de forma delibe-
rada, o MP deverá requerer seja a pró-
pria vítima querelante intimada para 
promover o aditamento da queixa, sob 
pena de renúncia. 
Intima a vítima para 
que, dentro de 3 (três) 
dias, promova o adi-
tamento da queixa, 
para fins de inclusão 
de B, sob pena de 
renúncia. 
 
 
4.5. Ação Penal Privada Subsidiária da Pública 
 
A Constituição de 1988, como vimos, entregou ao Ministério Público a titularidade privativa da ação penal 
pública. Entretanto, foi o mesmo texto constitucional que garantiu a permanência, no ordenamento jurídico, da 
ação penal privada subsidiária da pública, já que o art. 5º., inciso LIX, da Constituição assegura: “será admitida 
ação privada nos crimes de ação pública, se esta não for intentada no prazo legal”. 
 
 
 
 
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Quando o membro do Ministério Público fica inerte, desrespeitando o prazo previsto no art. 46 do CPP, 
surge para a vítima legitimidade extraordinária, sem que desapareça a legitimidade ordinária do MP que, mesmo 
após o prazo, poderá oferecer denúncia, devolver os autos para a delegacia, ou requerer o arquivamento. Trata-
se de hipótese de legitimidade concorrente, prevalecendo quem agir primeiro. 
Quando a vítima oferece queixa subsidiária, aplica-se o art. 29 do CPP, e, antes de decidir acerca do seu 
recebimento, o juiz ouvirá o Ministério Público, que poderá aditar a queixa (hipótese na qual se forma um litiscon-
sórcio, em que o MP passa a figurar como assistente litisconsorcial), repudiá-la oferecendo, se presentes as con-
dições da ação, denúncia substitutiva, ou ainda opinar por seu recebimento, hipótese na qual irá intervir em todos 
os termos do processo, podendo, ainda, propor prova. O MP poderá ainda recorrer de decisões interlocutórias, já 
que também é legitimado. 
Contudo, uma vez oferecida e recebida a queixa subsidiária, instaura-se processo de ação penal privada 
subsidiária da pública, no qual vigora o princípio da indisponibilidade, já que o crime é, em verdade, de ação penal 
pública. Assim, não se aplicam à hipótese os institutos do perdão e da perempção, que configurariam negligência 
da vítima, ensejando a retomada da titularidade da ação por parte do Ministério Público (a todo tempo, no caso de 
negligência do querelante, retomar a ação como parte principal). 
Devemos considerar que, na hipótese de retomada do polo ativo pelo MP, o processo volta a ser de ação 
penal pública, aplicando-se o art. 385 do CPP. 
 
4.6. Natureza jurídica da representação e da requisição nos crimes de ação penal pública condicionada. 
 
Nas infrações de ação penal pública condicionada, o Ministério Público somente poderá oferecer a denún-
cia se presente, além das condições genéricas para o exercício do direito de ação, mais um requisito, consistente 
na representação do ofendido (ação penal pública condicionada à representação) ou na requisição do Ministro da 
Justiça (ação penal pública condicionada à requisição). 
Assim, representação do ofendido e requisição do Ministro da Justiça são condições específicas de pro-
cedibilidade. 
A representação do ofendido nada mais é que uma manifestação inequívoca de vontade, que independe 
de maiores formalidades, podendo ser extraída, por exemplo, de um simples depoimento da vítima em sede poli-
cial. A representação, da mesma forma que a queixa crime nas infrações de ação penal privada, sujeita-se ao 
prazo decadencial de 6 meses previsto no art. 38 do CPP, que deve sercontado a partir da data em que a vítima 
vier a saber quem foi o autor do fato. 
A representação é retratável até o oferecimento da denúncia, sendo ainda possível a retratação da retra-
tação, desde que dentro do prazo decadencial de 6 meses, ressalvadas as hipóteses de infrações de menor po-
tencial ofensivo. 
Exceção ocorre no caso de crimes praticados no âmbito da violência doméstica e familiar contra a mulher. 
Neste caso, em sendo o crime de ação penal pública condicionada à representação, a retratação da representa-
ção é possível até o recebimento da denúncia, na presença do juiz, em audiência especialmente realizada para tal 
fim, a requerimento da ofendida (art. 16, da Lei 11.340/2006). 
Ressalte-se ainda que, nos crimes de ação pública condicionada à representação, a retratação da repre-
sentação (art. 25 do CPP) equivale à renúncia ao direito de representação, a qual, diferentemente da renúncia ao 
direito de queixa (art. 107, V, do CP), não se caracteriza como causa extintiva da punibilidade. Exatamente por tal 
motivo, mesmo tendo renunciado ao direito de representação, a vítima, mudando de ideia, poderá procurar a auto-
ridade policial, o Ministério Público, ou mesmo comparecer em juízo, indicando que deseja apresentar sua repre-
sentação, desde que o faça dentro dos 6 (seis) meses decadenciais contados da data em que soube quem era o 
autor do fato (art. 38 do CPP). 
A requisição do Ministro da Justiça, no entanto, é irretratável e não se sujeita a prazo decadencial, con-
forme entendimento doutrinário dominante. 
Outrossim, devemos lembrar que nem a representação, nem a requisição do Ministro da Justiça vinculam 
o Ministério Público, que formará a opinio delicti em razão da presença ou ausências das condições da ação. 
 
4.7. Do Assistente de Acusação 
 
A vítima nas ações penais públicas pode pleitear sua habilitação como assistente da acusação, com o ob-
jetivo de acompanhar de perto o processo crime, e auxiliar na produção da prova. Devemos lembrar que a vítima 
ou ofendido tem direito líquido e certo à reparação do dano, em face do disposto no art. 91, I, do CP. 
A habilitação do assistente é possível a partir do momento em que a acusação é formalmente exercida pe-
lo Ministério Público, ou seja, desde o momento em que oferecida a denúncia até o trânsito em julgado da senten-
ça. Contudo, quando deferida a habilitação do assistente, este pega a causa no estado em que se encontrar. 
 
 
 
 
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O requerimento de habilitação do assistente de acusação deve ser feito através de advogado, uma vez 
que necessária a capacidade postulatória. Entretanto, deve ficar claro que o assistente de acusação é a vítima e 
não o advogado da mesma, que apenas se manifesta no patrocínio dos interesses daquela. 
Como assistente de acusação a vítima deixa de funcionar como mero depoente nos autos podendo propor 
provas, perguntar as testemunhas, participar dos debates orais, apresentar memoriais e arrazoar recursos inter-
postos pelo Ministério Público ou por ele mesmo. Contudo, sua participação encontra-se limitada ao rol taxativo do 
art. 271 do CPP, uma vez que a vítima não possui legitimidade. Por tal motivo não é possível, por exemplo, uma 
interpretação extensiva daquele dispositivo no que se refere ao aditamento ao libelo, que foi extinto pela reforma 
implementada pela Lei nº 11.689/08. Não é, assim, permitir ao assistente de acusação aditar denúncias. 
Importante ainda indicar que corréus não podem figurar como assistentes de acusação. 
O requerimento de habilitação do assistente não garante para vítima seu deferimento. Antes de decidir, o 
juiz deve ouvir o Ministério Público e, no caso de indeferimento judicial, a decisão é irrecorrível. Entretanto, doutri-
na e jurisprudência entendem que será possível impetrar mandado de segurança1. Se a vítima possui direito líqui-
do e certo, a reparação do dano, e a habilitação como assistente de acusação é um meio de facilitar a reparação, 
teria a vítima direito líquido e certo a figurar como assistente. 
Uma vez habilitado, o assistente de acusação deve demonstrar interesse constante, o processo prosse-
guirá independentemente de nova intimação do assistente, quando este, intimado, deixar de comparecer a qual-
quer dos atos da instrução ou do julgamento, sem motivo de força maior devidamente comprovado, como dispõe o 
art. 271, § 2º do CPP. 
Relevante ainda a discussão sobre a legitimidade do assistente de acusação para interposição de recur-
sos, mas trataremos do tema especificamente na apostila de Recursos. 
Nos processos do Tribunal do Júri também é possível que a vítima requeira sua habilitação como assis-
tente de acusação. Contudo, sua participação na sessão de julgamento depende de que seu requerimento de 
habilitação ocorra em até 5 (cinco) dias antes da sessão (art. 430 do CPP). Mas, da mesma forma que nos pro-
cessos de competência dos juízos singulares, não comparecimento do assistente de acusação não impede o jul-
gamento, que ocorrerá normalmente (art. 457 do CPP). 
O assistente de acusação, durante a sessão de julgamento, poderá formular perguntas diretamente ao 
ofendido, às testemunhas e ao acusado, após perguntas do Ministério Público (arts. 473 e 474 do CPP), e, duran-
te os debates, falará após este (art. 476). 
 
5. AÇÃO CIVIL EX DELICTO 
 
Uma das consequências da prática de uma infração penal é a obrigatoriedade na reparação do dano so-
frido pela vítima (artigo 91, inciso I, do CP). 
Chama-se ação civil ex delicto o processo de natureza cível decorrente da prática de um crime. Trata-se 
de processo regido pelas regras do direito processual civil. Contudo, uma vez que a jurisdição é una, a decisão 
proferida no processo criminal pode acarretar consequências na esfera cível. 
Praticada uma infração penal, a vítima pode, desde logo, ajuizar um processo cível de conhecimento ou 
pode aguardar a decisão criminal, já que, em caso de condenação, a sentença penal condenatória irrecorrível faz 
coisa julgada também no juízo cível, ou seja, é título executivo judicial cível. 
A vítima de um crime pode, portanto, ajuizar desde logo o processo cível competente em busca da repa-
ração do dano por ela sofrido, ou ainda aguardar eventual solução sobre aquela conduta delituosa na esfera pe-
nal, para, em sendo condenado o infrator, já de posse do título judicial, executá-lo na esfera cível. Caso faça a 
opção pela propositura da ação cível de reparação do dano diretamente, sem aguardar o eventual deslinde da 
questão penal, a vítima ou seus sucessores deverão estar atentos ao disposto no art. 315 do novo CPC (Lei 
13.105/2015)2. 
Importante destacar que são legitimados para a ação civil ex delicto o ofendido, seu representante legal ou 
seus herdeiros. 
 
1 "O art. 273 do Código de Processo Penal disciplina, de forma expressa, o não cabimento de qualquer recurso contra a decisão que admite ou não o assis-
tente de acusação, sendo certo que, caso evidenciada flagrante ilegalidade no referido ato, lhe restaria a via do mandado de segurança.” (STJ, RHC 
31667 ES, de 28/05/2013, DJe 11/06/2013). 
2 Dispõe o CPC (Lei 13.105/2015): Art. 315. Se o conhecimento do mérito depender de verificação da existência de fato delituoso, o juiz pode determinar a 
suspensão do processo até que se pronuncie a justiça criminal. § 1o Se a ação penal não for proposta no prazo de 3 (três) meses, contado da intimação do 
ato de suspensão, cessará o efeito desse, incumbindo ao juiz cível examinar incidentemente a questão prévia. § 2o Proposta a ação penal, o processo ficará 
suspenso pelo prazo máximo de 1 (um) ano, ao final do qual se aplicará o disposto na parte final do § 1o. 
 
 
 
 
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É comum, portanto, que a vítima ou seus sucessores, diante do que dispõe o art. 315 doCPC, aguardem 
a solução do fato delituoso na esfera penal. Fato é que, até a reforma do CPP em 2008, a sentença penal conde-
natória trânsita em julgado configurava título judicial certo e exigível, porém não era líquido. Com a reforma im-
plementada pela Lei no. 11.719/08, o inciso IV do art. 387 do CPP passou a dispor: 
 
Art. 387. “O juiz, ao proferir sentença condenatória: 
IV - fixará valor mínimo para reparação dos danos causados pela infração, considerando os prejuízos 
sofridos pelo ofendido; 
 
Portanto, hoje, ao condenar o réu criminalmente, o juiz deve fixar o quantum debeatur mínimo na senten-
ça, que, transitando em julgado, poderá desde logo ser executada perante o juízo cível, sem prejuízo da liquida-
ção do “plus”. 
Contudo, a jurisprudência vem entendendo que a fixação dos valores na sentença condenatória criminal 
somente poderá ocorrer em crimes praticados após a vigência da nova redação do inc. IV do art. 387 do CPP, e 
desde que respeitados os princípios da inércia, do contraditório e da ampla defesa. Vejamos: 
 
RECURSO ESPECIAL. PENAL E PROCESSUAL PENAL. HOMICÍDIOS DUPLAMENTE QUALIFI-
CADOS CONSUMADOS E HOMICÍDIO DUPLAMENTE QUALIFICADO TENTADO. REPARAÇÃO 
PELOS DANOS CAUSADOS À VÍTIMA PREVISTA NO ART. 387, INCISO IV, DO CÓDIGO DE 
PROCESSO PENAL. NORMA DE DIREITO PROCESSUAL E MATERIAL. IRRETROATIVIDADE. 
NECESSIDADE DE PEDIDO EXPRESSO. SUBMISSÃO AO CONTRADITÓRIO. RECURSO ESPE-
CIAL A QUE SE NEGA PROVIMENTO. 1. A regra do art. 387, inciso IV, do Código de Processo Pe-
nal, que dispõe sobre a fixação, na sentença condenatória, de valor mínimo para reparação civil dos 
danos causados ao ofendido, é norma híbrida, de direito processual e material, razão pela que não se 
aplica a delitos praticados antes da entrada em vigor da Lei n.º 11.719/2008, que deu nova redação 
ao dispositivo. 2. Para que seja fixado na sentença o início da reparação civil, com base no art. 387, 
inciso IV, do Código de Processo Penal, deve haver pedido expresso do ofendido ou do Ministério 
Público e ser oportunizado o contraditório ao réu, sob pena de violação ao princípio da ampla defesa. 
Precedentes. 3. Recurso desprovido. 
(STJ. REsp 1.193.083-RS. Quinta Turma. Rel. Ministra Laurita Vaz. J. 20/08/2013, DJe 27/8/2013. In-
formativo 528 do STJ) 
 
Por outro lado, caso o réu venha a ser absolvido no processo criminal, a sentença absolutória não impedi-
rá, via de regra, um processo cível de conhecimento, no qual o ofendido poderá tentar demonstrar a responsabili-
dade civil do agente sobre o fato praticado. Também não impedem a ação civil ex delicto o despacho de arquiva-
mento do inquérito ou das peças de informação e a decisão que julgar extinta a punibilidade. 
Entretanto, impedem a ação civil ex delicto a absolvição fundada na inexistência material do fato (art. 66, 
CPP) e em excludentes de ilicitude (art. 65, CPP). 
Problema diz respeito à absolvição por negativa de autoria. Poderia a vítima, em caso de absolvição do 
réu por negativa de autoria, promover a ação cível de reparação de dano? Lógico que sim, contudo, a toda evi-
dência, não em face daquele réu absolvido, e, caso o faça, caberá a este o direito de regresso (art. 128 do novo 
CPC, ou seja, Lei 13.105/2015)3. 
Devemos estar atentos ao que dispõe o artigo 68 do CPP, que dá ao Ministério Público legitimidade para 
promover a ação civil ex delicto nos casos em que a vítima é pobre. Referido dispositivo não é mais aplicável, uma 
vez que a CRFB/88 definiu que ao Ministério Público incumbe a tutela dos direitos sociais, difusos, coletivos e 
homogêneos, não se lhe incumbindo a tutela de direitos individuais disponíveis (art. 127 da CRFB). O disposto no 
art. 68 do CPP configura hipótese de inconstitucionalidade progressiva, uma vez que o acesso à justiça nestes 
casos está hoje garantido pela institucionalização da Defensoria Pública. 
 
 
 
 
 
 
 
3 Vejamos o que decidiu o STJ no AgRg no AREsp 105.683/MG, de 23/06/2015, DJe 03/08/2015: "É pacífico no âmbito desta Corte o entendimento de que, 
devido à relativa independência entre as instâncias, a absolvição no juízo criminal somente vincula o cível quando reconhecida a inexistência do fato ou 
declarada a negativa de autoria, o que não é o caso dos autos." 
 
 
 
 
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