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En tr e Jo ve n s • L ín g ua P or tu g ue sa • G ui a d o Tu to r • 3 a s ér ie d o En si n o M éd io • Vo lu m e I IN ST IT U TO U N IB A N C O GUIA DO TUTOR Volume 1 Língua Portuguesa 3ª série do Ensino Médio Entre Jovens 3ª série do Ensino Médio: guia do tutor língua portuguesa. – São Paulo: Instituto Unibanco/CAEd, 2013. 212 p.; Vol I Coordenação do material Juliana Irani do Amaral Pesquisa e conteúdo CAEd – Centro de Políticas Públicas e Avaliação da Educação Consultoria responsável CAEd – Centro de Políticas Públicas e Avaliação da Educação Agradecimentos especiais Secretaria Municipal de Educação do Rio de Janeiro, Secretarias de Estado de Educação do Rio de Janeiro, São Paulo, Espírito Santo e Minas Gerais e escolas parceiras que contribuíram para a testagem e validação da Metodologia Entre Jovens. Realização Instituto Unibanco Presidência Pedro Moreira Salles Vice-Presidência Pedro Sampaio Malan Conselho Antonio Matias Cláudio de Moura Castro Cláudio Luiz da Silva Haddad Marcos de Barros Lisboa Ricardo Paes de Barros Tomas Tomislav Antonin Zinner Thomaz Souto Corrêa Netto Wanda Engel Diretoria Executiva Fernando Marsella Chacon Ruiz Gabriel Amado de Moura Jânio Gomes José Castro Araujo Rudge Leila Cristiane B. B. de Melo Luis Antônio Rodrigues Marcelo Luis Orticelli Superintendência Executiva Ricardo Henriques Gerência de Implementação de Projetos Tiago Borba Gerência de Desenvolvimento e Conteúdo Marta Grosbaum Gerência de Gestão do Conhecimento Mirela de Carvalho Gerência de Administração e Finanças Fábio Santiago Assessoria de Assuntos Estratégicos Christina Fontainha Assessoria de Comunicação Marina Rosenfeld Assessoria de Voluntariado Fabiana Mussato SUMÁRIO Apresentação A LEITURA NA ESCOLA: por uma concepção de texto e leitor OFICINA 1 O TEXTO ARGUMENTATIVO: um diálogo sobre o valor do conhecimento e da leitura OFICINA 2 O TEXTO ARGUMENTATIVO: analisando a estrutura de argumentações OFICINA 3 A NARRATIVA LITERÁRIA: contos brasileiros OFICINA 4 A NARRATIVA LITERÁRIA: o conto contemporâneo OFICINA 5 LENDO POEMAS E FALANDO DE POESIA OFICINA 6 A POESIA MODERNISTA OFICINA 7 O TEXTO EXPOSITIVO: divulgando a ciência OFICINA 8 A CRÔNICA: um olhar sobre o cotidiano MATRIZ DE REFERÊNCIA DE LÍNGUA PORTUGUESA DO SAEB PARA A 3ª SÉRIE DO ENSINO MÉDIO 9 13 17 43 67 91 113 143 163 185 207 APRESENTAÇÃO Caro tutor, Este caderno pretende auxiliá-lo na tarefa de conduzir oficinas de Língua Portuguesa, como atividade de tutoria a alunos da terceira série do Ensino Médio da rede pública de ensino. São oito oficinas que têm a leitura como sua principal atividade. Acreditamos que a leitura deve estar no centro da atividade escolar. São muitos os dados – de avaliações externas e pesquisas – que nos mostram a ainda baixa proficiência em leitura de nossos jovens, não obstante os muitos anos de permanência na escola. A dificuldade de interpretar os textos que circulam na sociedade e na escola ajuda a explicar a própria resistência à leitura que nossos alunos costumam tão frequentemente manifestar. Esse quadro tem, sem dúvida, reflexos no seu desempenho escolar. Nas oficinas propostas, portanto, sua tarefa principal será “ensinar a ler”. O que significa, para nós, ensinar a ler? Significa desenvolver habilidades e estratégias de leitura, significa ensinar os alunos a agirem como agem leitores mais experientes, mais proficientes. Trabalhar com textos é a melhor forma de ensinar Língua Portuguesa. Conforme você verá, muitos conhecimentos sobre a nossa língua serão trabalhados nas oficinas. Também a partir da leitura de textos, os alunos serão convidados a conhecer nossa literatura, do passado e do presente. É ainda a atividade de leitura que permitirá aos alunos refletir sobre como se organizam vários gêneros textuais, e essa reflexão é fundamental para realizar outra importante tarefa das oficinas: a de ensinar a escrever textos. As oficinas foram organizadas a partir de uma tipologia de textos: argumentativos, narrativos, expositivos, instrucionais, poéticos. Nosso material de leitura traz textos de opinião, editoriais de jornais, crônicas, notícias, reportagens, textos publicitários, contos, poemas etc. Procuramos incluir uma variedade de textos por acreditarmos também que há estratégias específicas para abordarmos gêneros específicos. Na medida do possível, procuramos organizar as oficinas fazendo dialogar textos sobre um mesmo tema. Essa é uma forma de construir espaços nos quais a leitura esteja no centro de um diálogo sobre questões importantes para nós e para nossa sociedade. Para a leitura dos textos, elaboramos um conjunto de “atividades de leitura”, cuja finalidade é ajudá-lo a mediar o contato do aluno com os textos, apontando para as pistas relevantes que guiam a construção de sentidos que é a leitura. Acreditamos que esse exercício de diálogo atento com o texto, inicialmente conduzido por um mediador mais experiente, possa oferecer aos nossos leitores em formação instrumentos para que se tornem leitores mais atentos, estratégicos e autônomos. Para ajudar a organizar seu trabalho, cada unidade subdivide-se nas seguintes seções: 1. Objetivos da oficina – em que se listam os objetivos do trabalho naquela oficina. 2. Textos para leitura – onde são apresentadas “breves leituras” dos textos selecionados, com indicação de aspectos relevantes de sua organização estrutural e dos recursos linguístico-discursivos utilizados. 3. Roteiro para o trabalho nas oficinas – onde se descreve, passo a passo, a dinâmica da oficina. 4. Atividades de leitura (comentadas) – onde se apresentam as atividades de leitura a serem feitas pelos alunos, preferencialmente por escrito, com a mediação do tutor. São questões de leitura que visam “modelar” estratégias de leitor proficiente. Nessa seção, abaixo de cada atividade, são apresentadas “possibilidades de respostas”. Incluímos também, a cada questão, os respectivos “descritores”1.Devem ser observados, ainda, os comentários relativos ao propósito das questões propostas. Gostaríamos de esclarecer, no entanto, que: • As “leituras” dos textos, apresentadas na seção 2, são apenas uma das leituras possíveis para o texto proposto. Conforme veremos adiante, ao discutirmos a concepção de texto e leitor que fundamenta este material, um texto pode ser lido de formas diferentes. Nosso propósito, ao apresentar uma leitura comentada, fundamenta-se, basicamente, na necessidade de apontarmos, nos textos em questão, aspectos relevantes de sua macro e microestrutura, de modo a possibilitar o estudo do gênero e o desenvolvimento das habilidades a ele relativas. • Os roteiros apresentados são também sugestões que procuram dinamizar o trabalho, propondo atividades em grupo ou individuais, leitura silenciosa ou em voz alta etc. O tutor deve considerar o andamento das oficinas ao seguir o roteiro. No entanto, nosso propósito de desenvolver habilidades de leitura não pode prescindir do contato pessoal, individual do aluno com o texto, contato que deve ser mediado pelo tutor. • As atividades de leitura – seção 4 – incluem, no caderno do tutor, “possibilidades de respostas”. Insistimos em uma concepção de leitura que considera a atuação subjetiva do aluno leitor, que deve apresentar “suas respostas” e fundamentá-las. Desse modo, o tutor, diante das variedades de leituras que possam surgir, deve estar atento à forma como os alunos dialogam com o texto, procurando reconhecer as pistas que eles consideraram ou mesmo as que deixaram de considerar. Em resumo, as respostas às atividades de leituraapresentadas neste caderno não são as únicas autorizáveis. Para realizarmos um bom trabalho, é importante considerarmos, ainda, as orientações que se seguem a cada atividade de leitura. A indicação dos descritores aponta para as habilidades de leitura em foco em cada uma das questões. Essa informação é complementada por comentários que pretendem explicitar o propósito das atividades de leitura, bem como mostrar como essas 1 Descritores da Matriz de Referência de Língua Portuguesa do Saeb 2001 para o 3º ano do Ensino Médio (em anexo) atividades estão relacionadas numa sequência que pretende “guiar” o leitor no seu exercício de identificar as pistas de leitura relevantes. Muitas questões, por exemplo, chamam a atenção para o título dos textos, propõem a relação do título com outra informação textual. Outras apontam para escolhas lexicais e gramaticais discursivamente relevantes etc. Em algumas oficinas, propomos atividades de produção de textos após as atividades de leitura. Escrever é uma atividade que demanda um tempo maior. Sugerimos que o tutor oriente a escrita dos alunos, a partir das sugestões apresentadas no guia, e que eles desenvolvam seus textos como atividade de casa, caso não haja tempo para fazê-lo durante a oficina. De qualquer forma, é imprescindível que o tutor dedique algum tempo à correção/comentários dos textos com os alunos, o que poderá ser feito durante as oficinas, enquanto o grupo realiza suas tarefas. Por fim, este caderno traz também um texto que apresenta a concepção de texto e leitor que fundamenta essa prática e discute o papel do professor no ensino da leitura. Trata-se de uma leitura essencial para que você, tutor, possa compreender a importância de seu papel como mediador nas atividades de leitura propostas nas oficinas. Acreditamos que, nessas oficinas de leitura, os alunos possam, com a sua ajuda, aprender a ler de forma mais competente. Acreditamos também que esse aprendizado possa, pelo enfrentamento das dificuldades, revelar aos jovens o prazer de ler. Bom trabalho! Este texto pretende discutir o aprendizado da leitura na escola, assumindo uma concepção de texto e leitor que sustente a prática de leitura que propomos para a formação de jovens leitores, estudantes de nossas escolas públicas de ensino básico. A experiência nos tem mostrado que a distância entre o jovem e a leitura pode ser diminuída se a atividade de ler deixar de ser tão trabalhosa – o que requer aprendizado sistemático – e for reconhecida pelos alunos, com a ajuda da escola, como uma atividade necessária nas complexas sociedades letradas que construímos. Por outro lado, a leitura pode tornar-se, além de uma atividade reconhecidamente necessária, uma atividade divertida, prazerosa. Acreditamos que a escola ensina a gostar de ler quando se compromete em fazer de seus alunos leitores mais competentes e, ao mesmo tempo, cria espaços de diálogo com textos que oportunizem experiências de reflexão e cidadania, contextualizando as práticas de leitura. Para que esse projeto de formação de leitores se consolide é necessário que a leitura esteja no centro da prática escolar, constituindo-se mesmo no eixo que poderá promover o diálogo tão necessário entre as disciplinas curriculares (Kleiman & Moraes 1999). Particularmente, nas aulas de Língua Portuguesa, o olhar do “especialista”, ou seja, do professor de linguagem, deve organizar e promover práticas de leitura que permitam desenvolver nos leitores em formação “habilidades de leitor proficiente”. (Kato 1985; Kleiman 1989). A aquisição de habilidades para abordar os mais diferentes gêneros de texto, por outro lado, requer sistematicidade na organização do planejamento da disciplina, e o professor tem um papel central na formação do leitor, particularmente na tarefa de mediar as atividades de leitura formulando questões que “guiem” os leitores nesse percurso de aprendizagem. Um projeto dessa natureza prevê a adoção de novas categorias para a organização de um programa sistemático da disciplina Língua Portuguesa que, acreditamos, seja eficiente para a constituição de leitores competentes: um programa que considere, inicialmente, uma tipologia de textos e alcance, ao fim, o estudo dos recursos linguístico-discursivos mais diretamente associados a cada um dos diferentes gêneros elencados. Um bom programa poderia organizar-se, por exemplo, a partir dos seguintes tipos de textos: narrar, relatar, instruir, expor, argumentar. Dessas seis categorias derivam subcategorias de gêneros: editoriais, cartas de leitor, textos de opinião, ensaios, que compõem a categoria “argumentar”; contos, crônicas, romances, novelas, que compõem a categoria “narrar”; notícias, reportagens, biografias, que compõem a categoria “relatar” etc.2 2 A categorização que propomos distingue os gêneros do “narrar” como aqueles pertencentes ao universo da ficção, da história “inventada”, e os do “relatar” como gêneros relativos ao fato ocorrido, “real”. Essa diferenciação tem se mostrado eficiente para os propósitos didáticos de ensino da leitura a partir de uma tipologia de textos. Para uma introdução à teoria dos gêneros, sugerimos MEURER, BONINI & MOTTA-ROTH 2005). A LEITURA NA ESCOLA por uma concepção de texto e leitor Esse tipo de programa, conforme podemos observar, possibilita alterar a organização curricular por conteúdos e coloca o estudo da teoria, da metalinguagem – que por muito tempo ocupou posição central no ensino de linguagem – em posição de menor evidência, reconhecendo nesse estudo uma função secundária na tarefa de construção de usuários eficientes da língua. O projeto de transformar nossos programas de Língua Portuguesa em programas ocupados essencialmente com o ensino da leitura nos parece duplamente eficiente: ler e aprender a ler na escola é um projeto que pode fazer sentido para os jovens, que costumam queixar-se, bastante lucidamente, da falta de sentido da escola. E, o mais importante, responde a uma urgência num país que precisa ampliar o acesso à leitura e melhorar seus índices de proficiência. Qualquer projeto que pretenda formar leitores hábeis e autônomos exige sistematicidade e uma formação especializada para a leitura e para o ensino de leitura. Nesse sentido, recuperamos brevemente, na seção seguinte, algumas contribuições teóricas que acreditamos já bastante conhecidas pelos professores que atuam na escola básica e por estudiosos interessados na leitura e no ensino da leitura. São teorias que contribuíram para embasar muitos dos textos oficiais que nos servem como parâmetros para a organização de nossos programas de ensino de Língua Portuguesa e que têm aqui a função de fundamentar a prática de leitura que propomos. Contribuições teóricas: por uma concepção de texto e leitor São premissas fundamentais do trabalho com leitura que propomos: I) a leitura é uma construção subjetiva de sujeitos leitores que atuam sobre o texto a partir de um conjunto de conhecimentos acumulados; II) o significado, portanto, não está no texto, o texto nos oferece um conjunto de pistas que guiam o leitor na tarefa de construção de sentido que é a leitura; III) além de atividade cognitiva, a leitura é também empreendimento interativo mediado pelo texto, que permite o diálogo com um interlocutor ausente. A adesão a essas postulações teóricas tem implicações óbvias para o trabalho do professor. A primeira delas diz respeito a uma prática ainda corrente que cerceia os processos de leitura em sala de aula ao impor como correta ou mais autorizável a leitura do professor ou do livro didático. Essa prática aponta para uma concepção de leitura radicalmente diversa da que aqui assumimos. Os livros didáticos costumam indicar, nos manuais do professor, a “resposta certa” nas atividades de leitura e, em muitos casos, as respostas do livro didático são apontadas como a únicaleitura possível. O resultado mais prejudicial disso é que, ao assumir esse tipo de procedimento, o professor estará inibindo o exercício de interação dos alunos com o texto, exercício que, envolvendo “acertos” e “erros”, deve constituir o centro do trabalho do professor de linguagem. O ensino da leitura prevê o exercício cotidiano daquilo que faz um leitor proficiente quando lê: o exercício de levantar hipóteses e checá-las, o exercício de confirmar ou descartar hipóteses iniciais, o de retornar a partes dos textos ou mesmo relê-lo para refinar a compreensão, o exercício de inferir o significado de termos desconhecidos em atenção ao contexto local, o exercício de selecionar as pistas relevantes que podem melhor guiar os leitores na tarefa de construir sentido. Toda essa fecunda atividade costuma ser anulada nas aulas de leitura que sobrepõem as “leituras autorizadas” àquelas que nossos alunos nos oferecem a partir de seus conhecimentos e experiências ou mesmo de suas possibilidades de interação com os textos que lhes apresentamos. Não estamos assumindo com isso que toda leitura produzida na sala de aula seja autorizável e deva ser acatada sem questionamentos pelo professor. Há certamente leituras que os textos não autorizam, ou seja, aquelas que não encontram fundamentação suficiente nas pistas textuais. Um rico exercício de leitura, a propósito, é justamente o de solicitar que os alunos fundamentem as leituras feitas. Em alguns casos, o resultado desse exercício será o descarte, pelo aluno, de sua construção inicial. Em outros casos, porém, o professor poderá perceber uma possibilidade de leitura ainda não cogitada por ele, professor, ou mesmo uma contribuição coerente com o processo de maturação de determinado leitor ainda em formação3. Essa compreensão da leitura como empreendimento cognitivo e interacional que estamos assumindo tem, ainda, implicações relativas ao arranjo do espaço interativo onde se produzirão as leituras que pretendem formar leitores. A sala de aula deverá constituir-se num espaço de interação em que os textos circulem e sejam objeto de leitura compartilhada. Os alunos partilham suas leituras entre si e com o professor. Este, no entanto, tem um papel definido no processo: o de mediar os processos de construção de sentido, de modo a “guiar” o leitor em formação em seu percurso de aprendiz. Através de exercícios sistemáticos (como o de localizar informações, o de levantar hipóteses e confirmá-las, o de produzir inferências, o de relacionar informações etc), o professor vai modelando estratégias metacognitivas de abordagem do texto (Kleiman 1993), ou seja, vai possibilitando que o jovem leitor aprenda a proceder como os leitores mais experientes. Nessa atividade de interação do aluno com o texto, o professor deve atuar, acima de tudo, fazendo perguntas, de modo que os alunos recuperem pistas relevantes, questionem-se sobre avaliações ou hipóteses equivocadas, corrijam rumos. É bastante comum que nós, professores, diante das dificuldades de nossos alunos, leiamos para eles, oferecendo as respostas, o que deve ser evitado. Aprender a ler exigirá exercício, envolverá trabalho. Daí a importância da leitura silenciosa, do contato solitário do aluno com o texto, que, em seu esforço de compreensão, deverá, por sua vez, ser estimulado a fazer perguntas. Por outro lado, em alguns casos, a leitura em voz alta pelo professor pode ter o seu lugar. Uma formação para o ensino de leitura é fundamental para que o profissional possa tomar decisões a respeito dessas e de outras estratégias pedagógicas. É importante que o professor esteja atento também a uma prática bastante comum em aulas de leitura como as que aqui estamos propondo. O professor deve cuidar para que suas aulas de leitura não se transformem em debates que abandonam o texto e passam a discutir os temas em questão sem dar atenção à “voz” do autor. O aluno deve interagir autonomamente com os textos que lê, o que implica, exatamente, uma “escuta” atenta que leve em conta as sinalizações várias que o texto oferece para que possamos depreender sua intenção comunicativa e com ele dialogar. Acreditamos que é esse exercício cotidiano, focado no desenvolvimento de habilidades de leitura, que garantirá a formação de leitores competentes, proficientes. Acreditamos também que esse trabalho é resultado de um trabalho sistemático que considere as particularidades de determinados tipos e gêneros de textos. 3 A sala de aula pode, dessa forma, constituir-se num espaço privilegiado de investigação, de pesquisa, que permite ao professor refletir sobre suas práticas e sobre os processos de aprendizagem da linguagem. Referências bibliográficas MEURER, J. L.; BONINI, A. & MOTTA-ROTH, D. Gêneros – teorias, métodos e debates. São Paulo: parábola Editorial, 2005. KLEIMAN, A. B. & MORAES, S.E. Leitura e Interdisciplinaridade: tecendo redes nos projetos da escola. Campinas, SP: Mercado das Letras, 1999. KLEIMAN, A. B. Leitura: Ensino e Pesquisa. São Paulo: Pontes, 1989. KLEIMAN, A. B. Oficina de leitura: teoria e prática. Campinas, SP: Pontes, 1993. KOCH, I. V & ELIAS, V. M. Ler e compreender – os sentidos do texto. São Paulo: Contexto, 2006. KOCH, I. V. O texto e a construção dos sentidos. São Paulo: Contexto O TEXTO ARGUMENTATIVO um diálogo sobre o valor do conhecimento e da leitura OFICINA 1 Begma Tavares Barbosa Pr o je to E nt re J o ve ns 19 1. OBJETIVOS 1. Motivar os alunos para as oficinas do projeto. 2. Promover uma discussão sobre o valor do conhecimento e da leitura. 3. Desenvolver a habilidade de ler argumentações. 4. Introduzir o estudo sistemático da argumentação, trabalhando as noções de tese e argumento. 2. TEXTOS PROPOSTOS PARA LEITURA Texto I – “Ensinando a voar” – Gilberto Dimenstein O texto de Gilberto Dimenstein reúne dois relatos de vida, conta as histórias de Expedito Resende, um cientista brasileiro hoje reconhecido por suas invenções, e de seu pai José Parente, “inventor do inventor.” Os relatos ocupam as quatro primeiras partes do texto e, na última, o autor constrói uma breve argumentação, tomando os relatos como evidências de sua tese (ou de suas teses): “Envolvimento na educação dos filhos, culto ao empreendedorismo e reverência ao aprendizado são formas para se evitar a marginalidade”; “Nosso problema não é de maioridade penal, mas de menoridade dos adultos”. O texto pode ser lido a partir de diferentes enfoques: como um relato que evidencia a importância da família na educação dos filhos; como um relato que ilustra que, com esforço, podemos alterar os rumos de nossa vida etc. No entanto, há pistas que nos permitem identificar um tema como sendo bastante central: recorrem no texto proposições sobre o “valor do conhecimento”. Consideremos algumas: “o gosto pelo conhecimento é a maior herança que posso deixar”; “a maior riqueza está dentro da cabeça”; “ficou arraigada em todos nós aquela reverência pelo saber”; “Voltou para o Ceará, fascinado pelo encanto dos experimentos químicos.” Observe- se que a primeira afirmação ganha, inclusive, destaque em negrito no texto. O apreço, a “reverência” pelo saber mudou a vida de José Parente e de seu filho Expedito e, por outro lado, o conhecimento produzido por Expedito irá promover mudanças positivas no mundo. É interessante observar a importância do personagem do pai, “o grande inventor”, já que ele “ajudou a inventar o inventor”. Outro dado importante a ser observado é a afirmação do último período: “Nosso problema não é de maioridade penal, mas de menoridade dos adultos”. Na época, estava em debate, no Brasil, o tema da redução da maioridade penal. Essas pistas nos permitem dizer que o texto pretende também argumentar sobre esse tema. Por fim, queremos destacar o belo título desse texto. Ambíguo, o títulopode ser lido como uma metáfora sobre o valor do conhecimento. De um lado, faz referência à tecnologia inventada por Expedito Resende, o combustível para avião, que nos “ensina a voar” utilizando energia limpa; por outro lado, constrói uma representação do conhecimento como algo que nos liberta, “nos ensina a voar”. G ui a d o T ut o r L ín g ua P o rtu g ue sa – V o lu m e 1 20 Texto II – “Alegres e ignorantes” – Lya Luft O texto de Lya Luft é um texto argumentativo, ou seja, um texto escrito para defender um ponto de vista, emitir uma opinião. O título “Alegres e ignorantes”, bem como a afirmação entre aspas e em destaque, aponta para seu tema central: a autora discute o valor da informação e também a desinformação da “elite pensante” brasileira. Lya Luft inicia seu texto fazendo o elogio do “humor”. No primeiro parágrafo e em parte do segundo, a autora aborda esse tópico, apresentando-se, inclusive, como alguém que “não esquece a importância do bom humor”. A esse respeito expressa, então, um ponto de vista: “Bom humor zero. Desperdício de vida: acredito que, junto com o dinheiro, sexo e amor, é a alegria que move o mundo para o lado positivo.” No entanto, segundo sua argumentação, ser alegre não pode significar ser alienado. Segundo a autora, não podemos nos fechar em “nosso pequeno círculo pessoal”, esquecendo de participar com consciência da vida social e política do país. Sua tese central está, portanto, expressa em: “Estar informado e atento é o melhor jeito de ajudar a construir a sociedade que queremos, ainda que sem ações espetaculares”. A autora posiciona-se, ainda, a respeito de nossas “elites pensantes”, afirmando que os que sabem ler e têm oportunidade de acesso à informação não a valorizam, tampouco se preocupam em participar da vida política e social, condição para construirmos a “sociedade que queremos”. Para cada uma das postulações assumidas, a autora apresenta argumentos. Ao citar dados de pesquisa, por exemplo, a autora sustenta a afirmação de que nossa elite pensante é bastante ignorante. Outro argumento para sustentar a mesma tese: a maioria (e a autora se inclui nesse grupo) não sabe dizer o nome de nossos representantes políticos. Devemos observar, ainda, que, no último parágrafo do texto, a autora retoma, resume seu posicionamento, remetendo ao título: afirma a importância da alegria e condena “o risinho tolo da burrice e da desinformação”. Texto III – “Mentes do Futuro” – Gilberto Dimenstein “Mentes do futuro” é também um texto argumentativo que defende, principalmente, a seguinte tese: “Em meio ao turbilhão de dados fragmentados e desconexos, a habilidade de seleção será cada vez mais demandada.” O título, bem como o destaque que essa afirmação ganha no texto, aponta para a centralidade dessa tese. A argumentação tem início com um relato: a história de Marcelo Masagão é um exemplo da habilidade de seleção e síntese de que fala o autor. Portanto, esse relato serve como um argumento exemplificativo que irá sustentar a tese principal defendida no texto. Outra estratégia argumentativa é a referência ao trabalho de Howard Gardner. Ao mencionar a teoria da “mente sintetizafora” do psicólogo e pesquisador de Harvard, o autor também valida seu posicionamento a respeito do tipo de habilidade cognitiva que as sociedades de informação tendem a valorizar. Ele utiliza aqui um argumento de autoridade, ao citar um especialista e estudioso do assunto tratado. A diagramação do texto sinaliza a abordagem de diferentes tópicos que se relacionam nessa argumentação: a história de Marcelo Masagão; a teoria das inteligências múltiplas; a importância da habilidade de síntese; a escola e a habilidade de selecionar e sintetizar informações. Na última parte do texto o autor discute o papel da escola no enfrentamento dessa nova realidade: Pr o je to E nt re J o ve ns 21 “Em geral, as crianças e os jovens não são treinados, na escola, a selecionar, mas a acumular informações de diferentes matérias...”. Esse outro posicionamento do autor é também confirmado por um argumento: “Está aí uma das razões por que foi muito mais fácil para Masagão fazer sucesso na vida do que na escola.”. 3. ROTEIRO PARA O TRABALHO NAS OFICINAS 1. Atividade oral – conversa com o grupo a partir da leitura do texto I – Nessa primeira oficina, propomos que o tutor convide os alunos para uma conversa sobre o valor do conhecimento e da leitura. É importante que os alunos pensem sobre isso e se sintam motivados ao trabalho a ser desenvolvido nas oficinas. Reunidos em círculo, o tutor deve iniciar as atividades com o guia “Entre Jovens” lendo com os alunos o texto “Ensinando a voar”. O tutor pode, inicialmente, pedir que os alunos se manifestem sobre o texto. A partir daí, deve mediar a leitura, possibilitando que o diálogo com o texto se aprofunde. Uma forma de mediar esse diálogo é propor algumas perguntas, como: I) por que o texto tem esse título?; II) por que José Parente é chamado de “o inventor do inventor”?; III) como você entende a expressão “é uma criação muito mais que biológica”?; IV) na sua opinião, o texto dá mais destaque ao pai ou ao filho?; V) você conhece histórias como a de José Parente?; VI) por que o conhecimento pode ser uma experiência de liberdade? Etc. 2. Leitura do texto II – Os alunos devem ler o texto II e resolver as atividades de leitura. Antes de iniciar essa atividade, o tutor deve checar que tipo de conhecimento os alunos têm sobre argumentações. A partir desse conhecimento, o tutor deve encaminhar a atividade, que pode ser feita individualmente ou em grupo, sempre com a mediação do tutor, que deve estar disponível para atender às dúvidas dos alunos. 3. Correção das atividades relativas à leitura do texto II 4. Leitura do texto III – Os alunos podem fazer as atividades de leitura juntamente com o tutor, que deve estar atento às dúvidas que possam surgir a respeito do conteúdo em estudo: a argumentação. É importante também que, nessa primeira oficina, o tutor utilize o momento de retomar as atividades de leitura para colocar o tema da leitura e do conhecimento em foco. Todos os textos da oficina propiciam isso. 5. Atividade escrita – Os alunos deverão produzir um pequeno texto argumentativo que apresente seu posicionamento e a justificativa ou argumento sustentador desse posicionamento. Uma forma de ajudar os alunos nessa atividade é organizar com eles um esquema dessa argumentação. 4. TEXTOS E ATIVIDADES DE LEITURA O texto que você vai ler conta a história de dois brasileiros: pai e filho. Vale a pena conhecer essas histórias, que falam de “superação”. Leia atentamente o texto, observe as pistas que indicam onde foi publicado e quem é seu autor. Sinalize nele os trechos que chamarem a sua atenção ou as dúvidas que surgirem. Depois de lê-lo, você vai conversar sobre ele com seu grupo. G ui a d o T ut o r L ín g ua P o rtu g ue sa – V o lu m e 1 22 TEXTO I G I L B E R T O D I M E N S T E I N Ensinando a voar Repetia, como se fosse mantra: “o gosto pelo conhecimento é a melhor herança que posso deixar” O CEARENSE Expedito Resende, 66, conseguiu atrair a atenção mundial ao inventar um combustível para avião feito à base de óleo de babaçu, atualmente em testes avançados nos laboratórios da Boeing, acompanhados pela Nasa, a agência espacial dos Estados Unidos. Mudar o jeito como os aviões voam, usando o chamado “bioquerosene”, não seria sua mais importante descoberta. Professor de engenharia química da Universidade Federal do Ceará, Expedito criou, nos anos 70, o biodiesel. Usando plantas comuns no Nordeste, viu que o combustível servia, sem nenhum problema, nos motores como substituto do petróleo. Mas,na época, não havia tanta consciência ecológica, o preço do petróleo ainda não estava nas alturas e não se sabia como dar escala comercial à sua invenção. Em 1991, alemães e austríacos resolveram usar a descoberta para produzir energia limpa. Pr o je to E nt re J o ve ns 23 Nos últimos tempos, Expedito vem ganhando prêmios internacionais e ajudando a implantar centenas de usinas de biodiesel. Isso significa a perspectiva de criação de empregos, especialmente no Nordeste, e de um recurso contra o aquecimento global. Por trás dessa tecnologia há uma história não menos interessante sobre quem ajudou a inventar esse inventor. Chama-se José Parente, pai de Expedito – é uma criação muito mais do que biológica. José Parente tinha 12 anos quando deixou um povoado nas proximidades de Sobral (CE), onde vivia, e mudou-se para Fortaleza. Era o caçula entre seus 28 irmãos, sustentados pelo pai agricultor. Fez o trajeto a pé, sozinho, alimentando-se com o que encontrava no caminho. Tinha dois projetos: obter um emprego e entrar numa escola. Matriculou-se para o período noturno de uma escola, mas, com o excesso de trabalho, acabou desistindo. Tentou por várias maneiras continuar estudando. Pediu ajuda a seu patrão e ouviu a seguinte frase: “Menino pobre não precisa de escola”. Praticando, José Parente aprendeu as artes do comércio. Adulto, tornou-se empresário, casou, teve nove filhos, todos entraram na faculdade. Repetia algumas frases como se fossem mantras: “o gosto pelo conhecimento é a melhor herança que posso deixar” ou “a maior riqueza está dentro da cabeça”. Nas conversas familiares, sempre vinham as histórias do menino de 12 anos, caminhando sozinho pelas estradas de terra, a frustração pela impossibilidade de estudar compensada pelas habilidades autodidatas. Já empresário próspero (depois teve um banco), José Parente tratou de ajudar aquela escola em que tentou, mas não conseguir estudar. Expedito cresceu ouvindo esses casos. “Ficou arraigada em todos nós aquela reverência pelo saber”, conta Expedito. Essa reverência estava por trás de sua decisão de sair de casa para estudar, como tinha feito seu pai. “Só que, desta vez, sem desconforto”, diz ele. Mudou-se para o Rio, onde se formou em engenharia química e, depois, aprimorou- se nos Estados Unidos e na Europa. Voltou para o Ceará, fascinado pelo encanto dos experimentos químicos. Uma de suas criações foi a “vaca mecânica” para a produção de leite de soja, disseminada em centenas de cidades brasileiras. Testou motores com álcool, mas preferiu investigar melhor o poder de plantas como o babaçu. Em 1984, um Bandeirante, da Embraer, voou de São José dos Campos até Brasília, movido a bioquerosene, desenvolvido por Expedito – apesar do sucesso do voo, o projeto foi arquivado pelos militares. Foram necessários mais 20 anos para que levassem a sério sua experiência, agora em apreciação pelos americanos – certamente seria impossível se o inventor não tivesse com um de seus professores um menino de 12 anos, andando a pé pelo interior do Nordeste, com o sonho de aprender. PS – O caso de José Parente mostra os caminhos para se evitar a marginalidade, gerando inventores e não criminosos – envolvimento familiar na vida dos filhos, culto ao empreendedorismo e reverência ao aprendizado. Nosso problema não é de maioridade penal, mas a de menoridade dos adultos. FOLHA DE SÃO PAULO, 25 fev 2007. Cotidiano. G ui a d o T ut o r L ín g ua P o rtu g ue sa – V o lu m e 1 24 Vamos ler agora um outro texto argumentativo. Observe sempre, antes de iniciar sua leitura, as várias informações que acompanham o texto: quem o escreveu, onde e quando foi publicado. Preste atenção também naquilo que está em destaque: título, frases, imagens. Isso pode tornar sua leitura mais eficiente. TEXTO II Lya Luft Alegres e ignorantes “Estar informado e atento é o melhor jeito de ajudar a construir a sociedade que queremos, ainda que sem ações espetaculares”. Ilustração Atômica Studio Há fases em que, inquieta, eu talvez aponte mais o lado preocupante da vida. Mas jamais esqueço a importância do bom humor, que na verdade me caracteriza no cotidiano, mais do que a melancolia. Meu amado amigo Erico Verissimo certa vez me disse: “Há momentos em que o humor é até mais importante do que o amor”. Eu era muito jovem, na hora não entendi direito, mas a vida me ensinou: nem o amor resiste à eterna insatisfação, à tromba assumida, às reclamações constantes, à insatisfação sem tréguas. Bom humor zero. Desperdício de vida: acredito que, junto com dinheiro, sexo e amor, é a alegria que move o mundo para o lado positivo. Ódio, indignação fácil, rancores e inveja – e nossa natureza predadora – promovem mediocridade e atos cruéis. Quando, seja na vida pessoal, seja como cidadãos ou habitantes deste planeta, a descrença e o desalento rosnam como animais no escuro no meio do mato, uma faísca de bom humor clareia a paisagem. Mas há coisas que nem todo o bom humor do mundo resolveria num riso forçado. Como senti ao ler, numa dessas pesquisas entre esclarecedoras e assustadoras (quando vêm de fonte confiável), que mais de 30% da nossa chamada elite é de uma desinformação avassaladora. Aqui o termo “elite” não tem a ver com aristocracia, roupa de grife, apartamento em Paris ou décima recostura do rosto, mas com a gente pensante. A que usa a cabeça para Pr o je to E nt re J o ve ns 25 algo além de separar orelhas. Pois, segundo a pesquisa, entre nós a imensa maioria dos ditos pensantes não consegue dizer o nome de um só ministro desta nossa República. Senadores, nem falar. A turma que completa o 2º grau, que faz faculdade, que tem salário razoável, conta no banco, deveria ser a informada. Essa que não precisa comprar carro em noventa meses e deixar de pagar depois de quatro. A elite que consegue viajar conhece até algo do mundo, e poderia ter uma pequena biblioteca em casa. Em geral, não tem. Com sorte, lê jornal, assiste a boas entrevistas e noticiosos daqui e de fora, enfim, é gente do seu tempo. Para isso não se precisa de muita grana, acreditem. Mesmo assim, essa elite é pouco interessada numa realidade que afinal é dela. Resolvi testar a mim mesma: nomes de ministros atuais desta nossa República. Cheguei a meia dúzia. São quase quarenta. Então começo a bater no peito, em público, aliás. Num país onde mais da metade dos habitantes são analfabetos, pois os que assinam o nome não conseguem ler o que estão assinando, ou vivem como analfabetos, pois não leem nem o jornal largado na praça, os que sabem ler deveriam ser duplamente ativos, informados e participantes. Não somos. Nossos meninos raramente sabem o título de seus livros escolares ou o nome dos professores (sabem o dos jogadores de futebol, dos cantores de bandas, das atrizezinhas semieróticas). Agimos como se nada fora do nosso pequeno círculo pessoal nos atingisse. Além das desgraças longe e perto, vindas da natureza ou do homem, estamos num ano eleitoral. Inaugurado o circo de manobras, mentiras e traições escrachadas ou subliminares que conhecemos. Precisamos de claridade nas ideias, coragem nos desafios, informação e vontade, e do alimento dos afetos bons. Num livro interessante (não importa o assunto) alguém verbaliza velhas coisas que a gente só adivinhava; um filme pode nos lembrar a generosidade humana; uma conversa pode nos tirar escamas dos olhos. Estar informado e atento é o melhor jeito de ajudar a construir a sociedade que queremos, ainda que sem ações espetaculares. Mas, se somos desinformados, somos vulneráveis; se continuarmos alienados, bancaremos os tolos; sendo fúteis, cavamos a própria cova; alegrementeignorantes, podemos estar assinando nossa sentença de atraso, vestindo a mordaça, assumindo a camisa de força que, informados, não aceitaríamos. Alegria, espírito aberto, curiosidade, coisas boas desta vida, todos as merecemos. Mas me poupem do risinho tolo da burrice ou da desinformação: o vazio por trás dele não promete nada de bom. Lya Luft é escritora VEJA, 3 Março, 2010. ATIVIDADES DE LEITURA O texto que você leu é um texto de opinião, uma ARGUMENTAÇÃO. Antes de iniciar as atividades de leitura, considere, atentamente, o quadro abaixo: O componente mais importante de uma argumentação é a sua TESE. A tese de um texto argumentativo é o ponto de vista ou posicionamento assumido pelo autor a respeito do tema em discussão. G ui a d o T ut o r L ín g ua P o rtu g ue sa – V o lu m e 1 26 1. No texto “Alegres e ignorantes”, Lya Luft posiciona-se a respeito de vários temas. Grife no texto as teses ou pontos de vista da autora: 1.1 Sobre o humor. “Bom humor zero. Desperdício de vida: acredito que, junto com o dinheiro, sexo e amor, é a alegria que move o mundo para o lado positivo.” D7 1.2. Sobre a “elite pensante” brasileira. “(...) Os que sabem ler deveriam ser duplamente ativos, informados e participantes. Não somos”. D7 1.3. Sobre a importância de nos mantermos informados: “Estar informado e atento é o melhor jeito de ajudar a construir a sociedade que queremos, ainda que sem ações espetaculares” D7 A questão (1) requer que os alunos reconheçam, no texto, afirmações que correspondam a posicionamentos assumidos pela autora em relação a três importantes tópicos do texto. Depois de reconhecer esses posicionamentos, os alunos devem ser estimulados a discuti- los, concordando ou discordando deles. Esse exercício é importante para a descoberta de que a leitura é uma atividade que nos permite esse diálogo sobre temas da vida e problemas do mundo. 2. Leia com atenção: Textos escritos para defender uma opinião sobre determinado tema são textos argumentativos. Uma boa argumentação deve utilizar argumentos que confirmem suas teses. Que argumentos a autora utiliza para cada uma das opiniões defendidas? Grife esses argumentos no texto: 2.1. “(...) Os que sabem ler deveriam ser duplamente ativos, informados e participantes. Não somos.” “(...) mais de 30% da nossa chamada elite é de uma desinformação avassaladora. (...) Segundo a pesquisa, entre nós, a imensa maioria dos ditos pensantes, não consegue dizer o nome de um só ministro dessa nossa república. Senadores, nem falar.” Pr o je to E nt re J o ve ns 27 “Resolvi testar a mim mesma: nomes de ministros atuais dessa nossa República. Cheguei a meia dúzia (...) Então começo a bater no peito, em público, aliás.” “Nossos meninos raramente sabem o título de seus livros escolares (...) sabem o dos jogadores de futebol, dos cantores de banda, das atrizezinhas semieróticas.” D8 2.2. “Estar informado e atento é o melhor jeito de ajudar a construir a sociedade que queremos, ainda que sem ações espetaculares” “Precisamos de claridade nas ideias, coragem nos desafios, informação e vontade...” “Se somos desinformados, somos vulneráveis; se continuarmos alienados, bancaremos os tolos; sendo fúteis, cavamos a própria cova...” D8 A questão 3 auxilia os alunos no reconhecimento dos argumentos que sustentam as opiniões da autora. O fato de não sabermos o nome de nossos representantes políticos (e a autora se reconhece parte da “elite desinformada”), a afirmação de que os jovens interessam-se mais por diversão que pelo conhecimento ou pela escola, são argumentos que sustentam a opinião exposta em 3.1. Para defender a importância de estar informado (3.2), a autora reforça a importância da informação, afirmando que estar informado nos permite ter ideias mais claras sobre os fatos da vida. Por outro lado, estar desinformado nos torna seres alienados, vulneráveis, tolos, fúteis. Insistimos que o tutor discuta cada uma dessas ideias com os alunos. É importante que os alunos reflitam sobre elas e se posicionem, dialogando com o texto. 3. Os títulos dos textos são uma pista muito importante sobre o seu conteúdo, e costumam indicar o seu tema central. Comente o título do texto: “Alegres e ignorantes”. No início do texto a autora fala da importância do humor e da alegria: “é a alegria que move o mundo para o lado positivo”. No entanto, segundo sua argumentação, ser alegre não pode significar ser alienado. A autora defende a ideia de que não podemos nos fechar em “nosso pequeno círculo pessoal”, esquecendo de participar com consciência da vida social e política do país. Por isso defende a importância de estarmos bem informados. D6 G ui a d o T ut o r L ín g ua P o rtu g ue sa – V o lu m e 1 28 4. Quem são os alegres e ignorantes de que fala a autora? Eles fazem parte, principalmente, da chamada “elite pensante”, que a autora define como aqueles que têm oportunidade de estudar, têm um bom salário, podem viajar, têm acesso à leitura e, portanto, à informação, mas não se interessam pela discussão dos problemas da realidade. D4 5. Por que a autora afirma que “os que sabem ler deveriam ser duplamente ativos, informados e participantes.”? Porque vivemos num país onde muitos são “analfabetos”, ou seja, não conseguem ler um jornal, e isso limita sua participação na vida social e política. Quem sabe ler, portanto, tem uma responsabilidade dupla. D4 6. Qual seria o objetivo principal do texto? O texto de Lya Luft pretende discutir, principalmente, a importância de nos mantermos informados. Além do título, outra pista relevante que nos permite reconhecer esse tema é a informação em destaque à esquerda do texto: “Estar informado e atento é o melhor jeito de ajudar a construir a sociedade que queremos, ainda que sem ações espetaculares”. D12 7. Considere a ilustração que acompanha o texto. Como você a interpreta? Os olhos fechados podem indicar a ignorância e a alienação daqueles que, embora tendo condições, não procuram estar informados. O texto também fala do “risinho tolo da burrice e da desinformação”. D5 As questões de 3 a 7 chamam a atenção para sinalizações importantes em um texto como o título e ilustrações que possam acompanhá- lo. Títulos são pistas que apontam, frequentemente, para o tema central dos textos e ajudam a construir hipóteses sobre o seu objetivo comunicativo. 8. Releia: “Mas, se somos desinformados, somos vulneráveis; se continuarmos alienados, bancaremos os tolos; sendo fúteis, cavamos a própria cova; alegremente ignorantes, podemos estar assinando nossa sentença de atraso, vestindo a mordaça, assumindo a camisa de força que, informados, não aceitaríamos”. Pr o je to E nt re J o ve ns 29 8.1. Explique a afirmação: “se somos desinformados, somos vulneráveis”. Considere o verbete abaixo para construir sua resposta. vulnerável [Do lat. vulnerabile.] Adjetivo de dois gêneros. 1.Que pode ser vulnerado: “Perdidos e sós no grande descampado, sentem-se desamparados e vulneráveis como crianças.” (Miguel Torga, Portugal, pp. 114-115.) 2.Diz-se do lado fraco de um assunto ou de uma questão, ou do ponto pelo qual alguém pode ser atacado ou ferido. [Pl.: vulneráveis. Cf. vulneráveis, do v. vulnerar.] Dicionário Aurélio versão digital Vulnerável pode significar frágil. A autora afirma que a desinformação nos torna frágeis, ou seja, uma pessoa desinformada pode ser facilmente enganada, ludibriada. D3 8.2. Explique também: “se continuarmos alienados, bancaremos os tolos”. Considere o verbete abaixo para construir sua resposta. alienar [Do lat. alienare.] Verbo transitivodireto. 1.Transferir para outrem o domínio de; tornar alheio; alhear: O testamento proibia alienar os bens herdados. 2.Desviar, afastar; alhear. 3.Indispor, malquistar: Evita alienar o ânimo do velho amigo. 4.Alucinar, perturbar; alhear: O grande desgosto alienou-lhe o juízo. Verbo transitivo direto e indireto. 5.Desviar, apartar: Alienou de mim a boa vontade que o ministro demonstrara. Verbo pronominal. 6.Afastar-se, distanciar-se. 7.Tornar-se alienado; manter-se alheio aos acontecimentos. Dicionário Aurélio versão digital O melhor sentido para a palavra alienado no texto está exposto em 7: tornar- se alienado é manter-se alheio aos acontecimentos. A alienação causada pela desinformação, segundo a autora, nos faz tolos, bobos, facilmente manipuláveis. D3 G ui a d o T ut o r L ín g ua P o rtu g ue sa – V o lu m e 1 30 8.3. No fragmento de texto em destaque na questão 8, grifamos algumas expressões metafóricas que a autora utiliza para argumentar sobre a importância de sermos informados. Explique o significado dessas expressões. Pelas expressões utilizadas, podemos dizer que a informação e o conhecimento nos libertam. A ignorância é representada como uma mordaça e uma camisa de força, expressões que sugerem que a ignorância nos aprisiona. D18 Na questão 8 sugerimos que o tutor aprofunde com os alunos o significado do fragmento em destaque. Para tanto, os alunos devem reconhecer o sentido de algumas palavras utilizadas no texto e tentar explicar, através de paráfrases, as afirmações da autora. Essa é uma boa oportunidade para conhecerem e aprenderem a ler um verbete de dicionário. O tutor deve orientar, portanto, a leitura desse gênero, observando que há significados mais apropriados que outros para as palavras, dependendo do contexto em que foram utilizadas. Em 8.3 chamamos a atenção para uma bela metáfora do texto. As expressões “vestir a mordaça/ assumir a camisa de força da ignorância” nos levam a construir a seguinte representação da ignorância: Ignorância é prisão. Ao contrário disso, “conhecimento é liberdade”. Além de discutir a importância das metáforas como recursos de expressão (tópico que será abordado em outras oficinas) o tutor pode discutir com os alunos a ideia de que conhecimento é liberdade. Merece também destaque no texto a formulação “precisamos de claridade nas ideias”. Essa expressão metafórica constrói outra bela representação do conhecimento: “conhecimento/ informação é luz”. O contrário, a ignorância, é escuridão. Leia agora o último texto desta oficina. Observe que ele foi escrito pelo mesmo autor do texto I e publicado também no jornal Folha de São Paulo. Gilberto Dimenstein costuma discutir, em sua coluna, temas relativos ao conhecimento, à juventude e à educação. Pr o je to E nt re J o ve ns 31 TEXTO III G I L B E R T O D I M E N S T E I N Mentes do futuro COMEÇA NA PRÓXIMA segunda-feira, em São Paulo, o festival internacional de filmes com apenas um minuto de duração, reunindo 80 países – esse tipo de mostra ocorre anualmente em 40 nações, circula em escala planetária e atrai o patrocínio de empresas multinacionais. Pouca gente sabe que esse festival é uma invenção brasileira e ninguém imagina que seu inventor era visto, por muito tempo, como um fracasso, um caso irrecuperável. Marcelo Masagão estava desempregado, em 1991, quando conseguiu passar filmes de um minuto num teatro da PUC, em SP; no ano seguinte, iria para o MIS (Museu da Imagem e do Som). Um italiano viu aquela experiência e a levou para a Europa, de onde se disseminou. Como era excessivamente bagunceiro, foi expulso – ou, como se diz, convidado a se retirar – das escolas em que estudou. “Nunca tive uma turma de formatura”, lembra. Não conseguiu ficar nem mesmo no Colégio Equipe, uma ilha de liberalidade paulistana. Na faculdade, cursou psicologia, mas, após sete anos, não tinha completado 40% dos créditos. Só resolveu mesmo se esforçar na oitava série porque seu pai o chamou de “burro e vagabundo”. Tirou notas altas, a maioria dez, nas matérias. Mas no final se desentendeu com um professor e, mais uma vez, recebeu o convite para se retirar. Como ele conseguiu montar um projeto bem-sucedido? A resposta possivelmente está nos estudos sobre as diversas formas de inteligência desenvolvidos em Harvard – é uma das questões essenciais para os alunos que, nesta semana, voltam para seus colégios e universidades. Disseminador da ideia de que existem inteligências múltiplas (a escola só focaria numa delas), o psicólogo Howard Gardner afirma que um dos atributos fundamentais para prosperar profissionalmente é a “mente sintetizadora”. Com o excesso atordoante de informação, graças em boa parte à abundância de fontes na internet, passa a valer mais quem sabe extrair o que é essencial – ou seja, quem sabe selecionar e apontar um caminho. Em meio ao turbilhão de dados fragmentados e desconexos, a habilidade da seleção será cada vez mais demandada G ui a d o T ut o r L ín g ua P o rtu g ue sa – V o lu m e 1 32 O primeiro filme de Masagão era um esforço de resumir e encadear em 70 minutos toda a história do século 20 – e sem nenhuma fala, apenas com imagens. Depois de tanto tempo de dispersão, acabou encontrando a síntese de seu futuro na busca de gente que procura uma síntese em apenas um minuto, transformada também num projeto de internet, e não apenas nos festivais. Agora, ele criou a modalidade de obra em dez segundos, batizada de “nanofilme”. Em meio ao turbilhão de dados fragmentados e desconexos, a habilidade da seleção será cada vez mais demandada – o que vai abater parte do encanto da produção coletiva de conhecimento (o jornalismo colaborativo, por exemplo), na qual muitos sentem autoridade para falar de qualquer assunto. Afinal, a síntese depende de um longo processo de avaliação do que é essencial. Mais uma vez, o Festival do Minuto serve como exemplo. Tecnicamente, qualquer um hoje pode se sentir um cineasta. Basta um celular. São enviados para lá milhares de filmes, sem qualquer esforço de produção. O ex-vice- presidente dos Estados Unidos, Al Gore, tentou fazer uma emissora de TV, via internet, para a qual qualquer um pudesse mandar sua matéria. Viram-se obrigados a mudar o formato. Um claro sinal dessa tendência apareceu no projeto “Círculo de Leitores”, desenvolvido pela Folha, em que, durante oito meses, o jornal ouviu seus assinantes em São Paulo, Rio e Brasília. Eles querem uma publicação com os seguintes atributos: analítico, sintético, prático e interpretativo. Em síntese: querem ter ajuda para selecionar o que importa para suas vidas. É fácil entender as razões dessa demanda; difícil é enfrentá-las. Como reduzir tantas coisas, muitas delas complexas, em tão poucos minutos de leitura diária? Como captar a atenção de um público cada vez mais hiperativo? Não é um problema, óbvio, apenas dos meios de comunicação. É um desafio que envolve toda a rede de produção e disseminação do conhecimento. Em geral, as crianças e os jovens não são treinados, nas escolas, a selecionar, mas a acumular informações de diferentes matérias, sem muita conexão com a realidade, avaliadas em provas – e depois, rapidamente, esquecidas. Os estudantes voltam, nesta semana, às aulas e vão encontrar um sistema curricular que, na maioria dos casos, está fracassado, determinado não por pedagogos, mas pelo mercado de trabalho. Está aí uma das razões por que foi muito mais fácil para Marcelo Masagão fazer sucesso na vida do que na escola. Só não sabia que iriavirar uma espécie de professor na arte de sintetizar. PS – Coloquei em meu site (www.dimenstein. com.br) um texto para quem quiser conhecer melhor as ideias de Howard Gardner, professor da escola de Educação em Harvard. Também coloquei uma seleção dos filmes de um minuto que serão exibidos, nesta semana, no festival em São Paulo. gdimen@uol.com.br FOLHA DE SÃO PAULO, 3 março 2009. Cotidiano. Pr o je to E nt re J o ve ns 33 ATIVIDADES DE LEITURA 1. Explique o título do texto. O título faz referência a um tipo de habilidade cognitiva que é e será bastante valorizada nas sociedades modernas: a habilidade de selecionar e sintetizar informações. D6 2. O texto de Gilberto Dimenstein é um texto argumentativo. Explique por quê. O autor escreve o texto para defender algumas opiniões. Por exemplo: “Em meio ao turbilhão de dados fragmentados e desconexos, a habilidade de seleção será cada vez mais demandada.”; “Em geral, as crianças e os jovens não são treinados, na escola, a selecionar, mas a acumular informações de diferentes matérias...” D12 3. A frase em destaque pode ser considerada a tese principal do texto de Gilberto Dimenstein. Releia: “Em meio ao turbilhão de dados fragmentados e desconexos, a habilidade de seleção será cada vez mais demandada.” 3.1. Como você compreende essa afirmação? As tecnologias modernas, principalmente o computador, a internet, nos permitem acesso a um turbilhão de informações, por isso a habilidade de selecionar essas informações e construir conhecimento a partir delas será cada vez mais importante. D4 3.2. Relacione a imagem que acompanha o texto à tese em destaque acima. A imagem ilustra o processo de seleção e escolha de que o texto fala. As folhas que caem abundantemente seriam as inúmeras informações que nos chegam, o homem escolhe, seleciona algumas delas. D5 3.3. Que argumentos são utilizados, no texto, para sustentar a tese do autor? O principal argumento é a história de Marcelo Masagão, criador do “festival do minuto’, que faz sucesso no mundo inteiro. Sua capacidade de produzir filmes curtíssimos é um exemplo da habilidade de seleção e síntese de que fala o texto. Ele seria uma “mente do futuro”. O texto utiliza também um argumento de autoridade, ao citar a pesquisa do psicólogo Howard Gardner. D8 G ui a d o T ut o r L ín g ua P o rtu g ue sa – V o lu m e 1 34 As questões de 1 a 3 recuperam conhecimentos básicos e importantes para a leitura de argumentações: a noção de tese e argumento. Além disso, exercitam a atenção para as pistas textuais indicadoras do tema de um texto: título, imagem, destaques. Ao corrigir a atividade 3 o tutor deve dar destaque às várias estratégias que podem ser usadas na construção do argumento de um texto, como: a apresentação de exemplos, a citação de discursos de autoridade, a utilização de dados empíricos (dados estatísticos e de pesquisa). 4. Observe a diagramação do texto: ele está dividido em partes. Procure explicar essa divisão. Podemos dizer que, em cada uma dessas partes, o texto aborda um tópico, e esses tópicos se relacionam em torno do tema central. Os tópicos abordados são: a história de Marcelo Masagão; a teoria das inteligências múltiplas; a importância da habilidade de síntese; a escola e a habilidade de selecionar e sintetizar informações. D9 5. Além da tese principal do texto, o autor apresenta também sua opinião sobre como a escola lida com a habilidade de selecionar e sintetizar a informação. 5.1. Identifique no texto o posicionamento do autor a respeito desse assunto. “Em geral, as crianças e os jovens não são treinados, na escola, a selecionar, mas a acumular informações de diferentes matérias...” D7 5.2. Que argumento o autor usa para confirmá-la? A afirmação de que Marcelo Masagão, embora tenha feito muito sucesso na vida, não o fez na escola, pelo contrário, foi expulso de várias delas. D8 5.3. Você concorda com esse posicionamento? Justifique sua resposta. Resposta pessoal. Pr o je to E nt re J o ve ns 35 A questão 4 auxilia o aluno na análise da organização estrutural da argumentação. Essa é uma atividade importante para a formação do leitor, pois desenvolve a habilidade de identificar tópicos (de parágrafos ou de partes de um texto) discursivos e de estabelecer relações entre tópicos. Na questão 5, chamamos a atenção para a quarta parte do texto em que se discute o papel da escola no desenvolvimento da habilidade de selecionar e sintetizar, tópico central do texto. Também aí está implicada a habilidade de relacionar tese e argumento. VAMOS ESCREVER Depois de ler textos que falam sobre o valor do conhecimento, da informação e da leitura, escreva um texto curto sobre o tema “Juventude e Conhecimento”. As perguntas abaixo devem ajudar você a escrever seu texto, que deve apresentar seu ponto de vista e a sustentação desse ponto de vista. Pense, então, nessas questões: O jovem tem interesse pelo conhecimento? Onde ele o busca? Ele valoriza o conhecimento escolar? A escola contribui para que o jovem aprenda a valorizar o conhecimento? O que motiva o jovem a querer aprender algo? O que poderia ser feito na escola para que o jovem se sentisse motivado a aprender? G ui a d o T ut o r L ín g ua P o rtu g ue sa – V o lu m e 1 36 Estamos propondo que o aluno escreva um pequeno texto (de 10 a 15 linhas) sobre o tema “Conhecimento, juventude e escola”. Para tanto, propomos algumas perguntas, que não devem ser respondidas uma a uma. Elas podem servir para ajudar a selecionar os tópicos que deverão compor o texto. Selecionados os tópicos, os alunos devem desenvolvê-los. O tutor deve orientar os alunos, auxiliando-o a construir um pequeno esquema de sua argumentação. Esse esquema deve conter o posicionamento e a sustentação desse posicionamento. É importante também que o aluno conclua seu texto, o que pode ser feito encaminhando-se uma solução para o problema em discussão. Por exemplo: POSICIONAMENTO/TESE • Os jovens gostam da escola, mas, para a maioria, ela é mais um lugar onde se pode fazer amigos e conviver do que um espaço para o aprendizado. O jovem não se interessa pelo conhecimento escolar. ARGUMENTO • Muitos conversam durante as aulas, distraem-se com seus aparelhos eletrônicos. Outros fazem bagunça, atrapalhando os interessados em aprender. CONCLUSÃO • A escola precisaria mudar seus métodos para que os jovens se interessassem mais pelo conhecimento. Pr o je to E nt re J o ve ns 37 Anotações ________________________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________________________ 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________________________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________________________ O TEXTO ARGUMENTATIVO analisando a estrutura de argumentações OFICINA 2 Begma Tavares Barbosa Pr o je to E nt re J o ve ns 45 1. OBJETIVOS 1. Apresentar os componentes da macroestrutura da argumentação. 2. Desenvolver habilidades de: ler argumentações; analisar a estrutura de argumentações; escrever textos argumentativos. 2. TEXTOS PROPOSTOS PARA LEITURA Texto I – Inteligência artificial – editorial da Folha de São Paulo. Nesse texto argumentativo retoma-se uma questão “muito antiga” e polêmica. A questão- problema que gera a argumentação está explícita no início do texto: “Poderá um dia a máquina pensar melhor e de forma mais inteligente que um ser humano?”. O posicionamento assumido pelo editorial anuncia-se em seguida: “Qualquer resposta definitiva para esta questão parece precipitada...”. O autor do editorial, antes de apresentar seus argumentos, expõe dois outros posicionamentos, que se opõem. São possibilidades diferentes de responder à mesma pergunta:
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