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Lingua_Portuguesa_Guia_do_Tutor_3Ano_Vol1

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GUIA DO TUTOR
Volume 1
Língua Portuguesa
3ª série do Ensino Médio
Entre Jovens 3ª série do Ensino Médio: guia do tutor língua portuguesa.
– São Paulo: Instituto Unibanco/CAEd, 2013.
212 p.; Vol I
Coordenação do material
Juliana Irani do Amaral
Pesquisa e conteúdo
CAEd – Centro de Políticas Públicas e Avaliação 
da Educação
Consultoria responsável
CAEd – Centro de Políticas Públicas e Avaliação 
da Educação
Agradecimentos especiais
Secretaria Municipal de Educação do Rio de Janeiro, 
Secretarias de Estado de Educação do Rio de Janeiro, 
São Paulo, Espírito Santo e Minas Gerais e escolas 
parceiras que contribuíram para a testagem e validação 
da Metodologia Entre Jovens.
Realização
Instituto Unibanco
Presidência
Pedro Moreira Salles
Vice-Presidência
Pedro Sampaio Malan
Conselho
Antonio Matias
Cláudio de Moura Castro
Cláudio Luiz da Silva Haddad
Marcos de Barros Lisboa
Ricardo Paes de Barros
Tomas Tomislav Antonin Zinner
Thomaz Souto Corrêa Netto
Wanda Engel
Diretoria Executiva
Fernando Marsella Chacon Ruiz
Gabriel Amado de Moura
Jânio Gomes
José Castro Araujo Rudge
Leila Cristiane B. B. de Melo
Luis Antônio Rodrigues
Marcelo Luis Orticelli
Superintendência Executiva
Ricardo Henriques
Gerência de Implementação de Projetos
Tiago Borba
Gerência de Desenvolvimento e Conteúdo
Marta Grosbaum
Gerência de Gestão do Conhecimento
Mirela de Carvalho
Gerência de Administração e Finanças
Fábio Santiago
Assessoria de Assuntos Estratégicos
Christina Fontainha
Assessoria de Comunicação
Marina Rosenfeld
Assessoria de Voluntariado
Fabiana Mussato
SUMÁRIO
Apresentação
A LEITURA NA ESCOLA: por uma concepção de texto e leitor
OFICINA 1
O TEXTO ARGUMENTATIVO: um diálogo sobre o valor do conhecimento 
e da leitura
OFICINA 2
O TEXTO ARGUMENTATIVO: analisando a estrutura de argumentações
OFICINA 3
A NARRATIVA LITERÁRIA: contos brasileiros
OFICINA 4
A NARRATIVA LITERÁRIA: o conto contemporâneo
OFICINA 5
LENDO POEMAS E FALANDO DE POESIA
OFICINA 6
A POESIA MODERNISTA
OFICINA 7
O TEXTO EXPOSITIVO: divulgando a ciência
OFICINA 8
A CRÔNICA: um olhar sobre o cotidiano
MATRIZ DE REFERÊNCIA DE LÍNGUA PORTUGUESA DO SAEB PARA 
A 3ª SÉRIE DO ENSINO MÉDIO
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207
APRESENTAÇÃO
Caro tutor, 
Este caderno pretende auxiliá-lo na tarefa de conduzir oficinas de Língua Portuguesa, como 
atividade de tutoria a alunos da terceira série do Ensino Médio da rede pública de ensino. 
São oito oficinas que têm a leitura como sua principal atividade. Acreditamos que a leitura 
deve estar no centro da atividade escolar. São muitos os dados – de avaliações externas e 
pesquisas – que nos mostram a ainda baixa proficiência em leitura de nossos jovens, não 
obstante os muitos anos de permanência na escola. A dificuldade de interpretar os textos que 
circulam na sociedade e na escola ajuda a explicar a própria resistência à leitura que nossos 
alunos costumam tão frequentemente manifestar. Esse quadro tem, sem dúvida, reflexos no 
seu desempenho escolar.
Nas oficinas propostas, portanto, sua tarefa principal será “ensinar a ler”. O que significa, para 
nós, ensinar a ler? Significa desenvolver habilidades e estratégias de leitura, significa ensinar os 
alunos a agirem como agem leitores mais experientes, mais proficientes. Trabalhar com textos 
é a melhor forma de ensinar Língua Portuguesa. Conforme você verá, muitos conhecimentos 
sobre a nossa língua serão trabalhados nas oficinas. Também a partir da leitura de textos, os 
alunos serão convidados a conhecer nossa literatura, do passado e do presente. É ainda a 
atividade de leitura que permitirá aos alunos refletir sobre como se organizam vários gêneros 
textuais, e essa reflexão é fundamental para realizar outra importante tarefa das oficinas: a de 
ensinar a escrever textos. 
As oficinas foram organizadas a partir de uma tipologia de textos: argumentativos, narrativos, 
expositivos, instrucionais, poéticos. Nosso material de leitura traz textos de opinião, editoriais 
de jornais, crônicas, notícias, reportagens, textos publicitários, contos, poemas etc. Procuramos 
incluir uma variedade de textos por acreditarmos também que há estratégias específicas para 
abordarmos gêneros específicos. Na medida do possível, procuramos organizar as oficinas 
fazendo dialogar textos sobre um mesmo tema. Essa é uma forma de construir espaços nos 
quais a leitura esteja no centro de um diálogo sobre questões importantes para nós e para 
nossa sociedade.
Para a leitura dos textos, elaboramos um conjunto de “atividades de leitura”, cuja finalidade é 
ajudá-lo a mediar o contato do aluno com os textos, apontando para as pistas relevantes que 
guiam a construção de sentidos que é a leitura. Acreditamos que esse exercício de diálogo 
atento com o texto, inicialmente conduzido por um mediador mais experiente, possa oferecer 
aos nossos leitores em formação instrumentos para que se tornem leitores mais atentos, 
estratégicos e autônomos.
Para ajudar a organizar seu trabalho, cada unidade subdivide-se nas seguintes seções:
1. Objetivos da oficina – em que se listam os objetivos do trabalho naquela 
oficina.
2. Textos para leitura – onde são apresentadas “breves leituras” dos textos 
selecionados, com indicação de aspectos relevantes de sua organização 
estrutural e dos recursos linguístico-discursivos utilizados.
3. Roteiro para o trabalho nas oficinas – onde se descreve, passo a 
passo, a dinâmica da oficina.
4. Atividades de leitura (comentadas) – onde se apresentam as atividades 
de leitura a serem feitas pelos alunos, preferencialmente por escrito, 
com a mediação do tutor. São questões de leitura que visam “modelar” 
estratégias de leitor proficiente. Nessa seção, abaixo de cada atividade, 
são apresentadas “possibilidades de respostas”. Incluímos também, a 
cada questão, os respectivos “descritores”1.Devem ser observados, ainda, 
os comentários relativos ao propósito das questões propostas.
Gostaríamos de esclarecer, no entanto, que:
•	 As “leituras” dos textos, apresentadas na seção 2, são apenas uma das 
leituras possíveis para o texto proposto. Conforme veremos adiante, 
ao discutirmos a concepção de texto e leitor que fundamenta este 
material, um texto pode ser lido de formas diferentes. Nosso propósito, 
ao apresentar uma leitura comentada, fundamenta-se, basicamente, na 
necessidade de apontarmos, nos textos em questão, aspectos relevantes 
de sua macro e microestrutura, de modo a possibilitar o estudo do gênero 
e o desenvolvimento das habilidades a ele relativas.
•	 Os roteiros apresentados são também sugestões que procuram dinamizar 
o trabalho, propondo atividades em grupo ou individuais, leitura silenciosa 
ou em voz alta etc. O tutor deve considerar o andamento das oficinas ao 
seguir o roteiro. No entanto, nosso propósito de desenvolver habilidades 
de leitura não pode prescindir do contato pessoal, individual do aluno 
com o texto, contato que deve ser mediado pelo tutor.
•	 As atividades de leitura – seção 4 – incluem, no caderno do tutor, 
“possibilidades de respostas”. Insistimos em uma concepção de leitura que 
considera a atuação subjetiva do aluno leitor, que deve apresentar 
“suas respostas” e fundamentá-las. Desse modo, o tutor, diante das 
variedades de leituras que possam surgir, deve estar atento à forma como 
os alunos dialogam com o texto, procurando reconhecer as pistas que 
eles consideraram ou mesmo as que deixaram de considerar. Em resumo, 
as respostas às atividades de leituraapresentadas neste caderno não são 
as únicas autorizáveis.
Para realizarmos um bom trabalho, é importante considerarmos, ainda, as orientações que se 
seguem a cada atividade de leitura. A indicação dos descritores aponta para as habilidades de 
leitura em foco em cada uma das questões. Essa informação é complementada por comentários 
que pretendem explicitar o propósito das atividades de leitura, bem como mostrar como essas 
1 Descritores da Matriz de Referência de Língua Portuguesa do Saeb 2001 para o 3º ano do Ensino Médio (em anexo)
atividades estão relacionadas numa sequência que pretende “guiar” o leitor no seu exercício 
de identificar as pistas de leitura relevantes. Muitas questões, por exemplo, chamam a atenção 
para o título dos textos, propõem a relação do título com outra informação textual. Outras 
apontam para escolhas lexicais e gramaticais discursivamente relevantes etc. 
Em algumas oficinas, propomos atividades de produção de textos após as atividades de 
leitura. Escrever é uma atividade que demanda um tempo maior. Sugerimos que o tutor oriente 
a escrita dos alunos, a partir das sugestões apresentadas no guia, e que eles desenvolvam 
seus textos como atividade de casa, caso não haja tempo para fazê-lo durante a oficina. De 
qualquer forma, é imprescindível que o tutor dedique algum tempo à correção/comentários 
dos textos com os alunos, o que poderá ser feito durante as oficinas, enquanto o grupo realiza 
suas tarefas. 
Por fim, este caderno traz também um texto que apresenta a concepção de texto e leitor que 
fundamenta essa prática e discute o papel do professor no ensino da leitura. Trata-se de uma 
leitura essencial para que você, tutor, possa compreender a importância de seu papel como 
mediador nas atividades de leitura propostas nas oficinas.
Acreditamos que, nessas oficinas de leitura, os alunos possam, com a sua ajuda, aprender 
a ler de forma mais competente. Acreditamos também que esse aprendizado possa, pelo 
enfrentamento das dificuldades, revelar aos jovens o prazer de ler. 
Bom trabalho!
Este texto pretende discutir o aprendizado da leitura na escola, assumindo uma concepção 
de texto e leitor que sustente a prática de leitura que propomos para a formação de jovens 
leitores, estudantes de nossas escolas públicas de ensino básico.
A experiência nos tem mostrado que a distância entre o jovem e a leitura pode ser diminuída 
se a atividade de ler deixar de ser tão trabalhosa – o que requer aprendizado sistemático – 
e for reconhecida pelos alunos, com a ajuda da escola, como uma atividade necessária nas 
complexas sociedades letradas que construímos. Por outro lado, a leitura pode tornar-se, além 
de uma atividade reconhecidamente necessária, uma atividade divertida, prazerosa. Acreditamos 
que a escola ensina a gostar de ler quando se compromete em fazer de seus alunos leitores 
mais competentes e, ao mesmo tempo, cria espaços de diálogo com textos que oportunizem 
experiências de reflexão e cidadania, contextualizando as práticas de leitura.
Para que esse projeto de formação de leitores se consolide é necessário que a leitura esteja 
no centro da prática escolar, constituindo-se mesmo no eixo que poderá promover o diálogo 
tão necessário entre as disciplinas curriculares (Kleiman & Moraes 1999). Particularmente, nas 
aulas de Língua Portuguesa, o olhar do “especialista”, ou seja, do professor de linguagem, deve 
organizar e promover práticas de leitura que permitam desenvolver nos leitores em formação 
“habilidades de leitor proficiente”. (Kato 1985; Kleiman 1989). A aquisição de habilidades 
para abordar os mais diferentes gêneros de texto, por outro lado, requer sistematicidade na 
organização do planejamento da disciplina, e o professor tem um papel central na formação 
do leitor, particularmente na tarefa de mediar as atividades de leitura formulando questões que 
“guiem” os leitores nesse percurso de aprendizagem. 
Um projeto dessa natureza prevê a adoção de novas categorias para a organização de um 
programa sistemático da disciplina Língua Portuguesa que, acreditamos, seja eficiente para a 
constituição de leitores competentes: um programa que considere, inicialmente, uma tipologia 
de textos e alcance, ao fim, o estudo dos recursos linguístico-discursivos mais diretamente 
associados a cada um dos diferentes gêneros elencados. 
Um bom programa poderia organizar-se, por exemplo, a partir dos seguintes tipos de textos: 
narrar, relatar, instruir, expor, argumentar. Dessas seis categorias derivam subcategorias de 
gêneros: editoriais, cartas de leitor, textos de opinião, ensaios, que compõem a categoria 
“argumentar”; contos, crônicas, romances, novelas, que compõem a categoria “narrar”; 
notícias, reportagens, biografias, que compõem a categoria “relatar” etc.2 
2 A categorização que propomos distingue os gêneros do “narrar” como aqueles pertencentes ao universo da ficção, da história 
“inventada”, e os do “relatar” como gêneros relativos ao fato ocorrido, “real”. Essa diferenciação tem se mostrado eficiente para os 
propósitos didáticos de ensino da leitura a partir de uma tipologia de textos. Para uma introdução à teoria dos gêneros, sugerimos 
MEURER, BONINI & MOTTA-ROTH 2005).
A LEITURA NA ESCOLA
por uma concepção de texto e leitor
Esse tipo de programa, conforme podemos observar, possibilita alterar a organização curricular 
por conteúdos e coloca o estudo da teoria, da metalinguagem – que por muito tempo ocupou 
posição central no ensino de linguagem – em posição de menor evidência, reconhecendo nesse 
estudo uma função secundária na tarefa de construção de usuários eficientes da língua. 
O projeto de transformar nossos programas de Língua Portuguesa em programas ocupados 
essencialmente com o ensino da leitura nos parece duplamente eficiente: ler e aprender a ler na 
escola é um projeto que pode fazer sentido para os jovens, que costumam queixar-se, bastante 
lucidamente, da falta de sentido da escola. E, o mais importante, responde a uma urgência 
num país que precisa ampliar o acesso à leitura e melhorar seus índices de proficiência.
Qualquer projeto que pretenda formar leitores hábeis e autônomos exige sistematicidade e uma 
formação especializada para a leitura e para o ensino de leitura. Nesse sentido, recuperamos 
brevemente, na seção seguinte, algumas contribuições teóricas que acreditamos já bastante 
conhecidas pelos professores que atuam na escola básica e por estudiosos interessados na 
leitura e no ensino da leitura. São teorias que contribuíram para embasar muitos dos textos 
oficiais que nos servem como parâmetros para a organização de nossos programas de ensino de 
Língua Portuguesa e que têm aqui a função de fundamentar a prática de leitura que propomos. 
Contribuições teóricas: 
por uma concepção de texto e leitor
São premissas fundamentais do trabalho com leitura que propomos: I) a leitura é uma 
construção subjetiva de sujeitos leitores que atuam sobre o texto a partir de um conjunto de 
conhecimentos acumulados; II) o significado, portanto, não está no texto, o texto nos oferece 
um conjunto de pistas que guiam o leitor na tarefa de construção de sentido que é a leitura; 
III) além de atividade cognitiva, a leitura é também empreendimento interativo mediado pelo 
texto, que permite o diálogo com um interlocutor ausente.
A adesão a essas postulações teóricas tem implicações óbvias para o trabalho do professor. A 
primeira delas diz respeito a uma prática ainda corrente que cerceia os processos de leitura 
em sala de aula ao impor como correta ou mais autorizável a leitura do professor ou do livro 
didático. Essa prática aponta para uma concepção de leitura radicalmente diversa da que aqui 
assumimos. Os livros didáticos costumam indicar, nos manuais do professor, a “resposta certa” 
nas atividades de leitura e, em muitos casos, as respostas do livro didático são apontadas 
como a únicaleitura possível. O resultado mais prejudicial disso é que, ao assumir esse tipo 
de procedimento, o professor estará inibindo o exercício de interação dos alunos com o texto, 
exercício que, envolvendo “acertos” e “erros”, deve constituir o centro do trabalho do professor 
de linguagem. 
O ensino da leitura prevê o exercício cotidiano daquilo que faz um leitor proficiente quando lê: o 
exercício de levantar hipóteses e checá-las, o exercício de confirmar ou descartar hipóteses iniciais, o 
de retornar a partes dos textos ou mesmo relê-lo para refinar a compreensão, o exercício de inferir 
o significado de termos desconhecidos em atenção ao contexto local, o exercício de selecionar 
as pistas relevantes que podem melhor guiar os leitores na tarefa de construir sentido. Toda essa 
fecunda atividade costuma ser anulada nas aulas de leitura que sobrepõem as “leituras autorizadas” 
àquelas que nossos alunos nos oferecem a partir de seus conhecimentos e experiências ou mesmo 
de suas possibilidades de interação com os textos que lhes apresentamos. 
Não estamos assumindo com isso que toda leitura produzida na sala de aula seja autorizável 
e deva ser acatada sem questionamentos pelo professor. Há certamente leituras que os textos 
não autorizam, ou seja, aquelas que não encontram fundamentação suficiente nas pistas 
textuais. Um rico exercício de leitura, a propósito, é justamente o de solicitar que os alunos 
fundamentem as leituras feitas. Em alguns casos, o resultado desse exercício será o descarte, 
pelo aluno, de sua construção inicial. Em outros casos, porém, o professor poderá perceber 
uma possibilidade de leitura ainda não cogitada por ele, professor, ou mesmo uma contribuição 
coerente com o processo de maturação de determinado leitor ainda em formação3. 
Essa compreensão da leitura como empreendimento cognitivo e interacional que estamos 
assumindo tem, ainda, implicações relativas ao arranjo do espaço interativo onde se produzirão 
as leituras que pretendem formar leitores. A sala de aula deverá constituir-se num espaço 
de interação em que os textos circulem e sejam objeto de leitura compartilhada. Os alunos 
partilham suas leituras entre si e com o professor. Este, no entanto, tem um papel definido no 
processo: o de mediar os processos de construção de sentido, de modo a “guiar” o leitor em 
formação em seu percurso de aprendiz. Através de exercícios sistemáticos (como o de localizar 
informações, o de levantar hipóteses e confirmá-las, o de produzir inferências, o de relacionar 
informações etc), o professor vai modelando estratégias metacognitivas de abordagem do 
texto (Kleiman 1993), ou seja, vai possibilitando que o jovem leitor aprenda a proceder como 
os leitores mais experientes.
Nessa atividade de interação do aluno com o texto, o professor deve atuar, acima de tudo, 
fazendo perguntas, de modo que os alunos recuperem pistas relevantes, questionem-se sobre 
avaliações ou hipóteses equivocadas, corrijam rumos. É bastante comum que nós, professores, 
diante das dificuldades de nossos alunos, leiamos para eles, oferecendo as respostas, o que deve 
ser evitado. Aprender a ler exigirá exercício, envolverá trabalho. Daí a importância da leitura 
silenciosa, do contato solitário do aluno com o texto, que, em seu esforço de compreensão, 
deverá, por sua vez, ser estimulado a fazer perguntas. Por outro lado, em alguns casos, a 
leitura em voz alta pelo professor pode ter o seu lugar. Uma formação para o ensino de leitura 
é fundamental para que o profissional possa tomar decisões a respeito dessas e de outras 
estratégias pedagógicas. 
É importante que o professor esteja atento também a uma prática bastante comum em aulas 
de leitura como as que aqui estamos propondo. O professor deve cuidar para que suas aulas de 
leitura não se transformem em debates que abandonam o texto e passam a discutir os temas 
em questão sem dar atenção à “voz” do autor. O aluno deve interagir autonomamente com os 
textos que lê, o que implica, exatamente, uma “escuta” atenta que leve em conta as sinalizações 
várias que o texto oferece para que possamos depreender sua intenção comunicativa e com 
ele dialogar.
Acreditamos que é esse exercício cotidiano, focado no desenvolvimento de habilidades de 
leitura, que garantirá a formação de leitores competentes, proficientes. Acreditamos também 
que esse trabalho é resultado de um trabalho sistemático que considere as particularidades de 
determinados tipos e gêneros de textos. 
3 A sala de aula pode, dessa forma, constituir-se num espaço privilegiado de investigação, de pesquisa, que permite ao professor 
refletir sobre suas práticas e sobre os processos de aprendizagem da linguagem.
Referências bibliográficas
MEURER, J. L.; BONINI, A. & MOTTA-ROTH, D. Gêneros – teorias, métodos e debates. São 
Paulo: parábola Editorial, 2005.
KLEIMAN, A. B. & MORAES, S.E. Leitura e Interdisciplinaridade: tecendo redes nos projetos da 
escola. Campinas, SP: Mercado das Letras, 1999.
KLEIMAN, A. B. Leitura: Ensino e Pesquisa. São Paulo: Pontes, 1989.
KLEIMAN, A. B. Oficina de leitura: teoria e prática. Campinas, SP: Pontes, 1993.
KOCH, I. V & ELIAS, V. M. Ler e compreender – os sentidos do texto. São Paulo: Contexto, 2006. 
KOCH, I. V. O texto e a construção dos sentidos. São Paulo: Contexto
O TEXTO ARGUMENTATIVO
um diálogo sobre o valor do conhecimento e 
da leitura
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1. OBJETIVOS
1. Motivar os alunos para as oficinas do projeto.
2. Promover uma discussão sobre o valor do conhecimento e da leitura.
3. Desenvolver a habilidade de ler argumentações.
4. Introduzir o estudo sistemático da argumentação, trabalhando as noções 
de tese e argumento.
2. TEXTOS PROPOSTOS PARA LEITURA
Texto I – “Ensinando a voar” – Gilberto Dimenstein
O texto de Gilberto Dimenstein reúne dois relatos de vida, conta as histórias de Expedito 
Resende, um cientista brasileiro hoje reconhecido por suas invenções, e de seu pai José Parente, 
“inventor do inventor.” Os relatos ocupam as quatro primeiras partes do texto e, na última, 
o autor constrói uma breve argumentação, tomando os relatos como evidências de sua tese 
(ou de suas teses): “Envolvimento na educação dos filhos, culto ao empreendedorismo e 
reverência ao aprendizado são formas para se evitar a marginalidade”; “Nosso problema não é 
de maioridade penal, mas de menoridade dos adultos”. 
O texto pode ser lido a partir de diferentes enfoques: como um relato que evidencia a importância 
da família na educação dos filhos; como um relato que ilustra que, com esforço, podemos 
alterar os rumos de nossa vida etc. No entanto, há pistas que nos permitem identificar um tema 
como sendo bastante central: recorrem no texto proposições sobre o “valor do conhecimento”. 
Consideremos algumas: “o gosto pelo conhecimento é a maior herança que posso deixar”; “a 
maior riqueza está dentro da cabeça”; “ficou arraigada em todos nós aquela reverência pelo 
saber”; “Voltou para o Ceará, fascinado pelo encanto dos experimentos químicos.” Observe-
se que a primeira afirmação ganha, inclusive, destaque em negrito no texto. O apreço, a 
“reverência” pelo saber mudou a vida de José Parente e de seu filho Expedito e, por outro 
lado, o conhecimento produzido por Expedito irá promover mudanças positivas no mundo. 
É interessante observar a importância do personagem do pai, “o grande inventor”, já que ele 
“ajudou a inventar o inventor”. 
Outro dado importante a ser observado é a afirmação do último período: “Nosso problema 
não é de maioridade penal, mas de menoridade dos adultos”. Na época, estava em debate, no 
Brasil, o tema da redução da maioridade penal. Essas pistas nos permitem dizer que o texto 
pretende também argumentar sobre esse tema.
Por fim, queremos destacar o belo título desse texto. Ambíguo, o títulopode ser lido como 
uma metáfora sobre o valor do conhecimento. De um lado, faz referência à tecnologia 
inventada por Expedito Resende, o combustível para avião, que nos “ensina a voar” utilizando 
energia limpa; por outro lado, constrói uma representação do conhecimento como algo que 
nos liberta, “nos ensina a voar”. 
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Texto II – “Alegres e ignorantes” – Lya Luft
O texto de Lya Luft é um texto argumentativo, ou seja, um texto escrito para defender 
um ponto de vista, emitir uma opinião. O título “Alegres e ignorantes”, bem como a 
afirmação entre aspas e em destaque, aponta para seu tema central: a autora discute o valor 
da informação e também a desinformação da “elite pensante” brasileira. 
Lya Luft inicia seu texto fazendo o elogio do “humor”. No primeiro parágrafo e em parte do 
segundo, a autora aborda esse tópico, apresentando-se, inclusive, como alguém que “não 
esquece a importância do bom humor”. A esse respeito expressa, então, um ponto de vista: 
“Bom humor zero. Desperdício de vida: acredito que, junto com o dinheiro, sexo e amor, é a 
alegria que move o mundo para o lado positivo.”
No entanto, segundo sua argumentação, ser alegre não pode significar ser alienado. Segundo 
a autora, não podemos nos fechar em “nosso pequeno círculo pessoal”, esquecendo de 
participar com consciência da vida social e política do país. Sua tese central está, portanto, 
expressa em: “Estar informado e atento é o melhor jeito de ajudar a construir a sociedade que 
queremos, ainda que sem ações espetaculares”. 
A autora posiciona-se, ainda, a respeito de nossas “elites pensantes”, afirmando que os 
que sabem ler e têm oportunidade de acesso à informação não a valorizam, tampouco se 
preocupam em participar da vida política e social, condição para construirmos a “sociedade 
que queremos”.
Para cada uma das postulações assumidas, a autora apresenta argumentos. Ao citar dados de 
pesquisa, por exemplo, a autora sustenta a afirmação de que nossa elite pensante é bastante 
ignorante. Outro argumento para sustentar a mesma tese: a maioria (e a autora se inclui nesse 
grupo) não sabe dizer o nome de nossos representantes políticos.
Devemos observar, ainda, que, no último parágrafo do texto, a autora retoma, resume seu 
posicionamento, remetendo ao título: afirma a importância da alegria e condena “o risinho 
tolo da burrice e da desinformação”.
Texto III – “Mentes do Futuro” – Gilberto Dimenstein
“Mentes do futuro” é também um texto argumentativo que defende, principalmente, a 
seguinte tese: “Em meio ao turbilhão de dados fragmentados e desconexos, a habilidade de 
seleção será cada vez mais demandada.” O título, bem como o destaque que essa afirmação 
ganha no texto, aponta para a centralidade dessa tese. 
A argumentação tem início com um relato: a história de Marcelo Masagão é um exemplo 
da habilidade de seleção e síntese de que fala o autor. Portanto, esse relato serve como um 
argumento exemplificativo que irá sustentar a tese principal defendida no texto. Outra 
estratégia argumentativa é a referência ao trabalho de Howard Gardner. Ao mencionar 
a teoria da “mente sintetizafora” do psicólogo e pesquisador de Harvard, o autor também 
valida seu posicionamento a respeito do tipo de habilidade cognitiva que as sociedades de 
informação tendem a valorizar. Ele utiliza aqui um argumento de autoridade, ao citar um 
especialista e estudioso do assunto tratado.
A diagramação do texto sinaliza a abordagem de diferentes tópicos que se relacionam nessa 
argumentação: a história de Marcelo Masagão; a teoria das inteligências múltiplas; a importância 
da habilidade de síntese; a escola e a habilidade de selecionar e sintetizar informações. Na 
última parte do texto o autor discute o papel da escola no enfrentamento dessa nova realidade: 
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“Em geral, as crianças e os jovens não são treinados, na escola, a selecionar, mas a acumular 
informações de diferentes matérias...”. Esse outro posicionamento do autor é também 
confirmado por um argumento: “Está aí uma das razões por que foi muito mais fácil para 
Masagão fazer sucesso na vida do que na escola.”. 
3. ROTEIRO PARA O TRABALHO NAS OFICINAS
1. Atividade oral – conversa com o grupo a partir da leitura do texto I – 
Nessa primeira oficina, propomos que o tutor convide os alunos para 
uma conversa sobre o valor do conhecimento e da leitura. É 
importante que os alunos pensem sobre isso e se sintam motivados ao 
trabalho a ser desenvolvido nas oficinas. Reunidos em círculo, o tutor 
deve iniciar as atividades com o guia “Entre Jovens” lendo com os alunos 
o texto “Ensinando a voar”. O tutor pode, inicialmente, pedir que os 
alunos se manifestem sobre o texto. A partir daí, deve mediar a leitura, 
possibilitando que o diálogo com o texto se aprofunde. Uma forma de 
mediar esse diálogo é propor algumas perguntas, como: I) por que o 
texto tem esse título?; II) por que José Parente é chamado de “o inventor 
do inventor”?; III) como você entende a expressão “é uma criação muito 
mais que biológica”?; IV) na sua opinião, o texto dá mais destaque ao pai 
ou ao filho?; V) você conhece histórias como a de José Parente?; VI) por 
que o conhecimento pode ser uma experiência de liberdade? Etc.
2. Leitura do texto II – Os alunos devem ler o texto II e resolver as atividades 
de leitura. Antes de iniciar essa atividade, o tutor deve checar que tipo 
de conhecimento os alunos têm sobre argumentações. A partir desse 
conhecimento, o tutor deve encaminhar a atividade, que pode ser feita 
individualmente ou em grupo, sempre com a mediação do tutor, que 
deve estar disponível para atender às dúvidas dos alunos.
3. Correção das atividades relativas à leitura do texto II
4. Leitura do texto III – Os alunos podem fazer as atividades de leitura 
juntamente com o tutor, que deve estar atento às dúvidas que possam 
surgir a respeito do conteúdo em estudo: a argumentação. É importante 
também que, nessa primeira oficina, o tutor utilize o momento de retomar 
as atividades de leitura para colocar o tema da leitura e do conhecimento 
em foco. Todos os textos da oficina propiciam isso.
5. Atividade escrita – Os alunos deverão produzir um pequeno texto argumentativo 
que apresente seu posicionamento e a justificativa ou argumento sustentador 
desse posicionamento. Uma forma de ajudar os alunos nessa atividade é 
organizar com eles um esquema dessa argumentação.
4. TEXTOS E ATIVIDADES DE LEITURA
O texto que você vai ler conta a história de dois brasileiros: pai e filho. Vale a pena conhecer essas 
histórias, que falam de “superação”. Leia atentamente o texto, observe as pistas que indicam 
onde foi publicado e quem é seu autor. Sinalize nele os trechos que chamarem a sua atenção 
ou as dúvidas que surgirem. Depois de lê-lo, você vai conversar sobre ele com seu grupo.
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TEXTO I
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Ensinando a voar
Repetia, como se fosse mantra: “o gosto pelo conhecimento é a melhor herança 
que posso deixar”
O CEARENSE Expedito Resende, 66, conseguiu atrair a atenção mundial ao inventar um combustível para avião 
feito à base de óleo de babaçu, atualmente 
em testes avançados nos laboratórios da 
Boeing, acompanhados pela Nasa, a agência 
espacial dos Estados Unidos. Mudar o jeito 
como os aviões voam, usando o chamado 
“bioquerosene”, não seria sua mais importante 
descoberta. 
Professor de engenharia química da 
Universidade Federal do Ceará, Expedito criou, 
nos anos 70, o biodiesel. Usando plantas 
comuns no Nordeste, viu que o combustível 
servia, sem nenhum problema, nos motores 
como substituto do petróleo. Mas,na época, 
não havia tanta consciência ecológica, o preço 
do petróleo ainda não estava nas alturas 
e não se sabia como dar escala comercial à 
sua invenção. Em 1991, alemães e austríacos 
resolveram usar a descoberta para produzir 
energia limpa. 
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Nos últimos tempos, Expedito vem 
ganhando prêmios internacionais e ajudando 
a implantar centenas de usinas de biodiesel. 
Isso significa a perspectiva de criação de 
empregos, especialmente no Nordeste, e de 
um recurso contra o aquecimento global. 
Por trás dessa tecnologia há uma história 
não menos interessante sobre quem ajudou a 
inventar esse inventor. Chama-se José Parente, 
pai de Expedito – é uma criação muito mais 
do que biológica. 

José Parente tinha 12 anos quando 
deixou um povoado nas proximidades de 
Sobral (CE), onde vivia, e mudou-se para 
Fortaleza. Era o caçula entre seus 28 irmãos, 
sustentados pelo pai agricultor. Fez o trajeto 
a pé, sozinho, alimentando-se com o que 
encontrava no caminho. Tinha dois projetos: 
obter um emprego e entrar numa escola.
Matriculou-se para o período noturno 
de uma escola, mas, com o excesso de 
trabalho, acabou desistindo. Tentou por várias 
maneiras continuar estudando. Pediu ajuda a 
seu patrão e ouviu a seguinte frase: “Menino 
pobre não precisa de escola”.
Praticando, José Parente aprendeu 
as artes do comércio. Adulto, tornou-se 
empresário, casou, teve nove filhos, todos 
entraram na faculdade. Repetia algumas 
frases como se fossem mantras: “o gosto pelo 
conhecimento é a melhor herança que posso 
deixar” ou “a maior riqueza está dentro da 
cabeça”.

Nas conversas familiares, sempre 
vinham as histórias do menino de 12 anos, 
caminhando sozinho pelas estradas de terra, 
a frustração pela impossibilidade de estudar 
compensada pelas habilidades autodidatas. Já 
empresário próspero (depois teve um banco), 
José Parente tratou de ajudar aquela escola 
em que tentou, mas não conseguir estudar.
Expedito cresceu ouvindo esses casos. 
“Ficou arraigada em todos nós aquela 
reverência pelo saber”, conta Expedito. Essa 
reverência estava por trás de sua decisão de 
sair de casa para estudar, como tinha feito seu 
pai. “Só que, desta vez, sem desconforto”, 
diz ele. Mudou-se para o Rio, onde se formou 
em engenharia química e, depois, aprimorou-
se nos Estados Unidos e na Europa. Voltou 
para o Ceará, fascinado pelo encanto dos 
experimentos químicos. Uma de suas criações 
foi a “vaca mecânica” para a produção de leite 
de soja, disseminada em centenas de cidades 
brasileiras.

Testou motores com álcool, mas 
preferiu investigar melhor o poder de plantas 
como o babaçu. Em 1984, um Bandeirante, 
da Embraer, voou de São José dos Campos até 
Brasília, movido a bioquerosene, desenvolvido 
por Expedito – apesar do sucesso do voo, o 
projeto foi arquivado pelos militares.
Foram necessários mais 20 anos para 
que levassem a sério sua experiência, agora 
em apreciação pelos americanos – certamente 
seria impossível se o inventor não tivesse com 
um de seus professores um menino de 12 
anos, andando a pé pelo interior do Nordeste, 
com o sonho de aprender.

PS – O caso de José Parente mostra os 
caminhos para se evitar a marginalidade, 
gerando inventores e não criminosos – 
envolvimento familiar na vida dos filhos, 
culto ao empreendedorismo e reverência 
ao aprendizado. Nosso problema não é de 
maioridade penal, mas a de menoridade dos 
adultos.
FOLHA DE SÃO PAULO, 25 fev 2007. Cotidiano.
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Vamos ler agora um outro texto argumentativo. Observe sempre, antes de iniciar sua 
leitura, as várias informações que acompanham o texto: quem o escreveu, onde e quando 
foi publicado. Preste atenção também naquilo que está em destaque: título, frases, imagens. 
Isso pode tornar sua leitura mais eficiente. 
TEXTO II
Lya Luft
Alegres e ignorantes
“Estar informado e atento é o melhor jeito de ajudar a construir
a sociedade que queremos, ainda que sem ações espetaculares”.
Ilustração Atômica Studio
Há fases em que, inquieta, eu talvez aponte mais o lado preocupante da vida. Mas jamais 
esqueço a importância do bom humor, que na verdade me caracteriza no cotidiano, mais do 
que a melancolia. Meu amado amigo Erico Verissimo certa vez me disse: “Há momentos em 
que o humor é até mais importante do que o amor”. Eu era muito jovem, na hora não entendi 
direito, mas a vida me ensinou: nem o amor resiste à eterna insatisfação, à tromba assumida, 
às reclamações constantes, à insatisfação sem tréguas. Bom humor zero. Desperdício de vida: 
acredito que, junto com dinheiro, sexo e amor, é a alegria que move o mundo para o lado 
positivo. Ódio, indignação fácil, rancores e inveja – e nossa natureza predadora – promovem 
mediocridade e atos cruéis.
Quando, seja na vida pessoal, seja como cidadãos ou habitantes deste planeta, a descrença 
e o desalento rosnam como animais no escuro no meio do mato, uma faísca de bom humor 
clareia a paisagem. Mas há coisas que nem todo o bom humor do mundo resolveria num riso 
forçado. Como senti ao ler, numa dessas pesquisas entre esclarecedoras e assustadoras (quando 
vêm de fonte confiável), que mais de 30% da nossa chamada elite é de uma desinformação 
avassaladora. Aqui o termo “elite” não tem a ver com aristocracia, roupa de grife, apartamento 
em Paris ou décima recostura do rosto, mas com a gente pensante. A que usa a cabeça para 
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algo além de separar orelhas. Pois, segundo a pesquisa, entre nós a imensa maioria dos ditos 
pensantes não consegue dizer o nome de um só ministro desta nossa República. Senadores, 
nem falar.
A turma que completa o 2º grau, que faz faculdade, que tem salário razoável, conta no banco, 
deveria ser a informada. Essa que não precisa comprar carro em noventa meses e deixar de 
pagar depois de quatro. A elite que consegue viajar conhece até algo do mundo, e poderia 
ter uma pequena biblioteca em casa. Em geral, não tem. Com sorte, lê jornal, assiste a boas 
entrevistas e noticiosos daqui e de fora, enfim, é gente do seu tempo. Para isso não se precisa 
de muita grana, acreditem. Mesmo assim, essa elite é pouco interessada numa realidade que 
afinal é dela.
Resolvi testar a mim mesma: nomes de ministros atuais desta nossa República. Cheguei a meia 
dúzia. São quase quarenta. Então começo a bater no peito, em público, aliás. Num país onde 
mais da metade dos habitantes são analfabetos, pois os que assinam o nome não conseguem 
ler o que estão assinando, ou vivem como analfabetos, pois não leem nem o jornal largado 
na praça, os que sabem ler deveriam ser duplamente ativos, informados e participantes. Não 
somos. Nossos meninos raramente sabem o título de seus livros escolares ou o nome dos 
professores (sabem o dos jogadores de futebol, dos cantores de bandas, das atrizezinhas 
semieróticas). Agimos como se nada fora do nosso pequeno círculo pessoal nos atingisse.
Além das desgraças longe e perto, vindas da natureza ou do homem, estamos num ano 
eleitoral. Inaugurado o circo de manobras, mentiras e traições escrachadas ou subliminares 
que conhecemos. Precisamos de claridade nas ideias, coragem nos desafios, informação e 
vontade, e do alimento dos afetos bons. Num livro interessante (não importa o assunto) alguém 
verbaliza velhas coisas que a gente só adivinhava; um filme pode nos lembrar a generosidade 
humana; uma conversa pode nos tirar escamas dos olhos. Estar informado e atento é o melhor 
jeito de ajudar a construir a sociedade que queremos, ainda que sem ações espetaculares. Mas, 
se somos desinformados, somos vulneráveis; se continuarmos alienados, bancaremos os tolos; 
sendo fúteis, cavamos a própria cova; alegrementeignorantes, podemos estar assinando nossa 
sentença de atraso, vestindo a mordaça, assumindo a camisa de força que, informados, não 
aceitaríamos.
Alegria, espírito aberto, curiosidade, coisas boas desta vida, todos as merecemos. Mas me 
poupem do risinho tolo da burrice ou da desinformação: o vazio por trás dele não promete 
nada de bom.
Lya Luft é escritora
VEJA, 3 Março, 2010.
ATIVIDADES DE LEITURA 
O texto que você leu é um texto de opinião, uma ARGUMENTAÇÃO. Antes de iniciar as 
atividades de leitura, considere, atentamente, o quadro abaixo: 
O componente mais importante de uma argumentação é a sua TESE. A tese de 
um texto argumentativo é o ponto de vista ou posicionamento assumido pelo 
autor a respeito do tema em discussão. 
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1. No texto “Alegres e ignorantes”, Lya Luft posiciona-se a respeito de vários temas. 
Grife no texto as teses ou pontos de vista da autora: 
1.1 Sobre o humor. 
“Bom humor zero. Desperdício de vida: acredito que, junto com o dinheiro, sexo e 
amor, é a alegria que move o mundo para o lado positivo.”
D7
1.2. Sobre a “elite pensante” brasileira.
“(...) Os que sabem ler deveriam ser duplamente ativos, informados e participantes. 
Não somos”.
D7
1.3. Sobre a importância de nos mantermos informados:
“Estar informado e atento é o melhor jeito de ajudar a construir a sociedade que 
queremos, ainda que sem ações espetaculares”
D7
A questão (1) requer que os alunos reconheçam, no texto, afirmações 
que correspondam a posicionamentos assumidos pela autora em 
relação a três importantes tópicos do texto. Depois de reconhecer 
esses posicionamentos, os alunos devem ser estimulados a discuti-
los, concordando ou discordando deles. Esse exercício é importante 
para a descoberta de que a leitura é uma atividade que nos permite 
esse diálogo sobre temas da vida e problemas do mundo. 
2. Leia com atenção: 
Textos escritos para defender uma opinião sobre determinado tema são textos 
argumentativos. Uma boa argumentação deve utilizar argumentos que 
confirmem suas teses. 
Que argumentos a autora utiliza para cada uma das opiniões defendidas? Grife 
esses argumentos no texto: 
2.1. “(...) Os que sabem ler deveriam ser duplamente ativos, informados e 
participantes. Não somos.”
“(...) mais de 30% da nossa chamada elite é de uma desinformação avassaladora. 
(...) Segundo a pesquisa, entre nós, a imensa maioria dos ditos pensantes, não 
consegue dizer o nome de um só ministro dessa nossa república. Senadores, nem 
falar.”
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“Resolvi testar a mim mesma: nomes de ministros atuais dessa nossa República. 
Cheguei a meia dúzia (...) Então começo a bater no peito, em público, aliás.”
“Nossos meninos raramente sabem o título de seus livros escolares (...) sabem o 
dos jogadores de futebol, dos cantores de banda, das atrizezinhas semieróticas.”
D8
2.2. “Estar informado e atento é o melhor jeito de ajudar a construir a sociedade 
que queremos, ainda que sem ações espetaculares”
“Precisamos de claridade nas ideias, coragem nos desafios, informação e vontade...”
“Se somos desinformados, somos vulneráveis; se continuarmos alienados, 
bancaremos os tolos; sendo fúteis, cavamos a própria cova...”
D8
A questão 3 auxilia os alunos no reconhecimento dos argumentos 
que sustentam as opiniões da autora. O fato de não sabermos o 
nome de nossos representantes políticos (e a autora se reconhece 
parte da “elite desinformada”), a afirmação de que os jovens 
interessam-se mais por diversão que pelo conhecimento ou pela 
escola, são argumentos que sustentam a opinião exposta em 3.1. 
Para defender a importância de estar informado (3.2), a autora 
reforça a importância da informação, afirmando que estar informado 
nos permite ter ideias mais claras sobre os fatos da vida. Por outro 
lado, estar desinformado nos torna seres alienados, vulneráveis, 
tolos, fúteis. Insistimos que o tutor discuta cada uma dessas ideias 
com os alunos. É importante que os alunos reflitam sobre elas e se 
posicionem, dialogando com o texto. 
3. Os títulos dos textos são uma pista muito importante sobre o seu conteúdo, 
e costumam indicar o seu tema central. Comente o título do texto: “Alegres e 
ignorantes”. 
No início do texto a autora fala da importância do humor e da alegria: “é a alegria 
que move o mundo para o lado positivo”. No entanto, segundo sua argumentação, 
ser alegre não pode significar ser alienado. A autora defende a ideia de que não 
podemos nos fechar em “nosso pequeno círculo pessoal”, esquecendo de participar 
com consciência da vida social e política do país. Por isso defende a importância de 
estarmos bem informados.
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4. Quem são os alegres e ignorantes de que fala a autora?
Eles fazem parte, principalmente, da chamada “elite pensante”, que a autora define 
como aqueles que têm oportunidade de estudar, têm um bom salário, podem 
viajar, têm acesso à leitura e, portanto, à informação, mas não se interessam pela 
discussão dos problemas da realidade.
D4
5. Por que a autora afirma que “os que sabem ler deveriam ser duplamente ativos, 
informados e participantes.”?
Porque vivemos num país onde muitos são “analfabetos”, ou seja, não conseguem 
ler um jornal, e isso limita sua participação na vida social e política. Quem sabe ler, 
portanto, tem uma responsabilidade dupla.
D4
6. Qual seria o objetivo principal do texto?
O texto de Lya Luft pretende discutir, principalmente, a importância de nos 
mantermos informados. Além do título, outra pista relevante que nos permite 
reconhecer esse tema é a informação em destaque à esquerda do texto: “Estar 
informado e atento é o melhor jeito de ajudar a construir a sociedade que queremos, 
ainda que sem ações espetaculares”.
D12
7. Considere a ilustração que acompanha o texto. Como você a interpreta?
Os olhos fechados podem indicar a ignorância e a alienação daqueles que, embora 
tendo condições, não procuram estar informados. O texto também fala do “risinho 
tolo da burrice e da desinformação”.
D5
As questões de 3 a 7 chamam a atenção para sinalizações importantes 
em um texto como o título e ilustrações que possam acompanhá-
lo. Títulos são pistas que apontam, frequentemente, para o tema 
central dos textos e ajudam a construir hipóteses sobre o seu 
objetivo comunicativo.
8. Releia:
“Mas, se somos desinformados, somos vulneráveis; se continuarmos alienados, 
bancaremos os tolos; sendo fúteis, cavamos a própria cova; alegremente 
ignorantes, podemos estar assinando nossa sentença de atraso, vestindo a 
mordaça, assumindo a camisa de força que, informados, não aceitaríamos”.
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8.1. Explique a afirmação: “se somos desinformados, somos vulneráveis”. Considere 
o verbete abaixo para construir sua resposta.
vulnerável 
[Do lat. vulnerabile.] 
Adjetivo de dois gêneros. 
1.Que pode ser vulnerado: 
“Perdidos e sós no grande descampado, sentem-se desamparados e 
vulneráveis como crianças.” (Miguel Torga, Portugal, pp. 114-115.) 
2.Diz-se do lado fraco de um assunto ou de uma questão, ou do ponto pelo 
qual alguém pode ser atacado ou ferido. [Pl.: vulneráveis. Cf. vulneráveis, do v. 
vulnerar.]
Dicionário Aurélio versão digital
Vulnerável pode significar frágil. A autora afirma que a desinformação nos 
torna frágeis, ou seja, uma pessoa desinformada pode ser facilmente enganada, 
ludibriada.
D3
8.2. Explique também: “se continuarmos alienados, bancaremos os tolos”. 
Considere o verbete abaixo para construir sua resposta.
alienar 
[Do lat. alienare.] 
Verbo transitivodireto. 
1.Transferir para outrem o domínio de; tornar alheio; alhear: 
O testamento proibia alienar os bens herdados. 
2.Desviar, afastar; alhear. 
3.Indispor, malquistar: 
Evita alienar o ânimo do velho amigo. 
4.Alucinar, perturbar; alhear: 
O grande desgosto alienou-lhe o juízo. 
Verbo transitivo direto e indireto. 
5.Desviar, apartar: 
Alienou de mim a boa vontade que o ministro demonstrara. 
Verbo pronominal. 
6.Afastar-se, distanciar-se. 
7.Tornar-se alienado; manter-se alheio aos acontecimentos. 
Dicionário Aurélio versão digital
O melhor sentido para a palavra alienado no texto está exposto em 7: tornar-
se alienado é manter-se alheio aos acontecimentos. A alienação causada pela 
desinformação, segundo a autora, nos faz tolos, bobos, facilmente manipuláveis. 
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8.3. No fragmento de texto em destaque na questão 8, grifamos algumas 
expressões metafóricas que a autora utiliza para argumentar sobre a importância 
de sermos informados. Explique o significado dessas expressões.
Pelas expressões utilizadas, podemos dizer que a informação e o conhecimento 
nos libertam. A ignorância é representada como uma mordaça e uma camisa de 
força, expressões que sugerem que a ignorância nos aprisiona.
D18
Na questão 8 sugerimos que o tutor aprofunde com os alunos o 
significado do fragmento em destaque. Para tanto, os alunos devem 
reconhecer o sentido de algumas palavras utilizadas no texto e tentar 
explicar, através de paráfrases, as afirmações da autora. Essa é 
uma boa oportunidade para conhecerem e aprenderem a ler um 
verbete de dicionário. O tutor deve orientar, portanto, a leitura 
desse gênero, observando que há significados mais apropriados 
que outros para as palavras, dependendo do contexto em que foram 
utilizadas.
Em 8.3 chamamos a atenção para uma bela metáfora do texto. 
As expressões “vestir a mordaça/ assumir a camisa de força da 
ignorância” nos levam a construir a seguinte representação da 
ignorância: Ignorância é prisão. Ao contrário disso, “conhecimento 
é liberdade”. Além de discutir a importância das metáforas como 
recursos de expressão (tópico que será abordado em outras oficinas) 
o tutor pode discutir com os alunos a ideia de que conhecimento 
é liberdade. Merece também destaque no texto a formulação 
“precisamos de claridade nas ideias”. Essa expressão metafórica 
constrói outra bela representação do conhecimento: “conhecimento/
informação é luz”. O contrário, a ignorância, é escuridão. 
Leia agora o último texto desta oficina. Observe que ele foi escrito pelo mesmo autor do texto 
I e publicado também no jornal Folha de São Paulo. Gilberto Dimenstein costuma discutir, em 
sua coluna, temas relativos ao conhecimento, à juventude e à educação.
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TEXTO III
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Mentes do futuro
COMEÇA NA PRÓXIMA 
segunda-feira, em 
São Paulo, o festival 
internacional de filmes 
com apenas um minuto 
de duração, reunindo 
80 países – esse tipo de 
mostra ocorre anualmente em 40 nações, 
circula em escala planetária e atrai o patrocínio 
de empresas multinacionais. Pouca gente sabe 
que esse festival é uma invenção brasileira e 
ninguém imagina que seu inventor era visto, 
por muito tempo, como um fracasso, um caso 
irrecuperável. 
Marcelo Masagão estava desempregado, em 
1991, quando conseguiu passar filmes de um 
minuto num teatro da PUC, em SP; no ano 
seguinte, iria para o MIS (Museu da Imagem e 
do Som). Um italiano viu aquela experiência e 
a levou para a Europa, de onde se disseminou. 
Como era excessivamente bagunceiro, foi 
expulso – ou, como se diz, convidado a 
se retirar – das escolas em que estudou. 
“Nunca tive uma turma 
de formatura”, lembra. 
Não conseguiu ficar nem 
mesmo no Colégio Equipe, 
uma ilha de liberalidade 
paulistana. Na faculdade, 
cursou psicologia, mas, 
após sete anos, não tinha 
completado 40% dos 
créditos. 
Só resolveu mesmo se 
esforçar na oitava série 
porque seu pai o chamou 
de “burro e vagabundo”. 
Tirou notas altas, a maioria 
dez, nas matérias. Mas no 
final se desentendeu com 
um professor e, mais 
uma vez, recebeu o 
convite para se retirar.
Como ele conseguiu 
montar um projeto 
bem-sucedido? A 
resposta possivelmente 
está nos estudos sobre as diversas formas de 
inteligência desenvolvidos em Harvard – é 
uma das questões essenciais para os alunos 
que, nesta semana, voltam para seus colégios 
e universidades. 

Disseminador da ideia de que existem 
inteligências múltiplas (a escola só focaria 
numa delas), o psicólogo Howard Gardner 
afirma que um dos atributos fundamentais 
para prosperar profissionalmente é a “mente 
sintetizadora”. Com o excesso atordoante de 
informação, graças em boa parte à abundância 
de fontes na internet, passa a valer mais quem 
sabe extrair o que é essencial – ou seja, quem 
sabe selecionar e apontar um caminho. 
Em meio ao turbilhão de 
dados fragmentados e 
desconexos, a habilidade 
da seleção será cada vez 
mais demandada
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O primeiro filme de Masagão era um esforço 
de resumir e encadear em 70 minutos toda 
a história do século 20 – e sem nenhuma 
fala, apenas com imagens. Depois de tanto 
tempo de dispersão, acabou encontrando a 
síntese de seu futuro na busca de gente que 
procura uma síntese em apenas um minuto, 
transformada também num projeto de 
internet, e não apenas nos festivais. 
Agora, ele criou a modalidade de obra em dez 
segundos, batizada de “nanofilme”. 

Em meio ao turbilhão de dados fragmentados 
e desconexos, a habilidade da seleção será 
cada vez mais demandada – o que vai abater 
parte do encanto da produção coletiva de 
conhecimento (o jornalismo colaborativo, por 
exemplo), na qual muitos sentem autoridade 
para falar de qualquer assunto. Afinal, a 
síntese depende de um longo processo de 
avaliação do que é essencial. 
Mais uma vez, o Festival do Minuto serve como 
exemplo. Tecnicamente, qualquer um hoje 
pode se sentir um cineasta. Basta um celular. 
São enviados para lá milhares de filmes, sem 
qualquer esforço de produção. O ex-vice-
presidente dos Estados Unidos, Al Gore, 
tentou fazer uma emissora de TV, via internet, 
para a qual qualquer um pudesse mandar 
sua matéria. Viram-se obrigados a mudar 
o formato. Um claro sinal dessa tendência 
apareceu no projeto “Círculo de Leitores”, 
desenvolvido pela Folha, em que, durante 
oito meses, o jornal ouviu seus assinantes 
em São Paulo, Rio e Brasília. Eles querem 
uma publicação com os seguintes atributos: 
analítico, sintético, prático e interpretativo. 
Em síntese: querem ter ajuda para selecionar 
o que importa para suas vidas. 

É fácil entender as razões dessa demanda; 
difícil é enfrentá-las. Como reduzir tantas 
coisas, muitas delas complexas, em tão 
poucos minutos de leitura diária? Como 
captar a atenção de um público cada vez 
mais hiperativo? Não é um problema, óbvio, 
apenas dos meios de comunicação. É um 
desafio que envolve toda a rede de produção 
e disseminação do conhecimento. 
Em geral, as crianças e os jovens não são 
treinados, nas escolas, a selecionar, mas a 
acumular informações de diferentes matérias, 
sem muita conexão com a realidade, 
avaliadas em provas – e depois, rapidamente, 
esquecidas. Os estudantes voltam, nesta 
semana, às aulas e vão encontrar um sistema 
curricular que, na maioria dos casos, está 
fracassado, determinado não por pedagogos, 
mas pelo mercado de trabalho. Está aí uma 
das razões por que foi muito mais fácil para 
Marcelo Masagão fazer sucesso na vida do 
que na escola. Só não sabia que iriavirar uma 
espécie de professor na arte de sintetizar. 
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PS – Coloquei em meu site (www.dimenstein.
com.br) um texto para quem quiser conhecer 
melhor as ideias de Howard Gardner, 
professor da escola de Educação em Harvard. 
Também coloquei uma seleção dos filmes de 
um minuto que serão exibidos, nesta semana, 
no festival em São Paulo. 
gdimen@uol.com.br
FOLHA DE SÃO PAULO, 3 março 2009. Cotidiano.
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ATIVIDADES DE LEITURA
1. Explique o título do texto.
O título faz referência a um tipo de habilidade cognitiva que é e será bastante 
valorizada nas sociedades modernas: a habilidade de selecionar e sintetizar 
informações. 
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2. O texto de Gilberto Dimenstein é um texto argumentativo. Explique por quê.
O autor escreve o texto para defender algumas opiniões. Por exemplo: “Em meio 
ao turbilhão de dados fragmentados e desconexos, a habilidade de seleção será 
cada vez mais demandada.”; “Em geral, as crianças e os jovens não são treinados, 
na escola, a selecionar, mas a acumular informações de diferentes matérias...”
D12
3. A frase em destaque pode ser considerada a tese principal do texto de Gilberto 
Dimenstein. Releia:
“Em meio ao turbilhão de dados fragmentados e desconexos, a habilidade de 
seleção será cada vez mais demandada.”
3.1. Como você compreende essa afirmação?
As tecnologias modernas, principalmente o computador, a internet, nos permitem 
acesso a um turbilhão de informações, por isso a habilidade de selecionar essas 
informações e construir conhecimento a partir delas será cada vez mais importante. 
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3.2. Relacione a imagem que acompanha o texto à tese em destaque acima.
A imagem ilustra o processo de seleção e escolha de que o texto fala. As folhas 
que caem abundantemente seriam as inúmeras informações que nos chegam, o 
homem escolhe, seleciona algumas delas. 
D5
3.3. Que argumentos são utilizados, no texto, para sustentar a tese do autor?
O principal argumento é a história de Marcelo Masagão, criador do “festival do 
minuto’, que faz sucesso no mundo inteiro. Sua capacidade de produzir filmes 
curtíssimos é um exemplo da habilidade de seleção e síntese de que fala o texto. 
Ele seria uma “mente do futuro”. O texto utiliza também um argumento de 
autoridade, ao citar a pesquisa do psicólogo Howard Gardner. 
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As questões de 1 a 3 recuperam conhecimentos básicos e importantes 
para a leitura de argumentações: a noção de tese e argumento. 
Além disso, exercitam a atenção para as pistas textuais indicadoras 
do tema de um texto: título, imagem, destaques. Ao corrigir 
a atividade 3 o tutor deve dar destaque às várias estratégias que 
podem ser usadas na construção do argumento de um texto, como: 
a apresentação de exemplos, a citação de discursos de autoridade, 
a utilização de dados empíricos (dados estatísticos e de pesquisa).
4. Observe a diagramação do texto: ele está dividido em partes. Procure explicar 
essa divisão.
Podemos dizer que, em cada uma dessas partes, o texto aborda um tópico, e esses 
tópicos se relacionam em torno do tema central. Os tópicos abordados são: a 
história de Marcelo Masagão; a teoria das inteligências múltiplas; a importância da 
habilidade de síntese; a escola e a habilidade de selecionar e sintetizar informações.
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5. Além da tese principal do texto, o autor apresenta também sua opinião 
sobre como a escola lida com a habilidade de selecionar e sintetizar a 
informação. 
5.1. Identifique no texto o posicionamento do autor a respeito desse assunto.
“Em geral, as crianças e os jovens não são treinados, na escola, a selecionar, mas a 
acumular informações de diferentes matérias...”
D7
5.2. Que argumento o autor usa para confirmá-la?
A afirmação de que Marcelo Masagão, embora tenha feito muito sucesso na vida, 
não o fez na escola, pelo contrário, foi expulso de várias delas. 
D8
5.3. Você concorda com esse posicionamento? Justifique sua resposta.
Resposta pessoal.
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A questão 4 auxilia o aluno na análise da organização estrutural 
da argumentação. Essa é uma atividade importante para a formação 
do leitor, pois desenvolve a habilidade de identificar tópicos (de 
parágrafos ou de partes de um texto) discursivos e de estabelecer 
relações entre tópicos. Na questão 5, chamamos a atenção para 
a quarta parte do texto em que se discute o papel da escola no 
desenvolvimento da habilidade de selecionar e sintetizar, tópico 
central do texto. Também aí está implicada a habilidade de relacionar 
tese e argumento.
VAMOS ESCREVER
Depois de ler textos que falam sobre o valor do conhecimento, da informação e da leitura, 
escreva um texto curto sobre o tema “Juventude e Conhecimento”. As perguntas abaixo devem 
ajudar você a escrever seu texto, que deve apresentar seu ponto de vista e a sustentação 
desse ponto de vista. 
Pense, então, nessas questões:
O jovem tem interesse pelo conhecimento? Onde ele o busca? Ele valoriza o conhecimento 
escolar? A escola contribui para que o jovem aprenda a valorizar o conhecimento? O que 
motiva o jovem a querer aprender algo? O que poderia ser feito na escola para que o jovem se 
sentisse motivado a aprender?
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Estamos propondo que o aluno escreva um pequeno texto (de 10 
a 15 linhas) sobre o tema “Conhecimento, juventude e escola”. 
Para tanto, propomos algumas perguntas, que não devem 
ser respondidas uma a uma. Elas podem servir para ajudar a 
selecionar os tópicos que deverão compor o texto. Selecionados 
os tópicos, os alunos devem desenvolvê-los. O tutor deve orientar 
os alunos, auxiliando-o a construir um pequeno esquema de sua 
argumentação. Esse esquema deve conter o posicionamento e a 
sustentação desse posicionamento. É importante também que o 
aluno conclua seu texto, o que pode ser feito encaminhando-se 
uma solução para o problema em discussão.
Por exemplo: 
POSICIONAMENTO/TESE
•	Os jovens gostam da escola, mas, para a 
maioria, ela é mais um lugar onde se pode 
fazer amigos e conviver do que um espaço 
para o aprendizado. O jovem não se interessa 
pelo conhecimento escolar. 
ARGUMENTO
•	Muitos conversam durante as aulas, distraem-se 
com seus aparelhos eletrônicos. Outros fazem 
bagunça, atrapalhando os interessados em 
aprender. 
CONCLUSÃO
•	A escola precisaria mudar seus métodos para 
que os jovens se interessassem mais pelo 
conhecimento. 
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Anotações
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O TEXTO ARGUMENTATIVO
analisando a estrutura de argumentações
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Begma Tavares Barbosa
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1. OBJETIVOS
1. Apresentar os componentes da macroestrutura da argumentação.
2. Desenvolver habilidades de: ler argumentações; analisar a estrutura de 
argumentações; escrever textos argumentativos.
2. TEXTOS PROPOSTOS PARA LEITURA
Texto I – Inteligência artificial – editorial da Folha de São Paulo.
Nesse texto argumentativo retoma-se uma questão “muito antiga” e polêmica. A questão-
problema que gera a argumentação está explícita no início do texto: “Poderá um dia a máquina 
pensar melhor e de forma mais inteligente que um ser humano?”. O posicionamento assumido 
pelo editorial anuncia-se em seguida: “Qualquer resposta definitiva para esta questão parece 
precipitada...”.
O autor do editorial, antes de apresentar seus argumentos, expõe dois outros posicionamentos, 
que se opõem. São possibilidades diferentes de responder à mesma pergunta:

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