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Prova de cidadania e responsabilidade social

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(1) De acordo com o “Leviatã” de Thomas Hobbes e com as discussões em sala de aula, redija um 
texto dissertativo comentando a seguinte afirmação de N. Bobbio (1991: 60): ​“O estado civil não 
nasce para salvar a liberdade do indivíduo, mas para salvar o indivíduo da liberdade, já que 
esta o conduz à ruína.”​ Na resposta, explique detalhadamente o conceito de ​estado de natureza​. 
 
 
A fim de explicar a relação entre o estado civil, liberdade e ruína dos indivíduos segundo 
Hobbes, é necessário primeiro explicitar como o autor entende o estado de natureza dos homens, na 
ausência de um poder comum, e quais as consequências dessa ausência. Nesse sentido, também 
torna-se importante definir, segundo Hobbes, como se dá o entendimento do que é justo ou injusto, 
certo ou errado, já que esta discussão ética permeia todos os demais tópicos. 
O estado de natureza como definido por Hobbes pressupõe três condições: a ausência de 
um poder comum, estabelecido na figura do Estado Civil; a igualdade de capacidade de todos os 
homens em corpo e espírito, de forma que todos almejam igualmente atingir seus objetivos; e a 
escassez de bens, de forma que nem tudo está disponível para todos. Nessas condições, não 
haveria lei que protegesse os homens uns dos outros, de forma que a competição, a desconfiança e 
o desejo pela glória, causas da discórdia, levariam ao ataque por antecipação e consequentemente, 
a uma guerra de todos contra todos. É importante notar ainda que essa condição nada tem a ver com 
instintos primitivos e selvagens, mas é um processo inteiramente racional no qual o homem raciocina 
e maquina formas de se impor sobre os outros antecipadamente. 
Uma analogia para melhor entendimento dos conceitos pode ser feita à partir do filme ensaio 
sobre a cegueira, que explora uma sociedade distópica na qual os indivíduos tornam-se 
repentinamente cegos, com exceção de uma personagem. Nesse contexto, é estabelecida uma nova 
sociedade, à parte do poder estatal, na qual os indivíduos dependem exclusivamente de si para sua 
proteção e manutenção da vida. Durante o decorrer do filme, observa-se claramente o surgimento de 
determinados indivíduos, como o autoproclamado “rei da ala 3”, que buscam se antecipar sobre os 
demais na busca pelos recursos escassos como a comida, e a forma como esta situação conduz ao 
caos na instalação. 
Como exposto, a ausência do estado civil deixa os homens livres para fazer o que for, 
entretanto, essa mesma liberdade é o que os conduz à ruína - ou à guerra, como definido por 
Hobbes a condição na qual não há comércio, navegações ou indústrias, não existe justiça ou 
propriedade e a vida torna-se solitária embrutecida e curta. Nesse sentido, o estado civil nasce com o 
objetivo de “salvar” os indivíduos da própria liberdade, que os conduziria à uma condição indesejável 
de guerra, através do estabelecimento de normas e leis, definidas em acordo comum, que restrinjam 
a liberdade dos indivíduos para o bem estar geral. 
 
 
(2) Em conformidade com o livro “Justiça” de Michael Sandel e com as discussões em sala de aula, 
redija um texto dissertativo: 
(a) apresentando e explicando a ​definição de utilitarismo​, as duas ​objeções que lhe são 
apresentadas e a ​resposta​ a essas objeções; 
(b) caracterizando os conceitos centrais do ​ideal libertário​ e a ​noção de Estado​ a ele relacionada; 
(c) apresentando e explicando as duas ​formulações do imperativo categórico e a noção de 
liberdade​ defendida por Kant. 
 
 
No livro Justiça, de Michael Sandel, o autor discorre sobre diversas noções sobre o que é 
justo/certo ou injusto/errado entre elas, destacam-se três correntes principais: o utilitarismo de 
Benthan e Mill; o libertarianismo de Nozick; e a deontologia de Kant. Cada um deles, aborda a 
questão ética de uma determinada maneira, sendo os dois primeiros focados nas consequências de 
cada ação, e o último com enfoque muito maior para os princípios por trás de cada ação. 
O utilitarismo é uma corrente filosófica que pensa a ética a partir do conceito fundamental de 
utilidade, sendo aqui utilidade definida com prazer e felicidade, opondo-se à dor e o sofrimento. 
Nesse sentido, a máxima utilitarista para definir se algo é moralmente correto baseia-se na noção de 
maximização da utilidade, de forma que, se o cálculo de consequências prazerosas for maior que o 
cálculo das consequências de dor, a ação é definitivamente justa. No capítulo sobre o tema, Sandel 
apresenta duas objeções comumente feitas ao utilitarismo de Benthan (com foco em intensidade e 
duração), e a resposta de Mill para ambas (acrescentando uma dimensão qualitativa à questão). 
A primeira objeção ao princípio utilitarista trata dos direitos individuais, afirmando que a 
lógica utilitarista não seria capaz de assegurá-los. Mill argumenta que o cálculo de consequências 
deve ser feito sempre a longo prazo de forma que as decisões seriam tomadas visando 
consequências mais abrangentes no futuro, e não apenas no agora. Segundo Mill, este fato seria 
suficiente para acarretar no respeito dos direitos individuais no presente. A segunda objeção é a 
afirmativa de que o utilitarismo erra ao reduzir valores distintos a uma moeda comum, 
particularmente uma medida monetária. No entanto, Mill não a considera válida e argumenta que o 
utilitarismo reconhece a existência de certos prazeres mais elevados que outros, sendo dessa forma 
impossível reduzi-los a uma mesma medida. 
A outra corrente que pensa a ética à partir das consequências de cada ação é o 
libertarianismo. O ideal libertário parte de dois princípios básicos: a propriedade sobre bens, sobre o 
corpo e sobre a própria vida; e a liberdade individual, definida nesse sentido como o direito (ou não 
impedimento) de fazer o que desejar, desde que não afete as outras pessoas e sua propriedade. 
Nesse sentido, é interessante notar que ambas as correntes citadas parecem concordar na questão 
do respeito aos direitos individuais, entretanto, o utilitarismo os defende apenas com base em futuras 
consequências de maximização da utilidade, enquanto os libertários os defendem por si só, 
independentemente das consequências futuras, sendo invioláveis sob quaisquer circunstâncias. 
Partindo do pressuposto da necessidade do estado para que a condição de guerra seja 
evitada, e a fim de que seja possível atingir plenamente os dois princípios libertários, torna-se 
necessário que haja um “estado mínimo”, cujas funções básicas seriam: cumprir os contratos; 
proteger a propriedade dos indivíduos e manter a segurança. Um estado com essas características 
não poderia, portanto, apresentar paternalismos que busquem proteger as pessoas de si mesmas, 
moralismos que imponham certas concepções sobre o que é bom para os indivíduos ou mesmo 
realizar a redistribuição de renda e riqueza entre o povo, visto que essa prática implicaria em uma 
violação da propriedade dos mais ricos em função dos mais pobres. 
Em contrapartida aos ideais expostos até o momento, Kant apresenta uma concepçãodiferente de moral, baseada não nas consequências futuras, mas sim nos princípios por trás das 
ações humanas. A deontologia se opõe ao utilitarismo, por considerar que deixa vulneráveis os 
direitos individuais e que a moralidade não pode se basear apenas em concepções individuais de 
prazer, bem como ao libertarianismo, por defender que os homens que seguem seus desejos não 
são realmente livres, mas são escravos de fatores biológicos ou sociais que se impõe sobre eles 
(agem por inclinação devido à heteronomia). Para Kant, portanto, a liberdade humana consiste em 
agir com autonomia, seguindo a razão em detrimento do desejo. Ao utilizar a razão na tomada de 
decisões, o homem estaria agindo por dever e sua ação seria moralmente correta. 
Nesse sentido, Kant formula duas máximas que seriam capazes de definir se uma ação é 
moralmente correta. O chamado de imperativo categórico, em suas duas formas, consistiria em uma 
ordem que se impõe sobre todo ser racional e não admite exceção. A primeira formulação consiste 
em verificar se a ação em questão poderia ser universalizada, isto é, constituir uma lei a ser seguida 
por todos sem que haja perda em seu próprio sentido. Já a segunda maneira consiste em analisar se 
determinada ação trata da humanidade como um fim em si mesma, e nunca apenas como um meio. 
Como visto, as três correntes apresentam formas distintas de se entender a mesma questão, 
entretanto, cada uma fornece contribuições importantes para a discussão, já que o entendimento da 
moral e da liberdade são de extrema importância para a construção da cidadania e, 
consequentemente, de uma sociedade mais justa para todos.

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